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MIGRAÇÕES DE PESCADORES EM SALVATERRA DE MAGOS

Murtoseiros e Avieiros

1 - Introdução
O rio Tejo, atraiu muitos pescadores vindos de longe. Gente do mar que de Inverno não conseguiam
ganhar o seu sustento devido à bravura das ondas.
O seu ganha-pão era recusado pela ondulação forte que os privava da pesca, enquanto que o rio Tejo
era mais sereno e calmo, e além
disso era “um jardim de peixe”,
obrigando a que várias famílias de
pescadores rumassem ao sul em
busca de novas formas de
subsistência.
Destas migrações internas em
direcção ao rio Tejo, que surgiram
em finais do séc. XIX, destacam-
se duas de origens geográficas
diferentes: os murtoseiros, vindos
da Murtosa e os avieiros
originários da Vieira de Leiria.

Seguindo na esteira do sável,


vários pescadores fizeram-se ao
Tejo e fixaram-se juntos dos
povoados ribeirinhos, “em data
imprecisa, mas talvez não muito
afastados do terceiro decénio de
setecentos, grandes migrações de pessoal “do norte”, como se dizia, terão começado a surgir à
beira Tejo.”1.
Eram pescadores de torna-viagem, abandonado o Tejo quando o sável deixava de aparecer, e no
verão retomavam à sua terra natal.
Apesar destes pescadores (avieiros e murtoseiros) ganharem a sua vida no Tejo, havia entre eles
1
O trabalho e as tradições religiosas no Distrito de Lisboa - Exposição de Etnografia, Governo Civil de Lisboa,
1991, p. 264.
grandes diferenças e rivalidades, o que provocava grandes rixas.
Os murtoseiros acusavam os avieiros de terem contribuído para a decadência da sua actividade
piscatória, através da concorrência desleal das redes, os avieiros por sua vez também os acusavam
de usarem este tipo de redes.
O certo é que estes dois grupos não mantinham relações muito cordiais, pois a “avieira que, por
razões da sua vida familiar, passe a residir numa rua de varinos será friamente recebida pelas
vizinhas, ainda que tenha temperamento afável e seja incapaz de introduzir qualquer perturbação
na vizinhança”2.
Neste suscito trabalho apresentámos algumas características destes pescadores aquando da sua
estadia no rio Tejo.

2
Idem, Ibidem, p. 320
2 - Habitação
2.1 - Murtoseiros
Ano após ano muitos pescadores oriundos da Murtosa rumavam ao sul. Aqui alugavam casas à beira
rio, onde habitavam às vezes várias famílias, para o aluguer ser mais acessível “formavam
verdadeiros bairros, demarcados com nitidez. Mantinham-se separados das gentes do Ribatejo,
que os olhava com desconfiança, por esse profundo antagonismo que separou os homens do mar
dos homens da terra, velha rivalidade que o povo, sempre pronto a cantar o que sente no seu
intimo, tão bem traduziu:
Homens do mar, não são homens
Murtoseiros homens não são
Onde chegam os campinos
Abre a terra, treme o chão” 3

Estas habitações eram baixas, sem estuque, de telha vã e pavimento de terra batida ou acimentado,
durante o tempo das migrações, o mobiliário era reduzido ao indispensável, porque os recursos eram
poucos.
Os arruamentos das vilas onde se fixavam, tomavam um aspecto muito peculiar: grandes redes
estendidas ao sol, junto às casas e
no chão ou nas soleiras das portas,
homens descalços de barreto preto
na cabeça e beata ao canto da boca,
a fazer redes ou remendá-las.
Desprezando o trabalho rural e
empenhados unicamente na pesca,
estes homens vindos do mar largo,
não estabeleciam quaisquer relações
de convívio com os da terra, senão
as estritamente indispensáveis ao
fornecimento dos avios e à transacção do pescado.
Mantinham-se separados da gente do Ribatejo, que os olhava com desconfiança, por esse profundo
antagonismo que sempre separou homens do mar e homens da terra.

3
- Maria Adelaide Neto, Os avieiros nos finais da década de cinquenta, Castelo Branco, 1985, p. 27.
2.2 - Avieiros
Os avieiros ao contrário dos murtoseiros não ficavam nos aglomerados junto do rio Tejo, optavam
por se fixar nas margens do Tejo. Não possuíam habitação própria “moravam nas pequenas
embarcações de proa alta, quer durante a faina, quer acostado. O barco era o berço, a câmara
nupcial, a oficina e a tumba4.
Com a fixação definitiva, surge a necessidade de encontrar um domicílio mais estável, resistente e
confortável. Pouco a pouco conquistam as margens do rio Tejo e começam a erguer pequenas
barracas totalmente construídas em caniço, dado que este crescia de forma espontânea pelos
valados.

Sempre que as condições económicas o permitiam, começavam a adquirir madeira, comprando por
vezes uma tábua por semana e aos poucos iam edificando a sua habitação. A aldeia do Escaroupim
nasce desta forma, tomando uma configuração muito irregular tal como a vida dos avieiros, as casas
foram levantadas aos solavancos conforme as suas posses: “pequenas, talvez para que as não
vissem; ou tímidas para que não as mandassem destruir. Ou pequenas e tímidas por causa dos
materiais e das agruras do tempo”5.
A casa avieira deriva das tradições habitacionais da Praia de Vieira de Leiria, ela é uma cópia
4
4 - Idem , A cultura Avieira. Continuidade e Mudança, In separata do colóquio “ Santos Graça” de Etnografia
Marítima , Edição subsidiada pela a Câmara de Vila Franca de Xira, p. 7
5
Alves Redol, Avieiros, Mem-Martins, Publicações Europa América, s.d, pp. 195-196.
idêntica aos palheiros que se estendem nos areais da Praia da Vieira.
Contrastando com a casa ribatejana, a habitação avieira é assente em pilares devido às cheias
ocasionais do Tejo, é feita em madeira, pois é o único material que a Capitania do Porto de Lisboa e
a Hidráulica permite. Enquanto que a casa ribatejana é normalmente caiada, a do avieiro é pintada
com cores alegres onde se destaca o verde, o vermelho e o azul, disfarçando desta forma as
amarguras da vida.

3 – Trajes de Murtoseiros

O vestuário da mulher evidencia a sua origem geográfica, da sua indumentária destaca-se a blusa
que era de chita,
ou cassa, conforme
as estações, e com
preguinhas miúdas,
não muito justa e
com punhos nas
mangas, debruados
de renda,
comprada na loja à
vara.
O avental - peça
importante do traje, e ao qual a mulher dispensa cuidados especiais - não o tira nunca, chegando
mesmo a trazer um por cima do outro.
O lenço é outro atavio imprescindível, a murtoseira que se
preze usa-o sempre, seja casada, solteira ou viúva. Em tempos
recuados usavam um lenço de lã e retroses, com uns fiozinhos
de cor. Podiam ou não sobrepor-lhe chapéu ou rodilha.
Nas festas de igreja, baptismos, casamentos e bailes,
arranjavam os lenços à tricana, e levavam xaile de menino
preto, com franja de seda e posto em bico.
No pé, meia e chinelo alta para as cerimónias. Descalça ou de
tamancos no dia-a-dia, nos bailes para dançarem mais leves
descalças.
Outro elemento de destaque são os grossos cordões de oiro ao
pescoço, que completam a indumentária da mulher da Murtosa.
No trajar masculino, avultava a imponência do “gabão”, espécie de capote com capuz, em cores
castanhas (trabalho( e preta (luto).
Descalço, o varino usava calção curto, que deixava a descoberto mais de meia perna, para que lhe
não tolhesse os movimentos, enfiava na cabeça o inseparável barrete preto e fumavam em
cachimbos que ele próprio, muitas vezes fabricava.

4 – Traje dos Avieiros

Apesar da fixação na lezíria ribatejana, a mulher avieira conservou genuinamente o seu traje de
origem. Vejamos a descrição deste, segundo uma descrição de Maria Micaela Soares 6: “(...) elas
conservam puras muitas das suas tradições, com especial relevo para o vestir. Usam saia e blusa -
a que a mais velha chama “casaco”, sendo aquela muito rodada ou em pregas miúdas. De tecido
diferente, conforme a estação do ano, a saia tende sempre para o xadrez castanho-amarelado,
embora se vejam também de cores muito garridas.
O “casaco” tem sempre manga comprida, é
bastante colorido e muito enfeitado, com rendas
ou bordados, mesmo nas menos jovens (...).
Também não dispensa o avental, bastante
rodado, estimando muito os de riscas largas, de
quadradinhos miúdos ou de cor lisa, bordados.
Usa-o no trabalho do rio, doméstico, agrícola ou
nas festas.
Na cabeça, a avieira mais idosa não prescinde
do lenço, posto com pontas ao alto, à roda-da-
cabeça, caído pelos ombros, atado atrás. Só
dentro da casa e nos grandes calores estivais o
retira, e mesmo assim, se alguém chega à porta,
repõe-no imediatamente, que não parecia bem
sem ele. Faz parte do decoro da sua
apresentação. Quando de luto, nem em casa o
afasta.
Interiormente as mais velhas trazem ainda camisa com “ombrêras”, além da saia branca de baixo,

6
Maria Micaela Soares, “Mulheres da Estremadura” In Boletim Cultural da Assembleia Distrital de Lisboa, n. 83,
(1977), pp 301-302.
tudo com rendas.
Grande anseio de todas é a posse de um cordão e grandes medalhas, que ostentam mesmo sobre
fatos de luto (...)”.

O traje do avieiro, também nos reporta para a sua área geográfica da Vieira de Leiria “de camisa
axadrezada, em tons castanhos e amarelos, de preferência e não já de pano cru; calça de fazenda
ou de cotim, arregaçada, tal como a ceroula interior, ou largas bragas de zuarte, antigamente,mas
de ganga hoje; boina de pala curta em vez de barrete de outrora, em geral preto, mas que também
fora azul ou vermelho, com ou sem borla, cinto de cabedal ou mero cordão, pela cinta preta de
outros tempos, camisolas e casacos de malha ou de tecido grosso a destronarem o gabão de
capucha e farto cabeção, pés de descalço sempre - eis o velho avieiro” 7.

7
Micaela Soares Varinos e Avieiros, In Navegando no Tejo, Lisboa, Comissão de Coordenação da Região de
Lisboa e Vale do Tejo (CCRLVT), 1995

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