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autores do original
ROSILENE LINHARES DUTRA
SILVIA RAQUEL MUNDO CRIVELLI
MÁRCIO FRITZEN
1ª edição
SESES
rio de janeiro 2016
Conselho editorial sérgio cabral, pablo farias, roberto paes, gladis linhares
Autores do original rosilene linhares dutra, silvia raquel mundo crivelli, márcio
fritzen
Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta obra pode ser reproduzida ou transmitida
por quaisquer meios (eletrônico ou mecânico, incluindo fotocópia e gravação) ou arquivada em
qualquer sistema ou banco de dados sem permissão escrita da Editora. Copyright seses, 2016.
Prefácio 7
1. Introdução à Farmacognosia 9
1.1 Histórico 11
1.2 Conceituação 12
1.3 Etnobotânica 14
1.4 Legislação 15
1.4.1 Aspectos agronômicos 17
1.4.2 Operações de secagem 18
1.4.3 Moagem 20
1.4.4 Métodos de extração 23
1.4.5 Concentração e secagem 26
1.5 Controle de Qualidade 27
2. Fotossíntese e Carboidratos 31
4. Quinonas 79
4.1 Quinonas 81
4.2 Classificação e nomenclatura 81
4.3 Biossíntese 82
4.4 Extração de quinonas 82
4.5 Detecção de quinonas 83
4.5.1 Reação de Borntranger 83
4.5.2 Pesquisa de compostos antraquinônicos livres e combinados 83
4.5.3 Microssublimação 84
4.5.4 Pesquisa de adulteração em ruibarbo 84
4.6 Propriedades farmacológicas e biológicas das quinonas 85
4.7 Antraquinonas 87
4.7.1 Características químicas 87
4.7.2 Relação estrutura-atividade 88
4.7.3 Mecanismo de ação e efeitos adversos 88
4.7.4 Drogas vegetais 89
5. Terpenoides e Saponinas 95
5.1 Terpenoides 97
5.1.1 Biossíntese dos terpenoides 97
5.1.2 Monoterpenos 100
5.1.2.1 Iridoides 100
5.1.3 Sesquiterpenos 103
5.1.4 Diterpenos 103
5.1.4.1 Plantas ricas em diterpenos 104
5.1.5 Triterpenos 105
5.1.6 Tetraterpenos 106
5.2 Óleos essenciais 106
5.2.1 Controle de qualidade dos óleos essenciais 107
5.2.2 Emprego terapêutico 110
5.2.2.1 Plantas ricas em óleos essenciais 111
5.3 Saponinas 112
5.3.1 Classificação 112
5.3.2 Métodos de análise 113
5.3.3 Emprego terapêutico 114
5.3.4 Plantas ricas em saponinas utilizadas na terapêutica 114
6. Cardiotônicos 119
6.1 Cardiotônicos 121
6.2 Características químicas e biossíntese 122
6.2.1 Estrutura das geninas ou agliconas 123
6.2.2 Estrutura dos resíduos de açúcar presentes nos
heterosídeos cardiotônicos 125
6.3 Métodos de obtenção e análise 126
6.3.1 Pesquisa de glicosídeos cardioativos 127
6.3.2 Caracterização microscópica de drogas cardioativas 128
6.4 Emprego farmacêutico 129
6.5 Relação estrutura-atividade 131
6.6 Drogas vegetais clássicas 133
6.6.1 Digitalis purpurea L. – dedaleira 133
6.6.2 Strophantuhs gratus (Wall. & Hook.) Franch. – estrofanto 134
Prefácio
Prezados(as) alunos(as),
Bons estudos!
7
1
Introdução à
Farmacognosia
10 • capítulo 1
1.1 Histórico
Os produtos de origem vegetal são empregados pelo homem há muito tempo.
Acredita-se que as plantas foram as primeiras substâncias empregadas pela hu-
manidade para o tratamento das enfermidades. A descoberta das propriedades
curativas de cada espécie ocorria principalmente de forma empírica, ou seja,
sem um conhecimento prévio, as plantas eram empregadas para tentar tratar
as pessoas doentes e, assim, as propriedades curativas ou toxicológicas eram
descobertas e repassadas oralmente de uma geração para outra.
Existem registros do uso de plantas medicinais desde o período neolítico,
aproximadamente há 10.000 anos. Os documentos conhecidos como tábuas da
Suméria (3.000 anos a.C.) descreviam o emprego de mais de 250 espécies vege-
tais, dentre elas a papoula, a canela, o meimendro e o salgueiro. Existem do-
cumentos que relatam o uso das plantas pelos egípcios nos procedimentos de
mumificação; tal população também tinha conhecimento de plantas com pro-
priedades diuréticas, purgativas, antissépticas e vermífugas. No ano de 2000
a.C. foi escrita a matéria médica chinesa, que descrevia cerca de 365 drogas ve-
getais empregadas para o tratamento de diversas doenças. Dentre as plantas
relatadas, podem-se citar o ruibarbo, o ginseng e a efedra.
As plantas e seus derivados representaram os principais medicamentos
consumidos pela população por muito tempo. Inicialmente eram empregados
as plantas in natura, cataplasmas e chás e, posteriormente, começaram a ser
empregadas as tinturas. A partir de 1790, os cientistas começaram a procurar
isolar e identificar os componentes vegetais. Em 1806 foi isolada a morfina, a
partir da espécie Papaver somniferum L., conhecida popularmente como pa-
poula. Em 1811, foi descrito o isolamento da quinina a partir da quina. Em
1818, foi isolada a estricnina, mas apenas em 1828 foi descrita a primeira sín-
tese de uma substância orgânica, a ureia. Desta data em diante, foram isoladas
e sintetizadas várias outras substâncias, e isso representou um grande avanço
na medicina. A partir de 1950, as plantas medicinais passaram a representar
uma porcentagem menor nos medicamentos empregados, sendo substituídas
principalmente pelos medicamentos de origem sintética.
Theophrastus (370-286 a. C.), denominado “pai da botânica”, descreveu no
livro Historia plantarum as características botânicas de várias espécies medi-
cinais, facilitando, assim, o reconhecimento da planta medicinal. Galeno, no
período de 131-201 d. C., foi um dos primeiros médicos a preparar e empregar
capítulo 1 • 11
formulações, constituídas principalmente de extratos vegetais preparados em-
pregando-se água ou vinagre. Cosme e Damião, reconhecidos pela Igreja católi-
ca como santos e patronos dos farmacêuticos, contribuíram para a dissemina-
ção do procedimento de prescrição e manipulação de produtos farmacêuticos.
Eles foram perseguidos e acusados de feitiçaria.
Durante a Idade Média, muitas pessoas que empregavam a fitoterapia foram
perseguidas e acusadas de bruxas. Durante esse período, o emprego de plantas
medicinais no tratamento de enfermidades passou a ser dominado pratica-
mente pelos monges, que passaram a realizar o cultivo de espécies medicinais.
Na história do Brasil, Pero Vaz de Caminha relata, em sua primeira carta
enviada para o rei de Portugal, as propriedades medicinais de várias plantas
empregadas pela população indígena. Posteriormente, os jesuítas passam a di-
vulgar as espécies empregadas pelos nativos.
Atualmente, as plantas medicinais e seus derivados representam uma im-
portante parcela dos remédios empregados pela população, entretanto muitas
vezes os derivados vegetais são utilizados sem a indicação adequada e com a
crença de que tal produto não produz efeitos tóxicos. No entanto, as drogas ve-
getais, assim como outros medicamentos, têm toxicidade, efeitos colaterais e
podem interagir com outros tratamentos.
1.2 Conceituação
Hipócrates, pai da medicina, relatava que a cura de uma enfermidade poderia
ser obtida através da cura pelo contrário (alopatia), ou de acordo com os prin-
cípios da similitude (homeopatia). Acreditava, ainda, que a natureza sozinha
poderia encarregar-se de restabelecer a saúde. Tanto a homeopatia como a alo-
patia empregam nos tratamentos produtos de origem vegetal, animal, sintéti-
cos ou semissintéticos, porém na homeopatia tais produtos são utilizados de
forma diluída, tratando o organismo como um todo, e não apenas a doença,
seguindo o princípio da semelhança. De acordo com os princípios da similitu-
de, o medicamento capaz de tratar o indivíduo doente é aquele que provoca na
pessoa sadia os mesmos efeitos que o indivíduo doente apresenta.
Na alopatia, os fármacos são utilizados de acordo com o princípio dos con-
trários, segundo o qual, para o tratamento, são empregados medicamentos que
combatem o processo da doença, atuando de forma contrária à enfermidade.
12 • capítulo 1
Dessa forma, para o tratamento de uma febre, deve ser empregado um antitér-
mico; para o tratamento de uma infecção, utiliza-se um antimicrobiano.
A farmacognosia é a ciência que estuda os aspectos relacionados aos fárma-
cos de origem natural, investigando suas características químicas, biológicas,
botânicas e bioquímicas. Sendo assim, a farmacognosia estuda principalmen-
te os produtos de origem vegetal e animal.
As espécies vegetais com propriedades medicinais podem ser empregadas
in natura, secas, na forma de extratos ou como medicamentos fitoterápicos.
As plantas medicinais utilizadas in natura são usadas sem serem processadas.
Após sua colheita, elas são diretamente aplicadas no tratamento das enfermi-
dades. Entretanto, muitas vezes as plantas são secas, para permitir uma conser-
vação por um maior período.
Matéria-prima vegetal
Sub-produtos (óleos,
in natura Extratos
gomas, resinas etc)
Figura 1.1 –
capítulo 1 • 13
princípio ativo de origem vegetal, não pode conter princípio ativo isolado nem
sintético. Tal produto deve ter o seu efeito e sua segurança comprovados.
As plantas medicinais são constituídas por inúmeros compostos, e vários
destes têm atividade farmacológica, por isso muitas vezes os fitoterápicos são
chamados de fitocomplexos. Uma planta pode ter várias indicações terapêuti-
cas. Entretanto, a quantidade de cada componente ativo de uma espécie vegetal
pode variar, dependendo dos fatores edafoclimáticos (clima, solo, altitude, ín-
dice pluviométrico), e como consequência pode ocorrer uma alteração na efi-
cácia da droga vegetal. Para que um medicamento fitoterápico mantenha a sua
eficácia, é necessário quantificar os seus princípios ativos, e, para facilitar tal
procedimento, são selecionadas substâncias denominadas marcadores quími-
cos, que podem ser um princípio ativo ou alguma outra substância que tenha
relação direta com o efeito do fármaco.
Em alguns casos são desenvolvidos fitofármacos que são preparados a par-
tir de uma substância purificada e isolada a partir de uma planta medicinal,
sem sofrer alteração ou semissíntese. Nestes casos, a estrutura química e a ati-
vidade farmacológica são conhecidas.
Em 2014, por meio da RDC 26 de 2014, foi introduzido um novo termo para
designar alguns produtos de origem vegetal. De acordo com tal norma, são de-
nominados produtos tradicionais fitoterápicos, aqueles que são obtidos utili-
zando-se princípio ativo exclusivamente vegetal, cuja eficácia e segurança são
comprovadas por meio de dados de uso com segurança e eficácia publicados
em material científico. Tais produtos não podem ser indicados para o trata-
mento de doenças graves, bem como não deve conter substâncias tóxicas. O
produto tradicional fitoterápico não deve conter substâncias isoladas ou sinté-
ticas e deve ter registro ou notificação no Ministério da Saúde.
1.3 Etnobotânica
As plantas são empregadas para diversos fins, alimentação, tratamento de en-
fermidades, como drogas psicoativas ou como venenos. Para fazer uso destes
produtos vegetais, deve-se conhecer as suas propriedades básicas. É necessário
saber se é comestível ou se é venenoso. A etnobotânica relaciona cada espécie
com suas propriedades usuais.
14 • capítulo 1
Muitas espécies vegetais são empregadas para o tratamento de doenças há
milhares de anos, e infelizmente uma grande parcela das espécies presentes no
nosso planeta ainda não foi estudada. A etnofarmacologia é um ramo da etno-
botânica que faz o estudo das propriedades farmacológicas de espécies empre-
gadas popularmente no tratamento de enfermidades.
Vários estudos têm sido realizados para descobrir novas propriedades das
drogas vegetais. Em alguns casos, são feitas buscas fitoquímicas e farmacoló-
gicas de plantas ao acaso, por um estudo randômico. Em contrapartida, os es-
tudos quimiotaxonômicos promovem a verificação de propriedades químicas e
farmacológicas de espécies da mesma família ou gênero. Nos estudos etológi-
cos é observado o comportamento de animais no usos de plantas para verificar
suas propriedades funcionais.
A etnobotânica e a etnofarmacologia têm se mostrado muito útil na desco-
berta de novos fármacos, entretanto existem muitas dificuldades em realizar um
levantamento das plantas empregadas por determinado grupo populacional.
1.4 Legislação
Ao longo dos anos, a legislação brasileira referente à fitoterapia sofreu várias
alterações. Na tabela 1.1 são citadas algumas das resoluções que fazem parte da
história da fitoterapia no Brasil.
capítulo 1 • 15
NORMATIVA PRINCIPAIS ATRIBUTOS
Tabela 1.1 – Relação das principais normativas revogadas que tratam de medicamentos
fitoterápicos/drogas vegetais.
16 • capítulo 1
A Instrução normativa nº 4, de 18 de junho de 2014, determina a publicação
do Guia de orientação para registro de Medicamento Fitoterápico e registro e
notificação de Produto Tradicional Fitoterápico. De acordo com este Guia, são
estabelecidas as normas para o controle de qualidade do medicamento fitote-
rápico e do produto tradicional fitoterápico. Nesta resolução são citados os tes-
tes de identificação botânica e química, de pureza e integridade, caracterização
físico-química do derivado vegetal, testes de controle de qualidade do produto
acabado, análise quantitativa, controle biológico, validação dos métodos analí-
ticos, segurança e eficácia de medicamento fitoterápico.
A RDC nº 26, de 13 de maio de 2014 dispõe sobre o registro de medicamen-
tos fitoterápicos e o registro e a notificação de produtos tradicionais fitoterápi-
cos. Esta resolução relata que os produtos tradicionais fitoterápicos não devem
ser indicados para doenças graves, bem como não devem conter substâncias
tóxicas. Descreve ainda que os chás medicinais devem ser notificados como
produto tradicional fitoterápico.
capítulo 1 • 17
ativos. Estes fatores são denominados edafoclimáticos e devem ser observados
na produção de derivados vegetais para manter a sua eficácia e segurança, para
procurar manter as porcentagens de marcadores os métodos de cultivo podem
ser validados.
No cultivo de plantas medicinais, é importante utilizar uma região que não
apresente, nas redondezas, áreas de plantações que empregam um grande vo-
lume de agrotóxicos, pois tais recursos devem ser evitados nestes casos. Para
evitar pragas, pode ser empregado o cultivo de espécies em associação.
Cada droga vegetal tem um melhor horário de colheita, para a obtenção de
um maior rendimento de princípio ativo. Entretanto, na maioria dos casos, de-
vem sem colhidas pela manhã em tempo seco.
Importância dos campos experimentais de cultivos:
1. Melhoramento de plantas medicinais.
2. Aumento da produção de princípio ativo.
3. Aumento às resistências às condições climáticas e parasitas.
4. Seleção de diferenças morfológicas.
MÉTODO CARACTERÍSTICAS
18 • capítulo 1
MÉTODO CARACTERÍSTICAS
capítulo 1 • 19
Figura 1.2 – http://cafepasa.blogspot.com.br/2013/01/a-cidade-de-santos-tem
-muito-ver-com-o.html
1.4.3 Moagem
20 • capítulo 1
PRINCÍPIO
TIPO DE DE CARACTERÍSTICAS
MOINHO ATUAÇÃO
capítulo 1 • 21
PRINCÍPIO
TIPO DE DE CARACTERÍSTICAS
MOINHO ATUAÇÃO
Chapa Guia
Placas de Impacto
Martelos
Peneiras
Coletor de Metais
22 • capítulo 1
Figura 1.6 – Moinho de facas. Fonte: http://www.labhouse.com.br/index.php?main_pa-
ge=product_info&products_id=7393&zenid=bb8c50a99e80b637e9cc95ff047438be
capítulo 1 • 23
MÉTODO CLASSIFICAÇÃO CARACTERÍSTICAS
Emprega a mace-
Maceração Dinâmica Parcial ração com agitação
constante.
O procedimento de
maceração é repetido
empregando-se a
Maceração Remaceração Parcial
mesma matéria-prima,
renovando apenas o
solvente.
Efetua a extração e ao
mesmo tempo promove
o fracionamento da
planta, facilitando o
contato com o líquido
Turbo-extração Parcial extrator. Entretanto,
pode ocorrer aqueci-
mento, e as partículas
podem tornar-se muito
pequenas, dificultando
a etapa de filtração.
Após o intumescimento
da matéria vegetal
com o solvente, este
material é empacotado
e posicionado em um
percolador. Neste equi-
Percolação Simples Total pamento, é promovida a
passagem do solvente
pela planta até o es-
gotamento. Tem como
desvantagem o gasto
de grande quantidade
de solvente.
São colocados dois
ou mais percoladores
em série para que as
porções de extrato
menos concentrados
possam ser utilizados
Percolação Fracionada Total
para realizar a extração
no percolador seguinte.
Este processo é em-
pregado para diminuir a
quantidade de solvente
gasto.
24 • capítulo 1
MÉTODO CLASSIFICAÇÃO CARACTERÍSTICAS
Neste caso utiliza-
se um equipamento
circular que tem várias
divisórias nas quais é
adicionado o material
Contra-corrente ou
Percolação Total botânico. O extrator
carrossel
vai promover o giro da
planta e do solvente
em sentidos contrá-
rios, para que ocorra a
extração.
Emprega CO2 no
estado supercrítico da
matéria, assim o gás
carbônico característi-
Fluido Supercrítico Total
cas do estado gasoso e
do estado líquido, pro-
duzindo uma extração
muito eficiente.
MÉTODO CARACTERÍSTICAS
capítulo 1 • 25
MÉTODO CARACTERÍSTICAS
Tabela 1.5 – Principais métodos de extração empregados para obtenção de óleos essenciais.
O extrato, após a filtração, pode ser concentrado e seco para a eliminação total
ou parcial do solvente. Este procedimento é importante para a eliminação de
solventes tóxicos, quando estes são empregados, e para a obtenção de extrato
seco para o preparo de diferentes formas farmacêuticas. Os principais métodos
de concentração e secagem são apresentados na tabela 1.6.
MÉTODO CARACTERÍSTICAS
26 • capítulo 1
MÉTODO CARACTERÍSTICAS
capítulo 1 • 27
gravimetria, é realizado o procedimento dessecação, em que a amostra previa-
mente pesada é submetida ao aquecimento para a evaporação da água e, no fi-
nal do processo, verifica-se a massa residual. O procedimento azeotrópico em-
prega a destilação com tolueno para quantificar a água presente. A volumetria
pode ser utilizada pelo equipamento Karl Fischer, que faz uso de técnicas de
titulação para quantificar a água.
Para confirmar a pureza da amostra, é recomendada, ainda, a determinação
de cinzas, metais pesados, agrotóxicos, radioatividade, contaminantes biológi-
cos e solventes.
A caracterização físico-química deve verificar a granulometria, o resíduo
seco, o índice de acidez, índice de ésteres, índice de iodo, índice de saponifica-
ção, índice de refração, poder rotatório, densidade relativa, densidade aparen-
te, determinação de água, determinação de etanol, determinação de metanol
e 2-propanol, determinação de substâncias extrativa por etanol, limpidez de
líquidos, volume médio, viscosidade e solubilidade.
Os marcadores devem ser especificados e quantificados nos medicamentos
fitoterápicos e nos produtos tradicionais fitoterápicos. Se este procedimento
não for viável, é necessário apresentar o perfil cromatográfico.
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capítulo 1 • 29
30 • capítulo 1
2
Fotossíntese e
Carboidratos
32 • capítulo 2
2.1 Fotossíntese e Obtenção de
Carboidratos
2.1.1 Fotossíntese
capítulo 2 • 33
Oxigênio Oxigênio
Energia
Solar
Glicose
O termo fotossíntese significa síntese mediada pela luz. Hoje, este termo apre-
senta uma conotação mais abrangente, sendo o processo no qual os vegetais
têm a capacidade de captar energia solar e converter em energia química. A
fotossíntese é uma reação luminosa com o objetivo final de formação de ATP
NADPH e síntese e manutenção de tecidos.
As plantas não podem permanecer muito tempo sem iluminação, pois não
armazenam os açúcares que poderiam ser utilizados no momento sem ilumi-
nação, portanto as plantas morrem por deficiência nutricional. O tecido fotos-
sintético mais ativo das plantas chama-se mesófilo.
A fotossíntese é o processo em que os vegetais sintetizam compostos orgâ-
nicos a partir da luz em presença de água (H2O) e gás carbônico (CO2). Plantas,
algas e certas bactérias, também conhecidas como organismos clorofilados,
captam a luz solar e a transformam em energia solar, que é a fonte primária de
energia, sintetizam o ATP e NADPH e usam como fonte de energia para sinte-
tizar os carboidratos e outros compostos orgânicos, liberando o oxigênio (O2)
na atmosfera. Os animais, como o homem, não fazem fotossíntese, mas obtêm
energia alimentando-se de organismos fotossintetizantes ou de consumidores
primários.
34 • capítulo 2
A fotossíntese é representada pela seguinte equação:
luz e clorofila
6 H2O + 6 CO2 6 O2 + C6H12O6
Célula
Amido
CO2
Luz Glicose
H2O
Cloroplasto
Energia
Grana Tilacóide
Clorofila
capítulo 2 • 35
O sítio onde ocorre a fotossíntese em eucariontes, como as plantas e as algas
verdes, é uma organela chamada cloroplasto, que é limitada por membranas.
O cloroplasto tem uma membrana interna e uma externa e um espaço inter-
membranas. No seu interior, possui corpos chamados grana, que são pilhas de
membranas achatadas chamadas discos tilacoides. Os corpos estão conecta-
dos por membranas chamadas lamelas intergranais. o espaço entre os granas
são chamados de estroma (figura 2.3).
Espaço
intermembrana
Tilacóide
Granum
(pilha de tilacóides )
Membrana
Estroma externa
Membrana
interna
Cloroplastos
36 • capítulo 2
Luz
2 H2 O + 2 A → 2 AH2 + O2
O OH
Cl Cl Cl Cl
N NH
A B
OH OH
Figura 2.4 – Estrutra química do 2,6 diclorofenolindofenol (A) na forma oxidada de cor azul
e (B) na forma reduzida incolor. Fonte: Lehninger, 2006.
capítulo 2 • 37
2.1.1.2 Absorção de Luz
Azul
Verde
Amarelo
Laranja
Vermelho
Figura 2.5 – Velocidade da fotossíntese das plantas verdes nas cores vermelho e azul.
Fonte: http://www.coladaweb.com/biologia/botanica/fotossintese-como-ocorre.
A combinação dos dois tipos de clorofila, que são “a” e “b”, e dos pigmentos
chamados acessórios ou carotenoides, que são β-caroteno (vermelho-alaranja-
do) e luteína (amarelo), faz com que as plantas tenham maior capacidade de
captar a energia disponível no espectro solar.
A fotossíntese depende de fatores externos, como a concentração de gás
carbônico, a intensidade lumi¬nosa e a temperatura. É observado que, quando
um desses fatores sofre variação, a velocidade final do processo fotossintético
é alterada. Ao observar a figura 2.6, constatamos que a clorofila “a” apresenta
maior absorção nas regiões azul e vermelho do espectro solar, e a clorofila “b”
apresenta maior absorção na verde e laranja.
38 • capítulo 2
Espectro de absorção
para clorofila a e b
Clorofila b Clorofila a
Absorbância
Figura 2.6 – Absorção de luz dos pigmentos fotossintetizantes chamados clorofilas “a” e “b”.
Fonte: www.sobiologia.com.br
capítulo 2 • 39
segundo absorve luz no comprimento de onda de 680 nm ou mais, chamado de
fotossíntese II, ou o fluxo de elétrons não cíclico. Para que o processo de fotos-
síntese aconteça na sua íntegra, são necessários os dois fotossistemas. Os cen-
tros de reação são formados por um complexo de moléculas de clorofila unidas
à proteína chamada CAB (Chlorophyll alb binding protein). Apresentam tam-
bém moléculas de quinona. São um conjunto de moléculas que podem aceitar
ou doar elétrons, portanto podem ser oxidadas ou reduzidas. Na fotossíntese, a
fonte de elétrons é a molécula de H2O, e o receptor final é o NADP+, que, no final
da reação, está reduzido a NADPH.
Durante a fotossíntese realizada pelas plantas, a luz é absorvida pela cloro-
fila e, ao excitarem os elétrons, promovem a transferência da energia para os
centros de reação dos fotossistemas II e I. Quando ocorre excesso de energia,
esta pode ser dissipada na forma de fluorescência.
Na transferência dos elétrons, os prótons H+ são enviados para o interior
dos telacoides (figuras 2.2 e 2.3), produzindo um gradiente de energia que
gera energia suficiente para fosforilar o ADP (adenosina difosfato) e produzir
o ATP (adenosina trifosfato). Os produtos finais das reações lumínicas são ATP
e NADPH.
A reação se inicia no fotossistema II, quando os elétrons do centro de reação
P680 são excitados a P680*, ocorrendo a captação de fótons. Em seguida, os elé-
trons são transferidos para o primeiro receptor, a FEOCITINA (Ph), conferindo-
lhe uma carga negativa (Ph-). Simultaneamente, o P680* (excitado) é convertido
a P680+ (protonado), ocorrendo assim a perda de um elétron (o elétron transfe-
rido). Em seguida, os elétrons são transferidos para as plastoquinonas (QA e QB),
que estão associadas a proteínas. As plastoquinonas (QB) recebem os átomos de
H+ (sofrem redução), transformando-se na forma de QBH2. Todo o mecanismo
inicial se dá pela reação:
40 • capítulo 2
primários e secundários do centro, gerando o P700+. O P700+ recebe um elétron
do complexo citocromo b/f, fazendo com que volte para o seu estado de P700,
e os aceptores secundários do centro reduzem a ferredoxina, que, por sua vez,
reduz o NADP+, ou o O2 ou o complexo citocromo b/f (figura 2.7).
Aceptor
primário
Aceptor
2e- Fd
primário
2e-
NADP+
Pq Redução + 2H+
do NADP+
Cadeia NADPH
transportadora 2 e-
+
H+
2 H+ H2O Pc
+ Luz
1/2
O2 2 e-
P700
O fluxo de electrões
P680 gera um fluxo de
energia que
possibilita a produção
de ATP
ATP
capítulo 2 • 41
durante esse processo. Como reconhecimento pela elucidação do ciclo de redu-
ção do carbono realizado na fotossíntese feita pelas plantas, o professor Melvin
Calvin recebeu, em 1961, o Prêmio Nobel de Química.
Portanto, a fotossíntese é o resultado de uma série de reações bioquímicas e
fotoquímicas. Quando a clorofila absorve a energia luminosa, provoca uma rea-
ção fotoquímica, resultando na retirada de elétrons da água e liberação de O2
e, consequentemente, elevação dos elétrons para níveis energéticos mais eleva-
dos, reações essas que ocorrem nos fotossistemas I e II, possibilitando assim a
síntese de ATP (energia) e NADPH (agente redutor). O ATP e o NADPH formados
são utilizados para reduzir o CO2 a compostos orgânicos (figura 2.8).
STROMA (baixo H+) H+
ADP+ Pi ATP
NADP+ + H+
NADPH
Luz Luz
H+
FNR ATP
Fd sintase Baixo
e– PQH2 e– e–
PC
Plastoquinona Alto
H+ Eletroquímica
H2O H+ Plastocianina
O2 + H
+ potencial
gradiente
Oxidação
da água
LUMEN (alta H+)
42 • capítulo 2
que é catalisada por outra enzima, chamada RuBP carboxilase (Rubisco). A fi-
xação do CO2 na enzima RuBP é seguida pela formação de duas moléculas de
ácido fosfoglicérico ou 3-fosfoglicerato (PGA), as quais são reduzidas, com a
hidrólise de ATP formando ADP (adenosina trifosfato) e a oxidação dos trans-
portadores reduzidos no decurso da fase luminosa da fotossíntese, que são as
duas moléculas de gliceraldeído 3-fosfato.
Com uma volta completa do ciclo de Calvin, a molécula de RuBP é regenera-
da. São necessárias 6 moléculas de CO2 para formar 2 moléculas de gliceraldeí-
do 3-fosfato, ou seja, seis voltas completas do ciclo de Calvin. As duas molécu-
las de gliceraldeído 3-fosfato são utilizadas como base para a síntese do amido
e outros componentes celulares (figura 2.9).
H2O CO
Luz
NADP+
ADP+ 6
Ciclo de CO2
Calvin
ATP
Fixação do carbono
NADPH
O2 C6H12O6
(glicose)
6 P P 12 P
(RuDP) Ácido fostoglicérico
12 ATP
(PGA)
12 ADP
6 ADP Ciclo de
Calvin 12 P P
6 ATP
12 NADPH
12 NADP+
12 P
10 P
PGAL 12 P P
Ácido fosfoglicérico
Regeneração da (PGAL)
ribulose difosfato Produção de
(RuDP) compostos orgânicos
2 P Glicose e outros
PGAL compostos orgânicos
Figura 2.9 – Ciclo de Calvin – Fase escura da fotossíntese. Ciclo de Calvin – Fase escura
da fotossíntese.
capítulo 2 • 43
2.1.1.4.1 Regulação do ciclo de calvin
44 • capítulo 2
Estomas
Célula
mesofilas
Células
epidérmicas
(superficie folia)
Atmosfera
Estoma
Célula epidérmica
Moléculas
de três átomos
de carbono
Rubisco
Acúcar
simples
Produção de amido,
carboidratos, proteínas, etc
b) Plantas C4
As plantas chamadas C4 possuem grande afinidade com o CO2. São denomi-
nadas C4 devido ao fato de o ácido oxalacético possuir 4 moléculas de carbono
e ser formado após o processo de fixação de carbono.
As plantas C4 apresentam uma vantagem em relação às plantas C3, sua alta
afinidade com o CO2, pois elas podem sobreviver em ambientes áridos. Isto
se dá porque as plantas C4 só atingem as taxas máximas de fotossíntese em
capítulo 2 • 45
condições elevadas de radiação solar, e isso faz com que esse tipo de planta
fixe mais CO2 por unidade de H2O perdida. Portanto, elas são mais econômicas
quanto ao uso de H2O, ou seja, perdem menos H2O que as C3 durante a fixação
e a fotossíntese.
Plantas C4 são também conhecidas como "plantas de sol", por ocorrerem
em áreas sem sombra alguma e em áreas áridas, com menores quantidades de
água disponíveis nos solos (figura 2.11). São exemplos de C4: gramíneas como
cana de açúcar e milho; parte das bromélias.
CO2
Plantas C4
46 • capítulo 2
é então utilizado na realização da fotossíntese em elevada intensidade de ra-
diação solar. São também chamadas de "plantas de sol", como as plantas C4
(figura 2.11). São exemplos de CAM os cactos.
H2O CO2
Ao anoitecer,
abrem os estômatos
e fixam o gás
carbônico em
Com a produção de glicose, finaliza forma de malato
o ciclo de Kalvin. no vacúlo celular.
2.1.2 Carboidratos
capítulo 2 • 47
2.1.2.1 Características químicas
São chamados hidratos de carbono porque têm a fórmula de geral para a maio-
ria dos carboidratos Cn (H20)n.
Uma grande totalidade do carbono do planeta está armazenada em duas
moléculas de carboidratos, que são o amido e a celulose. Estas duas molécu-
las são polímeras formadas por várias unidades (monômeros) de glicose. A di-
ferença entre elas é apenas a disposição da glicose na molécula. A figura 2.13
apresenta a estrutura química do amido e da celulose.
Polissacarídeos
CH2OH H OH CH2OH H OH
H O H H O H
H O OH H H O OH H
O OH H H O OH H H O
H H O H H O
H OH CH2OH H OH CH2OH
Celulose
CH2OH
H O H
H
O OH H
Polissacarídeos H OHO
CH2OH CH2OH CH2 CH2OH
H O H H O H H O H H O H
H H H H
O OH H O OH H O OH H O OH H O
H H H
H OH H OH H OH H OH
Amido e Glicogênio
Figura 2.13 – Estrutura química das moléculas de amido e celulose. Fonte: http://luciane-
cantalicebiologia.blogspot.com.br/2012_05_01_archive.html
48 • capítulo 2
dióxido de carbono (CO2) e água (H20), que é a principal fonte de energia para as
células. O amido apresenta ligações do tipo α (1→ 4) e servem como polímeros
armazenadores de energia em plantas como batatas, arroz e mandioca.
O glicogênio apresenta ligações do tipo α (1→ 4). É um polissacarídeo de
reserva energética dos animais. No organismo humano, a síntese de glicogênio
ocorre no fígado, a partir de moléculas de glicose.
A celulose apresenta ligação tipo β (1→ 4). É o principal componente da
madeira e da parede celular das plantas, também é um polímero formado por
monômeros de glicose, porém os animais não têm a enzima chamada celulase
para hidrolisar a molécula.
Um protozoário tem em seu intestino a enzima celulase, portanto consegue
hidrolisar o polímero de celulose, o que pode ser constatado quando casas de
madeira são destruídas por cupins.
Os carboidratos, de acordo com seu tamanho, estão divididos em três clas-
ses: monossacarídeos, dissacarídeos e polissacarídeos. A palavra “sacarídeo”
deriva do grego “sakcharon”, que significa açúcar.
capítulo 2 • 49
Glicose Maltose Sacarose Amido Lactose
Fehling B Fehling A
Lugol HCl
Figura 2.14 – Esquema da técnica de Fehling para análise de açúcares redutores. Fonte:
http://blog.uchceu.es/eponimos-cientificos/reactivo-de-fehling/
Os açúcares não redutores encontrados nos vegetais está representado pela sa-
carose, motivo pelo qual a técnica é denominada de dosagem de sacarose.
A técnica está limitada para soluções aquosas e soluções alcoólicas diluí-
das. O método baseia-se na hidrólise ácida e dosagem das oses pela técnica de
Fehling, e o resultado exprime-se em índice de acúçar invertido, sacarose ou de
cobre. Portanto, inicialmente é feita a hidrólise da molécula de sacarose (figura
2.15) e, em seguida, os monômeros são dosados pela técnica de Fehling.
OH
HO O
HO
OH
HO O
O
D-sacarose
OH OH
hidrólise ácida
OH
HO O + HO O OH
HO OH
OH OH OH
OH
D-glicose D-frutose
50 • capítulo 2
2.1.2.2.3 Monossacarídeos
NÚMEROS DE
CARBONO NA NOME GENÉRICO EXEMPLO
CADEIA
3 Trioses Gliceraldeído
4 Tetroses Eritrose
5 Pentoses Ribose
6 Hexoses Glicose
7 Heptoses Sedoeptulose
capítulo 2 • 51
Os monossacarídeos podem unir-se entre si por ligação glicosídica e formar
outras estruturas maiores, como mostra a figura 2.16.
galactose glicose ligação glicosídica
CH2OH
6 6
CH2OH CH2OH
6 6
CH2OH
5
O 5
O 5
O 5
O
HO OH H H HO H H
H H H H
4
OH H
1 + 4
OH H
1 4
OH H
1 O 4
OH H
1 + H2O
H H HO OH H H OH
3 2 3 2 3 2 3 2
H OH H OH H OH H OH
lactose
2.1.3 Dissacarídeos
Figura 2.17 – Estrutura química dos dissacarídeos maltose, sacarose e lactose. Fonte:
www.oocities.org
52 • capítulo 2
A sacarose (C12H22O11) é o açúcar extraído da cana-de-açúcar e da beterra-
ba. É um tipo de glicídio formado por um monômero de glicose e um de fruto-
se, que é produzida pela planta quando ela realiza o processo de fotossíntese.
Quando a sacarose é consumida pelos animais, ela é hidrolisada a glicose e fru-
tose, que são metabolizadas para fornecer energia.
A lactose (C12H22O11) é um epímero da glicose, ou seja, a diferença está na
inversão da configuração do carbono 4. É o açúcar presente no leite e em seus
derivados e é composto por um monômero de glicose e um de galactose.
A maltose (C12H22O11) é um dissacarídeo obtido pela hidrólise do amido pela
enzima α-amilase. É formada por dois monômeros de glicose. A maltose difere
da celobiose (dissacarídeo obtido da hidrólise da celulose) somente na ligação
glicosídica. Os mamíferos podem digerir a maltose, mas não conseguem dige-
rir a celobiose. A figura 2.18 mostra a diferença entre a maltose e a celobiose.
Maltose Celobiose
OH OH
OH
O O HO
HO HO OH
HO OH HO O O
HO O HO OH
O
HO OH
HO
capítulo 2 • 53
2.1.4 Polissacarídeos
Tabela 2.2 – Principais polissacarídeos, sua fonte e funções. Fonte: Lenhinger, 2000.
54 • capítulo 2
Na área de Farmácia, são empregados: na forma de mucilagens, como emo-
liente e protetor nas inflamações cutâneas, desagregantes nas formulações de
comprimidos, utilizados como antídoto nas intoxicações pelo iodo e na obten-
ção das ciclodextrinas, destrinas e dos polióis.
Na indústria alimentícia, são empregados para controlar ou alterar caracte-
rísticas alimentares como: umidade, texturas, aparência, estabilidade e consis-
tência e pode ser usado também para auxiliar em processos como na lubrifica-
ção ou equilíbrio no teor de umidade e na composição de embalagens.
Quanto à aplicação clínica dos polissacarídeos presentes em vegetais, são
utilizados para supressão do apetite, pois retarda o esvaziamento gástrico.
Também utilizados na prevenção do câncer, pois diminuem o colesterol.
Pré-bióticos: os oligossacarídeos (podendo ser chamados de polissacarí-
deos) são glicosídeos que contêm de 3 a 10 monossacarídeos, unidos por liga-
ções glicosídicas, e são considerados alimentos pré-bióticos.
Os alimentos pré-bióticos, como as fibras, não são digeríveis, portanto be-
neficiam o crescimento, o estímulo seletivo e a atividade das bactérias do intes-
tino. A ingestão de pré-bióticos estimula o aumento e o crescimento das bifido-
bactérias, que é um gênero de bactérias anaeróbicas presente no organismo e
um dos maiores grupos de bactérias que compõem a flora intestinal. Os oligos-
sacarídeos são os frutoligossacarídeos e a inulina.
Os frutoligossacarídeos (FOS) são açúcares de origem natural, encontrados
em alimentos como: beterraba, banana, chicória, cebola, alcachofra, alho, raí-
zes de almeirão, podendo também ser obtidos industrialmente.
A utilização de FOS como ingredientes alimentares tem crescido conside-
ravelmente, devido às suas características de fibra e por não interferirem nas
propriedades organolépticas dos produtos. O maior interesse pelos FOS é o fato
de eles serem resistentes às enzimas digestivas e não serem digeridos pelo or-
ganismo humano, portanto chegam ao intestino grosso intacto, podendo ser
fermentados no cólon pelas bactérias anaeróbicas. Esses oligossacarídeos são
conhecidos como “açúcares não convencionais” e têm grande importância na
indústria de alimentos, devido às suas ótimas características funcionais. São
ingredientes alimentares ideais para a indústria de alimentos, por permitirem
aplicação em várias áreas. São indicados para formulações dietéticas, como
cremes vegetais, patês, sorvetes e sobremesas e adicionados em barras de ce-
reais e biscoitos para elevar o conteúdo de fibras alimentares, além de bebidas
lácteas e leites fermentados.
capítulo 2 • 55
2.1.4.2 Gomas, amido, mucilagens, celulose e hemiceluloses
Goma arábica – também conhecida como goma acácia, é uma resina na-
tural composta por glicoproteínas e polissacarídeos, extraída de duas espécies
de acácia da região subsaariana: Acacia seyal e Acacia senegal. É usada como
estabilizante e espessante em vários alimentos, na manufatura de colas e es-
pessante de tintas utilizadas em canetas de escrever.
56 • capítulo 2
10% de sua produção total é usada em aplicações alimentícias. O principal uso
da goma karaya está na indústria farmacêutica, como emulsificante e agente
aglutinante em produtos especiais.
capítulo 2 • 57
consequentemente, a solubilização; se for submetido ao esfriamento, as molé-
culas se reorganizam, formando um gel.
O amido está presente na batata, na mandioca, na farinha e no arroz e é
considerado um polímero natural, formado por dois polissacarídeos, que são a
amilose e a amilopectina, constituídos de moléculas de α-glicose, ligeiramente
diferentes (figura 2.19).
OH OH OH OH
O O O O
OH OH OH OH
O O O O
OH OH OH OH
58 • capítulo 2
Celulose – é o principal componente estrutural das plantas e em especial
das madeiras. É o principal constituinte de membrana das células vegetais. É
o composto orgânico mais abundante do planeta. Possui característica fibrosa
e está localizada dentro da célula das plantas. É um homopolissacarídeo linear
de β – D – glicose, e todos os resíduos estão ligados entre si por ligação glicosí-
dica tipo β (1-4), como mostra a figura 2.20. As principais propriedades da celu-
lose são: não cora pelo iodo; insolúvel nos solventes orgânicos usuais, ácidos e
álcalis diluídos, a frio; solúvel no reagente cuproamoniacal de Schweitzer.
CH2OH OH CH2OH OH
O O
O OH 4 O OH
1 4 1 1 4
OH O OH
HO OH
O O
OH CH2OH OH CH2OH
n
Celulose
capítulo 2 • 59
açúcares pentoses (xilose e arabinose) que são xiloglucanas e contribuem com
aproximadamente 20-5% dos constituintes da parede celular primária, e/ou he-
xoses (glicose, manose e galactose), ácidos urônicos e grupos acetila. Em geral,
enquanto as madeiras de folhosas são compostas principalmente por heteroxi-
lanas altamente acetiladas, as madeiras de coníferas apresentam uma elevada
proporção de gluco¬mananas e galactoglucomananas parcialmente acetiladas.
Seu esqueleto de açúcares neutros é constituído por ligações β-(1→4), e os re-
síduos de glicose podem ser substituídos por resíduos de xilose via ligações
α-(1→6). O comprimento estimado desta cadeia é de 400-600 nm (Ilustração 9).
PENTOSES HEXOSES ÁCIDOS HEXURÔNICOS DEOXIEXOSES
OH
H COOH H
H O OH H O OH H O OH OH O OH
H H H CH3
OH H OH H OH H H H
HO H HO H HO H H H
H OH H OH H OH OH OH
β-D-xilose β-D-glucose ácido-β-D-glucurônico α-L-ramnose
OH
H COOH H
OH O OH H O OH H OH H O OH
H H H CH3
OH H OH OH OH H H OH
H H HO H H3CO OH HO H
H OH H H H OH OH H
α-D-arabinopiranose β-D-manose ácido-α-D-4-O-metilglucurônico α-L-fucase
OH
O COOH
OH OH OH
HO OH
OH H H H H
OH H OH
H H OH H OH
HO H OH H OH H OH
α-L-arabinosefuranose α-D-galactose ácido-α-D-galacturônico
Figura 2.21 – Estrutura química dos açúcares que compõem a cadeia da hemicelulose.
Fonte: www.scielo.br
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capítulo 2 • 61
62 • capítulo 2
3
Ácidos Graxos e
Derivados
64 • capítulo 3
3.1 Ácidos graxos e derivados
Lipídeo deriva do grego lipos, que significa gordura. Lipídeos são substâncias
orgânicas formadas por carbono (C), oxigênio (O2) e hidrogênio (H) e, em al-
guns casos, também apresentam fósforo (P) e nitrogênio (N) como participan-
tes de suas moléculas. São estruturas insolúveis em água e solúveis em solven-
tes orgânicos, como acetona, éter e clorofórmio.
Os lipídeos presentes no sistema biológico constituem um grupo de com-
postos quimicamente diferentes entre si, porém a sua insolubilidade é carac-
terística comum e definidora de todos os lipídeos. As gorduras e os óleos são
as principais formas de armazenamento de energia em vários organismos. As
substâncias esteróis e os fosfolipídeos são elementos estruturais de grande im-
portância que estão presentes nas membranas plasmáticas das células.
Outros lipídeos:
1. Isolantes térmicos(panículo adiposo
2. Proteção contra choques mecânicos
3. Veículo para absorção de vitaminas lipossolúveis
capítulo 3 • 65
O
CH3 — (CH2)10 — C
OH
ácido láurico (12 carbonos)
O
CH3 — (CH2)16 — C
OH
ácido esteárico (18 carbonos)
O
CH3 — (CH2)7 — CH CH — (CH2)7 — C
OH
ácido oleico (18 carbonos)
O
CH3 — (CH2)5 — CH CH — CH CH — (CH2)7 — C
OH
ácido linoleico (18 carbonos)
O
CH3 — (CH2)14 — C
OH
ácido palmítico (16 carbonos)
Figura 3.1 – Estrutura química dos principais ácidos graxos livres. Fonte: www.
klickeducacao.com.br
66 • capítulo 3
cadeia de 20 carbonos e apresenta quatro duplas ligações nas posições 5, 8, 11
e 14 –, portanto, sua nomenclatura é ácido 20:4 (5,8,11,14).
Os ácidos graxos recebem essa denominação por estarem presentes nas
graxas. Mais de 50 tipos de ácidos graxos já foram identificados na natureza.
São encontrados nos alimentos e utilizados pelo corpo humano como fonte de
energia.
Os principais lipídeos presentes na corrente sanguínea são: colesterol, trigli-
cerídeos, ácidos graxos livres (AGL) e os fosfolipídeos. Devido a à sua proprieda-
de de insolubilidade em água e como 90% da parte líquida do sangue (Pplasma)
é água, os lipídeos necessitam ser transportados dentro do organismo humano,
portanto se juntam as às apoproteíinas e aos fosfolipídeos e formam sistemas
macromoleculares de transporte denominadas lipoproteínas. Após aDepois da
alimentação, os ácidos graxos são provenientes principalmente das lipoproteí-
nas quilomicron e VLDL (lLipoproteinaproteína de muito baixa densidade). No
estado de jejum, são provenientes da hidrólise dos triglicerídeos do tecido adi-
poso. Na circulação estão em uma concentração mínimna de 0,4 a 0,78 mo/L. C,
como são retirados rapidamente da circulação, contribuem muito pouco com
o perfil de lipídeos totais do plasma. Todos os AGL são transportados por uma
proteína isolada chamada albumina.
As lipoproteínas apresentam funções como: transporte de lipídeos para o
tecido adiposo e músculos na forma de triglicerídeos, transporte de colesterol
para as células periféricas, retorno do colesterol não utilizado pelas células para
o fígado. As lipoproteínas presentes no sistema biológico são: quilomicrons,
VLDL (lipoproteína de muito baixa densidade), LDL (lipoproteína de baixa den-
sidade) e HDL (lipoproteína de alta densidade) (figura 3.2).
Fosfolípidos Triacilgliceroles
Apolipoproteínas
capítulo 3 • 67
Quilomícron – são moléculas grandes de lipoproteínas sintetizadas pelas
células intestinais. São formados por 85-95% de triglicerídeos de origem exóge-
no, pequena quantidade de colesterol livre, fosfolipídios e 1-2% de proteínas.
Os quilomícrons são menos densos do que o plasma sanguíneo, portanto flu-
tuam no plasma, conferindo um aspecto leitoso a este, e assim leva à formação
de uma camada cremosa quando é deixado em repouso.
Triglicerídeos – são formados por três moléculas de ácido graxo e uma mo-
lécula de glicerol pela reação de esterificação. Os ácidos graxos que compõem
a molécula de triglicerídeos quase sempre são diferentes entre si, apresentam
número par de carbonos e cadeias alifáticas (não contêm anel aromático). A
estrutura química dos componentes como glicerol e ácido graxo livre e a molé-
cula de triglicerídeo podem ser observadas na figura 3.3.
68 • capítulo 3
H H O Grupo funcional dos ésteres
H—C—O—H H—C—O—C—R
O
H—C—O—H H—C—O—C—R
O
H—C—O—H H—C—O—C—R
H H
Glicerina Triglicerídeo
(triéster da glicerina)
Figura 3.3 – Estrutura química do glicerol, do ácido graxo livre e da molécula de triglicerí-
deo. Fonte: www.alunosonline.com.br
CH3
HO Colesterol
capítulo 3 • 69
Aproximadamente 70% do colesterol presente na corrente sanguínea são
transportados pela LDL, e uma parte significativa (15% a 25%) ésão transporta-
das pela HDL.
70 • capítulo 3
principalmente em peixes marinhos de água fria e em algumas sementes de
plantas. O ômega 6 é representado por símbolos numéricos C18:2, que podem
ser ácido linoleico, ácido gama linolênico, ácido diiomogama- linolênico, ácido
araquidônico e eicosanoides (figura 3.5).
Figura 3.5 – Estrutura química dos ácidos graxos poli-insaturados ômega-6 e 3. Fonte: bio-
biocolesterol.blogspot.com
H H H H H H H H H H H H H H H H H H
O
H — C — C — C — C — C — C — C — C — C = C — C — C — C — C — C — C — C — C — OH
H H H H H H H H H H H H H H H H
capítulo 3 • 71
Metilo Carboxilo
Ácido esteárico CH3
C 18:0
COOH
1 3 5 7 9 . . . . n - até 18
Ácido oleico CH3 COOH
C 18:1, Omega - 9
72 • capítulo 3
celulares. Os eicosanoides são moléculas altamente bioativas, com tempo de
vida curto, e são produzidos pelas próprias células que os utilizam. Essas subs-
tâncias são produzidas em resposta a estímulo fisiológico da adrenalina ou de
complexo antígeno/anticorpo. Podem também ser produzidas por estímulos
não fisiológicos, como danos mecânicos.
Os ácidos graxos que são derivados da família n-3 apresentam um potencial
inflamatório menor do que a observada na família n-6. Isto aumenta a proprie-
dade farmacológica da família n-3 no tratamento das doenças como artrite reu-
matoide, doença de Alzheimer, esquizofrenia e depressão.
Quanto ao sistema nervoso, as membranas neuronais apresentam fosfo-
glicerolipídeos ricos em ácidos graxos poli-insaturados, que são o ácido do-
cosaexaenoico (DHA) e o ácido araquidônico (AA). Estes ácidos graxos são de
grande importância na regulação da função cerebral. Quando incorporados à
membrana dos neurônios, alteram suas características físico-químicas, poden-
do participar ativamente de processos de sinalização celular, como a apoptose
e a regulação da atividade enzimática. Quando os ácidos graxos são agonistas,
agem estimulando os receptores de membrana e ativam a adenilciclase (AC) ou
a fosfolipase (FL). Como consequência, os segundos mensageiros produzidos,
que são as FL, influenciam as ações da proteína kinase, dependente de AMPc
(PKA) e da proteína kinase C (PKC), respectivamente.
O DHA é a forma predominante de ácido graxo poli-insaturado no cérebro
e é obtido a partir das reservas de ácido linolênico do corpo humano. Quando
temos quantidades inadequadas dos precursores nos períodos de formação e
amadurecimento do SNC, isso pode acarretar em prejuízos da função cognitiva
e debilidade da função neural e, portanto, sua deficiência pode estar relaciona-
da a artrite, hipertensão, diabetes mellitus, aterosclerose, trombose, infarto no
miocárdio, alguns tipos de câncer e depressão.
A literatura mostra que existe uma relação entre o conteúdo de ácidos graxos
poli-insaturados presentes no cérebro, e que a função destes compostos quí-
micos pode ser constatada a partir de experimentos comportamentais. Muitos
estudos vêm mostrando que os ácidos graxos essenciais são necessários para
o desenvolvimento do cérebro e de toda a sua funcionalidade, podendo levar
ao desenvolvimento de neuropatologias, tais como depressão e esquizofrenia.
Assim, alguns autores têm sugerido a utilização do óleo de peixe, que é rico em
ácido graxo poli-insaturado de cadeia longa, no tratamento da depressão e de-
sordens afetivas.
capítulo 3 • 73
3.3.1 Azeites vegetais de interesse farmacêutico; óleo de rícino;
manteiga de cacau; óleo de girasol e óleo de oliva
Óleo de rícino virgem – óleo gordo obtido por meio de prensagem a frio sem
água de sementes da planta chamada Ricinus communis L. Este vegetal é uma
Euforbiácea de zonas menos frias de Portugal que contém de 40% a 50% de óleo
viscoso, claro ou levemente amarelado, por ser constituído principalmente de
ricinoleico, que é um glicerídeo de um ácido hidroxilado, pouco solúvel em éter
de petróleo e solúvel em álcool e ácido acético glacial.
O óleo de rícino tem atividade purgativa, usado em medicina popular entre
15 ml a 16 ml. Atua fazendo uma limpeza no cólon, porém não serve para trata-
mento de prisão de ventre.
É utilizado pela indústria na fabricação de sabões e detergentes. Do óleo
de rícino se obtém o ácido undecilênico, que é utilizado como fungicida e para
obtenção de óleo de rícino hidrogenado.
Manteiga de cacau – tipo de gordura vegetal que pode ser obtida a partir
da prensagem dos cotilédones das sementes, sendo o principal produto do ca-
caueiro, que é comercializado após a fermentação e secagem do fruto. É bastan-
te utilizada na indústria farmacêutica, cosmética e alimentícia para produção
de chocolates.
74 • capítulo 3
A manteiga de cacau é composta predominantemente pelos ácidos graxos:
ácido oleico (c18: 1) de 31 a 37%; ácido esteárico (c18: 0) de 32 a 37%; ácido pal-
mítico (c16: 0) de 24 a 29% e o ácido linoleico (C18: 2) de 02 a 05%.
Esse tipo de gordura vegetal é utilizado em preparações de supositórios e
óvulos. Apresenta propriedades emolientes, podendo ser usadas em queima-
duras e como protetor solar.
capítulo 3 • 75
proteção contra doenças cardíacas, pois controla o LDL e eleva o HDL, portanto
age como agente protetor das artérias coronárias, retardando a aterosclerose.
O óleo de oliva é composto por: ácido linolênico (C18: 2) até 0,9%; ácido li-
noleico (c18: 2) de 3,5 a 20% e ácido oleico (c18: 1) de 56 a 85%. É um excelente
emoliente, podendo ser usado na preparação de loções, sabonetes, cremes re-
generativos e óleo de banho. É utilizado também na indústria alimentícia, na
preparação de biscoitos, em cápsulas nutricosméticas e bombons.
3.3.3 Ceras
As ceras são lipídios simples formados por uma molécula de álcool que se en-
contra ligada a uma ou mais moléculas de ácidos graxos. Apresentam alto peso
molecular, com cadeia carbônica linear, são solúveis em substâncias gorduro-
sas e solventes orgânicos como terebentina, éter, benzina e clorofórmio. Quan-
do expostas a uma temperatura a partir de 35 °C, são maleáveis.
Sua densidade é próxima à da água, são insolúveis em água e atuam como
isolantes elétricos.
Pela sua insolubilidade em água, são úteis às plantas. Observa-se que as fo-
lhas de várias plantas têm sua superfície envolta pela cera, tornando-as imper-
meáveis, evitando assim perda excessiva de água pela transpiração. São úteis
também para os animais, pois o corpo de algum deles, como as aves aquáticas,
têm suas penas recobertas de ceras produzidas pelas glândulas uropigianas,
que são utilizadas para facilitar a sua flutuação. Nos seres humanos, são úteis
no sistema auditivo, no qual as ceras (ou cerume) são produzidas e expelidas
pelas glândulas sebáceas, desempenhando função protetora contra infecções
por microrganismos.
76 • capítulo 3
Na indústria, as ceras são aplicadas para a produção de sabões, graxas para
sapato, ceras para assoalhos, verniz, velas. Também é utilizada na área de cos-
méticos, depilatórios e medicamentos.
Para fins medicinais, é observado o uso da cera de abelha. Quando ela é
mascada pura, pode eliminar resíduos de nicotina na boca e tártaro nos dentes.
A literatura constata também que, quando mascada com mel, pode ser eficaz
nos casos de sinusite e outros tipos de reações alérgicas.
Existe um gênero de bactérias chamado Mycobacterium que apresenta um
tipo de cera chamado ácido micólico na sua parede celular, que confere imper-
meabilidade à célula. Essa cera faz com que a célula não responda à coloração
de Gram.
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Porto Alegre: 2ª edição. Ed. Artmed,. Porto Alegre, 2008.
78 • capítulo 3
4
Quinonas
80 • capítulo 4
4.1 Quinonas
As quinonas são metabólicos derivados da oxidação de fenóis. São caracteriza-
das por possuírem duas carbonilas conjugadas com no mínimo duas duplas
ligações. As substâncias pertencentes a este grupo, na maioria, quando livres,
geram produtos coloridos; por esta razão antigamente eram amplamente em-
pregadas como corantes. Sua coloração varia de amarela a vermelha, entretanto
algumas quinonas podem apresentar a cor azul ou verde, sendo que antronas
e antranóis costumam ser laranja ou vermelhos, e as naftodiantronas, roxas.
As quinonas estão presentes em várias espécies vegetais, principalmen-
te as pertencentes às famílias Rubiaceae, Caesalpiniaceae, Rhamnaceae,
Polygonaceae, Liliaceae, Verbenaceae, Asphodelaceae, Bignoniaceae,
Juglandaceae, Plumbaginaceae, Boraginaceae, Lythraceae Ebenaceae,
Droseraceae, Myrsinaceae, Boraginaceae, Iridaceae e Primulaceae, mas tam-
bém podem ser encontradas em algumas bactérias, fungos, liquens ou ainda
em insetos como a cochonilha.
O
O
O
O
1,4-benzoquinona (p-benzoquinona) 1,2-benzoquinona (o-benzoquinona)
O O
O O
1,4-natotoquinona 9,10-antraquinona
O
capítulo 4 • 81
O O
1,4-natotoquinona 9,10-antraquinona
O
O
Naftodiantrona
4.3 Biossíntese
As quinonas podem ser sintetizadas a partir de várias rotas. Uma delas é por meio
da acetilação do ácido succinilbenzoico, pela ação da coenzima A. As 1,8-di-hidro-
xiantraquninonicos e as naftoquinonas podem ser geradas via acetato/malonato.
Acetil-ACP
O S — R1 O O O + CO2
HO O + HO S — R1 CH S — R1
Malonil-ACP OH
O
S — R1
O
OH O OH O O O O
O O O + CO2
OH
H3C S — R1
HO OH O CH3
O O O
O
frangulaemodina
82 • capítulo 4
4.5 Detecção de quinonas
4.5.1 Reação de Borntranger
capítulo 4 • 83
Na fase orgânica, acrescentar 10 ml de amônia diluída e observar a colo-
ração, que deve ser vermelha na presença de O-heterosídeos. Na fase aquosa,
acrescentar 5 g de cloreto férrico e aquecer em banho-maria por 30 minutos,
esfriar e transferir para um funil de separação para proceder a extração com 20
ml de clorofórmio. Lavar a fração clorofórmio com água, e por fim acrescentar
10 ml de solução de amônia diluída. Na presença de C-heterosídeos, a camada
aquosa apresentará a coloração vermelha.
4.5.3 Microssublimação
OCH3
C6H11O5 — O
84 • capítulo 4
Técnica: adicionar 0,1 g de ruibarbo em um tubo de ensaio, acrescentar 5 ml
de etanol absoluto e agitar vigorosamente. Após repouso de 5 minutos, umede-
cer um pedaço de papel de filtro com o extrato, secar e observar em luz ultravio-
leta. A reação será considerada positiva se ocorrer uma fluorescência azulada.
PROPRIEDADE
QUINONA ESTRUTURA QUÍMICA BIOLÓGICA/
FARMACOLÓGICA
O CH3
H3C
O
Ação contra insetos e
primina
tripanossomatídeos
capítulo 4 • 85
PROPRIEDADE
QUINONA ESTRUTURA QUÍMICA BIOLÓGICA/
FARMACOLÓGICA
O H CH3
Ação contra
perezona
H3C OH tripanossomatídeos
O
H3C CH3
CH3 O
O
Ação contra
Mansonona A
CH3 tripanossomatídeos
H3C CH3
CH3 O
O
Ação contra
Mansonona C
CH3 tripanossomatídeos
H3C CH3
CH3 O
O
Ação contra
Mansonona E
CH3 tripanossomatídeos
O
H3C
86 • capítulo 4
PROPRIEDADE
QUINONA ESTRUTURA QUÍMICA BIOLÓGICA/
FARMACOLÓGICA
CH3 O
O
Ação contra
Mansonona F
CH3 tripanossomatídeos
O
H3C
OH O
4.7 Antraquinonas
4.7.1 Características químicas
capítulo 4 • 87
8 e grupo cetona nos carbonos 9 e 10. Geralmente encontram-se associadas a
moléculas de açúcares.
antraquinona antrona
O OH O
red. red.
oxi. oxi.
H H
O O
red. antranol red.
oxi. oxi.
O
OH O
isomerização
H H
OH H OH
antra-hidroquinona oxantrona
O
diantrona
88 • capítulo 4
O uso abusivo de antraquinonas pode levar à redução do tônus intestinal,
pois ocorre a perda de eletrólitos, e como consequência pode dificultar o fun-
cionamento do intestino. A diminuição de potássio pode ocasionar problemas
renais e neuromusculares e ainda potencializar medicamentos cardiotônicos.
Acredita-se que as antraquinonas no estado reduzido tenham maior ativi-
dade laxante, entretanto elas seriam as principais responsáveis pelos efeitos
como cólica e vômito.
O paciente que emprega as antraquinonas pode desenvolver fissuras anais,
hemorroidas, cólicas e lesões na mucosa intestinal. Devido ao efeito oxitócico,
não deve ser empregado por gestantes, pois pode levar ao aborto.
• Sene
A espécie Senna alexandrina Mill. (figura 4.5) é amplamente empregada devi-
do às suas propriedades laxativas. Os frutos e as folhas desta espécie são ricos
em glicosídeos antranoides. Todavia, as folhas são mais empregadas, pois es-
tas contêm maior porcentagem de aloe-emodina (figura 4.6), substância que
apresenta maior atividade laxante. São encontradas ainda nesta droga vegetal
os senosídeos A-F, que, devido ao procedimento de secagem, originam diantro-
nas e antraquinonas correspondentes e podem interagir formando novos com-
postos, como a reína-antrona e a aloe-emodina-antrona (figura 4.6).
capítulo 4 • 89
OH O OH OH O OH
OH
H H H H
reína-antrona aloe-emodina-antrona
OH O OH HO O OH
O O
HO
H OH H
H H
OH O OH OH O HO
(+) senidina A SS ( - ) senidina A RR
OH O OH
HO H OH
H
OH O OH
(meso) senidina B RS
OH O OH
OH
H H
aloe-emodina-antrona
90 • capítulo 4
Um estudo realizado em pessoas com constipação intestinal que emprega-
ram geleia sem açúcar contendo Senna alexandrina e Cassia fistula constatou
que tal produto foi eficaz e seguro no tratamento da constipação crônica.
De acordo com experimentos realizados, acredita-se que uma das melhores
formas para a extração de Senna alexandrina seja por maceração com aqueci-
mento (60oC) e agitação, empregando como solvente o etanol.
• Cáscara-sagrada
A espécie Rhamnus pursiana DC., conhecida popularmente como cáscara-
sagrada, apresenta atividade laxativa mais suave que a do sene. Os principais
hidroxiantracênicos presentes nas cascas do caule desta espécie são os casca-
rosídeos (figura 4.7). No entanto, para que possa ser utilizada, a cáscara-sagra-
da precisa passar por um processo de secagem a 100 oC por 1-2 horas ou ser
estocada por no mínimo um ano, para a eliminação de antronas, que podem
ocasionar vômito e contrações.
O emprego da cáscara-sagrada por um período prolongado pode causar a
perda de nutrientes e desequilíbrio eletrolítico. Portanto, não é recomendado o
uso constante desta planta.
capítulo 4 • 91
R—O O OH R—O O OH
OH OH
H R R H
cascarosídeo A cascarosídeo B
R—O O OH R—O O OH
CH3 CH3
H R R H
R= β-D-gli cascarosídeo C cascarosídeo D
• Ruibarbo
No ruibarbo (Rheum palmatum L. e Rheum officinale Baill) são encontra-
das várias antraquinonas, como frângula-emodina, reína, aloe-emodina, criso-
fanol e ficsiona (figura 4.9), que são as principais responsáveis pela atividade
laxativa da planta.
Existe uma espécie conhecida como ruibarbo-rapônico ou ruibarbo de jar-
dim que é empregada para fazer adulteração em produtos comerciais. Essa ati-
tude é especialmente problemática, devido à presença de rapontigenina e de
teores altos de ácido oxálico (este último pode causar problemas renais).
OH O OH OH O OH
CH3 OH CH3
O O
crisofanol emodina
OH O OH OH O OH
O OH
CH3 O O OH
aloe-emodina
OH O OH
O OH
reína
92 • capítulo 4
• Babosa
O látex dessecado da babosa (Aloe ferox Mill., Aloe vera (L.) Burm. f.) é rico
em derivados antraquinônicos e, consequentemente, apresenta atividade laxa-
tiva. Este produto é diferente do gel de babosa, amplamente empregado pela
medicina popular, pois o gel é preparado a partir da mucilagem presente nas
folhas da babosa. Dentre os derivados hidroxiantracênicos do aloe, podem ser
citadas a aloína A, aloína B, alonosídeo A e alonosídeo B (figura 4.9).
OH O OH OH O OH
OH OH
H R1 R1 H
R1= β-D-Gli aloína A aloína B
R2= α-L-ram OH O OH OH O OH
R2 R2
O O
R1 H H R1
aloinosídeo A aloinosídeo B
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http://snowbirdpix.com/montana_plant_page.php?id=1417
94 • capítulo 4
5
Terpenoides e
Saponinas
96 • capítulo 5
5.1 Terpenoides
Os terpenoides são constituídos por uma unidade básica de 5 carbonos de-
nominada isopreno (figura 5.1) ou 2-metil-1,3-butadieno, que se unem pelos
carbonos 1 e 4 geralmente. A união de dois, três, quatro, seis, oito ou vários
isoprenos forma respectivamente os monoterpenos, sesquiterpenos, diterpe-
nos, triterpenos, tetraterpenos ou terpenoides poliméricos. Esta classe farma-
cognóstica constitui um dos maiores grupos de metabólitos secundários de
origem vegetal. São encontrados em muitas gimnospermas e angiospermas.
São também denominados de isoprenoides, por serem obtidos a partir da con-
densação de isoprenos.
Os monoterpenos e os sequiterpenos, em conjunto com os fenilpropanoi-
des, são os principais constituintes dos óleos essenciais (item 5.2). Os diterpe-
nos têm como principais representantes o fitol e o paclitaxel, sendo que este
último é reconhecido devido às suas propriedades antineoplásicas. Alguns tri-
terpenos fazem parte dos grupos das saponinas (item 5.3). Os tetraterpenos são
representados principalmente pelos carotenoides, responsáveis pela coloração
amarela ou alaranjada de alguns vegetais.
CH3
CH2
H2C
capítulo 5 • 97
O HO CH ATP ADP O HO CH
3 3
HO OH HO O – PH2
5-fosfato de ácido 3R
ácido 3 -R (+)-mevalônico
(+)-mevalônico
ATP
ADP
CH3 ADP ATP O HO CH
3
HO O — PH HO O – PH2
-CO2 -HOP
5-Difosfato de ácido 3 R
Difosfato de isopenila PH2 PH2
(+)-mevalônico
isopentila
isomerase
CH3
H3C O — PH
dimetilalilpirofosfato PH2
hidrólise
CH3 CH3
H3C OH
geraniol
Figura 5.2 – Biossíntese de terpenoides a partir do ácido mevalônico. Fonte: SARKER, 2009.
98 • capítulo 5
O — PH — PH2 H2C
O — PH — PH2
+ CH3
Pirofosfato de isopentenila
H3C CH3
Pirofosfato de dimetilalila
CH3
CH3
H3C
O — PH — PH2
O — PH – PH2 CH3
CH3
Monoterpenos Sesquiterpenóides
H3C
O — PH — PH2
CH3 CH3
CH3
CH3
CH3 O — PH – PH2
CH3
H3C CH3 O — PH – PH2 CH3
Pirofosfato de geranil-geranila
Pirofosfato de farnesilo
Diterpenóides
capítulo 5 • 99
5.1.2 Monoterpenos
H3C OH CH3
H3C
geraniol
monoterpeno acíclico (+) α-pineno
monoterpeno cíclico
CH3 CH3
HO
(+)-α-felantreno
(-)-mentol monoterpeno - álcool
monoterpeno - hidrocarboneto
5.1.2.1 Iridoides
100 • capítulo 5
Esse grupo se subdivide ainda em iridoides glicosilados, iridoides não glico-
silados e secoiridoides (figura 5.6).
a) Gengiopicrósido
O O
O
H
CH2 O — R
R - glucose
b) Secologanósido
O O O
CH3
H
O
H
CH2 O—R
capítulo 5 • 101
HO
O O
O
HO H O — CH3
H3C O
O R
R - glucose
CH3
Valepotriatos
Acevaltrato - R1 = H3C
O CH3 CH3
R2 O O CH3
O
O R2 = H3C O
O
O H CH3
O R1 CH3
O CH3
Valtrato - R1 e R2 = H3C
CH3
Figura 5.8 – Substâncias químicas presentes na valeriana. Fonte: CUNHA, ROQUE, 2010.
102 • capítulo 5
5.1.3 Sesquiterpenos
CH2 OH
H3C OH
CH3
CH2
H3C
CH3 CH3
H3C CH3
(−)−α−bisabolol Germacreno A
CH3 CH3
CH3
CH3
CH3 CH2 CH3
H3C
Biciclogermacreno Germacreno D
5.1.4 Diterpenos
capítulo 5 • 103
Muitos diterpenos são empregados na terapêutica: o paclitaxel tem ativi-
dade antineoplásica; a forscolina tem propriedades hipotensoras; os ginkgó-
lideos são empregados para a diminuição da fragilidade capilar; os tocoferóis
têm ação antioxidante.
CH3
CH3
CH3
H3C CH3
OH
H3C CH3
CH3
8, 13-Abietadieno
CH3
Fitol
OH
H3C CH3
O CH3
H3C O
CH3
H3C CH3
CH3
CH3
O
CH3 CH3
Helioporina E
Ambliofurano
• Ginkgo
A espécie Ginkgo biloba L. é amplamente empregada no tratamento de
doenças vasculares periféricas, principalmente para melhorar a circulação no
104 • capítulo 5
cérebro. Acredita-se que os constituintes desta droga promovam a inibição do
fator de agregação plaquetária. Desta forma, deve-se evitar o seu uso em conjunto
com outros fármacos que promovam a mesma ação. O ginkgo pode diminuir a
concentração plasmática de omeprazol. Testes realizados com extrato de ginkgo
em ratas comprovaram a eficácia desta planta para o tratamento de osteoporose.
• Teixo
A partir das cascas de Taxus brevifolia Nutt., foi isolado o paclitaxel (regis-
trado com o nome taxol), um diterpeno com propriedades anticancerígenas.
Outras espécies do gênero Taxus (Taxus media Rehder e Taxus baccata L.) tam-
bém têm um elevado conteúdo de paclitaxel, e ainda o docetaxel, também em-
pregado como antineoplásico.
5.1.5 Triterpenos
CH2
H3C
H
H CH3
HO
H3C CH3
Lupeol
capítulo 5 • 105
5.1.6 Tetraterpenos
H3C
CH3 CH3
H3C CH3
H3C CH3
CH3 CH3
CH3
β-caroteno
106 • capítulo 5
acordo com o horário da colheita, o período do ano, o índice pluviométrico e
demais fatores edafoclimáticos.
Podem ser extraídos da planta por diversos métodos, entretanto aqueles
que realizam o aquecimento da planta empregando altas temperaturas podem
gerar artefatos, modificando a composição química da essência resultante. A
escolha da metodologia varia de acordo com a espécie e a localização do óleo na
planta. A extração por enfleurage e por arraste de vapor foram os métodos mais
empregados para a obtenção de óleos voláteis. Atualmente, a enfleurage é em-
pregada apenas em poucos tipos de extrações para obtenção de essências para
perfumes. Sua principal vantagem é o não aquecimento durante a extração. A
extração com solventes orgânicos como éter e diclorometano também é utiliza-
da, entretanto ocorre a retirada de outros constituintes lipofílicos, diminuindo
assim a pureza do produto obtido. A prensagem é utilizada na extração, prin-
cipalmente quando a essência está presente em pericarpos de frutos cítricos.
Atualmente, muitas indústrias têm preferido realizar a extração empregando
fluido supercrítico, pois tal metodologia promove uma retirada mais eficaz dos
ativos e utiliza temperaturas brandas. A descrição das metodologias de extra-
ção foi descrita no capítulo 1.
Devido ao alto custo dos óleos essenciais, frequentemente são encontradas
no comércio falsificações empregando compostos sintéticos, misturas com
óleos de menor valor comercial ou até mesmo a falsificação total, em que são
adicionadas substâncias sintéticas em um solvente para produzir o mesmo aro-
ma que a essência original.
capítulo 5 • 107
acidimétrica de ésteres de terpenoides após saponificação, determinação de
terpenoides cetônicos e aldeídos através de titulação oximétrica, determinação
volumétrica de fenóis, determinação espectrofotométrica.
Comumente é realizada a análise do teor de óleo essencial. Muitas mono-
grafias de plantas aromáticas especificam uma porcentagem mínima de essên-
cia que deve estar presente na planta. Para o desenvolvimento desta metodo-
logia, geralmente emprega-se um equipamento denominado Clevenger, que
realiza a extração e a determinação do rendimento. No Clevenger, o doseamen-
to é realizado de acordo com os princípios da extração por arraste de vapor, e,
dependendo da densidade do óleo volátil, deve ser empregado um tipo de vidra-
ria (figura 5.13).
Condensador Condensador
(dedo frio) (dedo frio)
Figura 5.13 – Desenho esquemático de clevenger para óleos essenciais mais densos
que a água e para menos densos que a água. Fonte: http://www.sbfgnosia.org.br/Ensino/
drogas_aromaticas.html
108 • capítulo 5
Técnicas:
1 mL – 100g de planta
0,2 mL – x
X= 20 g de amostra a ser utilizada para a obtenção de 0,2 ml de óleo essencial
CONEXÃO
Outras variações desta metodologia podem ser encontradas facilmente no site da Sociedade
Brasileira de Farmacognosia:
http://www.sbfgnosia.org.br/Ensino/drogas_aromaticas.html
capítulo 5 • 109
• Presença de óleo fixo – teste qualitativo
Em um tubo de ensaio, colocar 4 gotas do óleo essencial e 2 gotas de éter
dietílico, agitar e acrescentar uma gota da mistura em 3 regiões diferentes em
um papel de filtro, secar o papel de filtro por 15-20 minutos em estufa a 100 ºC.
Se ocorrer a presença de mancha gordurosa translúcida, é indicativo de adulte-
ração por óleo fixo.
Anti-inflamatório Camomila
110 • capítulo 5
5.2.2.1 Plantas ricas em óleos essenciais
• Laranja doce
O óleo essencial de Citrus sinensis (L.) Osbeck pode ser extraído do pericar-
po do fruto da laranja e é frequentemente empregado na indústria de perfumes.
Este óleo é rico em limoneno (92-97%), entretanto não deve conter bergapteno
(furanocumarina de ação fototóxica).
• Limão
A essência do limão é obtida principalmente da espécie Citrus limon (L.)
Burman f. e utilizada em indústrias alimentícia como aromatizante. Não é em-
pregada no preparo de perfumes devido ao alto conteúdo de furanocumarinas,
que são fototóxicas e responsáveis por grande número de casos de queimadu-
ras em pessoas que manipularam o limão e não retiraram a planta da pele antes
de se expor ao sol.
• Alecrim
O óleo volátil de alecrim é obtido das folhas inteiras ou fragmentadas da
espécie Rosmarinus officinalis L., sendo que as folhas secas devem apresentar
rendimento de 12 mL/Kg. O alecrim é muito empregado na medicina popular
para o tratamento de gases e perturbações digestivas. O óleo essencial da mes-
ma planta tem atividade rubefaciente.
• Alfazema
O óleo essencial de Lavandula angustifolia Mill. é muito empregado na
indústria de perfumes. Na terapêutica é utilizado no tratamento de infecções
respiratórias e como antiespasmódico. Pode ser utilizado em inalações para
diminuir os sintomas da sinusite e gripes. Externamente é empregado como
cicatrizante e rubefaciente.
• Hortelã-pimenta
A essência de Mentha piperita L. é frequentemente utilizada como flavori-
zante em alimentos, produtos de higiene bucal, ou ainda no tratamento de pro-
blemas respiratórios.
capítulo 5 • 111
5.3 Saponinas
As saponinas são caracterizadas por terem uma parte lipofílica (triterpênica ou
esteroidal) e outra parte hidrofílica (açúcares), e por isso possuem como prin-
cipais propriedades a capacidade de reduzir a tensão superficial da água, ação
detergente e emulsificante.
5.3.1 Classificação
A classificação das saponinas pode ser feita devido ao caráter ácido, básico ou
neutro, de acordo com o núcleo fundamental (triterpênicas ou esteroidais – fi-
gura 5.14), ou ainda considerando o número de cadeias de açúcares conjugadas
(monodesmosídicas, bidesmosídicas).
CH3 CO2H
O
O
O
O
H
H
H H
HO HO
H
hecogenina ácido glicirrético
a) b)
As saponinas esteroidais apresentam 4 anéis formados por 27 carbonos e
são derivadas do pirofosfato de isopentenila. Podem ter como estrutura bási-
ca o espirostano, o furostano (podem ser convertidas por hidrólise em espi-
rostano), ou alcaloidal (esteroidais básicas pertencem ao grupo dos alcaloides
esteroidais).
112 • capítulo 5
5.3.2 Métodos de análise
Técnicas:
• Teste de espuma
Preparar um decocto com 2 g de droga vegetal e 10 ml de água, fervendo
por apenas 3 minutos. Filtrar e transferir para um tubo de ensaio, agitar por
15 segundos. A prevalência de espuma por mais de 15 minutos é um indicativo
da presença de saponinas na planta.
• Índice de espuma
Este teste verifica a diluição necessária para que 1 g de droga vegetal produ-
za 1 cm de espuma.
Realizar a fervura de 5 g de planta com 100 ml de água por 5 minutos, man-
tendo a solução em pH neutro. Esfriar e filtrar para um balão volumétrico de
200ml, lavando o resíduo até completar o volume. Distribuir o extrato obtido
em 10 tubos de ensaio, conforme a tabela 5.2. Agitar os tubos individualmente
por 15 segundos e observar qual tubo obteve 1 cm de espuma após 15 minutos
da agitação.
capítulo 5 • 113
Para o cálculo do índice de espuma, proceder por meio das seguintes regras
de três:
Muitas saponinas são capazes de complexar com esteroides, podendo ter uma
ação antifúngica ou hipocolesterolemiante. Outras saponinas são descritas
com atividade anti-inflamatória e antiviral. Acredita-se que esta classe farma-
cognóstica seja capaz de produzir uma irritação no trato respiratório, promo-
vendo a fluidificação e a eliminação do muco. A prímula, a hera, a grindélia e
a salsaparrilha são frequentemente empregadas, devido a suas propriedades
expectorantes.
114 • capítulo 5
NOME NOME CARACTERÍSTICAS
POPULAR CIENTÍFICO
capítulo 5 • 115
NOME NOME CARACTERÍSTICAS
POPULAR CIENTÍFICO
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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http://www.sbfgnosia.org.br/Ensino/saponinas.html
capítulo 5 • 117
118 • capítulo 5
6
Cardiotônicos
120 • capítulo 6
6.1 Cardiotônicos
São compostos químicos esteroides caracterizados pela alta especificidade e
poderosa ação exercida no músculo cardíaco. Ocorrem como glicosídeos es-
teroidais e são denominados de glicosídeos ou heterosídeos cardioativos ou
cardiotônicos.
Do ponto de vista farmacológico e estrutural, são compostos químicos de
alta homogeneidade e perfeitamente individualizados.
A primeira publicação quanto à ação cardiotônica se deu em 1799 pelo
médico escocês John Ferriar, que atribuiu às substâncias digitálicas uma
ação cardiotônica.
Em 1835, o cientista francês Jean Théophile Homolle preparou pela primei-
ra vez um extrato purificado das folhas de uma planta conhecida como Digitalis
purpurea L., e outro cientista, chamado Claude-Adolphe Nativelle, em 1868, cris-
talizou a digitalina, que nos dias de hoje ainda é empregada terapeuticamente.
Somente no início do século XX, após esforço de vários pesquisadores, fo-
ram elucidados a estrutura e o perfil farmacológico dos glicosídeos digitálicos.
No entanto, apenas nos últimos 70 anos é que foi definido o seu emprego e este
tipo de substância química foi eleita como a classe de medicamentos de esco-
lha para tratamento de insuficiência cardíaca congestiva.
Os cardiotônicos apresentam como principal caracterísitca farmacológica
a capacidade de prolongar o tempo de condução auriculoventricular, devido ao
aumento da força de contração da fibra miocárdica promovida por eles.
No reino vegetal, são restritos ao grupo de plantas chamadas Angiospermas.
Essas plantas são conhecidas como espermatófitas e apresentam a semente
protegida por uma estrutura chamada fruto.
Os cardiotônicos estão distribuídos em algumas famílias, que são:
Scrophulariaceae (Digitalis); Apocynaceae (Acokanthera, Adenium,Nerium,
Apocynum, Strophanthus e Thevetia); Liliaceae (Asphodelaceae); Ranunculacae
(Helleborus e Adonis), podendo ocorrer também nas famílias Brassicaceae,
Celastraceae, Fabaceae, Moraceae e Tiliaceae.
Esssas plantas apresentam heterosídeos cardiotônicos em todos os seus
órgãos, geralmente numa proporção inferior a 1%. Também podem ser en-
contradas no reino animal, como os elidópteros (lagartas) e os anfíbios (Bufos
capítulo 6 • 121
spp). Ambos atuam como toxinas ou venenos contra predadores, porém nas la-
gartas os cardiotônicos presentes são provenientes de uma planta da família
Asclepiadaceae, que é fonte de alimento desses animais.
Ainda segundo a literatura, alguns besouros (Chrysolina spp) conseguem
sintetizar glicosídeos cardioativos a partir de fitoesteróis provenientes da
sua alimentação.
22 23
O 22 23
20 20 24 O
21 21
18 O 18 O
12 17 17
11 13 16 13 16
19 C 14 D 15 14
D 15
1 9
2 10 8
3
A 5
B 7
4 6
Cardenólido Bufadienólido
122 • capítulo 6
Glúcosido cardiotónico
O Lactona
O
Lactona
CH3 Terpénica
CH3 OCOCH3
OH Terpeno
CH3 O
OCH3
O
OH
D-Digitoxosa
capítulo 6 • 123
De acordo com o tamanho do anel lactônico, as geninas podem distinguir-
se em dois tipos diferentes. Como mencionado anteriormente (figura 6.1), as
geninas com anel lactônico com 4 carbonos são classificadas como cardenolí-
deos (C-23) e são as mais abundantes na natureza. As geninas que apresen-
tam anel lactônico formado por 5 carbonos são chamadas de bufadienolídeos
(C-24) e são mais raras.
É observada também uma variedade estrutural que depende dos radicais
presentes na molécula. Na figura 6.3 estão apresentados os vários tipos de es-
trutura das geninas esteroidais cardioativas presentes nas plantas. a) sarmen-
togenina apresenta OH- no C-11α. b) digoxigenina apresenta OH- no C-12β.
c) gitoxigenina apresenta OH- no C-16β. d) k-estrofantidina apresenta OH- no
C-5β. e) ouabagenina apresenta OH- em várias posições. f) gitaloxigenina apre-
senta uma OH- esterificada pelo ácido fórmico. g) oleandrogenina apresenta
OH- esterificada pelo ácido acético.
O O O O
a) b)
HO
HO
OH OH
HO HO
O O
O O
c) d)
CCH
OH
OH
OH
HO
HO OH
124 • capítulo 6
O O
O O
e) f)
O
HO OH H
O—C—H
OH
H
OH H OH
HO HO
OH H
O O
g)
O
OH
O
HO
Figura 6.3 – Tipos de estrutura das geninas esteroidais cardioativas. Fonte: RATES, BRIDI,
2010.
OH OCH3 OH OH
capítulo 6 • 125
CH3 CH3
d) e)
HO O OH O
OH OCH3
OH OH
OH OH
Figura 6.4 – Tipos de resíduos de açúcar presentes nos heterosídeos cardiotônicos. Fonte:
RATES, BRIDI, 2010.
126 • capítulo 6
6.3.1 Pesquisa de glicosídeos cardioativos
• Reação de Pesez
Adicionar à cápsula de porcelana 3 gotas de H2PO4 concentrado;
Misturar lentamente com um bastão de vidro;
Em seguida observar em luz ultravioleta.
• Reação de Keller-Kiliani
Adicionar à cápsula de porcelana 3 ml do reativo de Keller (1 parte de ácido
acético e 1 parte de solução de cloreto férrico a 5%) ;
Misturar lentamente com um bastão de vidro;
Verter lentamente para tubo de ensaio que já deverá conter 2 mL de reativo
de Kiliani (100 partes de H2SO4 para 1 parte de solução de cloreto férrico a 5%)
(para o preparo do reativo deverá ser usado ácido sulfúrico concentrado direto).
capítulo 6 • 127
Observação: a reação é positiva somente se for um desoxiaçúcar que estiver
na extremidade glicídica. Se na extremidade tiver uma glicose ou outro açúcar,
a reação será negativa, mesmo que na molécula tiver outros desoxiaçúcares em
diferentes posições.
• Reação de Kedde
Esta reação é utilizada para se dissociar o anel lactônico pentacíclico in-
saturado (cardenólido) em meio alcalino. Após a sua dissociação, ele se une
ionicamente com um reagente nitrado, que pode ser o ácido dinitrobenzoico
ou pícrico.
Deverão ser adicionados ao resíduo de uma das cápsulas de porcelana 2 ml
de solução de etanol a 50%, 2 ml de H2O destilada, 2 ml do reativo de Kedde e
2 ml de solução de KOH 1N.
Em seguida misturar bem e deixar em repouso durante 5 minutos.
128 • capítulo 6
Figura 6.6 – Caracterização microscópica da D. purpurea. Fonte: http://www.sbfgnosia.org.
br/Ensino/drogas_cardioativas.html
capítulo 6 • 129
Na ICC há uma redução da contratabilidade, com consequente aumento da
frequência cardíaca. Em seguida, ocorre vasoconstrição, diminuição do débito
renal e, como consequência, aparecem a retenção de sódio (Na+) e H2O e o ede-
ma. Com o uso dos cardiotônicos, melhora o retorno venoso, a diurese aumen-
ta, o consumo de oxigênio diminui e a frequência cardíaca é retardada.
No miocárdio, os glicosídeos cardioativos exercem a sua atividade agindo
sobre a condutibilidade, contratabilidade e automaticidade. Os efeitos são tra-
duzidos por meio de uma modificação eletrocardiográfica, que pode ser obser-
vada durante o tratamento.
Quanto à sua toxicidade, os cardiotônicos têm baixo índice terapêutico,
pois altas concentrações podem causar efeitos tóxicos. Observa-se que ní-
veis plasmáticos de digoxina acima de 2,5 ng/ml podem produzir sintomas
de toxicidade, portanto o tratamento deve ter um acompanhamento clínico.
Normalmente são pacientes em uso crônico desse tipo de droga que apresen-
tam as intoxicações, que pode ser por excesso que levará ao acúmulo, o que
ocorre com dosagens consideradas terapêuticas ou pela presença de fatores
predisponentes à intoxicação.
Os sintomas das intoxicações moderadas são vômitos, náuseas e anorexia.
Quanto à intoxicação aguda por doses elevadas, o paciente pode apresentar: vi-
são borrada, suor frio, diarreia, diminuição do pulso, podendo ir até 35 batidas
por minuto, convulsões podendo levar também à morte.
Portanto, devem ser usados preferencialmente os heterosídeos de ação cur-
ta e de rápida eliminação. Observar alguns fatores e situações clínicas predis-
ponentes à intoxicação digitálica, como: idade avançada, insuficiência renal
e hipotireoidismo.
Quanto à interação medicamentosa, deve-se evitar terapia concomitante
com fármacos que baixem a concentração de K+, como os mineralocorticoides
e os diuréticos. Esses tipos de medicamentos aumentam a possibilidade de to-
xicidade dos digitálicos.
Outro fator importante é que os pacientes tratados com glicosídeos cardioa-
tivos não devem fazer a ingestão excessiva de produtos que contêm cálcio.
Em caso de intoxicação por cardiotônicos, o tratamento compreende três
procedimentos principais: controle das complicações, medidas de apoio e eli-
minação do fármaco. Quanto às medidas de apoio e controle das complicações,
deverão ser administradas fenitoína e lidocaína. Em alguns casos, deverão ser
administrados quelantes de cálcio e magnésio. Quanto à eliminação do fármaco,
130 • capítulo 6
esta poderá ser feita por hemodiálise. No caso de intoxicação por ingestão volun-
tária, poderão ser utilizados medicamentos eméticos (provocam vômitos).
Segundo a literatura, já está disponível um antídoto muito eficaz contra a
intoxicação provocada por digoxina ou digitoxina. Este antídoto está na forma
de imunoterapia antidigoxina, que são fragmentos purificados do antissoro da
antidigoxina ovina.
Quanto aos efeitos adversos das drogas digitálicas, são observados: fadiga,
transtornos neuropsíquicos, cefaleia, fraqueza, depressão, sonolência, pesade-
los, confusão mental, vertigem e desorientação, mudanças de personalidade,
inquietação e mais raramente alucinações.
Tabela 6.1 – Características estruturais relacionadas com as atividades exercidas pelos he-
terosídeos cardiotônicos. Fonte: RATES, BRIDI, 2010.
capítulo 6 • 131
A atividade cardiotônica dos heterosídeos depende de toda a estrutura mo-
lecular. No ciclo lactônico, é fundamental a presença de um encadeamento do
tipo X=C-C=C, em que X é o heteroátomo. Se acontecerem modificações como:
epimerização no C-17 ou na sua insaturação, nas moléculas da γ-lactona α-β –
insaturada, como consequência ocorre a diminuição da atividade cardiotônica
dos derivados formados. A epimerização abre o anel lactônico. Sendo assim, o
isômero C-17α se torna inativo.
O anel esteroidal apresenta sua atividade máxima quando o encadeamento
dos ciclos A/B/C/D for do tipo cis/trans/cis. Sua atividade diminui quando os
ciclos A e B estão na conformação trans. Um exemplo é a uzarigenina. Se o ciclo
A estiver parcialmente insaturado, a sua atividade é ainda menor – exemplo:
heterosídeos da cila.
Quanto aos grupos substituintes, se a configuração β do C-3 for invertida,
ocorre diminuição da sua atividade, com exceção dos compostos 3- desóxi, que
ficam parcialmente inativos.
O C-14β apresenta uma conformação bem importante: a presença de uma
OH- terciária nesta posição é um fator favorável à sua atividade, porém não é
determinante. A 14-epidigitoxigenina é inativa, enquanto que a 14-desóxi-digi-
toxigenina apresenta baixa atividade.
Outro fator importante observado nos heterosídeos cardiotônicos é que a
introdução de grupamentos funcionais oxigenados promove uma baixa na ati-
vidade inotrópica positiva.
Para as subunidades osídicas, pode-se destacar maior potência dos hete-
rosídeos em relação às geninas correspondentes, porque os resíduos de oses
protegem a hidroxila do C-3β.
Quando as OH- das oses sofrem bloqueio – seja por esterificação, seja por
cetalização – promove redução da atividade inotrópica, comprovando que as
OH- contribuem com a interação entre a droga e o biorreceptor.
Os compostos que apresentam maior atividade do que seus respectivos ál-
coois são os 5-desóxi-açúcares. Isso mostra que as posições dos C-2, C-3 e C-4
de monossacarídeos e as posições do C-2 e C-3 dos dissacarídeos são fatores
determinantes para a interação específica com o biorreceptor.
Os heterosídeos cardiotônicos têm como principal reservatório o tecido
muscular. Pelo diferente grau de hidroxilação dos grupos geninas presentes na
molécula e pelo número diferente de oses formando a cadeia osídica, o coefi-
ciente de partição pode ser diferenciado.
132 • capítulo 6
Sua taxa de eliminação também é diferenciada, apresentando maior ou
menor efeito quando comparado com um cardiotônico padrão na mesma con-
centração. Um exemplo clássico é a digitoxina, que apresenta lipossolubilidade
alta e degradação hepática lenta e, consequentemente, eliminação lenta, levan-
do a atividade maior até 7 dias.
Quando se estuda a ouabaína, que apresenta 6 OH- na sua molécula, lipos-
solubilidade baixa e eliminação baixa, observa-se que sua atividade é baixa, po-
dendo ser de apenas 12 horas.
Os estudos relacionados ao grau de eliminação são importantes, pois os he-
terosídeos que têm eliminação lenta têm elevado grau de acumulação, e isso
indica que são necessários períodos maiores de repouso em uma administra-
ção prolongada.
Os heterosídeos são eliminados sob a forma de glucuronato após a ligação
com o ácido glicurônico, que é realizada no fígado. O ácido glicurônico se liga a
OH- do C-3, após a hidrólise da cadeia osídica.
capítulo 6 • 133
Figura 6.8 – Planta da família Digitalis purpurea L. - Dedaleira. Fonte:http://pelaminhasau-
de.blogspot.com.br/2012/06/veneno-ou-medicamento-nome-em-latim.html.
Estudos têm mostrado que esse tipo de planta apresenta efeitos importan-
tes sobre o sistema cardiovascular, conhecidos como efeito inotrópico positivo
porque essa especie apresenta em sua estrutra química a digitoxina e a digoxi-
na. Possui outros compostos como flavonoides, saponosídeos e antraquinonas.
A dessecação das folhas deve ser realizada rapidamente e numa tempera-
tura mais baixa possível, com muita ventilação. Assim se evita a desintegração
dos heterosídeos. A droga deve ser estocada em ambiente seco e ao abrigo da
luz, com umidade residual de 5%.
As folhas secas da Dedaleira contêm 0,3% de heterosídeos cardiotônicos.
O pó pode conter 0,36% a 0,44% de heterosídeos cardiotônicos, que podem ser
calculados como digitoxina.
Planta trepadeira das regiões tropicais, considerada uma das plantas com
maior atividade cardíaca, usada pelos povos africanos em doses tóxicas para
preparar a flechas envenenadas.
134 • capítulo 6
Espécie de planta selvagem da família das Apocynaceaes nativa da Africa
Ocidental.
A parte da planta utilizada são as sementes, que são submetidas a extração
para se obter a substância ativa chamada Estrofantidina G (figura 6.9).
capítulo 6 • 135
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136 • capítulo 6