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FUNDAMENTOS HISTÓRICOS

E FILOSÓFICOS DA EDUCAÇÃO
CURSOS DE GRADUAÇÃO - EAD
Fundamentos Históricos e Filosóficos da Educação – Prof. Dr. Stefan Vasilev Krastanov e
Prof. Ms. Rubens Arantes Corrêa.

Stefan Vasilev Krastanov é autor do livro Nietzsche: pathos


artístico versus consciência moral. É professor adjunto de
filosofia da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul
– UFMS. Possui doutorado em Filosofia pela Universidade
Federal de São Carlos – UFSCar. Além disso, é graduado,
pós-graduado e mestre em Filosofia pela Universidade
de Sofia, na Bulgária. Desde o ano de 2002, atua como
professor universitário, principalmente nas áreas da
História da Filosofia, Estética e Metafísica, além de ser autor
de vários materiais para cursos de graduação na modalidade EaD.
E-mail: stefanve@terra.com.br

Rubens Arantes Corrêa é autor do livro O Pensamento Político de


Raul Pompeia (publicado pela editora Ex Libris, em 2008). Possui
licenciatura em História pela Universidade Estadual Paulista -
UNESP (1987), mestrado em Ciências Sociais pela Universidade
Federal de São Carlos - UFSCar (2000) e, atualmente, é doutorando
em História pela Universidade Estadual Paulista - UNESP.
E-mail: rubens-arantes@netsite.com.br

Fazemos parte do Claretiano - Rede de Educação


Stefan Vasilev Krastanov
Rubens Arantes Corrêa

FUNDAMENTOS HISTÓRICOS E
FILOSÓFICOS DA EDUCAÇÃO
Caderno de Referência de Conteúdo

Batatais
Claretiano
2013
© Ação Educacional Claretiana, 2010 – Batatais (SP)
Versão: dez./2013

370.1 C84

Corrêa, Rubens Arantes


Fundamentos históricos e filosóficos da educação / Rubens Arantes
Corrêa, Stefan Vasilev Krastanov – Batatais, SP : Claretiano, 2013.
198 p.

ISBN: 978-85-67425-65-8

1. Origem da problemática pedagógica e diferentes vertentes pedagógicas


na Antiguidade. 2. Educação na Antiguidade: Egito e Grécia Antiga. 3. A
Educação na época helenística e romana. 4. Idade Média e sua concepção educativa.
5. A Educação na Idade Média: Período Patrístico e Período Escolástico. 6.
Problemas pedagógicos na Modernidade. 7. Período Humanístico e Renascentista.
8. A Educação na Era Moderna e Contemporânea. 9. Modelos Contemporâneos
da Educação. I. Krastanov, Stefan Vasilev. II. Fundamentos históricos e filosóficos
da educação.
CDD 370.1

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Camila Maria Nardi Matos Felipe Aleixo
Carolina de Andrade Baviera Filipi Andrade de Deus Silveira
Cátia Aparecida Ribeiro Paulo Roberto F. M. Sposati Ortiz
Dandara Louise Vieira Matavelli Rodrigo Ferreira Daverni
Elaine Aparecida de Lima Moraes Sônia Galindo Melo
Josiane Marchiori Martins
Talita Cristina Bartolomeu
Lidiane Maria Magalini
Vanessa Vergani Machado
Luciana A. Mani Adami
Luciana dos Santos Sançana de Melo
Luis Henrique de Souza Projeto gráfico, diagramação e capa
Patrícia Alves Veronez Montera Eduardo de Oliveira Azevedo
Rita Cristina Bartolomeu Joice Cristina Micai
Rosemeire Cristina Astolphi Buzzelli Lúcia Maria de Sousa Ferrão
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Raphael Fantacini de Oliveira
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SUMÁRIO

CADERNO DE REFERÊNCIA DE CONTEÚDO


1 INTRODUÇÃO .................................................................................................... 7
2 ORIENTAÇÕES PARA O ESTUDO....................................................................... 9
3 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS....................................................................... 33

Unidade 1 – A EDUCAÇÃO NO MUNDO ANTIGO


1 OBJETIVOS......................................................................................................... 35
2 CONTEÚDOS...................................................................................................... 35
3 ORIENTAÇÕES PARA O ESTUDO DA UNIDADE................................................ 36
4 INTRODUÇÃO.................................................................................................... 36
5 EDUCAÇÃO NO EGITO ANTIGO ....................................................................... 37
6 EDUCAÇÃO NA GRÉCIA ANTIGA...................................................................... 40
7 EDUCAÇÃO NA ÉPOCA DO HELENISMO.......................................................... 57
8 EDUCAÇÃO ROMANA........................................................................................ 59
9 QUESTÕES AUTOAVALIATIVAS......................................................................... 61
10 CONSIDERAÇÕES.............................................................................................. 63
11 E-REFERÊNCIAS................................................................................................. 64
12 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS....................................................................... 64

Unidade 2 – EDUCAÇÃO NA IDADE MÉDIA


1 OBJETIVOS......................................................................................................... 65
2 CONTEÚDOS...................................................................................................... 65
3 ORIENTAÇÕES PARA O ESTUDO DA UNIDADE ............................................... 66
4 INTRODUÇÃO.................................................................................................... 67
5 CRISTIANISMO E O NOVO MODELO PEDAGÓGICO ....................................... 68
6 ALTA IDADE MÉDIA: EDUCAÇÃO NA SOCIEDADE FEUDAL............................. 79
7 BAIXA IDADE MÉDIA: EDUCAÇÃO NA ESCOLÁSTICA...................................... 81
8 QUESTÕES AUTOAVALIATIVAS......................................................................... 89
9 CONSIDERAÇÕES............................................................................................... 90
10 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS....................................................................... 91

Unidade 3 – EDUCAÇÃO NA MODERNIDADE


1 OBJETIVOS......................................................................................................... 93
2 CONTEÚDOS...................................................................................................... 93
3 ORIENTAÇÕES PARA O ESTUDO DA UNIDADE................................................ 94
4 INTRODUÇÃO.................................................................................................... 96
5 ÉPOCA MODERNA: TRAÇOS GERAIS................................................................ 97
6 RENASCIMENTO................................................................................................ 99
7 REFORMISMO RELIGIOSO E EDUCAÇÃO......................................................... 103
8 A EDUCAÇÃO NA MODERNIDADE.................................................................... 109
9 PROPOSTAS PEDAGÓGICAS DO ILUMINISMO ............................................... 116
10 EDUCAÇÃO PRUSSIANA: TENDÊNCIAS IDEOLÓGICAS................................... 130
11 QUESTÕES AUTOAVALIATIVAS......................................................................... 134
12 CONSIDERAÇÕES.............................................................................................. 136
13 E-REFERÊNCIA................................................................................................... 136
14 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS....................................................................... 137

Unidade 4 – EDUCAÇÃO NA CONTEMPORANEIDADE


1 OBJETIVOS......................................................................................................... 139
2 CONTEÚDOS...................................................................................................... 139
3 ORIENTAÇÕES PARA O ESTUDO DA UNIDADE................................................ 140
4 INTRODUÇÃO.................................................................................................... 142
5 CONTEMPORANEIDADE E REVOLUÇÃO FRANCESA ...................................... 142
6 UTILITARISMO NA EDUCAÇÃO......................................................................... 145
7 MARXISMO E EDUCAÇÃO ................................................................................ 147
8 EDUCAÇÃO NO SÉCULO 19............................................................................... 148
9 EDUCAÇÃO DO INÍCIO DO SÉCULO 20 À DÉCADA DE 1950 ........................... 151
10 PEDAGOGIA E CIÊNCIA: FREUD, PIAGET E VIGOTSKI..................................... 158
11 OS CONFLITOS HISTÓRICOS CONTEMPORÂNEOS E SUA INFLUÊNCIA NOS
PROCESSOS PEDAGÓGICOS............................................................................. 161
12 MASS MEDIA E EDUCAÇÃO.............................................................................. 163
13 QUESTÕES AUTOAVALIATIVAS......................................................................... 164
14 CONSIDERAÇÕES.............................................................................................. 166
15 E-REFERÊNCIAS................................................................................................. 166
16 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ...................................................................... 166

Unidade 5 – ASPECTOS HISTÓRICOS DA EDUCAÇÃO NO BRASIL


1 OBJETIVOS......................................................................................................... 169
2 CONTEÚDOS...................................................................................................... 169
3 ORIENTAÇÕES PARA O ESTUDO DA UNIDADE................................................ 170
4 INTRODUÇÃO.................................................................................................... 171
5 EDUCAÇÃO JESUÍTICA...................................................................................... 171
6 ENSINO RÉGIO .................................................................................................. 176
7 EDUCAÇÃO NA ÉPOCA DA MONARQUIA........................................................ 179
8 EDUCAÇÃO NA REPÚBLICA ............................................................................. 184
9 QUESTÕES AUTOAVALIATIVAS......................................................................... 194
10 CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................. 196
11 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ...................................................................... 198
EAD
Caderno de
Referência de
Conteúdo

CRC

Ementa––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
Origem da problemática pedagógica e diferentes vertentes pedagógicas na Anti-
guidade. Educação na Antiguidade: Egito e Grécia Antiga. A Educação na época
helenística e romana. Idade Média e sua concepção educativa. A Educação na
Idade Média: Período Patrístico e Período Escolástico. Problemas pedagógicos
na Modernidade. Período Humanístico e Renascentista. A Educação na Era Mo-
derna e Contemporânea. Modelos contemporâneos da Educação.
––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––

1. INTRODUÇÃO
Vamos iniciar nosso estudo de Fundamentos Históricos e
Filosóficos da Educação, por meio da qual você terá a oportuni-
dade de se familiarizar com as principais vertentes da educação,
situadas em um percurso histórico-filosófico. Consideramos esse
conhecimento, mesmo que prévio, indispensável para a formação
de docentes e para a posterior atuação profissional, pois ele con-
tribui para ampliá-la e complementá-la.
Para que você compreenda com clareza nosso propósito
com este estudo, tentaremos expor nesta introdução, o mais breve
8 © Fundamentos Históricos e Filosóficos da Educação

possível, os problemas fundamentais que se desenham diante da


educação e com quais deles ela deve lidar.
Neste Caderno de Referência de Conteúdo, veremos que a
formação, no sentido literal, indica um processo que auxilia na rea-
lização das potencialidades que o sujeito humano possui, isto é,
o processo de alargamento dos seus limites, com base no qual o
homem desenvolve suas possibilidades, transcendendo suas limi-
tações.
Dessa forma, utilizando-se do vocabulário aristotélico, a forma-
ção seria o processo que leva da potência ao ato, designado pela noção
de enteléquia, que, segundo o dicionário Houaiss (2009), é a realização
plena e completa de uma tendência, potencialidade ou finalidade natu-
ral, com a conclusão de um processo transformativo até então em curso
em qualquer um dos seres animados e inanimados do universo.
Vejamos, agora, um exemplo para facilitar o entendimento sobre
a formação: vamos pensar no processo que leva a pedra de mármore
a uma bela estátua. A educação é isso, é a realização dos possíveis atos
do sujeito. Em contrapartida, esse sujeito está inserido em um contexto
social, em uma convivência com outros sujeitos, com os quais ele tem
de interagir. Essa situação complica o problema da formação, visto que,
além de uma formação pessoal, ele deve receber, também, uma forma-
ção social, pela qual possa se relacionar com os outros.
Note que, na situação anterior, não se trata de uma formação
subjetiva que visa apenas ao desenvolvimento das faculdades subjeti-
vas, mas também da capacidade de se relacionar com os outros. Assim,
emergem dois aspectos fundamentais com os quais a educação se de-
para: o aspecto subjetivo, que requer o desenvolvimento dos dons na-
turais do sujeito, e o aspecto social, que requer que o desenvolvimento
pessoal do indivíduo esteja de acordo com as tendências sociais.
Dessa forma, se tomarmos como referência o foco social, corre-
mos o risco de instaurar uma educação de formação e de não formação,
ou seja, uma educação que impõe limites em prol de uma convivência
padronizada e não conflituosa. Em contrapartida, se tomarmos, estrei-
tamente, a posição da formação pessoal, corremos o risco de desaguar
no subjetivismo puro que ameaça a convivência social.
© Caderno de Referência de Conteúdo 9

Essa é a problemática que está na base de nossa reflexão fi-


losófica sobre o desenvolvimento histórico da educação. O conhe-
cimento profundo de tais problemas possibilitará a você, futuro
docente, trabalhar, de forma mais adequada com os desafios que
o processo de formação humana nos coloca.

2. ORIENTAÇÕES PARA O ESTUDO

Abordagem Geral
Prof. Dr. Stefan Vasilev Krastanov

Neste tópico, apresenta-se uma visão geral do que será es-


tudado neste CRC. Aqui, você entrará em contato com os assuntos
principais deste conteúdo de forma breve e geral e terá a oportuni-
dade de aprofundar essas questões no estudo de cada unidade.
Desse modo, esta Abordagem Geral visa fornecer-lhe o co-
nhecimento básico necessário a partir do qual você poderá cons-
truir um referencial teórico com base sólida – científica e cultural
– para que, no futuro exercício de sua profissão, você a exerça com
competência cognitiva, ética e responsabilidade social. Com essa
perspectiva, vamos começar nossa aventura pela apresentação
das ideias e dos princípios básicos que fundamentam este CRC.
A problemática filosófica da educação
Vamos, então, falar um pouco sobre o conteúdo de Funda-
mentos Históricos e Filosóficos da Educação. Neste CRC, você terá
a oportunidade de se familiarizar com as principais vertentes da
educação situadas em um percurso histórico-filosófico.
Inicialmente, introduziremos o tema, ressaltando sua respec-
tiva proposta e enfocaremos os principais problemas do fenômeno
da educação durante a Antiguidade e a Idade Média. Posterior-
mente, daremos continuidade ao percurso histórico da educação
com a modernidade e a contemporaneidade.
Vamos lá?

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10 © Fundamentos Históricos e Filosóficos da Educação

Como já foi dito no Tópico Introdução, a formação, no senti-


do literal, é o processo que leva a ato as potencialidades da pessoa
humana, isto é, a ampliação de seus limites, a partir dos quais o
homem desenvolve suas possibilidades. Aristóteles em sua Meta-
física, ensinava que a formação é o processo que traz à tona aquilo
que era potência, a realização do ser.
Observe, a seguir, a metáfora comunicada pelas Figuras 1 e 2.

Figura 1 Mármore bruto.

Figura 2 Estátua de mármore.


© Caderno de Referência de Conteúdo 11

Imaginemos o processo que leva a pedra de mármore a uma


bela estátua. Eis o processo de formação. Assim como a pedra bru-
ta, pelo processo de formação, pode virar estátua, o sujeito huma-
no, pela mesma formação, pode realizar suas potencialidades. A
educação é isto: o meio para o desenvolvimento da pessoa huma-
na e para a realização de suas potencialidades.
O homem é um ser de relação, portanto, vive em uma socie-
dade, na qual interage com outros seres humanos. Essa situação
exige que o homem desenvolva competências em dois aspectos: a
sua formação pessoal, para desenvolver suas potencialidades pró-
prias, e uma formação social, a partir da qual ele possa se relacio-
nar com as outras pessoas.
Neste sentido, o homem deve desenvolver duas tendências:
• subjetiva, que requer o desenvolvimento dos dons natu-
rais do sujeito;
• e social, que requer que o indivíduo desenvolva as capaci-
dades exigidas pela sociedade.
Desse modo, se nossa ação educativa for orientada apenas
pelas tendências sociais, então, corremos o risco de uma prática
educativa incompleta, ou seja, de se instaurar uma educação que
imponha limites às capacidades subjetivas de cada pessoa huma-
na singular em prol de uma convivência padronizada e não confli-
tuosa. Todavia, se tomarmos estreitamente a posição da formação
pessoal subjetiva, corremos o risco de impedir que esta pessoa
humana possa se inserir de maneira positiva na sociedade. Neste
sentido, iremos refletir, de maneira crítica, como essas tendências
foram tratadas ao longo do desenvolvimento histórico da educa-
ção.
No tópico a seguir, faremos a análise filosófica do desenvol-
vimento histórico da educação, iniciando pela Antiguidade. Vamos
rastrear historicamente, como os filósofos procuraram solucionar
o problema da educação do homem?

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12 © Fundamentos Históricos e Filosóficos da Educação

A educação no Antigo Egito e na Grécia Antiga


Iniciaremos nossa reflexão histórico-filosófica sobre a educa-
ção pela civilização do Antigo Egito.
O Antigo Egito revela-se como uma civilização avançada. É
possível dizer que o avanço de uma civilização depende, estreita-
mente, de vários saberes que dão sustentação e condição para o
desenvolvimento da sociedade. Tais saberes devem ser dissemina-
dos e transmitidos e aprimorados de geração para geração.
O processo de transmissão, por sua vez, requer instituições
pedagógicas organizadas. Todavia, não se encontra, nesse período,
um sistema educacional organizado, mesmo porque a pedagogia
dava seus primeiros passos. O saber era transmitido por meio da
oralidade e destinado, sobretudo, às classes dominantes, reduzin-
do-se ao exercício de poder político. Aos poucos, surgiu, por assim
dizer, a educação para os plebeus, que visava, antes de tudo, ao
ensino das normas estabelecidas pelo faraó e dos saberes práticos.
Surgiram, portanto, dois modelos de educação: um intelec-
tual e bélico, destinado à classe nobre, e outro, técnico e normati-
vo, destinado aos plebeus. Esse modelo dual será a marca registra-
da da educação antiga, desde a civilização do Egito até a revolução
cultural do cristianismo.
Já os gregos antigos, no processo educacional, se revelaram
mais progressivos do que os egípcios ao elevarem o homem co-
mum como principal protagonista do cenário histórico. Trata-se do
ideal democrático. O homem torna-se cidadão e requer um com-
pleto desenvolvimento dos seus dons naturais e das suas poten-
cialidades. Juntamente com essa nova forma político-social, surge,
também, um novo ideal de homem e a necessidade de uma nova
forma de educação, uma Paideia.
Pensando nesse novo status humano, temos de destacar o
papel dos sofistas, mestres profissionais que pretendiam respon-
der aos novos desafios do homem livre. Eles prometiam, em troca
© Caderno de Referência de Conteúdo 13

de dinheiro, tornar apta qualquer pessoa que quisesse se dedicar


à vida pública. Esse comportamento propiciou a criação de escolas
nas quais se preparava o discípulo para o ingresso na vida social e
se dedicava especial importância para a oratória, conhecida como
a arte do bem falar e da disputa.
Sócrates, diferentemente dos sofistas, que acentuam o rela-
tivismo humano, se interrogava sobre a natureza comum aos ho-
mens, sua essência. Esta, segundo afirmava o velho mestre, era a
moral. Não uma moral dos costumes, mas a moral interna, o dever,
que a própria consciência dita. Para Sócrates: o conhecimento era
virtude, pois a falta de virtude deve-se à falta de saber. Se esse
for o caso, devemos imaginar que a formação humana pressupõe
aquisição do conhecimento e que este é imprescindível para o al-
cance da virtude, que conduzirá o homem à felicidade.
O processo de instrução do homem pelo qual este se torna
apto para ingressar no caminho das virtudes, Sócrates designou
maiêutica, aludindo à arte de parteira. E foi justamente Sócrates
esse parteiro intelectual, que, por meio do seu método de pergun-
tas e respostas, ajudava os jovens atenienses a descobrirem, por si
mesmos, as verdadeiras virtudes que habitavam suas almas.
Sócrates introduziu um novo modelo de educação, baseado
na dinâmica entre mestre e discípulo, e Platão foi aquele que, utili-
zando-se do método dialético, criou uma base sistemática da educa-
ção para vigorar numa sociedade perfeita. O modelo pedagógico de
Platão deve ser abordado em dois aspectos: o aspecto moral, que
visa à formação pessoal do indivíduo, e o aspecto social, que visa à
participação harmoniosa e do indivíduo na sociedade. Esses dois as-
pectos devem convergir para que haja a formação humana perfeita.
Semelhante ao seu mestre Platão, Aristóteles também consi-
derava o processo da formação humana em dois aspectos:
• Individual: segundo a sua forma humana e seus dons na-
turais, uma vez que ele defende a posição de uma desi-
gualdade natural entre os homens;

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14 © Fundamentos Históricos e Filosóficos da Educação

• Social: uma formação para o cidadão, sendo este uma


parte integrante da sociedade. Todavia, o modelo de Aris-
tóteles apresenta, diferentemente de Platão, um caráter
mais pragmático e realista.
Nossa próxima parada nesta abordagem histórico-filosófica
da educação será na época do helenismo. Vamos lá?
A educação durante o helenismo
Com as conquistas de Alexandre, o Grande a inevitável mistura
entre diferentes povos, culturas e tradições exigiu um novo ideal de
homem, bem diferente daquele dominante na antiguidade clássica,
com a quebra dessas fronteiras o homem tornou-se cosmopolita.
Todas essas mudanças políticas e sociais impuseram novos de-
safios para a educação. No âmbito dessa visão cosmopolita, a educa-
ção não visava, preferivelmente, à formação do bom cidadão, como
era na época anterior, mas, sobremaneira, ao seu desenvolvimen-
to pessoal, visto que o homem não mais participava das decisões
políticas de sua pátria. O homem torna-se "cidadão do mundo", o
que significa que ele não se identifica mais com povo algum. Quanto
mais globalizada é uma sociedade, menos autêntica ela se torna.
Alexandria, principal centro cultural do novo império funda-
do por Alexandre, emergiu como berço da civilização alexandrina.
Surgiram novas escolas, que tiveram papel fundamental para a
transmissão desse novo ideal. Justamente ali, em Alexandria, nas-
ceu a maior instituição educativa do mundo antigo – o Mouseion.
Esta, além de possuir o maior acervo de manuscritos, que conta
com mais de 700.000 dos maiores pensadores e cientistas até
então conhecidos, foi, também, um ambiente de encontros e de
convívio entre mestres, sábios e discípulos, onde estes moravam e
trocavam saberes e conhecimentos.
Seguindo o percurso histórico, chegamos ao período roma-
no, assim designado pelo domínio absoluto e soberano do Império
Romano.
© Caderno de Referência de Conteúdo 15

A educação no Império Romano


Em sua primeira versão, a educação romana teve por objeti-
vo a formação de virtudes cívicas. Foi uma educação inteiramente
voltada às necessidades do Estado Romano, baseada nos manda-
mentos sagrados das "Doze Tábuas". Esta dispensava a formação
intelectual do indivíduo. O ideal promovido por essas tábuas con-
templava um código civil inspirador da fidelidade, da tradição, da
dignidade, da firmeza, da coragem e da piedade. Nesse sentido,
estamos diante de uma educação inteiramente voltada para a so-
ciedade e para a sua conservação.
A formação romana, basicamente moral e cívica, foi-se alte-
rando aos poucos, em virtude da política conquistadora e imperia-
lista do Império Romano. Porém, à medida que Roma conquistava
outros povos, a cultura destes, conquistava Roma e transforma-
vam-na por dentro. Em consequência disso, a pedagogia tradicio-
nal também mudava, rompendo, gradualmente, com os costumes.
Nesta perspectiva, pode-se dizer que o poderoso Império Romano
foi profundamente alterado pela gloriosa e ainda mais poderosa
cultura grega.
Ao mesmo tempo em que o Império Romano entrava em de-
clínio, uma nova civilização estava prestes a nascer à base de uma
nova religião. Estamos falando do cristianismo.
Com a proliferação do cristianismo, iniciou-se uma profun-
da alteração de paradigmas, em virtude dos quais se impuseram
novas necessidades e desafios para a educação: as ideias de amor
e de fraternidade entre os homens, de solidariedade, de humil-
dade etc. romperam com o modelo estático bipolar da pedagogia
antiga; o fator religioso veio à tona como aspecto integrante da
sociedade; as novas ideias cristãs dissolveram as relações antigas
de classes e o modelo principal, sobre o qual se moldava a nova
Paideia Cristã, era a figura do Cristo e seus ensinamentos.
Nos primeiros séculos da nova religião, a prática educativa
consistia na imitação da pessoa de Cristo. Mas, como cada insti-

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16 © Fundamentos Históricos e Filosóficos da Educação

tuição devia fixar seus códigos morais para depois moldar os fiéis
conforme seus fins, a religião cristã precisava de fundamentos teó-
ricos e, curiosamente, encontrou-os na Filosofia Clássica. Vamos
conhecer um pouco sobre o que os filósofos mais importantes
pensavam sobre a educação do homem?
A educação na Idade Média
A herança helênica entrou na religião cristã via Patrística –
período em que começa a teorização do cristianismo. Nessa em-
preitada, um papel de destaque coube a Santo Agostinho. Em
quase todos os seus escritos, a questão da formação humana é
bastante atual e presente, pois tal formação é parte integrante da
renovação.
Em sua concepção pedagógica, Agostinho insiste em uma
formação enciclopédica baseada nos diversos conhecimentos e sa-
beres que devem iluminar e fazer consciente a viagem do homem
cristão ao encontro de Deus.
Obviamente, não podemos deixar de mencionar o grande
pensador e mestre da tradição escolástica, São Tomás de Aquino
(1225-1274). Em sua elaboração intelectual, Tomás não deixa de
sublinhar o importante papel da educação; na sua obra De Ma-
gistro, ele destaca o papel fundamental do mestre no processo
de despertar, cultivar e guiar o discípulo na aquisição do conheci-
mento. Assim como o agricultor não cria a árvore, mas cultiva-a,
o mestre não poderá ensinar, mas poderá, muito bem, despertar
e guiar o discípulo.
O declínio da época medieval começa por volta do século 15.
A crise na Igreja Católica, as corrupções e os abusos do clero aba-
laram ainda mais seus fundamentos. Guerras, conflitos políticos
e econômicos completam o quadro geral dessa época decadente.
Todavia, tais crises certamente despertam novos ideais, anseios e
desejos que circunscrevem os primeiros traços da modernidade.
Vamos conhecer um pouco dessa nova pedagogia?
© Caderno de Referência de Conteúdo 17

Modernidade
Na transição do Medievo para o Renascimento uma questão
se colocava ao homem europeu:
• Como instaurar uma nova situação histórica, como funda-
mentar um mundo novo e cheio de esperança?
Na verdade, trata-se da reinvenção de um modelo que vem
do mundo greco-romano. A essa reinvenção, Francesco Petrarca
deu o nome "Re-nascimento".
Os primeiros passos da modernidade, na versão renascen-
tista, manifestam progressivo rompimento dos paradigmas econô-
micos e políticos vigentes no modelo estático da época medieval.
Cabe dizer que a modernidade é fruto de uma revolução multifa-
cetal: econômica, política, social, ideológica, geográfica e, não por
último, pedagógica.
As profundas alterações no Velho Continente colocam um
grande desafio diante da educação, à qual se atribui a missão de
produzir o homem novo, apto a compreender, a aceitar e a atuar
nos novos modelos e paradigmas.
O papel de vanguarda desses novos ideais cabe à educação.
Basicamente, os humanistas do Renascimento voltam-se para o
modelo clássico de educação. Encabeçado por Francesco Petrarca
e seus discípulos, o processo de renascimento tem seu pleno vigor
com Leonardo Bruni e seu ideal de Studias Humanitatis.
Temos de ressaltar que as escolas humanistas, centradas nas
Studias Humanitatis, elaboravam um currículo baseado na Litera-
tura, nas Artes, na Ciência, na Ginástica e na Ética. Nota-se, tam-
bém, uma forte preocupação com a prática didática.
A partir do humanismo do século 15, abrem-se novas pers-
pectivas e necessidades diante do processo pedagógico, inspiradas
pelo novo modelo de homem, mais livre e mundano, que, no entan-
to, deve adotar, em sua educação, os valores cristãos. Os grandes
protagonistas dessa ênfase cristã na educação são Erasmo e Lutero.

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18 © Fundamentos Históricos e Filosóficos da Educação

Erasmo foi considerado o representante mais ilustre do hu-


manismo do século 16. No âmbito pedagógico, ele propõe o de-
safio de renovar o sistema educacional. Seu ponto de partida são
as críticas que ele dirige ao modelo escolástico de educação e sua
esterilidade, que ele próprio teria sofrido.
A boa educação, na visão de Erasmo, requer mestres capa-
citados e aptos a lidar com as diferenças entre os alunos. Cabe ao
Estado o dever de contratar e promover bons mestres, aptos para
a realização da formação integral do novo homem.
Por sua vez, Lutero – outra grande figura no processo de reno-
vação cristã –, fiel à sua fórmula protestante, preparou o solo para
um novo entendimento de educação: a torna-se o instrumento da
salvação humana, e ela é inspirada pelos textos sagrados, então, o
indivíduo, para alcançar a salvação pela fé, necessita compreender
tais textos, o que faz por meio de sua leitura. Daí a proposta luterana
de alfabetização do povo. Com isso, veio à tona a importância das
escolas públicas, nas quais Lutero apostava a salvação humana.
A proposta educativa de Lutero contempla dois desafios, a
saber: a formação do homem cristão, por um lado, e a formação
do cidadão, por outro.
A divisão do mundo cristão, operada por Lutero e sua pro-
posta protestante, causou a reação da Igreja católica em termos
de uma volta para trás aos ensinamentos doutrinais da Idade Mé-
dia e, sobretudo, da Escolástica. Em virtude disso, a Igreja Católica
travou uma luta desesperada contra o Estado Moderno, contra a
Reforma Protestante e contra todas as instituições novas, frutos
do pensamento moderno. Essa reação foi conhecida como o movi-
mento da Contrarreforma.
A cruzada contra o mundo protestante assume uma face es-
sencialmente educativa. Assim, o modelo contrarreformista cria
novas unidades escolares: o colégio e o internato, cogitando as
classes menos privilegiadas, revelando, assim, seu perfil ético, so-
cial e religioso.
© Caderno de Referência de Conteúdo 19

Todas as profundas alterações que a modernidade realiza no


decorrer histórico, começando pelo Renascimento e pela Reforma
Protestante, culminam, naturalmente, no Iluminismo. O grande
protagonista no âmbito educacional, desta época, é Rousseau.
Influenciado pelas ideias de Locke, Rousseau, em sua obra de
teor pedagógico Emílio, esboça a sua original doutrina educativa.
O tratado sobre a educação exposto em Emílio, definitivamente
rompe com o tradicional entendimento de educação, mostrando-
-se de acordo com o espírito iluminista.
Em Emílio Rousseau mostra-se ciente de que a transforma-
ção social só será possível se for anteriormente amparada por uma
educação que reflita o espírito da época. A possibilidade de uma
mudança social passa pelo retorno à natureza ou, pelo menos, ao
espírito da natureza. E nisso consiste a razão da constatação de
que o homem nasce bom, mas a sociedade o corrompe. Esse pen-
samento será o critério que irá permear o novo ideal de educação
proposto por ele. Para o pensador suíço, a formação do homem
determina-se por três aspectos fundamentais, a saber:
• a natureza;
• os outros homens;
• e as coisas.
Esses aspectos determinantes, segundo Rousseau se devem
contemplar na sua relação mútua para o alcance da plena e inte-
gral formação humana, uma vez que,
antes do Iluminismo todo processo educativo foi ineficaz, porque
derivava de duas fontes apenas, ou seja, os homens e as coisas.
Ignorava aquela base que é primeiríssima, a saber, a natureza (apud
GILES, 1987, p. 177).

No final do século 18 e início do século 19, no cenário peda-


gógico, aparece a figura de Pestalozzi e seu projeto de reformula-
ção da educação. Pestalozzi sofreu enorme influência do pensa-
mento de Rousseau. A sua intenção inicial foi de aplicar, na prática,
a teoria de Rousseau, exposta em Emílio.

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20 © Fundamentos Históricos e Filosóficos da Educação

Para que possamos compreender as ideias de Pestalozzi e


suas tentativas de introduzi-las na prática, temos de analisar a
situação social que engendra tais ideias. Basicamente, a atenção
pedagógica de Pestalozzi está voltada ao povo carente, profun-
damente imerso na miséria e ignorância. Adepto ao Iluminismo
e suas ideias progressistas, ele acredita que seja possível uma
formação mais plena e mais digna também para o povo carente.
Nisto, consiste a mensagem de Pestalozzi: na criação de métodos
simples e eficientes que podem renovar a sociedade e garantir aos
seus membros, sobretudo, às crianças, um desenvolvimento em
termos morais e intelectuais. Temos de frisar que Pestalozzi foi o
educador mais famoso da sua época.
Vamos, agora, mergulhar na época contemporânea e anali-
sá-la brevemente.
A educação contemporânea
Cronologicamente, a contemporaneidade vem à luz, oficial-
mente, com a Revolução Francesa, o evento que enunciou, defini-
tivamente, as transvalorações sociais, econômicas e políticas. De
modo geral, podemos descrevê-la como a época de revoluções po-
líticas e sociais, condicionando, por um lado, a gênese da socieda-
de contemporânea e a Revolução Industrial delineando, por outro,
a nova ordem econômica. No âmbito desse novo cenário econô-
mico, social e político, o problema pedagógico assume o papel de
suporte indispensável à vida social, promovendo a integração dos
indivíduos. Apenas agora, a Pedagogia está diante do desafio de
se tornar uma ciência estruturada, capaz de criar e aplicar os seus
modelos teóricos.
Vale dizer que, no início, a educação contemporânea revela
uma face acentuadamente ideológica. As diferenças ideológicas,
todavia, cruzam o âmbito pedagógico, tecendo o seu caráter dialé-
tico, sempre aberto para novas propostas, mudando, assim, o de-
senho social e intensificando as tensões políticas. Temos de notar
que o modelo contemporâneo pedagógico oscila entre o ideal con-
© Caderno de Referência de Conteúdo 21

formista de educação à base ideológica e o projeto emancipador


da formação pessoal do sujeito humano.
No século 20, após a polarização do mundo, a relação entre
a educação e a política torna-se ainda mais estreita. Mais acentua-
damente, nota-se esse processo de ideologização educacional nos
modelos socialistas, ao passo que, no capitalismo, a educação re-
vela um caráter mais liberal. Todavia, o modelo socialista mostra-
-se mais progressivo do que o modelo capitalista. A ideia de um
homem universal está na base da pedagogia socialista. Em con-
sequência, a exigência de uma educação forte e igual para todos
assume caráter de lei.
Após a ruptura do modelo bipolar na década de 1990, o
mundo entra, definitivamente, em processo de globalização. Com
isso, a educação ideológica torna-se inatual. O cenário globalizado
coloca o sujeito humano diante de novos desafios, que não con-
templam, os aspectos nacionais, patrióticos ou ideológicos, mas,
antes, valores cosmopolitas. Se o mundo assume traços de "gran-
de aldeia", o sujeito humano, independentemente da sua origem,
religião e costumes, tem de aprender a conviver com as diferenças
sociais, regionais, econômicas e políticas num ambiente globali-
zado. Aspectos importantes dessa nova visão são os meios de co-
municação e informação, espalhando-se, com incrível rapidez, via
internet, satélite e por outras mídias.
Na contemporaneidade, o principal foco da educação dirige-
-se ao trabalho. Muitos filósofos e sociólogos viam, na instrução
profissional, o ápice do processo educativo. Esse foco, especifica-
mente contemporâneo, começa a rejeitar os modelos humanistas
de educação, baseados na formação livresca e erudita, isto é, na
educação formal e teórica. A ênfase industrial, por sua vez, requer
da educação uma formação humana em termos de homo faber.
Na descrição da educação atual, não podemos deixar sem
nota, obviamente, um fenômeno tipicamente contemporâneo.
Trata-se de mass medias e meios virtuais de comunicação, que

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22 © Fundamentos Históricos e Filosóficos da Educação

promovem, por si, um verdadeiro processo de formação, paralelo


e alternativo aos tradicionais, independentemente da hora e do
lugar, isto é, independentemente da sala de aula.
Com a difusão desses meios alternativos e com seu acesso
amplo e fácil, informações e conhecimentos chegam a dominar,
por completo, o espaço social em todos os seus aspectos. Mas
essa nova forma de aprendizagem, paralela às formas tradicionais
(escolas, universidades), cria condição de padronização e mani-
pulação dos indivíduos. Nesse novo cenário social, aparece como
grande protagonista a indústria cultural, que facilita o acesso e po-
pulariza a cultura.
Em contrapartida, a democratização dos valores culturais
implica a sua banalização, pois, ao interagir com a cultura, o gosto
do público começa a predominar de tal maneira que se torna crité-
rio da produção cultural, uma vez que o que vale é a venda, e esta
depende do público. A cultura, então, passa a ser dirigida pelas
massas. Com outras palavras, a indústria cultural ameaça vulgari-
zar os valores da cultura, pois ela dita, por intermédio das massas,
o gosto e as regras.
Esse processo de industrialização da cultura é observado,
com olhos bastante críticos, por muitos filósofos e sociólogos, as-
sumindo a dimensão de principal problema da cultura e da edu-
cação contemporâneas. Assim, a escola de Frankfurt, encabeçada
por Adorno e Horkheimer, ressalta o efeito devastador dessa in-
dustrialização, levando a cultura à pobreza, à vulgarização, à limi-
tação e à banalização. A massa inautêntica precisa de ídolos, e ela
os escolhe por seu gosto.
A indústria cultural propaga modelos, ideias e paradigmas
que são incorporados pela massa. O homem-massa não tem sua
própria "cara", mas, em compensação disso, tem a oportunidade
de escolher uma daquelas "caras" que, na indústria cultural, se
propaga. O eu impessoal, como bem nota Heidegger em Ser e
tempo, domina plenamente o espaço cultural.
© Caderno de Referência de Conteúdo 23

Todavia, há quem veja, na indústria cultural, um meio pre-


cioso para a formação do homem, na medida em que esse ho-
mem, pela mesma indústria, tem acesso aos valores culturais que
antes foram inacessíveis para ele.
De qualquer maneira, temos de deixar bem claro que, com
o surgimento da mass medias e da indústria cultural, o âmbito pe-
dagógico mudou, de vez, a sua cara. As novas ferramentas entram,
definitivamente, no cenário escolar. A figura do docente diante do
quadro-negro cede lugar aos projetores multimídia (data show),
com imagens e efeitos visuais e virtuais.
Com essas mudanças, as questões sobre o incerto futuro pe-
dagógico estão em pauta:
• Seria uma desqualificação do professor e de seus ensina-
mentos clássicos?
• Seria uma questão de reeducação do mestre a partir de
ensinamentos tecnológicos mais eficientes para a forma-
ção humana?
Hoje em dia, não é preciso muito esforço para se conseguir
a informação que se deseja; basta teclar no computador, e isso é
ótimo! Mas e quanto ao caminho que deve ser percorrido para a
aquisição do conhecimento, que é, ao mesmo tempo, o processo
de aprendizagem? Será que não testemunhamos a era em que o
sujeito humano aprende sem aprendizagem? Essas são as pergun-
tas mais frequentes que se colocam diante da educação do século
21, as quais ela deve enfrentar, analisar e tentar responder.
Em conclusão, podemos dizer que, desde a aurora da forma-
ção humana, perdendo-se nos hieróglifos orientais, até o software de
hoje, a resposta clara e definitiva sobre o modelo perfeito de educa-
ção, sobre a verdadeira "Paideia humana" não foi dada. Nem poderia
sê-la, pois a sociedade transforma, incessantemente, a sua face,
sob as necessidades emergentes em cada instante, no decorrer
histórico, político, social e cultural. Todavia, ao longo deste estu-
do, vemos delineando-se duas vertentes principais que se realizam

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24 © Fundamentos Históricos e Filosóficos da Educação

num jogo dialético entre si: a Paideia individual, que promove a


formação integral do homem, e a Paideia social, isto é, a formação
do bom cidadão.
Com vistas a razões políticas e sociais, nem sempre essas
duas vertentes andam juntas, como deveria ser, isto é, conjugar a
plena formação individual com a sua aplicação na vida social, na
interação com os outros. Eis o que deverá amparar o ideal da edu-
cação humana – ideal que mais oscila ao utópico do que ao real.
Podemos, no entanto, opinar, modestamente, que investir
na formação individual do homem indiretamente implicaria na
sua formação social. Não se pode querer uma convivência social
não conflituosa por meio de indivíduos manipulados, mas pode-se
pode muito bem realizar uma sociedade harmoniosa com indiví-
duos esclarecidos. "Harmoniosa" aqui não quer dizer sem tensões,
mas, ao contrário, tensões expressas por meio de sujeitos críticos
que mantém, no decurso histórico, o equilíbrio do ser existencial e
do ser social, realizando, assim, a harmonia.
Nossa vida biológica é composta por tensões, , mas mantém
o equilíbrio. O equilíbrio manifesta-se na presença de forças opos-
tas, pois não existe força singular; esta só se manifesta na presen-
ça de outra. Portanto, a paralisação de uma das forças implicaria,
de imediato, no desequilíbrio. Portanto a educação deve instaurar
e estimular a tensão entre a formação individual (subjetiva) e a
formação social (objetiva) para alcançar a harmonia.
Agora é hora de você aprofundar seus estudos. Vamos em
frente!

Glossário de Conceitos
O Glossário de Conceitos permite a você uma consulta rá-
pida e precisa das definições conceituais, possibilitando-lhe um
bom domínio dos termos técnico-científicos utilizados na área de
conhecimento dos temas tratados no CRC Fundamentos Históricos
e Filosóficos da Educação. Por uma opção pedagógica do autor, os
© Caderno de Referência de Conteúdo 25

termos do Glossário não seguem uma ordem alfabética, mas uma


ordem cronológica da importância que cada um dos conceitos ad-
quire ao longo do estudo deste material. Veja, a seguir, a definição
dos principais conceitos:
1) Academia: é a escola que Platão fundou, em 387 a.C., nos
jardins localizados em Atenas, os quais pertenciam, con-
forme a lenda, ao herói Academo.
2) Paradigma: modelo.
3) Paideia: pode-se aludir ao termo "formação". É o pro-
cesso em que algo que não tem forma a adquire grada-
tivamente.
4) Ostracismo: estratégia pedagógica baseada na compe-
tição. Os antigos acreditavam que, somente por meio
da disputa e da concorrência, o indivíduo humano pode
alcançar a excelência. O ostracismo era, pois, o modelo
pedagógico mais significativo da educação homérica.
5) Pólis: Cidade-Estado com sua própria organização social,
econômica, cultural e militar. Essa forma de vida estatal
era preconizada, sobretudo, na Grécia Clássica.
6) Demônio: conforme os gregos, o ser que possuía uma
natureza dupla, divina e humana, se associava ao demô-
nio. O demônio era o resultado do acasalamento formi-
dável entre o homem e o deus.
7) Maiêutica: método dialético de educação introduzido
por Sócrates. Consiste na interrogação à que o mestre
submete o discípulo, a fim de forçá-lo a pensar e a refle-
tir. Literalmente, significa "arte de parteira". Assim como
a parteira ajuda a dar a luz a criança, o mestre ajuda o
discípulo a engendrar de si mesmo as ideias.
8) Dialética: é um método de diálogo cujo foco é a con-
traposição e contradição de ideias que levam a outras
ideias e que tem sido um tema central na Filosofia Oci-
dental e Oriental desde os tempos antigos.
9) Mouseion: é a maior biblioteca e centro cultural do
mundo antigo, localizada em Alexandria.
10) Teoria da iluminação: trata-se da concepção epistemológi-
ca de Santo Agostinho, conforme a qual o intelecto huma-

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26 © Fundamentos Históricos e Filosóficos da Educação

no, sendo finito e limitado, não será capaz, por si mesmo,


de chegar às verdades eternas sem que Deus o elevasse e o
iluminasse. Assim com a luz é a condição de visão, a teoria
da iluminação explica o processo em que o intelecto huma-
no é iluminado para "ver" as verdades eternas.
11) De Magistro: sua tradução literal seria "Do mestre". Tra-
ta-se, nesse caso, de tratados sobre a educação.
12) Alta Idade Média: o termo faz referência ao primeiro pe-
ríodo da Época Medieval.
13) Baixa Idade Média: o termo faz referência ao último pe-
ríodo da Época Medieval.
14) Quadrivium: método escolástico de ensino que incluía
Aritmética, Geometria, Astronomia e Música.
15) Trivium: método escolástico de ensino que incluía Gra-
mática, Retórica e Dialética.
16) Studia humanitatis: Ciências Humanas (Gramática, Re-
tórica, Poesia, História e Ética).
17) Humanismo: denota a visão do mundo a partir do ho-
mem. O humanismo é o traço fundamental da visão cul-
tural do Renascimento.
18) Reforma Protestante: movimento reformista cristão ini-
ciado no século 16 por Martinho Lutero, que, por meio
da publicação de suas 95 teses, protestou contra diver-
sos pontos da doutrina da Igreja católica, propondo uma
reforma no catolicismo.
19) Protestantismo: refere-se ao conjunto de igrejas cristãs
e doutrinas que se identificam com as teologias desen-
volvidas no século 16, na Europa Ocidental, na tentati-
va de reforma da Igreja católica apostólica romana por
parte de um importante grupo de teólogos e clérigos,
no qual o ex-monge agostiniano Martinho Lutero teve
destaque.
20) Contrarreforma: é o nome dado ao movimento criado
no seio da Igreja católica em resposta à Reforma Protes-
tante, iniciada com Lutero em 1517.
21) Bildung: termo alemão que pode-se traduzir como for-
mação..
© Caderno de Referência de Conteúdo 27

22) Si-natural: o termo faz referência ao estado natural do in-


divíduo antes de seu contato com a sociedade organizada.
23) Si-social: o termo faz referência ao indivíduo que, por
meio do processo pedagógico, se torna apto a integrar
a sociedade.
24) Homo faber: ser humano que maneja a técnica e pro-
duz artefatos (coisas produzidas pelo homem e que pos-
suem sentido apenas para ele).
25) Utilitarismo: concepção ética que avalia a ação moral de
acordo com o bem-estar da sociedade, ou seja, avalia a
ação conforme suas consequências.
26) Princípio da maximação: princípio utilitarista que re-
quer maior bem para maior número de pessoas.
27) Transvaloração de todos os valores: o termo foi utilizado
por Nietzsche para designar a transvaloração dos valores
morais que perderam seu eixo norteador – bem e mal.
28) Homem-massa: o terno designa o homem que perdeu a
sua pessoalidade e suas possibilidades próprias, tornan-
do-se impessoal. O homem-massa perdeu, então, sua
identidade própria, identificando-se com a multidão.
29) Tupi-guarani: tronco linguístico que compreende, no
Brasil, dez famílias vivas, distribuídas por 14 estados;
estende-se tb. pelos seguintes países: Guiana Francesa,
Venezuela, Colômbia, Peru, Bolívia, Paraguai e Argentina
(HOUAISS, 2009).

Esquema dos Conceitos-chave


Para que você tenha uma visão geral dos conceitos mais
importantes deste estudo, apresentamos, a seguir (Figura 1), um
Esquema dos Conceitos-chave. O mais aconselhável é que você
mesmo faça o seu esquema de conceitos-chave ou até mesmo o
seu mapa mental. Esse exercício é uma forma de você construir o
seu conhecimento, ressignificando as informações a partir de suas
próprias percepções.
É importante ressaltar que o propósito desse Esquema dos
Conceitos-chave é representar, de maneira gráfica, as relações en-

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28 © Fundamentos Históricos e Filosóficos da Educação

tre os conceitos por meio de palavras-chave, partindo dos mais


complexos para os mais simples. Esse recurso pode auxiliar você
na ordenação e na sequenciação hierarquizada dos conteúdos de
ensino.
Com base na teoria da aprendizagem significativa, entende-
-se que, por meio da organização das ideias e dos princípios em es-
quemas e mapas mentais, o indivíduo pode construir o seu conhe-
cimento de maneira mais produtiva e obter, assim, ganhos peda-
gógicos significativos no seu processo de ensino e aprendizagem.
Aplicado a diversas áreas do ensino e da aprendizagem es-
colar (tais como planejamentos de currículo, sistemas e pesquisas
em Educação), o Esquema dos Conceitos-chave baseia-se, ainda,
na ideia fundamental da Psicologia Cognitiva de Ausubel, que es-
tabelece que a aprendizagem ocorre pela assimilação de novos
conceitos e de proposições na estrutura cognitiva do aluno. Assim,
novas ideias e informações são aprendidas, uma vez que existem
pontos de ancoragem. 
Tem-se de destacar que "aprendizagem" não significa, ape-
nas, realizar acréscimos na estrutura cognitiva do aluno; é preci-
so, sobretudo, estabelecer modificações para que ela se configure
como uma aprendizagem significativa. Para isso, é importante con-
siderar as entradas de conhecimento e organizar bem os materiais
de aprendizagem. Além disso, as novas ideias e os novos concei-
tos devem ser potencialmente significativos para o aluno, uma vez
que, ao fixar esses conceitos nas suas já existentes estruturas cog-
nitivas, outros serão também relembrados.
Nessa perspectiva, partindo-se do pressuposto de que é
você o principal agente da construção do próprio conhecimento,
por meio de sua predisposição afetiva e de suas motivações inter-
nas e externas, o Esquema dos Conceitos-chave tem por objetivo
tornar significativa a sua aprendizagem, transformando o seu co-
nhecimento sistematizado em conteúdo curricular, ou seja, esta-
belecendo uma relação entre aquilo que você acabou de conhecer
© Caderno de Referência de Conteúdo 29

com o que já fazia parte do seu conhecimento de mundo (adap-


tado do site disponível em: <http://penta2.ufrgs.br/edutools/
mapasconceituais/utilizamapasconceituais.html>. Acesso em: 11
mar. 2010).

Figura 1 Esquema dos Conceitos-chave do Caderno de Referência de Conteúdo Fundamentos


Históricos e Filosóficos da Educação.

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30 © Fundamentos Históricos e Filosóficos da Educação

Como você pode observar, esse Esquema dá a você, como


dissemos anteriormente, uma visão geral dos conceitos mais im-
portantes deste estudo. Ao segui-lo, você poderá transitar entre
um e outro conceito deste CRC e descobrir o caminho para cons-
truir o seu processo de ensino-aprendizagem. Por exemplo, os
conceitos complexidade e educação implicam conhecer as etapas
da formação do pensamento pós-moderno de Kant a Morin; sem o
domínio conceitual desse processo explicitado pelo Esquema, po-
de-se ter uma visão confusa do tratamento da temática do ensino
de Filosofia proposto pelos autores deste CRC.
O Esquema dos Conceitos-chave é mais um dos recursos de
aprendizagem que vem se somar àqueles disponíveis no ambiente
virtual, por meio de suas ferramentas interativas, bem como àqueles
relacionados às atividades didático-pedagógicas realizadas presen-
cialmente no polo. Lembre-se de que você, aluno EaD, deve valer-se
da sua autonomia na construção de seu próprio conhecimento.

Questões Autoavaliativas
No final de cada unidade, você encontrará algumas questões
autoavaliativas sobre os conteúdos ali tratados, as quais podem ser
de múltipla escolha, abertas objetivas ou abertas dissertativas.
Responder, discutir e comentar essas questões, bem como
relacioná-las com a prática do ensino pode ser uma forma de você
avaliar o seu conhecimento. Assim, mediante a resolução de ques-
tões pertinentes ao assunto tratado, você estará se preparando
para a avaliação final, que será dissertativa. Além disso, essa é uma
maneira privilegiada de você testar seus conhecimentos e adquirir
uma formação sólida para a sua prática profissional.
Você encontrará, ainda, no final de cada unidade, um gabari-
to, que lhe permitirá conferir as suas respostas sobre as questões
autoavaliativas de múltipla escolha.
© Caderno de Referência de Conteúdo 31

ATENÇÃO!
As questões de múltipla escolha são as que têm como resposta
apenas uma alternativa correta. Por sua vez, entendem-se por ques-
tões abertas objetivas as que se referem aos conteúdos matemá-
ticos ou àqueles que exigem uma resposta determinada, inalterada.
Já as questões abertas dissertativas obtêm por resposta uma in-
terpretação pessoal sobre o tema tratado; por isso, normalmente, não
há nada relacionado a elas no tópico Gabarito. Você pode comentar
suas respostas com o seu tutor ou com seus colegas de turma.

Bibliografia Básica
É fundamental que você use a Bibliografia Básica em seus
estudos, mas não se prenda só a ela. Consulte, também, as biblio-
grafias complementares.

Figuras (ilustrações, quadros...)


Neste material instrucional, as ilustrações fazem parte inte-
grante dos conteúdos, ou seja, elas não são meramente ilustra-
tivas, pois esquematizam e resumem conteúdos explicitados no
texto. Não deixe de observar a relação dessas figuras com os con-
teúdos do CRC, pois relacionar aquilo que está no campo visual
com o conceitual faz parte de uma boa formação intelectual.

Dicas (motivacionais)
O estudo deste CRC convida você a olhar de forma mais apu-
rada a Educação como processo de emancipação do ser humano.
É importante que você se atente às explicações teóricas, práticas
e científicas que estão presentes nos meios de comunicação, bem
como partilhe suas descobertas com seus colegas, pois, ao com-
partilhar com outras pessoas aquilo que você observa, permite-se
descobrir algo que ainda não se conhece, aprendendo a ver e a
notar o que não havia sido percebido antes. Observar é, portanto,
uma capacidade que nos impele à maturidade.

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32 © Fundamentos Históricos e Filosóficos da Educação

Você, como aluno dos cursos de Graduação na modalidade


EaD, necessita de uma formação conceitual sólida e consistente.
Para isso, você contará com a ajuda do tutor a distância, do tutor
presencial e, sobretudo, da interação com seus colegas. Sugeri-
mos, pois, que organize bem o seu tempo e realize as atividades
nas datas estipuladas.
É importante, ainda, que você anote as suas reflexões em
seu caderno ou no Bloco de Anotações, pois, no futuro, elas pode-
rão ser utilizadas na elaboração de sua monografia ou de produ-
ções científicas.
Leia os livros da bibliografia indicada para que você amplie
seus horizontes teóricos. Coteje-os com o material didático, discuta
a unidade com seus colegas e com o tutor e assista às videoaulas.
No final de cada unidade, você encontrará algumas questões
autoavaliativas, que são importantes para a sua análise sobre os
conteúdos desenvolvidos e para saber se estes foram significativos
para sua formação. Indague, reflita, conteste e construa resenhas,
pois esses procedimentos serão importantes para o seu amadure-
cimento intelectual.
Lembre-se de que o segredo do sucesso em um curso na
modalidade a distância é participar, ou seja, interagir, procurando
sempre cooperar e colaborar com seus colegas e tutores.
Caso precise de auxílio sobre algum assunto relacionado a
este CRC, entre em contato com seu tutor. Ele estará pronto para
ajudar você.

3. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ARISTÓTELES. Metafísica. Bauru: Edipro, 2006. (Clássicos Edipro).
CAMBI, F. História da pedagogia. Tradução de Álvaro Lorencini. São Paulo: Unesp, 1999.
GILES, T. R. História da educação. 3 ed. São Paulo: EPU, 1987.
MANACORDA, M. A. História da educação: da antiguidade aos nossos dias. Tradução de
Gaetano lo Monaco. São Paulo: Cortez, 1989.
© Caderno de Referência de Conteúdo 33

JAEGER, W. W. Paidéia: a formação do homem grego. 4. ed. São Paulo: Martins Fontes,
2003.
ROUSSEAU, J. Emílio ou da educação. Tradução de Roberto Leal Ferreira. 2. ed. São Paulo:
Martins Fontes, 1999.

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EAD
A Educação no Mundo
Antigo
1
1. OBJETIVOS
• Compreender como se organizam os conteúdos de Fun-
damentos Históricos e Filosóficos da Educação e discutir
sobre o seu propósito.
• Analisar e conhecer determinados conceitos necessários
ao estudo.
• Compreender as estruturas pedagógicas do mundo anti-
go, bem como as propostas dos principais filósofos sobre
a Paideia dos cidadãos das civilizações antigas.

2. CONTEÚDOS
• Introdução aos conteúdos de Fundamentos Históricos e
Filosóficos da Educação e formas de participação, intera-
ção e apropriação dos conteúdos.
• Programa para o desenvolvimento dos estudos.
36 © Fundamentos Históricos e Filosóficos da Educação

3. ORIENTAÇÕES PARA O ESTUDO DA UNIDADE


Antes de iniciar o estudo desta unidade, é importante que
você leia as orientações a seguir:
1) Durante o estudo desta unidade, procure realizar as re-
flexões sugeridas. Faça seu cronograma e não se apresse
em prosseguir seus estudos. Afinal, as reflexões são im-
portantes para possibilitar que você se envolva por intei-
ro na aprendizagem. Pense nisso...
2) Era chamada cidade-Estado uma região controlada por
uma grande cidade que fosse independente. As cidades-
-Estado eram comuns na Antiguidade, principalmente
na Grécia Antiga.
3) O papiro é uma planta nativa do Egito, encontrada às
margens do rio Nilo. Era utilizado na fabricação do papel.
É possível encontrar plantações de papiro em regiões do
sul da Itália.

4. INTRODUÇÃO
O surgimento e o desenvolvimento da problemática pedagó-
gica acompanham a gênese da sociedade desde seus primórdios
até os dias atuais. Assim, torna-se presente o questionamento so-
bre os fundamentos da educação, isto é, sobre as razões que tor-
nam possível esse fenômeno social e cultural. Tal questionamento
se reduz à pergunta sobre o fundamento no âmbito da reflexão
filosófica.
A educação encontra-se na base de qualquer sistema polí-
tico e social, sendo suporte indispensável para a realização tan-
to dos fins subjetivos (do indivíduo) como dos fins objetivos (da
sociedade). O grande desafio com o qual a educação sempre se
depara é como reconciliar os fins subjetivos com os objetivos. Essa
será a base da nossa reflexão, tendo como norteadora a gênese
histórica da educação.
© U1 - A Educação no Mundo Antigo 37

Assim, nesta unidade, você vai conhecer os primeiros pas-


sos da Educação na sociedade arcaica, no Egito Antigo especifi-
camente. Em seguida, terá a oportunidade de se familiarizar com
os modelos gregos de educação e seus grandes representantes,
como Homero, Sócrates, Platão, Isócrates, Aristóteles e outros,
compreendendo as influências que estes exerceram nas épocas
helenística e romana.
Iniciaremos nosso estudo sobre os fundamentos históricos e
filosófico da educação pelos vestígios mais remotos de uma ativi-
dade pedagógica da antiguidade no Egito. Acompanhe!

5. EDUCAÇÃO NO EGITO ANTIGO


O primeiro rastro de uma atividade pedagógica, segundo
Manacorda (1989), encontra-se na civilização do Antigo Egito. Essa
é a razão pela qual a nosso estudo histórico-filosófico da educação
deve começar por essa civilização.
Os povos que habitavam as margens do rio Nilo tinham per-
feitas condições de desenvolvimento de uma civilização avançada,
pois o solo fértil nas margens do rio propiciava condições de uma
agricultura avançada. Esta, por sua vez, necessitava de vários sa-
beres que, ao longo do tempo, foram desenvolvidos: matemática,
astronomia, engenharia, arquitetura etc.
Como podemos entender, todos esses conhecimentos estão
na base dessa civilização hidráulica. Assim como é de se esperar
que tais conhecimentos tenham sido transmitidos de geração a
geração, a fim de manter intacta a civilização, é de se pensar como
uma necessidade, a criação de escolas como veículos de transmis-
são desses saberes, a partir dos quais se aprendem várias habilida-
des e competências que atendam à necessidade da prática.
Apesar dessas razões que justificam o surgimento de institui-
ções pedagógicas, não encontramos provas de uma clara tendên-
cia pedagógica. E tudo isso porque a educação tinha um caráter

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38 © Fundamentos Históricos e Filosóficos da Educação

restrito, acessível somente a poucos, isto é, às classes dominantes,


embora esse fato reduzisse seu currículo de instrução política ao
exercício de poder.
Foi no Egito que as crenças modernas e o conhecimento so-
bre o homem tiveram origem. Foi seu povo quem produziu a arte
e a literatura expressivas, como também foi o pioneiro na arquite-
tura de pedra, além de desenvolver o primeiro material adequado
para a escrita, o papiro (ver Figura 1).

Figura 1 Papiro.

Mesmo sem rastros de instituições pedagógicas organiza-


das, como vestígios dessa atividade encontramos versos de caráter
moral e comportamental. Pensemos nos Livros dos sábios. Esses
ensinamentos de cunho moral haviam sido transmitidos oralmen-
te, de geração a geração, de pai para filho, de mestre para discípu-
lo, pois a escrita não era, ainda, o veículo principal. A base desses
ensinamentos era mnemônica, ou seja, repetição e memorização.
No período feudal, em torno de 2.200 a 2.000 a.C., com a
inserção da ginástica e da arte de guerra, houve um avanço con-
siderável no quadro curricular. Juntamente com estas, a arte do
bem falar (oratória) veio contribuir para uma formação sistemati-
camente organizada, ainda que acessível apenas às classes domi-
nantes, que mantinham o poder político.
© U1 - A Educação no Mundo Antigo 39

Aos poucos, surgem escolas que não apenas contemplam


a formação de políticos e guerreiros – como no caso das classes
dominantes –, mas também se destinavam a formar os que man-
tinham certas relações com o soberano e não possuíam origem
nobre. Essas escolas dão origem à figura do mestre rodeado por
seus discípulos.
O período de 2.100 a 1.800 a.C. marcou um avanço notável
na educação. A memorização dos versos cedeu lugar ao estudo
das letras. O ofício das letras, dirigido pelo mestre, criava condição
para os próprios alunos interagirem com as sabedorias transmiti-
das pelos livros. A partir dessa época, a transmissão oral foi sendo
substituída pelo ofício das letras; os livros tornam-se a principal
fonte de sabedoria, e, para ter acesso a eles, era preciso que o
homem aprendesse a ler e escrever.
Essa passagem da tradição oral para a escrita certamente
muda o rumo da educação. Agora, o protagonista não é mais o sá-
bio, mas aquele que, ao dominar a arte de ler e escrever, apropria-
-se da sabedoria depositada nos livros. Na medida em que isso
se tornou uma realidade, iniciou-se a criação de bibliotecas como
uma espécie de "depósito do saber". Essa considerável mudança
na educação ocorreu por volta de 1.800 a 1.600 a.C.
Com o posterior desenvolvimento da sociedade antiga e com
o crescente anseio político de uma convivência social não confli-
tuosa, emerge a necessidade de uma educação para os súditos,
cujo objetivo era que estes aprendessem que a sua posição social
era a de súditos, ou seja, tratava-se de uma educação que visava à
submissão e à obediência.
Surgem, portanto, dois modelos de educação: a intelectual
e bélica, destinada à classe nobre, e outra, destinada aos plebeus.
Estes adquiriam conhecimentos profissionais para a produção de
coisas úteis, como era o caso, por exemplo, dos artesões. Esse mo-
delo bivalente será a marca registrada da educação antiga, desde
a civilização do Egito até a revolução cultural do cristianismo. É o
que sublinha Franco Cambi (1999, p. 52):

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40 © Fundamentos Históricos e Filosóficos da Educação

Todo o mundo antigo, até a revolução cultural do cristianismo, per-


manecerá ancorado a esse dualismo radical de modelos formati-
vos, que refletem e se encerram naquele dualismo entre trabalho
manual e trabalho intelectual que, por sua vez, foi uma infra-estru-
tura da cultura ocidental, pelo menos até o advento da modernida-
de que tornou a pôr em causa a cisão e a contraposição, exaltando
aquele homo faber que será o protagonista do mundo moderno.

Feito essas indicações importantes sobre o caráter da educa-


ção do Antigo Egito, vamos agora conhecer os desafios que surgem
diante da educação na Grécia Antiga.

6. EDUCAÇÃO NA GRÉCIA ANTIGA


Seguindo as pesquisas históricas e filosóficas, podemos re-
conhecer, na Grécia, principalmente no período clássico, esboços
de modelos teóricos, cognitivos, éticos e estéticos que dão origem
a toda a cultura ocidental. Essa gloriosa civilização grega e suas
incomparáveis contribuições no âmbito cultural vão-se desenro-
lando durante quatro períodos: homérico, clássico, helenístico e
romano.

Figura 2 Grécia.
© U1 - A Educação no Mundo Antigo 41

Entre 2.500 e 1.400 a.C., existiu, na Ilha de Creta, uma cul-


tura avançada chamada "minoica", que nos impressiona pela exu-
berância e vitalidade; é uma cultura totalmente diferente daquela
dos melancólicos templos egípcios. A cultura minoica era marítima
com perfil comercial. Por volta de 1.600 a.C., ela estendeu-se até
a parte continental da Grécia e permaneceu vigorosa até 900 a.C.,
fundando, assim, a cultura micênica, da qual não se conhece muito
além das lendas e dos testemunhos de Homero.
Apesar de os gregos não serem um povo homogêneo, a par-
tir de um intenso intercâmbio comercial e cultural, formam sua
própria unidade espiritual. Esse processo começou por volta de
1.800 a.C. quando povos itinerantes de origem indo-europeia inva-
diram, inicialmente, a Ilha de Creta e, posteriormente, a parte con-
tinental da Grécia. Esses povos chegaram à Grécia em três etapas:
primeiro, vieram os jônios; depois, os eólios; e, por fim, os dórios.
Os jônios apropriaram-se totalmente da cultura minoica.
Apesar de ser um povo guerreiro, os jônios foram expulsos pelos
eólios. Conforme pesquisas arqueológicas, os eólios constituíram
um forte império por volta de 1.400 a.C. Enfraquecida pelas guer-
ras entre jônios e eólios, a civilização minoica foi praticamente ex-
tinta pelos últimos invasores – os dórios. Enquanto os jônios e os
eólios aceitavam a religião minoica, os dórios permaneciam em
sua religião indo-europeia. Assim, a religião minoica conservou-se
entre as classes baixas, ao passo que a religião da Grécia Clássica
as incorporou.
Diferentemente da visão oriental da civilização do Antigo
Egito, segundo a qual a educação intelectual cabia somente à
casta sacerdotal e a educação do povo se limitava ao ensino das
normas, os gregos tornaram o homem comum o principal prota-
gonista no cenário histórico pelo ideal democrático. A importância
do homem, nesse cenário, requer um completo desenvolvimento
dos seus dons naturais e potencialidades, o que exigia uma nova
Paideia.

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42 © Fundamentos Históricos e Filosóficos da Educação

Para analisar essa nova mentalidade, faremos uma breve ex-


planação sobre Homero, intitulado por Platão como "o maior de
todos os mestres gregos". Vamos lá?

O período homérico e a educação


Para compreender melhor a educação homérica, temos de,
em princípio, compreender a sua religião, pois é desta que aquela
tomará inspiração.
A epopeia homérica, que origina a religião dos antigos gre-
gos, parece não ter analogia com outra religião, pois não se baseia
em uma relação de adoração, como qualquer outra, mas, antes de
tudo, de rivalidade. Aos deuses gregos, são atribuídos traços hu-
manos, ou seja, antropomórficos. Eles são bons ou maus, justos ou
injustos, nobres ou covardes; enfim, são como os humanos. A úni-
ca diferença que podemos ressaltar entre deuses e humanos é o
fato de os deuses serem imortais. No entanto, os homens também
poderiam sê-lo; bastava agirem e comportarem-se como heróis.
Havia uma rivalidade entre os deuses e os heróis humanos,
o que, por sua vez, forçava o homem a superar-se, a tornar-se um
deus e a concorrer com eles. Era uma religião que necessitava do
"homem-herói". À base desse paradigma heroico da existência hu-
mana, em que o herói preferia a morte – após uma luta sangrenta
coroada pela glória – do que a existência feliz, a educação toma
inspiração.
A educação homérica foi o primeiro modelo de formação em
excelência; a primeira versão da Paideia grega. Temos de notar que
esse modelo propiciava a formação do lado subjetivo do homem,
todavia, essa formação de excelência traria também para o Estado
enorme benefício, pois é o herói quem, nos combates, glorificava
e dava relevância ao seu Estado.
Nesse período, o povo grego ainda não dominava a arte de
ler e escrever, e, por isso, a educação era transmitida oralmente. A
© U1 - A Educação no Mundo Antigo 43

Ilíada e a Odisseia eram a base dessa transmissão oral. Os heróis


das epopeias serviram como modelo de imitação para os jovens.
O processo de formação dos jovens gregos efetuava-se por
meio da disputa e da concorrência, já que se acreditava que esse
era o caminho para o homem se desenvolver. Com isso, a disputa
tornar-se um meio imprescindível para o gênio se destacar e ficar
reconhecido. Foi o ostracismo que revelou esse modelo agônico
de educação. Segundo tal modelo, se, numa disputa, aparecesse
alguém que superasse, em muito, os outros competidores, este
teria de ser isolado e transferido para outro grau de disputa, para
que esta não cessasse. Pode-se reconhecer essa mentalidade em
todas as manifestações da cultura grega, como nos jogos olímpicos
e nas disputas sofísticas. Em suma, a educação homérica permea-
va e fundamentava essa cultura fenomenal.
No entanto, ao longo do tempo, rompeu na cultura grega
uma força racional que dominou toda a cultura ocidental. Este pe-
ríodo é denominado "Período Clássico", e tinha, na racionalidade,
sua marca fundamental. Vamos estudá-lo a seguir?

Período clássico
Por volta dos séculos 5 a.C e 4 a.C., a cultura grega entra no pe-
ríodo clássico do seu desenvolvimento. Nesse período, entre as pólis
gregas, duas merecem destaque, revelando dois modelos diferentes
de educação. Com efeito, trataremos de Esparta e Atenas.
Esparta
Por volta do ano 800 a.C., na estrutura social da Grécia, surge
a cidade-Estado, chamada pólis. Havia várias polis, com estruturas
política e social próprias. Entre elas, frequentemente explodiam
conflitos seguidos por guerras. Essa é a razão pela qual mantinha
os cidadãos em prontidão constante para, se necessário, travar lu-
tas em sua defesa, pois o bem do Estado conferia o maior valor às
ações humanas. Talvez, a manifestação mais clara dessa mentali-

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44 © Fundamentos Históricos e Filosóficos da Educação

dade grega seja apresentada por Esparta e seu modelo educativo,


o qual servirá, em partes, de base a Platão, para descrever o seu
Estado perfeito.
Em Esparta, o ideal homérico de formação manteve-se mais
intacto, pelo menos na sua versão bélica. No entanto, o indivíduo
não é concebido na sua dimensão subjetiva, e, portanto, a sua for-
mação tendia, sobremaneira, a beneficiar o Estado. O Estado atri-
buía à educação uma missão fundamental para a sua conservação,
na medida em que ela deveria formar cidadãos compatíveis com o
projeto político de Esparta.
Foi por essa razão que o Estado espartano considerava as
crianças e os jovens como sua propriedade, os quais deveriam ser
moldados conforme seus fins. Como o Estado era considerado o
Bem supremo, o papel da formação individual reduzia-se ao mí-
nimo. Percebe-se como a educação, nessa versão, visa somente
a moldar o indivíduo conforme as necessidades estatais. Obser-
vamos aqui que se trata de um homem "produzido" pelo e para
o Estado. Esse modelo de educação nos mostra uma formação
unilateral, que descarta o desenvolvimento subjetivo e pessoal do
indivíduo.
Ao contrário do modelo espartano, a educação ateniense
revela-nos um ideal mais humano e liberal, ou seja, mais volta-
do ao aperfeiçoamento pessoal e subjetivo. Vamos conhecer esse
modelo educativo a seguir.
Atenas
Se o Estado espartano atestava a propriedade das crianças,
em Atenas, tal propriedade cabia à família e, antes, ao pai.
O ideal educativo de Atenas visava a três aspectos: ginástica,
música e escrita. A ginástica justificava-se, além das necessidades
militares, pelo ideal humanista de harmonia entre corpo e mente.
Ao estudo da música, cabia o papel de formar o senso de tempe-
rança e de moderação nos jovens, como, por exemplo, evitar falar
© U1 - A Educação no Mundo Antigo 45

e agir com indecência. Se, por um lado, à escrita cabe o principal


meio de aquisição de conhecimentos e interação com estes, por
outro, a criação do alfabeto naturalmente impõe a necessidade de
tal estudo. A esse respeito, Cambi (1999, p. 85) afirma: "Estamos
no liminar da grande descoberta educativa ateniense e, também,
de toda cultura grega: a Paidéia".
Por volta de 461 a.C. a 429 a.C., o grande protagonista políti-
co é Péricles. Inicia-se o século de ouro da cultura grega, o Classi-
cismo. As principais ideias que a sociedade ateniense eleva como
"bandeira" do seu humanismo expressam-se em termos de igual-
dade, liberdade e individualidade. Lembremo-nos desta célebre
frase de Protágoras: "o homem é a medida de todas as coisas".
Esse legado deixado pelo célebre sofista milagrosamente resume
todos esses ideais.
É o antropologismo, instaurado por meio dos sofistas e de
Sócrates, que constrói a pátria do Classicismo. Começa uma nova
era para o homem, tornando-se este o principal objeto da sua pró-
pria investigação. A famosa frase do templo de delfos ilustra esse
movimento espiritual: "Conhece-te a ti mesmo!". Eis a nova mun-
dividência, em que o homem aparece como protagonista e na qual
ele se pergunta sobre si mesmo e por si mesmo responde, desper-
tando a sua consciência pessoal e, com ela, o gosto pela liberdade.
A democracia está, pois, no seu apogeu.
Pensando nesse novo status humano, temos de destacar o
papel dos sofistas. Neste período surge a preocupação com um
processo educativo que requer, antes de tudo, uma formação hu-
mana no sentido amplo da palavra.
Sofistas
Com a ascensão dos comerciantes e o surgimento da classe
burguesa, o anseio democrático surgia cada vez mais manifestado
e, com ele, a vontade pelo poder social. Praticamente, todo ho-
mem tinha direito de assumir cargos públicos, ou até encabeçar o

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46 © Fundamentos Históricos e Filosóficos da Educação

Estado. Mas, para tal fim, era necessário que ele convencesse os
outros das suas capacidades.
Os sofistas, como mestres profissionais, prometiam, em tro-
ca de dinheiro, tornar apta qualquer pessoa que quisesse dedicar-
-se à vida pública. Estes fatores propiciaram o surgimento de es-
colas, nas quais se dava muita importância à oratória (a arte de
bem falar e arte de disputa), e, por meio desses conhecimentos,
preparava-se o discípulo para o ingresso na vida social.
Todavia, essas intenções sofísticas de fazer que todo homem
pudesse participar na vida pública foram vistas por Sócrates e ou-
tros como algo desonroso. Por um lado, porque vendiam o conhe-
cimento como se fosse mercadoria, por outro, porque incitavam a
possibilidade de os plebeus entrarem na vida pública.
Embora Sócrates e outros contestassem o sucesso individual,
a carreira na vida pública e a vantagem pessoal, tal fato deveria
ocorrer em detrimento da realização plena do homem por meio das
virtudes morais. Talvez essa seja a razão da forte repulsa de Sócra-
tes, o primeiro teórico da ética, e de seu genuíno discípulo, Platão,
contra os sofistas. Vejamos o que Sócrates pensava a esse respeito!
Sócrates
Sócrates, diferentemente dos sofistas que acentuam o relati-
vismo humano, interrogava-se, permanentemente, sobre a natureza
humana, procurando a essência comum entre os homens. Sócrates,
com a célebre frase "conhece-te a ti mesmo", fazia com que o indi-
víduo a procurasse em si mesmo a sua essência humana, que é co-
mum entre os homens. Como afirmava o velho mestre, tal essência
era a moral, mas uma moral não baseada na lei inexorável dos costu-
mes, mas sim na obrigação interna, no dever que ditado pela própria
consciência. O indivíduo deveria consultar o seu próprio "demônio"
para achar os motivos do seu agir.
Sócrates tornou-se o pai da filosofia moral com base racio-
nalista; assim, podemos entender sua frase marcante: "O conheci-
© U1 - A Educação no Mundo Antigo 47

mento é virtude", pois a falta de virtude deve-se à falta de saber.


Se esse for o caso, então devemos imaginar que a formação huma-
na, que pressupõe aquisição do conhecimento, é imprescindível
para o alcance da vida virtuosa, e esta, por sua vez, conduzirá o
homem à felicidade. Temos de notar aqui um argumento poderoso
em prol da necessidade do ensino.
Sócrates designou como maiêutica (alusão à arte de parteira)
o método de instrução da alma humana, pelo qual esta se ascende
e se torna apta a ingressar no caminho das virtudes. Por meio de
perguntas e respostas, Sócrates foi de fato esse "parteiro intelec-
tual" que ajudava os jovens a descobrirem, por si mesmos, as ver-
dadeiras virtudes que habitavam suas almas. Nessa empreitada,
Sócrates era insuperável. Sua maiêutica, entendida como método
dialético, criou um novo paradigma na educação, atribuindo a esta
mais dinâmica e efetividade.
Se a Sócrates cabe o mérito de ter introduzido um novo mo-
delo de educação baseado na dinâmica entre o mestre e o discípulo,
Platão foi quem, utilizando-se do método dialético, criou uma base
sistemática da educação para vigorar numa sociedade perfeita. A
seguir, você irá conhecer as propostas pedagógicas de Platão.
Platão
Não será necessário sublinhar que o modelo educativo de
Platão é acentuadamente utópico. Todavia, não deixa de ser uma
teoria avançadíssima que, ao longo dos séculos, tem sido uma das
principais fontes de inspiração da literatura pedagógica.
O modelo pedagógico platônico ressalta dois aspectos: o as-
pecto moral, que visa à formação pessoal do indivíduo, e o aspec-
to social, que visa à participação do indivíduo na sociedade. Esses
dois aspectos devem convergir, para que haja formação perfeita.
Platão vê, na dialética, o suporte imprescindível para a formação
individual, e esta deve realizar o caminho ascendente para a con-
templação das ideias.

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48 © Fundamentos Históricos e Filosóficos da Educação

A esse respeito, Heidegger notará que é a partir da paideia


que o "olho educado" aprende a contemplar as ideias. Na célebre
Alegoria da caverna, contida no livro 7 de A república, podemos
observar a primeira forma de educação, a individual: primeiro, na
libertação do prisioneiro curioso e dos grilhões; depois na tomada
do caminho ascendente; e, por fim, no alcance do mundo ensola-
rado das verdades eternas.
Para compreender melhor essa versão platônica de educa-
ção, convidamos você a observar, em detalhes, essa alegoria:

Alegoria da caverna–––––––––––––––––––––––––––––––––––
Imaginemos uma caverna subterrânea onde, desde a infância, geração após ge-
ração, seres humanos estão aprisionados. Suas pernas e seus pescoços estão
algemados de tal modo que são forçados a permanecer sempre no mesmo lugar
e a olhar apenas para frente, não podendo girar a cabeça nem para trás nem
para os lados. A entrada da caverna permite que alguma luz exterior ali penetre,
de modo que se possa, na semi-obscuridade, enxergar o que se passa no inte-
rior.
A luz que ali entra provém de uma imensa e alta fogueira externa. Entre ela e os
prisioneiros – no exterior – portanto, - há um caminho ascendente ao longo do
qual foi erguida uma mureta, como se fosse a parte fronteira de um palco de ma-
rionetes. Ao longo dessa mureta-palco, homens transportam estatuetas de todo
tipo, com figuras de seres humanos, animais e todas as coisas.
Por causa da luz da fogueira e da posição ocupada por ela, os prisioneiros enxer-
gam na parede do fundo da caverna as sombras das estatuetas transportadas,
mas sem poderem ver as próprias estatuetas, nem os homens que as transpor-
tam.
Como jamais viram outra coisa, os prisioneiros imaginam que as sombras vistas
são as próprias coisas.
Ou seja, não podem saber que são sombras, nem podem saber que são imagens
(estatuetas de coisas), nem que há outros seres humanos reais fora da caverna.
Também não podem saber que enxergam porque há a fogueira e a luz no exterior
e imaginam que toda luminosidade possível é a que reina na caverna.
Que aconteceria, indaga Platão, se alguém libertasse os prisioneiros? Que faria
um prisioneiro libertado? Em primeiro lugar, olharia toda a caverna, veria os ou-
tros seres humanos, a mureta, as estatuetas e a fogueira. Embora dolorido pelos
anos de imobilidade, começaria a caminhar, dirigindo-se à entrada da caverna e,
deparando com o caminho ascendente, nele adentraria.
Num primeiro momento, ficaria completamente cego, pois a fogueira na verdade
é a luz do sol e ele ficaria inteiramente ofuscado por ela. Depois, acostumando-
-se com a claridade, veria os homens que transportam as estatuetas e, pros-
seguindo no caminho, enxergaria as próprias coisas, descobrindo que, durante
toda sua vida, não vira senão sombras de imagens (as sombras das estatuetas
projetadas no fundo da caverna) e que somente agora está contemplando a pró-
pria realidade.
© U1 - A Educação no Mundo Antigo 49

Libertado e conhecedor do mundo, o prisioneiro regressaria à caverna, ficaria


desnorteado pela escuridão, contaria aos outros o que viu e tentaria libertá-los.
Que lhe aconteceria nesse retorno? Os demais prisioneiros zombariam dele, não
acreditariam em suas palavras e, se não conseguissem silenciá-lo com suas
caçoadas, tentariam fazê-lo espancando-o e, se mesmo assim, ele teimasse em
afirmar o que viu e os convidasse a sair da caverna, certamente acabariam por
matá-lo. Mas, quem sabe, alguns poderiam ouvi-lo e, contra a vontade dos de-
mais, também decidissem sair da caverna rumo à realidade.
O que é a caverna? O mundo em que vivemos. Que são as sombras das esta-
tuetas? As coisas materiais e sensoriais que percebemos. Quem é o prisioneiro
que se liberta e sai da caverna? O filósofo. O que é a luz exterior do sol? A luz
da verdade. O que é o mundo exterior? O mundo das idéias verdadeiras ou da
verdadeira realidade. Qual o instrumento que liberta o filósofo e com o qual ele
deseja libertar os outros prisioneiros? A dialética. O que é a visão do mundo real
iluminado? A Filosofia. Por que os prisioneiros zombam, espancam e matam o
filósofo (Platão está se referindo à condenação de Sócrates à morte pela assem-
bléia ateniense)? Porque imaginam que o mundo sensível é o mundo real e o
único verdadeiro (CHAUI, 1997, p. 40).
––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
O mito leva-nos, pois, a imaginar prisioneiros acorrentados
num mundo subterrâneo, em que eles apenas podem observar os
reflexos de tudo aquilo que uma fogueira lançava na parede da
caverna e acreditar que as imagens projetadas na caverna são ver-
dadeiras. Imaginemos a seguinte situação: um dos prisioneiros, o
mais curioso, liberta-se das correntes e começa a escalar as pare-
des. Ele está ofuscado pela luz que a verdadeira realidade produz
à medida que ele se aproxima dela. Por fim, alcança a verdadeira
realidade e, com ela, a felicidade por estar contemplando o mun-
do verdadeiro.
Até aqui, é possível observar que a alegoria descreve o pro-
cesso da formação individual. O prisioneiro, sozinho, rompe as
correntes, escala as paredes e chega ao mundo verdadeiro, que é,
também, o mundo da felicidade. Os preconceitos e as falsas cren-
ças (as correntes) são rompidos pela dialética que conduz o indiví-
duo do ilusório para o verdadeiro. O prisioneiro curioso é o sábio,
e este, ao possuir conhecimento, alcança a vida virtuosa, que o
leva à felicidade.
Do que foi dito podemos concordar com Sócrates que so-
mente o sábio é feliz? Até então, Platão acompanha a versão so-
crática de educação, segundo a qual a felicidade – meta suprema

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50 © Fundamentos Históricos e Filosóficos da Educação

da vida humana – só é alcançada pelo saber, e temos de concluir


que o saber torna o sábio feliz.
No entanto, Platão dá um passo a mais que Sócrates no que
diz respeito à formação, envolvendo, com isso, razões políticas e
sociais. Se, para seu mestre, o importante era a bem-aventurança
individual e, sabendo que o acesso à felicidade é interditado para
os ignorantes, o ideal socrático mantém-se no nível subjetivo.
Partindo da formação subjetiva, descrita pelo caminho as-
cendente do prisioneiro curioso, Platão tenta mostrar que o sábio
pode desempenhar um papel extraordinário na sociedade. Ele nos
conta que o prisioneiro, apesar de estar no mundo ensolarado das
ideias, sentindo seu ser envolvido em plena felicidade, resolve re-
tornar à caverna para contar aos outros prisioneiros que há outra
realidade, mais verdadeira. É nesse momento que a responsabili-
dade social do sábio entra em jogo. Obviamente, ele corre risco de
ser morto ao tentar salvar os ignorantes de suas cavernas, mas só a
ele cabe o papel de instruir os outros e mostrar que é possível uma
sociedade perfeita a partir da formação do homem.
Platão tenta conjugar a visão subjetiva da educação, que
contemplava a formação integral do indivíduo, contemplada pela
versão socrática de formação, com a visão de uma educação para
o bem comum do Estado, sem, contudo, lesar a formação indivi-
dual do sujeito.
Vamos observar como isso é possível?
Inicialmente, Platão propõe uma educação igual para todos
– pelo menos em seu ponto de partida –, incluindo as mulheres.
Essa educação contempla dois aspectos: a ginástica, para o corpo,
e a música, para a alma. A música é responsável pelos estudos in-
telectuais: poesia, literatura, matemática etc.
Desse modo, de acordo com o desempenho de cada um, o
posterior desenvolvimento da educação contempla três modali-
dades, correspondentes às três classes sócias: governantes, guar-
© U1 - A Educação no Mundo Antigo 51

diões e trabalhadores. Cada um deve ser instruído segundo a virtu-


de da justiça, pois é esta que ampara a divisão social do trabalho e
determina as modalidades educativas de cada classe. Assim, quem
é destinado a trabalhar e a produzir bens materiais deve aprender
saberes técnicos; aos guardiões, era reservada, segundo o mentor
de A república, uma formação militar forjada na coragem e na dis-
ciplina; e os destinados ao poder estatal, ou seja, os governantes,
devem, após um longo estudo teórico em matemática, literatura e
música, aprender a dialética, que dará abertura à visão panorâmi-
ca das verdades eternas. Então, somente os governantes estarão
aptos a exercer o poder administrativo.
Para compreender um pouco mais da significante proposta
pedagógica de Platão, vejamos um artigo de Renato José de Olivei-
ra, intitulado Platão e a Filosofia da Educação.

Platão e a Filosofia da Educação–––––––––––––––––––––––––


O pensamento filosófico de Platão se desenvolve em consonância com sua visão
educativa, a qual é apresentada principalmente nos diálogos A República e As
leis. Tendo por objetivo a fundação mental de um Estado perfeito, Platão propõe,
em A República, que se dê atenção especial à formação dos "guardiães", cuja
função social é a defesa da cidade.
O longo processo educativo que envolve a formação dos guardiães tem como
pilares duas artes bastante valorizadas pelos gregos: a música (que engloba
também a poesia) e a ginástica. Discorrendo sobre a educação musical, Platão
defende a instituição de uma censura com relação aos poemas épicos e trágicos
que fazem menção aos atos divinos de natureza "não digna", como por exemplo
a vingança. Partindo do princípio de que a divindade é boa em sua essência, o
filósofo ateniense julga ser danoso à formação moral dos guardiães o conheci-
mento desses relatos, que considera mentirosos. Quanto à educação do corpo,
ele diz ser preciso tomar por modelo a ginástica militar espartana, que tem por
base exercícios físicos e prescreve o rígido controle sobre os prazeres. Assim,
para Platão, as refeições deveriam ser frugais e sempre realizadas coletivamen-
te, de modo a reprimir os excessos motivados pela gula.
A grande articulação entre esses dois tipos de educação constitui a espinha dor-
sal da formação dos futuros guardiães. Mas como escolher, dentre eles, o mais
apto para governar a cidade? Platão entende ser necessário submeter os edu-
candos a duras provas de habilitação, as quais incluem avaliação da faculdade
mnemônica, da resistência à dor e à sedução e da capacidade demonstrada na
execução de trabalhos árduos. Os aprovados nesses exames devem prosseguir
no processo educativo, estudando matemáticas e, posteriormente, dialética. Aos
reprovados cabe trabalhar para a comunidade, prestando os mais diversos ser-
viços: comércio, manufatura de bens de consumo etc.

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A formação dos guardiães e, em particular, do governante, exige, posteriormente,


dedicação e esforços ainda maiores por parte dos educandos. Assim como nossos
olhos não conseguem contemplar o sol, fonte de toda luz do mundo visível, o Bem,
idéia suprema que governa o mundo supra-sensível, não pode ser contemplado se
os olhos da alma não forem cuidadosamente preparados para esse fim. A situação,
ilustrada pela bem conhecida alegoria da caverna, prevê que o homem possa se
libertar dos conhecimentos falsos, enganosos, gerados pela opinião (doxa), que
são apenas sombras ou simulacros dos conhecimentos verdadeiros. Tal ruptura,
porém, não é imediata, pois aquele que foi acostumado a viver nas sombras, quan-
do olha pela primeira vez o sol, tem sua vista ofuscada e se recusa a continuar
a observá-lo. O mesmo se dá com respeito às verdades e à idéia do soberano
Bem. Por essa razão, os estudos a serem feitos posteriormente (matemáticas e
dialética) devem prosseguir por muitos anos a fim de revelar quem possui alma
de filósofo. Segundo assinala Werner Jaeger (1995, p. 841-842), para Platão o
verdadeiro espírito filosófico é aquele que não se deixa perturbar pela variedade
das opiniões, tendo como meta alcançar a unidade na diversidade, isto é, "ver a
imagem fundamental, universal e imutável das coisas: a idéia".
A educação que revela, para o conjunto dos cidadãos, o melhor governante é
uma ascese espiritual: a alma que atinge o topo do conhecimento se acha em
plenas condições de governar, mas não deve se julgar superior aos demais ho-
mens e mulheres. Ao contrário, deve retornar ao mundo de sombras em que eles
vivem e, graças ao seu olhar mais acurado, ajudá-los a ver com maior nitidez no
escuro. O rei-filósofo não tem, portanto, como ideal de felicidade chegar ao poder
para ser honrado por sua sabedoria ou para adquirir prestígio e riqueza; ele não
cultiva qualquer tipo de orgulho e é feliz por ser o educador maior de todos, aque-
le que governa para fazer de seus concidadãos homens e mulheres melhores.
No diálogo As Leis, provavelmente o último escrito por Platão, o Estado ideal
é fundado na ilha de Creta, sendo também uma construção mental, e tem por
nome "Magnésia". Se na República o filósofo ateniense entendia que a palavra
do rei-filósofo poderia ser considerada justa e a melhor expressão das leis, em
"Magnésia" ele vê as leis escritas como algo de suma importância, sobretudo
devido ao conteúdo educativo que possuem: o espírito de uma lei deve envolver
a alma do cidadão como verdadeiro ethos, isto é, deve fazer com que o respeito
seja dado em função do papel que a lei cumpre no aprimoramento da coesão
social e não em função do temor com relação às punições que prescreve.
Para Platão, toda lei tem um fundamento transcendente, que é a própria divin-
dade. Deus é a "norma das normas, medida das medidas" (ibid, p. 1341). Na
República, o princípio universal supremo é a idéia do Bem, que agora, nas Leis,
acaba por coincidir com a própria mente divina. A divindade se apresenta como o
legislador dos legisladores, mantendo com o homem uma relação eminentemen-
te pedagógica: assim como toda boa fonte sempre faz jorrar águas saudáveis,
Deus sempre prescreve o que é justo; Ele é, portanto, o "pedagogo universal"
(ibid, p. 1343).
A partir daí, Platão passa a dar mais atenção à extensão dos processos educati-
vos, ou seja, já não interessa tanto quem a educação irá apontar como apto para
governar, mas quantos serão bem formados para o exercício da vida cívica. As-
sim, Platão defende que a educação tenha caráter público e que seja ministrada
em prédios construídos especialmente para esse fim, onde meninos e meninas
recebam igual instrução. Esta, por sua vez, precisa ser iniciada o mais cedo
possível, sendo sugerida às crianças pequenas (na faixa etária de três a seis
anos) a prática de diferentes jogos, inventados por elas mesmas ou não. Para
© U1 - A Educação no Mundo Antigo 53

as crianças mais velhas, Platão recomenda que pratiquem sempre os mesmos


jogos com as mesmas regras, pois quem se habitua a ser regido por princípios
bons não terá, no futuro, necessidade de alterar as leis e convenções aprovadas
pela comunidade.
Na medida em que a educação assume papel de destaque na formação dos
cidadãos, torna-se crucial supervisioná-la. Tal tarefa cabe a um ministro da edu-
cação altamente qualificado, o qual deve ter no mínimo cinqüenta anos e ser
indicado - por votação secreta, realizada no templo de Apolo - entre os mais
competentes funcionários da administração pública, mas o escolhido não pode
ser membro do Conselho Noturno.
O governo proposto por Platão em As Leis é um sistema que combina elemen-
tos da aristocracia e da democracia. A administração do Estado é exercida por
diferentes escalões de funcionários, acima dos quais figura o Conselho Noturno,
composto pelos servidores mais idosos e notáveis. Este Conselho não é eleito
pelos cidadãos, mas seus membros podem ter sido escolhidos, por via eletiva,
para ocupar os cargos públicos que antes exerciam. As principais funções do
Conselho Noturno são:
Desenvolver estudos filosóficos visando a mais completa compreensão das leis
que regem o Estado.
Fazer intercâmbio com filósofos de outras cidades a fim de aprimorar as leis
existentes em "Magnésia".
Zelar para que os princípios filosóficos e legais respeitados pelos conselheiros no
exercício de suas funções se difundam para o conjunto dos cidadãos.
Segundo Jaeger (op. cit.), embora surpreendente em alguns aspectos, a propos-
ta político-pedagógica de Platão não se modifica substancialmente em relação
a que fora apresentada na República porque os conselheiros cumprem papéis
análogos aos dos guardiães: são os supremos defensores e os principais difuso-
res da virtude (OLIVEIRA, 2010).
––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
Antes de passarmos para o estudo da educação segundo o
pensamento do grande Aristóteles, vamos analisar as propostas
de Isócrates?
Isócrates
Apesar da perfeita elaboração conceitual, a Paideia platôni-
ca não encontra aplicação na prática, permanecendo, assim, no
leito da utopia. O modelo mais difundido e explorado nessa época
foi a obra de Isócrates. Sua proposta mantinha-se mais próxima
das necessidades da pólis do que a Paideia platônica, revelando-se
mais prática e utilitária.
Isócrates nasceu em 436 a.C. Contemporâneo de Platão, estu-
dou com o célebre sofista Górgias e fundou, em 393 a.C., sua própria

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54 © Fundamentos Históricos e Filosóficos da Educação

escola, quase na mesma época em que Platão fundou a Academia.


Na escola isocrática, o ensino girava em torno da retórica; era o cen-
tro de verdadeira compreensão do significado da palavra. A esse res-
peito, Cambi (1999, p. 91) afirma:
A Paidéia isocrática tem seu centro na palavra, é uma Paidéia do Lo-
gos como "palavra criadora da cultura", colocando o sujeito em posi-
ção de autonomia, mas sempre como interlocutor da cidade, na qual
e pela qual desenvolve uma subjetividade mais rica de humanidade.

Isócrates julga inaplicável o ideal platônico pela teoria das


ideias, cujo teor permanecia inacessível à maioria. Ao contrário,
dirige sua mensagem a todos e aposta na formação moral do
povo, com base em quatro virtudes: prudência, força, temperan-
ça e justiça. Essas virtudes, desenvolvidas pelo sujeito ao longo de
sua formação, têm como finalidade garantir a paz e a convivência
harmoniosa na sociedade. E, nisso consiste o papel da educação,
conforme entende Isócrates.

Figura 3 Paideia isocrática: a prudência, a força, a temperança e a justiça como bases do


desenvolvimento do homem.

O programa curricular do modelo isocrático foi basicamente


centrado no ensino literário e oratório, tentando formar um homem
que realmente mantivesse e expressasse o verdadeiro significado
das palavras, podendo assim realizar um discurso simples, claro e
acessível para todos. Na base disso, está a crítica de Isócrates dirigi-
da aos sofistas, por estes ensinarem uma técnica de falar que visava
não à verdade do discurso, mas, sobretudo, à vantagem pessoal.
© U1 - A Educação no Mundo Antigo 55

O processo educativo, segundo Isócrates, deve contemplar


três aspectos fundamentais: talento, prática e estudo. O talento
diz respeito à predisposição natural do sujeito para aprender, para
ser naturalmente apto a compreender a base da prática (segundo
aspecto) e para o estudo teórico (terceiro aspecto). O conteúdo
programático proposto por Isócrates tende a ser alheio à visão ge-
ral da educação na Grécia Antiga, a qual visa à formação do corpo
mediante a ginástica e a formação da alma por meio de estudos
de música, poesia, gramática, retórica, matemática e filosofia. Um
notável avanço no sistema curricular isocrático foi a inclusão da
história, compreendida como estudo de acontecimentos passados
que fornecem a base dos porvindos. 
Por fim, o modelo isocrático serviu como fonte rica de ins-
piração, sobremaneira para os pensadores da época do Renasci-
mento.
A partir de agora, você entrará em contato com as propostas
pedagógicas de Aristóteles. Acompanhe!
Aristóteles
Assimn como seu mestre Platão, Aristóteles considerava o
processo de formação humana nos aspectos:
• individual – segundo a sua forma humana e seus dons
naturais, uma vez que o estagirita defende a posição de
uma desigualdade natural entre os homens;
• e social – uma formação para o cidadão, já que este é
uma parte integrante da sociedade.
Todavia, o modelo de Aristóteles apresenta, diferentemen-
te do de Platão, um caráter mais pragmático e realista. Em sua
obra História da Pedagogia, Cambi (1999, p. 92) reflete essa dife-
rença, que, no entanto, não chega a ser uma proposta alternativa:
"A Paidéia aristotélica é um pouco a correção empírica do grande e
ousado modelo platônico, mas de maneira nenhuma uma refuta-
ção e um modelo alternativo".

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56 © Fundamentos Históricos e Filosóficos da Educação

Como em sua teoria filosófica, Aristóteles é bastante realis-


ta em sua proposta pedagógica. Basta lembrar como o mármore
se transforma em bela estátua para melhor compreender essa
versão realista: a pedra de mármore tem toda a potencialidade
de virar uma estátua, assim como o sujeito humano oculta em
si tantas possibilidades. No entanto, o processo de formação só
se realiza pelo trabalho árduo do escultor, no caso da estátua, e
pelo estudo, no caso do sujeito. Assim como o escultor retira da
pedra, com seu martelo e cinzel, o inessencial para que esta se
torne uma bela obra de arte, o sujeito humano, pela educação,
alcança excelência.
Na sua versão social, a educação aristotélica deve fornecer
a base sólida para a formação das virtudes sociais. A virtude, no
entanto, é algo que deve ser aprendido, e a responsabilidade des-
sa aprendizagem cabe à educação. Assim, a pedagogia vem à tona
como meio de promover tais virtudes no indivíduo para que este
esteja em sintonia com os outros e comungue com o bem comum
do Estado. Cabe, pois, ao Estado promover uma educação compa-
tível com seus fins. Se esse for o caso, então, a educação deve ser
pública, sustentada e financiada pelo Estado.
Nessa versão, a educação é, para Aristóteles (1973), um veí-
culo de ideias e de valores estatais e, por conseguinte, deve acom-
panhar as variações que ocorrem nas formas de governo, devendo
apresentar um mecanismo capaz de moldar os indivíduos confor-
me o projeto político vigente. É o que Aristóteles (1973, cap. I).
Salienta em sua política:
Que o legislador deve ocupar-se antes de tudo da educação dos
jovens, ninguém o contestará, pois nos Estados onde ela é negli-
genciada, as constituições sofrem prejuízo. Ora, a educação polí-
tica deve ser adaptada a cada instituição que em geral a protege
e funda-a desde o começo; assim o caráter democrático é o mais
seguro fundamento da democracia, e o oligárquico, da oligarquia.

Percebe-se, no fragmento citado, que a educação serve


como mecanismo fundamental de formação de cidadãos, e, assim,
há de ser igual para todos: "Como o objetivo do Estado é um só,
© U1 - A Educação no Mundo Antigo 57

está claro que a educação deve ser uma só". (ARISTÓTELES, 1973,
cap. I). Como Platão em A república, Aristóteles, na sua Política,
concorda que cabe à educação o papel fundamental de garantir a
saúde do Estado. Dessa maneira, a formação individual do sujeito
deve ser norteada pela sua formação social à luz do projeto políti-
co do Estado.
Neste tópico, você pôde analisar as propostas pedagógicas
gregas do período clássico. No tópico a seguir, conhecerá as mu-
danças que ocorreram na Grécia na época do helenismo. Este pe-
ríodo é marcado pelas conquistas de Alexandre, o Grande, e pelo
sincretismo cultural, que criava uma cultura nova, à que chama-
mos helenismo. Acompanhe!

7. EDUCAÇÃO NA ÉPOCA DO HELENISMO


O protagonista dessa época é Alexandre, o Grande, homem
que transformou, profundamente, o mundo antigo. Em conse-
quência da sua política, a cidade-Estado perdeu sua atualidade.
Em virtude de sua política as fronteiras do novo império
avançaram implacavelmente. O inevitável sincretismo entre as
culturas e tradições dos diferentes povos, exigia um novo mode-
lo de homem, bem diferente do homem da pólis grega, o homem
cosmopolita. O desenvolvimento da infraestrutura e o surgimen-
to de novas cidades-centro, aspectos que descrevem o caráter de
cada grande império, mudam, completamente, a vida das pes-
soas.
Tais mudanças políticas e sociais engendram novos desafios
para a educação. No âmbito dessa visão cosmopolita, a educação
visa o desenvolvimento pessoal. Norteada pelos valores cosmo-
politas, a educação devia preparar o indivíduo para uma atuação
mais vasta e abrangente, que o fizesse ultrapassar as fronteiras da
sua cidade natal e atuar como cidadão do mundo, como verdadei-
ro cosmopolita.

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58 © Fundamentos Históricos e Filosóficos da Educação

Fundada por Alexandre, no ano 332 a.C., Alexandria tornou-


-se o centro principal do novo império, emergindo como o berço
da civilização alexandrina. Nela, surgem novas escolas cujo papel
fundamental é a transmissão desse novo ideal. Nesta cidade sur-
giu a maior instituição educativa do mundo antigo – o Mouseion,
que possuia o maior acervo de manuscritos (mais de 700.000) dos
maiores pensadores e cientistas até então conhecidos. O Mouseion
foi ambiente de encontros e de convívio entre mestres, sábios e dis-
cípulos, onde estes moravam e trocavam saberes e conhecimentos.

Figura 4 Mouseion Alexandrino: lugar de encontros e de convívio entre mestres e discípulos.

O enorme acervo da biblioteca possibilitava intensa intera-


ção com a literatura e suas diversas ramificações: filosofia, geo-
metria, gramática, geografia, história etc. Esse fato possibilitava o
novo ideal – a formação completa do homem.
É possível notar, claramente, a diferença entre o modelo
clássico e o modelo helenístico de educação a partir das mudanças
ocorridas no conceito de Paideia. Sócrates a entendia, sobretudo,
como caminho para a formação do homem como sujeito e cidadão,
a Paideia à base da herança clássica não visa mostrar o caminho
(pois este já está traçado pelos antigos), mas, antes, à apropriação
dessa herança cultural. E, visto que o modelo da pólis grega não
existe mais, impõe-se, portanto, a necessidade de reestruturação
dessa Paideia. Agora, a excelência da educação contempla a for-
© U1 - A Educação no Mundo Antigo 59

mação intelectual do sujeito. A nova Paideia denota, como ideal


de formação, a erudição. O homem alexandrino é, pois, erudito.
Aos poucos, a cultura sincrética que caracterizava a época
helenística vai cedendo lugar à cultura bélica do poderoso Império
Romano; a anexação da Grécia pelo Império Romano, em 146 a.C.,
constitui um marco importante dessa transição. No tópico a seguir,
dedicaremos nossa atenção ao papel da educação na conservação
desse poderoso império.

8. EDUCAÇÃO ROMANA
A educação romana tem por objetivo a formação de virtudes
cívicas. Trata-se de uma educação voltada às necessidades do Es-
tado, baseanda, por muito tempo, nos mandamentos sagrados das
"Doze Tábuas". Ela dispensava a formação intelectual do indivíduo.
O ideal promovido por essas tábuas contemplava um código civil
inspirado na fidelidade à tradição, à dignidade, à firmeza, à cora-
gem e à piedade. A respeito dessa questão, em seu livro História
da educação, Thomas Ramson Giles (1989, p. 31) afirma: "O ideal
romano é prático, pois orienta-se para a lei e para a ordem, o dever
do Estado, às tradições ancestrais e à dignidade auto suficiente".
Essa citação mostra, claramente, que o ideal da sabedoria e
da virtude que a educação romana contemplava, na consiste em
aprender as artes que são necessárias para o Estado. Nesse caso,
estamos diante de uma educação voltada para a sociedade e sua
conservação. O fato de a escrita ter sido utilizada, sobretudo, para
copiar leis, tratados e orações, e não desempenhar o papel de vin-
cular novas ideias, como ocorria no período clássico, mostra o ca-
ráter conservativo da sociedade romana.
O papel fundamental dessa formação cívica cabia à família e
se centrava na figura do pai e no seu poder absoluto. Era na família
que as crianças aprendiam as virtudes morais, a reta conduta e as
obrigações sociais. Essa era a razão por que, naquele tempo, as

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60 © Fundamentos Históricos e Filosóficos da Educação

escolas tinham, no processo pedagógico, menor importância que


a família.
A formação, basicamente moral e cívica, que visava à conser-
vação da sociedade romana, vai-se alterando aos poucos em vir-
tude da política conquistadora do Império Romano. À medida que
Roma conquistava outros povos, era conquistada e transformada
por dentro pela cultura das terras dominadas.
Quando a cultura grega começou a penetrar e a romper com
os valores da sociedade arcaica romana, sua influência espalhou-
-se com a mesma velocidade das conquistas romanas. Em conse-
quência disso, a pedagogia tradicional também mudou, rompen-
do, aos poucos, com os costumes. Assim, no âmbito pedagógico, a
Paideia grega tornou-se predominante.
Foi Cícero quem possibilitou essa transição da cultura grega
para o Império Romano. A partir daí, o ideal da formação humana
começou a protagonizar a figura do orador, aquele que domina a
palavra, segundo o modelo isocrático. Os mestres cultos vindos de
fora, transmitiam novas ideias e novos conhecimentos aos roma-
nos; desse modo, surgiram escolas eruditas e iniciou-se a tradução
de literatura grega e os estudos de retórica, gramática, filosofia,
língua grega e arte –, em suma, tudo o que era indispensável para
uma educação erudita.
Assim, o romano erudito já não está tão fielmente ligado à tra-
dição, dispensando a necessidade da autodisciplina e das virtudes mo-
rais que garantiam a conservação do Estado. Giles (1989, p. 35) assim
descreve esse surto de erudição: "Mesmo as mulheres contratavam
tutores para aprenderem o grego. Fazia-se de tudo para adquirir ma-
nuscritos e escravos mestres. Importavam-se bibliotecas inteiras".
De qualquer maneira, pode-se dizer que o poderoso Império
Romano foi, aos poucos, profundamente alterado pela gloriosa e
ainda mais poderosa cultura grega. Ao longo dos séculos poste-
riores, qualquer tentativa de se romper com o modelo grego de
educação resultava, necessariamente, na sua retomada.
© U1 - A Educação no Mundo Antigo 61

Antes de passarmos ao estudo da Unidade 2, é importante


que você verifique se assimilou os pontos principais desta unida-
de. Nesse sentido, não deixe de fazer os exercícios propostos no
Tópico 9. Vamos lá?

9. QUESTÕES AUTOAVALIATIVAS
Sugerimos que você procure responder, discutir e comentar
as questões a seguir, que tratam da temática desenvolvida nes-
ta unidade, ou seja, das estruturas pedagógicas do mundo antigo,
bem como das propostas dos principais filósofos sobre a Paideia
dos cidadãos das civilizações antigas.
A autoavaliação pode ser uma ferramenta importante para
você testar o seu desempenho. Se você encontrar dificuldades em
responder a essas questões, procure revisar os conteúdos estuda-
dos para sanar as suas dúvidas. Este é o momento ideal para que
você faça uma revisão desta unidade. Lembre-se de que, na Edu-
cação a Distância, a construção do conhecimento ocorre de forma
cooperativa e colaborativa; compartilhe, portanto, as suas desco-
bertas com os seus colegas.
Confira, a seguir, as questões propostas para verificar o seu
desempenho no estudo desta unidade:
1) Leia as afirmações e assinale a alternativa correta:
I – A pedagogia de Platão buscava harmonizar a formação individual e so-
cial.
II – A pedagogia de Platão, assim como a socrática, valorizava apenas a for-
mação subjetiva.
III – A pedagogia socrática valoriza, unicamente, a formação subjetiva.
Com base nesses dados, podemos afirmar que:
a) As alternativas I e II estão corretas.
b) As alternativas I e III estão corretas.
c) Somente a alternativa I está correta.
d) Somente a alternativa II está correta.
e) Todas as alternativas estão corretas.

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62 © Fundamentos Históricos e Filosóficos da Educação

2) Leia a citação a seguir:


O ideal é prático, pois orienta-se para a lei e para a ordem, o de-
ver do Estado, às tradições ancestrais e à dignidade auto suficiente.
Mesmo as mulheres contratavam tutores para aprenderem o gre-
go. Fazia-se de tudo para adquirir manuscritos e escravos mestres.
Importavam-se bibliotecas inteiras (GILES, 1987, p. 31).
O trecho anterior diz respeito à educação:
a) Ateniense.
b) Espartana.
c) Helênica.
d) Sofista.
e) Romana.
3) Sobre a educação em Atenas, no período clássico da Grécia Antiga, é correto
afirmar que:
a) O Estado ateniense considerava as crianças e os jovens como sua pro-
priedade, devendo ser moldados conforme seus fins.
b) Seu modelo de educação mostra-nos uma formação unilateral, que des-
carta o desenvolvimento subjetivo e pessoal do indivíduo.
c) O indivíduo não era concebido na sua dimensão subjetiva, e, portanto, a
sua formação tende, sobremaneira, a beneficiar o Estado.
d) A educação ateniense revelava-se como um ideal mais humano e liberal,
ou seja, mais voltado ao aperfeiçoamento pessoal e subjetivo.
e) O Estado atribuía à educação uma missão fundamental para a sua con-
servação, na medida em que a educação deveria formar cidadãos com-
patíveis com o projeto político de Atenas.
4) A epopeia homérica, que origina a religião dos antigos gregos, parece não
ter analogia a outra religião, pois não se baseia numa relação de adoração,
como em qualquer outra, mas, antes de tudo, de rivalidade. Aos deuses
gregos, são atribuídos traços humanos, ou seja, antropomórficos. Eles eram
bons ou maus, justos ou injustos, nobres e covardes; enfim, assim como são
os humanos. A única diferença que podemos ressaltar é o fato de os deuses
serem imortais. No entanto, os homens também poderiam sê-lo; bastava
agirem e comportarem-se como heróis. Da religião homérica, assim enten-
dida, originou-se o ostracismo, que estimulava a concorrência e a disputa.
Com base nesses dados, podemos afirmar que:
a) Os deuses sentiam-se melhores que os homens.
b) Os homens queriam ser melhores que os deuses.
c) Essa foi a primeira versão da Paideia grega.
d) Essa foi a versão mais pura da educação grega.
e) Essa foi a versão mais fraca da educação grega.
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Gabarito
Depois de responder às questões autoavaliativas, é impor-
tante que você confira o seu desempenho, a fim de que possa sa-
ber se é preciso retomar o estudo desta unidade. Assim, confira, a
seguir, as respostas corretas para as questões autoavaliativas pro-
postas anteriormente:
1) b.

2) e.

3) d.

4) c.

10. CONSIDERAÇÕES
Nesta unidade, você conheceu as primeiras concepções
educativas da sociedade organizada, que se inicia no Antigo Egito.
Ainda, pôde analisar as propostas educativas que mais se destaca-
ram na Grécia durante o período clássico, além de compreender
os principais objetivos da educação romana. Para isso, conheceu
alguns aspectos históricos e as principais propostas pedagógicas
daqueles filósofos que mais se destacaram no período proposto
para este estudo.
Devido à grande influência dos pensadores gregos (sofistas,
Sócrates, Platão, Isócrates e Aristóteles) no desenvolvimento cultu-
ral do Ocidente, dedicamos maior atenção aos aspectos históricos
e filosóficos da educação na Grécia Antiga, mesmo porque a cul-
tura grega invadiu fortemente o Império Romano e todo Ocidente
cristão teve, consequentemente, suas raízes culturais na Grécia
Antiga. Na Unidade 2, você terá a oportunidade de acompanhar
como essa influência grega continuou na Idade Média, atravessan-
do o Império Romano. Esperamos que os objetivos propostos te-
nham sido alcançados. Bom estudo!

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11. E-REFERÊNCIAS

Lista de figuras
Figura 1 Papiro. Disponível em: <http://www.legambientearcipelagotoscano.it/
biodiversita/flora/habitat/naturalizzate/cyperus%20papyrus%20papiro.jpg.JPG>.
Acesso: 04 jun. 2008.
Figura 2 Grécia Antiga. Disponível em: <http://www.resortvacationstogo.com/images/
maps/cc/111.gif>. Acesso em: 30 jun. 2008.
Figura 3 Paideia isocrática: a prudência, a força, a temperança e a justiça como bases
do desenvolvimento do homem. Disponível em: <http://www.educ.fc.ul.pt/docentes/
opombo/hfe/momentos/escola/isocrates/images/vaso_pintura.gif>. Acesso em: 30 jun.
2008.
Figura 4 Mouseion Alexandrino. Disponível em: <http://lemurianmouseion.files.
wordpress.com/2007/04/buildalex.jpg>. Acesso: 01 jul. 2008.

Sites pesquisados
OLIVEIRA, J. R. Platão e a filosofia da educação. Disponível em: <http://www.cfh.ufsc.
br/~wfil/platao.htm>. Acesso em: 27 set. 2010.

12. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS


ARISTÓTELES. Política: os pensadores. São Paulo: Abril Cultural, 1973.
CAMBI, F. História da pedagogia. Tradução de Álvaro Lorencini. São Paulo: Unesp, 1999.
CHAUI, M. Convite à filosofia. São Paulo: Ática, 1997.
GILES, T. R. História da educação. São Paulo: EPU, 1987.
MANACORDA, M. A. História da educação: da Antiguidade aos nossos dias. Tradução de
Gaetano lo Monaco. São Paulo: Cortez, 1989.
MARROU, H-I. História da educação na Antiguidade. Tradução de Mario Leonidas
Casanova. São Paulo: EPU, 1975.
PILETTI, C. Filosofia e história da educação. 9. ed. São Paulo: Ática, 1991.

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