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Entrevista especial com

Desmond Tutu
C
harlayne Hunter-Gault entrevistou Desmond
Tutu pela primeira vez em Detroit, em 1986, oca-
sião em que ele percorria o mundo para falar con-
tra o apartheid. “Ele ainda não sabia as consequências
de seu discurso”, relembra ela. “Ele sofria ameaças, com
certeza, mas o vicioso regime do apartheid jamais ousou
fazer-lhe mal.” Naquele ano, ele se tornou o primeiro ar-
cebispo anglicano negro da Cidade do Cabo, África do Sul.
Desde então, Hunter-Gault entrevistou dezenas de ve-
zes o Arqui, como ela o chama, sobre muitos assuntos,
entre eles, a primeira eleição mutirracial, em 1994 – que
significou “ver a cor, para um cego”, ele declarou [naquele
ano, Nelson Mandela foi eleito presidente]; a supervisão
da Comissão Africana pela Verdade e pela Reconciliação,
que promovia audiências públicas com reivindicações de
todos os tipos; e o trabalho pelo fim das explosões de vio-
lência, nos anos que se seguiram ao fim do apartheid.
Durante uma entrevista no escritório de Tutu, na Cida-
de do Cabo, seus comentários são acompanhados por um
sorriso infantil – hábito que “muitas vezes deixa as pessoas
sem ação”, conta Hunter-Gault e enraivece os partidos po-
líticos nacionais. Ele se recusou a votar na recente eleição,
esperando, com isso, ter enviado uma mensagem.
Ele vê na figura de Barack Obama, o presidente dos EUA,
uma nova esperança para o mundo. Ele sorri e seus olhos
se enchem de lágrimas ao prever que Obama significará,
“Se algum dia para os Estados Unidos, uma nova liderança moral.
A jornalista Hunter-Gault, vencedora de um prêmio
Emmy, foi uma das duas primeiras estudantes afrodes-
quisermos ter a cendentes a frequentar a Universidade da Georgia, em
1961. Ela passou 20 anos no Public Broadcasting Servi-
ce (Serviço Público de Difusão), uma rede norte-ameri-
esperança de paz, cana de televisão, e se tornou a correspondente-chefe
nacional do News Hour with Jim Lehrer [A Hora das

é necessário que Notícias com Jim Lehrer, em tradução livre]. Mudou-se


para Johannesburgo em 1998, e é atualmente corres-
pondente da National Public Radio [Rede Nacional de

antes acabemos Rádio, em tradução livre] para a África.


Tutu, que ganhou o Prêmio Nobel da Paz em 1984,
discursará no Simpósio pela Paz Mundial do Rotary em

com a pobreza” 18 de junho, evento anterior à Convenção do RI em Bir-


mingham, na Inglaterra.

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The Rotarian: O número de vimbi contra o governo angolano, que nós somos uma grande famí-
guerras e mortes provoca- por ser aliado da União Soviética. lia. Enfrentaremos problemas até
das por conflitos armados que aprendamos isso.
caiu pela metade nos últi- A Guerra Fria incitou conflitos
mos 15 anos. A paz está ven- em muitos lugares. De que for- Os rotarianos trabalham
cendo? ma o colapso da União Soviéti- em projetos sustentáveis
 Desmond Tutu: Eu sempre ca afetou a África do Sul? para o desenvolvimento do
acreditei que isso aconteceria,  Imaginávamos que, quando a mundo. Você acha que isto
e é encorajador ver essa estatís- Guerra Fria terminasse, tudo esta- poderia ser uma forma de
tica, mas que diferença faz isso ria bem, que o mundo seria maravi- gerar o sentido de família?
para alguém na República Demo- lhoso. Mas as coisas não se passa-  É verdade. Lembra-se do que
crática do Congo [um país com ram assim, pois ficamos subitamen- Martin Luther King falou? “Te-
histórico de guerras civis]? Que te desorientados. A Guerra Fria trou- mos que aprender a conviver
diferença faz isso para alguém xe problemas às pessoas. Nós nos como irmãos.” Agora acrescen-
em Darfur [região de combates pautávamos de acordo com os nos- taríamos: e como irmãs. Pois se
e genocídio no Sudão], em Mi- sos oponentes: sou anticomunista, não o fizermos, morreremos
anmar [antiga Birmânia, no su- ou sou favorável seja lá ao que for – juntos; pereceremos todos,
deste asiático, governada des- e você, quem é? Esse processo fun- como tolos. Podemos pensar
de 1988 por uma junta militar cionou cruelmente na extinta Iugos- que estes cidadãos são sonhado-
acusada de violação de direitos lávia. As pessoas não podiam supor- res, mas já vimos o que sucede
humanos] ou no Zimbábue [o país tar a diversidade. Quando não pos- àqueles que querem se compor-
enfrenta crise humanitária e eco- suímos paradigmas, recuamos e só tar como bonzinhos. Sabe quan-
nômica sem precedentes]? Não podemos aceitar o que se parece co- tos milhões de pessoas sobrevi-
sei, não posso me tornar um cíni- nosco, fala como nós, pensa como vem com menos de um dólar
co. É maravilhoso, sim. Isto sig- nós – você sabe, “quem não está co- por dia? E pensa que vencere-
nifica que os defensores da paz es- migo, está contra mim”. No funda- mos a guerra contra o terror?
tão fazendo um grande progresso mentalismo de todas as espécies, Não venceremos. Não vencere-
– um importante progresso. não se apreciam perguntas compli- mos enquanto existirem condi-
cadas ou complexas. A realidade ções desesperadoras para as po-
Como na África do Sul. não é clara, mas as pessoas não apre- pulações. E não podemos conti-
 Sim, se você se lembrar dos ciam que se seja claro. nuar despendendo bilhões em
anos 1970 e 1980, quando está- armas, que são instrumentos da
vamos em guerra interna com A paz trouxe novos desafios? morte. É isto que estas pessoas
nós mesmos, e exportávamos  Sem dúvida. A paz não é algo está- têm tentado dizer: a melhor for-
violência e conflito para os nos- tico. Temos que avaliar constante- ma de atender aos próprios in-
sos vizinhos, as chamadas fren- mente a nossa situação. Era maravi- teresses é interessar-se pelos
tes. Lutávamos na Namíbia e em lhoso, aqui, lutar contra algo, ir de outros. Isto não é altruísmo.
Angola, e a guerra era regional. encontro, entende? Estávamos uni-
Bombardeávamos Moçambique, dos porque tínhamos um inimigo O desenvolvimento pode
Botsuana, Zimbábue. Que coisa! comum. Então, o inimigo desapare- ser um instrumento da paz?
ce, e a coisa fica difícil, muito difícil.  Enquanto as pessoas viverem
A África do Sul estava ator- na pobreza, não há forma de o
mentada pela violência. Que papel você vê para o Rota- mundo ser estável. Expliquem-
 A paz chegou à África do Sul, o ry no conhecimento de uma me, pois acho que sou um tolo:
que ocasionou desdobramentos. vida de paz? digam-me, com esta instabilida-
Existe paz em Moçambique. Eles  O Rotary tem uma tradição e uma de da economia – ontem, o di-
estavam envolvidos numa horrí- história maravilhosas de luta pelos nheiro era abundante, hoje ele
vel guerra civil, em parte alimen- desfavorecidos. Isto é muito impor- desapareceu, e o governo pro-
tada pela África do Sul. Os Esta- tante, pois o nosso mundo terá que duz US$ 700 bilhões como se
dos Unidos apoiavam Jonas Sa- aprender uma lição muito simples: fosse a salvação da lavoura –, 

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onde foi parar todo aquele di- nicas e outras crises que
nheiro, e de onde vieram os no- provoquem a perda de vidas
vos recursos? O governo ame- em grande escala. Por que
ricano dizia aos seus próprios os governos relutam tanto
cidadãos que não havia recur- em interferir nos assuntos
sos para recuperar as escolas Esta situação de outros, imersos no ge-
em áreas pobres, que não ha- econômica pode nos nocídio, nas epidemias de
via dinheiro suficiente para cólera, na terrível inflação
que cada americano tivesse levar a perceber que e brutalidade, como está
acesso à saúde. Mas Deus diz ocorrendo, por exemplo,
não podemos
que há recursos para satisfazer no Zimbábue?
às necessidades de todos, mas prosseguir neste  Muitos países do mundo em
que não há dinheiro para a co- desenvolvimento sentem-se des-
biça de todos.
consumismo confiados quanto ao neocolonia-
exagerado em lismo. Eles se sentem, algumas
Nessa situação, o que as pes- vezes, muito sensíveis quanto à
soas que trabalham pelo de-
algumas partes do possibilidade de as pessoas che-
senvolvimento podem fa- mundo, enquanto que garem e, com a desculpa de nos
zer para se sustentarem e ajudar em nossos apuros, nos
aos seus objetivos? em outras partes mal quererem impor obrigações.
 Muito poucas pessoas que- existe água para Talvez alguns líderes não se sin-
rem esmolas. Elas querem uma tam seguros acerca das suas po-
ajuda. Temos visto mais e mais se beber sições, e receiem permitir que,
pessoas que afirmam: “Não es- se alguém puser um pé em seus
tamos fazendo caridade. So- países, em especial aqueles vin-
mos parceiros. Somos as suas dos do Ocidente, ponham em
famílias. Queremos trabalhar risco a sua liderança.
com vocês, para que vocês
possam ser parte da solução, e mundial, especializados na re- E em Darfur?
saiam da pobreza.” Estamos fa- solução de conflitos e no esta-  Os países africanos formam o
lando de trabalho humanitário belecimento da paz. Qual a im- cerne da Unamid (Missão das
– esta é realmente uma palavra portância deste processo? Nações Unidas e da União Afri-
bonita, humanitarismo. Vocês  Tudo o que pudermos fazer para cana em Darfur). Lá, parte do
estão à procura de ajudar pes- que as pessoas sejam agentes da re- problema é que países que apoi-
soas que recuperem a sua huma- solução de conflitos será importan- am um papel mais efetivo da
nidade, a sua dignidade, valor in- te. Devemos prevenir os conflitos ONU não têm comparecido fi-
trínseco para qualquer ser hu- antes que eles aconteçam, devemos nanceiramente com o mesmo
mano. Vocês estão com Deus, treinar pessoas que tenham sensi- entusiasmo verbal que demons-
que diz: “Eu vos dei deliberada- bilidade para os sinais e sintomas tram. Eles não têm fornecido à
mente um mundo que não é per- dos conflitos. Queremos, ainda, ONU os recursos necessários ao
feito, porque desejo que vocês treinar pessoas que possam lidar respaldo das tropas mais vulne-
sejam copartícipes no seu aper- com as consequências dos confli- ráveis. Os países africanos, como
feiçoamento.” tos. Muitos conflitos terminam, mas um todo, têm se saído bem em
temos que lidar com suas terríveis muitos aspectos. Poder-se-ia
O Rotary tem uma longa sequelas. questionar o seu desejo de im-
tradição no processo de pedir a ICC (Corte Criminal In-
construção da paz. Os Cen- A ONU diz que as nações têm a ternacional) de emitir um man-
tros Rotary, em importan- “responsabilidade de prote- dado contra o presidente Omar
tes universidades, treinam ger” os cidadãos de outras na- al-Bashir, do Sudão. Eles afirma-
profissionais para a paz ções do risco das limpezas ét- ram: “Isto seria um empecilho

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aos trabalhos pela paz como um návamos que todo aquele idealis- suas histórias. Não fomos feitos
todo.” Eu não concordo, mas mo persistiria na era pós-apartheid. para odiar. Nós aprendemos a
eles não se têm saído mal. Eles Isto prova que somos humanos, afi- odiar. Pode-se constatar isto
agiram mal com o Zimbábue. As nal. Provavelmente, não imaginá- entre crianças de diferentes ra-
pessoas que mais sofrem são, vamos o que o poder pode causar. ças que foram criadas juntas.
naturalmente, as mais vulnerá- O poder absoluto corrompe. A nos- Elas não sabem nada acerca de
veis, e isso é muito ruim. sa arrogância cresceu – uma espé- raça e discriminação até que os
cie de arrogância que o Partido Na- adultos as infectem.
O que precisa mudar no cional ostentava.
Zimbábue? Você sempre se refere a
 Eu disse: olhem, temos que in- Nessas ocasiões, existem o ubuntu, uma palavra zulu.
vocar aquele costume da “res- ódio e a raiva. Você é o Senhor Você explicou que “acredi-
ponsabilidade pela proteção”. Reconciliação da África do Sul, tamos que a nossa humani-
Se um governo não quiser, ou e, agora, como presidente do dade está radicalmente ata-
não for capaz de proteger seus The Elders, tenta conciliar as da, amalgamada, à do outro.
cidadãos, a comunidade inter- questões por todo o mundo. Se eu o desumanizar, esta-
nacional tem que entrar em Como chegar até o ponto do rei também, inexoravel-
cena. E eu também disse: sim, perdão? mente, desumanizando a
talvez os países africanos te-  Através da permanente lembran- mim mesmo.” É sobre isto
nham que deixar a ONU entrar. ça de que todas as pessoas têm a que estamos falando agora,
A África do Sul desapontou mui- sua bondade – de que todos nós não é? Seria ubuntu uma fi-
tos de nós em relação a algumas somos fundamentalmente bons. Fi- losofia apropriada para o
resoluções que apoiamos ou não zemos, recentemente, um progra- mundo de hoje?
no Conselho de Segurança da ma com a BBC chamado Encarando  É provavelmente o melhor
ONU. Nós ocupávamos o que se a Verdade, na Irlanda do Norte, e presente que poderíamos dar à
poderia rotular de alto nível isto é realmente maravilhoso. humanidade. Ela significa que
moral. E hoje, sentimo-nos um Pode-se ver a magnanimidade do nós fomos concebidos para nos
pouco tristes por um país tão ser humano confrontada com al- unir. Quando chego a este mun-
maravilhoso, com uma gente guém que cometeu as coisas mais do, não passo de uma parte. Não
tão bonita. medonhas. E as pessoas sentam-se venho inteiramente formado.
juntas, e conversam. Num dos ca- Preciso aprender a falar como
Mas o que houve? Será que sos, um policial teve as duas mãos um ser humano. Preciso apren-
as expectativas foram exa- arrancadas num atentado do IRA der a me tornar humano por
geradas por causa do Nelson (Exército Republicano Irlandês) a meio de outras pessoas.
Mandela, de todo aquele uma viatura policial. O homem do
conceito de “nação arco- IRA envolvido começou a falar Mas como se pode conven-
íris” [termo cunhado por acerca da sua educação e das pri- cer as pessoas dessa ideia?
Tutu logo após o fim do vações que experimentou como um  É surpreendente, por vezes. Os
apartheid e as primeiras elei- católico apostólico romano na Ir- olhos das pessoas iluminam-se
ções democráticas na África landa do Norte. O cidadão que so- à menção disto, porque em al-
do Sul], e do seu papel? frera o atentado disse: “Sabe, se eu guma parte, bem no interior, te-
 Eu diria que sim. Nós esque- tivesse sofrido todas as privações mos consciência disso – sabe-
cemos que o pecado original não que você enfrentou, eu talvez tives- mos que estamos conectados.
tem cor [risos]. Na luta, nós se feito a mesma coisa.” É incrível. Veja o que aconteceu depois do
quase poderíamos nos orgulhar 11 de Setembro: o mundo dedi-
de que éramos especiais. Isto é, Quer dizer que o caminho da cou uma profunda e real com-
nós tínhamos homens notáveis, reconciliação é a aproximação paixão pelos Estados Unidos –
que eram inteiramente altruís- entre as pessoas? que eles, infelizmente, desper-
tas. As pessoas estavam prepa-  As pessoas muitas vezes só que- diçaram, mas vamos deixar isso
radas para morrer. E nós imagi- rem ter a oportunidade de contar de lado. Em todas as partes, sen- 

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tiu-se um pesar profundo pelos nova era. Assistiremos a uma
Estados Unidos. Veremos uma América que lidera pela sua li-
América cooperativa, derança moral. Veremos uma
Como manter esta cone- América cooperativa, conse-
xão? conselheira. E não lheira. E não uma América que
 Tendo em mente que se alguém uma América que lança o seu peso sobre os ou-
pensa que pode progredir uni- tros. As pessoas desejam que a
camente por si mesmo está liqui- lança o seu peso sobre América lidere. E todos sabem,
dado. A atual crise econômica os outros. As pessoas sem dúvida, o que este país tem
talvez nos faça concluir que não significado para todos nós.
podemos prosseguir nesta orgia desejam que a
de consumo numa parte do mun- Na África do Sul.
América lidere
do, enquanto que em outra par-  Sim. Eu devia ter oito anos, por
te nem água existe para se be- aí, e vi um exemplar da revista
ber. Não podemos manter esta via em um quarto de fundos num Ebony, que falava sobre Jackie
maneira de ser, em que somos dos guetos da cidade. Muitos de nós Robinson. Ele arrebentava na
incautos quanto ao consumo dos éramos assim. Liga Principal de Beisebol e ia jo-
recursos. Os Estados Unidos apre- gar pelos Brooklin Dodgers. Eu
sentam características formidá- E você contraiu pólio. não sabia a diferença entre beise-
veis, mas entristece-me ver as  Eu era bebê, e não me recordo. bol e pingue-pongue, mas o fato
porções servidas nos restauran- Só sei que tenho a mão direita me- importante para um menino ne-
tes. Repare quantos pratos re- nor do que a esquerda. Sou canho- gro, naquela época, era um outro
tornam quase cheios, e toda to. Veja, veja o tamanho. Como negro fazer sucesso. Eu me senti
aquela comida será jogada fora. você pode notar, não controlo es- maior. E também houve todas as
tes dedos. outras coisas acontecendo por lá.
Estamos falando de consci- Sabe, você ouvia The Ink Spots
ência. As pessoas não têm Os Estados Unidos têm agora [grupo vocal de negros que aju-
consciência. um presidente cujo pai era dou a popularizar o gênero que
 De fato. É como reza aquele africano. Qual a sua opinião conduziu ao rhythm & blues e o
ditado: “Temos que viver sim- sobre a eleição de Obama? rock and roll], Nat “King” Cole,
plesmente, para que outras pes-  Acho fantástico. Sabe, eu estava todos eles. Lena Horne era a mi-
soas simplesmente vivam.” numa reserva de caça, e eles esta- nha pin-up preferida. Os norte-
vam radiantes em Chicago, cele- americanos nos encheram de
O que o inspira? O que o faz brando. Leah, minha mulher, esta- esperança. Por isso fiquei tão
vibrar? va assistindo pela TV, e as lágrimas surpreso quando na minha visi-
 Gente. As pessoas rezam por desciam pelo rosto dela. Ela disse, ta aos Estados Unidos descobri
mim. Elas me apoiam. Posso es- “Estou super feliz, e não sei porque que os negros americanos eram
tar exausto, mas quando falo estou chorando.” [risos] Isto repre- tão amargurados. Eu comentei:
para um grupo, sinto-me pleno sentou um salto em nossa caminha- “Mas como vocês podem ser as-
de energia, porque pessoas são da. O mais fantástico de tudo é que sim?” Até que eu descobri que
coisas maravilhosas. ele não estimulou somente as pes- era porque a Constituição dos
soas negras. O entusiasmo atraves- Estados Unidos dizia uma coisa
Você já teve ressentimento sou fronteiras. Veja quanta gente e a realidade era muito diferen-
de alguém? lhe deu as boas vindas em Berlim. te. Os Estados Unidos são um
 Provavelmente [risos]. La- país muito louco, pois o racis-
mento por mim mesmo, mas se Alguma lição a tirar desta vi- mo ainda é muito forte. Os nor-
tem que superar isso. Deus tem tória? te-americanos são capazes de
sido muito bom. Sabe, a mãe da  Lição? Bem, cada um que tire a rebocar um negro num cami-
minha mulher foi uma emprega- sua [risos]. Mas o importante é que nhão, até à morte, mas ainda as-
da doméstica, e sua família vi- isto significa o nascimento de uma sim são inacreditáveis. Quero

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 DESMOND TUTU (o último, à direita) preside o The
Elders, formado por 12 líderes, que trabalham na solução
dos árduos problemas globais. Os outros integrantes são,
a partir da esquerda, a ativista moçambicana Graça
Machel; a ex-presidente irlandesa Mary Robinson; o ex-
presidente americano Jimmy Carter; o ex-presidente da
África do Sul Nelson Mandela; o ex-chanceler chinês Li
Zhaoxing; o ex-secretário geral da ONU Kofi Annan; e o
fundador do Grameen Bank, Muhammad Yunus

dizer, olha-se para cima, o céu os nossos filhos pudessem voar. tores]. A atitude de Obama
ainda está no mesmo lugar, mas Isto não é lindo? é conciliadora.
um negro, um jovem negro, está  Ele deixou Robert M. Gates no
na Casa Branca. Você vai me fazer chorar. Pentágono como secretário da
 Mas não é lindo? Defesa e escolheu como alguns
A campanha de Obama teve dos seus mais importantes as-
início no Projeto Geração Maravilhoso. sessores econômicos pessoas
Josué para atrair jovens  E veja o que está acontecendo no que não necessariamente con-
cristãos. O nome, natural- Quênia. Quero dizer, eles o possu- cordam com ele.
mente, é baseado no relato em (Obama). Eles pensam: “Este é o
bíblico, e de como a geração nosso filho.” Ele terá uma maravi- As pessoas em lugares como
de Josué conduziu os israe- lhosa influência, porque poderá di- a África do Sul deveriam
litas à Terra Prometida. O zer aos africanos o que Bush não atentar para este fato?
que significa este nome podia. Quando ele disser: “Olhe,  Observe como ele estendeu a
para você, especialmente pessoal, mantenham a ordem”, eles mão para Hillary Clinton. Temos
desde que Obama falou so- verão que ele está falando como um que aprender com a atitude. Em
bre a geração de Moisés, que ocidental, mas também concluirão campanha usa-se, sim, uma lin-
nos leva a um ponto, e ago- que ele é um de nós. guagem exaltada, mas se deve
ra, sobre a geração de Josué, pensar que somos todos do mesmo
que é a que se segue? Obama leu muito sobre país e temos que remar juntos.
 Você se lembra do que eles fa- Abraham Lincoln, inclusive
laram? Rosa Parks sentou-se o Team of Rivals [Equipe de Qual a lição a extrair de tudo
para que Martin Luther King pu- Rivais], de Doris Kreans Goo- isto?
desse caminhar. Martin andou dwin [trata-se da história do  Fomos feitos para estar juntos.
para que Obama pudesse ficar de gabinete de Lincoln, que in- BR

pé, e Obama ficou de pé para que cluiu alguns dos seus oposi- Tradução de Eliseu Visconti Neto.

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