Na Holanda 70% do ensino público é não-estatal e na Suécia o ensino
público não-estatal passou a representar 30% em poucos anos. Nas estatísticas da educação, as escolas com contrato de associação são consideradas escolas públicas e não integram, por isso, os números das escolas privadas.
No mesmo dia, a propósito da polémica das escolas com contratos de
associação, os jornalistas dedicam três importantes espaços à reflexão sobre questões relacionadas com o serviço público de educação. O editorial do jornal i chama atenção para a necessidade de clarificação de conceitos e de transparência de informação por parte do governo, o "DN" refere o eventual excesso de oferta pública e o "Público" trata da concorrência entre ofertas públicas.
No centro da polémica estão duas ofertas públicas, uma de gestão
estatal e a outra de gestão não-estatal (cooperativas, IPSS e empresariais). Alegam os pais SOS que os seus filhos frequentam uma escola pública de qualidade, que deve ser financiada nos mesmos moldes que a escola estatal, pelo que, tendo os pais liberdade de escolha da escola pública, contestam a decisão do governo.
A reacção dos pais leva-nos a ponderar se a escola pública do Estado
deve ter um estatuto privilegiado em relação a outras escolas públicas, ou se, pelo contrário, deverá qualquer escola pública ser avaliada com equidade.
A decisão pode ser tomada na premissa de que as iniciativas do
Estado enquanto administração são sempre superiores, ou, em alternativa, medindo o valor de serviço público de cada uma delas. Se optarmos pela primeira, assumimos que a escola estatal tem um estatuto reforçado, pelo que, independentemente da sua qualidade, o financiamento público deverá para estas ser canalizado.
No segundo caso, mediremos o valor de serviço público de cada uma
delas e a alocação do financiamento público passará por uma solução tomada serenamente e de forma imparcial.
? Avalie a rede, considerando as diferentes ofertas educativas da
escola pública, analisando por que razão foram construídas escolas públicas onde já existia oferta pública, mantendo-se a carência de oferta pública noutras vertentes educativas e zonas geográficas.
? Avalie a qualidade educativa, a integração e equidade social e o
grau de satisfação dos pais em cada uma das escolas. ? Proceda à análise económica do custo da gestão de cada sistema, do custo por aluno em cada oferta, bem como do impacto económico do encerramento de escolas.
Desta forma concluiremos quais as escolas que prestam um melhor
serviço público, ou seja, com maior qualidade e da forma mais eficiente.
Outros países já fizeram este caminho e optaram por uma rede de
serviço público de educação em que todas as escolas públicas são contratualizadas e sujeitas a um regime de equidade. Assim, dando dois exemplos, na Holanda 70% do ensino público é não-estatal e na Suécia o ensino público não- -estatal passou a representar 30% em poucos anos. Nestes casos há transparência e uma monitorização clara na avaliação das escolas e sempre que existem duas ofertas educativas públicas com qualidade, opta-se por manter os dois projectos, dando aos pais a possibilidade de escolha e gerando- -se ganhos de eficiência.
É por isso muito importante que os jornalistas reclamem
transparência, rigor nos dados e serenidade na avaliação. Assim evitaremos que se fechem boas escolas, sem racionalidade educativa, sem racionalidade social, sem racionalidade económica e contra a vontade dos pais. Assim determinaremos a origem de custos do nosso sistema educativo.
Portugal merece mais do que um debate opaco e populista, mantendo
a divisão arcaica entre ensinos públicos, como se o Estado administração tivesse um estatuto reforçado. É urgente renovar para um sistema público de qualidade com múltiplas ofertas e iniciativas, promotor de justiça social, privilegiando a escolha e autodeterminação de todos. Para isso, a comunicação social terá de trabalhar com dados e estudos independentes, informando com seriedade e com clareza todos os cidadãos, pois só com informação credível estaremos aptos para decidir em liberdade e assim ter um melhor Estado.
Alexandra Pinheiro Membro da Direcção do FLE - Fórum para a Liberdade