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Escola Politécnica da Universidade de São Paulo

PQI2411 – Trabalho de Conclusão de Curso I

ESTUDO DO PROCESSO FERMENTATIVO DE PRODUÇÃO DE


ETANOL

Professor Orientador: José Luis Pires Camacho

Alunos:

Bruno Biselli Monteiro N°USP:5944896


Luis Fernando Prado Fróes N°USP:5947392

São Paulo
Dezembro 2010
1

RESUMO

Neste Trabalho de Conclusão de Curso é abordado o processo fermentativo de


produção de etanol como um todo. São demonstradas as várias etapas de
fabricação sob um enfoque técnico, na busca da aliança entre os conhecimentos
teóricos obtidos no curso de graduação de engenharia química e um exemplo
industrial de larga aplicação no Brasil.
2

ABSTRACT

This course final paper deals with the fermentation process of ethanol production as
a whole. The various stages of manufacture are shown under a technical approach in
the pursuit of an alliance between the theoretical knowledge obtained in the chemical
engineering graduation course and an example of broad industrial application in
Brazil.
3

LISTA DE ILUSTRAÇÕES
Figura 1 - Fluxograma da produção de etanol............................................................. 6
Figura 2 - Matriz energética mundial ........................................................................... 7
Figura 3 - Os cinco maiores produtores de etanol no mundo ...................................... 9
Figura 4 - Custos de produção de etanol .................................................................... 9
Figura 5 - Balanço energético ................................................................................... 10
Figura 6 - Composição da cana de açúcar ................................................................ 13
Figura 7 Levedura Saccharomyces cerevisiae .......................................................... 17
Figura 8 - Dorna de fermentação .............................................................................. 20
Figura 9 - Fluxograma do fed-batch .......................................................................... 21
Figura 10 - Produtos e subprodutos da fermentação anaeróbia ............................... 24
Figura 11 - Torre de absorção ................................................................................... 26
Figura 12 - Corte transversal de uma centrífuga de discos ....................................... 27
Figura 13 - Gráfico de otimização da centrífuga........................................................ 28
Figura 14 - Coluna de destilação............................................................................... 29
Figura 15 - Coluna de retificação .............................................................................. 30
Figura 16 - Diagrama bifásico etanol/água a 1 atm. .................................................. 31
Figura 17 - Destilação azeotrópica ............................................................................ 32
Figura 18 - Destilação azeotrópica com benzeno ..................................................... 33
Figura 19 - Exemplo de Peneira Molecular ............................................................... 34
4

LISTA DE TABELAS

Tabela 1 - Formas de metabolismo da Saccharomyces cerevisiae .......................... 17


Tabela 2 - Concentrações necessárias de cada nutriente ........................................ 18
Tabela 3 - Balanço de massa da fermentação anaeróbia ......................................... 24
5

SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO ...................................................................................................... 6
1.1. Objeto de Estudo ........................................................................................... 6
1.2. Objetivos ........................................................................................................ 6
1.3. Visão Geral da Produção de Etanol ............................................................... 7
2. METODOLOGIA ................................................................................................. 11
3. RESULTADOS ................................................................................................... 12
3.1. Cana de Açúcar ........................................................................................... 12
3.2. Preparo do Mosto ......................................................................................... 13
3.2.1. Caldo de Cana ....................................................................................... 14
3.2.2. Melaço ................................................................................................... 14
3.3. Preparo do Fermento ................................................................................... 16
3.4. Fermentação ................................................................................................ 19
3.4.1. Fermentação Descontinua ..................................................................... 21
3.4.2. Fermentação Descontínua Alimentada.................................................. 21
3.4.3. Fermentação Contínua .......................................................................... 22
3.4.4. Fatores Limitantes da Produtividade de Etanol ..................................... 23
3.4.5. Torre de Absorção de CO2 .................................................................... 25
3.5. Centrifugação ............................................................................................... 26
3.6. Destilação .................................................................................................... 29
3.7. Desidratação do Etanol ................................................................................ 31
3.7.1. Destilação Azeotrópica .......................................................................... 31
3.7.2. Peneira Molecular .................................................................................. 33
4. CONCLUSÃO ..................................................................................................... 35
5. BIBLIOGRAFIA ................................................................................................... 36
6

1. INTRODUÇÃO

1.1. Objeto de Estudo

O objeto de estudo deste trabalho é a produção de etanol em escala industrial a


partir da cana de açúcar, focalizado no processo de fermentação. Pode-se verificar
abaixo o fluxograma simplificado do processo de produção de etanol.

Figura 1 - Fluxograma da produção de etanol

1.2. Objetivos

Este trabalho tem como objetivo estudar e compreender o processo de obtenção


de etanol a partir da cana de açúcar, assim como todos os parâmetros e
equipamentos envolvidos no mesmo.
7

1.3. Visão Geral da Produção de Etanol

O etanol pode ser obtido através de diversas formas de biomassa sendo que, na
atualidade, a cana de açúcar e o milho são os grandes responsáveis pela sua
produção. A grande relevância do uso dessa fonte de energia,
energia além de ser uma
fonte renovável, é diminuir a dependência dos combustíveis fósseis na matriz
energética mundial, como se verifica na figura abaixo:

Figura 2 - Matriz energética mundial

O etanol é o mais comum dos alcoóis e caracteriza-se


se por ser um composto
orgânico, obtido através da fermentação de substâncias amiláceas ou açucaradas,
como a sacarose
arose existente no caldo da cana de açúcar, e também mediante a
processos sintéticos. É um líquido incolor, volátil, inflamável, solúvel
so em água, com
cheiro e sabor característicos.
Dentre suas diversas aplicações destaca-se
destaca se a sua utilização como combustível,
puro ou misturado à gasolina, para veículos automotores. Nas indústrias, é
amplamente utilizado como reagentes de partidas para
a diversos compostos
químicos, tais como ácido acético, butadieno, acetaldeído, dentre outros. Como é
miscível com qualquer proporção de água, e com a maioria dos solventes orgânicos,
é muito utilizado como solvente para muitas substâncias na fabricação de perfumes,
tintas, vernizes e explosivos.
8

No Brasil, a produção de etanol em escala industrial começou a se desenvolver


após a crise do petróleo na década de 1970, fato que abriu espaço para discussão
de fontes alternativas de energia. Em 1975, foi criado pelo o governo o Pró-álcool
(decreto n⁰ 76.593), com a implantação de diversas destilarias de etanol em todo o
país, visando o uso alternativo desse combustível em substituição ao petróleo e
seus derivados. O governo brasileiro passou a investir grandes quantias no cultivo
de cana de açúcar a fim de se obter etanol a partir da fermentação da sacarose.
Com isso, a indústria açucareira se viu beneficiada devido a investimentos na
modernização dos engenhos, compra de novos equipamentos e melhorias no
processo, focados na substituição de parte da produção de açúcar, que,
coincidentemente, apresentava preços em queda, para produção de etanol, dando
origem as indústrias sucro-alcooleiras. Naquela época, a produção anual de etanol
era de 700 milhões de litros por ano [2].
O Pró-álcool concentrou-se, em sua primeira fase, na produção de etanol anidro
em destilarias anexas às usinas, para que fosse posteriormente misturado à
gasolina. A partir de 1980, com o segundo choque do petróleo, é que a produção
nacional de etanol ganhou maiores dimensões, impulsionada pelos incentivos do
governo às indústrias automotivas a colaborarem com o Pró-álcool. Nessa fase, o
programa assume novas características, produzindo de forma predominante, nas
chamadas destilarias autônomas, o etanol hidratado, que era usado diretamente nos
motores projetados ou adaptados para tal finalidade. Em 1986, os carros movidos a
etanol eram responsáveis por 96% dos veículos comercializados no país [1].
No final da década de 1980, O aumento do preço do açúcar no mercado
internacional e a queda do preço do petróleo desviaram a produção das usinas para
o açúcar, visando sua exportação. Assim, a crise do álcool provocou o
desabastecimento nos postos, ocasionando filas. Com o abaixamento do preço
internacional do petróleo, perdeu-se o interesse político pela produção do etanol. Em
1990, o Brasil atingiu uma produção de 13 bilhões de litros de etanol [2].
Após mais de uma década estagnada, a produção de etanol recebeu um novo
impulso meados de 2003, com o lançamento no mercado dos carros flex-fuel
(bicombustíveis), que permitem que o carro seja abastecido com etanol ou gasolina
ou a mistura de ambos em qualquer proporção. Estima-se que a produção de etanol
para safra 2010 atinja 17 bilhões de litros [2].
9

Na atualidade, o Brasil é o segundo maior produtor de etanol do mundo, ficando


atrás, apenas, dos Estados Unidos como se pode verificar na Figura 3 abaixo. A
grande diferença no processo produtivo de etanol desses dois países é a fonte de
carboidratos para o processo fermentativo. Enquanto o Brasil extrai a sacarose da
cana de açúcar, os EUA usam o amido retirado do milho. No entanto, verifica-se que
os custos de produção de álcool a partir do milho são muito maiores comparados à
cana de açúcar, uma vez que o amido retirado do primeiro necessita passar por um
processo de hidrolise a fim de se obter a sacarose, fato que gera, também, um
menor balanço energético ao final do processo. Tais fatos podem ser verificados na
Figura 4 e Figura 5 abaixo:

Figura 3 - Os cinco maiores produtores de etanol no mundo

Figura 4 - Custos de produção de etanol


10

Figura 5 - Balanço energético


11

2. METODOLOGIA

O desenvolvimento do estudo da produção de etanol se deu principalmente


através de pesquisa bibliográfica e também do estágio que o Luís Fernando realizou
na Usina Barra Grande de Lençóis, pertencente ao Grupo Zilor.
Cabe ressaltar que, apesar do processo de produção de etanol a partir da cana-
de-açúcar ser amplamente utilizado no Brasil, a literatura de caráter técnico
referente ao tema é extremamente escassa. Não foi encontrada, inclusive, nenhuma
produção literária que abordasse o tema nas bibliotecas da Escola Politécnica.
A forma encontrada para contornar esta dificuldade, a principal de todas, foi
descobrir cada operação e cada equipamento utilizado dentro do processo e, a partir
disso, buscar livros específicos referentes a cada uma dessas operações.
Esta solução pode ser considerada como satisfatória do ponto de vista do
entendimento teórico do processo, porém ela deixa a desejar no aspecto
quantitativo, uma vez que dados numéricos de vazão, por exemplo, não foram
possíveis de serem obtidos ao longo deste estudo.
Na segunda etapa de produção deste trabalho de conclusão de curso, esses
dados quantitativos poderão ser conquistados através de uma produção de etanol
em laboratório, utilizando-se equipamentos similares aos encontrados na indústria;
ou ainda, a partir de dados fornecidos por alguma usina, realizar a simulação do
processo e comparar com estes dados reais.
12

3. RESULTADOS

Serão apresentadas nesta seção as diversas etapas de produção do álcool


etílico individualmente.

3.1. Cana de Açúcar

A cana de açúcar (Saccharum hibridas) é uma planta da família das gramíneas


(Poaceae) originaria do sudeste da Ásia, onde é cultivada desde épocas remotas.
Originalmente, o cultivo de cana assentou-se sobre a espécie Saccharum
officinarum, mas com o aparecimento de doenças e o surgimento de tecnologias
mais avançadas a S. officinarum foi cruzada com outras quatro espécies do mesmo
gênero Saccharum (S. barberi, S. roustum, S. sinense e S. spontaneum), a fim de se
obter um hibrido mais resistente. Os trabalhos de melhoramento persistem até os
dias atuais e conferem a todas as variedades em cultivo uma mistura das cinco
espécies originais e a existência de cultivares ou variedades híbridas.
Seu caule é formado por numerosos nós. Os colmos, caracterizados por nós bem
marcados e entrenós distintos, quase sempre fistulosos, são espessos e repletos de
suco açucarado. As flores, muito pequenas, formam espigas florais, agrupadas em
panículas e rodeadas por longas fibras sedosas, congregando-se em enormes
pendões terminais, de coloração cinzento-prateado.
Existem diversas variedades cultivadas de cana de açúcar, que se distinguem
pela cor e pela altura do caule, que pode atingir de três a seis metros de altura e
dois a cinco centímetros de diâmetro. Sua multiplicação acontece através das
sementes ou a partir de estacas (alguns híbridos não produzem sementes férteis).
Os fatores determinantes para a escolha da espécie de cana a ser cultivada são as
características do clima e do solo.
A importância da cana de açúcar pode ser atribuída à sua múltipla utilização,
podendo ser empregada in natura, sob a forma de forragem, para alimentação
animal, ou como matéria prima para a fabricação de rapadura, melado, aguardente,
açúcar e álcool. Segue representada abaixo, na figura 1, a composição da cana de
açúcar.
13

Figura 6 - Composição da cana de açúcar

No Brasil, as primeiras mudas de cana foram trazidas da Ilha da Madeira


pelos portugueses no início do século XVI. Já em 1550, numerosos engenhos
espalhados pelo litoral produziam açúcar de qualidade equivalente ao produzido
pela Índia. Com o incentivo a produção de cana através de isenção de impostos e
outras regalias, o Brasil tornou-se o maior produtor de cana de açúcar em meados
do século XVII. Perdeu essa posição durante muitos anos, mas retomou-a na
década de 1970 com o Pró-álcool.

3.2. Preparo do Mosto

O Mosto é usualmente o nome dado à mistura a ser fermentada (substrato). Este


deve conter o teor de açúcares e temperatura ideal para que as leveduras façam a
maior conversão possível destes açúcares em etanol em um menor tempo, ou seja,
o processo seja conduzido à máxima produtividade.
Na indústria sucroalcooleira, o Mosto é preparado com a dosagem de caldo de
cana e melaço, podendo ainda ser adicionada determinada porção de água. Estes
constituintes possuem certas peculiaridades:
14

3.2.1. Caldo de Cana

O caldo de cana passa por diversos processos a fim de ter a maior parte das
suas impurezas eliminadas. A presença de impurezas tanto pode ter efeito nocivo
para as leveduras quanto pode causar a formação de espuma nas dornas de
fermentação, fazendo com que parte do mosto e do álcool seja definitivamente
perdida. Esse último efeito é muito comum e incrivelmente danoso.
Após a sua extração pelo processo de moagem, faz-se a necessidade de
realizar um flasheamento para eliminar os gases que prejudicam a principal etapa de
purificação, a decantação destas impurezas.
A decantação é realizada em uma espécie de tanque de fundo cônico por onde o
lodo, mais denso, escorre, sendo posteriormente bombeado, o caldo, mais leve é
retirado nas porções superiores. Recupera-se ainda parte do caldo retido no lodo
através de filtrações, esse caldo é posteriormente adicionado ao caldo clareado,
passando por peneiras que retiram partículas como bagacilho. Existem atualmente
equipamentos como turbo-filtros que realizam as duas etapas de uma só vez.
A retirada de parte da água do caldo em evaporadores do tipo Robert, falling-film
ou Reboilers + Balões de Expansão (flash), para concentrar ainda mais os açúcares
geralmente é feita em usinas que não produzem açúcar, ou que estão mais voltadas
à produção de álcool etílico.
Ao contrário do caldo utilizado para se fabricar o açúcar, o caldo de cana para
fermentação não passa pelos processos de sulfitação (adição de SO2) e caleação
(adição de Cal), pois a presença do ácido sulfuroso e íons Ca++ elevam o stress e a
pressão osmótica dentro das leveduras, fazendo com que estas produzam
subprodutos indesejados.

3.2.2. Melaço

O melaço de cana, também chamado de mel ou melado, só é gerado em usinas


que também produzem o açúcar. A evaporação do caldo de cana nos mesmos
equipamentos mencionados anteriormente é feita de uma forma muito mais intensa:
enquanto em uma usina que só produz álcool a elevação de °Brix é feita de 14-18%
(caldo de cana) para 22% (caldo de cana para Mosto), a elevação em uma usina
15

que também produz açúcar é para 65%, neste momento o caldo é chamado de
xarope.
Após o cozimento do açúcar em evaporadores não contínuos, obtêm-se a
massa, que contém sacarose cristalizada e o licor mãe. Este licor mãe existe porque
os açúcares do caldo são compostos principalmente de sacarose, mas também
existe uma parcela considerável de glicose e frutose.
Essas duas hexoses não cristalizam, e além de já estarem presentes na cana de
açúcar, são formados no processo de degradação térmica da sacarose por uma
reação chamada de inversão:

C12 H 22O11 (aq ) + H 2O(l ) → C6 H12O6 (aq ) + C6 H12O6 (aq )

Note que glicose e a frutose possuem igual fórmula molecular, porém se tratam
de dois isômeros, a glicose e a frutose.
Uma caixa denominada cristalizador faz o papel de “descansar” a massa e dosá-
la às centrífugas não-contínuas de açúcar. Nestas centrífugas, o licor mãe passa
pelas aberturas do cesto da centrífuga, e o açúcar é descarregado pelo fundo ao
final da centrifugação, um jato de água superaquecida realiza a limpeza da
centrífuga com esta em movimento, fazendo com que parte do açúcar cristalizado se
dissolva, e atravesse pelas aberturas. A esta mistura de licor mãe e açúcar
dissolvido dá-se o nome de melaço.
O melaço é constituído de cerca de 60% de °Brix, porém este dado é
extremamente variável, pois existem diversas peculiaridades entre algumas usinas e
outras: cristalização de massas A, B e C, limpezas de centrífugas com vapor em vez
de água superaquecida, entre outros. Não desenvolveremos esses assuntos a
fundo, porém é importante saber que o melaço é muito mais concentrado que o
caldo, maior °Brix, porém possui menor Pureza (% de Sacarose/ % de Acúcares
totais). Comparativamente, a pureza do caldo é de cerca de 83% enquanto a do
melaço é de 54%.
Sendo assim, as usinas que produzem caldo e açúcar, para chegar ao °Brix de
Mosto de 22%, fazem a mistura de caldo e melaço, podendo também usar em
alguns casos água tratada com melaço, o que costuma ocorrer somente em
períodos de entressafra. Esta mistura ocorre de forma contínua em um equipamento
16

denominado misturador estático, constituído de um “tê” de aço inox, que possui


roscas helicoidais, para homogeneizar a mistura.
Feito isso, faz-se necessário resfriar o Mosto, até que ele atinja uma temperatura
na casa dos 30°C, temperaturas mais altas podem desnaturar enzimas das
leveduras, causando sua morte; temperaturas mais baixas tornam o processo mais
lento, e podem aumentar a solubilidade de oxigênio nas dornas, fazendo com que as
células cresçam por aerobiose, em vez de produzirem etanol.
Os trocadores de calor geralmente são a placas, pois apresentam elevado
coeficiente de troca térmica. Eles, contudo apresentam um risco à assepsia do
processo, pois a presença de açúcares em espaços mortos favorece a proliferação
de bactérias. Um fenômeno atrelado a isto é o plaqueamento das bactérias, no qual
estas produzem um filme que as protege de antibióticos. A solução para este
problema é a limpeza mecânica das placas, aplicando a flegmaça, um subproduto
inerente à destilação do etanol.
Feito o resfriamento do Mosto, este pode seguir para o tanque pulmão de mosto,
que irá permitir a dosagem deste nas dornas de fermentação.

3.3. Preparo do Fermento

O fermento mais utilizado no processo de produção de etanol é a levedura


Saccharomyces cerevisiae, mesmo organismo utilizado na panificação. Trata-se de
um microrganismo (seu diâmetro varia entre 5-10µm) de metabolismo facultativo,
podendo realizar a respiração na presença de oxigênio e de concentrações mais
baixas de substrato, ou em ausência de oxigênio e concentrações um pouco mais
altas de substrato realizar o metabolismo de interesse, a fermentação.
17

Figura 7 Levedura Saccharomyces cerevisiae

Produção de
Metabolismo Reação química
biomassa
1-5g /
Fermentação C6 H 12 O6 levedura
→ 2C 2 H 5 OH + 2CO2 + 2 ATP
g de ART

C6 H 12 O6 + 6O2 levedura
→ 6CO2 + 6 H 2 O + 38ATP 47g /
Respiração
g de ART

Tabela 1 - Formas de metabolismo da Saccharomyces cerevisiae

Note pela tabela que a respiração gera mais ATP, que é a forma pela qual os
organismos armazenam energia, o que permite a maior formação de biomassa
(crescimento celular). ART corresponde aos açúcares redutores totais, neste caso
glicose, frutose e glicose, convertidos para base de glicose.
As leveduras, como qualquer ser vivo, necessitam de nutrientes para realizar os
seus processos metabólicos, segue de acordo com a referência [5] uma tabela com
as concentrações necessárias de cada nutriente:
18

Nutrição Concentração Nutrição Concentração


mineral (mg/L) mineral (mg/L)
NH4+ 40 - 5900 Na+ 200
P 62 - 560 Co2+ 3,5 - 10
+ 2+
K 700 - 800 Zn 0,5 - 10
Ca2+ 120 Cu2+ 7
Mg2+ 70 - 200 Mn2+ 10 - 80
SO42- 7 - 280 Fe2+ 0,2
SO42- 7 - 280 Fe2+ 0,2
Tabela 2 - Concentrações necessárias de cada nutriente

Uma linhagem ideal de levedura para se iniciar uma safra, segundo a referência
[3] e [4], deve obedecer os seguintes aspectos:

• Velocidade de fermentação: a quantidade de açúcar transformada em álcool


por tempo e massa de levedura deve ser alta.

• Resistência ao álcool: Leveduras que resistam a elevadas concentrações de


etanol são importantes, pois permitem a utilização de mostos mais concentrados
em açúcar na fermentação. Logo, obtêm-se vinhos com maior teor alcoólico
diminuindo assim os custos com destilação.

• Resistência a baixos valores de pH e a anticéptico

• Eficiência de conversão: Capacidade da levedura de converter açúcar em


álcool. Caso as leveduras utilizem pouco o substrato na conversão do produto,
não devem ser selecionadas.

• Estabilidade genética: as propriedades selecionadas devem se manter em


gerações seguintes da linhagem genitora.
19

As usinas de álcool no Brasil fazem a recuperação do fermento utilizado, isto é


possível devido ao fato de que as leveduras têm um crescimento durante o processo
de fermentação, a ponto de ser maior do que as perdas na centrifugação. O
fermento recuperado nas centrífugas é destinado a um tanque denominado pré-
fermentador.
Nestes tanques adiciona-se ácido sulfúrico para diminuir o pH, deixando-o na
faixa de 2 a 3, o que promove o controle de infecções. Algumas usinas também
fazem uso esporádico de antibióticos como a penicilina. Outros nutrientes como
ácido fosfórico também podem ser dosados, a fim de regular a concentração de
fosfato.

3.4. Fermentação

O processo de fermentação ocorre dentro de biorreatores chamados de dornas.


Geralmente é construída de aço carbono e constituídas de agitadores. Sua
capacidade varia com o processo, podendo atingir milhares de litros.
As dornas podem ser abertas ou fechadas, dependendo do escopo do projeto.
As dornas abertas permitem que os gases resultantes da fermentação sejam
liberados diretamente para o ambiente, tendo como vantagem uma melhor troca
térmica com o mesmo a fim de controlar a temperatura do processo, contudo, sujeita
maiores chances de contaminação. Já as dornas fechadas, permitem a recuperação
do álcool volatilizado e arrastado pelo CO2 através de um sistema coletor e posterior
direcionamento para uma torre de absorção, contudo demandam maiores gastos de
energia para manter a temperatura do processo constante. Assim, o volume útil das
dornas deve ser de, em média, 90%, com o objetivo de deixar um espaço para os
gases ocuparem e evitar vazamentos devido a formação de espumas.
Ambos os tipos de dornas, abertas ou fechadas, devem apresentar entrada para
injeção de antiespumante para controle do nível de espuma. A formação de
espumas está relacionada a alguns fatores tais como: temperatura, leveduras
contaminantes, viscosidade do meio, concentração de leveduras e presença de
partículas orgânicas. A formação de espumas interfere na troca de gases, reduz a
área útil nas dornas e provoca vazamentos, com a conseqüente perda de matéria-
prima e diminuição do rendimento da fermentação.
20

As dornas são equipadas com válvulas para alimentação de mosto, levedura e ar


comprimido. Devem apresentar também, sistema de lavagem, pois o uso contínuo
aumenta os níveis de infecção. Geralmente a lavagem é feita com flegmaça,
distribuída às dornas pelos spray-balls. Devem ser pintadas numa cor clara,
preferencialmente branca, a fim de evitar problemas na temperatura, de fundo
cônico para evitar depósitos de material sedimentado, como mostra a Figura 8 a
seguir.

Figura 8 - Dorna de fermentação

Como a fermentação é um processo exotérmico, as dornas também devem


conter um sistema de resfriamento com o objetivo de manter a temperatura de
fermentação constante, em torno de 30⁰C a 34⁰C. Para isso, pode-se utilizar um
conjunto de serpentinas internas por onde passa um fluido frio ou um trocador de
placas externo por onde passa um recirculo.
O processo de fermentação pode ser realizado de três diferentes maneiras:
descontinuo (batelada), descontinuo alimentada (fed-batch) ou continuo. A seguir
estão reportadas as características de cada processo.
21

3.4.1. Fermentação Descontinua

O processo de fermentação descontinua caracteriza-se por acontecer em volume


constante (bateladas). É muito pouco usada para a obtenção de etanol. Isto se deve,
principalmente, ao fato do baixo rendimento do processo, uma vez que ocorre
inibição pelo substrato durante a fermentação, já que a concentração de sacarose
decai com o passar do tempo e não há uma realimentação da mesma.
Como vantagens, a fermentação em bateladas se apresenta flexível, já que não
demanda muitos equipamentos e parâmetros de controle de processo. Também
apresenta menor risco de contaminações, uma vez que não ocorrem entradas
durante o processo e, ao final de cada batelada, é efetuada a esterilização do
fermentador.

3.4.2. Fermentação Descontínua Alimentada

O processo de fermentação descontínua alimentada (fed-batch), juntamente com


o processo contínuo, são os mais utilizados para produção de etanol na indústria,
uma vez que as dornas industriais não podem ser carregadas em tempos reduzidos.
Tal processo caracteriza-se pela adição gradativa do mosto durante a fermentação.
Um fluxograma simplificado do processo é apresentado na Figura 9 abaixo:

Figura 9 - Fluxograma do fed-batch


22

No início da fermentação, as dornas são inoculadas com fermento e o mosto é


alimentado com uma vazão definida de modo a minimizar os efeitos de inibição pela
alta concentração de açúcar do mosto. A alimentação deste mosto à dorna é
realizada numa vazão tal que o tempo de enchimento se situa normalmente em
torno de 4 a 5 horas. Após o enchimento, a fermentação continua pelo processo
batelada comum até completar a conversão dos açúcares fermentescíveis (tempo
este denominado, algumas vezes, de tempo de morte da dorna, variando de 4 a 7
horas). A razão entre fermento tratado e mosto, alimentados à dorna, varia de
empresa para empresa. Um valor referência é a relação: (volume de fermento
tratado) para (volume de mosto + volume de fermento tratado) da ordem de 0,3.
Terminada a fermentação, o mosto fermentado, denominado de vinho ou vinho
bruto (em alguns países, cerveja, especialmente para mostos com menores teores
de etanol) é encaminhado para uma dorna volante de vinho bruto e segue para as
centrífugas para separação do fermento. A dorna volante é necessária, uma vez que
o processo de centrifugação, diferentemente da fermentação, é contínuo.

3.4.3. Fermentação Contínua

O processo de fermentação contínua é caracterizado pela adição de substrato e


retirada de produto na mesma vazão. As primeiras instalações surgiram de
adaptações do sistema em batelada. Através de ligações entre as dornas existentes,
o mosto passava pela série de dornas. O mosto era fermentado, saindo da base de
uma dorna e entrando lateralmente pela dorna seguinte. A alimentação de mosto era
feita na primeira ou na primeira e segunda dorna. O mosto fermentado na última
dorna era recolhido em uma “dorna de espera” onde a redução dos açúcares era
concluída.
O processo contínuo de fermentação pode ser realizado através de uma única
dorna ou através de dornas em serie. O primeiro é pouco usado, uma vez que alta
demanda de álcool não é suprida pelo volume de uma única dorna. Assim, o
processo fermentação continua em serie é o mais utilizado nas usinas que utilizam a
fermentação contínua.
Na primeira dorna do conjunto é alimentado o mosto e o fermento,
permanecendo nesta dorna um tempo de residência suficiente para uma conversão
desejada de ART. Em seguida, o mosto em fermentação sai pelo fundo das dornas e
23

passa por trocadores de calor para controle de temperatura em torno de 32 ºC (esta


pode apresentar uma pequena variação, dependendo da usina). O substrato em
fermentação entra pelo topo ou metade da dorna seguinte. Há retirada do fermento
pelo fundo com o objetivo de não acumular resíduos decantados nas dornas.
A concentração de açúcares tende a reduzir à medida que o mosto em
fermentação passa pelas dornas. Dióxido de carbono e álcool evaporado são
coletados e encaminhados à coluna de lavagem de gases, para a recuperação do
álcool arrastado. Por fim, o mosto fermentado retirado da última dorna é
encaminhado para a centrifugação.
Apesar do processo continuo apresentar algumas vantagens perante ao
processo descontinuo alimentado, como maior uniformidade do produto e facilidade
operacional, a batelada alimentada apresenta menores riscos de contaminação, é
mais flexível frente a alterações no processo (por exemplo, composição da matéria
prima) e menos nocivo às leveduras, uma vez que não sofrem os choques da
transferência (diferença na concentração alcoólica, de açúcares, e na temperatura)
de uma dorna para outra.

3.4.4. Fatores Limitantes da Produtividade de Etanol

Como já visto anteriormente, o etanol é obtido através da fermentação de uma


levedura (Saccharomyces cerevisiae). Além do álcool e do CO2 produzidos, esse
processo tem como subprodutos o glicerol, ácidos orgânicos e biomassa (ATP).
Como todos os produtos da fermentação competem entre si pela mesma fonte de
carbono, é de grande interesse na indústria, que seja possível diminuir a formação
desses subprodutos com o objetivo de aumentar o rendimento da produção de
etanol.
24

Figura 10 - Produtos e subprodutos da fermentação anaeróbia

Segue abaixo uma tabela demonstrando o balanço de massa da fermentação


anaeróbia [8]:

% ART Consumido
Produtos da Fermentação
(86 a 92% de Rendimento)
Etanol 46 – 47
Gás Carbônico 41 – 45
Biomassa 1–5
Glicerol 2–9
Ácido Succinico 0,3 – 1,2
Ácido Acético 0,1 – 0,7
Óleo Fusel
sel 0,2 – 0,6
*Para consumo total de açúcar pela levedura
Tabela 3 - Balanço de massa da fermentação anaeróbia

Assim, pode-se
se aumentar a formação de etanol diminuindo a formação de
biomassa, glicerol e ácidos orgânicos. Como a formação de biomassa através do
processo fermentativo anaeróbio não pode ser evitada (sempre são produzidos dois
ATP’s que são convertidos em calor e biomassa), deve-se
deve se prevenir que a levedura
execute a respiração ao invés da fermentação,
fermentação, o que pode ser feito controlando a
concentração de oxigênio dissolvido no processo. No entanto, ao impedir totalmente
25

que a levedura respire, apesar de aumentar a produção de etanol, as mesmas irão


crescer muito pouco, podendo ocasionar em perdas de levedura no reprocesso.
A respeito do glicerol, sabe-se que sua formação está acoplada aos estresses
que as leveduras são submetidas [8]. Entre eles, destacam-se o osmótico, causado
por elevadas concentrações de açúcar ou sais no mosto, a contaminação bacteriana
e a presença de sulfito. Assim, deve-se controlar com minúcia a concentração de
sacarose no mosto, mantendo-a dentro da faixa ótima (22⁰Brix), pode-se diminuir o
uso de melaço (advindo do processo de produção de açúcar, que sofreu sulfitação e
caleação) e executar uma boa esterilização, impedindo a contaminação bacteriana
no processo.
Em relação ao ácido succínico, sabe-se que ele está relacionado à atividade
antibacteriana realizada pela levedura [8], com o objetivo de evitar a competição por
fontes de carbono. Estudos mostram que uma maneira de diminuir a produção do
ácido succínico durante a fermentação é adicionando-se nitrogênio amoniacal (na
forma de sulfato de amônio), o que não interfere significativamente na produção de
etanol [9]. No entanto, apesar de ocasionar o aumento do rendimento em etanol, a
redução na formação de ácido succínico acarretou no aumento da contaminação
bacteriana que comprometeu o rendimento final do processo [8].

3.4.5. Torre de Absorção de CO2

Uma parcela de 1% da produção de álcool etílico costumava ser perdida na


produção pelo arraste pelo CO2. Para evitar essa perda, algumas plantas possuem
em suas dornas um sistema que canaliza o CO2 com álcool e o leva à torre de
recuperação de CO2.
O funcionamento da torre fundamenta-se na absorção, o gás contendo álcool é
percolado em sistema de pratos sendo lavado por água em sentido contrário, isto é,
o gás entra por baixo da torre, a qual contém pratos que força um maior contato
(choque entre partículas) entre as moléculas. Água limpa entra por cima da coluna e
arrasta essas moléculas de álcool.
Isso é possível porque o CO2 é praticamente insolúvel em água, enquanto o
etanol é altamente solúvel. O resultado desse processo é a liberação de CO2
virtualmente isento de álcool pela parte superior da coluna aberta a atmosfera e
água rica em álcool concentrada na parte inferior. A água rica em álcool é
26

encaminhada para o tanque dosador para a destilação, para recuperação desse


álcool.

Figura 11 - Torre de absorção

3.5. Centrifugação

A centrifugação é o processo de clarificação do meio filtrante, isentando-o de


células. Trata-se de uma sedimentação forçada pela ação da força centrífuga, que
atua como força motriz.
O vinho é bombeado da dorna volante para o conjunto de centrífugas contínuas,
pois estas possibilitam a separação do vinho bruto em duas correntes, a de vinho
delevedurado e a do creme de levedura.
Para fazermos uma análise quantitativa, adotando d o diâmetro da partícula, ρs a
densidade da célula, ρ a densidade do meio, g a aceleração da gravidade, a
velocidade de sedimentação de uma partícula devida apenas a força gravitacional vg
é dada por:

ௗమ
‫ݒ‬௚ = ଵ଼ఓ ሺߩ௦ − ߩሻ݃ (1)

Por sua vez, sendo w a velocidade angular e r o raio da centrífuga, a velocidade


de sedimentação devido ao campo centrífugo é dada por:
27

ௗమ
‫ݒ‬௖ = ሺߩ௦ − ߩሻ‫ ݓ‬ଶ ‫ݎ‬ (2)
ଵ଼ఓ

Define-se o incremento da ação da gravidade na sedimentação devido ao


campo centrífugo por Fc, cuja fórmula é:

௪మ௥
‫ܨ‬௖ = (3)

Segundo a referência [6], os valor típico em uma suspensão de levedura para d é


de 8 µm e de ρs é de 1,05 kg/m³. O valor de Fc costuma variar de 1000 a 2000. O
fato do diâmetro de uma levedura ser muito maior que o de uma bactéria, fazendo
com que vc seja ainda maior, explica por que a centrifugação diminui a presença de
contaminação, pois as bactérias ficam suspensas no meio.
Para se ter uma ideia, antes da aplicação das centrífugas, a eficiência de
fermentação flutuava na casa dos 75-80%, hoje em dia esse número se encontra
entre 90-92%.
As centrífugas mais utilizadas no processo de fabricação de álcool são as de
discos, pois estas possibilitam um aumento da área de sedimentação, diminuindo o
tempo de centrifugação e aumentando a vazão de clarificado.

Figura 12 - Corte transversal de uma centrífuga de discos


28

As centrífugas de discos têm sua vazão dada por:

ଶగ௡௪ మ
ܳ = ‫ݒ‬௚ [ ଷ௚
൫ܴ଴ ଷ − ܴଵ ଷ ൯ܿ‫]ߠ݃ݐ݋‬ (4)

Onde n é o número de discos, R0 e R1 são os raios medidos do eixo até a


extremidade interior e exterior de discos e θ o ângulo de inclinação do disco em
relação ao eixo axial.
Periodicamente se faz necessária a parada de uma centrífuga para a limpeza
mecânica destas, pois é comum o entupimento dos bicos ejetores e o acúmulo de
sólidos nos discos.
Para a otimização de operação de uma centrífuga deve-se ter em vista que
deseja-se a maior concentração possível de levedo no creme. É importante salientar
que uma maior vazão também acarreta na perda de levedo nas centrífugas.
Segundo dados da Fermentec, obtidos da referência [7], temos o seguinte gráfico:

Figura 13 - Gráfico de otimização da centrífuga

A faixa pontilhada se refere à vazão de trabalho adequada para operação de uma


centrífuga.
29

Após a centrifugação, o vinho delevedurado segue para um tanque dosador, que


alimentará as colunas de destilação de modo que estas operem continuamente,
enquanto que o creme de levedura segue em parte para os pré-fermentadores,
sendo outra parte sangrada, ou seja, destinada para a produção de levedura seca,
que possuí aplicação na elaboração de ração animal ou ainda como fermento para
outras indústrias.

3.6. Destilação

O vinho após ter sido centrifugado encontra-se próprio para a destilação. Sua
graduação alcoólica é de cerca de 10-12°GL, o que precisa ser elevado para a casa
de 92,6-96,8°GL para entrar na especificação de álcool hidratado carburante, ou
ainda 99,4-99,9°GL para ser considerado álcool anidro. Isso só é possível utilizando
o processo de destilação.
O processo de destilação mais comumente utilizado na indústria é o de Melle-
Guinot. Este processo utiliza basicamente três etapas.
A primeira etapa é chamada de destilação, na qual se alimenta a coluna com o
vinho a cerca de 90ºC na porção A1, havendo a formação de vinhaça (produto de
fundo), álcool de segunda (produto de topo), e flegma (produto intermediário).
A visão simplificada da coluna da etapa de destilação é seguinte:

Figura 14 - Coluna de destilação


30

A vinhaça, também conhecido como vinhoto, tem composição muito variável,


sendo geralmente biomassa não extraída nas centrífugas, elementos orgânicos
menos voláteis como o glicerol e os açúcares residuais da fermentação, elementos
inorgânicos, e água. Estima-se que 14L de vinhaça sejam produzidos por litro de
etanol obtido.
Historicamente, este composto é mal visto do ponto de vista ambiental, uma vez
que várias usinas no passado fizeram o despejo do material em rios e córregos, e
sua presença pode ser detectada facilmente pelo odor malcheiroso. Atualmente, a
vinhaça tem sido aplicada como fertilizante na lavoura, principalmente devido ao
nível satisfatório de potássio em sua composição.
O álcool de segunda, retirado na porção D, apresenta baixo teor de etanol, sendo
composto majoritariamente de aldeídos e ésteres, de baixo ponto de ebulição.
O produto de interesse desta etapa é o flegma, que possui graduação alcoólica
que pode variar de usina para usina na casa de 35-65°GL.
O flegma é então alimentado para a coluna de retificação, também chamada de
coluna BB1, cujo esquema está apresentado abaixo:

Figura 15 - Coluna de retificação


31

Nesta coluna, é possível obter o álcool hidratado carburante como produto de


topo da coluna, sendo retirado no fundo a flegmaça, que como vimos, têm aplicação
antisséptica em uma usina. Existe nas porções intermediárias da coluna a retirada
do óleo fúsel, que possui alto valor agregado, sendo de particular interesse para a
indústria farmacêutica.
Algumas plantas também realizam a produção de álcool hidratado industrial, a
diferença no processo de fabricação deste produto para o carburante está no tipo de
condensador utilizado no topo da coluna, enquanto no etanol carburante utiliza-se
trocador de calor fechado, no industrial o trocador possui uma abertura para o
ambiente a fim de extrair os contaminantes voláteis, o que infelizmente também
provoca a perda de uma parcela de etanol em forma de vapor.
A última etapa do processo de Melle-Guinot consiste na produção do álcool
anidro, o que também é chamado de desidratação do álcool.

3.7. Desidratação do Etanol

3.7.1. Destilação Azeotrópica

O álcool anidro, um dos constituintes da gasolina brasileira, possui graduação


álcoolica superior a 99,6°GL, sua produção não pode ser feita através de uma
simples destilação, uma vez que o etanol e a água formam um azeótropo. Misturas
azeotrópicas possuem, à determinada composição, temperatura e pressão; um
ponto de ebulição constante.

Figura 16 - Diagrama bifásico etanol/água a 1 atm.


32

Note o azeótropo da mistura etanol e água está na composição molar de 0,896


de etanol, ou seja, composição mássica de 0,956 de etanol, que é a graduação
INPM. Esta é a composição máxima de etanol a ser obtida em uma coluna de
retificação. O ponto de ebulição da mistura é de 98,2°C.
Na destilação azeotrópica se adiciona um solvente que faz com que o ponto de
ebulição da mistura diminua ainda mais, possibilitando a extração de uma das
espécies à composição de 100%.
O método de Melle-Guinot prevê para a fabricação de etanol anidro a adição de
cicloexano ou benzeno. A referência [10] mostra o funcionamento de uma destilação
azeotrópica:

Figura 17 - Destilação azeotrópica

Encontramos, também nessa referência, a destilação azeotrópica do etanol com


benzeno:
33

Figura 18 - Destilação azeotrópica com benzeno

Note que a composição do azeótropo formado é de 18,5% de etanol, 74,1% de


benzeno e 7,4% de água, e o ponto de ebulição é de 64,85°C.
Este processo está cedendo espaço para outros tipos de processo de
desidratação, que além de não utilizar substâncias tóxicas como benzeno e
cicloexano, possibilitam um menor consumo de vapor. Um exemplo desses
processos é a desidratação por peneiras moleculares.

3.7.2. Peneira Molecular

A peneira molecular utiliza a operação unitária de adsorção para reter água e


liberar o etanol anidro. Consiste na passagem de álcool hidratado em fase vapor por
leitos fixos contendo um zeólito, uma espécie de mineral poroso. As moléculas de
água, de menor tamanho, são adsorvidas pela superfície do zeólito, o que não
acontece com as moléculas de etanol.
É um processo que não apresenta perigo em termos de utilizar substâncias
tóxicas e o consumo de vapor é muito mais baixo, o que torna o processo mais
barato. A maior resistência quanto a implantação deste processo está no fato do
zeólito ainda ser considerado caro no mercado nacional.
34

Figura 19 - Exemplo de Peneira Molecular


35

4. CONCLUSÃO

Neste trabalho, como esperado, foi constatada uma forte sinergia entre as
disciplinas ministradas na graduação e os processos encontrados numa usina de
fabricação de etanol. A fermentação, por exemplo, vai de encontro com a disciplina
de Engenharia Bioquímica assim como a destilação envolve conhecimentos de
operações unitárias e termodinâmica aplicada. Entretanto, o processo infelizmente
carece de uma produção bibliográfica que aborde o tema com elevado grau de
complexidade, o que dificulta o pleno entendimento do tema.
36

5. BIBLIOGRAFIA

1. http://www.inventabrasilnet.t5.com.br/caralc.htm
2. http://www.biodieselbr.com/
3. MENEZES, T.J.B. Etanol: O Combustível do Brasil, Ed Ceres XXIV. São
Paulo, Editora Agronômica Ceres LTDA, 1980.
4. CAMARGO, R. Importância da Raça de Levedura na Fermentação do Melaço.
In: II Semana de Fermentação Alcoólica. Fermentação do Mel Final das
Usinas de Açúcar. Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz”, vol II,
Piracicaba-SP, 1966.
5. LIMA, U.A et al. Biotecnologia Industrial: Processos Fermentativos e
Enzimáticos, vol 3. São Paulo, Editora Edgard Blücher LTDA, 2001.
6. KILIKIAN, B.V. PESSOA JR., A. Purificação de Produtos Tecnológicos,
Barueri-SP, Editora Manole, 2005.
7. AMORIM, H.V. FERMENTAÇÃO ALCOÓLICA- Ciência & Tecnologia. Editora
Fermentec. Piracicaba, 2005.
8. http://www.inovacao.unicamp.br/etanol/report/workshop-etanol_luiz-basso.pdf
9. GUTIERREZ, L.E. Efeito da Adição de Sulfato de Amônio Sobre a Produção
de Ácido Succínico Durante a Fermentação Alcoólica, Escola Superior de
Agricultura “Luiz de Queiroz”, Piracicaba-SP, 1988.
10. FOUST, A.S. Princípio das Operações Unitárias, Ed. 2, Editora LTC, 1982.
11. PERRY, R.H., Perry`s Chemical Engineers’ Handbook, McGraw-Hill, 1997.

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