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FARMACOGNOSIA I

autores do original
ROSILENE LINHARES DUTRA
SILVIA RAQUEL MUNDO CRIVELLI
MÁRCIO FRITZEN

1ª edição
SESES
rio de janeiro  2016
Conselho editorial  sérgio cabral, pablo farias, roberto paes, gladis linhares

Autores do original  rosilene linhares dutra, silvia raquel mundo crivelli, márcio
fritzen

Projeto editorial  roberto paes

Coordenação de produção  gladis linhares

Projeto gráfico  paulo vitor bastos

Diagramação  bfs media

Revisão linguística  bfs media

Revisão de conteúdo  karla deyse morais borges

Imagem de capa  garsya | dreamstime.com

Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta obra pode ser reproduzida ou transmitida
por quaisquer meios (eletrônico ou mecânico, incluindo fotocópia e gravação) ou arquivada em
qualquer sistema ou banco de dados sem permissão escrita da Editora. Copyright seses, 2016.

Diretoria de Ensino — Fábrica de Conhecimento


Rua do Bispo, 83, bloco F, Campus João Uchôa
Rio Comprido — Rio de Janeiro — rj — cep 20261-063
Sumário

Prefácio 7

1. Introdução à Farmacognosia 9
1.1 Histórico 11
1.2  Conceituação 12
1.3 Etnobotânica 14
1.4 Legislação 15
1.4.1  Aspectos agronômicos 17
1.4.2  Operações de secagem 18
1.4.3 Moagem 20
1.4.4  Métodos de extração 23
1.4.5  Concentração e secagem 26
1.5  Controle de Qualidade 27

2. Fotossíntese e Carboidratos 31

2.1  Fotossíntese e Obtenção de Carboidratos 33


2.1.1 Fotossíntese 33
2.1.1.1  Conceitos gerais e organização do aparelho fotossintético 34
2.1.1.2  Absorção de Luz 38
2.1.1.3  Mecanismos de transporte de elétrons, prótons e síntese de atp 39
2.1.1.4  Ciclo de Calvin 42
2.1.1.4.1  Regulação do ciclo de calvin 44
2.1.1.4.2  Enzimas dependentes de luz que regulam o ciclo de calvin 44
2.1.1.5  Ciclo fotossintético oxidativo 44
2.1.2 Carboidratos 47
2.1.2.1  Características químicas 48
2.1.2.2  Métodos de obtenção e análise 49
2.1.2.2.1  Dosagem de açúcares redutores 49
2.1.2.2.2  Dosagem de açúcares não redutores 50
2.1.2.2.3 Monossacarídeos 51
2.1.2.2.4  Usos farmacêuticos da glicose e da frutose 52
2.1.3 Dissacarídeos 52
2.1.3.1  Usos farmacêuticos dos dissacarídeos 53
2.1.4 Polissacarídeos 54
2.1.4.1  Aplicações terapêuticas de polissacarídeos e
mecanismo de ação 54
2.1.4.2  Gomas, amido, mucilagens, celulose e hemiceluloses 56

3. Ácidos Graxos e Derivados 63

3.1  Ácidos graxos e derivados 65


3.2  Biossíntese e caracterização química de ácidos graxos e derivados 70
3.3  Propriedades farmacológicas 72
3.3.1  Azeites vegetais de interesse farmacêutico; óleo de rícino; manteiga
de cacau; óleo de girasol e óleo de oliva 74
3.3.2  Fatores que alteram as propriedades dos óleos 76
3.3.3 Ceras 76
3.3.4  Métodos de detecção e análises de ácidos graxos 77

4. Quinonas 79

4.1 Quinonas 81
4.2  Classificação e nomenclatura 81
4.3 Biossíntese 82
4.4  Extração de quinonas 82
4.5  Detecção de quinonas 83
4.5.1  Reação de Borntranger 83
4.5.2  Pesquisa de compostos antraquinônicos livres e combinados 83
4.5.3 Microssublimação 84
4.5.4  Pesquisa de adulteração em ruibarbo 84
4.6  Propriedades farmacológicas e biológicas das quinonas 85
4.7 Antraquinonas 87
4.7.1  Características químicas 87
4.7.2  Relação estrutura-atividade 88
4.7.3  Mecanismo de ação e efeitos adversos 88
4.7.4  Drogas vegetais 89

5. Terpenoides e Saponinas 95
5.1 Terpenoides 97
5.1.1  Biossíntese dos terpenoides 97
5.1.2 Monoterpenos 100
5.1.2.1 Iridoides 100
5.1.3 Sesquiterpenos 103
5.1.4 Diterpenos 103
5.1.4.1  Plantas ricas em diterpenos 104
5.1.5 Triterpenos 105
5.1.6 Tetraterpenos 106
5.2  Óleos essenciais 106
5.2.1  Controle de qualidade dos óleos essenciais 107
5.2.2  Emprego terapêutico 110
5.2.2.1  Plantas ricas em óleos essenciais 111
5.3 Saponinas 112
5.3.1 Classificação 112
5.3.2  Métodos de análise 113
5.3.3  Emprego terapêutico 114
5.3.4  Plantas ricas em saponinas utilizadas na terapêutica 114

6. Cardiotônicos 119

6.1 Cardiotônicos 121
6.2  Características químicas e biossíntese 122
6.2.1  Estrutura das geninas ou agliconas 123
6.2.2  Estrutura dos resíduos de açúcar presentes nos
heterosídeos cardiotônicos 125
6.3  Métodos de obtenção e análise 126
6.3.1  Pesquisa de glicosídeos cardioativos 127
6.3.2  Caracterização microscópica de drogas cardioativas 128
6.4  Emprego farmacêutico 129
6.5  Relação estrutura-atividade 131
6.6  Drogas vegetais clássicas 133
6.6.1  Digitalis purpurea L. – dedaleira 133
6.6.2  Strophantuhs gratus (Wall. & Hook.) Franch. – estrofanto 134
Prefácio
Prezados(as) alunos(as),

O estudo da disciplina de Farmacognosia é importante para a formação do


farmacêutico, pois fornece base para o desenvolvimento de medicamentos fi-
toterápicos, derivados vegetais e medicamentos sintéticos. Por meio do estudo
dos diferentes grupos farmacognósticos, forma conhecimento também sobre
o controle de qualidade de produtos de origem vegetal, farmacologia e toxico-
logia de drogas vegetais.
No livro aqui apresentado, a disciplina de farmacognosia é dividida em seis
capítulos, para abordar os principais grupos fitoquímicos. No primeiro capítu-
lo, foram abordados um histórico sobre o desenvolvimento da fitoterapia, os
conceitos mais utilizados, bem como a legislação em vigor e os aspectos envol-
vidos no desenvolvimento de medicamentos fitoterápicos. O segundo capítulo
abordou o metabolismo primário do vegetal, descrevendo de modo simplifica-
do a fotossíntese e os aspectos de interesse farmacognóstico dos carboidratos.
Os ácidos graxos e derivados foram abordados no terceiro capítulo. No quar-
to capítulo foram mencionadas as quinonas, e em especial as antraquinonas,
com sua propriedade laxativa. No quinto capítulo, trabalharam-se os terpenoi-
des, enfocando principalmente os monoterpenos e sesquiterpenos, que, junto
com os fenilpropanoides, são os principais constituintes dos óleos essenciais.
Nesse mesmo capítulo foi abordado ainda o grupo das saponinas e suas pro-
priedades. O último capítulo deste livro foi dedicado ao grupo dos cardiotôni-
cos, abordando suas características químicas, farmacológicas e toxicológicas.
Considerando a grande importância do estudo de farmacognosia, procu-
rou-se neste livro argumentar sobre os aspectos químicos, de biossíntese, tec-
nológicos, farmacológicos e toxicológicos para preparar o acadêmico para o
exercício da profissão no que diz respeito à fitoterapia.

Bons estudos!

7
1
Introdução à
Farmacognosia
10 • capítulo 1
1.1  Histórico
Os produtos de origem vegetal são empregados pelo homem há muito tempo.
Acredita-se que as plantas foram as primeiras substâncias empregadas pela hu-
manidade para o tratamento das enfermidades. A descoberta das propriedades
curativas de cada espécie ocorria principalmente de forma empírica, ou seja,
sem um conhecimento prévio, as plantas eram empregadas para tentar tratar
as pessoas doentes e, assim, as propriedades curativas ou toxicológicas eram
descobertas e repassadas oralmente de uma geração para outra.
Existem registros do uso de plantas medicinais desde o período neolítico,
aproximadamente há 10.000 anos. Os documentos conhecidos como tábuas da
Suméria (3.000 anos a.C.) descreviam o emprego de mais de 250 espécies vege-
tais, dentre elas a papoula, a canela, o meimendro e o salgueiro. Existem do-
cumentos que relatam o uso das plantas pelos egípcios nos procedimentos de
mumificação; tal população também tinha conhecimento de plantas com pro-
priedades diuréticas, purgativas, antissépticas e vermífugas. No ano de 2000
a.C. foi escrita a matéria médica chinesa, que descrevia cerca de 365 drogas ve-
getais empregadas para o tratamento de diversas doenças. Dentre as plantas
relatadas, podem-se citar o ruibarbo, o ginseng e a efedra.
As plantas e seus derivados representaram os principais medicamentos
consumidos pela população por muito tempo. Inicialmente eram empregados
as plantas in natura, cataplasmas e chás e, posteriormente, começaram a ser
empregadas as tinturas. A partir de 1790, os cientistas começaram a procurar
isolar e identificar os componentes vegetais. Em 1806 foi isolada a morfina, a
partir da espécie Papaver somniferum L., conhecida popularmente como pa-
poula. Em 1811, foi descrito o isolamento da quinina a partir da quina. Em
1818, foi isolada a estricnina, mas apenas em 1828 foi descrita a primeira sín-
tese de uma substância orgânica, a ureia. Desta data em diante, foram isoladas
e sintetizadas várias outras substâncias, e isso representou um grande avanço
na medicina. A partir de 1950, as plantas medicinais passaram a representar
uma porcentagem menor nos medicamentos empregados, sendo substituídas
principalmente pelos medicamentos de origem sintética.
Theophrastus (370-286 a. C.), denominado “pai da botânica”, descreveu no
livro Historia plantarum as características botânicas de várias espécies medi-
cinais, facilitando, assim, o reconhecimento da planta medicinal. Galeno, no
período de 131-201 d. C., foi um dos primeiros médicos a preparar e empregar

capítulo 1 • 11
formulações, constituídas principalmente de extratos vegetais preparados em-
pregando-se água ou vinagre. Cosme e Damião, reconhecidos pela Igreja católi-
ca como santos e patronos dos farmacêuticos, contribuíram para a dissemina-
ção do procedimento de prescrição e manipulação de produtos farmacêuticos.
Eles foram perseguidos e acusados de feitiçaria.
Durante a Idade Média, muitas pessoas que empregavam a fitoterapia foram
perseguidas e acusadas de bruxas. Durante esse período, o emprego de plantas
medicinais no tratamento de enfermidades passou a ser dominado pratica-
mente pelos monges, que passaram a realizar o cultivo de espécies medicinais.
Na história do Brasil, Pero Vaz de Caminha relata, em sua primeira carta
enviada para o rei de Portugal, as propriedades medicinais de várias plantas
empregadas pela população indígena. Posteriormente, os jesuítas passam a di-
vulgar as espécies empregadas pelos nativos.
Atualmente, as plantas medicinais e seus derivados representam uma im-
portante parcela dos remédios empregados pela população, entretanto muitas
vezes os derivados vegetais são utilizados sem a indicação adequada e com a
crença de que tal produto não produz efeitos tóxicos. No entanto, as drogas ve-
getais, assim como outros medicamentos, têm toxicidade, efeitos colaterais e
podem interagir com outros tratamentos.

1.2  Conceituação
Hipócrates, pai da medicina, relatava que a cura de uma enfermidade poderia
ser obtida através da cura pelo contrário (alopatia), ou de acordo com os prin-
cípios da similitude (homeopatia). Acreditava, ainda, que a natureza sozinha
poderia encarregar-se de restabelecer a saúde. Tanto a homeopatia como a alo-
patia empregam nos tratamentos produtos de origem vegetal, animal, sintéti-
cos ou semissintéticos, porém na homeopatia tais produtos são utilizados de
forma diluída, tratando o organismo como um todo, e não apenas a doença,
seguindo o princípio da semelhança. De acordo com os princípios da similitu-
de, o medicamento capaz de tratar o indivíduo doente é aquele que provoca na
pessoa sadia os mesmos efeitos que o indivíduo doente apresenta.
Na alopatia, os fármacos são utilizados de acordo com o princípio dos con-
trários, segundo o qual, para o tratamento, são empregados medicamentos que
combatem o processo da doença, atuando de forma contrária à enfermidade.

12 • capítulo 1
Dessa forma, para o tratamento de uma febre, deve ser empregado um antitér-
mico; para o tratamento de uma infecção, utiliza-se um antimicrobiano.
A farmacognosia é a ciência que estuda os aspectos relacionados aos fárma-
cos de origem natural, investigando suas características químicas, biológicas,
botânicas e bioquímicas. Sendo assim, a farmacognosia estuda principalmen-
te os produtos de origem vegetal e animal.
As espécies vegetais com propriedades medicinais podem ser empregadas
in natura, secas, na forma de extratos ou como medicamentos fitoterápicos.
As plantas medicinais utilizadas in natura são usadas sem serem processadas.
Após sua colheita, elas são diretamente aplicadas no tratamento das enfermi-
dades. Entretanto, muitas vezes as plantas são secas, para permitir uma conser-
vação por um maior período.

Matéria-prima vegetal

Sub-produtos (óleos,
in natura Extratos
gomas, resinas etc)

Uso não tecnológico:


Uso tecnológico, industrial: indústrias de
popular ou nos serviços
medicamentos (fitoterápicos e químicos),
de saúde / organizações
alimentos, condimentos,
que trabalham com
cosméticos, perfumes, aromas, produtos
matéria-prima vegetal
químicos e fitossanitários, pigmentos etc.
(remédios) etc.

Figura 1.1  – 

Os procedimentos empregados na secagem são variados, sendo que o mé-


todo mais comumente empregado pela população é a secagem à sombra. Neste
caso, são realizadas a retirada da água livre e a inativação das enzimas. O produ-
to final é denominado droga vegetal.
Os produtos vegetais podem ainda ser utilizados no preparo de extratos
vegetais, empregando para isso métodos de extração como infusão, decocção,
maceração, turbólise, percolação ou ainda extração por fluido supercrítico. A
extração retira de uma forma seletiva os principais princípios ativos do vegetal.
Os medicamentos fitoterápicos são produtos alopáticos, que devem ter re-
gistro no Ministério da Saúde. São preparados empregando-se exclusivamente

capítulo 1 • 13
princípio ativo de origem vegetal, não pode conter princípio ativo isolado nem
sintético. Tal produto deve ter o seu efeito e sua segurança comprovados.
As plantas medicinais são constituídas por inúmeros compostos, e vários
destes têm atividade farmacológica, por isso muitas vezes os fitoterápicos são
chamados de fitocomplexos. Uma planta pode ter várias indicações terapêuti-
cas. Entretanto, a quantidade de cada componente ativo de uma espécie vegetal
pode variar, dependendo dos fatores edafoclimáticos (clima, solo, altitude, ín-
dice pluviométrico), e como consequência pode ocorrer uma alteração na efi-
cácia da droga vegetal. Para que um medicamento fitoterápico mantenha a sua
eficácia, é necessário quantificar os seus princípios ativos, e, para facilitar tal
procedimento, são selecionadas substâncias denominadas marcadores quími-
cos, que podem ser um princípio ativo ou alguma outra substância que tenha
relação direta com o efeito do fármaco.
Em alguns casos são desenvolvidos fitofármacos que são preparados a par-
tir de uma substância purificada e isolada a partir de uma planta medicinal,
sem sofrer alteração ou semissíntese. Nestes casos, a estrutura química e a ati-
vidade farmacológica são conhecidas.
Em 2014, por meio da RDC 26 de 2014, foi introduzido um novo termo para
designar alguns produtos de origem vegetal. De acordo com tal norma, são de-
nominados produtos tradicionais fitoterápicos, aqueles que são obtidos utili-
zando-se princípio ativo exclusivamente vegetal, cuja eficácia e segurança são
comprovadas por meio de dados de uso com segurança e eficácia publicados
em material científico. Tais produtos não podem ser indicados para o trata-
mento de doenças graves, bem como não deve conter substâncias tóxicas. O
produto tradicional fitoterápico não deve conter substâncias isoladas ou sinté-
ticas e deve ter registro ou notificação no Ministério da Saúde.

1.3  Etnobotânica
As plantas são empregadas para diversos fins, alimentação, tratamento de en-
fermidades, como drogas psicoativas ou como venenos. Para fazer uso destes
produtos vegetais, deve-se conhecer as suas propriedades básicas. É necessário
saber se é comestível ou se é venenoso. A etnobotânica relaciona cada espécie
com suas propriedades usuais.

14 • capítulo 1
Muitas espécies vegetais são empregadas para o tratamento de doenças há
milhares de anos, e infelizmente uma grande parcela das espécies presentes no
nosso planeta ainda não foi estudada. A etnofarmacologia é um ramo da etno-
botânica que faz o estudo das propriedades farmacológicas de espécies empre-
gadas popularmente no tratamento de enfermidades.
Vários estudos têm sido realizados para descobrir novas propriedades das
drogas vegetais. Em alguns casos, são feitas buscas fitoquímicas e farmacoló-
gicas de plantas ao acaso, por um estudo randômico. Em contrapartida, os es-
tudos quimiotaxonômicos promovem a verificação de propriedades químicas e
farmacológicas de espécies da mesma família ou gênero. Nos estudos etológi-
cos é observado o comportamento de animais no usos de plantas para verificar
suas propriedades funcionais.
A etnobotânica e a etnofarmacologia têm se mostrado muito útil na desco-
berta de novos fármacos, entretanto existem muitas dificuldades em realizar um
levantamento das plantas empregadas por determinado grupo populacional.

1.4  Legislação
Ao longo dos anos, a legislação brasileira referente à fitoterapia sofreu várias
alterações. Na tabela 1.1 são citadas algumas das resoluções que fazem parte da
história da fitoterapia no Brasil.

NORMATIVA PRINCIPAIS ATRIBUTOS

Definições para o registro de fitoterápicos: exigia a identifica-


Portaria nº
ção botânica, padrão de qualidade, comprovação da eficácia e
22/67
segurança do uso.

Portaria nº 5/82 Isenção de registro para chás

capítulo 1 • 15
NORMATIVA PRINCIPAIS ATRIBUTOS

Exigia o registro de especiarias e ervas empregadas como chás


na Divisão Nacional de Vigilância Sanitária de Alimentos do
Portaria 19/86
Ministério da Saúde (DINAL), desde que estas não possuíssem
indicação terapêutica no rótulo.

Conceitua de forma mais clara os termos matéria-prima


Portaria nº 6/95 vegetal, droga vegetal, marcadores. Exige estudos pré-clínicos,
clínicos e toxicológicos.

Registro de medicamentos fitoterápicos – classificação dos


RDC nº 17/2000 fitoterápicos em Medicamento Fitoterápico novo, Medicamen-
to Fitoterápico tradicional, Medicamento Fitoterápico similar.

Revisão da RDC17/2000, registro de medicamentos fitoterá-


picos. Relaciona uma lista de produtos de registro simplificado
que poderia ser acrescida de novas plantas. Cita a RE 88 –
RDC 48/2004
lista de referências bibliográficas para a avaliação de seguran-
ça e eficácia; RE 89 – Lista de Registro simplificado; RE 90
– Guia para estudos de toxicologia pré-clínica.

Registro de medicamentos fitoterápicos. Complementa e


RDC 14/2010 revisa a RDC 48/2004 relatando o levantamento etnofarma-
cológico para comprovar a eficácia de alguns fitoterápicos.

Dispõe sobre a notificação de drogas vegetais junto à


RDC 10/2010
ANVISA.

Tabela 1.1  –  Relação das principais normativas revogadas que tratam de medicamentos
fitoterápicos/drogas vegetais.

16 • capítulo 1
A Instrução normativa nº 4, de 18 de junho de 2014, determina a publicação
do Guia de orientação para registro de Medicamento Fitoterápico e registro e
notificação de Produto Tradicional Fitoterápico. De acordo com este Guia, são
estabelecidas as normas para o controle de qualidade do medicamento fitote-
rápico e do produto tradicional fitoterápico. Nesta resolução são citados os tes-
tes de identificação botânica e química, de pureza e integridade, caracterização
físico-química do derivado vegetal, testes de controle de qualidade do produto
acabado, análise quantitativa, controle biológico, validação dos métodos analí-
ticos, segurança e eficácia de medicamento fitoterápico.
A RDC nº 26, de 13 de maio de 2014 dispõe sobre o registro de medicamen-
tos fitoterápicos e o registro e a notificação de produtos tradicionais fitoterápi-
cos. Esta resolução relata que os produtos tradicionais fitoterápicos não devem
ser indicados para doenças graves, bem como não devem conter substâncias
tóxicas. Descreve ainda que os chás medicinais devem ser notificados como
produto tradicional fitoterápico.

Desenvolvimento de Medicamentos Fitoterápicos

Planejamento do fitoterápico: estudos etnofarmacológicos, estudos agronômi-


cos, botânicos, fitoquímicos, biológicos. Para o desenvolvimento de um medi-
camento fitoterápico, é necessária a identificação da espécie vegetal que se pre-
tende empregar, bem como a sua caracterização fitoquímica, para que assim
sejam verificados quais os grupos farmacognósticos presentes. Ainda devem
ser observados os aspectos relacionados a cultivo, métodos de secagem e extra-
ção apropriados.

1.4.1  Aspectos agronômicos

As plantas medicinais empregadas no preparo de produtos fitoterápicos po-


dem ser obtidas por meio de cultivo ou por extrativismo. No segundo caso, é
necessária uma autorização do órgão competente e observar normas de coleta
para conservar a biomassa, evitando sempre que possível a morte do vegetal.
Clima, pH, altitude e latitude, presença de microorganismos no solo. Muitos
fatores podem alterar a quantidade de princípio ativo na planta, dependendo
da altitude, do tipo de solo, do índice pluviométrico, da umidade, da tempe-
ratura. A espécie pode produzir um volume maior ou menor dos princípios

capítulo 1 • 17
ativos. Estes fatores são denominados edafoclimáticos e devem ser observados
na produção de derivados vegetais para manter a sua eficácia e segurança, para
procurar manter as porcentagens de marcadores os métodos de cultivo podem
ser validados.
No cultivo de plantas medicinais, é importante utilizar uma região que não
apresente, nas redondezas, áreas de plantações que empregam um grande vo-
lume de agrotóxicos, pois tais recursos devem ser evitados nestes casos. Para
evitar pragas, pode ser empregado o cultivo de espécies em associação.
Cada droga vegetal tem um melhor horário de colheita, para a obtenção de
um maior rendimento de princípio ativo. Entretanto, na maioria dos casos, de-
vem sem colhidas pela manhã em tempo seco.
Importância dos campos experimentais de cultivos:
1. Melhoramento de plantas medicinais.
2. Aumento da produção de princípio ativo.
3. Aumento às resistências às condições climáticas e parasitas.
4. Seleção de diferenças morfológicas.

1.4.2  Operações de secagem

Para aumentar o tempo de conservação da planta, é realizado o procedimen-


to de secagem para a eliminação da água livre, produzindo desta forma a
droga vegetal. Existem muitos métodos empregados na secagem das plantas
(tabela 1.2), entretanto na escolha da metodologia devem ser observados os
custos, se o princípio ativo é termolábil, o tempo de secagem, o espaço físico, o
clima e ainda as características do vegetal.

MÉTODO CARACTERÍSTICAS

Secagem natural que emprega o calor gerado pelo


sol para promover a secagem. Pode promover a fo-
Secagem ao sol (figura 1.2) todecomposição, que gera degradação de alguns
componentes da planta e ainda pode alterar a cor,
o sabor e o odor.

18 • capítulo 1
MÉTODO CARACTERÍSTICAS

Secagem natural. Processo demorado que emprega


Secagem à sombra a temperatura ambiente para a secagem. Apropria-
do apenas para regiões de clima quente e seco.

Secagem natural. Emprega inicialmente a secagem


Secagem mista – sol/sombra ao sol para promover a diminuição da ação enzimáti-
ca, e posteriormente o processo continua à sombra.

Secagem ocorre em temperatura ambiente, com


Circulação de ar passagem forçada de ar. É adequado para plantas
com princípios termolábeis.

Emprega estufas ou secadores (bandeja ou túnel).


Secagem com ar aquecido A temperatura e o tempo de secagem empregados
(figura 1.3) neste método podem influenciar na porcentagem
de princípio ativo que se mantém na droga vegetal.

Utiliza o ar aquecido e a circulação, com isso o ar


Secagem circulação de ar
que está em contato com a planta é constante-
aquecido
mente substituído.

O vácuo diminui a temperatura necessária para a


Secagem à vácuo
evaporação da água presente na planta.

A secagem ocorre por sublimação da água pre-


Liofilização sente no material vegetal. Para isso são emprega-
das baixas temperaturas e baixa pressão.

Tabela 1.2  –  Relação dos principais métodos de secagem de plantas.

capítulo 1 • 19
Figura 1.2  –  http://cafepasa.blogspot.com.br/2013/01/a-cidade-de-santos-tem
-muito-ver-com-o.html

Figura 1.3  –  http://www.solostocks.com.br/venda-produtos/equipamento-logistico/outros


-equipamentos-logistica/secadora-desidratadora-de-ervas-aromaticas-220056

1.4.3  Moagem

As drogas vegetais podem ser empregadas inteiras, rasuradas ou moídas, sendo


que a escolha do tamanho da partícula a ser empregada depende da planta e do
princípio ativo presente nesta. A moagem pode ser realizada em moinhos de
pinos, discos, martelos, facas ou jatos de ar (tabela 1.3). A escolha do equipa-
mento deve ser feita de acordo com as características do órgão vegetal.

20 • capítulo 1
PRINCÍPIO
TIPO DE DE CARACTERÍSTICAS
MOINHO ATUAÇÃO

Composto por discos de aço ou pedra


que giram em sentido contrário. Muito
Moinho de discos empregado para a trituração de sementes
Atrito
(figura 1.4) e outros materiais duros e quebradiços. As
partículas formadas neste processo costu-
mam ser uniformes e arredondadas.

Tem estruturas semelhantes a martelos


(com uma face cortante e outra plana), dis-
postos de modo horizontal ou vertical em
uma câmara de moagem. Empregado para
folhas, cascas e raízes. Alguns moinhos
Moinho de marte- deste tipo atuam como circuito fechado,
impacto
los (figura 1.5) pois possuem uma peneira inferior que
não permite que as partículas maiores
passem. Sendo assim, tais fragmentos são
triturados novamente até atingir tamanho
inferior. Plantas resinosas podem provocar
o entupimento deste tipo de moinho.

Utilizado na moagem de cascas e raízes


duras e quebradiças. Nestes equipamen-
Moinhos de
tos, um fluido composto por ar ou gás
jatos de ar ou impacto
inerte promove uma alta agitação das partí-
micronizadores
culas, que se chocam e se fragmentam.
Não ocorre o aquecimento do material.

capítulo 1 • 21
PRINCÍPIO
TIPO DE DE CARACTERÍSTICAS
MOINHO ATUAÇÃO

Mais empregado para folhas, flores e rizo-


Moinhos de facas mas. Constituído por uma câmara contendo
Corte
(figura 1.6) lâminas cortantes dispostas em um cilindro
que, ao girar, promove o corte do material.

Tabela 1.3  –  Tipos de moinhos e suas características principais.

Figura 1.4  –  Moinho de discos. http://www.kimage.com.br/moinho-de-pedra-moendo-o-


milho-para-fazer-o-fuba.html

Chapa Guia

Placas de Impacto
Martelos

Peneiras

Coletor de Metais

Figura 1.5  –  Moinho de martelos. http://www.maquiserv.ind.br/moinho-de-martelos/

22 • capítulo 1
Figura 1.6  –  Moinho de facas. Fonte: http://www.labhouse.com.br/index.php?main_pa-
ge=product_info&products_id=7393&zenid=bb8c50a99e80b637e9cc95ff047438be

1.4.4  Métodos de extração

Na produção de um extrato vegetal, devem-se extrair da forma mais seletiva


possível os princípios ativos de interesse, empregando para isso um solvente
tecnologicamente adequado e fisiologicamente inerte. Os solventes mais utili-
zados são água, álcool, acetona, para princípios ativos polares, e éter, clorofór-
mio e diclorometano quando se pretende extrair substâncias apolares.
Nas tabelas 1.4 e 1.5 são apresentados os principais métodos de extração.

MÉTODO CLASSIFICAÇÃO CARACTERÍSTICAS


Neste método a planta
é mantida em contato
com o solvente por um
Maceração Simples Parcial
tempo determinado
(horas ou dias) com
agitação ocasional.
É um processo de
maceração com aque-
cimento para aumentar
Maceração Digestão Parcial a porcentagem de
extração. São empre-
gadas temperaturas de
40-60 ºC.

capítulo 1 • 23
MÉTODO CLASSIFICAÇÃO CARACTERÍSTICAS
Emprega a mace-
Maceração Dinâmica Parcial ração com agitação
constante.
O procedimento de
maceração é repetido
empregando-se a
Maceração Remaceração Parcial
mesma matéria-prima,
renovando apenas o
solvente.
Efetua a extração e ao
mesmo tempo promove
o fracionamento da
planta, facilitando o
contato com o líquido
Turbo-extração Parcial extrator. Entretanto,
pode ocorrer aqueci-
mento, e as partículas
podem tornar-se muito
pequenas, dificultando
a etapa de filtração.
Após o intumescimento
da matéria vegetal
com o solvente, este
material é empacotado
e posicionado em um
percolador. Neste equi-
Percolação Simples Total pamento, é promovida a
passagem do solvente
pela planta até o es-
gotamento. Tem como
desvantagem o gasto
de grande quantidade
de solvente.
São colocados dois
ou mais percoladores
em série para que as
porções de extrato
menos concentrados
possam ser utilizados
Percolação Fracionada Total
para realizar a extração
no percolador seguinte.
Este processo é em-
pregado para diminuir a
quantidade de solvente
gasto.

24 • capítulo 1
MÉTODO CLASSIFICAÇÃO CARACTERÍSTICAS
Neste caso utiliza-
se um equipamento
circular que tem várias
divisórias nas quais é
adicionado o material
Contra-corrente ou
Percolação Total botânico. O extrator
carrossel
vai promover o giro da
planta e do solvente
em sentidos contrá-
rios, para que ocorra a
extração.
Emprega CO2 no
estado supercrítico da
matéria, assim o gás
carbônico característi-
Fluido Supercrítico Total
cas do estado gasoso e
do estado líquido, pro-
duzindo uma extração
muito eficiente.

Tabela 1.4  –  Características dos principais métodos de extração.

MÉTODO CARACTERÍSTICAS

Neste procedimento, o material vegetal, geralmente


representado por pétalas, é depositado delicadamente
sobre uma camada de gordura. As pétalas são substituí-
das até que a gordura se torne saturada. Posteriormente,
Enfleurage
o óleo essencial é separado da gordura, adicionando-se
álcool, e finalmente a essência será obtida pela destila-
ção do álcool. O procedimento é realizado em tempera-
tura ambiente.

Emprega-se um equipamento que permite que o vapor


d’água atravesse a planta, extraindo os princípios volá-
Arraste por vapor teis. Ocorre o aquecimento da amostra, e assim alguns
componentes podem ser degradados, levando à forma-
ção de produtos indesejados.

capítulo 1 • 25
MÉTODO CARACTERÍSTICAS

Promove a extração por meio da compressão do vegetal,


gerando uma emulsão formada pela mistura de essên-
Expressão
cia e constituintes aquosos. Este procedimento é mais
empregado para frutos cítricos.

Processo que emprega o gás carbônico no estado su-


Fluido Supercrítico percrítico da matéria. A essência produzida neste método
tem alto padrão de qualidade.

Tabela 1.5  –  Principais métodos de extração empregados para obtenção de óleos essenciais.

1.4.5  Concentração e secagem

O extrato, após a filtração, pode ser concentrado e seco para a eliminação total
ou parcial do solvente. Este procedimento é importante para a eliminação de
solventes tóxicos, quando estes são empregados, e para a obtenção de extrato
seco para o preparo de diferentes formas farmacêuticas. Os principais métodos
de concentração e secagem são apresentados na tabela 1.6.

MÉTODO CARACTERÍSTICAS

O solvente é evaporado por ação do calor, entretanto o


Evaporação a vácuo sistema de baixa pressão diminui a temperatura necessária
para a eliminação do solvente.

O extrato é disperso em pequenas partículas em uma


Spray-drying câmara contendo ar aquecido. O processo de secagem é
rápido e forma partículas regulares.

26 • capítulo 1
MÉTODO CARACTERÍSTICAS

É um processo realizado a frio. O extrato é congelado e


acondicionado no liofilizador, que promove a secagem em-
Liofilização
pregando temperatura e pressão baixas, para que ocorra a
sublimação do solvente.

Tabela 1.6  –  Principais métodos de concentração e secagem de extratos vegetais.

1.5  Controle de Qualidade


A Farmacopeia Brasileira 5ª edição e a Instrução Normativa nº 4 de 2014 des-
crevem os principais métodos de análise de produtos de origem vegetal, que
devem constar da identificação da matéria-prima vegetal, testes de pureza, ca-
racterização físico-química do derivado vegetal, quantificação de marcadores e
controle biológico.
Para a identificação do material botânico, devem-se observar as característi-
cas macroscópicas, como a cor, o odor, o tamanho e o formato, comparando-as
com amostras certificadas ou monografias. É necessária, ainda, a realização
de cortes da estrutura vegetal para verificar os aspectos da anatomia interna.
Estes fragmentos podem ser submetidos a testes histoquímicos para verificar a
presença de alguns grupos químicos de substâncias. A caracterização da espé-
cie deve ser adicionada de análise cromatográfica. Este procedimento é exigi-
do para o registro e/ou notificação de droga vegetal, derivado vegetal e produto
acabado. A prospecção fitoquímica deve ser realizada para verificar a presença
dos diferentes grupos farmacognósticos.
Para verificar a pureza da amostra, são necessárias a detecção e a quantifica-
ção de matéria estranha, que pode ser representada por fragmentos de outras
espécies ou partes diferentes da mesma planta, pedra, insetos, terra. É permi-
tida uma porcentagem máxima de 2% de sujidade.
A verificação da umidade serve para quantificar a água presente no material.
Pode ser realizada por métodos gravimétricos, azeotrópicos e volumétricos. Na

capítulo 1 • 27
gravimetria, é realizado o procedimento dessecação, em que a amostra previa-
mente pesada é submetida ao aquecimento para a evaporação da água e, no fi-
nal do processo, verifica-se a massa residual. O procedimento azeotrópico em-
prega a destilação com tolueno para quantificar a água presente. A volumetria
pode ser utilizada pelo equipamento Karl Fischer, que faz uso de técnicas de
titulação para quantificar a água.
Para confirmar a pureza da amostra, é recomendada, ainda, a determinação
de cinzas, metais pesados, agrotóxicos, radioatividade, contaminantes biológi-
cos e solventes.
A caracterização físico-química deve verificar a granulometria, o resíduo
seco, o índice de acidez, índice de ésteres, índice de iodo, índice de saponifica-
ção, índice de refração, poder rotatório, densidade relativa, densidade aparen-
te, determinação de água, determinação de etanol, determinação de metanol
e 2-propanol, determinação de substâncias extrativa por etanol, limpidez de
líquidos, volume médio, viscosidade e solubilidade.
Os marcadores devem ser especificados e quantificados nos medicamentos
fitoterápicos e nos produtos tradicionais fitoterápicos. Se este procedimento
não for viável, é necessário apresentar o perfil cromatográfico.

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capítulo 1 • 29
30 • capítulo 1
2
Fotossíntese e
Carboidratos
32 • capítulo 2
2.1  Fotossíntese e Obtenção de
Carboidratos

2.1.1  Fotossíntese

No início do século XIX, as primeiras medidas quantitativas foram realizadas


para explicar as quantidades de moléculas de dióxido de carbono que eram as-
similadas, a quantidade de oxigênio que era liberado e a matéria vegetal que era
produzida durante o processo de fotossíntese realizado pelos vegetais verdes.
O cientista Joseph Priestley foi um dos descobridores do oxigênio (O2) e rea-
lizou um dos mais importantes experimentos sobre a fotossíntese, que acon-
teceu entre os anos de 1770 e 1780. Este autor descobriu que o volume de ar
contido numa jarra podia ser “depletado” quando se queimava uma vela, de
forma a não mais permitir a combustão. Priestley descobriu que, se fosse colo-
cado no jarro um pequeno broto de menta, o ar seria “restaurado” lentamente
e isso permitiria que uma vela fosse queimada novamente. Ele concluiu que as
plantas verdes produzem oxigênio, num processo contrário à respiração dos
animais que consomem O2.
Priestley, entretanto, não se deu conta de que era necessária a luz para
que o broto da menta restaurasse o ar. Estudos posteriores realizados por Jan
Ingenhousz, médico e cientista holandês, destacaram a importância da luz.
Ingenhousz observou que apenas a parte verde das plantas era capaz de produ-
zir oxigênio.
Portanto, os cientistas constataram que as plantas usavam a energia radian-
te do sol para sintetizar seus carboidratos a partir de CO2 e H2O, e os animais
que consumiam estas plantas metabolizavam os carboidratos delas para libe-
rar a sua energia livre estocada, fazendo retornar assim o CO2 e a H2O para o
meio ambiente.
Em 1842, Robert Mayer, descobridor da primeira lei da termodinâmica e da
conservação da energia, publicou um trabalho no qual concluía que a luz solar
fornecia a energia para a formação dos produtos da fotossíntese. O esquema da
fotossíntese está apresentado na figura 2.1.

capítulo 2 • 33
Oxigênio Oxigênio

Energia
Solar

Glicose

Gás carbônico Esquema da Fotossíntese

Água + sais minerais

Figura 2.1 – Esquema da fotossíntese. Fonte: www.ciencias.seed.pr.gov.br.

2.1.1.1 Conceitos gerais e organização do aparelho fotossintético

O termo fotossíntese significa síntese mediada pela luz. Hoje, este termo apre-
senta uma conotação mais abrangente, sendo o processo no qual os vegetais
têm a capacidade de captar energia solar e converter em energia química. A
fotossíntese é uma reação luminosa com o objetivo final de formação de ATP
NADPH e síntese e manutenção de tecidos.
As plantas não podem permanecer muito tempo sem iluminação, pois não
armazenam os açúcares que poderiam ser utilizados no momento sem ilumi-
nação, portanto as plantas morrem por deficiência nutricional. O tecido fotos-
sintético mais ativo das plantas chama-se mesófilo.
A fotossíntese é o processo em que os vegetais sintetizam compostos orgâ-
nicos a partir da luz em presença de água (H2O) e gás carbônico (CO2). Plantas,
algas e certas bactérias, também conhecidas como organismos clorofilados,
captam a luz solar e a transformam em energia solar, que é a fonte primária de
energia, sintetizam o ATP e NADPH e usam como fonte de energia para sinte-
tizar os carboidratos e outros compostos orgânicos, liberando o oxigênio (O2)
na atmosfera. Os animais, como o homem, não fazem fotossíntese, mas obtêm
energia alimentando-se de organismos fotossintetizantes ou de consumidores
primários.

34 • capítulo 2
A fotossíntese é representada pela seguinte equação:
luz e clorofila
6 H2O + 6 CO2  6 O2 + C6H12O6

A reação representa dois processos:

Ocorre oxidação da água para produzir


oxigênio, portanto requer energia solar.
As reações de luz da fotossíntese em
REAÇÃO DE LUZ eucariontes e procariontes dependem
da energia solar, que é absorvida pela
clorofila para suprir a energia necessá-
ria para as reações.

A fixação de CO2 para formar açúcar


não usa a energia solar diretamente,
REAÇÃO NO ESCURO mas indiretamente, na forma de ATP,
que é produzido na reação de luz.

O CO2 e a água são pouco energéticos, enquanto que os carboidratos for-


mados são altamente energéticos. Portanto, a fotossíntese transforma energia
solar em energia química. Na figura 2.2 está apresentada a organização do apa-
relho fotossintético.

Célula

Amido

CO2
Luz Glicose
H2O
Cloroplasto
Energia
Grana Tilacóide

Clorofila

Figura 2.2  –  Organização do aparelho fotossintético dos vegetais fotossintetizantes. Fonte:


milagreverde.blogspot.com

capítulo 2 • 35
O sítio onde ocorre a fotossíntese em eucariontes, como as plantas e as algas
verdes, é uma organela chamada cloroplasto, que é limitada por membranas.
O cloroplasto tem uma membrana interna e uma externa e um espaço inter-
membranas. No seu interior, possui corpos chamados grana, que são pilhas de
membranas achatadas chamadas discos tilacoides. Os corpos estão conecta-
dos por membranas chamadas lamelas intergranais. o espaço entre os granas
são chamados de estroma (figura 2.3).

Espaço
intermembrana

Tilacóide

Granum
(pilha de tilacóides )

Membrana
Estroma externa
Membrana
interna

Figura 2.3 – Estrutura dos cloroplastos. Fonte: www.lookfordiagnosis.com

Cloroplastos

Grana: estruturas com várias camadas membranosas, em forma de discos.


Tilacoides: discos membranosos que formam o granum e encontram-se
em formas de pilhas.
Estroma: matriz fluida, que contém estruturas membranosas, chamadas grana.
Lamelas: conjunto de canais membranosos que interligam os corpos cha-
mados de grana.
Envelope: membrana dupla de revestimento do cloroplasto.

O cientista Robert Hill descobriu, em 1937, que, quando eram iluminados


os extratos de plantas que continham cloroplastos, eles produziam O2 e redu-
ziam um receptor não-biológico de elétrons adicionado ao meio. Este processo
se dá pela reação de Hill.

36 • capítulo 2
Luz
2 H2 O + 2 A → 2 AH2 + O2

De acordo com a reação de Hill, “A” é o receptor artificial de hidrogênio (H+), ou


reagente de Hill. Portanto, um dos reagentes de Hill é o corante 2,6 diclorofenolin-
dofenol. Ele é azul quando oxidado (A) e incolor quando reduzido (AH2). A estrutra
química do corante oxidado e a do reduzido podem ser observadas na figura 2.4.

O OH
Cl Cl Cl Cl

N NH

A B
OH OH

Figura 2.4  –  Estrutra química do 2,6 diclorofenolindofenol (A) na forma oxidada de cor azul
e (B) na forma reduzida incolor. Fonte: Lehninger, 2006.

Esse comportamento permite acompanhar a reação. Quando realizada a ex-


periência com plantas que contêm cloroplastos utilizando um extrato de folhas
suplementado com corante, foi observado que, quando iluminado o corante
azul, ele se tornou incolor, e assim foi produzido O2. Ao contrário, quando o
extrato foi mantido no escuro, não ocorreu produção de O2 e o corante não foi
reduzido. Robert Hill evidenciou pela primeira vez que a energia luminosa ab-
sorvida provoca um fluxo de elétrons da H2O para um receptor de elétrons. Ele
observou também que, nessas condições, o CO2 não era necessário. Assim, de-
duziu que a produção de O2 pode ser dissociada da redução de CO2.
Outro cientista, chamado Severo Ochoa, mostrou alguns anos depois que o
receptor biológico de elétrons presente nos cloroplastos era o NADP+, o que foi
comprovado pela equação:
Luz
2 H2 O + 2 NADP+ → 2 NADPH+2 H+ + O2

capítulo 2 • 37
2.1.1.2  Absorção de Luz

As plantas são verdes porque seus pigmentos chamados CLOROFILA absorvem


luz das regiões vermelha e azul do espectro solar (figura 2.5). Quando as plantas
realizam a fotossíntese, elas absorvem as radiações de diferentes comprimen-
tos de onda existentes na luz branca. A fotossíntese, realizada pelas plantas ver-
des, apresenta velocidade maior na faixa do azul e vermelho e menor na faixa
amarela. Uma folha é verde porque essa cor é refletida, e não absorvida. A ab-
sorção luminosa é feita através de pigmentos de clorofila.
Velocidade da
fotossíntese

400 500 600 700 Comprimento


de onda (nm)
Violeta

Azul

Verde

Amarelo

Laranja

Vermelho

Figura 2.5  –  Velocidade da fotossíntese das plantas verdes nas cores vermelho e azul.
Fonte: http://www.coladaweb.com/biologia/botanica/fotossintese-como-ocorre.

A combinação dos dois tipos de clorofila, que são “a” e “b”, e dos pigmentos
chamados acessórios ou carotenoides, que são β-caroteno (vermelho-alaranja-
do) e luteína (amarelo), faz com que as plantas tenham maior capacidade de
captar a energia disponível no espectro solar.
A fotossíntese depende de fatores externos, como a concentração de gás
carbônico, a intensidade lumi¬nosa e a temperatura. É observado que, quando
um desses fatores sofre variação, a velocidade final do processo fotossintético
é alterada. Ao observar a figura 2.6, constatamos que a clorofila “a” apresenta
maior absorção nas regiões azul e vermelho do espectro solar, e a clorofila “b”
apresenta maior absorção na verde e laranja.

38 • capítulo 2
Espectro de absorção
para clorofila a e b

Clorofila b Clorofila a
Absorbância

400 500 600 700


Comprimento de onda em nanômetros (nm)

Figura 2.6  –  Absorção de luz dos pigmentos fotossintetizantes chamados clorofilas “a” e “b”.
Fonte: www.sobiologia.com.br

Portanto, as quantidades de clorofila e pigmentos acessórios são caracte-


rísticas importantes para as diferentes espécies de plantas. A variação na pro-
porção de todos os pigmentos é o fator determinante na diversidade das cores
dos organismos que realizam a fotossíntese. As suas cores variam desde o azul
turquesa escuro das agulhas dos abetos até o verde escuro das folhas do bordo,
e também das cores vermelha, marrom ou púrpura de algas multicelulares, e
ainda das folhas multicores de algumas plantas.

2.1.1.3  Mecanismos de transporte de elétrons, prótons e síntese de atp

Nas reações fotoquímicas podem-se distinguir dois tipos de fluxos de elétrons:


fluxo não cíclico, também chamado de fase clara, e fluxo cíclico ou fase escu-
ra. Os dois tipos de fluxos funcionam de forma independente, porém são com-
plementares um ao outro. O primeiro absorve luz no comprimento de onda de
700 nm ou mais, chamado de fotossíntese I ou fluxo cíclico de elétrons, e o

capítulo 2 • 39
segundo absorve luz no comprimento de onda de 680 nm ou mais, chamado de
fotossíntese II, ou o fluxo de elétrons não cíclico. Para que o processo de fotos-
síntese aconteça na sua íntegra, são necessários os dois fotossistemas. Os cen-
tros de reação são formados por um complexo de moléculas de clorofila unidas
à proteína chamada CAB (Chlorophyll alb binding protein). Apresentam tam-
bém moléculas de quinona. São um conjunto de moléculas que podem aceitar
ou doar elétrons, portanto podem ser oxidadas ou reduzidas. Na fotossíntese, a
fonte de elétrons é a molécula de H2O, e o receptor final é o NADP+, que, no final
da reação, está reduzido a NADPH.
Durante a fotossíntese realizada pelas plantas, a luz é absorvida pela cloro-
fila e, ao excitarem os elétrons, promovem a transferência da energia para os
centros de reação dos fotossistemas II e I. Quando ocorre excesso de energia,
esta pode ser dissipada na forma de fluorescência.
Na transferência dos elétrons, os prótons H+ são enviados para o interior
dos telacoides (figuras 2.2 e 2.3), produzindo um gradiente de energia que
gera energia suficiente para fosforilar o ADP (adenosina difosfato) e produzir
o ATP (adenosina trifosfato). Os produtos finais das reações lumínicas são ATP
e NADPH.
A reação se inicia no fotossistema II, quando os elétrons do centro de reação
P680 são excitados a P680*, ocorrendo a captação de fótons. Em seguida, os elé-
trons são transferidos para o primeiro receptor, a FEOCITINA (Ph), conferindo-
lhe uma carga negativa (Ph-). Simultaneamente, o P680* (excitado) é convertido
a P680+ (protonado), ocorrendo assim a perda de um elétron (o elétron transfe-
rido). Em seguida, os elétrons são transferidos para as plastoquinonas (QA e QB),
que estão associadas a proteínas. As plastoquinonas (QB) recebem os átomos de
H+ (sofrem redução), transformando-se na forma de QBH2. Todo o mecanismo
inicial se dá pela reação:

4 P680 + 4 H+ +2 QB + LUZ (4 fótons) → 4 P680+ + 2 QBH2

As plastoquinonas reduzidas (QBH2) transferem os H2 para a proteína de


membrana chamada CITOCROMO b/f, que transfere os elétrons para a proteí-
na cúprica chamada plastocianina e envia os H+ para os telacoides. Em seguida,
a plastocianina transfere os elétrons para o centro de reação da fotossíntese
I, onde ocorre redução do centro de reação P700, levando-o ao seu estado ex-
citado (P700*). Este, por sua vez, sofre a fotoquímica, reduzindo os aceptores

40 • capítulo 2
primários e secundários do centro, gerando o P700+. O P700+ recebe um elétron
do complexo citocromo b/f, fazendo com que volte para o seu estado de P700,
e os aceptores secundários do centro reduzem a ferredoxina, que, por sua vez,
reduz o NADP+, ou o O2 ou o complexo citocromo b/f (figura 2.7).

Aceptor
primário
Aceptor
2e- Fd
primário
2e-
NADP+
Pq Redução + 2H+
do NADP+
Cadeia NADPH
transportadora 2 e-
+
H+
2 H+ H2O Pc
+ Luz
1/2
O2 2 e-
P700
O fluxo de electrões
P680 gera um fluxo de
energia que
possibilita a produção
de ATP
ATP

Figura 2.7  –  Transporte de elétrons na fotossíntese, via acíclica. Fonte: http://


portalgfhp.altervista.org/

Na década de 1950, foi feito um estudo pela bioquímica americana Mary


Allen, poe meio do qual preparações de cloroplastos fixavam CO2 na presença
de luz e de água. Este experimento comprovou o que Hill havia postulado em
1937. Nessa mesma década, o americano Daniel Arnon demonstrou, em seus
estudos, que o sistema de membranas de cloroplastos isolados era capaz de
sintetizar ATP e NADPH na presença de luz.
Após todos esses estudos, pôde-se concluir que, durante uma reação de luz,
há produção de ATP (energia), redução do NADPH (poder redutor) e liberação
de O2, e que essas reações ocorrem no sistema de membranas dos cloroplastos.
Quanto às reações do escuro, elas também foram esclarecidas na década de
1950. Os estudos realizados por Berkeley, liderados por Melvin Calvin e Andrew
Benson, realizado na Universidade da Califórnia, demonstraram qual era o pri-
meiro composto formado na fotossíntese, qual era o composto aceptor de CO2,
como o CO2 era fixado, como o composto aceptor de CO2 era regenerado e como
carboidratos, aminoácidos e outros compostos orgânicos eram sintetizados

capítulo 2 • 41
durante esse processo. Como reconhecimento pela elucidação do ciclo de redu-
ção do carbono realizado na fotossíntese feita pelas plantas, o professor Melvin
Calvin recebeu, em 1961, o Prêmio Nobel de Química.
Portanto, a fotossíntese é o resultado de uma série de reações bioquímicas e
fotoquímicas. Quando a clorofila absorve a energia luminosa, provoca uma rea-
ção fotoquímica, resultando na retirada de elétrons da água e liberação de O2
e, consequentemente, elevação dos elétrons para níveis energéticos mais eleva-
dos, reações essas que ocorrem nos fotossistemas I e II, possibilitando assim a
síntese de ATP (energia) e NADPH (agente redutor). O ATP e o NADPH formados
são utilizados para reduzir o CO2 a compostos orgânicos (figura 2.8).
STROMA (baixo H+) H+

ADP+ Pi ATP
NADP+ + H+
NADPH
Luz Luz
H+
FNR ATP
Fd sintase Baixo

P680 Citocromo P700


PSII PQ b6f PSI

e– PQH2 e– e–

PC
Plastoquinona Alto
H+ Eletroquímica
H2O H+ Plastocianina
O2 + H
+ potencial
gradiente
Oxidação
da água
LUMEN (alta H+)

Figura 2.8  –  Reações de fotossíntese, fase clara e fase escura. Fonte:


www.tudomaisumpouco.com

2.1.1.4  Ciclo de Calvin

As plantas verdes apresentam em seu cloroplasto um conjunto de enzimas que


catalisam a conversão do CO2 em compostos orgânicos simples na forma redu-
zida. Este processo pode ser chamado de assimilação de CO2 ou fixação de CO2
ou também fixação do carbono.
O ciclo de Calvin ou ciclo fotossintético de redução do carbono é um conjun-
to de reações que ocorrem no estroma dos cloroplastos, durante a fase escura
da fotossíntese, ou seja, na fotossíntese I. Todo o processo se inicia pela incor-
poração de dióxido de carbono (CO2) na enzima ribulose 1,5-difosfato (RuBP),

42 • capítulo 2
que é catalisada por outra enzima, chamada RuBP carboxilase (Rubisco). A fi-
xação do CO2 na enzima RuBP é seguida pela formação de duas moléculas de
ácido fosfoglicérico ou 3-fosfoglicerato (PGA), as quais são reduzidas, com a
hidrólise de ATP formando ADP (adenosina trifosfato) e a oxidação dos trans-
portadores reduzidos no decurso da fase luminosa da fotossíntese, que são as
duas moléculas de gliceraldeído 3-fosfato.
Com uma volta completa do ciclo de Calvin, a molécula de RuBP é regenera-
da. São necessárias 6 moléculas de CO2 para formar 2 moléculas de gliceraldeí-
do 3-fosfato, ou seja, seis voltas completas do ciclo de Calvin. As duas molécu-
las de gliceraldeído 3-fosfato são utilizadas como base para a síntese do amido
e outros componentes celulares (figura 2.9).
H2O CO
Luz
NADP+
ADP+ 6
Ciclo de CO2
Calvin
ATP
Fixação do carbono
NADPH

O2 C6H12O6
(glicose)

6 P P 12 P
(RuDP) Ácido fostoglicérico
12 ATP
(PGA)
12 ADP
6 ADP Ciclo de
Calvin 12 P P
6 ATP
12 NADPH
12 NADP+
12 P
10 P
PGAL 12 P P
Ácido fosfoglicérico
Regeneração da (PGAL)
ribulose difosfato Produção de
(RuDP) compostos orgânicos

2 P Glicose e outros
PGAL compostos orgânicos

Figura 2.9  –  Ciclo de Calvin – Fase escura da fotossíntese. Ciclo de Calvin – Fase escura
da fotossíntese.

As plantas e outros seres autótrofos empregam o CO2 como única fonte de


carbono nas reações de biossíntese de amido, celulose, proteínas, lipídios e
todos os numerosos componentes orgânicos das células vegetais. Em contra-
partida, os heterótrofos não conseguem realizar a redução do CO2 para obter a
síntese da glicose.

capítulo 2 • 43
2.1.1.4.1  Regulação do ciclo de calvin

•  Quantidade de enzimas – Controlada geneticamente (genomas nuclea-


res e dos cloroplastos);
•  Atividade das enzimas – Controlada pelo binômio luz/escuro;
•  Compartimentalização – Controle feito pela síntese/degradação do ami-
do no cloroplasto e a síntese de sacarose no citoplasma.

2.1.1.4.2  Enzimas dependentes de luz que regulam o ciclo de calvin

a) Rubisco; b) Desidrogenase do gliceraldeído,3-fosfato: NADP; c) Frutose,


1,6-bifosfatase; d) Sedoheptulose, 1,7-bifosfatase; e) Cinase da ribulose,
5-fosfato.

2.1.1.5  Ciclo fotossintético oxidativo

Também chamado de fotorrespiração, ocorre em três tipos de vegetais conhe-


cidos, como C3, C4 e CAM (Separação temporal), que apresentam 3 comporta-
mentos diferentes em relação ao modo de fixação de carbono e à perda de água.
a) Plantas C3
Recebem este nome pelo ácido 3-fosfoglicérico formado após a fixação do
CO2. Compreendem a maioria das espécies terrestres, presentes em regiões tro-
picais úmidas.
As taxas de fotossíntese das plantas C3 são elevadas a todo o momento. A
planta atinge as taxas máximas de fotossíntese em intensidades de radiação so-
lar baixas. São consideradas espécies que consomem muita água. No entanto,
este grupo vegetal é altamente produtivo e continua contribuindo para o equilí-
brio da biodiversidade terrestre (figura 2.10).
São exemplos de C3: rosa, milho, soja e feijão.

44 • capítulo 2
Estomas

Célula
mesofilas

Células
epidérmicas
(superficie folia)
Atmosfera
Estoma
Célula epidérmica

H2O CO2 Célula mesófilas

Moléculas
de três átomos
de carbono

Rubisco

Acúcar
simples

Produção de amido,
carboidratos, proteínas, etc

Figura 2.10 – . Fotossíntese da planta C3. Fonte: mastersofscience.blogia.com

b) Plantas C4
As plantas chamadas C4 possuem grande afinidade com o CO2. São denomi-
nadas C4 devido ao fato de o ácido oxalacético possuir 4 moléculas de carbono
e ser formado após o processo de fixação de carbono.
As plantas C4 apresentam uma vantagem em relação às plantas C3, sua alta
afinidade com o CO2, pois elas podem sobreviver em ambientes áridos. Isto
se dá porque as plantas C4 só atingem as taxas máximas de fotossíntese em

capítulo 2 • 45
condições elevadas de radiação solar, e isso faz com que esse tipo de planta
fixe mais CO2 por unidade de H2O perdida. Portanto, elas são mais econômicas
quanto ao uso de H2O, ou seja, perdem menos H2O que as C3 durante a fixação
e a fotossíntese.
Plantas C4 são também conhecidas como "plantas de sol", por ocorrerem
em áreas sem sombra alguma e em áreas áridas, com menores quantidades de
água disponíveis nos solos (figura 2.11). São exemplos de C4: gramíneas como
cana de açúcar e milho; parte das bromélias.

CO2
Plantas C4

• Mantêm a razão CO2 /O2


elevada próxima ao rubisco

• CO2 é fixado com auxílio do


Ácido Fosfoenol
fosfoenolpiruvato e Oxoloacético piruvato (PEP)

forma ácido oxalacético (4 C) Célula NADPH + H’ AMP + 2P


do mesófilo NADP’ ATP
Ácido Ácido
Málico Pirúvico
• Maximizam a
fotossíntese
Ácido Ácido
Málico Pirúvico
NADP
• Exemplos: milho, cana, Célula CO2
PGA (fosfoglicerato)
da bainha NADPH + H’ Ciclo
orquídea, gramíneas de Hidrato
Calvin de carbono
(hexosa)

Figura 2.11  –  Fotossíntese da planta C4. Fonte: slideplayer.com.br

c) Plantas CAM – Separação temporal


São as plantas mais econômicas quanto ao uso da água dos 3 grupos. São
chamadas CAM porque absorvem CO2 à noite e usam as reações da rota C4 (fi-
gura 2.11) para armazenar na forma de malato, e o processo é conhecido como
metabolismo ácido das crassuláceas (MAC). Esse tipo de plantas ocorre em
áreas muito secas ou desérticas. A abertura das estruturas que controlam a en-
trada e saída de gases nas plantas é chamada de ESTÔMATO, que, durante a
noite, faz com que a planta perca pouca H2O, ao mesmo tempo em que o CO2
é fixado, por meio do ácido málico. Durante o dia, os estômatos se fecham, fa-
zendo com que a planta não perca grande quantidade de H2O, e o CO2 fixado

46 • capítulo 2
é então utilizado na realização da fotossíntese em elevada intensidade de ra-
diação solar. São também chamadas de "plantas de sol", como as plantas C4
(figura 2.11). São exemplos de CAM os cactos.

CAM - Metabolismo Ácido Crassuláceo

Com o sol forte a planta fecha os


estômatos, e para de transpirar

H2O CO2

Ao anoitecer,
abrem os estômatos
e fixam o gás
carbônico em
Com a produção de glicose, finaliza forma de malato
o ciclo de Kalvin. no vacúlo celular.

Ciclo Kalvin “Rubisco” + CO2 Malato Vacúolo


Com a volta do estímulo luminoso, reduz o
malato em piruvato que por sua vez libera
CO2 que se une com a enzima XXXXX.
Glicose Piruvato

Figura 2.12 – Metabolismo das plantas CAM. Fonte: http://www.paisagismodigital.com/


Noticias/img/170-004.jpg.

2.1.2 Carboidratos

Os carboidratos são as moléculas mais abundantes na natureza, e sua estrutura


química é composta pelos elementos químicos: carbono (C), hidrogênio (H) e
oxigênio (O), podendo ainda apresentar nitrogênio (N), fósforo (F) e enxofre (S).
Têm uma grande variedade de funções, como o fornecimento de energia
na dieta pela ingestão do amido dos vegetas; são componentes da membrana
celular e mediadores de algumas formas de comunicação intercelular. Os car-
boidratos também são componentes estruturais de vários organismos, como
o exoesqueleto de muitos insetos, a parede celular de bactérias e as fibras de
celuloses das plantas. No organismo humano, é armazenado em forma de gli-
cogênio, atuando como forma de armazenamento de energia.

capítulo 2 • 47
2.1.2.1  Características químicas

São chamados hidratos de carbono porque têm a fórmula de geral para a maio-
ria dos carboidratos Cn (H20)n.
Uma grande totalidade do carbono do planeta está armazenada em duas
moléculas de carboidratos, que são o amido e a celulose. Estas duas molécu-
las são polímeras formadas por várias unidades (monômeros) de glicose. A di-
ferença entre elas é apenas a disposição da glicose na molécula. A figura 2.13
apresenta a estrutura química do amido e da celulose.
Polissacarídeos
CH2OH H OH CH2OH H OH
H O H H O H
H O OH H H O OH H
O OH H H O OH H H O
H H O H H O
H OH CH2OH H OH CH2OH

Celulose

CH2OH
H O H
H
O OH H

Polissacarídeos H OHO
CH2OH CH2OH CH2 CH2OH
H O H H O H H O H H O H
H H H H
O OH H O OH H O OH H O OH H O
H H H
H OH H OH H OH H OH

Amido e Glicogênio

Figura 2.13  –  Estrutura química das moléculas de amido e celulose. Fonte: http://luciane-
cantalicebiologia.blogspot.com.br/2012_05_01_archive.html

O amido é reconhecido pelos animais, incluindo o homem, pois temos uma


enzima que reconhece a sua conformação helicoidal, podendo hidrolisá-lo
liberando moléculas isoladas de glicose. A glicose, por sua vez, é oxidada em

48 • capítulo 2
dióxido de carbono (CO2) e água (H20), que é a principal fonte de energia para as
células. O amido apresenta ligações do tipo α (1→ 4) e servem como polímeros
armazenadores de energia em plantas como batatas, arroz e mandioca.
O glicogênio apresenta ligações do tipo α (1→ 4). É um polissacarídeo de
reserva energética dos animais. No organismo humano, a síntese de glicogênio
ocorre no fígado, a partir de moléculas de glicose.
A celulose apresenta ligação tipo β (1→ 4). É o principal componente da
madeira e da parede celular das plantas, também é um polímero formado por
monômeros de glicose, porém os animais não têm a enzima chamada celulase
para hidrolisar a molécula.
Um protozoário tem em seu intestino a enzima celulase, portanto consegue
hidrolisar o polímero de celulose, o que pode ser constatado quando casas de
madeira são destruídas por cupins.
Os carboidratos, de acordo com seu tamanho, estão divididos em três clas-
ses: monossacarídeos, dissacarídeos e polissacarídeos. A palavra “sacarídeo”
deriva do grego “sakcharon”, que significa açúcar.

2.1.2.2  Métodos de obtenção e análise

2.1.2.2.1  Dosagem de açúcares redutores

Os açúcares redutores, como a glicose e a frutose, são de baixo peso molecular


e solúveis em água, têm um grupo carboxílico e cetônico livres que são capa-
zes de se oxidar na presença de agente oxidantes em solução alcalina. Esse tipo
de açúcar é doseado pela técnica de Fehling, a qual se fundamenta no poder
redutor do grupo carbonila dos aldeídos. Ele se oxida a ácido e reduz o sal de
cobre em meio alcalino a óxido de cobre, formando um precipitado de cor roxa.
A figura 2.14 mostra o esquema da técnica de Fehling para análise de açúca-
res redutores.

capítulo 2 • 49
Glicose Maltose Sacarose Amido Lactose

Fehling B Fehling A
Lugol HCl

Reação de Fehling positiva Reação de Fehling negativa

Figura 2.14 – Esquema da técnica de Fehling para análise de açúcares redutores. Fonte:
http://blog.uchceu.es/eponimos-cientificos/reactivo-de-fehling/

2.1.2.2.2 Dosagem de açúcares não redutores

Os açúcares não redutores encontrados nos vegetais está representado pela sa-
carose, motivo pelo qual a técnica é denominada de dosagem de sacarose.
A técnica está limitada para soluções aquosas e soluções alcoólicas diluí-
das. O método baseia-se na hidrólise ácida e dosagem das oses pela técnica de
Fehling, e o resultado exprime-se em índice de acúçar invertido, sacarose ou de
cobre. Portanto, inicialmente é feita a hidrólise da molécula de sacarose (figura
2.15) e, em seguida, os monômeros são dosados pela técnica de Fehling.
OH

HO O
HO
OH
HO O
O
D-sacarose
OH OH

hidrólise ácida
OH

HO O + HO O OH
HO OH
OH OH OH
OH
D-glicose D-frutose

Figura 2.15 – Hidrólise ácida da molécula de sacarose. Fonte:qnint.sbq.org.br

50 • capítulo 2
2.1.2.2.3  Monossacarídeos

Monossacarídeos são também chamados de açúcares simples. Os principais


monossacarídeos são glicose, frutose e galactose. São compostos sólidos, inco-
lores, cristalinos, solúveis em água e insolúveis em solventes apolares. A grande
maioria apresenta sabor doce. São classificados de acordo com o número de
carbonos presente na sua cadeia.
Quando o seu grupo funcional mais oxidado é um aldeído, são denomina-
dos aldoses; quando seu grupo funcional mais oxidado é uma cetona, são clas-
sificados como cetoses. A tabela 2.1 apresenta os monossacarídeos mais comu-
mente encontrados em seres humanos.

NÚMEROS DE
CARBONO NA NOME GENÉRICO EXEMPLO
CADEIA

3 Trioses Gliceraldeído

4 Tetroses Eritrose

5 Pentoses Ribose

6 Hexoses Glicose

7 Heptoses Sedoeptulose

Tabela 2.1  –  Monossacarídeos mais comumente encontrados em seres humanos. Fonte:


Lehninger. 2006.

O monossacarídeo mais abundante na natureza é a glicose, que apresenta


uma cadeia de seis carbonos, também chamada de D-glicose ou dextrose. Os
monossacarídeos que apresentam mais de quatro carbonos na molécula têm
na maioria das vezes estrutura cíclica.

capítulo 2 • 51
Os monossacarídeos podem unir-se entre si por ligação glicosídica e formar
outras estruturas maiores, como mostra a figura 2.16.
galactose glicose ligação glicosídica
CH2OH
6 6
CH2OH CH2OH
6 6
CH2OH
5
O 5
O 5
O 5
O
HO OH H H HO H H
H H H H
4
OH H
1 + 4
OH H
1 4
OH H
1 O 4
OH H
1 + H2O
H H HO OH H H OH
3 2 3 2 3 2 3 2
H OH H OH H OH H OH
lactose

Figura 2.16  –  Ligação glicosídica entre dois monômeros de glicose. Fonte:


www.simbiotica.org

2.1.2.2.4  Usos farmacêuticos da glicose e da frutose

A glicose é utilizada pura por injeção subcutânea e é recomendada como restaura-


dor após cirurgias ou também como nutriente. É estimulante de movimentos ute-
rinos, utilizada no tratamento de intoxicação por clorofórmio: é recomendado seu
uso também como aditivo farmacêutico e nas manipulações de xaropes.
A frutose está presente em frutas e mel. É mais hidrossolúvel e também
mais doce que a glicose. É utilizada em adoçante para diabéticos e também na
nutrição parenteral.

2.1.3  Dissacarídeos

Os dissacarídeos, também conhecidos como oligossacarídeos, são comumente


conhecidos como sacarose, maltose e lactose. São constituídos por dois monô-
meros unidos covalentemente por uma ligação glicosídica, na qual um grupo
hidroxila de uma molécula reage com um carbono anomérico de outra molécu-
la de açúcar (figura 2.17).

CH2OH CH2OH CH2OH HOCH2 CH2OH CH2OH


O O O O O O
HO
OH OH OH HO CH OH OH O OH
O O
OH OH OH 2 OH
α(1→4) α(1→2) β(1→4)
OH OH OH OH OH OH
glicose glicose glicose frutose galactose glicose
Maltose Sacarose Lactose

Figura 2.17  –  Estrutura química dos dissacarídeos maltose, sacarose e lactose. Fonte:
www.oocities.org

52 • capítulo 2
A sacarose (C12H22O11) é o açúcar extraído da cana-de-açúcar e da beterra-
ba. É um tipo de glicídio formado por um monômero de glicose e um de fruto-
se, que é produzida pela planta quando ela realiza o processo de fotossíntese.
Quando a sacarose é consumida pelos animais, ela é hidrolisada a glicose e fru-
tose, que são metabolizadas para fornecer energia.
A lactose (C12H22O11) é um epímero da glicose, ou seja, a diferença está na
inversão da configuração do carbono 4. É o açúcar presente no leite e em seus
derivados e é composto por um monômero de glicose e um de galactose.
A maltose (C12H22O11) é um dissacarídeo obtido pela hidrólise do amido pela
enzima α-amilase. É formada por dois monômeros de glicose. A maltose difere
da celobiose (dissacarídeo obtido da hidrólise da celulose) somente na ligação
glicosídica. Os mamíferos podem digerir a maltose, mas não conseguem dige-
rir a celobiose. A figura 2.18 mostra a diferença entre a maltose e a celobiose.
Maltose Celobiose
OH OH
OH
O O HO
HO HO OH
HO OH HO O O
HO O HO OH
O
HO OH

HO

Figura 2.18  –  Estrutura química das moléculas de maltose e celobiose. Fonte:


www.oocities.org

Na figura 2.18, pode-se observar que, na celobiose, a ligação glicosídica é do


tipo β (1→ 4) e, na maltose, é do tipo α (1→ 4).

2.1.3.1  Usos farmacêuticos dos dissacarídeos

A lactose é utilizada como diluente e aglutinante em comprimidos. Não é reco-


mendado seu uso em adoçante, porque tem apenas 30% de poder edulcorante
da sacarose.
A sacarose é um açúcar não redutor utilizado nas preparações de xaropes e
fórmulas pediátricas. Também utilizada em adoçantes.
A maltose é obtida por fermentação e pela hidrólise do amido, e é utilizada
em xaropes e cervejas. Os meios de cultura são usados também como uma fon-
te de energia por bactérias para diferenciar os gêneros e identificar as espécies.

capítulo 2 • 53
2.1.4  Polissacarídeos

Denominação do grego poli, que significa “muitos”, e sacarídeo, que signifi-


ca “açúcar”. Os polissacarídeos são macromoléculas ou polímeros formados
pela união de muitos monossacarídeos por meio de uma ligação glicosídica,
e os três mais conhecidos dos seres vivos são amido, celulose e glicogênio. São
normalmente compostos de poucos tipos de monossacarídeos. Os polímeros
formados por apenas um tipo de monossacarídeo é um homopolissacarídeo, e
um polímero formado por mais de um tipo de monossacarídeo é um heteropo-
lissacarídeo. A glicose é o monômero mais encontrado nos polissacarídeos. Os
principais polissacarídeos e suas funções estão mostrados na tabela 2.2.

POLISSACARÍDEO FUNÇÃO E FONTE

Glicogênio Açúcar de reserva energética de animais e fungos.

Amido Açúcar de reserva energética de vegetais e algas.

Função estrutural. Compõe a parede celular das


Celulose
células vegetais e algas.

Função estrutural. Compõe a parede celular de


Quitina
fungos e o exoesqueleto de artrópodes.

Função estrutural. Cimento celular em células


Ácido hialurônico
animais.

Tabela 2.2  –  Principais polissacarídeos, sua fonte e funções. Fonte: Lenhinger, 2000.

2.1.4.1  Aplicações terapêuticas de polissacarídeos e mecanismo de ação

Amido: são bastante utilizados na sua forma natural ou após transformações.

54 • capítulo 2
Na área de Farmácia, são empregados: na forma de mucilagens, como emo-
liente e protetor nas inflamações cutâneas, desagregantes nas formulações de
comprimidos, utilizados como antídoto nas intoxicações pelo iodo e na obten-
ção das ciclodextrinas, destrinas e dos polióis.
Na indústria alimentícia, são empregados para controlar ou alterar caracte-
rísticas alimentares como: umidade, texturas, aparência, estabilidade e consis-
tência e pode ser usado também para auxiliar em processos como na lubrifica-
ção ou equilíbrio no teor de umidade e na composição de embalagens.
Quanto à aplicação clínica dos polissacarídeos presentes em vegetais, são
utilizados para supressão do apetite, pois retarda o esvaziamento gástrico.
Também utilizados na prevenção do câncer, pois diminuem o colesterol.
Pré-bióticos: os oligossacarídeos (podendo ser chamados de polissacarí-
deos) são glicosídeos que contêm de 3 a 10 monossacarídeos, unidos por liga-
ções glicosídicas, e são considerados alimentos pré-bióticos.
Os alimentos pré-bióticos, como as fibras, não são digeríveis, portanto be-
neficiam o crescimento, o estímulo seletivo e a atividade das bactérias do intes-
tino. A ingestão de pré-bióticos estimula o aumento e o crescimento das bifido-
bactérias, que é um gênero de bactérias anaeróbicas presente no organismo e
um dos maiores grupos de bactérias que compõem a flora intestinal. Os oligos-
sacarídeos são os frutoligossacarídeos e a inulina.
Os frutoligossacarídeos (FOS) são açúcares de origem natural, encontrados
em alimentos como: beterraba, banana, chicória, cebola, alcachofra, alho, raí-
zes de almeirão, podendo também ser obtidos industrialmente.
A utilização de FOS como ingredientes alimentares tem crescido conside-
ravelmente, devido às suas características de fibra e por não interferirem nas
propriedades organolépticas dos produtos. O maior interesse pelos FOS é o fato
de eles serem resistentes às enzimas digestivas e não serem digeridos pelo or-
ganismo humano, portanto chegam ao intestino grosso intacto, podendo ser
fermentados no cólon pelas bactérias anaeróbicas. Esses oligossacarídeos são
conhecidos como “açúcares não convencionais” e têm grande importância na
indústria de alimentos, devido às suas ótimas características funcionais. São
ingredientes alimentares ideais para a indústria de alimentos, por permitirem
aplicação em várias áreas. São indicados para formulações dietéticas, como
cremes vegetais, patês, sorvetes e sobremesas e adicionados em barras de ce-
reais e biscoitos para elevar o conteúdo de fibras alimentares, além de bebidas
lácteas e leites fermentados.

capítulo 2 • 55
2.1.4.2  Gomas, amido, mucilagens, celulose e hemiceluloses

Gomas – São carboidratos complexos, produzidos por algumas plantas. Após


sua hidrólise, são encontrados diversos açúcares, como galactose, glicose, ara-
binose, xilose, ramnose e ácidos urônicos, na forma de sais de cálcio, magnésio
e outros cátions. São considerados produtos patológicos resultantes de uma
ação física sofrida pelos tecidos (picadas de insetos, contusões, feridas etc.),
pela ação de microrganismos que parasitam as plantas ou devido a condições
desfavoráveis, tais como seca, pela quebra das paredes celulares. As gomas são
utilizadas em diversos setores industriais e apresentam grandes aplicações no
setor alimentício. São bastante utilizadas por apresentar propriedades espes-
santes e geleificantes. Existem vários tipos e classificações de gomas, como
goma ghatti, goma arábica, goma karaya e goma adraganta. A maioria das go-
mas é hidrossolúvel e forma soluções mais ou menos viscosas. Algumas for-
mam gel e, em solução diluída, precipitam com a adição de etanol.
As gomas são utilizadas pela sua capacidade de retenção de água, forman-
do soluções mais ou menos viscosas, por estabilizarem suspensões ou espuma
de cerveja, por possibilitarem o inchamento de diversos produtos alimentícios
etc. São substâncias químicas indigeríveis pelo organismo humano, podendo
uma parte dela ser degradada por microrganismos do intestino.

Goma arábica – também conhecida como goma acácia, é uma resina na-
tural composta por glicoproteínas e polissacarídeos, extraída de duas espécies
de acácia da região subsaariana: Acacia seyal e Acacia senegal. É usada como
estabilizante e espessante em vários alimentos, na manufatura de colas e es-
pessante de tintas utilizadas em canetas de escrever.

Goma karaya – também conhecida como kadaya, katilo, goma sterculia,


sterculia, kuterra e kullo, é um polissacarídeo fortemente ácido, com boa es-
tabilidade em preparações ácidas. Produto que é obtido por secagem das ex-
sudações do tronco e dos ramos de variedades naturais da Sterculia urens ro-
xburgh, madura árvore da Índia subcontinental, e outras espécies do gênero
Sterculia (família Sterculiaceae), ou de variedades naturais de Cochlospermum
gossypium A. P. de Candolle e outras espécies do gênero Cochlospermum (fa-
mília Bixaceae). As espécies relacionadas à Sterculia, como a S. villosa e a S. se-
tigera, são encontradas no Sudão e em outros países norte-africanos. Menos de

56 • capítulo 2
10% de sua produção total é usada em aplicações alimentícias. O principal uso
da goma karaya está na indústria farmacêutica, como emulsificante e agente
aglutinante em produtos especiais.

Goma adraganta – também conhecida como alcatira, tragacante ou traga-


canto, é o produto obtido depois da secagem das exsudações do tronco e dos
ramos de espécies naturais da Astragalus gummifer Labillardière ou de outras
espécies asiáticas de Astragalus (família Leguminosae).
As gomas comerciais são obtidas por meio de cuidadosas incisões longitu-
dinais com uma faca na raiz e na casca das ramificações. Pode-se obter a goma
exsudada sob a forma de faixas de fragmentos achatados lamelados, com 0,5
mm a 2,5 mm de espessura e até 10 cm de comprimento ou pequenos pedaços
em forma de escamas.
Esse tipo de goma chamada adraganta é usado como emulsificante, estabili-
zante e espessante nas indústrias farmacêuticas, de alimentos, de cosméticos e em
aplicações técnicas. Ela cresce e se dissolve em água fria para formar uma solução
de viscosidade bastante alta. Suas melhores características são boa propriedade de
emulsificação e seu elevado grau de estabilidade sob forte condição ácida.

Amido – considerado um polissacarídeo natural, formado por milhares de


moléculas de glicose, constituindo uma sequência de dois polissacarídeos, que
são amilose e amilopectina. Principal substância de reserva dos vegetais locali-
zados nos tubérculos, grãos dos cereais e sementes das leguminosas. O amido
pode estar presente também em menor quantidade em frutas, como a banana.
No processo de digestão, o amido é hidrolisado em carboidratos menores e,
em seguida, separado em monossacarídeo, como a glicose, que é a fonte primá-
ria de energia no corpo humano. A hidrólise é efetuada inicialmente por enzi-
mas como a amilase salivar, existente na saliva, e finalmente pelo suco pancreá-
tico, que atua no intestino delgado, onde a hidrólise é realizada pela amilase
pancreática.
Geralmente, é um pó branco inodoro e insípido, pode apresentar-se em grãos
de vários tamanhos (2 a 170 µm) e de forma esférica, elipsoidal, poliédrica. Tem
elevado peso molecular e é insolúvel em água fria; intumesce a 55-60 ºC.
Apresenta uma estrutura cristalina (amilopectina) originando uma cruz ne-
gra quando é observado em luz polarizada. Quando exposto em temperaturas
superiores (até 100 ºC), ocorrem a difusão das moléculas de amilose no meio e,

capítulo 2 • 57
consequentemente, a solubilização; se for submetido ao esfriamento, as molé-
culas se reorganizam, formando um gel.
O amido está presente na batata, na mandioca, na farinha e no arroz e é
considerado um polímero natural, formado por dois polissacarídeos, que são a
amilose e a amilopectina, constituídos de moléculas de α-glicose, ligeiramente
diferentes (figura 2.19).
OH OH OH OH
O O O O

OH OH OH OH
O O O O
OH OH OH OH

Figura 2.19  –  Estrutura química do amido. Fonte: http://www.brasilescola.


com/quimica/amido.htm

Mucilagens – é uma secreção que apresenta natureza mista constituída por


heteropolissacarídeos ácidos e/ou neutros, substâncias fenólicas e proteínas e
estão amplamente distribuídos nos vegetais, formando soluções coloidais que,
quando em contato com a água, tornam-se viscosas. Mucilagem é uma substân-
cia rígida quando está seca e se torna pegajosa quando está úmida.
As mucilagens podem desempenhar diferentes funções nas plantas: reserva
de carboidratos, retenção de água, proteção de estruturas ou órgãos em desen-
volvimento, redução da transpiração, proteção contra herbívora, proteção con-
tra radiação dispersando ou refletindo a luz incidente, captura de insetos em
plantas insetívoras, lubrificante do ápice das raízes, como adesivo na dispersão
de sementes e na regulação da germinação de sementes.
As substâncias mucilaginosas e as plantas que as contêm apresentam pro-
priedade de se inchar em presença da água, aumentando o seu volume, que
pode ser medido num tubo graduado. A atividade laxativa das mucilagens é
atribuída a essa propriedade. Durante o seu trajeto pelo tubo digestivo, elas vão
se inchando, devido à retenção da água. Foi observado que há proporcionali-
dade entre a sua propriedade laxativa e a sua capacidade de retenção de água,
que pode ser verificada “in vitro”, utilizando um osmômetro, em que é usada
uma membrana semipermeável que desempenha o papel da parede intestinal
e uma solução hipertônica que irá determinar o fenômeno de endosmose. Para
o experimento, é utilizado um suco intestinal artificial, constituído de uma so-
lução aquosa de pancreatina e bicarbonato de sódio.

58 • capítulo 2
Celulose – é o principal componente estrutural das plantas e em especial
das madeiras. É o principal constituinte de membrana das células vegetais. É
o composto orgânico mais abundante do planeta. Possui característica fibrosa
e está localizada dentro da célula das plantas. É um homopolissacarídeo linear
de β – D – glicose, e todos os resíduos estão ligados entre si por ligação glicosí-
dica tipo β (1-4), como mostra a figura 2.20. As principais propriedades da celu-
lose são: não cora pelo iodo; insolúvel nos solventes orgânicos usuais, ácidos e
álcalis diluídos, a frio; solúvel no reagente cuproamoniacal de Schweitzer.

CH2OH OH CH2OH OH
O O
O OH 4 O OH
1 4 1 1 4
OH O OH
HO OH
O O
OH CH2OH OH CH2OH
n
Celulose

Figura 2.20  –  Estrutura química da celulose. Fonte: Campbell, 2000.

A celulose é um polímero responsável por dar firmeza e rigidez às plantas.


Ela não é digerida pelos seres humanos, porque os animais não têm as enzimas
chamadas celulase, que hidrolisam a molécula de celulose em numerosos resí-
duos de glicose. A enzima celulase hidrolisa a ligação do tipo β, que é comum
em polímeros estruturais. A ligação do tipo α, que os animais conseguem hi-
drolisar, é comum em polímeros que armazenam energia, como o amido.
A celulose é importante enquanto alimento para muitas espécies animais,
entre elas os ruminantes (boi, carneiro, cavalo, cabras). O sistema digestório
destes animais, ao contrário do nosso, tem capacidade para digerir a celulose,
pois apresentam a enzima celulase que faz a sua hidrólise. As enzimas celu-
lase também são encontradas em bactérias que habitam o trato digestório de
cupins; os danos causados por esse tipo de insetos na madeira das construções
explica como eles usam a madeira como nutrientes.

Hemicelulose – difere da celulose por apresentar vários tipos de unidades


de açúcar e ser polímero ramificado de cadeia curta. É uma mistura de polissa-
carídeos de baixo peso molecular que estão intimamente associados à celulose
no tecido das plantas. São grupos distintos de polissacarídeos constituídos por

capítulo 2 • 59
açúcares pentoses (xilose e arabinose) que são xiloglucanas e contribuem com
aproximadamente 20-5% dos constituintes da parede celular primária, e/ou he-
xoses (glicose, manose e galactose), ácidos urônicos e grupos acetila. Em geral,
enquanto as madeiras de folhosas são compostas principalmente por heteroxi-
lanas altamente acetiladas, as madeiras de coníferas apresentam uma elevada
proporção de gluco¬mananas e galactoglucomananas parcialmente acetiladas.
Seu esqueleto de açúcares neutros é constituído por ligações β-(1→4), e os re-
síduos de glicose podem ser substituídos por resíduos de xilose via ligações
α-(1→6). O comprimento estimado desta cadeia é de 400-600 nm (Ilustração 9).
PENTOSES HEXOSES ÁCIDOS HEXURÔNICOS DEOXIEXOSES
OH
H COOH H
H O OH H O OH H O OH OH O OH
H H H CH3
OH H OH H OH H H H
HO H HO H HO H H H
H OH H OH H OH OH OH
β-D-xilose β-D-glucose ácido-β-D-glucurônico α-L-ramnose

OH
H COOH H
OH O OH H O OH H OH H O OH
H H H CH3
OH H OH OH OH H H OH
H H HO H H3CO OH HO H
H OH H H H OH OH H
α-D-arabinopiranose β-D-manose ácido-α-D-4-O-metilglucurônico α-L-fucase

OH
O COOH
OH OH OH
HO OH
OH H H H H
OH H OH
H H OH H OH
HO H OH H OH H OH
α-L-arabinosefuranose α-D-galactose ácido-α-D-galacturônico

Figura 2.21  –  Estrutura química dos açúcares que compõem a cadeia da hemicelulose.
Fonte: www.scielo.br

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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capítulo 2 • 61
62 • capítulo 2
3
Ácidos Graxos e
Derivados
64 • capítulo 3
3.1  Ácidos graxos e derivados
Lipídeo deriva do grego lipos, que significa gordura. Lipídeos são substâncias
orgânicas formadas por carbono (C), oxigênio (O2) e hidrogênio (H) e, em al-
guns casos, também apresentam fósforo (P) e nitrogênio (N) como participan-
tes de suas moléculas. São estruturas insolúveis em água e solúveis em solven-
tes orgânicos, como acetona, éter e clorofórmio.
Os lipídeos presentes no sistema biológico constituem um grupo de com-
postos quimicamente diferentes entre si, porém a sua insolubilidade é carac-
terística comum e definidora de todos os lipídeos. As gorduras e os óleos são
as principais formas de armazenamento de energia em vários organismos. As
substâncias esteróis e os fosfolipídeos são elementos estruturais de grande im-
portância que estão presentes nas membranas plasmáticas das células.
Outros lipídeos:
1. Isolantes térmicos(panículo adiposo
2. Proteção contra choques mecânicos
3. Veículo para absorção de vitaminas lipossolúveis

Estão presentes em menor quantidade, mas que desempenham funções


importantes no sistema biológico, são os transportadores de elétrons, os hor-
mônios e mensageiros intracelulares, os agentes emulsificantes do aparelho
digestório, os cofatores enzimáticos, os pigmentos que absorvem luz, algumas
âncoras hodrofóbicas para certas proteínas e certas moléculas guias.
Os óleos e as gorduras que são empregados pelos organismos vivos como
reserva de energia são derivados dos ácidos graxos.
Ácidos graxos livres (AGL) – são pequena parte de ácidos graxos que não fa-
zem parte dos triglicerídeos nem dos ésteres de colesterol. São ácidos carboxíli-
cos com cadeias de hidrocarbonetos que variam de 4 a 36 átomos de carbonos.
Alguns ácidos graxos apresentam a cadeia não ramificada e saturada, ou seja,
não apresentam dupla-ligação e são denominados de ácidos graxos saturados.
Em outros casos, apresentam duplas ligações, sendo denominados de ácidos
graxos insaturados.
São exemplos de ácidos graxos livres: ácido palmítico, ácido esteárico, ácido
araquidônico e ácido lenoleico. Suas estruturas químicas podem ser observa-
das na figura 3.1.

capítulo 3 • 65
O
CH3 — (CH2)10 — C
OH
ácido láurico (12 carbonos)
O
CH3 — (CH2)16 — C
OH
ácido esteárico (18 carbonos)
O
CH3 — (CH2)7 — CH CH — (CH2)7 — C
OH
ácido oleico (18 carbonos)
O
CH3 — (CH2)5 — CH CH — CH CH — (CH2)7 — C
OH
ácido linoleico (18 carbonos)
O
CH3 — (CH2)14 — C
OH
ácido palmítico (16 carbonos)

Figura 3.1  –  Estrutura química dos principais ácidos graxos livres. Fonte: www.
klickeducacao.com.br

Quanto a A nomenclatura dos ácidos graxos saturados e insaturados é sim-


ples e específica, pois se baseia no número de duplas duplas-ligações e no nú-
mero de átomos de carbono da cadeia, ambos separados por dois pontos. Como
exemplo temos o ácido palmítico, que apresenta 16 carbonos em sua cadeia e
não apresenta dupla dupla-ligação, portanto a sua nomenclatura é 16:0. Outro
exemplo é o ácido oléieico, que apresenta 18 carbonos em sua cadeia e uma
dupla dupla-ligação, portanto sua nomenclatura é 18:1. A posição da dupla liga-
ção dupla-ligação é especificada por números seguidos do símbolo grego delta
(∆) em maiúsculo. , pPortanto,, para um ácido graxo que apresenta 20 átomos
de carbono em sua cadeia e possui tem duas duplas ligações, uma entre o car-
bono 9 e o carbono 10, e a outra dupla ligação entre o carbono 12 e o carbono
13, sua a nomenclatura seria 20:2 (∆9,12).
Os ácidos graxos monoinsaturados (que apresentam 1 dupla ligaçãodupla
-ligação ) seguem um padrão, e é observadoobserva-se que, na maioria desses
tipos de ácidos graxos, a dupla ligação dupla-ligação sempre está entre o C-9 e o
C-10 (∆9). Nos ácidos graxos poli-insaturados (que apresentam mais de uma du-
pla ligaçãodupla-ligação), quando estes apresentam duas duplas ligações, em
geral são ∆12 e ∆15, com exceção do ácido araquidônico, que é formado por uma

66 • capítulo 3
cadeia de 20 carbonos e apresenta quatro duplas ligações nas posições 5, 8, 11
e 14 –, portanto, sua nomenclatura é ácido 20:4 (5,8,11,14).
Os ácidos graxos recebem essa denominação por estarem presentes nas
graxas. Mais de 50 tipos de ácidos graxos já foram identificados na natureza.
São encontrados nos alimentos e utilizados pelo corpo humano como fonte de
energia.
Os principais lipídeos presentes na corrente sanguínea são: colesterol, trigli-
cerídeos, ácidos graxos livres (AGL) e os fosfolipídeos. Devido a à sua proprieda-
de de insolubilidade em água e como 90% da parte líquida do sangue (Pplasma)
é água, os lipídeos necessitam ser transportados dentro do organismo humano,
portanto se juntam as às apoproteíinas e aos fosfolipídeos e formam sistemas
macromoleculares de transporte denominadas lipoproteínas. Após aDepois da
alimentação, os ácidos graxos são provenientes principalmente das lipoproteí-
nas quilomicron e VLDL (lLipoproteinaproteína de muito baixa densidade). No
estado de jejum, são provenientes da hidrólise dos triglicerídeos do tecido adi-
poso. Na circulação estão em uma concentração mínimna de 0,4 a 0,78 mo/L. C,
como são retirados rapidamente da circulação, contribuem muito pouco com
o perfil de lipídeos totais do plasma. Todos os AGL são transportados por uma
proteína isolada chamada albumina.
As lipoproteínas apresentam funções como: transporte de lipídeos para o
tecido adiposo e músculos na forma de triglicerídeos, transporte de colesterol
para as células periféricas, retorno do colesterol não utilizado pelas células para
o fígado. As lipoproteínas presentes no sistema biológico são: quilomicrons,
VLDL (lipoproteína de muito baixa densidade), LDL (lipoproteína de baixa den-
sidade) e HDL (lipoproteína de alta densidade) (figura 3.2).

Envoltura Polar Envoltura Polar


Colesterol Ésteres de colesterol

Fosfolípidos Triacilgliceroles

Apolipoproteínas

Figura 3.2 – Organização básicas das lipoproteínas. Fonte: biomodel.uah.es.

capítulo 3 • 67
Quilomícron – são moléculas grandes de lipoproteínas sintetizadas pelas
células intestinais. São formados por 85-95% de triglicerídeos de origem exóge-
no, pequena quantidade de colesterol livre, fosfolipídios e 1-2% de proteínas.
Os quilomícrons são menos densos do que o plasma sanguíneo, portanto flu-
tuam no plasma, conferindo um aspecto leitoso a este, e assim leva à formação
de uma camada cremosa quando é deixado em repouso.

VLDL – são lipoproteínas grandes, porém menores do que os quilomícrons,


sintetizadas no fígado. Apresentam como componentes estruturais 40% de
colesterol e fosfolipídios, 50% de triglicerídeos e 10% de proteínas, que são: a
Apoproteína B-100 (Apo B-100), Apoproteína C (Apo C) e Apoproteína E (Apo E).

LDL – são moléculas pequenas que, em grandes concentrações, não turvam


o plasma. Constituem cerca de 50% da massa das lipoproteínas plasmáticas.
São compostos de: 25% proteínas como a Apo B-100 e pequena quantidade de
Apo C, e 75% composto por fosfolipídios e triglicerídeos. O LDL é a lipoproteína
que mais transporta colesterol para os tecidos, para a produção de esteroides.
Em sua grande maioria, é produzido a partir de lipoproteínas VLDL.

HDL – são moléculas pequenas, compostas por 50% de proteínas (Apo A I e


II, e pequena parcela de Apo C e Apo E), 20% de colesterol, 30% de fosfolipídios.
Sua função é carrear o colesterol até o fígado diretamente ou transferir ésteres
de colesterol para outras lipoproteínas, em especial as VLDL. Tem papel prote-
tor na formação de aterosclerose.

Triglicerídeos – são formados por três moléculas de ácido graxo e uma mo-
lécula de glicerol pela reação de esterificação. Os ácidos graxos que compõem
a molécula de triglicerídeos quase sempre são diferentes entre si, apresentam
número par de carbonos e cadeias alifáticas (não contêm anel aromático). A
estrutura química dos componentes como glicerol e ácido graxo livre e a molé-
cula de triglicerídeo podem ser observadas na figura 3.3.

68 • capítulo 3
H H O Grupo funcional dos ésteres
H—C—O—H H—C—O—C—R
O
H—C—O—H H—C—O—C—R
O
H—C—O—H H—C—O—C—R
H H
Glicerina Triglicerídeo
(triéster da glicerina)

Figura 3.3  –  Estrutura química do glicerol, do ácido graxo livre e da molécula de triglicerí-
deo. Fonte: www.alunosonline.com.br

Os triglicerídeos são a principal forma de armazenamento de lipídeos do


corpo humano. R, representam uma reserva metabólica energética, pois cons-
titui cerca de 95% do tecido adiposo. Quando o triglicerídeo é hidrolisado, libe-
ra ácidos graxos e glicerol livres para serem utilizados pelo organismo humano.

Colesterol – São estruturas esteróioides compostao por 27 carbonos com


polaridade conferida pela hidroxila do carbono 3. É sintetizado por todas as
celulas do corpo humano, com exceção das hemácias. Precursor de todos os
hormônios esteróioides, como: estrogênio, testosterona, glicocorticóioides,
ácidos biliares (figura 3.4).

CH3

CH — CH2 — CH2 — CH2 — CH — CH2


H3C
CH3
H3C

HO Colesterol

Figura 3.4  –  Estrutura química do colesterol. Fonte: www.gentequeeduca.org.br

capítulo 3 • 69
Aproximadamente 70% do colesterol presente na corrente sanguínea são
transportados pela LDL, e uma parte significativa (15% a 25%) ésão transporta-
das pela HDL.

3.2  Biossíntese e caracterização química de


ácidos graxos e derivados

Os ácidos graxos são estruturas químicas que se caracterizam por apresentarem


cadeia de carbonos e hidrogênios ligados entre si, que podem ter tamanhos va-
riados. Ao longo da cadeia podem ser encontrados dois tipos de ligações quími-
cas, em diversas posições, originando as diferentes famílias de ácidos graxos.
De acordo com a presença de dupla ligaçãodupla-ligação, podem ser classifica-
dos como saturados ou insaturados. Os ácidos graxos insaturados apresentam
dupla ligação dupla-ligação e são facilmente convertidos em saturados através
da hidrogenação catalítica, processo também chamado de redução. A presença
de insaturação ou dupla ligação dupla-ligação nas cadeias dificulta a interação
intermolecular, fazendo com que estes se apresentem no estado líquido à tem-
peratura ambiente, no estado líquido. Os ácidos graxos saturados, não apre-
sentam dupla ligação dupla-ligação e possuem têm maior facilidade de empa-
cotamento intermolecular. S, são sólidos.
De acordo com as duplas duplas-ligações presentes na sua cadeia, podemos
classificar os ácidos graxos em saturados, monoinsaturados e poli-insatura-
dos. Os ácidos graxos poli-insaturados são os componentes dos fosfolipídios
mais importantes, pois são constituintes de membranas das células. Os áci-
dos graxos poli-insaturados (AGP) podem ser subdivididos em três famílias, de
acordo com a posição da insaturação da cadeia carbônica, que são: ômega-6
(W6 ou n-6), ômega-3 (W3 ou n-3) e ômega- 9 (W9 ou n-9). E, estes são classi-
ficados como essenciais, por não serem sintetizados pelas células do organis-
mo, devendo assim ser adquiridos na alimentação. O ômega 3 é representado
por símbolos numéricos, como C18:3 (9,12,15), denominado ácido alfa lino-
lênico (ALA) e também ácido alfa-linolênico, ácido eicosapentaenoico, ácido
docosapentaenóioico, ácido docosaexaenoico, eicosanoides. É e, encontrado

70 • capítulo 3
principalmente em peixes marinhos de água fria e em algumas sementes de
plantas. O ômega 6 é representado por símbolos numéricos C18:2, que podem
ser ácido linoleico, ácido gama linolênico, ácido diiomogama- linolênico, ácido
araquidônico e eicosanoides (figura 3.5).

Omega 6 ácidos graxos Omega 3 ácido graxos


CH3 Derivado de plantas

COOH CH3 COOH


C18:2n-6 C18:3n-6
Ácido linoleico Ácido alfalinolênico

CH3 Derivado marinho

COOH CH3 COOH


C20:4n-6 C20:5n-3
Ácido araquidônico Ácido eicosapentaenoico
(EPA)
CH3
COOH CH3 COOH
C22:5n-6 C22:6n-3
Ácido Ácido
docosapentaenoico docosahexaenoico

Figura 3.5  –  Estrutura química dos ácidos graxos poli-insaturados ômega-6 e 3. Fonte: bio-
biocolesterol.blogspot.com

O ômega-9, representado pelo símbolo C18:1, é também chamado de ácido


oleico e, por ter um grupo funcional COOH, é denominado ácido carboxílico.
Apresenta cadeia longa, com 18 carbonos na sua estrutura, e uma dupla-ligação
no carbono 9, sendo assim chamado de ácido graxo insaturado (figura 3.6).

H H H H H H H H H H H H H H H H H H
O
H — C — C — C — C — C — C — C — C — C = C — C — C — C — C — C — C — C — C — OH
H H H H H H H H H H H H H H H H

Figura 3.6  –  Estrutura química do ácido graxo ômega- – 9. Fonte: www.ocd-free.org

O número de duplas ligações e as diferentes posições conferem aos ácidos


graxos diferentes propriedades químicas, nutricionais e funcionais. Cada famí-
lia apresenta um ácido graxo precursor específico, chamado essencial, o qual é
convertido em outros ácidos graxos da mesma série através de sucessivas rea-
ções enzimáticas onde em que ocorrem adição de novos carbonos e insatura-
ções na cadeia original (figura 3.7).

capítulo 3 • 71
Metilo Carboxilo
Ácido esteárico CH3
C 18:0
COOH
1 3 5 7 9 . . . . n - até 18
Ácido oleico CH3 COOH
C 18:1, Omega - 9

Mamíferos colocam enlaces duplos


nesta posição
Ácido linoleico CH3
C 18:2, Omega - 6
Mamíferos não podem COOH
colocar enlaces duplos
nesta posição
Ácido alfalinolênico CH3 COOH
C 18:3, Omega - 3

Figura 3.7  –  Número de duplas-ligações dos ômegas 3, 6 e 9. Fonte: abobrinhasdamidia.


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3.3  Propriedades farmacológicas


Nos seres humanos, a deficiência de ácidos graxos essenciais, pode levar a con-
dições anormais da pele, tais como descamações, dermatites, redução na rege-
neração dos tecidos, ressecamentos e aumento da suscetibilidade a infecções.
Observa-se que esses efeitos são devidos à falta de produção de prostaglandi-
nas, que são produzidas a partir dos ácidos poli-insaturados.
A gordura é um dos componentes essenciais para o corpo humano, pois,
além de fornecer quantidade de energia consideravelmente maior quando com-
parada aos carboidratos e às proteínas, contém ácidos graxos essenciais, que o
corpo humano não é capaz de produzir e que devem estar presentes na dieta.
O nome “gordura” engloba duas categorias de substâncias, ácidos graxos e
glicerol, e as gorduras denominadas ômega 3, 6 e 9 pertencem à classe de áci-
dos graxos poli-insaturados, assim chamados por terem duas ou mais insatura-
ções na cadeia carbônica.
Os ácidos linoleicos e linolênicos são classificados como essenciais por dois
motivos distintos: primeiro porque são componentes estruturais de membra-
nas de todas as células do corpo humano e segundo porque são precursores de
substâncias fisiologicamente ativas chamadas eicosanoides. Os eicosanoides
são sintetizados a partir de um composto chamado ácido araquidônico (n-6),
presente nos fosfolipídios, que são componentes estruturais das membranas

72 • capítulo 3
celulares. Os eicosanoides são moléculas altamente bioativas, com tempo de
vida curto, e são produzidos pelas próprias células que os utilizam. Essas subs-
tâncias são produzidas em resposta a estímulo fisiológico da adrenalina ou de
complexo antígeno/anticorpo. Podem também ser produzidas por estímulos
não fisiológicos, como danos mecânicos.
Os ácidos graxos que são derivados da família n-3 apresentam um potencial
inflamatório menor do que a observada na família n-6. Isto aumenta a proprie-
dade farmacológica da família n-3 no tratamento das doenças como artrite reu-
matoide, doença de Alzheimer, esquizofrenia e depressão.
Quanto ao sistema nervoso, as membranas neuronais apresentam fosfo-
glicerolipídeos ricos em ácidos graxos poli-insaturados, que são o ácido do-
cosaexaenoico (DHA) e o ácido araquidônico (AA). Estes ácidos graxos são de
grande importância na regulação da função cerebral. Quando incorporados à
membrana dos neurônios, alteram suas características físico-químicas, poden-
do participar ativamente de processos de sinalização celular, como a apoptose
e a regulação da atividade enzimática. Quando os ácidos graxos são agonistas,
agem estimulando os receptores de membrana e ativam a adenilciclase (AC) ou
a fosfolipase (FL). Como consequência, os segundos mensageiros produzidos,
que são as FL, influenciam as ações da proteína kinase, dependente de AMPc
(PKA) e da proteína kinase C (PKC), respectivamente.
O DHA é a forma predominante de ácido graxo poli-insaturado no cérebro
e é obtido a partir das reservas de ácido linolênico do corpo humano. Quando
temos quantidades inadequadas dos precursores nos períodos de formação e
amadurecimento do SNC, isso pode acarretar em prejuízos da função cognitiva
e debilidade da função neural e, portanto, sua deficiência pode estar relaciona-
da a artrite, hipertensão, diabetes mellitus, aterosclerose, trombose, infarto no
miocárdio, alguns tipos de câncer e depressão.
A literatura mostra que existe uma relação entre o conteúdo de ácidos graxos
poli-insaturados presentes no cérebro, e que a função destes compostos quí-
micos pode ser constatada a partir de experimentos comportamentais. Muitos
estudos vêm mostrando que os ácidos graxos essenciais são necessários para
o desenvolvimento do cérebro e de toda a sua funcionalidade, podendo levar
ao desenvolvimento de neuropatologias, tais como depressão e esquizofrenia.
Assim, alguns autores têm sugerido a utilização do óleo de peixe, que é rico em
ácido graxo poli-insaturado de cadeia longa, no tratamento da depressão e de-
sordens afetivas.

capítulo 3 • 73
3.3.1  Azeites vegetais de interesse farmacêutico; óleo de rícino;
manteiga de cacau; óleo de girasol e óleo de oliva

Azeites – Segundo a Farmacopeia Portuguesa VIII, existem dois tipos de azeite,


o azeite virgem e o azeite refinado, que são obtidos a partir de azeitonas ma-
duras de uma árvore conhecida como Olea europea L. Os dois tipos de azeites
devem apresentar as seguintes características: ausência de óleo de sésamo; ín-
dice de ácido 2,0; percentagem de saponificação igual ou abaixo de 1,5; absor-
vância em 270 nm; fração de esteróis no mínimo 93,0% de β-sitosterol, coleste-
rol no máximo 0,5%; no máximo 0,5% DE ∆7 –estigmasterol. Os dois tipos de
azeites apresentam atividade coletérica, ou seja, são todas as substâncias que
são usadas para contrair a vesícula biliar, estimulando a liberação da bílis do
canal colédoco. Apresentam também uma leve ação laxativa e, quando usado
externamente, podem ter ação emoliente. Quando usados em formas farma-
cêuticas para administrações por vias parentéricas, eles devem ter um teor de
H20 superior a 0,1%.

Óleo de rícino virgem – óleo gordo obtido por meio de prensagem a frio sem
água de sementes da planta chamada Ricinus communis L. Este vegetal é uma
Euforbiácea de zonas menos frias de Portugal que contém de 40% a 50% de óleo
viscoso, claro ou levemente amarelado, por ser constituído principalmente de
ricinoleico, que é um glicerídeo de um ácido hidroxilado, pouco solúvel em éter
de petróleo e solúvel em álcool e ácido acético glacial.
O óleo de rícino tem atividade purgativa, usado em medicina popular entre
15 ml a 16 ml. Atua fazendo uma limpeza no cólon, porém não serve para trata-
mento de prisão de ventre.
É utilizado pela indústria na fabricação de sabões e detergentes. Do óleo
de rícino se obtém o ácido undecilênico, que é utilizado como fungicida e para
obtenção de óleo de rícino hidrogenado.

Manteiga de cacau – tipo de gordura vegetal que pode ser obtida a partir
da prensagem dos cotilédones das sementes, sendo o principal produto do ca-
caueiro, que é comercializado após a fermentação e secagem do fruto. É bastan-
te utilizada na indústria farmacêutica, cosmética e alimentícia para produção
de chocolates.

74 • capítulo 3
A manteiga de cacau é composta predominantemente pelos ácidos graxos:
ácido oleico (c18: 1) de 31 a 37%; ácido esteárico (c18: 0) de 32 a 37%; ácido pal-
mítico (c16: 0) de 24 a 29% e o ácido linoleico (C18: 2) de 02 a 05%.
Esse tipo de gordura vegetal é utilizado em preparações de supositórios e
óvulos. Apresenta propriedades emolientes, podendo ser usadas em queima-
duras e como protetor solar.

Óleo de girassol – extraído das sementes da planta do Helianthus annus C.


e submetido ao processo de refino e desodorização. Óleo de origem vegetal e
fonte natural de ácidos graxos essenciais. É uma combinação de ácidos graxos
monoinsaturados e gorduras poli-insaturadas que apresentam baixos níveis de
gordura saturada. O óleo de girassol é também rico em vitaminas A, C, D e E.
Observa-se que o seu alto teor de vitamina “E” o torna muito útil para a pele
seca e delicada. Apresenta nível baixo de cor e é inodoro.
O óleo de girassol é composto por: ácido linoleico (c18: 2) de 48 a 74%; ácido
oleico (c18: 1) de 14 a 40%; ácido palmítico (c16: 0) de 4 a 9% e ácido esteárico
(c18: 0) de 1 a 2%. O alto teor em ácidos graxos insaturados é influenciado pelo
clima e por fatores genéticos. Observa-se que, quando a temperatura é baixa, o
teor de ácidos graxos insaturados é mais elevado.
Sua utilização é na maior parte para a alimentação, podendo estar presentes
em suplementos dietéticos calóricos e também sob a forma de emulsão, que é
usado como excipiente nas preparações oleosas. Apresenta ação emoliente e
re-epitelizante. Pelo alto teor de ácidos graxos poli-insaturados, é fundamen-
tal para a renovação das células dos tecidos orgânicos, sendo uma substância
que nosso organismo não sintetiza (exógena) – é necessário ser suprida de fon-
te externa.

Óleo de oliva – azeite natural, chamado de extra virgem. É um óleo vegetal


extraído da fruta da planta chamada oliveira, a Olea europaea, que é uma ár-
vore do Mediterrâneo. É obtido por prensagem a frio e filtrado mecanicamen-
te. Somente as olivas pretas e maduras são utilizadas para produzir esse tipo
de óleo.
É um óleo de amarelo a esverdeado claro que pode ser utilizado como óleo
comestível e para tratamento da pele. É o tipo de azeite ou óleo com o mais alto
teor de ácidos graxos monoinsaturados e substâncias antioxidantes. Atua na

capítulo 3 • 75
proteção contra doenças cardíacas, pois controla o LDL e eleva o HDL, portanto
age como agente protetor das artérias coronárias, retardando a aterosclerose.
O óleo de oliva é composto por: ácido linolênico (C18: 2) até 0,9%; ácido li-
noleico (c18: 2) de 3,5 a 20% e ácido oleico (c18: 1) de 56 a 85%. É um excelente
emoliente, podendo ser usado na preparação de loções, sabonetes, cremes re-
generativos e óleo de banho. É utilizado também na indústria alimentícia, na
preparação de biscoitos, em cápsulas nutricosméticas e bombons.

3.3.2  Fatores que alteram as propriedades dos óleos

A ação conjunta de calor, luz e umidade é responsável pelo processo de rancifi-


cação. Ranço: presença de componentes voláteis, de pesos moleculares baixos
e de dores desagradáveis. A alteração dos óleos deve-se à presença de hiperóxi-
dos, devido à oxidação de ácidos graxos seguida da decomposição destes, for-
mando compostos de baixo peso molecular (aldeídos, cetonas, alcoóis, ácidos
e epóxidos), responsáveis pelo odor desagradável do ranço.

3.3.3  Ceras

As ceras são lipídios simples formados por uma molécula de álcool que se en-
contra ligada a uma ou mais moléculas de ácidos graxos. Apresentam alto peso
molecular, com cadeia carbônica linear, são solúveis em substâncias gorduro-
sas e solventes orgânicos como terebentina, éter, benzina e clorofórmio. Quan-
do expostas a uma temperatura a partir de 35 °C, são maleáveis.
Sua densidade é próxima à da água, são insolúveis em água e atuam como
isolantes elétricos.
Pela sua insolubilidade em água, são úteis às plantas. Observa-se que as fo-
lhas de várias plantas têm sua superfície envolta pela cera, tornando-as imper-
meáveis, evitando assim perda excessiva de água pela transpiração. São úteis
também para os animais, pois o corpo de algum deles, como as aves aquáticas,
têm suas penas recobertas de ceras produzidas pelas glândulas uropigianas,
que são utilizadas para facilitar a sua flutuação. Nos seres humanos, são úteis
no sistema auditivo, no qual as ceras (ou cerume) são produzidas e expelidas
pelas glândulas sebáceas, desempenhando função protetora contra infecções
por microrganismos.

76 • capítulo 3
Na indústria, as ceras são aplicadas para a produção de sabões, graxas para
sapato, ceras para assoalhos, verniz, velas. Também é utilizada na área de cos-
méticos, depilatórios e medicamentos.
Para fins medicinais, é observado o uso da cera de abelha. Quando ela é
mascada pura, pode eliminar resíduos de nicotina na boca e tártaro nos dentes.
A literatura constata também que, quando mascada com mel, pode ser eficaz
nos casos de sinusite e outros tipos de reações alérgicas.
Existe um gênero de bactérias chamado Mycobacterium que apresenta um
tipo de cera chamado ácido micólico na sua parede celular, que confere imper-
meabilidade à célula. Essa cera faz com que a célula não responda à coloração
de Gram.

3.3.4  Métodos de detecção e análises de ácidos graxos

Os ácidos graxos são detectados por meio de análises em que se determina o


conteúdo de ácidos graxos insaturados, saturados e poli-insaturados. As análi-
ses se iniciam com um óleo ou gordura isolada, e o procedimento padrão para
a obtenção de ácidos graxos de gorduras e óleos é a saponificação e, em segui-
da, a acidificação. Para identificar e quantificar os ácidos graxos, o método por
cromatografia gasosa é a mais utilizada. Esta técnica foi primeiramente desen-
volvida por analistas de lipídeos. Atualmente foi-se aprimorando a resolução da
cromatografia gasosa pela disponibilidade das colunas capilares desenvolvidas
com sílica fundida, que apresenta uma boa estabilidade e inércia, e isso fez au-
mentar o leque de aplicações.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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insaturados – ÔOmega 3 obtidos de óleo de peixe e óleo de linhaça. Rev. Inst. Ciênc. Saúde, v. 26;
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VOET, D.; VOET, J.G.; PRATT, C.W. Fundamentos de Bioquímica a vida em nível molecular. 2.ed.
Porto Alegre: 2ª edição. Ed. Artmed,. Porto Alegre, 2008.

78 • capítulo 3
4
Quinonas
80 • capítulo 4
4.1  Quinonas
As quinonas são metabólicos derivados da oxidação de fenóis. São caracteriza-
das por possuírem duas carbonilas conjugadas com no mínimo duas duplas
ligações. As substâncias pertencentes a este grupo, na maioria, quando livres,
geram produtos coloridos; por esta razão antigamente eram amplamente em-
pregadas como corantes. Sua coloração varia de amarela a vermelha, entretanto
algumas quinonas podem apresentar a cor azul ou verde, sendo que antronas
e antranóis costumam ser laranja ou vermelhos, e as naftodiantronas, roxas.
As quinonas estão presentes em várias espécies vegetais, principalmen-
te as pertencentes às famílias Rubiaceae, Caesalpiniaceae, Rhamnaceae,
Polygonaceae, Liliaceae, Verbenaceae, Asphodelaceae, Bignoniaceae,
Juglandaceae, Plumbaginaceae, Boraginaceae, Lythraceae Ebenaceae,
Droseraceae, Myrsinaceae, Boraginaceae, Iridaceae e Primulaceae, mas tam-
bém podem ser encontradas em algumas bactérias, fungos, liquens ou ainda
em insetos como a cochonilha.

4.2  Classificação e nomenclatura


As principais quinonas encontradas na natureza são as benzoquinonas, as naf-
toquinonas, as antraquinonas e as naftodiantronas (figura 4.1). A denominação
das quinonas ocorre de acordo com a estrutura carbônica e a posição ocupada
pelas carbonilas seguida do sufixo “quinona”.

O
O

O
O
1,4-benzoquinona (p-benzoquinona) 1,2-benzoquinona (o-benzoquinona)
O O

O O
1,4-natotoquinona 9,10-antraquinona
O

capítulo 4 • 81
O O
1,4-natotoquinona 9,10-antraquinona
O

O
Naftodiantrona

Figura 4.1  –  Exemplos de benzoquinonas, naftoquinonas e antraquinonas. Fonte: Falken-


berg, 2010; Cunha, 2007.

4.3  Biossíntese
As quinonas podem ser sintetizadas a partir de várias rotas. Uma delas é por meio
da acetilação do ácido succinilbenzoico, pela ação da coenzima A. As 1,8-di-hidro-
xiantraquninonicos e as naftoquinonas podem ser geradas via acetato/malonato.
Acetil-ACP
O S — R1 O O O + CO2

HO O + HO S — R1 CH S — R1
Malonil-ACP OH
O

S — R1
O
OH O OH O O O O
O O O + CO2
OH
H3C S — R1
HO OH O CH3
O O O
O
frangulaemodina

Figura 4.2  –  Biossíntese das antraquinonas. Fonte: Sarker, 2009.

4.4  Extração de quinonas


As quinonas são extraídas geralmente empregando-se os métodos de macera-
ção e/ou percolação, utilizando preferencialmente como solvente clorofórmio
ou acetona.

82 • capítulo 4
4.5  Detecção de quinonas
4.5.1  Reação de Borntranger

Neste método, é possível detectar a presença de antraquinonas livres, entre-


tanto as que se apresentam conjugadas a açúcares (apenas os O-heterosídeos)
podem ser hidrolisadas com aquecimento em contato com hidróxido alcalino.
A Sociedade Brasileira de Farmacognosia disponibiliza, em seu site, algumas
variações deste método, no seguinte endereço: http://www.sbfgnosia.org.br/
Ensino/antraquinonas.html.
Técnica: para antraquinonas livres, como as encontradas na cáscara-sagra-
da, pode-se proceder adicionando aproximadamente 0,2 g da droga vegetal em
um tubo de ensaio, acrescentando 5 ml de solução de amônia diluída e obser-
vando a coloração, que será de rosa a vermelha na presença de antraquinonas
livres. Esta metodologia é denominada direta.
Para a detecção de antraquinonas conjugadas com glicosídeos, como as
presentes no sene, a análise pode ser realizada pela adição de 1,0 g da planta
em um tubo de ensaio, levado a fervura com 8 ml de etanol a 25% por 1 minuto.
O extrato obtido deve ser filtrado e acrescido de 4 ml de ácido sulfúrico a 5%
e aquecido brandamente. Após resfriado em água corrente, adicionar 5 ml de
clorofórmio e extrair por aproximadamente 3 minutos. Após a separação das
fases, acrescentar 5 ml de amônia diluída. Na presença de antraquinonas, será
observada uma coloração rosa ou vermelha na fase aquosa.

4.5.2  Pesquisa de compostos antraquinônicos livres e combinados

Técnica A: em um tubo de ensaio, acrescentar aproximadamente 0,2 g de droga ve-


getal, acrescentar 5 ml de éter e agitar. Após a decantação, adicionar 1 ml de amônia
diluída e agitar novamente. As antraquinoas livres devem corar-se de rosa.
Técnica: empregar o material vegetal residual da técnica A, colocar em um
balão de fundo redondo, acrescentar 50 ml de água e deixar ferver por 15 mi-
nutos. Esfriar a amostra e filtrar, acrescentar 10 ml de ácido clorídrico e aque-
cer novamente por 15 minutos, esfriar e filtrar novamente. Acrescentar 20 ml
de éter ao filtrado e agitar para realizar a extração, repetir este procedimento
com mais duas porções iguais de éter. E finalmente separar as fases aquosa
e orgânica.

capítulo 4 • 83
Na fase orgânica, acrescentar 10 ml de amônia diluída e observar a colo-
ração, que deve ser vermelha na presença de O-heterosídeos. Na fase aquosa,
acrescentar 5 g de cloreto férrico e aquecer em banho-maria por 30 minutos,
esfriar e transferir para um funil de separação para proceder a extração com 20
ml de clorofórmio. Lavar a fração clorofórmio com água, e por fim acrescentar
10 ml de solução de amônia diluída. Na presença de C-heterosídeos, a camada
aquosa apresentará a coloração vermelha.

4.5.3  Microssublimação

A microssublimação permite a detecção de compostos antraquinônicos livres,


porém tem a desvantagem de degradar os constituintes facilmente hidrolisá-
veis, devido ao uso de calor. As antronas e os antranóis podem sofrer oxidação,
gerando seus derivados antraquinônicos.
Técnica: preparar uma câmara de microssublimação colocando um anel de
vidro entre duas lâminas de vidro, adicionar no interior 1 g de droga vegetal em
pó e aquecer até que ocorra a formação de um sublimado amarelo. Retirar cui-
dadosamente a lâmina superior e adicionar sobre o sublimado poucas gotas de
hidróxido de potássio a 10% e observar a coloração.

4.5.4  Pesquisa de adulteração em ruibarbo

As espécies Rheum palmatum L. e Rheum officinale Baill, conhecidas po-


pularmente como ruibarbo, são amplamente empregadas devido às suas pro-
priedades laxativas. Entretando, a espécie Rheum rhaponticum L., ruibarbo
rapônico, é encontrada como adulterante em várias amostras de ruibarbo dis-
ponível no mercado. Tal droga, além de ter menor porcentagem de antraquino-
nas, contém a raponticina, que é um glicosídeo com atividade estrogênica não
recomendado para a ingestão.
HO
OH

OCH3
C6H11O5 — O

Figura 4.3  –  Raponticina. Fonte: http://www.sbfgnosia.org.br/Ensino/antraquinonas.html

84 • capítulo 4
Técnica: adicionar 0,1 g de ruibarbo em um tubo de ensaio, acrescentar 5 ml
de etanol absoluto e agitar vigorosamente. Após repouso de 5 minutos, umede-
cer um pedaço de papel de filtro com o extrato, secar e observar em luz ultravio-
leta. A reação será considerada positiva se ocorrer uma fluorescência azulada.

4.6  Propriedades farmacológicas e


biológicas das quinonas

Muitas quinonas são consideradas metabólitos de defesa no vegetal, protegendo prin-


cipalmente contra insetos. Algumas quinonas presentes na família das leguminosas
são tóxicas para cupins. Existem estudos que comprovam ainda a atividade alelopática
de algumas quinonas, impedindo que outros vegetais se desenvolvam ao redor.
São relatadas várias outras atividades para as quinonas, como antibacte-
riana, antifúngica, antileucêmica, antiprotozoária e antitumoral. No quadro 1
podem ser visualizadas as estruturas de algumas quinonas e suas atividades.
Entretanto, a atividade mais conhecida das quinonas é a propriedade laxativa
que os derivados hidróxi-antracênicos possuem.

PROPRIEDADE
QUINONA ESTRUTURA QUÍMICA BIOLÓGICA/
FARMACOLÓGICA

O CH3
H3C
O
Ação contra insetos e
primina
tripanossomatídeos

capítulo 4 • 85
PROPRIEDADE
QUINONA ESTRUTURA QUÍMICA BIOLÓGICA/
FARMACOLÓGICA

O H CH3

Ação contra
perezona
H3C OH tripanossomatídeos
O

H3C CH3

CH3 O
O

Ação contra
Mansonona A
CH3 tripanossomatídeos

H3C CH3

CH3 O
O

Ação contra
Mansonona C
CH3 tripanossomatídeos

H3C CH3

CH3 O
O

Ação contra
Mansonona E
CH3 tripanossomatídeos
O
H3C

86 • capítulo 4
PROPRIEDADE
QUINONA ESTRUTURA QUÍMICA BIOLÓGICA/
FARMACOLÓGICA

CH3 O
O

Ação contra
Mansonona F
CH3 tripanossomatídeos
O
H3C

juglona Atividade alelopática

OH O

Tabela 4.1  –  Estrutura química e propriedades de algumas quinonas.

Um dos empregos mais antigos das quinonas é como corante natural.


Atualmente, para que possam ser utilizadas para este fim, as quinonas são des-
tituídas da sua atividade laxativa, e assim usadas como corantes. Algumas qui-
nonas, como a juglona, são empregadas como indicadores de pH.

4.7  Antraquinonas
4.7.1  Características químicas

Assim como as diantronas e as naftodiantronas, as antraquinonas podem ser


geradas a partir da oxidação em antronas livres (figura 4).
As antraquinonas, em comparação com os demais grupos de quinonas, são
consideradas como grupo mais estável. Possuem hidroxilas nos carbonos 1 e

capítulo 4 • 87
8 e grupo cetona nos carbonos 9 e 10. Geralmente encontram-se associadas a
moléculas de açúcares.
antraquinona antrona
O OH O

red. red.
oxi. oxi.

H H
O O
red. antranol red.
oxi. oxi.
O

OH O
isomerização
H H

OH H OH
antra-hidroquinona oxantrona
O
diantrona

Figura 4.4  –  Oxidação e redução de compostos antraquinônicos. Fonte: Cunha, 2007.

4.7.2  Relação estrutura-atividade

A antraquinona reduzida a antrona ou diantrona é mais ativa. Dessa forma, os gli-


cosídeos antraquinônicos necessitam de uma dose maior para produzir o efeito
laxativo do que os glicosídeos de antronas. Acredita-se ainda que a presença de
grupos hidroxilas ligados aos carbonos 1 e 8 seja essencial para a ação laxativa.
A presença de açúcares ligados às estruturas das antraquinonas contribui
para o transporte deste grupo; entretanto, devido à sua polaridade, podem di-
minuir a absorção.

4.7.3  Mecanismo de ação e efeitos adversos

As antraquinonas podem promover a liberação de histamina, que, por sua vez,


estimula a contração da musculatura lisa, dessa forma aumentando o peristal-
tismo. Ocorre ainda a inibição da bomba de sódio e potássio e dos canais de
cloro, assim diminuindo a reabsorção de água.

88 • capítulo 4
O uso abusivo de antraquinonas pode levar à redução do tônus intestinal,
pois ocorre a perda de eletrólitos, e como consequência pode dificultar o fun-
cionamento do intestino. A diminuição de potássio pode ocasionar problemas
renais e neuromusculares e ainda potencializar medicamentos cardiotônicos.
Acredita-se que as antraquinonas no estado reduzido tenham maior ativi-
dade laxante, entretanto elas seriam as principais responsáveis pelos efeitos
como cólica e vômito.
O paciente que emprega as antraquinonas pode desenvolver fissuras anais,
hemorroidas, cólicas e lesões na mucosa intestinal. Devido ao efeito oxitócico,
não deve ser empregado por gestantes, pois pode levar ao aborto.

4.7.4  Drogas vegetais

•  Sene
A espécie Senna alexandrina Mill. (figura 4.5) é amplamente empregada devi-
do às suas propriedades laxativas. Os frutos e as folhas desta espécie são ricos
em glicosídeos antranoides. Todavia, as folhas são mais empregadas, pois es-
tas contêm maior porcentagem de aloe-emodina (figura 4.6), substância que
apresenta maior atividade laxante. São encontradas ainda nesta droga vegetal
os senosídeos A-F, que, devido ao procedimento de secagem, originam diantro-
nas e antraquinonas correspondentes e podem interagir formando novos com-
postos, como a reína-antrona e a aloe-emodina-antrona (figura 4.6).

Figura 4.5  –  Folhas e flores do sene. Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Senna_(planta)

capítulo 4 • 89
OH O OH OH O OH

OH
H H H H
reína-antrona aloe-emodina-antrona

OH O OH HO O OH

O O
HO
H OH H
H H

OH O OH OH O HO
(+) senidina A SS ( - ) senidina A RR

OH O OH

HO H OH
H

OH O OH
(meso) senidina B RS

OH O OH

OH

H H
aloe-emodina-antrona

Figura 4.6  –  Antronas e diantronas presentes no sene. Fonte: Falkenberg, 2010.

O uso do sene foi relatado em um documento do período oitocentista en-


contrado no Mosteiro de São Bento, no Rio de Janeiro. Tal manuscrito consiste
em um livro de formulações empregadas pelos boticas da época.

90 • capítulo 4
Um estudo realizado em pessoas com constipação intestinal que emprega-
ram geleia sem açúcar contendo Senna alexandrina e Cassia fistula constatou
que tal produto foi eficaz e seguro no tratamento da constipação crônica.
De acordo com experimentos realizados, acredita-se que uma das melhores
formas para a extração de Senna alexandrina seja por maceração com aqueci-
mento (60oC) e agitação, empregando como solvente o etanol.

•  Cáscara-sagrada
A espécie Rhamnus pursiana DC., conhecida popularmente como cáscara-
sagrada, apresenta atividade laxativa mais suave que a do sene. Os principais
hidroxiantracênicos presentes nas cascas do caule desta espécie são os casca-
rosídeos (figura 4.7). No entanto, para que possa ser utilizada, a cáscara-sagra-
da precisa passar por um processo de secagem a 100 oC por 1-2 horas ou ser
estocada por no mínimo um ano, para a eliminação de antronas, que podem
ocasionar vômito e contrações.
O emprego da cáscara-sagrada por um período prolongado pode causar a
perda de nutrientes e desequilíbrio eletrolítico. Portanto, não é recomendado o
uso constante desta planta.

Figura 4.7  –  Imagem de folhas de cáscara-sagrada. Fonte: http://snowbirdpix.com/


montana_plant_page.php?id=1417

capítulo 4 • 91
R—O O OH R—O O OH

OH OH
H R R H
cascarosídeo A cascarosídeo B

R—O O OH R—O O OH

CH3 CH3
H R R H
R= β-D-gli cascarosídeo C cascarosídeo D

Figura 4.8  –  Cascarosídeos A-D. Fonte: Falkenberg, 2010.

•  Ruibarbo
No ruibarbo (Rheum palmatum L. e Rheum officinale Baill) são encontra-
das várias antraquinonas, como frângula-emodina, reína, aloe-emodina, criso-
fanol e ficsiona (figura 4.9), que são as principais responsáveis pela atividade
laxativa da planta.
Existe uma espécie conhecida como ruibarbo-rapônico ou ruibarbo de jar-
dim que é empregada para fazer adulteração em produtos comerciais. Essa ati-
tude é especialmente problemática, devido à presença de rapontigenina e de
teores altos de ácido oxálico (este último pode causar problemas renais).
OH O OH OH O OH

CH3 OH CH3
O O
crisofanol emodina

OH O OH OH O OH

O OH
CH3 O O OH
aloe-emodina

OH O OH

O OH
reína

Figura 4.9  –  Agliconas antraquinonicas presentes no ruibarbo. Fonte: Falkenberg, 2010.

92 • capítulo 4
•  Babosa
O látex dessecado da babosa (Aloe ferox Mill., Aloe vera (L.) Burm. f.) é rico
em derivados antraquinônicos e, consequentemente, apresenta atividade laxa-
tiva. Este produto é diferente do gel de babosa, amplamente empregado pela
medicina popular, pois o gel é preparado a partir da mucilagem presente nas
folhas da babosa. Dentre os derivados hidroxiantracênicos do aloe, podem ser
citadas a aloína A, aloína B, alonosídeo A e alonosídeo B (figura 4.9).

OH O OH OH O OH

OH OH

H R1 R1 H
R1= β-D-Gli aloína A aloína B
R2= α-L-ram OH O OH OH O OH
R2 R2

O O

R1 H H R1
aloinosídeo A aloinosídeo B

Figura 4.10  –  Principais derivados hidroxiantracênicos da babosa. Fonte: Falkenberg, 2010.

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Fitoquímica. Lisboa: Fundação Caluste Gulbenkian, 2010.
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94 • capítulo 4
5
Terpenoides e
Saponinas
96 • capítulo 5
5.1  Terpenoides
Os terpenoides são constituídos por uma unidade básica de 5 carbonos de-
nominada isopreno (figura 5.1) ou 2-metil-1,3-butadieno, que se unem pelos
carbonos 1 e 4 geralmente. A união de dois, três, quatro, seis, oito ou vários
isoprenos forma respectivamente os monoterpenos, sesquiterpenos, diterpe-
nos, triterpenos, tetraterpenos ou terpenoides poliméricos. Esta classe farma-
cognóstica constitui um dos maiores grupos de metabólitos secundários de
origem vegetal. São encontrados em muitas gimnospermas e angiospermas.
São também denominados de isoprenoides, por serem obtidos a partir da con-
densação de isoprenos.
Os monoterpenos e os sequiterpenos, em conjunto com os fenilpropanoi-
des, são os principais constituintes dos óleos essenciais (item 5.2). Os diterpe-
nos têm como principais representantes o fitol e o paclitaxel, sendo que este
último é reconhecido devido às suas propriedades antineoplásicas. Alguns tri-
terpenos fazem parte dos grupos das saponinas (item 5.3). Os tetraterpenos são
representados principalmente pelos carotenoides, responsáveis pela coloração
amarela ou alaranjada de alguns vegetais.
CH3

CH2
H2C

Figura 5.1  –  Isopreno. Fonte: SARKER, 2009.

5.1.1  Biossíntese dos terpenoides

Os terpenoides são originados do ácido 3R-(+)-mevalônico, que sofre uma série


de reações enzimáticas para produzir o pirofosfato de isopentenila (difosfato
de isopentenila), que, por diferentes combinações, principalmente com seu
isômero (pirofosfato de dimetilalilo), forma os vários constituintes desta classe
farmacognóstica (figuras 5.2 e 5.3).

capítulo 5 • 97
O HO CH ATP ADP O HO CH
3 3

HO OH HO O – PH2
5-fosfato de ácido 3R
ácido 3 -R (+)-mevalônico
(+)-mevalônico
ATP

ADP
CH3 ADP ATP O HO CH
3

HO O — PH HO O – PH2
-CO2 -HOP
5-Difosfato de ácido 3 R
Difosfato de isopenila PH2 PH2
(+)-mevalônico
isopentila
isomerase
CH3

H3C O — PH

dimetilalilpirofosfato PH2

CH3 CH3 CH3 CH3

H3C O — PH + H2C O — PH H3C O – PH

dimetilalilpirofosfato PH2 Difosfato de isopenila PH2 Pirofosfato de geranina PH2

hidrólise

CH3 CH3

H3C OH

geraniol

Figura 5.2  –  Biossíntese de terpenoides a partir do ácido mevalônico. Fonte: SARKER, 2009.

98 • capítulo 5
O — PH — PH2 H2C
O — PH — PH2
+ CH3
Pirofosfato de isopentenila
H3C CH3
Pirofosfato de dimetilalila

CH3
CH3
H3C
O — PH — PH2
O — PH – PH2 CH3
CH3

H3C CH3 O — PH – PH2


H3C CH3
Pirofosfato de geranila Pirofosfato de farnesilo

Monoterpenos Sesquiterpenóides

H3C
O — PH — PH2
CH3 CH3
CH3
CH3

CH3 O — PH – PH2
CH3
H3C CH3 O — PH – PH2 CH3
Pirofosfato de geranil-geranila
Pirofosfato de farnesilo

Diterpenóides

Figura 5.3  –  Biossíntese de terpenoides a partir do pirofosfato de dimetilalila e pirofosfato


de isopentenila. Fonte: CUNHA, CAVALEIRO, SALGUEIRO, 2010.

capítulo 5 • 99
5.1.2  Monoterpenos

Geralmente os monoterpenos são líquidos incolores com aroma comumente


picante e forte. O ponto de ebulição da maioria dos monoterpenos varia entre
140 e 180 oC.
São classificados em acíclicos, monocíclicos, bicíclicos e irregulares e po-
dem ter diferentes grupos funcionais, tais como hidrocarbonetos simples, ál-
coois, ésteres, éteres, aldeídos, cetonas, ácidos e fenóis (figura 5.4).
Os monoterpenos são encontrados em diversas espécies vegetais, tais como
pimenta-do-reino (α e β pineno, felantreno), hortelã-pimenta (mentol, mento-
na), cardamomo (geraniol, citronelol), alecrim (borneol, cineolo), tomilho (ti-
mol, carvacrol).
CH3
CH3 CH3

H3C OH CH3
H3C
geraniol
monoterpeno acíclico (+) α-pineno
monoterpeno cíclico

CH3 CH3

HO

H3C CH3 H3C CH3

(+)-α-felantreno
(-)-mentol monoterpeno - álcool
monoterpeno - hidrocarboneto

Figura 5.4  –  Monoterpenos. Fonte: SARKER, 2009.

5.1.2.1  Iridoides

Os iridoides são monoterpenos constituídos por um ciclopentano conjugado


com uma α-pirona (ciclopentanotetra-hidropirânico) (figura 5.5).

Figura 5.5  –  Núcleo ciclopentanotetra-hidropirano. Fonte: CUNHA, ROQUE, 2010.

100 • capítulo 5
Esse grupo se subdivide ainda em iridoides glicosilados, iridoides não glico-
silados e secoiridoides (figura 5.6).
a) Gengiopicrósido

O O

O
H
CH2 O — R

R - glucose

b) Secologanósido

O O O
CH3
H

O
H
CH2 O—R

Figura 5.6  –  a) iridoides glicosilados e b) secoiridoides. Fonte: CUNHA, ROQUE, 2010.

Plantas ricas em iridoides

a) Genciana – na medicina popular são empregados os rizomas e as raízes


da espécie Gentiana lutea L. como estimulante do apetite e como carminativo.
Frequentemente é utilizado em licores. Os principais iridoides presentes na
genciana são secoiridoides genciopicrósido e amarogencina.
b) Oliveira – A espécie Olea europaea L. é muito utilizada para a produ-
ção de azeitona. Suas folhas são ricas em um secoiridoide denominado oleuro-
peína (figura 5.7). Nesta planta são encontrados também outros secoiridoides
(11-demetiloleuropeósido, oleurósido, diéster metílico de oleósido), triterpe-
nos e flavonoides. Na medicina popular, é empregada como febrífuga, hipogli-
cemiante, hipotensora e diurética.

capítulo 5 • 101
HO

O O
O
HO H O — CH3

H3C O

O R
R - glucose

Figura 5.7  –  Oleuropeína. Fonte: CUNHA, ROQUE, 2010.

c) Valeriana – a espécie Valeriana officinalis L. é amplamente empregada em


medicamentos fitoterápicos indutores do sono. Os rizomas e raízes são ricos em
isovalerato, valerona, ácidos sesquiterpênicos (valerênico, acetoxivalerênico e hi-
droxivalerênico), valerenal, flavonoides e valepotriatos (figura 5.8). Estes últimos
têm ação citotóxica e por isso devem estar ausentes nos extratos medicamentosos,
empregando-se para isso métodos que permitam a hidrólise dos valepotriatos.
CH3 CH3 CH3
H H HO H H H

H3C H3C H3C


CH3 CH3 CH3
O O O
OH OH H
ácido valerenico ácido hidroxivalerenico valerenal

CH3
Valepotriatos
Acevaltrato - R1 = H3C
O CH3 CH3

R2 O O CH3
O

O R2 = H3C O
O
O H CH3
O R1 CH3

O CH3

Valtrato - R1 e R2 = H3C
CH3

Figura 5.8  –  Substâncias químicas presentes na valeriana. Fonte: CUNHA, ROQUE, 2010.

102 • capítulo 5
5.1.3  Sesquiterpenos

Os sesquiterpenos são constituídos por 3 isoprenos, contendo na sua estrutura


básica 15 carbonos. Podem ser classificados em acíclicos, monocíclicos, bicí-
clicos ou irregulares e apresentar diversas funções químicas, principalmente
álcoois, ésteres, éteres, aldeídos, cetonas e fenóis (figura 5.9). O ponto de ebuli-
ção dos sesquiterpenos, em sua maioria, está compreendido entre 160 e 200 oC.

CH3 CH3 CH2 O

CH2 OH
H3C OH

trans-β-fameseno H3C CH3


CH3 O
ácido abscísico
CH3
OH

CH3
CH2
H3C
CH3 CH3
H3C CH3
(−)−α−bisabolol Germacreno A

CH3 CH3
CH3
CH3
CH3 CH2 CH3
H3C

Biciclogermacreno Germacreno D

Figura 5.9  –  Sesquiterpenos. Fonte: SARKER, 2009.

5.1.4  Diterpenos

Os diterpenos são formados por 4 unidades de isopreno (20 átomos de carbo-


no) e podem ser encontrados em plantas, fungos, insetos e animais marinhos.
Os diterpenos, em sua maioria, são constituídos por estruturas que contêm
5 anéis, entretanto são encontrados também na forma acíclica (figura 5.10).

capítulo 5 • 103
Muitos diterpenos são empregados na terapêutica: o paclitaxel tem ativi-
dade antineoplásica; a forscolina tem propriedades hipotensoras; os ginkgó-
lideos são empregados para a diminuição da fragilidade capilar; os tocoferóis
têm ação antioxidante.

CH3
CH3
CH3
H3C CH3
OH
H3C CH3

CH3
8, 13-Abietadieno
CH3
Fitol
OH
H3C CH3

H3C H3C CH3 CH3


O
CH3
H3C
α-tocoferol

O CH3
H3C O
CH3
H3C CH3
CH3
CH3
O
CH3 CH3
Helioporina E
Ambliofurano

Figura 5.10  –  Diterpenoides. Fonte: SARKER, 2009.

5.1.4.1  Plantas ricas em diterpenos

•  Ginkgo
A espécie Ginkgo biloba L. é amplamente empregada no tratamento de
doenças vasculares periféricas, principalmente para melhorar a circulação no

104 • capítulo 5
cérebro. Acredita-se que os constituintes desta droga promovam a inibição do
fator de agregação plaquetária. Desta forma, deve-se evitar o seu uso em conjunto
com outros fármacos que promovam a mesma ação. O ginkgo pode diminuir a
concentração plasmática de omeprazol. Testes realizados com extrato de ginkgo
em ratas comprovaram a eficácia desta planta para o tratamento de osteoporose.

•  Teixo
A partir das cascas de Taxus brevifolia Nutt., foi isolado o paclitaxel (regis-
trado com o nome taxol), um diterpeno com propriedades anticancerígenas.
Outras espécies do gênero Taxus (Taxus media Rehder e Taxus baccata L.) tam-
bém têm um elevado conteúdo de paclitaxel, e ainda o docetaxel, também em-
pregado como antineoplásico.

5.1.5  Triterpenos

Os triterpenos são constituídos por 4 ou 5 anéis (figura 5.11), geralmente li-


gados a oses pela hidroxila no carbono 3. São originados a partir da união de
2 moléculas de difosfato de farnesil, gerando o difosfato de pré-esqualeno, que
por sua vez, devido à ação de enzimas, origina o esqualeno, que é o precursor
dos triterpenos e dos esteroides.
CH3
H3C OH O
H3C CH3
O O CH3
OHH3C CH3
H O H3C
H
H OH
H
CH3 CH3 H3C
CH3 CH3
H CH3
O
HO H H3C CH3
H3C
CH3 OH
panaxatriol Curcubitacina E

CH2
H3C
H

CH3 CH3 H CH3

H CH3
HO
H3C CH3
Lupeol

Figura 5.11  –  Triterpenos tetracíclicos e pentacíclicos. Fonte: SARKER, 2009.

capítulo 5 • 105
5.1.6  Tetraterpenos

Os tetraterpenos são constituídos por 8 isoprenos, sendo que os principais re-


presentantes deste grupo são os carotenoides (figura 5.12), que têm em sua es-
trutura cerca de 10 duplas conjugadas (responsáveis pela coloração do grupo).
São formados a partir do pirofosfato de geranil-geranila.

H3C
CH3 CH3
H3C CH3

H3C CH3
CH3 CH3
CH3
β-caroteno

Figura 5.12  –  β-caroteno. Fonte: SARKER, 2009.

5.2  Óleos essenciais


Os óleos essenciais são formados por uma mistura complexa de substâncias,
sendo que os principais constituintes são os monoterpenos, os sesquiterpenos
e os fenilpropanoides. Os óleos essenciais, em sua maioria, são aromáticos e
por isso são chamados de essências ou de óleos voláteis, ou ainda, devido à sua
solubilidade em éter, são denominados óleos etéreos.
As essências são encontradas com maior frequência em plantas perten-
centes ao grupo das angiospermas dicotiledôneas, principalmente nas famí-
lias Asteraceae, Apiaceae, Lamiaceae, Lauraceae, Myrtaceae, Myristicaceae,
Piperaceae e Rutaceae. São produzidos e armazenados em tricomas glandu-
lares, células parenquimáticas diferenciadas, canais secretores ou em bolsas
lisígenas ou esquizolisígenas. Podem estar contidos em diferentes órgãos vege-
tais, como flores (laranjeira, rosas), folhas (eucalipto), cascas do caule (canela),
rizomas (cúrcuma), frutos (funcho) ou sementes (noz moscada).
Os óleos voláteis são importantes para a planta, pois podem representar um
atrativo para polinizadores, proteção, inibidores da germinação e efeitos alelo-
páticos. A porcentagem de óleo essencial presente na espécie sofre alteração de

106 • capítulo 5
acordo com o horário da colheita, o período do ano, o índice pluviométrico e
demais fatores edafoclimáticos.
Podem ser extraídos da planta por diversos métodos, entretanto aqueles
que realizam o aquecimento da planta empregando altas temperaturas podem
gerar artefatos, modificando a composição química da essência resultante. A
escolha da metodologia varia de acordo com a espécie e a localização do óleo na
planta. A extração por enfleurage e por arraste de vapor foram os métodos mais
empregados para a obtenção de óleos voláteis. Atualmente, a enfleurage é em-
pregada apenas em poucos tipos de extrações para obtenção de essências para
perfumes. Sua principal vantagem é o não aquecimento durante a extração. A
extração com solventes orgânicos como éter e diclorometano também é utiliza-
da, entretanto ocorre a retirada de outros constituintes lipofílicos, diminuindo
assim a pureza do produto obtido. A prensagem é utilizada na extração, prin-
cipalmente quando a essência está presente em pericarpos de frutos cítricos.
Atualmente, muitas indústrias têm preferido realizar a extração empregando
fluido supercrítico, pois tal metodologia promove uma retirada mais eficaz dos
ativos e utiliza temperaturas brandas. A descrição das metodologias de extra-
ção foi descrita no capítulo 1.
Devido ao alto custo dos óleos essenciais, frequentemente são encontradas
no comércio falsificações empregando compostos sintéticos, misturas com
óleos de menor valor comercial ou até mesmo a falsificação total, em que são
adicionadas substâncias sintéticas em um solvente para produzir o mesmo aro-
ma que a essência original.

5.2.1  Controle de qualidade dos óleos essenciais

Para verificar a identidade e a pureza dos óleos essenciais, são empregados


métodos como índice de refração, rotação óptica, densidade relativa, teste da
fração solúvel em água (detecta a presença de compostos polares como álcoois
e glicóis), hidrocarbonetos halogenados, metais pesados e resíduo de evapora-
ção, miscibilidade em etanol. Entretanto, as análises do índice de refração, ro-
tação óptica e densidade relativa têm intervalo de valores muito amplo; sendo
assim, tais métodos não são indicados para a detecção de falsificações.
As análises quantitativas podem ser feitas por ponto de solidificação, de-
terminação alcalimétrica de alcoóis terpênicos após acetilação, determinação

capítulo 5 • 107
acidimétrica de ésteres de terpenoides após saponificação, determinação de
terpenoides cetônicos e aldeídos através de titulação oximétrica, determinação
volumétrica de fenóis, determinação espectrofotométrica.
Comumente é realizada a análise do teor de óleo essencial. Muitas mono-
grafias de plantas aromáticas especificam uma porcentagem mínima de essên-
cia que deve estar presente na planta. Para o desenvolvimento desta metodo-
logia, geralmente emprega-se um equipamento denominado Clevenger, que
realiza a extração e a determinação do rendimento. No Clevenger, o doseamen-
to é realizado de acordo com os princípios da extração por arraste de vapor, e,
dependendo da densidade do óleo volátil, deve ser empregado um tipo de vidra-
ria (figura 5.13).

Condensador Condensador
(dedo frio) (dedo frio)

Dóleo < DH Dóleo > DH


2O 2O

Figura 5.13  –  Desenho esquemático de clevenger para óleos essenciais mais densos
que a água e para menos densos que a água. Fonte: http://www.sbfgnosia.org.br/Ensino/
drogas_aromaticas.html

A cromatografia em camada delgada é amplamente utilizada para a análise


de óleos essenciais, principalmente devido ao seu baixo custo e rapidez de exe-
cução. Entretanto, as essências são preferencialmente analisadas por cromato-
grafia gasosa, tendo em vista que tal método tem alto poder de diferenciação e,
como a amostra é volátil, não são necessários muitos procedimentos prévios.

108 • capítulo 5
Técnicas:

•  Determinação de óleos voláteis


Inicialmente, deve-se verificar na monografia qual o rendimento mínimo
e a densidade do óleo essencial para escolher a vidraria adequada para o uso.
O volume final de essência deve ser de 0,3 a 0,5 ml. Assim, sabendo-se o rendi-
mento, deve ser feito o cálculo da massa da amostra a ser empregada. Por exem-
plo, para uma espécie que tem rendimento mínimo de 1%, proceder a seguinte
regra de três:

1 mL – 100g de planta
0,2 mL – x
X= 20 g de amostra a ser utilizada para a obtenção de 0,2 ml de óleo essencial

Colocar a massa calculada da planta triturada ou fragmentada em um balão,


acrescentar água até cobrir a amostra; acoplar o balão ao Clevenger e à manta
de aquecimento. Preencher a tubulação graduada do aparelho com água des-
tilada até transbordar. Acoplar o condensador e ligar a água para refrigeração.
Ligar o aquecimento, deixar em ebulição por 3 horas, após este tempo desligar
o aquecimento e a refrigeração, e após o resfriamento verificar o volume obtido
de óleo essencial. Repetir o procedimento caso o rendimento for muito abaixo
do esperado ou se a leitura for superior a 5%. Para o cálculo do rendimento,
proceder como o exemplo a seguir:

Massa da amostra - x mL de essência


100g de planta - y
Y= ... % (v/p)

CONEXÃO
Outras variações desta metodologia podem ser encontradas facilmente no site da Sociedade
Brasileira de Farmacognosia:
http://www.sbfgnosia.org.br/Ensino/drogas_aromaticas.html

capítulo 5 • 109
•  Presença de óleo fixo – teste qualitativo
Em um tubo de ensaio, colocar 4 gotas do óleo essencial e 2 gotas de éter
dietílico, agitar e acrescentar uma gota da mistura em 3 regiões diferentes em
um papel de filtro, secar o papel de filtro por 15-20 minutos em estufa a 100 ºC.
Se ocorrer a presença de mancha gordurosa translúcida, é indicativo de adulte-
ração por óleo fixo.

5.2.2  Emprego terapêutico

Os óleos voláteis são amplamente empregados para tratamento de enfermida-


des variadas. A tabela 5.1 mostra algumas das aplicações desta classe.

PRINCIPAIS ÓLEOS ESSENCIAIS


AÇÃO TERAPÊUTICA COM A AÇÃO REFERENCIADA

Carminativos Funcho, erva-doce, camomila, menta

Camomila, macela, alho, funcho, erva-


Antiespasmódicos
doce, sálvia

Estimulante do apetite Gengibre, genciana, zimbro

Estimulante do sistema nervoso central Cânfora

Calmantes Melissa, capim-limão

Anestésico local Cravo-da-índia

Anti-inflamatório Camomila

Antisséptico (uso externo) Cravo-da-índia, hortelã-pimenta, tomilho

Tabela 5.1  –  Aplicações terapêuticas de óleos essenciais.

110 • capítulo 5
5.2.2.1  Plantas ricas em óleos essenciais

•  Laranja doce
O óleo essencial de Citrus sinensis (L.) Osbeck pode ser extraído do pericar-
po do fruto da laranja e é frequentemente empregado na indústria de perfumes.
Este óleo é rico em limoneno (92-97%), entretanto não deve conter bergapteno
(furanocumarina de ação fototóxica).

•  Limão
A essência do limão é obtida principalmente da espécie Citrus limon (L.)
Burman f. e utilizada em indústrias alimentícia como aromatizante. Não é em-
pregada no preparo de perfumes devido ao alto conteúdo de furanocumarinas,
que são fototóxicas e responsáveis por grande número de casos de queimadu-
ras em pessoas que manipularam o limão e não retiraram a planta da pele antes
de se expor ao sol.

•  Alecrim
O óleo volátil de alecrim é obtido das folhas inteiras ou fragmentadas da
espécie Rosmarinus officinalis L., sendo que as folhas secas devem apresentar
rendimento de 12 mL/Kg. O alecrim é muito empregado na medicina popular
para o tratamento de gases e perturbações digestivas. O óleo essencial da mes-
ma planta tem atividade rubefaciente.

•  Alfazema
O óleo essencial de Lavandula angustifolia Mill. é muito empregado na
indústria de perfumes. Na terapêutica é utilizado no tratamento de infecções
respiratórias e como antiespasmódico. Pode ser utilizado em inalações para
diminuir os sintomas da sinusite e gripes. Externamente é empregado como
cicatrizante e rubefaciente.

•  Hortelã-pimenta
A essência de Mentha piperita L. é frequentemente utilizada como flavori-
zante em alimentos, produtos de higiene bucal, ou ainda no tratamento de pro-
blemas respiratórios.

capítulo 5 • 111
5.3  Saponinas
As saponinas são caracterizadas por terem uma parte lipofílica (triterpênica ou
esteroidal) e outra parte hidrofílica (açúcares), e por isso possuem como prin-
cipais propriedades a capacidade de reduzir a tensão superficial da água, ação
detergente e emulsificante.

5.3.1  Classificação

A classificação das saponinas pode ser feita devido ao caráter ácido, básico ou
neutro, de acordo com o núcleo fundamental (triterpênicas ou esteroidais – fi-
gura 5.14), ou ainda considerando o número de cadeias de açúcares conjugadas
(monodesmosídicas, bidesmosídicas).

CH3 CO2H
O
O
O
O
H
H
H H
HO HO
H
hecogenina ácido glicirrético

Figura 5.14  –  Saponinas esteroidais (a) e triterpênicas (b). Fonte: http://www.sbfgnosia.


org.br/Ensino/saponinas.html

a) b)
As saponinas esteroidais apresentam 4 anéis formados por 27 carbonos e
são derivadas do pirofosfato de isopentenila. Podem ter como estrutura bási-
ca o espirostano, o furostano (podem ser convertidas por hidrólise em espi-
rostano), ou alcaloidal (esteroidais básicas pertencem ao grupo dos alcaloides
esteroidais).

112 • capítulo 5
5.3.2  Métodos de análise

A capacidade das saponinas de formar espuma e a propriedade de se comple-


xar com a membrana de células sanguíneas são frequentemente utilizadas nos
métodos de análise de saponinas. Para a detecção, identificação e quantifica-
ção de saponinas presentes em plantas e extratos vegetais, geralmente são em-
pregados os seguintes métodos: teste de espuma, índice de espuma, índice de
hemólise, Cromatografia de Camada Delgada, Cromatografia Líquida de Alta
Eficiência (CLAE) ou a combinação da CLAE com espectrometria de massas.

Técnicas:

•  Teste de espuma
Preparar um decocto com 2 g de droga vegetal e 10 ml de água, fervendo
por apenas 3 minutos. Filtrar e transferir para um tubo de ensaio, agitar por
15 segundos. A prevalência de espuma por mais de 15 minutos é um indicativo
da presença de saponinas na planta.

•  Índice de espuma
Este teste verifica a diluição necessária para que 1 g de droga vegetal produ-
za 1 cm de espuma.
Realizar a fervura de 5 g de planta com 100 ml de água por 5 minutos, man-
tendo a solução em pH neutro. Esfriar e filtrar para um balão volumétrico de
200ml, lavando o resíduo até completar o volume. Distribuir o extrato obtido
em 10 tubos de ensaio, conforme a tabela 5.2. Agitar os tubos individualmente
por 15 segundos e observar qual tubo obteve 1 cm de espuma após 15 minutos
da agitação.

TUBOS I II III IV V VI VII VIII IX X


Solução
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
extrativa
Água
9 8 7 6 5 4 3 2 1 -
destilada
Volume
10 10 10 10 10 10 10 10 10 10
total

Tabela 5.2  –  Preparo do teste de índice de espuma.

capítulo 5 • 113
Para o cálculo do índice de espuma, proceder por meio das seguintes regras
de três:

2 g da droga ----------------------- 100 mL


x g da droga ------------------------- v mL ------------------ x= ....... g droga

Sendo v o volume de extrato presente no tubo a partir do qual foi observado


1 cm de espuma.

......g droga --------------- 10 mL (assim forneceu 1 cm de espuma)


1,0 g droga -------------- y mL y= .................. mL

5.3.3  Emprego terapêutico

Muitas saponinas são capazes de complexar com esteroides, podendo ter uma
ação antifúngica ou hipocolesterolemiante. Outras saponinas são descritas
com atividade anti-inflamatória e antiviral. Acredita-se que esta classe farma-
cognóstica seja capaz de produzir uma irritação no trato respiratório, promo-
vendo a fluidificação e a eliminação do muco. A prímula, a hera, a grindélia e
a salsaparrilha são frequentemente empregadas, devido a suas propriedades
expectorantes.

5.3.4  Plantas ricas em saponinas utilizadas na terapêutica

A tabela 5.3 mostra as diferentes propriedades terapêuticas de drogas vegetais


ricas em saponinas.

114 • capítulo 5
NOME NOME CARACTERÍSTICAS
POPULAR CIENTÍFICO

Popularmente empregado como expec-


torante e no tratamento de úlceras;
Possui ação anti-inflamatória devido à
inibição da enzima 11β-hidroxi-este-
rol-desidrogenase (responsável pela
inativação do cortisol), tendo efeitos
semelhantes aos mineralocorticoides;
Alcaçuz Glycyrrhiza glabra L. O extrato de alcaçuz pode aumentar a
concentração local de prostaglandinas,
assim promovendo o aumento da se-
creção de muco e a proliferação celular
no estômago, explicando sua atuação
no tratamento de úlceras;
É utilizado ainda como edulcorante na
indústria alimentícia.

São amplamente empregados devido


às suas propriedades como adaptóge-
no. Para tal atividade recomenda-se o
uso de 200 a 600 mg de extrato de
Panax ginseng C. ginseng contendo 1,5% de ginseno-
Ginseng
A. Mey. sídeos, por no máximo 3 meses. Os
principais efeitos colaterais relaciona-
dos com esta planta são: hipertensão,
edema, insônia, tontura, dificuldade de
concentração, sangramento uterino.

capítulo 5 • 115
NOME NOME CARACTERÍSTICAS
POPULAR CIENTÍFICO

O extrato das flores possui, no uso


externo, ação cicatrizante, relacionada
Calendula officina-
Calêndula com o aumento da atividade fagocitária.
lis L.
São descritas ainda atividades imu-
noestimulantes e anti-inflamatórias.

Centella asiatica Tem ação cicatrizante, melhora o retor-


Centela
(L.) Urb. no venoso.

Tabela 5.3  –  Propriedades medicinais de plantas ricas em saponinas.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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capítulo 5 • 117
118 • capítulo 5
6
Cardiotônicos
120 • capítulo 6
6.1  Cardiotônicos
São compostos químicos esteroides caracterizados pela alta especificidade e
poderosa ação exercida no músculo cardíaco. Ocorrem como glicosídeos es-
teroidais e são denominados de glicosídeos ou heterosídeos cardioativos ou
cardiotônicos.
Do ponto de vista farmacológico e estrutural, são compostos químicos de
alta homogeneidade e perfeitamente individualizados.
A primeira publicação quanto à ação cardiotônica se deu em 1799 pelo
médico escocês John Ferriar, que atribuiu às substâncias digitálicas uma
ação cardiotônica.
Em 1835, o cientista francês Jean Théophile Homolle preparou pela primei-
ra vez um extrato purificado das folhas de uma planta conhecida como Digitalis
purpurea L., e outro cientista, chamado Claude-Adolphe Nativelle, em 1868, cris-
talizou a digitalina, que nos dias de hoje ainda é empregada terapeuticamente.
Somente no início do século XX, após esforço de vários pesquisadores, fo-
ram elucidados a estrutura e o perfil farmacológico dos glicosídeos digitálicos.
No entanto, apenas nos últimos 70 anos é que foi definido o seu emprego e este
tipo de substância química foi eleita como a classe de medicamentos de esco-
lha para tratamento de insuficiência cardíaca congestiva.
Os cardiotônicos apresentam como principal caracterísitca farmacológica
a capacidade de prolongar o tempo de condução auriculoventricular, devido ao
aumento da força de contração da fibra miocárdica promovida por eles.
No reino vegetal, são restritos ao grupo de plantas chamadas Angiospermas.
Essas plantas são conhecidas como espermatófitas e apresentam a semente
protegida por uma estrutura chamada fruto.
Os cardiotônicos estão distribuídos em algumas famílias, que são:
Scrophulariaceae (Digitalis); Apocynaceae (Acokanthera, Adenium,Nerium,
Apocynum, Strophanthus e Thevetia); Liliaceae (Asphodelaceae); Ranunculacae
(Helleborus e Adonis), podendo ocorrer também nas famílias Brassicaceae,
Celastraceae, Fabaceae, Moraceae e Tiliaceae.
Esssas plantas apresentam heterosídeos cardiotônicos em todos os seus
órgãos, geralmente numa proporção inferior a 1%. Também podem ser en-
contradas no reino animal, como os elidópteros (lagartas) e os anfíbios (Bufos

capítulo 6 • 121
spp). Ambos atuam como toxinas ou venenos contra predadores, porém nas la-
gartas os cardiotônicos presentes são provenientes de uma planta da família
Asclepiadaceae, que é fonte de alimento desses animais.
Ainda segundo a literatura, alguns besouros (Chrysolina spp) conseguem
sintetizar glicosídeos cardioativos a partir de fitoesteróis provenientes da
sua alimentação.

6.2  Características químicas e biossíntese


Do ponto de vista químico, as agliconas (ou geninas), estruturas com ação car-
diotônica, caracterizam-se pela presença do núcleo fundamental ciclopenta-
noperidrofenantreno e são divididas em dois grupos, de acordo com o anel
lactônico insaturado ligado ao C-17: pentacíclico (5 carbonos) na sua cadeia
(cardenólido) ou hexacíclico (6 carbonos) na sua cadeia (bufadienólido) (fi-
gura 6.1). Os glicosídeos do grupo cardenólido são os mais importantes para
a medicina.

22 23
O 22 23
20 20 24 O
21 21
18 O 18 O
12 17 17
11 13 16 13 16
19 C 14 D 15 14
D 15
1 9
2 10 8
3
A 5
B 7
4 6

Cardenólido Bufadienólido

Figura 6.1  –  Estrutura química das agliconas. Fonte: www.sbfgnosia.org.br

Os heterosídeos cardiotônicos são oses e estão ligados à aglicona ou geni-


na por ligação β no Carbono 3 (C-3), com exceção das Asclepiadáceas, que po-
dem apresentar ligação β no C-3 e C-2, formando assim uma estrutura cíclica
(figura 6.2).

122 • capítulo 6
Glúcosido cardiotónico
O Lactona
O
Lactona
CH3 Terpénica

CH3 OCOCH3

OH Terpeno
CH3 O
OCH3
O

OH
D-Digitoxosa

Figura 6.2  –  Estrutura de um tipo de heterosídeo cardiotônico (digoxina). Fonte: RATES,


BRIDI, 2010.

Para os resíduos de açúcar com 6 carbonos (hexoses), a ligação pode variar


do C-1 ao C-4. O resíduo de glicose presente no cardiotônico se encontrará sem-
pre na porção terminal da estrutura.
Os heterosídeos podem ser classificados como primários e secundários.
Geralmente os heterosídeos primários estão presentes nas plantas frescas, que
apresentam um resíduo de glicose e no processo de secagem é eliminada por
hidrólise, formando assim um heterosídeo secundário.

6.2.1  Estrutura das geninas ou agliconas

Como característica importante, todas as geninas possuem o anel tetracíclico


esteroide formando seu esqueleto. Possuem também 2 hidroxilas (OH-), uma
secundária ligada ao C-3β e outra terciária ligada ao C-14β. Apresentam um H+
ou OH- ligado ao C-5 e um grupamento metila (CH3) ligado ao C-13. Outra ca-
racterística das geninas (ou agliconas) é a presença de um anel lactônico α,β
insaturado ligado ao C-17β, que se encontra acima do plano da molécula.

capítulo 6 • 123
De acordo com o tamanho do anel lactônico, as geninas podem distinguir-
se em dois tipos diferentes. Como mencionado anteriormente (figura 6.1), as
geninas com anel lactônico com 4 carbonos são classificadas como cardenolí-
deos (C-23) e são as mais abundantes na natureza. As geninas que apresen-
tam anel lactônico formado por 5 carbonos são chamadas de bufadienolídeos
(C-24) e são mais raras.
É observada também uma variedade estrutural que depende dos radicais
presentes na molécula. Na figura 6.3 estão apresentados os vários tipos de es-
trutura das geninas esteroidais cardioativas presentes nas plantas. a) sarmen-
togenina apresenta OH- no C-11α. b) digoxigenina apresenta OH- no C-12β.
c) gitoxigenina apresenta OH- no C-16β. d) k-estrofantidina apresenta OH- no
C-5β. e) ouabagenina apresenta OH- em várias posições. f) gitaloxigenina apre-
senta uma OH- esterificada pelo ácido fórmico. g) oleandrogenina apresenta
OH- esterificada pelo ácido acético.

O O O O
a) b)
HO
HO

OH OH
HO HO

O O
O O
c) d)

CCH
OH
OH
OH
HO
HO OH

124 • capítulo 6
O O
O O
e) f)
O
HO OH H
O—C—H
OH
H

OH H OH
HO HO
OH H

O O
g)

O
OH
O
HO

Figura 6.3  –  Tipos de estrutura das geninas esteroidais cardioativas. Fonte: RATES, BRIDI,
2010.

6.2.2  Estrutura dos resíduos de açúcar presentes nos heterosídeos


cardiotônicos

As moléculas dos compostos apresentam resíduos de açúcar ligados a geninas.


Os mais comuns podem ser observados na Ilustração 4. a) β –D-digitoxose (2,6
didesóxi-hexose). b) α-L-oleandrose ou β-D-diginose (2,6-didesóxi-3-metil-he-
xose). c) α-L-ramnose e d) β-D-fucose (6-desóxi-hexoses. e) α-L-tevetose (6-de-
sóxi-metil-hexose) e β-D-digitalose (6-desóxi-metil-L-glicose).
b) c)
CH3
a)
O OH OH O OH OH O OH
CH3 CH3
OH

OH OCH3 OH OH

capítulo 6 • 125
CH3 CH3
d) e)
HO O OH O

OH OCH3
OH OH

OH OH

Figura 6.4  –  Tipos de resíduos de açúcar presentes nos heterosídeos cardiotônicos. Fonte:
RATES, BRIDI, 2010.

Observa-se que a molécula de glicose pode aparecer nessas estruturas hete-


rosídicas, mas nos compostos 2,6 didesóxi-hexose, também conhecidos como
2,6 didesóxi-metilpentose, frequentemente aparece um grupo metila ou acetila
no C-3.

6.3  Métodos de obtenção e análise


A ação farmacológica das drogas cardioativas é observada quando o seu princí-
pio ativo está na forma de um glicosídeo. A parte inativa da planta está nas agli-
conas (geninas), porém os açúcares tornam a droga mais solúvel e aumentam o
seu poder de fixação no músculo cardíaco. Uma superdosagem desses compos-
tos pode levar a uma intoxicação, por isso é indispensável um controle rigoroso
da posologia dos princípios ativos. Este tipo de droga tem como efeito a soma
da ação de todos os seus constituintes ativos que são difíceis de ser separados.
Para caracterizar esses compostos, são usadas algumas reações que permi-
tem evidenciar isoladamente as partes da molécula do glicosídeo, como: reação
de caracterização dos esteroides, reação relacionada com o anel lactônico, pen-
tacíclico ou desoxiaçúcares.
Existem várias plantas que possuem as drogas cardiotônicas, e as mais im-
portantes são: espirradeira – folhas de Nerium oleander L.; convalária – rizo-
mas e raízes dessecadas de Convallaria majalis L.; estrofanto – sementes de
Strophanthus kombe Oliv., Strophanthus hispidus DC. e Strophanthus gratus
(Wall. & Hook.) Franch.; cila – bulbos de Urginea maritima (L.) Baker, e dedalei-
ra, Digitalis purpurea L..

126 • capítulo 6
6.3.1  Pesquisa de glicosídeos cardioativos

Para a extração dos glicosídeos, proceder da seguinte forma:


Colocar em um tubo de ensaio 1 g do fármaco em pó;
Adicionar 10 ml de solução de Etanol a 70%;
Agitar e ferver em banho-maria durante 2 minutos;
Adicionar 10 ml de H2O destilada e 0,2 ml de solução de Pb(AcO)2 a 10%;
Agitar fortemente e deixar em repouso;
Filtrar através de um papel filtro que deverá estar pregueado;
Após a filtração deverão ser adicionados ao filtrado 8 ml de clorofórmio;
Agir com cautela durante a extração;
Em seguida, a camada clorofórmica deve ser decantada e distribuída em
duas cápsulas de porcelana;
Evaporar o solvente em banho-maria até a secura;
Finalmente deverão ser executadas as reações de identificação que caracte-
rizam estruturas diferentes.

•  Reação de Pesez
Adicionar à cápsula de porcelana 3 gotas de H2PO4 concentrado;
Misturar lentamente com um bastão de vidro;
Em seguida observar em luz ultravioleta.

Reação positiva → fluorescência deverá aparecer amarelo-esverdeada

•  Reação de Keller-Kiliani
Adicionar à cápsula de porcelana 3 ml do reativo de Keller (1 parte de ácido
acético e 1 parte de solução de cloreto férrico a 5%) ;
Misturar lentamente com um bastão de vidro;
Verter lentamente para tubo de ensaio que já deverá conter 2 mL de reativo
de Kiliani (100 partes de H2SO4 para 1 parte de solução de cloreto férrico a 5%)
(para o preparo do reativo deverá ser usado ácido sulfúrico concentrado direto).

Reação positiva → anel castanho-avermelhado na região de contato das


fases; observar que a camada acética deve adquirir gradualmente colora-
ção esverdeada.

capítulo 6 • 127
Observação: a reação é positiva somente se for um desoxiaçúcar que estiver
na extremidade glicídica. Se na extremidade tiver uma glicose ou outro açúcar,
a reação será negativa, mesmo que na molécula tiver outros desoxiaçúcares em
diferentes posições.

•  Reação de Kedde
Esta reação é utilizada para se dissociar o anel lactônico pentacíclico in-
saturado (cardenólido) em meio alcalino. Após a sua dissociação, ele se une
ionicamente com um reagente nitrado, que pode ser o ácido dinitrobenzoico
ou pícrico.
Deverão ser adicionados ao resíduo de uma das cápsulas de porcelana 2 ml
de solução de etanol a 50%, 2 ml de H2O destilada, 2 ml do reativo de Kedde e
2 ml de solução de KOH 1N.
Em seguida misturar bem e deixar em repouso durante 5 minutos.

Reação positiva → coloração castanho avermelhado a vermelho-violeta

6.3.2  Caracterização microscópica de drogas cardioativas

A caracterização microscópica das drogas cardioativas pode ser observada nas


figuras 6.5, 6.6 e 6.7.

Figura 6.5  –  Caracterização microscópica da Dedaleira (digitalis): folhas de Digitalis


lanata Ehrh. e Digitalis purpurea L. Fonte: http://www.sbfgnosia.org.br/Ensino/
drogas_cardioativas.html

128 • capítulo 6
Figura 6.6  –  Caracterização microscópica da D. purpurea. Fonte: http://www.sbfgnosia.org.
br/Ensino/drogas_cardioativas.html

Figura 6.7  –  Caracterização microscópica da D. lanata. Fonte: http://www.sbfgnosia.org.br/


Ensino/drogas_cardioativas.html

6.4  Emprego farmacêutico


Sabe-se que os glicosídeos digitálicos exercem efeitos inotrópicos positivos, ou
seja, causam aumento da força de contração do coração. Eles são muito usados
no tratamento da insuficiência cardíaca. A ação na contração muscular resulta
do aumento de cálcio (Ca2+) presente dentro da célula, que também formará
bases para arritmias que estão relacionadas com intoxicação por digitálicos. Os
glicosídeos digitálicos aumentam a taxa de automaticidade, principalmente se
a concentração de potássio (K+) está baixa.
Os glicosídeos cardiotônicos são utilizados no tratamento da insuficiência
cardíaca congestiva (ICC), geralmente em associação a diuréticos, e também na
profilaxia e tratamento de algumas arritmias.

capítulo 6 • 129
Na ICC há uma redução da contratabilidade, com consequente aumento da
frequência cardíaca. Em seguida, ocorre vasoconstrição, diminuição do débito
renal e, como consequência, aparecem a retenção de sódio (Na+) e H2O e o ede-
ma. Com o uso dos cardiotônicos, melhora o retorno venoso, a diurese aumen-
ta, o consumo de oxigênio diminui e a frequência cardíaca é retardada.
No miocárdio, os glicosídeos cardioativos exercem a sua atividade agindo
sobre a condutibilidade, contratabilidade e automaticidade. Os efeitos são tra-
duzidos por meio de uma modificação eletrocardiográfica, que pode ser obser-
vada durante o tratamento.
Quanto à sua toxicidade, os cardiotônicos têm baixo índice terapêutico,
pois altas concentrações podem causar efeitos tóxicos. Observa-se que ní-
veis plasmáticos de digoxina acima de 2,5 ng/ml podem produzir sintomas
de toxicidade, portanto o tratamento deve ter um acompanhamento clínico.
Normalmente são pacientes em uso crônico desse tipo de droga que apresen-
tam as intoxicações, que pode ser por excesso que levará ao acúmulo, o que
ocorre com dosagens consideradas terapêuticas ou pela presença de fatores
predisponentes à intoxicação.
Os sintomas das intoxicações moderadas são vômitos, náuseas e anorexia.
Quanto à intoxicação aguda por doses elevadas, o paciente pode apresentar: vi-
são borrada, suor frio, diarreia, diminuição do pulso, podendo ir até 35 batidas
por minuto, convulsões podendo levar também à morte.
Portanto, devem ser usados preferencialmente os heterosídeos de ação cur-
ta e de rápida eliminação. Observar alguns fatores e situações clínicas predis-
ponentes à intoxicação digitálica, como: idade avançada, insuficiência renal
e hipotireoidismo.
Quanto à interação medicamentosa, deve-se evitar terapia concomitante
com fármacos que baixem a concentração de K+, como os mineralocorticoides
e os diuréticos. Esses tipos de medicamentos aumentam a possibilidade de to-
xicidade dos digitálicos.
Outro fator importante é que os pacientes tratados com glicosídeos cardioa-
tivos não devem fazer a ingestão excessiva de produtos que contêm cálcio.
Em caso de intoxicação por cardiotônicos, o tratamento compreende três
procedimentos principais: controle das complicações, medidas de apoio e eli-
minação do fármaco. Quanto às medidas de apoio e controle das complicações,
deverão ser administradas fenitoína e lidocaína. Em alguns casos, deverão ser
administrados quelantes de cálcio e magnésio. Quanto à eliminação do fármaco,

130 • capítulo 6
esta poderá ser feita por hemodiálise. No caso de intoxicação por ingestão volun-
tária, poderão ser utilizados medicamentos eméticos (provocam vômitos).
Segundo a literatura, já está disponível um antídoto muito eficaz contra a
intoxicação provocada por digoxina ou digitoxina. Este antídoto está na forma
de imunoterapia antidigoxina, que são fragmentos purificados do antissoro da
antidigoxina ovina.
Quanto aos efeitos adversos das drogas digitálicas, são observados: fadiga,
transtornos neuropsíquicos, cefaleia, fraqueza, depressão, sonolência, pesade-
los, confusão mental, vertigem e desorientação, mudanças de personalidade,
inquietação e mais raramente alucinações.

6.5  Relação estrutura-atividade


Observa-se que os heterosídeos cardiotônicos apresentam maior potência do
que as suas geninas correspondentes, porém ambos apresentam o mesmo grau
de toxicidade. Segundo a literatura, a genina retém a atividade cardíaca mes-
mo quando a molécula está isolada, mas ela depende do açúcar presente na
molécula para conferir propriedades importantes de solubilidade, que é muito
importante na absorção e distribuição desses compostos. A conformação e a
estereoquímica dos açúcares também apresentam um elevado grau de impor-
tância, pois influenciam na afinidade da ligação com o sítio ligante da proteína
receptora das células. A relação entre as características estruturais e as ativida-
des dos heterosídeos cardiotônicos podem ser observadas na tabela 6.1.

CARACTERÍSTICA CARACTERÍSTICA CARACTERÍSTICA


PARTE DA MOLÉCULA
FUNDAMENTAL FAVORÁVEL DESFAVORÁVEL
C-17 em β
Ciclo lactônico Encadeamento tipo - -
X=C-C=C
A/B/C/D A/B em trans insatura-
Anel esteroidal Ciclos C/D em cis
em cis/trans/cis ção parcial do anel A
C-3 em β
Substituintes C-14 em β C-3 em α
-OH terc. Em C-14
Ligação com orien- Esterificação ou ceta-
Cadeia osídica - tação β em C-3; lização das hidroxilas
5-desóxi-acúcares osídicas

Tabela 6.1  –  Características estruturais relacionadas com as atividades exercidas pelos he-
terosídeos cardiotônicos. Fonte: RATES, BRIDI, 2010.

capítulo 6 • 131
A atividade cardiotônica dos heterosídeos depende de toda a estrutura mo-
lecular. No ciclo lactônico, é fundamental a presença de um encadeamento do
tipo X=C-C=C, em que X é o heteroátomo. Se acontecerem modificações como:
epimerização no C-17 ou na sua insaturação, nas moléculas da γ-lactona α-β –
insaturada, como consequência ocorre a diminuição da atividade cardiotônica
dos derivados formados. A epimerização abre o anel lactônico. Sendo assim, o
isômero C-17α se torna inativo.
O anel esteroidal apresenta sua atividade máxima quando o encadeamento
dos ciclos A/B/C/D for do tipo cis/trans/cis. Sua atividade diminui quando os
ciclos A e B estão na conformação trans. Um exemplo é a uzarigenina. Se o ciclo
A estiver parcialmente insaturado, a sua atividade é ainda menor – exemplo:
heterosídeos da cila.
Quanto aos grupos substituintes, se a configuração β do C-3 for invertida,
ocorre diminuição da sua atividade, com exceção dos compostos 3- desóxi, que
ficam parcialmente inativos.
O C-14β apresenta uma conformação bem importante: a presença de uma
OH- terciária nesta posição é um fator favorável à sua atividade, porém não é
determinante. A 14-epidigitoxigenina é inativa, enquanto que a 14-desóxi-digi-
toxigenina apresenta baixa atividade.
Outro fator importante observado nos heterosídeos cardiotônicos é que a
introdução de grupamentos funcionais oxigenados promove uma baixa na ati-
vidade inotrópica positiva.
Para as subunidades osídicas, pode-se destacar maior potência dos hete-
rosídeos em relação às geninas correspondentes, porque os resíduos de oses
protegem a hidroxila do C-3β.
Quando as OH- das oses sofrem bloqueio – seja por esterificação, seja por
cetalização – promove redução da atividade inotrópica, comprovando que as
OH- contribuem com a interação entre a droga e o biorreceptor.
Os compostos que apresentam maior atividade do que seus respectivos ál-
coois são os 5-desóxi-açúcares. Isso mostra que as posições dos C-2, C-3 e C-4
de monossacarídeos e as posições do C-2 e C-3 dos dissacarídeos são fatores
determinantes para a interação específica com o biorreceptor.
Os heterosídeos cardiotônicos têm como principal reservatório o tecido
muscular. Pelo diferente grau de hidroxilação dos grupos geninas presentes na
molécula e pelo número diferente de oses formando a cadeia osídica, o coefi-
ciente de partição pode ser diferenciado.

132 • capítulo 6
Sua taxa de eliminação também é diferenciada, apresentando maior ou
menor efeito quando comparado com um cardiotônico padrão na mesma con-
centração. Um exemplo clássico é a digitoxina, que apresenta lipossolubilidade
alta e degradação hepática lenta e, consequentemente, eliminação lenta, levan-
do a atividade maior até 7 dias.
Quando se estuda a ouabaína, que apresenta 6 OH- na sua molécula, lipos-
solubilidade baixa e eliminação baixa, observa-se que sua atividade é baixa, po-
dendo ser de apenas 12 horas.
Os estudos relacionados ao grau de eliminação são importantes, pois os he-
terosídeos que têm eliminação lenta têm elevado grau de acumulação, e isso
indica que são necessários períodos maiores de repouso em uma administra-
ção prolongada.
Os heterosídeos são eliminados sob a forma de glucuronato após a ligação
com o ácido glicurônico, que é realizada no fígado. O ácido glicurônico se liga a
OH- do C-3, após a hidrólise da cadeia osídica.

6.6  Drogas vegetais clássicas


Aproximadamente 25% dos fármacos empregados nos países industrializados
são provenientes direta ou indiretamente de plantas.
As plantas medicinais podem ter muitas funções no sistema cardiovascular,
porém deve-se ter cuidado, pois também podem causar danos ao sistema bio-
lógico, sendo necessário, sempre, o acompanhamento de um profissional. As
plantas mais estudadas são Digitalis purpurea L. – dedaleira e a Strophantuhs
gratus (Wall. & Hook.) Franch. – estrofanto

6.6.1  Digitalis purpurea L. – dedaleira

Espécie de planta da família Schophulariaceae que é nativa do norte da África,


da Europa e recentemente cultivada no Brasil. Considerada uma herbácea que
possui tem ramificação, podendo chegar a uma altura de 60 a 90 cm. Apresenta
flor em forma de dedal nas cores vermelha, rosa, púrpura ou branca e popu-
larmente conhecida como dedaleira, dedo-de-dama ou digital. Pode ser con-
sumida na forma de chá das folhas, que é utilizado na medicina popular para
insuficiência cardíaca (figura 6.8).

capítulo 6 • 133
Figura 6.8  –  Planta da família Digitalis purpurea L. - Dedaleira. Fonte:http://pelaminhasau-
de.blogspot.com.br/2012/06/veneno-ou-medicamento-nome-em-latim.html.

Estudos têm mostrado que esse tipo de planta apresenta efeitos importan-
tes sobre o sistema cardiovascular, conhecidos como efeito inotrópico positivo
porque essa especie apresenta em sua estrutra química a digitoxina e a digoxi-
na. Possui outros compostos como flavonoides, saponosídeos e antraquinonas.
A dessecação das folhas deve ser realizada rapidamente e numa tempera-
tura mais baixa possível, com muita ventilação. Assim se evita a desintegração
dos heterosídeos. A droga deve ser estocada em ambiente seco e ao abrigo da
luz, com umidade residual de 5%.
As folhas secas da Dedaleira contêm 0,3% de heterosídeos cardiotônicos.
O pó pode conter 0,36% a 0,44% de heterosídeos cardiotônicos, que podem ser
calculados como digitoxina.

6.6.2  Strophantuhs gratus (Wall. & Hook.) Franch. – estrofanto

Planta trepadeira das regiões tropicais, considerada uma das plantas com
maior atividade cardíaca, usada pelos povos africanos em doses tóxicas para
preparar a flechas envenenadas.

134 • capítulo 6
Espécie de planta selvagem da família das Apocynaceaes nativa da Africa
Ocidental.
A parte da planta utilizada são as sementes, que são submetidas a extração
para se obter a substância ativa chamada Estrofantidina G (figura 6.9).

Figura 6.9  –  Estrofanto. Fonte: database.prota.org

Esse tipo de planta apresenta, na sua composição química, de 3% a 7% de


heterosídeos cardiotônicos, entre os quais o mais comum é a Estrofantidina
G, que também pode ser conhecida como Estrofantina gratus, acocanterina,
gratibaína, ubaína, gratibaína e ouabaína.
Os heterosídeos presentes nesse tipo de planta são formados pela união
da genina ouabagenina com a L-ramnose, que podem ser obtidos pela hidró-
lise progressiva.
A ouabaína é um medicamento de emergência. É indicada em casos que ne-
cessitam ação rápida, e sua administração é intravenosa. Pode ser empregada
em insuficiência cardíaca aguda, arritmias, paroxismos da insuficiência ventri-
cular esquerda, miocardites tóxi-infecciosa de coração regular e com ruído de
galope, Reforçam e regularizam os movimentos cardíacos. Se forem utilizados
as doses usuais, não se corre o risco de acumular o fármaco no organismo. Em
doses altas, é um veneno que provoca tetania muscular, convulsões e paralisia
espástica ou cerebral.

capítulo 6 • 135
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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