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História e Conceitos
de Saúde Pública
História e Conceitos de Saúde Pública
Autora: Andressa Soares de Camargo das Neves
Como citar este documento: NEVES Andressa S.C. História e Conceitos de Saúde Pública. Valinhos:
2015.

Sumário
Apresentação da Disciplina 04
Unidade 1: História e Conceito de Política de Saúde Pública Brasileira do Período Colonial ao Império 06
Unidade 2: História e Conceito de Política de Saúde Pública Brasileira na Primeira República à Era
32
Vargas
Unidade 3: História e Conceito de Política de Saúde Pública Brasileira do Saneamento dos Portos
59
e Sanitarismo Campanhista
Unidade 4: História e Conceito de Política de Saúde Pública Brasileira da Segunda República ao
89
Regime Militar

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História e Conceitos de Saúde Pública
Autora: Andressa Soares de Camargo das Neves
Como citar este documento: NEVES Andressa S.C. História e Conceitos de Saúde Pública. Valinhos:
2015.

Sumário
Unidade 5: História e Conceito de Política de Saúde Pública Brasileira no Período da Nova
117
República: Aspectos Relevantes das Políticas Públicas de Saúde
Unidade 6: História e Conceito de Política de Saúde Pública Brasileira: Lei Eloy Chaves, IAPs –
141
Aspectos Relevantes das Políticas Públicas de Saúde
Unidade 7: O Papel dos Órgãos Oficiais na Escola Frente à Demanda por Políticas Educacionais
183
que Atendam aos Desafios de uma Sociedade Multicultural
Unidade 8: SUS – A Organização e o Funcionamento 208

3
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Apresentação da Disciplina

O conteúdo a ser apresentado nesta para a construção de um sistema de saúde


disciplina foi elaborado com o intuito de resolutivo, humanizado e de boa qualidade.
capacitar profissionais da área da saúde e Esta disciplina versará sobre: os
áreas afins, para atuarem como agentes fatos históricos e eventos sociais
transformadores dentro do Sistema Único relacionados à saúde pública no Brasil
de Saúde (SUS), objetivando a prevenção, (seu surgimento e desenvolvimento); as
promoção e recuperação da saúde da políticas de saúde pública e os arranjos
população. institucionais brasileiros; as relações entre
Nas últimas décadas, o mercado de Estado e Sociedade e a organização e
trabalho relacionado à área da saúde funcionamento do Sistema Único de Saúde;
vem apresentando um crescimento e os temas conjunturais e tendências de
significativo. Diante desse fato, torna- reformas no setor de saúde, entre outros.
se cada vez mais necessária a busca de Não importa que você não se encontre
capacitação dos profissionais para uma inserido no mercado de trabalho do
melhor e constante atuação dentro dos Sistema Único de Saúde; os conceitos e
serviços públicos de saúde. Sendo assim, as experiências da historicidade a serem
os profissionais atuantes nesses serviços apresentadas aqui o ajudarão a entender
têm o compromisso de buscar alternativas e a refletir por que o modelo de saúde
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pública atual evoluiu e ainda tem muito a
evoluir. Prepare-se para embarcar em uma
aventura e finalmente entender a história e
os conceitos de saúde pública no Brasil.

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Unidade 1
História e Conceito de Política de Saúde Pública Brasileira do Período Colonial ao Império

Objetivos

1. Compreender o contexto histórico da


Saúde Pública no Brasil do período
Colonial ao Império.
2. Abordar os conceitos, organização e
funcionamento do cuidado à saúde
da população nestes períodos.
3. Apresentar uma análise do processo
de saúde pública do Brasil do período
Colonial ao Império.

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1. Introdução

No início do século XVI, Portugal, em


seu projeto de expansão ultramarina,
chegara às terras brasileiras. Encontrou
Link
Estimativas apontam que no território brasileiro
aqui, entretanto, algo diferente da riqueza
habitavam pelo menos 5 milhões de índios, por
em ouro e diamante que procurava.
ocasião de Pedro Álvares Cabral, no ano 1500
Uma beleza natural tão impressionante,
(<http://www.trilhasdeconhecimentos.etc.
distribuída em uma imensidão territorial.
br>).
Mas não demorou para que os portugueses
percebessem que essas novas terras
guardavam mais uma surpresa: habitantes. Os primeiros contatos entre brancos e
Seres humanos com um modo de vida índios foram de maneira amigável, e pouco
completamente diferente do modelo a pouco os interesses dos colonizadores
europeu, os chamados índios (VICENTINO; passaram a se opor radicalmente aos dos
DORIGO, 2012). indígenas. Na realidade, a cordialidade dos
primeiros contatos era apenas uma forma
de preparar para a dominação (VICENTINO;
DORIGO, 2012).

7/234 Unidade 1 • História e Conceito de Política de Saúde Pública Brasileira do Período Colonial ao Império
Os portugueses, nesse início, tinham culminaram para um verdadeiro genocídio.
o objetivo de conhecer o potencial Muitas tribos foram completamente
econômico do local e entender como extintas; os sobreviventes fugiram para
eram esses habitantes e seus costumes. o interior do território. Algumas décadas
Cada tribo indígena teve seu modo de depois, todas as outras tribos encontradas
lidar com a nova situação. Algumas seriam dominadas e catequizadas
viam esses viajantes como deuses, sem (VICENTINO; DORIGO, 2012).
perceber perigo em sua chegada e,
inclusive, tentavam se comunicar e trocar
conhecimentos. Ajudavam, por exemplo,
Para saber mais
a extrair o pau-brasil, que foi o primeiro A captura do índio nativo não proporcionava
produto a ser extraído e exportado lucro algum para a metrópole, no máximo gerava
da colônia para Portugal em troca de um comércio interno e um contato maior entre
mercadorias como espelhos, pulseiras, as diversas regiões da colônia, o que nem sempre
entre outras (VICENTINO; DORIGO, 2012). era interessante para Portugal, uma vez que tal
contato geraria o aquecimento de um mercado
Porém, não demorou muito para que
interno do qual a metrópole não participava, não
começassem a eclodir diversos conflitos
recebia tributos e, portanto, não lucrava...
entre nativos e portugueses, os quais
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artificio para forçar a colonização. Algo
Para saber mais que nem mesmo tinham consciência, mas
[...]. A relação entre escravidão e comércio
acabou por lhes favorecer: as doenças
fica mais evidente quando se percebe que,
que trouxeram, impregnadas em seus
embora iniciado pelos portugueses, o tráfico de
próprios corpos, navios e trajes, que não
escravos foi praticado por todas as potências
lhes causavam tantos danos graças a
mercantilistas da época moderna, como
sua familiaridade (por exemplo, gripe,
Holanda, França e Inglaterra.
sarampo, catapora, pneumonia e varíola),
história essa que não foi a mesma para os
(Mauro Bertoni e Jurandir Malerba. Nossa gente habitantes nativos que, ao terem contato
brasileira: textos e atividades para o Ensino com essas doenças, começaram a adoecer,
Fundamental. Campinas: Papirus, 2001. p. 50). enfrentando uma onda de enfermidade
e terror (VICENTINO; DORIGO, 2012;
AVELAR, 2015).
1.1 Surgimento das Primeiras
Doenças no Brasil As tribos só podiam, então, contar com
seu próprio método rústico e empírico
Os portugueses trouxeram consigo, de tratamento de saúde, por meio de
além das armas de fogo, um poderoso seus curandeiros, que embasados em
9/234 Unidade 1 • História e Conceito de Política de Saúde Pública Brasileira do Período Colonial ao Império
conhecimentos da flora local (plantas, construídas as primeiras Santas Casas de
ervas), desenvolviam uma série de Misericórdia em Santos, São Paulo, Bahia,
curativos, rituais e remédios para a cura Rio de Janeiro, Belém e Olinda. Vieram, na
dessas doenças (VICENTINO; DORIGO, mesma década, os primeiros jesuítas, para
2012; AVELAR, 2015). instalar as missões jesuítas (aldeamentos
indígenas com objetivo de difusão da
1.2 Surgimento das Primeiras fé católica), que contavam com seus
Santas Casas de Misericórdias conhecimentos básicos de saúde, para que
no Brasil conseguissem ser autônomos, vivendo em
localidades, muitas vezes, distantes das
Nesse momento histórico, em meados vilas. Absorveram muitos conhecimentos
de 1530, a população do Brasil se dos indígenas, aproveitando seu vasto
resumia a índios e aos portugueses que conhecimento empírico em diversos
começavam a chegar para produzir cana- aspectos (FILHO, 2000).
de-açúcar nos engenhos do Nordeste A mão de obra utilizada nesses engenhos
(VICENTINO; DORIGO, 2012). Ainda não de açúcar era escrava. A data aproximada
havia cidades propriamente ditas, mas da chegada do primeiro navio negreiro ao
nessas pequenas vilas já estavam sendo Brasil consta em meados de 1531. Nesse
10/234 Unidade 1 • História e Conceito de Política de Saúde Pública Brasileira do Período Colonial ao Império
momento, ocorre uma maior expansão das doenças, trazidas por escravos negros, através de
navios que não possuíam nenhum tipo de estrutura sanitária (VICENTINO; DORIGO, 2012).

Para saber mais


[...] O tráfico, o comércio intercontinental de escravos, foi uma atividade extremamente lucrativa para
as coroas europeias durante a época moderna, e é pela ótica das práticas mercantilistas que ele deve
ser entendido. O escravo era uma das mais valiosas mercadorias que a metrópole vendia para a colônia,
enriquecendo os traficantes portugueses e facilitando a exploração do império português.
(Mauro Bertoni e Jurandir Malerba. Nossa gente brasileira: textos e atividades para o Ensino
Fundamental. Campinas: Papirus, 2001. p. 50).

PRIMEIRAS MEDIDAS DE CUIDADOS COM AS QUESTÕES DE SAÚDE NA SOCIEDADE


As primeiras medidas de cuidados com a saúde surgiram a partir da preocupação com o bem-
estar das pessoas da coroa. Sendo assim, inicia-se um enfoque de fiscalização na saúde, como
forma de colocar a atividade médica no poder soberano (GALVÃO, 2015).

11/234 Unidade 1 • História e Conceito de Política de Saúde Pública Brasileira do Período Colonial ao Império
A então denominada Fisicatura, órgão máximo a regular as questões relacionadas à saúde,
nessa época, era vista como um tribunal que regulamentava a profissão, punia os infratores e
reservava para a medicina o espaço da doença e à prática curativa (GALVÃO, 2015).
De acordo com Machado (1978), observa-se a relação entre saúde e sociedade com um olhar
de zelar pela limpeza das pequenas vilas que estavam sendo estruturadas e construídas.

Para saber mais


A consideração tanto da cidade, quanto do Porto, do ponto de vista da doença possível, adquire sua
significação mais profunda no quadro da política metropolitana, que procura maior controle comercial
e militar na colônia, na medida em que se articula com a defesa da riqueza e do território. É frequente
nos documentos a ênfase dada no particular cuidado de sua majestade com a saúde dos povos e
conservação do Estado. A população vital, aparece como elemento a ser preservado em vida, como
vassalos do Rei, povoadores de uma terra disputada e produtora, é neste contexto que sujeira e doença
articulam-se como binômio a ser evitado. Como também é a partir dele que se explica o medo e o
perigo da peste, na medida em que ela dizima as populações, a ponto de paralisar a cidade e mesmo de
diminuir a mão de obra (MACHADO, 1978, p. 559).

12/234 Unidade 1 • História e Conceito de Política de Saúde Pública Brasileira do Período Colonial ao Império
Aumentar o nível de saúde e impedir a isto é, de uma ação que incluísse toda a
ocorrência das doenças não era papel população (ROSEN, 1979).
efetivo da Câmara, pois atuava de forma No final do século XIX, o enfoque passa a
local, dispersa e sem continuidade, ser voltado à recuperação do estado de
ficando clara a inexistência de um Projeto saúde da população, sendo criados os
de Medicina Social, no que se refere ao hospitais militares e os de isolamentos
campo de saúde pública (GALVÃO, 2015; – leprosários. Os primeiros têm o intuito
ROSEN, 1979). de reintegrar o soldado à tropa, e os
Nos casos de aparecimento de doenças segundos, o objetivo de assistência x
como a lepra por exemplo, a Câmara exclusão social. São feitas transformações
urbanas, como melhorias na infraestrutura
chamava médicos para darem um parecer
das cidades (COSTA, 1985).
diagnóstico. Além disso, elaborava
um plano preventivo e de combate à
doença, por meio de medidas isolamento
(quarentena) dos doentes e a inspeção dos
navios. Observa-se a ausência de medidas
de eliminação das causas das doenças,

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ocorrência de doenças. Os documentos
Link de 1798 citam a imoralidade (vadiagem)
como outro fator causador de doença.
A reclusão dos “leprosos” hoje hansenianos, se Vale lembrar que, nessa época, a medicina
embasava nos saberes médicos da regras de e o poder político eram completamente
salubridade que tentava controlar a população relacionados, logo as conclusões
de “leprosos” de Fortaleza na década de 1920 alcançadas, os discursos e ações
os maiores objetivos para a edificação dos governamentais eram muito sincronizados
leprosários eram: evitar o “espetáculo” dos (COSTA, 1985).
leprosos perambulando pelas ruas e tranquilizar
a população apavorada, diante da ameaça
As doenças eram consideradas um
do contágio, na medida em que o perigo era
problema social, portanto de dever do
afastado para longe do maiores centros urbanos.
governo. O alvo da reflexão e da prática
medica é a cidade. A medicina era uma
(<goo.gl/R1uSR1>). forma de apoio científico ao exercício de
poder do Estado. As medidas políticas
É dado um enfoque médico na importância não são mais movidas por ações isoladas
da circulação livre do ar e da higienização e diretas sobre a doença já instalada. O
das cidades, com o intuito de reduzir a objetivo agora do “médico político” passa
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a dificultar ou impedir o aparecimento da de encontrar. Quando D. João chega, são
doença, descobrindo e eliminando suas criados mais dois cursos de cirurgia, em
causas, para que não interfira mais no bem Salvador e no Rio de Janeiro, enquanto em
físico e moral da sociedade (COSTA, 1985). Minas Gerais o curso foi substituído pelo
Os chamados “cirurgiões práticos” que primeiro de Farmácia, mas era ensinado
atuavam nas Santas Casas de Misericórdia por bons docentes médicos (ROSEN, 1979).
acabaram por receber habilitação. O Brasil O curioso é que os farmacêuticos formados
não possuía curso superior de medicina, ajudavam a democratizar a saúde, uma
para manter a dependência da metrópole. vez que aceitavam trabalhar em locais
Nesse período, a Câmara de Minas Gerais distantes, e possuíam uma formação
tentou pedir, alegando que iria, inclusive, superior à dos cirurgiões. Houve grande
utilizar de recursos próprios, mas foi influência e avanço da visão de saúde
negada (GALVÃO, 2015). com a vinda da família real, pois a saúde
Após 1808, com a chegada da corte passa a ser um objetivo importante do
portuguesa, foi autorizado o ensino poder central e a visão de necessidade
cirúrgico no Brasil. Eram necessários de formação dos colonos se torna algo
cirurgiões capacitados ou, se disponíveis, necessário (GALVÃO, 2015).
médicos, para lecionar, o que não era fácil
15/234 Unidade 1 • História e Conceito de Política de Saúde Pública Brasileira do Período Colonial ao Império
A provedoria, uma instituição propriamente Surge no Brasil a Polícia Médica, ideia
médica, passa a controlar a higiene formulada na Alemanha para combater o
pública com as seguintes atribuições: charlatismo e organizar a saúde. Exemplo:
instituir a quarentena dos navios em um teorias, políticas e práticas para o bem-
Lazareto, dispor de saneamento para a estar da mãe e sua criança, controle e
cidade, controlar os alimentos, pastagens, prevenção de epidemias, organização
matadouros e açougues públicos. de estatísticas e conscientização da
população (COSTA, 1985).
Link
A palavra quarentena vem do Italiano
QUARANTINA, “conjunto de quarenta”, do Latim
Link
QUADRAGINTA, “quarenta”. Com o significado de O termo Medizinichepolizei, polícia médica, foi
“período de dias em que se mantinha um barco utilizado pela primeira vez na Alemanha, em
suspeito de transportar portadores de moléstias 1764, por Wolfong Thomas Rau, em seu livro
infecciosas em isolamento”, é dos anos 1660, “Reflexões sobre a utilidade e a necessidade
determinado pelas autoridades de Veneza. de um regulamento de polícia médica para um
(<http://origemdapalavra.com.br/site/ Estado”
palavras/quarentena/>)

16/234 Unidade 1 • História e Conceito de Política de Saúde Pública Brasileira do Período Colonial ao Império
Link
O programa da polícia médica, iniciado no final do século XVIII, consistia nos seguintes pontos: registrar os
diferentes fenômenos epidêmicos ou endêmicos, obtendo os dados através da observação da morbidade,
pela contabilidade solicitada aos hospitais e aos médicos que exercem a medicina nas diferentes
regiões da Alemanha; normalizar o ensino através de um controle pelo Estado dos programas de ensino
e da atribuição dos diplomas; criação de um departamento especializado para coletar informações
transmitidas pelos médicos, e para controlar a atividade dos profissionais da saúde junto à população; e,
finalmente, a criação de um corpo de funcionários médicos competentes, nomeados pelo governo, para
interferir diretamente com o seu conhecimento e sua autoridade sobre uma determinada região

(<https://www.ufpe.br/proexc/images/publicacoes/cadernos_de_extensao/saude/policia.htm>)

Não foi difundida e não conseguiu se concretizar, já que necessitaria de um controle e


aceitação. Como instrumento de poder, ela fracassou, mas ajudou a definir melhor os objetivos
da higiene pública. Em 1828, a responsabilidade pela saúde passou a ser das Câmaras, uma vez
que foi abolido o lugar de provedor-mor da saúde. Essas, por sua vez, não tratavam de assuntos
totalmente alheios à saúde, mas sim de questões administrativas da cidade (perdem sua função
17/234 Unidade 1 • História e Conceito de Política de Saúde Pública Brasileira do Período Colonial ao Império
jurídica), O provedor da saúde passou a essa representação que a sociedade
ser o segundo vereador mais votado, fato mencionada fazia da Medicina Social
que não foi bem aceito pelos médicos. Em Brasileira, assessorando e criticando,
seguida, surge a Sociedade de Medicina principalmente, medidas sanitárias.
e Cirurgia do Rio de Janeiro, com o intuito Por isso, em 1835, é transformada em
de ter um maior controle das doenças Academia Imperial de Medicina (GALVÃO
mais frequentes na área de saúde pública, 2015; ROSEN, 1979).
lutando pela criação ou reformulação dos No ano de 1849, surgem os primeiros
regulamentos sanitários (FERREIRA, 2004). casos de febre amarela no Rio de
Os médicos achavam que a Câmara Janeiro, ficando visível a precariedade da
não tinha competência para controlar organização sanitária municipal. A junta
questões de saúde, pois eram leigos, mas de Higiene Pública é criada em 1850,
a real questão era a insatisfação por não visando unificar os serviços sanitários
ter poder, pois, na prática, não existiram do Império. Alguns marcos sequenciais
problemas. A sociedade conseguiu que a importantes ocorreram: a reforma dos
Câmara aprovasse o Código de postura, Serviços Sanitários do Império, que foram
em 1832. Nessa época, a política médica divididos em Serviço Sanitário Terrestre e
começa a ser incorporada, graças a Serviço Sanitário Marítimo e o Conselho
18/234 Unidade 1 • História e Conceito de Política de Saúde Pública Brasileira do Período Colonial ao Império
Superior de Saúde Pública, que tinha como
objetivo normatizar as questões de higiene
e salubridade geral (GALVÃO, 2015). Link
Mas a partir de 1850 a cólera começou a reverter
a balança do saber médico em direção às teorias
do contágio por germes. O primeiro sinal da
mudança surgiu de um verdadeiro trabalho de
“médico-detetive” feito pelo inglês John Snow.
Trabalhando como se estivesse conduzindo um
experimento, por tentativa e erro, o médico
inglês conseguiu descobrir que um surto violento
no centro da cidade de Londres, que chegou a
vitimar 500 pessoas entre 31 de agosto e 10
de setembro de 1854, provinha de uma bomba
d’água contaminada usada pela população local.

(<http://www.scielo.br/pdf/physis/v4n1/05.
pdf>)

19/234 Unidade 1 • História e Conceito de Política de Saúde Pública Brasileira do Período Colonial ao Império
Glossário
Brasil Colônia: período de chegada dos primeiros portugueses ao Brasil em 1500 e durou até a
independência em 1822 (BRASIL COLÔNIA, 2015).
Brasil Império: período da história do Brasil que se iniciou com a Independência em 7 de
setembro de 1882 e terminou com a Proclamação da República em 15 de novembro de 1889,
durando pouco mais de 67 anos (BRASIL IMPÉRIO, 2015).
MedizinichepolizeiI: Significa polícia médica.

20/234 Unidade 1 • História e Conceito de Política de Saúde Pública Brasileira do Período Colonial ao Império
?
Questão
para
reflexão

Como você pode perceber, o surgimento histórico


das doenças no Brasil sugere uma necessidade de
implantação de medidas de limpeza pública das
cidades, a fim de prevenir e controlar os diversos
tipos de doenças ocorridas na época. Reflita sobre
essa situação e descreva uma ou mais situações da
ocorrência de doenças que mostrem exemplos desta
situação na atualidade.

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Considerações Finais

Na história da saúde percebemos claramente a influência de fatores sociais,


políticos e econômicos;
ao longo dos séculos, observamos a evolução e conceituação da saúde
vinculada a benefícios da classe social alta e exclusão das classes sociais
baixas;
o surgimento das primeiras medidas relacionadas com a limpeza pública das
cidades e a fiscalização dos navios ocorre devido a interesses de bem-estar da
classe social alta;
o enfoque do capitalismo é visível e constante desde o descobrimento do país.

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Referências

AVELAR, P. R. Surgimento da saúde no Brasil. Juiz de Fora. Disponível em: <http://www.ufjf.br/


oliveira_junior/files/2011/08/Aula-6-EcoUFJF.pdf>. Acesso em: 20 out. 2015.

BRASIL COLÔNIA. Descobrimento do Brasil. Disponível em: <http://brasil-colonia.info/>.


Acesso em: 23 dez. 2015.
BERTOLOZZI, M. R.; GRECO, R. M. As políticas de saúde no Brasil: reconstrução histórica e
perspectivas atuais. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/reeusp/v30n3/v30n3a04>.
Acesso em: 20 ago. 2015.
COSTA, N. R. Lutas urbanas e controle sanitário: origens das políticas de saúde no Brasil.
Petrópolis: Vozes, 1985.
ESCOLA BRITANNICA. Brasil Império. Disponível em: <http://escola.britannica.com.br/levels/
fundamental/article/Brasil-Imp%C3%A9rio/483127>. Acesso em: 23 dez. 2015.

FERREIRA, A. A. L. A História das Ciências e a Nova História: Indícios para os Estudos Históricos
no Campo da Saúde. Cadernos de Saúde Pública, v. 13 n.2 p. 471-492, 2004.
FILHO, W. C. P. The Santa Casa de Misericórdia of São Paulo. Acta Medica Misercordiae, São
Paulo, v. 3, n. 1, p. 25-27, fev. 2016.
GALVÃO, M. A. M. Origem das políticas de saúde pública no Brasil: Do Brasil-Colônia a 1930.
23/234 Unidade 1 • História e Conceito de Política de Saúde Pública Brasileira do Período Colonial ao Império
Ouro Preto. Disponível em: <http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/origem_politicas_
saude_publica_brasil.pdf>. Acesso em: 23 ago. 2015.

MACHADO, R.; LOUREIRO, Â.; LUZ, R.; MURICY K. Danação da Norma: Medicina Social e
constituição da psiquiatria no Brasil. Rio de Janeiro: Graal, p. 559, 1978.
ROSEN, G. Da polícia médica à medicina social: ensaios sobre a história da assistência médica.
Rio de Janeiro: Graal, 1979.
VICENTINO, C.; DORIGO, G. História do Brasil. 3. ed. Rio de Janeiro: Scipione, 2012.

24/234 Unidade 1 • História e Conceito de Política de Saúde Pública Brasileira do Período Colonial ao Império
Questão 1
1. No período do Brasil colônia, os portugueses trouxeram diversas
doenças aos índios, entre elas:

a) Varíola, sarampo e rubéola.


b) Varíola, gripe, tuberculose, rubéola.
c) Varíola, gripe, sarampo, catapora e pneumonia.
d) Varíola, sarampo e catapora.
e) Varíola, hanseníase, sarampo e rubéola.

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Questão 2
2. As Santas Casas de Misericórdias surgiram no Brasil em meados de 1530:

a) em Olinda, Vitória, Rio de Janeiro;


b) em Santos, São Paulo, Bahia, Rio de Janeiro, Belém e Olinda;
c) somente nas cidades de Olinda, São Paulo e Santos;
d) somente nas cidades de Santos, São Paulo e Rio de Janeiro;
e) somente nas cidades de Olinda, Vitória e São Paulo.

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Questão 3
3. A Fisicatura era:

a) um determinado grupo da corte nomeada pelo Rei;


b) uma comissão de indígenas que lutavam pelos seus direitos;
c) uma disciplina da faculdade de medicina da época;
d) órgão máximo que tratava das questões de saúde, com regulamentação da profissão de
medicina;
e) órgão máximo que tratava das questões de saúde, com regulamentação da profissão de
farmácia.

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Questão 4
4. Durante o tempo entre o período Colonial e o Império, o Hospital Mili-
tar foi construído com o intuito de:

a) prestar assistência aos índios;


b) prestar assistência aos colonizadores;
c) prestar assistência à família real;
d) reintegrar os soldados as tropas;
e) prevenir a disseminação de epidemias.

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Questão 5
5. O leprosário foi construído com o objetivo de:

a) prevenir e tratar a lepra;


b) dar assistência à corte Real;
c) agir como entidade assistencial que protegia a cidade do perigo de contágio;
d) funcionar como entidade preventiva e assistencial nos casos de moléstias
infectocontagiosas;
e) ser um hospital voltado para doentes pobres que moravam no centro dos municípios.

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Gabarito
1. Resposta: C. localidades de Santos, São Paulo, Bahia, Rio
de Janeiro, Belém e Olinda.
Os portugueses trouxeram consigo,
além das armas de fogo, um poderoso 3. Resposta: D.
artifício para forçar a colonização. Algo
que nem mesmo tinham consciência, mas A chamada Fisicatura, órgão máximo
acabou por lhes favorecer: as doenças, para as questões de saúde nesta época,
impregnadas em seus próprios corpos, era considerada um tribunal com
navios e trajes, mas que não lhes causavam regulamentação da profissão, que tinha o
tantos danos graças a sua familiaridade objetivo de punir os infratores e reservar
(exemplo: gripe, sarampo, catapora, para a medicina o espaço da doença
pneumonia e varíola). e reduzia-se a legalização da prática
curativa.
2. Resposta: B.
4. Resposta: D.
No período Colonial ao Império, no
Brasil surgiram as primeiras instituições No final do século XIX, o enfoque muda
de Santas Casas de Misericórdias, nas e o poder colonial assume a questão da

30/234
Gabarito
recuperação do estado de saúde de seus
habitantes. São criados os hospitais
militares, com o intuito de reintegrar o
soldado a tropa.

5. Resposta: C.

No final do século XIX, o enfoque muda


e o poder colonial assume a questão da
recuperação do estado de saúde de seus
habitantes, criando os leprosários com o
intuito de entidade assistencial de exclusão
social que protegia a cidade do perigo de
contágio.

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Unidade 2
História e Conceito de Política de Saúde Pública Brasileira na Primeira República à Era Vargas

Objetivos

1. Aprimorar conhecimentos de
profissionais da área da saúde e
afins sobre os pontos relevantes no
contexto histórico da saúde pública
no Brasil no período da Primeira
República à Era Vargas.
2. Abordar os conceitos, organização e
funcionamento do sistema de saúde.
3. Apresentar uma análise do processo
de saúde pública do Brasil do período
da Primeira República à Era Vargas.
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1. Introdução
No início do período da Primeira República, A organização dos programas de serviços
o país foi comandado pelas oligarquias, ou de saúde voltava-se para as doenças
seja, os estados mais ricos, que possuíam
coletivas, sendo que as investigações eram
grande produção de café. Sendo assim,
feitas em instituições estatais, seguindo
aplicavam seu lucro no desenvolvimento
um modelo etiológico centrado no controle
de suas cidades, acelerando, dessa forma,
dos insetos e animais vetores (GOMES;
o crescimento urbano (GOMES; FERREIRA,
2015). Nesse momento, são adotados os FERREIRA, 2015).
saberes experimentais da bacteriologia e A preocupação dos estados com as cidades
da microbiologia, de forma a questionar os era evidente e baseada em uma visão
saberes tradicionais para a época que era capitalista, focada na preservação da força
baseado na teoria dos miasmas (FERREIRA, de trabalho das classes sociais mais baixas,
2012; GOMES; FERREIRA, 2015). e ainda em preservar a segurança da classe
alta que residia no meio urbano, ou seja,
Link buscava eliminar doenças transmissíveis,
Oligarquia” como termo tomado na sua acepção como varíola, peste e febre amarela. A
clássica, platônica e aristotélica, de governo dos cidade de São Paulo, vista nesse período
ricos ou, por derivação, como o grupo dos ricos. como cidade portuária, foi a primeira que
(GAZMURI, 2004, p. 65) implantou os empreendimentos de higiene
33/234 Unidade 2 • História e Conceito de Política de Saúde Pública Brasileira na Primeira República à Era Vargas
pública. Iniciam-se as fortes e intensas o entendimento dos aspectos sociais das
intervenções higienistas na cidade, que na populações urbanas (HORTON, 2011).
época era considerada uma das mais ricas Nas primeiras décadas do século XIX
das oligarquias. Ocorre, então, um alto (1820), chegaram ao país inúmeros
investimento para a área da saúde pública. imigrantes europeus, mas, nesse período,
E, assim, as fiscalizações tornaram-se mais as condições sanitárias para a entrada e
rigorosas, e ficou obrigatória a notificação permanência no país eram cada vez mais
oficial de todos os casos de doenças difíceis. Com a falta de políticas sociais
infectocontagiosas (GALVÃO, 2015; e de saúde, ocorreu a disseminação de
HORTON, 2011). epidemias como a febre amarela e peste
Antes da criação dessas instituições de bubônica (GALVÃO, 2015).
saúde pública e dos investimentos gerados,
a política sanitária ficava sem meios de
apoio, devido à inexistência, por exemplo,
de análises químicas e bacteriológicas.
Nesse momento, então, com o avanço da
ciência, inicia-se realmente um controle
dos ambientes da cidade, e melhora, assim,
34/234 Unidade 2 • História e Conceito de Política de Saúde Pública Brasileira na Primeira República à Era Vargas
Nesse momento, os emigrantes traziam
doenças raras, como a cólera, a escarlatina
e o tifo, o que resultava na ocorrência de
Para saber mais diversos tipos de surtos em toda a população,
O estudo das epidemias de peste no Brasil, iniciou sendo necessária a ampliação dos institutos
–se no Rio de Janeiro, no início do século XX. Neste bacteriológicos (HORTON, 2011).
período podemos observar que a epidemia abordou
E a preocupação do governo era com o
duas questões fundamentais: a criação do Instituto
saneamento dos portos de várias cidades
Soroterápico Federal, hoje Fundação Oswaldo
do litoral, porém seu maior objetivo era
Cruz, cuja principal finalidade por ocasião de sua
nos problemas médico-sanitários do Rio
inauguração foi a fabricação do soro para combater
de Janeiro. Ocorreram ainda a criação dos
a Peste Bubônica, e a campanha de saneamento
seguintes serviços vinculados à área da
comandada por Oswaldo Cruz.
saúde (HORTON, 2011):
(<http://www.hcte.ufrj.br/downloads/sh/sh4/
• A Inspetoria Geral de Higiene que
trabalhos/Vagner%20Souza.pdf>)
realizava a inspeção das habitações
populares, do serviço de vacinação,
da alimentação pública;

35/234 Unidade 2 • História e Conceito de Política de Saúde Pública Brasileira na Primeira República à Era Vargas
• o Laboratório de Bacteriologia; saúde pública no estado de São Paulo, com
• a Inspetoria Geral de Saúde dos vasta aplicação de medidas sanitárias e
Portos; combate intensivo contra epidemias (em
especial a febre amarela) e outros tipos de
• o Instituto Sanitário Federal doenças endêmicas (RIBEIRO, 2010).
com atribuições semelhantes ao
Laboratório de Bacteriologia, ou Desde 1849, a febre amarela apresentava
seja, estudar natureza, etiologia, taxa de mortalidade alta, permanecendo
profilaxia e tratamento de doenças endêmica ao longo da costa litorânea
transmissíveis. e epidêmica nos centros urbanos. Até
1900, a frequência e regularidade com
Em 1893, com a direção de Adolfo
que a doença atacava o Rio de Janeiro,
Luiz, o instituto de São Paulo inicia o
proporcionaram ao Brasil o rótulo de uma
planejamento e a aplicação sistemática das
das áreas mais insalubres dos trópicos
técnicas de bacteriologia e da parasitologia
(FERREIRA, 2012).
na prática de saúde, organizando um
laboratório sob direção de Vital Brasil, para Nesse mesmo período histórico,
fabricação de soros e vacinas. O pioneiro observam-se os seguintes acontecimentos
Emílio Ribas realizou grandes esforços em (CARVALHO, 2013; DANTES, 2003):

36/234 Unidade 2 • História e Conceito de Política de Saúde Pública Brasileira na Primeira República à Era Vargas
• A criação da Diretoria Geral de Saúde sem pedir permissão e demolissem as
Pública no ano de 1897; construções antigas e expulsassem
• a organização do Instituto os moradores queimando os
Soroterápico Municipal (Oswaldo colchões dos doentes, o que gerou
Cruz) em 1900 a partir de uma grande descontentamento popular;
epidemia de peste, que ocasionou • a aprovação da lei no ano de 1904
uma crise sanitária e estimulou sobre a vacinação e revacinação
mudanças nas iniciativas do poder obrigatória contra a varíola, o que
central em nível nacional; resultou em um conflito muito grande
• Oswaldo Cruz assume em 1903 a denominado posteriormente como
Diretoria Geral de Saúde Pública com Revolta da Vacina;
o intuito de acabar com a doença • O chamado modelo campanhista
de febre amarela no município do criado por Oswaldo Cruz, concebido
Rio de Janeiro. E, para isso, adotou dentro de uma visão militar em
medidas autoritárias para destruir que os fins justificam os meios e no
os mosquitos como, por exemplo: qual o uso da força e da autoridade
determinava aos 1500 guardas era considerado o instrumento
sanitários que entrassem nas casas preferencial de ação.
37/234 Unidade 2 • História e Conceito de Política de Saúde Pública Brasileira na Primeira República à Era Vargas
Apesar das arbitrariedades e dos abusos Durante a reforma feita por Oswaldo Cruz,
cometidos em decorrência do modelo foram incorporados como elementos das
campanhista, obtiveram-se importantes ações de saúde (SANTOS et al., 2007):
vitórias no controle das doenças
• o registro demográfico, possibilitando
epidêmicas, conseguindo, inclusive,
conhecer a composição e os fatos
erradicar a febre amarela da cidade do
vitais de importância da população;
Rio de Janeiro, o que fortaleceu o modelo
proposto e o tornou hegemônico como • a introdução do laboratório como
proposta de intervenção. Sendo assim, auxiliar do diagnóstico etiológico;
Oswaldo Cruz procurou organizar a • a fabricação organizada de produtos
diretoria geral de saúde pública, criando profiláticos para uso em massa.
uma seção demográfica, um laboratório
Esse mandato durou até 1908, quando a
bacteriológico, um serviço de engenharia
lei da vacinação deixa de ser obrigatória.
sanitária e de profilaxia da febre-amarela,
No ano de 1914, foi elaborado um novo
a inspetoria de isolamento e desinfecção,
regulamento para a Diretoria Geral
e o instituto soroterápico federal,
de Saúde Pública, com características
posteriormente transformado no Instituto
parecidas com as que ocorriam na gestão
Oswaldo Cruz (SANTOS et al., 2007).
de Oswaldo Cruz. No restante do país,
38/234 Unidade 2 • História e Conceito de Política de Saúde Pública Brasileira na Primeira República à Era Vargas
situam-se as campanhas contra a malária Guerra, que preparava os enfermeiros
como não era transmissível e se mantinha em curso de dois anos de duração, com o
nas camadas populares, não tinha objetivo de treinar socorristas voluntários,
importância (FERREIRA, 2012). e em 1920, na mesma escola, foi criado o
curso de visitadoras sanitárias (GOMES;
Para saber mais FERREIRA, 2015; FERREIRA, 2012).

A campanha de erradicação da varíola no Brasil


que vacinou e revacinou mais de 80 milhões Link
de pessoas ocorreu entre os anos de 1966 A Escola de Enfermagem da Cruz Vermelha, na
a1973. Esta se deu no âmbito do Programa de época era vinculada ao Ministério da Guerra e a
Erradicação da Varíola da Organização Mundial Escola de Enfermagem Alfredo Pinto no Rio de
da Saúde (OMS) entre 1967 e 1980, ano em que a Janeiro, vinculada ao Ministério da Justiça (<http://
varíola foi declarada erradicada (<http://www. www.scielo.br/pdf/tce/v18n4/16.pdf>).
scielo.br/pdf/csc/v16n2/v16n2a02.pdf>)
Em 1918, a gripe espanhola devastou
A Cruz Vermelha Brasileira em 1916 criou diversas cidades, demostrando o quanto
uma escola de enfermagem no Rio de a questão de saúde pública estava frágil.
Janeiro, subordinada ao Ministério da
39/234 Unidade 2 • História e Conceito de Política de Saúde Pública Brasileira na Primeira República à Era Vargas
Além disso, ocorreram greves gerais nas nacionais: a criação de um Ministério de
fábricas e toda essa situação causava Higiene e Saúde Pública, por parte da Liga
temor, pois poderia desencadear uma Pró-Saneamento que compreenderia
revolução como a ocorrida na Rússia. Nesse (GRECO, 2015):
ano, foi criada a Liga Pró-Saneamento do
• uma Inspetoria de saúde pública do
Brasil, que congregou os maiores nomes
Distrito federal;
do pensamento sanitarista, pois foi uma
ideia da formação de um serviço de saúde • uma Inspetoria Geral de Profilaxia
pública, o qual pudesse enfrentar os Rural e urbana dos estados;
problemas das áreas urbanas (DANTES, • uma Inspetoria de Saúde dos Portos e
2003; FERREIRA, 2015). Rios;
Nota-se uma gravíssima situação sanitária • Inspetoria de Demografia Sanitária.
das áreas rurais, e cria-se em maio desse
mesmo ano (1918) o Serviço de Profilaxia
Rural como o objetivo de controlar as 3 Link
grandes endemias das regiões agrárias Na América Latina, essa doença figura entre as
do país: a ancilostomose, a malária e a quatro principais endemias, sendo um dos seus
doença de Chagas. Então, veio a sugestão maiores problemas sanitários (<http://www.
de solução dos problemas sanitários saude.rs.gov.br>).

40/234 Unidade 2 • História e Conceito de Política de Saúde Pública Brasileira na Primeira República à Era Vargas
Surge, então, a primeira Lei de Acidentes doenças venéreas e assistência hospitalar,
de Trabalho (1919). Em 1920, Carlos infantil e a higiene industrial começam a se
Chagas, sucessor de Oswaldo Cruz, destacar como problemas individualizados.
reestrutura o Departamento Nacional de Ocorrem inovações na legislação de 1920
Saúde Pública, então ligado ao Ministério em relação à vigilância das condições de
da Justiça, e introduz a propaganda e a trabalho de mulheres e crianças e controle
educação sanitária na técnica rotineira sobre qualidade de alimentos. Expandem-
de ação, inovando o modelo campanhista se as atividades de saneamento para
de Oswaldo Cruz, que possuía puramente outros estados, além do Rio de Janeiro
enfoque fiscal e policial. Inicia-se (GALVÃO, 2015).
a extensão pública dos serviços de A república pode ser vista, em termos de
saneamento urbano e rural, além da saúde, como um período de politização
higiene industrial e materno-infantil, do movimento sanitarista no Brasil. Esse
e começa um movimento sanitário por movimento perde a força ideológica,
uma educação sanitária (FERREIRA, 2012; com o início da Era Vargas (1930-
GALVÃO, 2015). 1945), quando foi criado o Ministério
São criados os órgãos especializados na da Educação e Saúde, desintegrando as
luta contra a tuberculose, a lepra e as atividades do Departamento Nacional de
41/234 Unidade 2 • História e Conceito de Política de Saúde Pública Brasileira na Primeira República à Era Vargas
Saúde Pública (vinculado ao Ministério Em 1932, foram criados os Institutos de
da Justiça) e transformando a reforma Aposentadoria e Pensões (IAPs), tendo
sanitária em um projeto governamental. sido vistos como resposta, por parte do
Vale dizer que o caráter dessa política Estado, às lutas e reivindicações dos
continuou sendo restrito, pois limitava-se trabalhadores no contexto de consolidação
apenas à cobertura de certos segmentos dos processos de industrialização e
de trabalhadores (DANTES, 2003; urbanização brasileiros. Acentua-se, assim,
FERREIRA, 2015). o componente de assistência médica,
Com a Revolução de 1930, as frações das em parte por meio de serviços próprios,
oligarquias, o tenentismo e as classes mas, principalmente, por meio da compra
médias urbanas, mudaram a estrutura de de serviços do setor privado. Devido à
poder, reduzindo o poder oligárquico e intensa inflação da época, acentuou a
aumentando o poder dos estratos sociais piora das condições de vida, fenômeno
pertencentes à burguesia. As ocorrências que se refletiu nas demandas por saúde
de surtos epidêmicos se intensificaram, e assistência médica. Os Institutos de
devido à piora das condições de vida, Assistência Previdenciária (IAPs), que, a
decorrentes principalmente do excesso princípio, não se dispunham a fornecer
populacional e da falta de infraestrutura
esse tipo de cobertura, começaram
sanitária (SANTOS et al., 2007).
42/234 Unidade 2 • História e Conceito de Política de Saúde Pública Brasileira na Primeira República à Era Vargas
a diferenciar-se em suas estruturas, a) aposentadoria;
prestando serviços no âmbito da
b) pensão em caso de morte para os
assistência médica (CARVALHO, 2013).
membros de suas famílias ou para os
A aceleração do crescimento industrial beneficiários, na forma do art. 55;
aumentava a preocupação com a
manutenção da força de trabalho em c) assistência médica e hospitalar, com
condições de produção, bem como na internação até trinta dias;
sua reintegração rápida ao processo d) socorros farmacêuticos, mediante
de produção. Para responder a essas indenização pelo preço do custo
demandas, várias instituições de acrescido das despesas de
trabalho passaram a criar serviços de administração.
atendimento ambulatorial próprios, de
caráter terapêutico e, alguns, em nível de § 2º – O custeio dos socorros mencionados
reabilitação (DANTES, 2003). não deverá exceder à importância
Em 1933, foi criado o primeiro Instituto de correspondente a 8%, da receita anual do
Aposentadoria e Pensões: o dos Marítimos Instituto, apurada no exercício anterior,
(IAPM). Seu decreto de constituição definia, sujeita a respectiva verba à aprovação do
no artigo 46, os benefícios assegurados Conselho Nacional do Trabalho.
aos associados (RIBEIRO, 2010):
43/234 Unidade 2 • História e Conceito de Política de Saúde Pública Brasileira na Primeira República à Era Vargas
estruturações, como (SANTOS et al., 2007;
Para saber mais GOMES; FERREIRA, 2015):
Órgão criado pelo Decreto nº 16.027, de 30 de abril
• saúde pública institucionalizada
de 1923, vinculado ao Ministério da Agricultura,
pelo Ministério da Educação e Saúde
Indústria e Comércio e destinado à consulta
Pública;
dos “poderes públicos em assuntos referentes à
organização do trabalho e da previdência social”. • previdência social e saúde
Em 9 de setembro de 1946, pelo Decreto nº 9.797, ocupacional institucionalizadas pelo
transformou-se no Tribunal Superior do Trabalho Ministério do Trabalho, Indústria e
(<http://www.fgv.br/cpdoc/acervo/dicionarios/ Comércio;
verbete-tematico/conselho-nacional-do- • campanhas de saúde pública contra a
trabalho-cnt>). febre amarela e a tuberculose;
No ano de 1934, é criado o Ministério da • Institutos de Aposentadoria e Pensão
Agricultura e em 1942, o Ministério da (IAPs) estendem a previdência social
Higiene e Segurança do Trabalho, que se à maior parte dos trabalhadores
vincula ao Ministério do Trabalho. Ainda urbanos (1933-38).
na Era Vargas, observamos algumas

44/234 Unidade 2 • História e Conceito de Política de Saúde Pública Brasileira na Primeira República à Era Vargas
Entre os principais desafios encontrados • fortalecimento do Instituto Oswaldo
nesse período está a predominância de Cruz, como referência nacional;
endemias rurais (por exemplo, doença de • descentralização das atividades
Chagas, esquistossomose, ancilostomíase normativas e executivas por oito
e malária), tuberculose, sífilis e deficiências regiões sanitárias;
nutricionais (ROYQUAROL, 2003).
• destaque aos programas de
Em 1941, instituiu-se a reforma Barros abastecimento de água e construção
Barreto, em que se destacam as seguintes de esgotos, no âmbito da saúde
ações (DANTES, 2003; CARVALHO, 2013): pública;
• Instituição de órgãos normativos e • atenção aos problemas das doenças
supletivos destinados a orientar a degenerativas e mentais, com a
assistência sanitária e hospitalar; criação de serviços especializados de
• criação de órgãos executivos de âmbito nacional (Instituto Nacional
ação direta contra as endemias mais do Câncer).
importantes (malária, febre amarela, A escassez de recursos financeiros
peste); associada à pulverização desses recursos e
de pessoal entre diversos órgãos e setores,
45/234 Unidade 2 • História e Conceito de Política de Saúde Pública Brasileira na Primeira República à Era Vargas
aos conflitos de jurisdição e gestão, e
superposição de funções e atividades,
fizeram com que a maioria das ações de
saúde pública no Estado Novo se reduzisse a
meros aspectos normativos, sem efetivação
no campo prático de soluções para os
grandes problemas sanitários existentes no
país naquela época (GRECO, 2015).

46/234 Unidade 2 • História e Conceito de Política de Saúde Pública Brasileira na Primeira República à Era Vargas
Glossário
Oligarquias: o conceito micheliano de oligarquia permite identificar processos mediante os
quais certos grupos apoderam-se do poder organizacional, entrincheirando-se e tornando-se
infensos a controles, sejam eles democráticos ou meritocráticos (COUTO, 2012).
Endemias: e a presença constante de uma doença ou de um agente infeccioso em determinada
área geográfica (ROYQUAROL, 2003).
Desinfeção: eliminação de agentes infecciosos que se encontram fora do corpo, por meio de
exposição direta a agentes químicos ou físicos (ROYQUAROL, 2003).

47/234 Unidade 2 • História e Conceito de Política de Saúde Pública Brasileira na Primeira República à Era Vargas
?
Questão
para
reflexão

Como você pode perceber, o período da Primeira República


até a Era Vargas passou por inúmeras situações de endemias.
Reflita sobre essa situação e descreva uma ou mais situações
da ocorrência de endemias em algumas localidades brasileiras,
citando os tipos de doenças mais frequentes em cada uma
delas.

48/234
Considerações Finais

No período da Primeira República o Brasil, foi comandado pelas


oligarquias (estados mais ricos) que possuíam grande produção de café,
sendo assim, aplicavam seu lucro no desenvolvimento de suas cidades;
As endemias foram frequentes neste período;
O enfoque capitalismo permanece também nesse período.

49/234
Referências

CARVALHO, G. A saúde pública no Brasil: Estudos Avançados. São Paulo, v. 27, n. 78, p. 1-22,
abr. 2013.
COUTO, C. G. Oligarquia e processos de oligarquização: O aporte de Michels à análise política
contemporânea. Rev. Sociology Polític, Curitiba, v. 20 n. 44, p. 47-62, agost. 2012.
DANTES, M. A. Medicina e saúde pública na Primeira República: O encontro de historiadores da
ciência. ANPUH – XXII Simpósio Nacional de História. João Pessoa, 2003.
FERREIRA, L. C. Educação e saúde na Primeira República: Debates e reformas entre 1910 2e
1920. Revista Nupem. Campo Mourão, v. 4, n. 6, p. 103-118, jan/jul. 2012.
GALVÃO, M. A. M. Origem das políticas de saúde pública no Brasil: Do Brasil-Colônia a 1930.
Ouro Preto. Disponível em: <http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/origem_politicas_
saude_publica_brasil.pdf>. Acesso em: 23 ago. 2015.

GOMES, A. M. C.; FERREIRA, M. M. Primeira República: um balanço historiográfico. Disponível


em: <periodicos.ufrn.br>. Acesso em: 30 nov. 2015.
GRECO R. M.; BERTOLOZZI, M. R. As políticas de saúde no Brasil: reconstrução histórica e
perspectivas atuais. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/reeusp/v30n3/v30n3a04>.
Acesso em: 30 nov. 2015.

50/234 Unidade 2 • História e Conceito de Política de Saúde Pública Brasileira na Primeira República à Era Vargas
HORTON, R. Saúde no Brasil. Londres: The Lancet, p. 1-7, 2011.
MELLO, A. O.; CESAR, É.; BELTRAME, M. V.; HEBERLE, R. O discurso sanitarista como discurso
político e ideológico na República Velha, Porto Alegre. v. 3. n. 3. p. 92-106, dez. 2010.
RIBEIRO, Carla T. M; RIBEIRO, Márcia G; ARAÚJO, Alexandra P; MELLO, Lívia R; RUBIM, Luciana
C; FERREIRA, Joyce E. S. O sistema público de saúde e as ações de reabilitação no Brasil. Revista
Pernanbucana Salud Publica Rio de Janeiro, v. 28, n. 1, p. 43-8, 2010.
ROYQUAROL, M. Z. Epidemiologia e saúde. Rio de Janeiro: Medsi, 2003.
SANTOS, L. A. C. de; BARBOSA I. C.; GOMES, M. L. Saúde no governo Vargas (1930-1945):
Dualidade Institucional de um bem público. Rio de Janeiro. Fiocruz, 2007.

51/234 Unidade 2 • História e Conceito de Política de Saúde Pública Brasileira na Primeira República à Era Vargas
Questão 1
1. Qual a primeira cidade brasileira a investir em empreendimentos de
higiene pública?

a) Rio de Janeiro
b) Minas Gerais
c) São Paulo
d) Salvador
e) Recife

52/234
Questão 2
2. São fatores que contribuíram para um quadro de desordem da saúde no
RJ, no início do sec. XIX, exceto:

a) Imigração europeia.
b) Crescimento desordenado das cidades.
c) Aparição de novas doenças.
d) Epidemia de febre amarela.
e) Ampliação do Instituto Bacteriológico.

53/234
Questão 3
3. No final do século XIX, qual doença mais contribuía para a fama do Brasil
de uma das áreas mais insalubres dos trópicos?

a) Tifo
b) Sarampo
c) Febre amarela
d) Gripe
e) Hantavírus

54/234
Questão 4
4. Sobre o sistema de saúde pública durante o Estado Novo, é correto
afirmar, em síntese, que:

a) o sistema de saúde tinha boa estruturação e funcionava bem na prática;


b) o sistema de saúde não tinha nenhuma estruturação e não funcionava bem;
c) o sistema de saúde não tinha nenhuma estruturação, mas funcionava bem;
d) o sistema de saúde tinha estruturação, mas não funcionava na prática;
e) não existia um sistema de saúde pública, mas por ação de voluntários as pessoas doentes
eram bem atendidas.

55/234
Questão 5
5. Qual afirmativa completa o texto corretamente?

A população do RJ encontrava-se insatisfeita com as medidas radicais tomadas por


________________. Seu modelo ________________ começa, no objetivo de erradicar (3), mas é
durante uma campanha obrigatória contra ________________ que eclode uma grande revolta
popular, conhecida como ________________.
a) Oswaldo Cruz / campanhista / febre amarela / o sarampo / Revolta da Vacina
b) Oswaldo cruz / campanhista / tuberculose / a varíola / Revolta da Vacina
c) Carlos Chagas / sanitarista / tuberculose / o tifo / Revolta da Vacina
d) Oswaldo Cruz / campanhista / febre amarela / a varíola / Revolta da Vacina
e) Carlos Chagas / sanitarista / febre amarela / o sarampo / Revolta da Vacina

56/234
Gabarito
1. Resposta: C. 3. Resposta: C.

A cidade de São Paulo, vista nesse período Desde 1849, a febre amarela apresentava
como cidade portuária, foi a primeira que taxa de mortalidade alta, permanecia
implantou os empreendimentos de Higiene endêmica ao longo da costa litorânea e
Pública. Iniciaram-se as fortes e intensas epidêmica nos centros urbanos. Até 1900,
intervenções higienistas na cidade, que na a frequência e regularidade com que a
época era considerada uma das mais ricas doença atacava o Rio de Janeiro, a grande
das oligarquias. susceptibilidade dos estrangeiros à doença
e o fracasso da Medicina em resolver o
2. Resposta: E. problema deram ao Brasil a reputação de
uma das áreas mais insalubres dos trópicos.
Os fatores que contribuíram para um
quadro de desordem da saúde no RJ, no 4. Resposta: D.
início do século XIX, foram: imigração
europeia; crescimento desordenado das A escassez de recursos financeiros
cidades; aparição de novas doenças; associada à pulverização desses recursos e
epidemia de febre amarela. de pessoal entre diversos órgãos e setores,

57/234
aos conflitos de jurisdição e gestão, e
superposição de funções e atividades,
fizeram com que a maioria das ações de
saúde pública no Estado Novo se reduzisse
a meros aspectos normativos, sem
efetivação no campo prático de soluções
para os grandes problemas sanitários
existentes no país naquela época.

5. Resposta: D.

A população do RJ encontrava-se
insatisfeita com as medidas radicais
tomadas por Osvaldo Cruz. Seu modelo
campanhista começa, no objetivo de
erradicar febre amarela, mas é durante
uma campanha obrigatória contra varíola
que eclode uma grande revolta popular,
conhecida como Revolta da Vacina.
58/234
Unidade 3
História e Conceito de Política de Saúde Pública Brasileira do Saneamento dos Portos e
Sanitarismo Campanhista

Objetivos

1. Aprimorar os conhecimentos de
profissionais da área da saúde e áreas
afins, sobre os pontos relevantes no
contexto histórico da saúde pública
brasileira no contexto do saneamento
dos portos e do sanitarismo
campanhista.
2. Abordar os conceitos, organização e
funcionamento do saneamento dos
portos e do sanitarismo campanhista.

59/234
1. Introdução

A instalação oficial da vigilância sanitária


no Brasil ocorreu em 28 de janeiro de 1808,
quando D. João VI assinou em Salvador
Link
Carta de Sua Majestade escrita ao
(BA), então capital brasileira, a carta régia Governador e Capitão Geral deste Estado,
que “abriu os portos às nações amigas”. Dom João de Alencastro, sobre as sesmarias
Impôs-se um controle sanitário mais (<http://memoria.bn.br/pdf/094536/
efetivo não só dos portos, mas também per094536_1949_00084.pdf>)
dos navios e passageiros que chegavam
ao Brasil. Em 1808, com a transferência Essas transformações procuraram
da família real para o Brasil, foram feitas garantir a higiene e a salubridade urbana.
profundas mudanças na cidade do Rio A organização dos serviços sanitários
de Janeiro, visando adequá-la à condição instalados por D. João VI no Brasil enfocou
de sede da corte portuguesa na América o controle das doenças epidêmicas,
(BARBOSA, 1909). com especial atenção para as cidades
portuárias, mais propícias à sua ocorrência
pela intensa circulação de pessoas e
mercadorias. Inicialmente, as questões
sanitárias relacionadas ao combate às

60/234 Unidade 3 • História e Conceito de Política de Saúde Pública Brasileira do Saneamento dos Portos e Sanitarismo Campanhista
epidemias e à inspeção dos portos era de 17 de janeiro de 1829, tinha como
atribuição da Provedoria-mor de Saúde da função verificar o estado sanitário das
Corte e Estado do Brasil, estabelecida pelo embarcações e decidir se estavam
decreto de 28 de julho de 1809. À extinção autorizadas ou deveriam guardar
dos cargos e órgãos responsáveis por tais quarentena. Esse regulamento de
serviços seguiu-se a aprovação, em 1828, fiscalização sanitária do porto foi expedido
da chamada Lei de 1º de Outubro, que no contexto da reorganização dos serviços
definiu as funções das Câmaras Municipais. de saúde durante o Primeiro Reinado
A criação da Inspeção de Saúde do Porto (1822-1831), que definiu seu novo arranjo
veio complementar a mudança que se institucional após a extinção dos cargos de
verificava na divisão de responsabilidades físico-mor, cirurgião-mor e provedor-mor,
entre o governo central, as províncias e e a publicação da lei de 1º de outubro de
as municipalidades na administração dos 1828 (HORTON, 2011).
negócios referentes à saúde da população Na corte, o serviço seria desempenhado
e à salubridade das cidades (CARVALHO, por uma comissão composta por provedor
2013). da saúde, professor de saúde, intérprete,
A Inspeção de Saúde Pública do Porto que serviria também de secretário,
do Rio de Janeiro, criada pelo decreto guarda-bandeira e os guardas que fossem
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necessários. O chefe da comissão seria no ancoradouro de Jurujuba, em Niterói.
o provedor da saúde, escolhido dentre (MELLO, 2010).
os vereadores e nomeado pela Câmara A preocupação dos estados com as cidades
Municipal, que designaria também o era evidente, preservando a força de
professor de saúde, que deveria ser trabalho das classes sociais mais baixas e
um médico ou cirurgião aprovado em ainda preservando a segurança da classe
medicina, e desempenharia a função de alta que residia no meio urbano contra
diretor das visitações (ROSEN, 1994). doenças transmissíveis, como varíola,
A inspeção e fiscalização, segundo o peste e febre amarela.
regulamento de fiscalização sanitária,
determinava que fossem submetidas às
visitas de saúde todas as embarcações Link
mercantis ou de guerra, nacionais ou O vírus da varíola foi descoberto pela primeira
estrangeiras, que aportassem no Rio vez em 570 DC. Por Bishop Marius de Avenches,
de Janeiro. Com exceção apenas das na Suiça. A palavra deriva do latim varius ou varus
embarcações de menor porte, voltadas que significa bexigas (<http://www.ahistoria.
ao comércio interno e da costa. Para a com.br/variola/>)
visitação, os navios deviam ficar fundeados
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A cidade de São Paulo foi a primeira raras, como a cólera, a escarlatina e o tifo,
cidade portuária que implantou os o que resultava na ocorrência de diversos
empreendimentos de higiene pública. tipos de surtos em toda a população
Ocorre, então, um alto investimento (BARBOSA, 1909).
para a área da saúde pública. E, assim, as
fiscalizações tornaram-se mais rigorosas,
e ficou obrigatória a notificação oficial de
Para saber mais
No quadro das principais doenças da história da
todos os casos de doenças infeciosas. humanidade, a Peste Bubônica, indubitavelmente,
Nas primeiras décadas do século XIX ocupa um lugar de destaque. Para a maioria dos
(1820), ocorreu a chegada de inúmeros países, a palavra peste significa tanto uma doença
imigrantes europeus, sendo que as específica, a Peste Bubônica, quanto uma série de
condições sanitárias para a sua recepção e males que por séculos assolaram as populações
permanência no país eram cada vez mais humanas. Tal associação se deve ao elevado
difíceis. Esse fato, juntamente com a falta número de óbitos provocados pelas epidemias
de políticas sociais e de saúde, resultou no continente europeu, cuja mais impactante
na disseminação de epidemias de febre permanece sendo a do século XIV (<http://www.
amarela e peste bubônica, dentre outras. hcte.ufrj.br/downloads/sh/sh4/trabalhos/
Além disso, os emigrantes traziam doenças Vagner%20Souza.pdf>).

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A partir de 1832, a epidemia de cólera se frentes, subordinadas ao provedor de
propagou pela Europa e seguiu as rotas saúde: o serviço de mar, composto pelo
comerciais que ligavam os diferentes professor de saúde, intérprete e um guarda;
portos, chegando rapidamente à e o serviço de terra, desempenhado pelo
América. O desafio das autoridades facultativo, intérprete e guarda. Em 1836,
nesse momento era conter a entrada da esse regulamento foi alterado pelo decreto
epidemia e, ao mesmo tempo, manter as de 23 de abril, que limitou o número de
atividades comerciais, o que esbarrava facultativos servindo na Inspeção de
nas quarentenas previstas pelo código Saúde do Porto, aboliu o destacamento
sanitário. Os prazos das quarentenas semanal dos empregados do serviço
eram definidos de acordo com os portos de mar na fortaleza de Villegaignon,
de proveniência dos navios, tendo sido estabeleceu visitas diárias às embarcações
estipulados procedimentos específicos e determinou que as despesas do serviço
a serem adotados com as embarcações se fizessem pelo orçamento da própria
dedicadas ao tráfico negreiro (BARBOSA, Provedoria da Saúde (HORTON, 2011;
1909; CARVALHO, 2013). MELLO, 2010).
Assim, o serviço da Inspeção no Rio de
Janeiro passou a se organizar em duas
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O decreto n. 243, de 30 de novembro de
1841, autorizou o governo a reformar as
Para saber mais inspeções de saúde dos portos. Um novo
Em 10 de novembro de 1555, chegou ao Brasil regulamento foi aprovado apenas em
uma expedição comandada pelo francês Nicolas 1843, pelo decreto n. 268, de 29 de janeiro,
Durand de Villegagnon, Vice-Almirante da que retirou das Câmaras Municipais a
Bretanha, tendo como pretensão fundar uma jurisdição sobre as inspeções sanitárias
colônia francesa em terras austrais brasileiras dos portos e determinou a competência
pertencentes a Portugal. Fundou na Baía de privativa do governo imperial sobre a
Guanabara, chamada pelos franceses de nomeação de seus empregados. Esse ato
Genèvre, e resolveu, após dois meses estudando aboliu ainda o lugar de professor de saúde,
as ilhas e as terras adjacentes com a ajuda ficando suas funções transferidas para o
dos índios tupinambás, estabelecer se numa provedor de saúde, cargo exercido por um
pequena ilha conhecida pelos indígenas com médico ou cirurgião. A Inspeção de Saúde
o nome de Sergipe e pelos portugueses, de no Rio de Janeiro, segundo decreto n. 273,
Palmeiras (<http://www.revistanavigator. de 25 de fevereiro, ficava subordinada
com.br>). à 2ª Seção da Secretaria de Estado dos
Negócios do Império, responsável pelos

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assuntos relativos à saúde pública, autoridades sanitárias que atestava a
instrução, obras públicas, polícia civil e saúde da tripulação e do porto de origem
caridade (ROSEN, 1994). (CARVALHO, 2013).
No Rio de Janeiro, o órgão era composto Apesar de todos esses esforços, a febre
pelo provedor, dois secretários intérpretes, amarela aportou em Salvador em 1849,
um agente, um guarda bandeira e dois atingindo ainda Natal, Belém e Santos,
guardas. Nas províncias, a estrutura mas foi sua chegada ao Rio de Janeiro
variava um pouco: na Bahia, Pernambuco que promoveu alterações na organização
e Maranhão, haveria provedor, secretário dos serviços sanitários, com a aprovação,
intérpretes e guarda; nos demais portos pelo decreto n. 598, de 14 de setembro de
onde houvesse alfândega, teriam somente 1850, de um crédito extraordinário a ser
o provedor e guarda. O regulamento de despendido exclusivamente na melhoria da
1843 estabeleceu ainda que em todos os salubridade da capital e a criação da Junta
portos brasileiros deveria ser designado de Higiene Pública. À Junta, encarregada
um ancoradouro para a quarentena, e de apresentar ao governo imperial
que as embarcações vindas do exterior medidas indispensáveis à manutenção da
eram obrigadas a exibir a carta de salubridade pública, ficavam incorporados
saúde, documento expedido pelas a Inspeção de Saúde do Porto e o Instituto
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Vacínico do Império. O decreto também organização da Inspeção de Saúde dos
determinava que a junta exercesse a polícia Portos, de forma a adequá-la às novas
médica nas visitas das embarcações, papel autoridades sanitárias constituídas nas
que até então cabia à Inspeção da Saúde províncias: as comissões de higiene e os
do Porto (HORTON, 2011). provedores de saúde pública. Além disso,
com a recorrência da febre amarela no Rio
Para saber mais de Janeiro, foi estabelecido nesse mesmo
ano um lazareto na enseada de Jurujuba,
Criado pelo decreto n.º 464, de 17/08/1846, o
transformado, em março de 1853, no
Instituto Vacínico do Império, conhecido também pelo
Hospital Marítimo de Santa Isabel. O
nome de Instituto Vacínico da Corte, era resultante
decreto n. 2.052, de 12 de dezembro de
do Regulamento que reformara a Junta Vacínica da
1857, colocou o Hospital de Santa Isabel
Corte, ampliando seu raio de ação para todo o Império
sob a direção do provedor de saúde do
(<http://www.dichistoriasaude.coc.fiocruz.br/
porto do Rio de Janeiro (MELLO, 2010).
iah/pt/verbetes/instvacimp.htm>).
Em 1859, um novo regulamento da
O regulamento aprovado pelo decreto Inspeção de Saúde dos Portos, define que
n. 828, de 29 de setembro de 1851, seria considerado portos infeccionados
promoveu alterações pontuais na aqueles onde reinassem o cólera-morbo,
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a febre amarela e a peste do Oriente, Inspeção de Saúde dos Portos, no Rio de
estabelecendo as formas e prazos para Janeiro e nas províncias. Na corte, além
concessão da carta de saúde aos navios do inspetor de saúde, a Inspeção contaria
que tocassem os portos brasileiros. Ainda com três ajudantes, secretário, agente
em 1859, um novo decreto reorganizou a e dois guardas. Na Bahia, Pernambuco,
estrutura da Inspeção de Saúde dos Portos Maranhão, Pará e São Pedro haveria
nas províncias da Bahia, Pernambuco, Pará, o inspetor, secretário e dois guardas,
e S. Pedro, extinguindo o cargo de ajudante enquanto que nos demais portos em
dos inspetores de saúde (ROSEN, 1994). que houvesse alfândega a composição
O regulamento de 1861, aprovado previa o inspetor e dois guardas. O novo
pelo decreto n. 2.734, de 23 de janeiro, regulamento definiu que para os cargos
substituiu as quarentenas pelas de inspetor e ajudante só poderiam
desinfecções dos navios e estabeleceu ser nomeados “doutores em medicina”
que fossem duas as visitas no porto do que soubessem falar francês ou inglês
Rio de Janeiro, a do escaler aos navios (RIBEIRO, 2010).
que entrassem e a do vapor aos que já Em 1863, a Inspeção de Saúde do Porto
estivessem ancorados. Também ficou do Rio de Janeiro passou por alterações
definida uma nova estrutura para a pontuais que, de acordo com o decreto
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n. 3.059, de 11 de março, deveriam ser Império. O decreto n. 6.378, de 15 de
executadas quando o Hospital Marítimo de novembro de 1876, mandou executar
Santa Isabel deixasse de receber doentes, provisoriamente medidas necessárias para
ou seja, quando não houvesse mais risco conter a introdução e o avanço de doenças
epidêmico. Nessa ocasião, diminuiriam epidêmicas em diversos portos e cidades
para dois os lugares de ajudante do marítimas do Império, com instruções
inspetor de saúde e as duas visitas específicas para a organização e o serviço
sanitárias aos navios seriam feitas pelo a cargo da Junta Central de Higiene Pública
vapor (MELLO, 2010). (CARVALHO, 2013).
Ainda que a febre amarela tenha se O ato também dispôs sobre as duas visitas
tornada endêmica, o Rio de Janeiro teve sanitárias aos navios no porto do Rio
dois surtos importantes da doença, em de Janeiro, criando provisoriamente um
1873 e 1876. Como forma de conter a lazareto flutuante na enseada da Jurujuba,
frequência com que as febres amarelas, destinado à quarentena dos passageiros
além da cólera e outras moléstias, procedentes de portos onde grassassem a
irrompiam na corte e cidades portuárias, febre amarela, cólera ou peste do Oriente.
foram reorganizados os serviços sanitários Tais medidas foram estendidas, no que
em diversas cidades marítimas do fosse aplicável, às províncias da Bahia,
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Pernambuco, Maranhão, Pará, São Paulo e às embarcações pelos quitandeiros
Rio Grande do Sul (MELLO, 2010). marítimos. A Inspeção ficava ainda
responsável pela vigilância sobre posturas
Link municipais, no que concernia à higiene do
litoral, devendo comunicar as infrações
O termo peste é usado popularmente para à Câmara Municipal para imposição das
designar flagelos marcantes que, por sua penas (ROSEN, 1994).
magnitude e transcendência, alteram a rotina
No mesmo ano de 1884, a cólera-morbo
das famílias, das sociedades e das nações
voltou a grassar epidemicamente na
(<http://bvsms.saude.gov.br>).
Europa, atingindo rapidamente diversos
países. No Rio de Janeiro, foi autorizada a
O decreto n. 9.159, de 1º de março de construção de um lazareto na Ilha Grande,
1884, ampliou as atribuições da Inspeção destinado às quarentenas, subordinado à
de Saúde do Porto do Rio de Janeiro, Inspetoria-Geral de Saúde dos Portos do
conferindo-lhe, além do serviço sanitário Rio de Janeiro (MELLO, 2010).
que regularmente executava, a polícia
Em 1886, o decreto n. 9.554, de 3 de
sanitária do litoral e das docas de mercado,
fevereiro, reestruturou os serviços
bem como o exame dos gêneros fornecidos
sanitários do Império, dividindo-os em
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serviços terrestre e marítimo, dirigidos litoral, além das quarentenas marítimas. Na
respectivamente pela Inspetoria-Geral de execução dos serviços, a Inspetoria-Geral de
Higiene e pela Inspetoria-Geral de Saúde Saúde dos Portos tinha a jurisdição no porto
dos Portos. Este ato é considerado a última do Rio de Janeiro e as províncias ficavam sob
grande reforma na área da saúde pública a alçada dos inspetores de saúde dos portos
do Império, e confirmava a tendência à das províncias (MELLO, 2010).
centralização político-administrativa, Na corte, a estrutura da Inspeção de
criando o Conselho Superior de Saúde Saúde compunha-se do inspetor-
Pública, presidido pelo secretário e ministro geral, quatro ajudantes, secretário, que
dos Negócios do Império, e extinguindo deveriam ser médicos, além de dois
a Junta Central de Higiene Pública e seus amanuenses, porteiro e contínuo. Nas
órgãos subordinados (REBELO, 2010). províncias do Pará, Pernambuco e Bahia
Pela nova estrutura, na corte o serviço haveria um inspetor de saúde do porto,
sanitário terrestre ficava responsável um ajudante do inspetor, um secretário
pelas atividades de propagação da vacina, e dois guardas de saúde. Nas províncias
enquanto o serviço sanitário dos portos do Maranhão, São Paulo e Rio Grande do
respondia pelo socorro médico e pela Sul, existia um inspetor de saúde do porto,
polícia sanitária dos navios, ancoradouros e um secretário e dois guardas de saúde.
71/234 Unidade 3 • História e Conceito de Política de Saúde Pública Brasileira do Saneamento dos Portos e Sanitarismo Campanhista
Nas províncias do Amazonas, Piauí, Ceará, sanitários (por exemplo, entrada nas
Rio Grande do Norte, Paraíba, Alagoas, casas da população sem permissão do
Sergipe, Espírito Santo, Paraná e Santa dono, seguida de queima de colchões,
Catarina, a Inspeção seria formada pelo demolições de construções antigas, o
inspetor de saúde do porto e dois guardas que gerou descontentamento e revolta
de saúde (CARVALHO, 2013). popular). Este foi o modelo de intervenção
Até 1900, a frequência e regularidade chamado de campanhista, concebido
com que a doença atacava o Rio de dentro de uma visão militar em que os fins
Janeiro, a grande susceptibilidade dos justificam os meios, e no qual o uso da
estrangeiros à doença e o fracasso da força e da autoridade eram considerados
Medicina em resolver o problema deram ao os instrumentos preferenciais de ação
Brasil a reputação de uma das áreas mais (SANTOS et al., 2007).
insalubres dos trópicos (BARBOSA, 1909). Apesar das arbitrariedades e dos abusos
Em 1903, Oswaldo Cruz assume a Diretoria cometidos em decorrência do modelo
Geral de Saúde Pública, com o objetivo campanhista, obtiveram-se importantes
de eliminar a febre amarela do Rio de vitórias no controle das doenças
Janeiro, adotando medidas autoritaristas epidêmicas, conseguindo, inclusive,
desempenhadas pelos chamados guardas erradicar a febre amarela da cidade do
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Rio de Janeiro, o que fortaleceu o modelo inovando o modelo campanhista de
proposto e o tornou hegemônico como Oswaldo Cruz, que possuía puramente
proposta de intervenção na área da saúde enfoque fiscal e policial. Nesse período,
coletiva saúde durante décadas (SANTOS ocorriam os movimentos dos operários
et al., 2007). reivindicando alguns direitos sociais
Em 1914, foi criada a Liga Pró-Saneamento (CARVALHO, 2013).
do Brasil, que congregou os maiores nomes Assim, em 24 de janeiro de 1923, foi
do pensamento sanitarista. Com a situação aprovada pelo Congresso Nacional a Lei
dos problemas sanitários nacionais, criou- Eloi Chaves, marco inicial da previdência
se o Ministério de Higiene e Saúde Pública, social no Brasil, sendo instituídas as
por parte da Liga Pró-Saneamento, que Caixas de Aposentadoria e Pensão (CAPs)
compreenderia a inspeção de Saúde dos que asseguravam os socorros médicos
Portos e Rios. Em 1920, Carlos Chagas, em caso de doença em sua pessoa ou
sucessor de Oswaldo Cruz, reestrutura o pessoa de sua família; a aposentadoria;
Departamento Nacional de Saúde Pública, a pensão para seus herdeiros em caso de
então ligado ao Ministério da Justiça, morte; e a assistência aos acidentados no
e introduz a propaganda e a educação trabalho. A primeira CAP criada foi a dos
sanitária na técnica rotineira de ação, ferroviários, o que pode ser explicado pela
73/234 Unidade 3 • História e Conceito de Política de Saúde Pública Brasileira do Saneamento dos Portos e Sanitarismo Campanhista
importância que esse setor desempenhava No que tange a previdência social, a
na economia do país naquela época e pela política do estado pretendeu estender
capacidade de mobilização que a categoria a todas as categorias do operariado
dos ferroviários possuía. A lei deveria ser urbano organizado os benefícios da
aplicada somente ao operariado urbano previdência. Dessa forma, as antigas
e as caixas organizadas pelas próprias CAPs são substituídas pelos Institutos
empresas (HORTON, 2011). de Aposentadoria e Pensões (IAP).
O Estado não participava propriamente Nesses institutos, os trabalhadores eram
do custeio das Caixas, que, de acordo com organizados por categoria profissional
o determinado pelo artigo 3o da lei Eloy (marítimos, comerciários, bancários) e não
Chaves, eram mantidas por: empregados por empresa (REBELO, 2010).
das empresas (3% dos respectivos Em 1933, foi criado o primeiro Instituto de
vencimentos); empresas (1% da renda Aposentadoria e Pensões o dos Marítimos
bruta); e consumidores dos serviços (IAPM). Seu decreto de constituição definia,
delas. Em 1930, o sistema já abrangia 47 no artigo 46, os benefícios assegurados
caixas, com 142.464 segurados ativos, aos associados (FERREIRA, 2012):
8.006 aposentados e 7.013 pensionistas
(RIBEIRO, 2010).
74/234 Unidade 3 • História e Conceito de Política de Saúde Pública Brasileira do Saneamento dos Portos e Sanitarismo Campanhista
a) aposentadoria; Os IAPs foram criados de acordo com a
b) pensão em caso de morte para os capacidade de organização, mobilização
membros de suas famílias ou para os e importância da categoria profissional
beneficiários, na forma do art. 55; em questão. Assim, em 1933, foi criado o
primeiro instituto, o de Aposentadoria e
c) assistência médica e hospitalar, com Pensões dos Marítimos (IAPM), em 1934,
internação até trinta dias; o dos Comerciários (IAPC) e dos Bancários
d) socorros farmacêuticos, mediante (IAPB), em 1936, o dos Industriários
indenização pelo preço do custo (IAPI) e em 1938 o dos Estivadores e
acrescido das despesas de Transportadores de Cargas (RIBEIRO, 2010).
administração. Inicia-se a extensão pública dos serviços
§ 2º - O custeio dos socorros mencionados de saneamento urbano e rural e, além
na alínea c não deverá exceder à da higiene industrial e materno-infantil,
importância correspondente ao total de começa-se um movimento sanitário
8%, da receita anual do Instituto, apurada por uma educação sanitária. Também
no exercício anterior, sujeita a respectiva expandem-se as atividades de saneamento
verba à aprovação do Conselho Nacional para outros estados, além do Rio de
do Trabalho (FERREIRA, 2012): Janeiro, sendo criada a Sociedade Brasileira
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de Higiene com alguns membros extintos campanhista deslocou a sua ação para o
da Liga do Saneamento do Brasil (MELLO, campo e para o combate das denominadas
2010). endemias rurais. Esse modelo foi utilizado
A sociedade brasileira esteve dominada pela Sucam no combate a diversas
por uma economia agroexportadora, endemias (chagas, esquistossomose e
centralizada na monocultura cafeeira, outras), sendo essa, posteriormente,
sendo exigida do sistema de saúde, nesse incorporada à Fundação Nacional de Saúde
momento da história, uma política de (REBELO, 2010).
saneamento destinado aos espaços de
circulação das mercadorias exportáveis
e a erradicação ou controle das doenças
que poderiam prejudicar a exportação. Por
essa razão, desde o final do século passado
até o início dos anos 1960, predominou
o modelo do sanitarismo campanhista
(ROSEN, 1994).
Com a evolução do controle das epidemias
nas grandes cidades brasileiras, o modelo
76/234 Unidade 3 • História e Conceito de Política de Saúde Pública Brasileira do Saneamento dos Portos e Sanitarismo Campanhista
Glossário
Epidemia: denominação da ocorrência de doença em grande número de pessoas ao mesmo
tempo (ROYQUAROL, 2003).
Doença infecciosa: doença clinicamente manifesta do homem ou dos animais, resultando de
uma infecção (ROYQUAROL, 2003).
Surtos: epidemia de proporção reduzidas, atingindo uma pequena comunidade humana
(ROYQUAROL, 2003).

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?
Questão
para
reflexão

Como você pode perceber, o histórico do saneamento


dos portos até o sanitarismo campanhista percorreu
inúmeras situações de epidemias decorrentes da
precariedade da infraestrutura dos portos na época.
Reflita sobre essa situação e descreva uma ou mais
situações da ocorrência de epidemias em algumas
localidades brasileiras, citando os tipos de doenças
mais frequentes em cada uma delas.

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Considerações Finais

O controle sanitário mais efetivo não só dos portos, mas também dos navios
e passageiros que chegavam ao Brasil, ocorreu em 1808, “abriu os portos às
nações amigas”, com enfoque no controle das doenças epidêmicas;
A epidemia de cólera se propagou pela Europa e seguiu as rotas comerciais
que ligavam os diferentes portos, chegando rapidamente à América;
A frequência e regularidade com que as doenças atacavam o Rio de Janeiro, a
grande susceptibilidade dos estrangeiros à doença e o fracasso da Medicina
em resolver o problema deram ao Brasil a reputação de uma das áreas mais
insalubres dos trópicos

79/234
Referências

BARBOSA, P.; REZENDE, C. B.; CRUZ, O. G. Os serviços de saúde pública no Brasil, especialmente
na cidade do Rio de Janeiro de 1808 a 1907: esboço histórico e legislação. Rio de Janeiro:
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FERREIRA, L. C. Educação e saúde na Primeira República: Debates e reformas entre 1910 2e
1920. Revista Nupem. Campo Mourão, v. 4, n. 6, p. 103-118, jan/jul. 2012.
GRECO, R. M.; BERTOLOZZI, M. R. As políticas de saúde no Brasil: reconstrução histórica e
perspectivas atuais. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/reeusp/v30n3/v30n3a04>.
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HORTON, R. Saúde no Brasil. Londres: The Lancet, 2011. .
MELLO, A. O; CESAR, É.; BELTRAME, M. V.; HEBERLE, R. O discurso sanitarista como discurso
político e ideológico na República Velha, Porto Alegre. v. 3, n. 3, p. 92-106, dez. 2010.
RIBEIRO, C. T. M.; RIBEIRO, M. G.; ARAÚJO, A. P.; MELLO, L. R.; RUBIM, L. C.; FERREIRA, J. E. S. O
sistema público de saúde e as ações de reabilitação no Brasil. Revista Pern ambucana Salud
Publica, Rio de Janeiro. v. 28, n. 1, p. 43-48, 2010.
ROYQUAROL, M. Z. Epidemiologia e saúde. Rio de Janeiro: Medsi, 2003.
80/234 Unidade 3 • História e Conceito de Política de Saúde Pública Brasileira do Saneamento dos Portos e Sanitarismo Campanhista
REBELO, F. A travessia: imigração, saúde e profilaxia internacional (1890-1926). 2010. 325 f.
Tese (Doutorado) – Fundação Oswaldo Cruz, ‘’Casa de Oswaldo Cruz’’, Rio de Janeiro, 2010.
ROSEN, G. Uma história da saúde pública. São Paulo: Hicitec, p.423, 1994.
SANTOS, L. A. C. de; BARBOSA, I. C.; GOMES, M. L. Saúde no governo Vargas (1930-1945):
Dualidade Institucional de um bem público. Rio de Janeiro. Fiocruz, 2007.

81/234 Unidade 3 • História e Conceito de Política de Saúde Pública Brasileira do Saneamento dos Portos e Sanitarismo Campanhista
Questão 1
1. A primeira instalação oficial da vigilância sanitária no Brasil ocorreu em:

a) 28 de janeiro de 1808
b) 28 de janeiro de 1810
c) 28 de fevereiro de 1815
d) 28 de fevereiro de 1820
e) 28 de fevereiro de 1821

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Questão 2
2. A organização dos serviços sanitários instalados por D. João VI no Brasil
enfocou:

a) o controle das doenças epidêmicas, com especial atenção para as cidades portuárias, mais
propícias à sua ocorrência pela intensa circulação de pessoas e mercadorias;
b) o controle da rubéola, com especial atenção para as cidades portuárias;
c) o controle do sarampo, com especial atenção para as cidades centrais;
d) nenhuma das alternativas;
e) todas alternativas estão corretas.

83/234
Questão 3
3. Até 1900, quais fatores contribuíram para a má reputação sanitarista do
Brasil?

a) Somente a grande frequência das doenças.


b) A frequência das doenças e a regularidade com que a doença atacava o Rio de Janeiro.
c) A frequência das doenças e a regularidade com que a doença atacava o Rio de Janeiro, a
grande susceptibilidade dos estrangeiros à doença.
d) A frequência das doenças e a regularidade com que a doença atacava o Rio de Janeiro, a
grande susceptibilidade dos estrangeiros à doença e o fracasso da Medicina em resolver o
problema.
e) Nenhuma das alternativas.

84/234
Questão 4
4. Na corte, a estrutura da Inspeção de Saúde compunha-se de:

a) um inspetor-geral e quatro ajudantes;


b) um inspetor-geral, quatro ajudantes secretário, que deveriam ser médicos, além de dois
amanuenses, porteiro e contínuo;
c) um inspetor-geral, quatro ajudantes e um porteiro;
d) nenhuma das alternativas;
e) todas as alternativas estão corretas.

85/234
Questão 5
5. Quem inovou o modelo de companhista?

a) Dom João VI.


b) Dom João VII.
c) Carlos Chagas.
d) Nenhuma das alternativas.
e) Todas as alternativas estão corretas.

86/234
Gabarito
1. Resposta: A. 3. Resposta: D.

A instalação oficial da vigilância sanitária A frequência das doenças e a regularidade


no Brasil ocorreu em 28 de janeiro de 1808, com que a doença atacava o Rio de Janeiro,
quando D. João VI assinou em Salvador (BA), a grande susceptibilidade dos estrangeiros
então capital brasileira, a carta régia que à doença e o fracasso da Medicina em
“abriu os portos às nações amigas”. Impôs- resolver o problema.
se um controle sanitário mais efetivo não
só dos portos, mas também dos navios e 4. Resposta: B.
passageiros que chegavam ao Brasil.
Na corte, a estrutura da Inspeção de
2. Resposta: A. Saúde compunha-se do inspetor-geral,
quatro ajudantes, secretário, que deveriam
A organização dos serviços sanitários ser médicos, além de dois amanuenses,
instalados por D. João VI no Brasil enfocou porteiro e contínuo.
o controle das doenças epidêmicas, com
especial atenção para as cidades portuárias,
mais propícias à sua ocorrência pela intensa
circulação de pessoas e mercadorias.
87/234
Gabarito
5. Resposta: C.

Em 1920, Carlos Chagas, sucessor de


Oswaldo Cruz, reestrutura o Departamento
Nacional de Saúde Pública, então ligado
ao Ministério da Justiça e introduz a
propaganda e a educação sanitária na
técnica rotineira de ação.

88/234
Unidade 4
História e Conceito de Política de Saúde Pública Brasileira da Segunda República ao Regime
Militar

Objetivos

1. Compreender o contexto histórico da


saúde pública no Brasil no período
entre a Segunda República e o regime
militar.
2. Abordar os conceitos, organização e
funcionamento do cuidado à saúde
da população neste período.
3. Apresentar uma análise da saúde
pública no Brasil no período entre a
Segunda República e o regime militar.

89/234
1. Introdução

Na época da Segunda República em 1948, O processo de unificação só avança com


durante o mandato do General Eurico movimento revolucionário de 1964,
Gaspar Dutra, o governo federal formula que nesse mesmo ano promove uma
o Plano SALTE (Saúde, Alimentação, intervenção generalizada em todos os
Transporte e Energia). No ano de 1953, IAPs, sendo os conselhos administrativos
ainda sob a influência do Plano, foi criado substituídos por juntas interventoras
o Ministério da Saúde (MS), que se dedica nomeadas pelo governo revolucionário.
às atividades de caráter coletivo, como É caracterizado o desenvolvimento da
as campanhas e a vigilância sanitária assistência médica no seio das instituições
(TEIXEIRA, 1988). previdenciárias como instrumento para
Na época da assistência médica já se amenizar tensões sociais e controlar a
percebia a necessidade de garantir a força de trabalho (LEITE, 1979).
manutenção e reprodução da força de As várias instituições previdenciárias
trabalho cada vez mais urbana e fabril. Em e a multiplicidade de tratamentos aos
1956, foi criado o Departamento Nacional seus usuários motivaram o governo
de Endemias Rurais (DNERU), incorporando à uniformização dos métodos com
os antigos serviços nacionais de febre a promulgação da Lei Orgânica da
amarela, malária, peste (MENEZES, 1974). Previdência Social, em agosto de 1960.
90/234 Unidade 4 • História e Conceito de Política de Saúde Pública Brasileira da Segunda República ao Regime Militar
Nesse mesmo ano, é criado o Fundo Durante a primeira década do regime
de Assistência ao Trabalhador Rural militar, configurou-se um sistema de
(FUNRURAL), visto que até então somente atenção estatal à saúde, mantido pelos
os trabalhadores urbanos gozavam de recursos da previdência social que
direitos. Os direitos e deveres passaram a prevalecia sobre o Ministério da Saúde.
ser semelhantes orientados pela lei, o que Uma das primeiras medidas desse governo
viria a facilitar no futuro a fusão dos IAP foi a unificação dos IAPs ao Instituto
(OLIVEIRA, 1985). Nacional de Previdência Social (INPS),
ocorrida em 1966, que concentrava
todas as contribuições previdenciárias,
Link gerenciava aposentadorias, pensões
A seguridade social é um sistema de ampla e assistência médica de todos os
proteção social que, visa amparar as essenciais trabalhadores formais. Ficavam excluídos
(naturais) necessidades da sociedade como desse processo os trabalhadores rurais e
um todo (<http://www.scielo.br/pdf/sssoc/ os trabalhadores urbanos informais que
n116/05.pdf>). constituíam a grande massa dos “sem
carteiras assinadas” (COSTA, 1998).

91/234 Unidade 4 • História e Conceito de Política de Saúde Pública Brasileira da Segunda República ao Regime Militar
Com essas alterações, o Ministério da
Para saber mais Saúde deixou de ser apenas um aparato
burocrático para se tornar efetivamente
o órgão máximo de gestão responsável
A ação inicial para a saúde nesse período
pela condução das políticas públicas
consistiu na publicação, em 1967, do Decreto-
de saúde no país. Diante desse fato, o
Lei 200, que definiu de forma geral o modo
governo militar tinha de decidir onde
de organização da administração pública e,
alocar os recursos públicos para atender
com relação ao sistema de saúde, redefiniu
à necessidade de ampliação do sistema,
as competências do Ministério da Saúde que
tendo ao final optado por direcioná-los
passaram a ser (CAMPOS, 1998):
para a iniciativa privada, com o objetivo
• formulação da Política Nacional de Saúde; de cooptar o apoio de setores importantes
• assistência médica ambulatorial; e influentes dentro da sociedade e da
• prevenção à saúde;
economia (COSTA, 1998).

• controle sanitário; A criação do INPS propiciou a unificação


dos diferentes benefícios ao nível
• pesquisas na área da saúde.
do IAPs. Na medida em que todo o
trabalhador urbano com carteira assinada
92/234 Unidade 4 • História e Conceito de Política de Saúde Pública Brasileira da Segunda República ao Regime Militar
era automaticamente contribuinte que alguns destes já possuíam serviços e
e beneficiário do novo sistema, foi hospitais próprios (NICZ, 1981).
grande o volume de recursos financeiros No entanto, ao aumentar substancialmente
capitalizados. O fato do aumento da o número de contribuintes e,
base de contribuição, aliado ao fato do consequentemente, de beneficiários,
crescimento econômico da década de era impossível ao sistema médico
1970 (o chamado milagre econômico), do previdenciário existente atender a toda
pequeno percentual de aposentadorias essa população. Diante desse fato, o
e pensões em relação ao total de governo militar tinha de decidir onde
contribuintes, fez com que o sistema alocar os recursos públicos para atender
acumulasse um grande volume de recursos à necessidade de ampliação do sistema,
financeiros (OLIVEIRA, 1986). tendo ao final optado por direcioná-los
Ao unificar o sistema previdenciário, o para a iniciativa privada, com o objetivo
governo militar se viu na obrigação de de cooptar o apoio de setores importantes
incorporar os benefícios já instituídos e influentes dentro da sociedade e da
fora das aposentadorias e pensões. Um economia (OLIVEIRA, 1986).
desses era a da assistência médica, que
já era oferecido pelos vários IAPs, sendo
93/234 Unidade 4 • História e Conceito de Política de Saúde Pública Brasileira da Segunda República ao Regime Militar
permanente das endemias existentes no
Para saber mais Brasil (BRAGA, 1981).
A idéia de sociedade só é possível quando se Algumas categorias profissionais
admite não só uma tripartição de poderes conseguiram se tornar beneficiários
como em Montesquieu no Espírito das Leis, mas do sistema previdenciário somente na
também uma separação entre o conjunto de década de 1970, como os trabalhadores
indivíduos que estão sob o domínio do Estado, rurais com a criação do PRORURAL, em
mas que tem autonomia em relação a este, e 1971, financiado pelo FUNRURAL, e os
fazem do exercício do poder a emanação de sua empregados domésticos e os autônomos,
vontade (<http://tres-poderes.info/>). em 1972 (TEIXEIRA, 1988).
Em 1974, o sistema previdenciário
A partir desse avanço e fortalecimento saiu da área do Ministério do Trabalho,
do Ministério da Saúde, o DNERU criado para se consolidar como um ministério
no período anterior foi substituído, em próprio, o Ministério da Previdência
1970, pela SUCAM (Superintendência e Assistência Social. Juntamente com
de Campanhas de Saúde Pública), que esse Ministério foi criado o Fundo de
tinha como principal função o controle Apoio ao Desenvolvimento Social (FAS).
A criação desse fundo proporcionou a
94/234 Unidade 4 • História e Conceito de Política de Saúde Pública Brasileira da Segunda República ao Regime Militar
remodelação e ampliação dos hospitais industrial, época conhecida como
da rede privada, através de empréstimos “milagre econômico”. Os investimentos na
com juros subsidiados. A existência de infraestrutura econômica aumentaram,
recursos para investimento e a criação de enquanto os gastos com as políticas
um mercado cativo de atenção médica sociais diminuíram. Todas essas reformas
para os prestadores privados levou a um afetaram profundamente a saúde
crescimento próximo de 500% no número pública, que nesse momento priorizava a
de leitos hospitalares privados no período mercantilização do sistema de saúde com
69/84, de tal forma que subiram de ênfase no modelo hospitalocêntrico (LEITE,
74.543 em 1969 para 348.255 em 1984 1979).
(OLIVEIRA, 1985). A saúde no Brasil tornou-se ineficiente
Em resumo, podemos observar que a e conservadora, com atuações que
primeira década da ditadura militar se restringiam a campanhas de baixa
de 1964-1974 foi marcada por muitas eficácia com graves consequências para
reformas institucionais e a interrupção do a saúde da população, motivo pelo qual
processo democrático. A prioridade era em 1967 se realiza a 4a Conferência de
o processo de modernização autoritária, Saúde presidida pelo ministro Leonel
que levou o país a um grande crescimento Miranda, assumindo novamente o caráter
95/234 Unidade 4 • História e Conceito de Política de Saúde Pública Brasileira da Segunda República ao Regime Militar
das primeiras conferências, em que se discute a necessidade de profissionais capacitados e
o desenvolvimento de uma política de saúde. Foi quando surgiu a proposta, mas privatizante
do Sistema Nacional de Saúde o Plano Nacional de Saúde (PNS) que pretendia que todos os
hospitais fossem vendidos a iniciativa privada, transformando-os em verdadeiras empresas
privadas (BRASIL, 2006).

Para saber mais


Conferências e conselhos de saúde são, hoje, os principais espaços para o exercício da participação e
do controle social sobre a implementação da política de saúde em todas as esferas de governo. Nesse
processo, os avanços são significativos, ainda que seja possível identificar a permanência de muitas
fragilidades e a necessidade de superação de práticas clientelistas ou corporativas que subsistem em
muitas situações (<http://www.conass.org.br>).

Nos anos de 1970, a baixa expectativa de vida e os elevados índices de mortalidade infantil
e doenças infecciosas e parasitárias que acometiam grande parte da população, junto
com à intensa repressão da ditadura militar, a ausência de uma estrutura de saúde eficaz,
integralizada e universal que atendesse uniformemente toda a sociedade, motivou a ida da
população às ruas para reivindicar como movimentos populares, entre outros, por melhores
96/234 Unidade 4 • História e Conceito de Política de Saúde Pública Brasileira da Segunda República ao Regime Militar
condições de vida, habitação e saúde no Em 1975, é criado o Sistema Nacional
país (ALBUQUERQUE, 1981). de Saúde, instituindo um sistema de
assistência à saúde com validade para
todo o território nacional, sendo que essa
Para saber mais criação foi o embrião inicial para a ideia
A ditadura militar no Brasil nos anos de do SUS, que surgiria algumas décadas
1964 à 1985, assumiu o controle político, depois. Em 1976, é feita a reestruturação
econômico e social, ocasionando os mais brutais do Ministério da Saúde, com a criação da
acontecimentos sob a forma de violência, censura, Secretaria Nacional de Vigilância Sanitária
repressão, exílio, prisão e diversas outras formas com divisões voltadas para a vigilância de
de coerção da sociedade. O Regime Militar Portos, Aeroportos e Fronteiras (DIPAF),
adotado teve consequências extremamente Medicamentos (DIMED), Alimentos (DINAL),
perversas em relação às condições de vida das Saneantes e Domissanitários (DISAD),
classes dominadas com o objetivo de dominar Cosméticos e Produtos de Higiene (DICOP).
intelectualmente a massa populacional (<https:// E iniciou-se o Programa de Interiorização
educacao.uol.com.br/disciplinas/historia- das Ações de Saúde e Saneamento (PIASS).
brasil/ditadura-militar-1964-1985-breve-
Concebido na secretaria de planejamento
historia-do-regime-militar.htm>).
da presidência da república, o PIASS se
97/234 Unidade 4 • História e Conceito de Política de Saúde Pública Brasileira da Segunda República ao Regime Militar
configura como o primeiro programa de parte da população ao acesso aos serviços
medicina simplificada do nível federal de saúde (MENEZES, 1974).
e vai permitir a entrada de técnicos A partir das análises das reportagens da
provenientes do “movimento sanitário” no Veja no período de 1975 a 1981, pode-se
interior do aparelho de estado. O programa inferir que a revista abordou a temática
é estendido a todo o território nacional, saúde, em sua maioria, referindo-se
o que resultou numa grande expansão da a surtos de algumas doenças graves
rede ambulatorial pública (BOSI, 1994). como a peste bubônica (em 1975), e a
esquistossomose, que, em 1976, atingia 8
Em 1977, ocorre o fortalecimento do setor
a 14 milhões de pessoas no país, segundo
privado na saúde, por meio de uma série
dados do Ministério da Saúde, publicados
de políticas públicas, e criam-se diversos na revista (REVISTA VEJA, 1982).
órgãos federais, como, por exemplo,
A edição nº 468, de 1977, trouxe um
do INAMPS, elevando o número de
resgate histórico a respeito da grande
beneficiados das políticas de previdência
reforma do sistema nacional da
e saúde, mas que não significou a
previdência social, abordando a criação
universalização do acesso a elas, a e dissolução de diversos órgãos federais
orientação assistencial e curativa de ações criados pelo regime militar para atender à
e serviços de saúde e a exclusão de grande população (REVISTA VEJA, 1977).
98/234 Unidade 4 • História e Conceito de Política de Saúde Pública Brasileira da Segunda República ao Regime Militar
A cólera também foi referida na revista fez uma análise crítica acerca delas,
(a edição 505 de 1978 mencionava os ressaltando que essas doenças acometiam,
primeiros casos da doença no Brasil), como principalmente, as populações pobres que
também novas tecnologias na doação de não eram asseguradas pela previdência
órgãos e na genética, com reportagens social, não tinham acesso à alimentação,
a respeito da gravidez em laboratório educação e saúde de boa qualidade
e o nascimento da primeira criança de (REVISTA VEJA, 1978).
“proveta”. A edição nº 560, de 1979,
referiu-se, entre outros assuntos, aos
avanços da ciência quanto à descoberta
Link
A cólera não teve início na Europa, mas sim na
da vacina contra a hepatite B, outro Ásia, daí ser chamada de “cólera asiática” pelos
problema de saúde pública nacional. Vale epidemiólogos (<http://www.scielosp.org/
ressaltar que em outras edições, dos anos pdf/physis/v4n1/05.pdf>).
1978, 1979 e 1980, a revista abordou
outros surtos de doenças no país, como Outras denúncias foram divulgadas pela
da meningite meningocócica; da doença revista, a exemplo da crise do hospital
de chagas, malária e leishmaniose; e dos servidores no Rio de Janeiro, a greve
da poliomielite, respectivamente. E nacional dos médicos radiologistas do

99/234 Unidade 4 • História e Conceito de Política de Saúde Pública Brasileira da Segunda República ao Regime Militar
INAMPS em 1980 (REVISTA VEJA, 1980) e a Em 1983, foi criado a AIS (Ações Integradas
contaminação de doentes no Hospital das de Saúde), um projeto interministerial
Clínicas em São Paulo em 1981 (REVISTA (Previdência-Saúde-Educação), visando um
VEJA, 1981). novo modelo assistencial que incorporava
Com relação à mobilização da população o setor público, procurando integrar ações
que reivindicava a melhoria na qualidade curativas preventivas e educativas ao
da saúde e visava à reforma sanitária mesmo tempo. Assim, a Previdência passa
do país, ocorridas na década de 1970 e a comprar e pagar serviços prestados
início dos anos 1980, nenhum registro por estados, municípios, hospitais
foi encontrado. Com relação à ausência filantrópicos, públicos e universitários. Esse
de divulgação acerca dos movimentos período coincidiu com o movimento de
populares pela saúde, pode-se pensar, transição democrática, com eleição direta
entre outras razões, as questões políticas para governadores e vitória esmagadora de
de repressão do regime militar, que oposição (OLIVEIRA, 1986).
visavam ocultar a ação popular frente à Em 1985, a Carta de Goiânia foi feita em
real situação da saúde no país naquela um Encontro em Goiânia de representantes
época (CAMPOS, 1998). das VISA de vários estados e do Distrito
Federal, em que foram discutidos novos
100/234 Unidade 4 • História e Conceito de Política de Saúde Pública Brasileira da Segunda República ao Regime Militar
rumos para a Vigilância Sanitária. Nessa • promover a ampla revisão da
ocasião, os estados propuseram a: legislação.
• reformulação da Política Nacional de No campo da organização da saúde pública
VISA; no Brasil, foram desenvolvidas as seguintes
ações no período militar:
• criação de um sistema
• promulgação do Decreto Lei
• reorganização dos serviços.
200 (1967), estabelecendo as
Essa carta foi considerada como um divisor competências do Ministério da
de água em termos de política sanitária no Saúde: formulação e coordenação da
país. política nacional de saúde;
Ainda nesse ano ocorreu o Seminário • responsabilidade pelas atividades
Nacional Vigilância Sanitária, que teve médicas ambulatoriais e ações
como conclusões: preventivas em geral; controle de
• caminhar para a descentralização das drogas e medicamentos e alimentos;
ações de saúde; pesquisa médico-sanitário.

• estabelecer um sistema de Outro que mereceu destaque foi a


informações em VISA; desestruturação do sistema previdenciário,
101/234 Unidade 4 • História e Conceito de Política de Saúde Pública Brasileira da Segunda República ao Regime Militar
pois às multinacionais que aqui se divulgasse as vantagens de participar
instalavam não interessava a manutenção de algum plano de saúde particular, de
de um sistema em que elas assumiam a mostrar o quanto esse novo modelo era
responsabilidade da previdência social. vantajoso em relação ao “decadente”
Hoje, estamos pagando um preço muito sistema público – que vinha sendo
caro por isso. sucateado sistematicamente.
Quanto ao sistema de saúde pública, Passados muitos anos, o brasileiro sem
interessava à nova forma de capitalismo muitos recursos passou a perceber
que ele passasse às mãos das empresas de que a isca lançada o havia fisgado. Os
saúde particulares. Ou seja, a saúde deveria chamados “convênios” (convém a quem?)
deixar de ser um direito do cidadão e uma se desenvolveram extraordinariamente,
responsabilidade do Estado burguês, para e alguns se constituíram em verdadeiros
que fosse considerada como mercadoria, impérios, sobrepuseram-se ao sistema
como fonte de lucro para os empresários. público, e, hoje, o cidadão comum não
Por isso, houve a implantação de uma conta nem com um nem com outro
política de poucos recursos para a saúde sistema, pois ambos são precários no
pública e muito incentivo para as empresas atendimento.
de saúde. Era necessário que a mídia
102/234 Unidade 4 • História e Conceito de Política de Saúde Pública Brasileira da Segunda República ao Regime Militar
Link
A Portaria Interministerial número 507 regula
os convênios, os contratos de repasse e os
termos de cooperação celebrados pelos órgãos e
entidades da Administração Pública Federal com
órgãos ou entidades públicas ou privadas sem
fins lucrativos para a execução de programas,
projetos e atividades (<http://portal.
convenios.gov.br/legislacao/portarias/
portaria-interministerial-n-507-de-24-de-
novembro-de-2011>).

103/234 Unidade 4 • História e Conceito de Política de Saúde Pública Brasileira da Segunda República ao Regime Militar
Glossário
VISA: Vigilância Sanitária.
AIS: Ações Integradas de Saúde.
PNS: Plano Nacional de Saúde.

104/234 Unidade 4 • História e Conceito de Política de Saúde Pública Brasileira da Segunda República ao Regime Militar
?
Questão
para
reflexão

Como você pode perceber, o histórico do período da


Segunda República até o regime militar percorreu
inúmeras situações de mudanças. Reflita sobre
essa situação e descreva uma ou mais situações
da ocorrência de problemas enfrentados pelos
trabalhadores da área da saúde em relação à
assistência de convênios públicos e privados.

105/234
Considerações Finais

O Ministério da Saúde criado em 1953 sofreu uma série de transformações ao


longo dos anos, durante esses períodos históricos;
juntamente com essa questão, os direitos e deveres dos trabalhadores
urbanos e rurais acompanharam as diversas mudanças sofridas nesses
períodos;
a VISA apresentou mudanças estruturais em sua forma e área de atuação,
tanto no cenário social quanto político.

106/234
Referências

ALBUQUEQUER, M. M. Pequena história da formação social brasileira. Rio de Janeiro: Graal, 1981.
BRASIL. Instrução normativa número 01/97, de 15 de maio de 1997. Regulamenta os
conteúdos, instrumentos e fluxos do processo de habilitação de municípios, de estados e do
distrito federal as condições de gestão criadas pela NOB SUS 01/96. Brasília, Diário Oficial da
União, 1997.
BRAGA, J. C. de S.; PAULA, S. G. de. Saúde e Previdência: Estudos de política social. São Paulo:
CEBES-HICITEC, 1981.
BOSI, E. Memória e sociedade: lembranças de velhos. 3. ed. São Paulo: Companhia das Letras,
1994.
BRASIL. Conselho Nacional de Secretários de Saúde. SUS: Avanços e Desafios; CONASS, 2006.
CAMPOS, F. E.; OLIVEIRA, M.; TONON, L. M. Planejamento e gestão em saúde. Belo Horizonte:
Coopmed, 1998 (Cadernos de saúde, 2).
CAMPOS, F. E.; OLIVEIRA, M.; TONON, L. M. Legislação Básica do SUS. Belo Horizonte:
Coopmed, 1998 (Cadernos de saúde, 3).
COSTA, N. R. Políticas públicas: justiça distributiva e inovação. São Paulo: Hucitec, 1998.

107/234 Unidade 4 • História e Conceito de Política de Saúde Pública Brasileira da Segunda República ao Regime Militar
DONNANGELO, M. C.F. Medicina e sociedade: o médico e seu mercado de trabalho. Pioneira:
São Paulo, 1975.
GUIMARÃES, R. Saúde e Medicina no Brasil: contribuições para um debate. Rio de Janeiro:
Graal, 1979.
LEITE, C. C. A crise da Previdência social. Rio de Janeiro: Zahar, 1981
LUZ, M. F. As instituições médicas no Brasil: instituição e estratégia de hegemonia. Rio de
Janeiro: Graal, 1979.
MENEZES, M. J. Planejamento Governamental: um instrumento a serviço do poder. Cadernos
do curso de pós-graduação em administração, UFSC, Florianópolis,1974.
NICZ, L. F. Previdência social no Brasil. In: GONÇALVES, Ernesto L. Administração de saúde no
Brasil. São Paulo: Pioneira, 1988. p. 163-197.
POSSAS, C. A. Saúde e trabalho – a crise da previdência social. Rio de Janeiro: Graal, 1981.
OLIVEIRA, J. A. A. de; TEIXEIRA, S. M. F. Previdência social: 60 anos de história da Previdência no
Brasil. Petrópolis: Vozes,1985.
OLIVEIRA, J. A. A. de; TEIXEIRA, S. M. F. Previdência social: 60 anos de história da Previdência no
Brasil. Petrópolis: Vozes, Abrasco,1986.
108/234 Unidade 4 • História e Conceito de Política de Saúde Pública Brasileira da Segunda República ao Regime Militar
TEIXEIRA, S. M.F. Antecedentes da Reforma sanitária. Rio de Janeiro: PEC, Ensp, 1988.

109/234 Unidade 4 • História e Conceito de Política de Saúde Pública Brasileira da Segunda República ao Regime Militar
Questão 1
1. O Ministério da Saúde foi criado em:

a) 1953.
b) 1954.
c) 1955.
d) 1956.
e) Nenhuma das alternativas.

110/234
Questão 2
2. Qual foi o ano em que foi criado o Departamento Nacional de
Endemias Rurais (DNERU), incorporando os antigos serviços nacionais de
febre amarela, malária e peste?

a) 1954.
b) 1955.
c) 1956.
d) Nenhuma das alternativas.
e) 1957.

111/234
Questão 3
3. Uma das primeiras medidas do governo no período da segunda repúbli-
ca foi a unificação de qual órgão, ocorrida em 1966 com o INPS, que con-
centrava todas as contribuições previdenciárias, gerenciava aposentado-
rias, pensões e assistência médica de todos os trabalhadores formais.

a) INAMPS.
b) INPS.
c) IAPs.
d) Nenhuma das alternativas.
e) Todas as alternativas estão corretas.

112/234
Questão 4
4. O Seminário Nacional Vigilância Sanitária teve como conclusões:

a) Caminhar para a descentralização das ações de saúde.


b) Estabelecer um sistema de informações em VISA.
c) Promover a ampla revisão da legislação.
d) Nenhuma das alternativas.
e) Todas as alternativas estão corretas.

113/234
Questão 5
5. No campo da organização da saúde pública no Brasil, foram desenvol-
vidas as seguintes ações no período militar:

a) Promulgação do Decreto Lei 200 (1967), estabelecendo as competências do Ministério da


Saúde: formulação e coordenação da política nacional de saúde.
b) Responsabilidade pelas atividades médicas ambulatoriais e ações preventivas em geral;
controle de drogas e medicamentos e alimentos; pesquisa médico-sanitário.
c) As alternativas A e B estão corretas.
d) Nenhuma das alternativas.
e) Todas as alternativas estão corretas.

114/234
Gabarito
1. Resposta: A. ocorrida em 1966, que concentrava
todas as contribuições previdenciárias
Em 1953, ainda sob a influência do Plano, e gerenciava aposentadorias, pensões
foi criado o Ministério da Saúde (MS), que e assistência médica de todos os
se dedica às atividades de caráter coletivo, trabalhadores formais.
como as campanhas e a vigilância sanitária.
4. Resposta: E.
2. Resposta: C.
O Seminário Nacional Vigilância Sanitária,
Em 1956, foi criado o Departamento que teve como conclusões: caminhar para
Nacional de Endemias Rurais (DNERU), a descentralização das ações de saúde;
incorporando os antigos serviços nacionais estabelecer um sistema de informações
de febre amarela, malária, peste. em VISA; e promover a ampla revisão da
legislação.
3. Resposta: C.
5. Resposta: C.
Uma das primeiras medidas desse governo
foi a unificação dos IAPs ao Instituto No campo da organização da saúde pública
Nacional de Previdência Social (INPS), no Brasil, foram desenvolvidas as seguintes
115/234
Gabarito
ações no período militar: promulgação
do Decreto Lei 200 (1967), estabelecendo
as competências do Ministério da Saúde
(formulação e coordenação da política
nacional de saúde); responsabilidade pelas
atividades médicas ambulatoriais e ações
preventivas em geral; controle de drogas
e medicamentos e alimentos; pesquisa
médico-sanitário.

116/234
Unidade 5
História e Conceito de Política de Saúde Pública Brasileira no Período da Nova República:
Aspectos Relevantes das Políticas Públicas de Saúde

Objetivos

1. Compreender o contexto histórico da


saúde pública no Brasil no Período da
Nova República.
2. Abordar os conceitos, organização e
funcionamento do cuidado à saúde
da população neste período.
3. Apresentar uma análise do processo
de saúde pública do Brasil no Período
da Nova República.

117/234
1. Introdução
Com a morte de Tancredo mesmo antes E, ainda, propôs um modelo de proteção
de sua posse, assume a presidência o seu social com a garantia do direito à saúde
vice, José Sarney. Durante os primeiros integral, em que a saúde passa a ser
meses de governo, tomou várias medidas definida como o resultado não apenas
para restaurar a ordem democrática que das condições de alimentação, habitação,
possibilitaram, em 1988, a aprovação educação, trabalho, lazer e acesso aos
de uma nova Constituição. No plano serviços de saúde, mas, sobretudo, da
econômico, não houve sucesso, o que forma de organização da produção na
contribuiu para facilitar a eleição de sociedade e das desigualdades nela
Fernando Collor de Mello, em 1999. existente (BRASIL, 1996).
Após a ditadura militar, teve início o Para entendermos melhor a sequência
período da Nova República em 1985, Para saber mais
A 8ª Conferência Nacional de Saúde foi um
a qual dura até hoje. Em relação aos
processo de discussão, que iniciou-se nas
fatos marcantes iniciais a essa época,
pré-conferências preparatórias estaduais e
destaca-se a 8ª Conferência Nacional
de Saúde (CNS), ocorrida em 1986, que municipais, e contou com a participação de
fez parte desse processo e contou com a mais de 4000 pessoas, dentre as quais 1000
participação de técnicos do setor saúde, delegados (<http://conselho.saude.gov.br/
de gestores e da sociedade organizada. biblioteca/Relatorios/relatorio_8.pdf>).
118/234 Unidade 5 • História e Conceito de Política de Saúde Pública Brasileira no Período da Nova República: Aspectos
Relevantes das Políticas Públicas de Saúde
Para entendermos melhor a sequência primeiras, o principal tema discutido foi
dos acontecimentos sobre as conferências a criação do Ministério da Saúde, o que
realizadas no Brasil, a seguir observe um se tornou realidade em 1953;
breve resumo sobre os fatos (MATTA, 2007; • a elaboração de um Plano Nacional
MATTOS, 2001; BERMUDES et al., 2008): de saúde para a União, estados e
• A 1ª Conferência Nacional de Saúde municípios foi tema principal do
foi realizada no Brasil, durante terceiro encontro, em 1963. Também
o governo Getúlio Vargas, em surgiram movimentos democráticos
1941, antes mesmo da criação do na área de saúde e discussões sobre
Ministério da Saúde. Diferentemente os problemas sanitários brasileiros;
das conferências mais recentes, • as quatro conferências seguintes –
convocadas pelo Conselho Nacional 1966, 1975, 1977 e 1980 – ocorreram
de Saúde (CNS) e pelo Ministério durante a ditadura militar e são
da Saúde, quem esteve à frente da descritas como tímidas na história da
primeira edição foi o então ministro saúde brasileira.
da Educação, Gustavo Capanema;
Durante esse processo democrático, o
• a segunda ocorreu em 1950. Nas duas chamado movimento sanitário apresentava

119/234 Unidade 5 • História e Conceito de Política de Saúde Pública Brasileira no Período da Nova República: Aspectos
Relevantes das Políticas Públicas de Saúde
proposições concretas. A primeira delas,
a saúde como direito de todo o cidadão, Link
independente de ter contribuído, ser A descentralização é definida como uma
trabalhador rural ou não trabalhador. Não condição necessária, embora não suficiente,
se poderia excluir ou discriminar qualquer da participação da população na gestão dos
cidadão brasileiro do acesso à assistência interesses coletivos (<http://redeteg.org/
pública de saúde. A segunda delas é a de livros/ARTIGO3.pdf>)
que as ações de saúde deveriam garantir
No período de 1983 a 1993, é possível
o acesso da população às ações de cunho
identificar três movimentos com
preventivo e/ou curativo e, para tal,
repercussões importantes na configuração
deveriam estar integradas em um único
do setor saúde: Ações Integradas de Saúde
sistema. A terceira, a descentralização
– AIS (1983-1987), Sistemas Unificados
da gestão, tanto administrativa como
e Descentralizados de Saúde nos Estados
financeira, de forma que se estivesse mais
– SUDS (1988-1989) e Sistema Único de
próximo da quarta proposição que era
Saúde – SUS (a partir de 1990) (BRASIL,
a do controle social das ações de saúde
1986; BAPTISTA, 2007).
(OLIVEIRA, 1985; POSSAS, 1982; COSTA,
1998).

120/234 Unidade 5 • História e Conceito de Política de Saúde Pública Brasileira no Período da Nova República: Aspectos
Relevantes das Políticas Públicas de Saúde
sanitário. Como solução, foi convocada a
Para saber mais 8ª Conferência Nacional de Saúde, que,
O Plano das Ações Integradas de Saúde pela primeira vez, incluiu a participação
propunha integrar os serviços públicos de de usuários do sistema de saúde. Seu
saúde, descentralizar o sistema através de uma relatório final continha a aprovação da
rede básica de serviços de saúde (<http:// unificação do sistema de saúde, o conceito
www.revistas.usp.br/sausoc/article/ ampliado de saúde, o direito de cidadania
download/6923/8392>). e dever do Estado, a elaboração de novas
bases financeira do sistema e a criação de
A discussão do processo sobre saúde instâncias institucionais de participação
apresentou avanços. A nomeação de social (PONTES, 2007).
representante do movimento sanitário
Decorrente dessa e das demais discussões
para importantes cargos no MS possibilitou
que se seguiram, em julho de 1987,
ratificar as AIS como estratégia de
foi aprovada a criação dos Suds, uma
reorientação setorial (CAMPOS, 1998).
estratégia transitória para a chegada ao
A proposta de unificação do SUS, embora Sistema Único de Saúde, que estabelecia a
consensual, enfrentou resistências e transferência dos serviços de saúde para os
divergências até no próprio movimento estados e municípios, o estabelecimento de
121/234 Unidade 5 • História e Conceito de Política de Saúde Pública Brasileira no Período da Nova República: Aspectos
Relevantes das Políticas Públicas de Saúde
um gestor único de saúde em cada esfera de saúde, e a Plenária Nacional de Saúde,
de governo e a transferência para os níveis constituída por entidades representativas
descentralizados dos instrumentos de dos movimentos popular, sindical, dos
controle sobre o setor privado (NICZ, 1998). profissionais de saúde, dos partidos
políticos e da academia, a qual atuou
intensamente no processo constituinte
Link (ESCOREL, 2008).
O Sistema Unificado e Descentralizado (SUDS) foi
criado em 1987 e regulamentado pelo Decreto Ao longo de 1989, a Plenária assumiu a
94.657, dispondo sobre a criação dos Sistemas condução dos debates da Lei Orgânica
Unificados e Descentralizados de Saúde nos Estados da Saúde, promulgada em 1990. No
(<http://www.scielo.br/pdf/osoc/v9n23/03. final de seu governo, Sarney transferiu o
pdf>). INAMPS para o MS, estabelecendo uma
nova configuração setorial: a unificação
Paralelamente, foram constituídas a da assistência médica previdenciária
Comissão Nacional da Reforma Sanitária, ao MS, constituindo o SUS (LEITE, 1981;
de composição paritária entre governo e MACHADO, 2007).
sociedade civil, encarregada de elaborar
a proposta constitucional para o capítulo
122/234 Unidade 5 • História e Conceito de Política de Saúde Pública Brasileira no Período da Nova República: Aspectos
Relevantes das Políticas Públicas de Saúde
fundamental do ser humano e que o Estado
Link deve prover as condições indispensáveis
O SUDS foi uma iniciativa no próprio Instituto ao seu pleno exercício. Fatos esses
Nacional de Assistência Médica da Previdência significativos e importantes para nossa
Social no sentido de universalizar a assistência política em saúde pública (MÊRCEDES,
a saúde de trabalhadores da economia formal 1986; MATTA, 2007).
(<http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/
Nota-se que o Estado deve cumprir seu
monografia_construindo_sus.pdf>).
dever formulando e executando políticas
O enfoque principal do Sistema Único de econômicas e sociais que reduzam o risco
Saúde (SUS) é a Constituição Federal de de doenças e agravos e que assegurem o
1988, regulamentado na Lei Federal n.º acesso universal e igualitário às ações e
8.080, de 19 de setembro de 1990, que aos serviços para promoção, proteção e
dispõe sobre a organização e regulação das recuperação da saúde. E ainda que o dever
ações de saúde, e na Lei Federal n.º 8.142, do Estado não exclui o das pessoas, da
de 28 de dezembro de 1990, que trata do família, das empresas e da sociedade. Logo,
financiamento da saúde e da participação cabe também aos demais atores sociais
popular. No artigo 2º da lei 8080 de 1990 a responsabilidade com o direito à saúde
podemos observar que a saúde é um direito (MATTOS, 2001).
123/234 Unidade 5 • História e Conceito de Política de Saúde Pública Brasileira no Período da Nova República: Aspectos
Relevantes das Políticas Públicas de Saúde
A Constituição de 1988 no contexto direito privado.
da saúde aponta algumas informações Art. 198. (*) As ações e serviços públicos
importantes em seus artigos 196 a 200. de saúde integram uma rede regionalizada
Observe: e hierarquizada e constituem um sistema
Art. 196. A saúde é direito de todos e dever único, organizado de acordo com as
do Estado, garantido mediante políticas seguintes diretrizes:
sociais e econômicas que visem à redução I. descentralização, com direção única
do risco de doença e de outros agravos e em cada esfera de governo;
ao acesso universal e igualitário às ações II. atendimento integral, com prioridade
e serviços para sua promoção, proteção e para as atividades preventivas, sem
recuperação. prejuízo dos serviços assistenciais;
Art. 197. São de relevância pública as III. participação da comunidade
ações e serviços de saúde, cabendo ao
poder público dispor, nos termos da lei,
sobre sua regulamentação, fiscalização e Para saber mais
controle, devendo sua execução ser feita A participação da comunidade chamada de controle
diretamente ou através de terceiros e, social foi regulamentada pela Lei 8142 de 1990.
também, por pessoa física ou jurídica de
124/234 Unidade 5 • História e Conceito de Política de Saúde Pública Brasileira no Período da Nova República: Aspectos
Relevantes das Políticas Públicas de Saúde
Parágrafo único. O sistema único de saúde § 2.º É vedada a destinação de recursos
será financiado, nos termos do art. 195, públicos para auxílios ou subvenções
com recursos do orçamento da seguridade às instituições privadas com fins lucrativos.
social, da União, dos Estados, do Distrito
Federal e dos Municípios, além de outras § 3.º É vedada a participação direta
fontes. ou indireta de empresas ou capitais
estrangeiros na assistência à saúde no País,
(*) Emenda Constitucional Nº 29, de 2000 salvo nos casos previstos em lei.
Art. 199. A assistência à saúde é livre à § 4.º A lei disporá sobre as condições e
iniciativa privada. os requisitos que facilitem a remoção de
§ 1.º As instituições privadas poderão órgãos, tecidos e substâncias humanas
participar de forma complementar do para fins de transplante, pesquisa
sistema único de saúde, segundo diretrizes e tratamento, bem como a coleta,
deste, mediante contrato de direito processamento e transfusão de sangue e
público ou convênio, tendo preferência seus derivados, sendo vedado todo tipo de
as entidades filantrópicas e as sem fins comercialização.
lucrativos.

125/234 Unidade 5 • História e Conceito de Política de Saúde Pública Brasileira no Período da Nova República: Aspectos
Relevantes das Políticas Públicas de Saúde
Art. 200. Ao sistema único de saúde V. incrementar em sua área de atuação
compete, além de outras atribuições, nos o desenvolvimento científico e
termos da lei: tecnológico;
VI. fiscalizar e inspecionar alimentos,
I. controlar e fiscalizar procedimentos,
compreendido o controle de seu
produtos e substâncias de
teor nutricional, bem como bebidas
interesse para a saúde e participar
e águas para consumo humano;
da produção de medicamentos,
equipamentos, imunobiológicos, VII. participar do controle e fiscalização
hemoderivados e outros insumos; da produção, transporte, guarda e
utilização de substâncias e produtos
II. executar as ações de vigilância
psicoativos, tóxicos e radioativos;
sanitária e epidemiológica, bem
como as de saúde do trabalhador; VIII. colaborar na proteção do meio
ambiente, nele compreendido o do
III. ordenar a formação de recursos
trabalho.
humanos na área de saúde;
IV. participar da formulação da
política e da execução das ações de
saneamento básico;
126/234 Unidade 5 • História e Conceito de Política de Saúde Pública Brasileira no Período da Nova República: Aspectos
Relevantes das Políticas Públicas de Saúde
• promulgação de uma nova
Para saber mais constituição em 1988, que valorizou
O termo Saúde do Trabalhador refere-se a a democracia e o respeito os direitos
um campo do saber que visa compreender as do cidadão;
relações entre o trabalho e o processo saúde/
• retorno do sistema político
doença (<http://www.scielo.br/pdf/reeusp/
multipartidário;
v41n3/03.pdf>).
• tentativas malsucedidas de combate
A Nova República, iniciada em 1985, à inflação durante o governo Sarney;
acumulou algumas características: • combate e controle inflacionário,
• Redemocratização do Brasil; através do Plano Real, no governo
Itamar Franco (continuados nos
• retorno das liberdades sociais: governos Fernando Henrique, Lula e
imprensa, manifestação política, Dilma);
expressões artísticas e culturais,
• fortalecimento dos laços econômicos
opinião etc.;
do Brasil com os países vizinhos
• eleições diretas para presidente da no cone sul (Argentina, Uruguai e
República, a partir de 1990; Paraguai) com a criação do Mercosul
em 1991;
127/234 Unidade 5 • História e Conceito de Política de Saúde Pública Brasileira no Período da Nova República: Aspectos
Relevantes das Políticas Públicas de Saúde
• aumento das relações econômicas
com países da África e Ásia,
principalmente com a China;
• criação de programas sociais
voltados para as populações
carentes;
• aumento da influência do Brasil no
cenário externo.

128/234 Unidade 5 • História e Conceito de Política de Saúde Pública Brasileira no Período da Nova República: Aspectos
Relevantes das Políticas Públicas de Saúde
Glossário
SUDS: Sistemas Unificados e Descentralizados de Saúde.
SUS: Sistema Único de Saúde.
INAMPS: Instituto Nacional da Previdência Social.

129/234 Unidade 5 • História e Conceito de Política de Saúde Pública Brasileira no Período da Nova República: Aspectos
Relevantes das Políticas Públicas de Saúde
?
Questão
para
reflexão

Como você pode perceber, o histórico do período da


Nova República inicia-se em 1985 e dura até os dias
atuais. Reflita sobre essa situação e descreva uma ou
mais situações da ocorrência de problemas políticos
enfrentados pela população brasileira na área da saúde
em relação a marcos deste período.

130/234
Considerações Finais

O período da Nova República iniciou-se em 1985 e perdura até os dias atuais;


no período de 1983 a 1993, é possível identificar três movimentos com
repercussões importantes na configuração do setor saúde: Ações Integradas
de Saúde – AIS (1983-1987), Sistemas Unificados e Descentralizados de
Saúde nos Estados – SUDS (1988-1989) e Sistema Único de Saúde – SUS (a
partir de 1990);
a proposta de unificação do SUS enfrentou resistências e divergências até no
próprio movimento sanitário, tendo como solução a 8ª Conferência Nacional
de Saúde que, pela primeira vez, incluiu a participação de usuários do sistema
de saúde.

131/234
Referências

BAPTISTA, T. W. F. História das políticas de saúde no Brasil: a trajetória do direito à saúde. Rio
de Janeiro: Fiocruz, 2007.
BRASIL. Instrução normativa número 01/97, de 15 de maio de 1997. Regulamenta os
conteúdos, instrumentos e fluxos do processo de habilitação de municípios, de estados e do
distrito federal as condições de gestão criadas pela NOB SUS 01/96. Diário Oficial da União,
Brasília, 1997.
CONSTITUIÇÃO da República Federativa do Brasil, 1988. Disponível em: <http://www.planalto.
gov.br/>. Acesso em: 30 set. 2015.

COSTA, N. R. Políticas públicas: justiça distributiva e inovação. São Paulo: Hucitec, 1998.
ESCOREL, S. História das políticas de saúde no Brasil de 1964 a 1990: do golpe militar à reforma
sanitária. In: GIOVANELLA, L.; SCOREL, S.; LOBATO, L. V. C.; NORONHA, J. C.; CARVALHO, A. I. de.
Políticas e Sistema de Saúde no Brasil. Rio de Janeiro: Fiocruz, 2008. P. 1-8.
LEITE, Celso C. A crise da Previdência social. Rio de Janeiro: Zahar, 1981.
MACHADO, C. V.; LIMA, L. D; BAPTISTA, T. W. F. Configuração Institucional e o papel dos
gestores no Sistema Único de Saúde. Rio de Janeiro: Fiocruz, 2007.

132/234 Unidade 4 • História e Conceito de Política de Saúde Pública Brasileira da Segunda República ao Regime Militar
MATTOS, R. A. Os sentidos da integralidade: algumas reflexões acerca de valores que merecem
ser defendidos. Rio de Janeiro: IMS/Uerj/Abrasco, 2001.
MATTA, G. C. Princípios e Diretrizes do Sistema Único de Saúde. Rio de Janeiro: Fiocruz, 2007.
MÊRCEDES, M. B. Descentralização ou Desconcentração: AIS – SUDS- SUS. 1986. 79 f.
Dissertação (Mestrado em Administração Pública) – Escola Brasileira de Administração Pública,
Fundação Getúlio Vargas, Rio de Janeiro, 1986.
NICZ, L. F. Previdência social no Brasil. In: GONÇALVES, Ernesto L. Administração de saúde no
Brasil. São Paulo: Pioneira, 1988. p. 163-197.
OLIVEIRA, J. A. A. de; TEIXEIRA, S. M. F. Previdência social: 60 anos de história da Previdência no
Brasil. Petrópolis: Vozes,1985.
POSSAS, Cristina A. Saúde e trabalho – a crise da previdência social. Rio de Janeiro: Graal,
1981.

133/234 Unidade 4 • História e Conceito de Política de Saúde Pública Brasileira da Segunda República ao Regime Militar
Questão 1
1. Com a morte de Tancredo Neves, quem assume a presidência?

a) Dilma Rousseff.
b) Antônio da Cunha.
c) José Sarney.
d) José da Silva.
e) Nenhuma das alternativas.

134/234
Questão 2
2. O plano econômico durante a Nova República não apresentou
nenhum sucesso, o que contribuiu para facilitar a eleição de qual
candidato, em 1999.

a) Fernando Collor de Melo.


b) Antônio da Cunha.
c) José Sarney.
d) José da Silva.
e) Nenhuma das alternativas.

135/234
Questão 3
3. No período de 1983 a 1993, é possível identificar movimentos com re-
percussões importantes na configuração do setor saúde.

a) AIS, SUDS e SUS.


b) AIS, SUDS.
c) SUS E SUDS.
d) Nenhuma das alternativas.
e) Todas as alternativas estão corretas.

136/234
Questão 4
4. O enfoque principal do Sistema Único de Saúde (SUS) é a Constitui-
ção Federal de 1988, regulamentado pela Lei Federal n.º ________, que
dispõe sobre a organização e regulação das ações de saúde.

a) 8080 de 1990
b) 8142 de 1996
c) 8245 de 1990
d) 8423 de 1990
e) Nenhuma das alternativas

137/234
Questão 5
5. As ações e serviços públicos de saúde integram uma rede regionaliza-
da e hierarquizada e constituem um sistema único, organizado de acor-
do com as seguintes diretrizes:

I. Descentralização, com direção única em cada esfera de governo.


II. Atendimento integral, com prioridade para as atividades preventivas, sem prejuízo dos
serviços assistenciais.
III. Participação da comunidade.
a) Somente a afirmativa I está correta.
b) Somente a afirmativa II está correta.
c) As três afirmativas estão corretas.
d) Nenhuma das alternativas.
e) As alternativas I, II e III estão corretas.

138/234
Gabarito
1. Resposta: C. 4. Resposta: A.
Com a morte de Tancredo mesmo antes de O enfoque principal do Sistema Único de
sua posse, assume a presidência o seu vice, Saúde (SUS) é a Constituição Federal de
José Sarney. 1988, regulamentado pela Lei Federal n.º
8080/90, que dispõe sobre a organização e
2. Resposta: A. regulação das ações de saúde.

No plano econômico, não houve sucesso, 5. Resposta: E.


o que contribuiu para facilitar a eleição de
Fernando Collor de Mello, em 1999. As ações e serviços públicos de saúde
integram uma rede regionalizada e
3. Resposta: A. hierarquizada e constituem um sistema
único, organizado de acordo com as
No período de 1983 a 1993, é possível seguintes diretrizes:
identificar 3 movimentos com repercussões
I. Descentralização, com direção única
importantes na configuração do setor
em cada esfera de governo.
saúde: AIS, SUDS e SUS.

139/234
II. Atendimento integral, com prioridade
para as atividades preventivas, sem
prejuízo dos serviços assistenciais.
III. Participação da comunidade.

140/234
Unidade 6
História e Conceito de Política de Saúde Pública Brasileira: Lei Eloy Chaves, IAPs – Aspectos
Relevantes das Políticas Públicas de Saúde

Objetivos

1. Compreender o contexto histórico


da saúde pública no Brasil da Lei Eloy
Chaves.
2. Compreender o contexto histórico da
saúde pública no Brasil das IAPs.
3. Apresentar uma análise dos aspectos
relevantes das políticas públicas de
saúde.

141/234
1. Introdução

1.1 Eloy Chaves como as pessoas presentes, a solenidade


de recepção e a viagem dos noivos a São
O Dr. Eloy Chaves nasceu em Paulo, onde foram gozar os primeiros dias
Pindamonhagaba, na cidade de São Paulo, de seu matrimônio. De seu matrimônio
em 27 de dezembro de 1875, filho do Sr. nascem dois filhos: Vail Chaves, casado
José Guilherme de Miranda Chaves e de com Dona Izabel Fernandes Chaves, e Dona
Dona Cândida Marcondes de Miranda Antonieta Chaves Gordinho, casada com
Chaves. Concluiu o curso secundário no Antonio Cintra Gordinho, figura de relevo
Colégio Pedro II, diplomando-se em Direito nos círculos políticos e administrativos do
em 1896, pela Faculdade de Direito do estado de São Paulo, tendo sido Secretário
Largo de São Francisco, na capital paulista da Fazenda. Seus filhos não deixaram
(FILHO, 2015). descendentes (FILHO, 2015).
No dia 30 de julho de 1898, Eloy casa- Fez faculdade de Direito e aos 20 anos
se com Dona Almerinda Pereira Chaves, já era Promotor Público em São Roque,
na própria cidade de Jundiaí. Um jornal transferindo-se, um tempo depois,
da época (O Jundiaiense, 31/07/1898) para Jundiaí, onde advogou, fundou
noticiou o acontecimento, dando, o Colégio Santo Antônio e iniciou sua
inclusive, pormenores interessantes, tais carreira política, elegendo-se vereador.
142/234 Unidade 6 • História e Conceito de Política de Saúde Pública Brasileira: Lei Eloy Chaves, IAPs – Aspectos Relevantes das
Políticas Públicas de Saúde
Posteriormente, como Deputado Federal, Antes disso, em maio de 1912, adquiriu
ocupou postos de relevância, entre os quais junto a outros companheiros a Central
o de Presidente da Comissão de Marinha Elétrica Rio Claro, transformada, de
de Guerra. No período de 1913 a 1918, pequena empresa com apenas uma usina,
foi Secretário de Estado dos Negócios da na maior companhia de eletricidade da
Justiça e Segurança Pública, nos governos capital nacional. Impulsionado por se
do Conselheiro Rodrigues Alves e de Altino espírito empreendedor e sua capacidade
Arantes (FILHO, 2015). de realização, fundou, em 1944, a Empresa
Considerado um homem lúcido e de Elétrica de Itapura (FILHO, 2015).
espírito empreendedor, teve atuação A construção posterior de uma usina
decisiva no surto de progresso de São na Salto do Itapura, feita com imensos
Paulo, notadamente de cidades do sacrifícios, beneficiou extensa região de
interior, nas quais deixou a marca de sua São Paulo e de Mato Grosso, em cuja divisa
capacidade realizadora. No ano de 1902, a usina se situava. Com mais de 56 anos de
com José Teles, Edgar de Sousa e Aguiar de sua fecunda existência dedicados ao setor
Andrade, organizou a Empresa Elétrica de de eletricidade, Eloy Chaves foi, também,
Jundiaí. Em 1927, transferida para a “Light” agricultor e pecuarista de ideias avançadas
(FILHO, 2015). e um dos grandes incentivadores da
143/234 Unidade 6 • História e Conceito de Política de Saúde Pública Brasileira: Lei Eloy Chaves, IAPs – Aspectos Relevantes das
Políticas Públicas de Saúde
indústria de cerâmica em São Paulo, como extremamente altas. Diante do fato,
fundador da Cia. Cerâmica Jundiaiense incomodou-se e resolveu conversar os
(FILHO, 2015). ferroviários Francisco de Monlevade,
Em 1921, jovem advogado, viajava de trem, Alfredo William e Edmundo Navarro
de Andrade, inspetor-geral, chefe de
na antiga Estrada de Ferro Sorocabana,
locomoção e chefe do serviço florestal
e ouviu de dois ferroviários informações
da Companhia Paulista, discutindo com
de que os trabalhadores da ferrovia,
eles sobre o assunto, “socorreu-se dos
principalmente aqueles que exerciam
conselhos de Francisco Monlevade e
atividades mais desgastantes, como Adolpho Pinto”, foi para sua fazenda
foguistas e maquinistas, mesmo quando Ermida, em Jundiaí, onde também tinha
atingiam uma idade avançada, precisavam uma fábrica de porcelana, e lá concebeu e
continuar trabalhando em razão da escreveu o projeto de lei que apresentou
necessidade premente de sustentar a à Câmara dos Deputados naquele mesmo
família (FILHO, 2015). ano de 1921, criando “em cada uma das
As locomotivas movidas à lenha exigiam empresas de Estradas de Ferro existentes
a presença constante de um foguista, no País uma Caixa de Aposentadoria e
que alimentava continuamente a Pensões que foi a primeira CAP do Brasil
caldeira, sujeitando-se a temperaturas (FILHO, 2015).
144/234 Unidade 6 • História e Conceito de Política de Saúde Pública Brasileira: Lei Eloy Chaves, IAPs – Aspectos Relevantes das
Políticas Públicas de Saúde
A Lei de um paulista foi sancionada pelo A Lei Eloi Chaves é a mãe da Previdência
presidente da República mineiro, Artur Social no Brasil. O discurso de Eloi Chaves
Bernardes, com assinaturas do ministro na Câmara, apresentando seu projeto, tem
da Viação também mineiro, Francisco Sá, e a marca de quem sabia e tinha consciência
do ministro da Agricultura, baiano, Miguel da sua importância histórica (CARVALHO,
Calmon du Pin e Almeida, que aos 27 anos 2006; COUTO, 2006; IAMAMOTO, 2007).
já tinha sido ministro da Viação do governo
Nilo Peçanha (1906-1909) e depois foi
deputado e senador pelo Estado da Bahia
(FILHO, 2015).

Para saber mais


Artur da Silva Bernardes foi um advogado e
político brasileiro, presidente de Minas Gerais de
1918 a 1922 e presidente do Brasil entre 15 de
novembro de 1922 a 15 de novembro de 1926
(<http://www.infoescola.com/historia-do-
brasil/governo-de-artur-bernardes/>).

145/234 Unidade 6 • História e Conceito de Política de Saúde Pública Brasileira: Lei Eloy Chaves, IAPs – Aspectos Relevantes das
Políticas Públicas de Saúde
Na vida moderna não se compreende progresso sem os trabalhadores,
que constituem o sistema circulatório das nações, na paz como na
guerra. O homem não vive só para si e para a hora fugaz, que é o
momento de sua passagem pelo mundo. Ele projeta sua personalidade
para o futuro, sobrevive a si próprio, em seus filhos. Seus esforços,
trabalho e aspirações devem também visar, no fim da caminhada, o
repouso e a tranquilidade.”
Eloi Chaves
A criação da Caixa de Aposentadoria e Pensões dos Ferroviários garantiu pensão,
aposentadoria, assistência médica e auxílio farmacêutico, vindo, em seguida, o decreto nº
16.037, de 30 de abril de 1923, elaborado pelo órgão responsável da Previdência Social.
Com a criação da CAP, foi necessária a criação do Conselho Nacional do Trabalho, que tinha
função de coordená-las. A lei foi escrita de forma detalhada e assegurou todos os direitos dos
trabalhadores ferroviários. Embora nesse período tenha contemplado apenas algumas classes
de trabalhadores, foi a responsável pelo surgimento de outras caixas de aposentadorias e
pensões, sendo os benefícios estendidos a praticamente todas as categorias de trabalhadores
urbanos (BEHRING, 2006).
146/234 Unidade 6 • História e Conceito de Política de Saúde Pública Brasileira: Lei Eloy Chaves, IAPs – Aspectos Relevantes das
Políticas Públicas de Saúde
1.2 Assistência Social

A prática da assistência social está


Link
O capitalismo é o sistema econômico baseado na
presente na história da humanidade
lei da oferta e da procura, cuja maior finalidade
desde os tempos mais remotos, não se
é a obtenção de lucro, isto é o acumulo de
limitando nem à civilização judaico-cristã
capital (<https://www.passeidireto.com/
nem às sociedades capitalistas. Na visão
arquivo/10952856/o-capitalismo>).
da solidariedade social, pobres, viajantes,
incapazes e doentes eram alvos de ações Em Roma e na Grécia, já havia registros de
que assumiram formas variadas nas ações de assistência social estatal, com
diferentes sociedades, sempre motivadas a distribuição de trigo aos necessitados.
pela compreensão de que entre os homens Sendo assim, a ajuda toma a expressão de
nunca deixariam de existir os mais frágeis, caridade ao próximo, como força moral de
carecedores de ajuda alheia (BOBBIO, conduta. Com o objetivo de conformar as
2004; BOSCHETTI, 2003). práticas de ajuda e apoio aos aflitos, grupos
filantrópicos e religiosos começaram a se
organizar, dando origem às instituições de
caridade (SPOSATI, 2007).

147/234 Unidade 6 • História e Conceito de Política de Saúde Pública Brasileira: Lei Eloy Chaves, IAPs – Aspectos Relevantes das
Políticas Públicas de Saúde
A forte influência do cristianismo, na Idade que lhe for feita nos limites territoriais”);
Média, através da doutrina da fraternidade, o bloqueio da retribuição ao trabalho
incentivou a prática assistencial com a efetuado, que não poderia ser objeto de
difusão das confrarias que apoiavam às negociações ou ajustes; a proibição da
viúvas, os órfãos, os velhos e os doentes mendicância aos pobres válidos, vedando
(BEHRING, 2006). a assistência aos indivíduos aptos para o
trabalho, obrigando-os a se submeterem
De acordo com Castel (1998, p.
aos trabalhos oferecidos.
98), elementos comuns nortearam
tais legislações, dentre os quais o Dentre os anos de 1891, 1934, 1937, 1946
estabelecimento do imperativo do trabalho e 1967, ocorreram a criação de algumas
para todos os que não têm outros recursos normas constitucionais, são elas:
pra viver senão a força de seus braços, a Constituição de 1891 – “Art. 71 - Os
obrigação do pobre em aceitar o primeiro direitos de cidadão brasileiro só se
trabalho que lhe fosse oferecido (“quem suspendem ou perdem nos casos aqui
já trabalha, que permaneça em seu particularizados.
emprego – salvo se convier ao empregador
§ 1º - Suspendem-se:
dispensá-lo – e quem está em busca de
emprego que aceite a primeira injunção a) por incapacidade física ou moral”.
148/234 Unidade 6 • História e Conceito de Política de Saúde Pública Brasileira: Lei Eloy Chaves, IAPs – Aspectos Relevantes das
Políticas Públicas de Saúde
Constituição de 1934 – “Art. 113 - A “Art. 138 - Incumbe à União, aos Estados
Constituição assegura a brasileiros e aos Municípios, nos termos das leis
e a estrangeiros residentes no País a respectivas:
inviolabilidade dos direitos concernentes
a) assegurar amparo aos desvalidos,
à liberdade, à subsistência, à segurança
criando serviços especializados e
individual e à propriedade, nos termos
seguintes: [...] 34) A todos cabe o direito animando os serviços sociais, cuja
de prover à própria subsistência e à de orientação procurarão coordenar [...]”;
sua família, mediante trabalho honesto. O Constituição de 1937 - “Art. 127 – (...) Aos
Poder Público deve amparar, na forma da pais miseráveis assiste o direito de invocar
lei, os que estejam em indigência”. o auxílio e proteção do Estado para a
subsistência e educação da sua prole”.
Link
A República Federativa do Brasil, formada pela
“Art. 136 - O trabalho é um dever social. O
trabalho intelectual, técnico e manual tem
união indissolúvel dos Estados e Municípios
direito a proteção e solicitude especiais do
e do Distrito Federal, constitui-se em Estado
democrático de direito (<http://www.
Estado. A todos é garantido o direito de
planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/ subsistir mediante o seu trabalho honesto
constituicaocompilado.htm>). e este, como meio de subsistência do

149/234 Unidade 6 • História e Conceito de Política de Saúde Pública Brasileira: Lei Eloy Chaves, IAPs – Aspectos Relevantes das
Políticas Públicas de Saúde
indivíduo, constitui um bem que é dever XV - assistência aos desempregados.”
do Estado proteger, assegurando-lhe Constituição de 1964 – “Art. 167 - A
condições favoráveis e meios de defesa”. família é constituída pelo casamento e terá
Constituição de 1946 – “Art. 145 - A direito à proteção dos Poderes Públicos [...].
ordem econômica deve ser organizada § 4º - A lei instituirá a assistência à
conforme os princípios da justiça social, maternidade, à infância e à adolescência”.
conciliando a liberdade de iniciativa com a
valorização do trabalho humano. Observa-se que até 1988 a
assistência social não era prevista
Parágrafo único - A todos é assegurado constitucionalmente como um direito.
trabalho que possibilite existência digna. O As ações que lhe eram relacionadas
trabalho é obrigação social”. acabavam por serem realizadas de forma
“Art. 157 - A legislação do trabalho e a assistencialista e seletiva, direcionadas
da previdência social obedecerão nos aos indigentes, desvalidos, filhos de “pais
seguintes preceitos, além de outros miseráveis” – todos inaptos ao trabalho
que visem a melhoria da condição dos – ou, simplesmente, visando à reinserção
trabalhadores: no mercado de trabalho formal (aos aptos
para o trabalho) (FALEIROS, 2000).

150/234 Unidade 6 • História e Conceito de Política de Saúde Pública Brasileira: Lei Eloy Chaves, IAPs – Aspectos Relevantes das
Políticas Públicas de Saúde
O “dever de trabalhar” permanecia sendo a base para o acesso a maioria dos direitos
sociais. À assistência restavam as ações residuais ligadas à saúde ou previdência social;
era, assim, tratada como uma espécie de “parente pobre” no âmbito das políticas sociais
(MONTAÑO, 2007).

1.3 IAPs

No Brasil, os 10% mais ricos da população são donos de 46% do total da


renda nacional, enquanto os 50% mais pobres – ou seja, 87 milhões de
pessoas – ficam com apenas 13,3% do total da renda nacional. Somos
14,6 milhões de analfabetos, e pelo menos 30 milhões de analfabetos
funcionais (WEISSHEIMER, 2006, p.9).

151/234 Unidade 6 • História e Conceito de Política de Saúde Pública Brasileira: Lei Eloy Chaves, IAPs – Aspectos Relevantes das
Políticas Públicas de Saúde
trabalhadora (BELTRÃO et al., 2004).
Link Em 1932, fixa-se o componente de
A escala de analfabetismo varia de 0 a 200 assistência médica, por meio da compra
escores, sendo que o ponto médio, ao redor de de serviços do setor privado. E, devido à
100 caracteriza a passagem do analfabetismo intensa inflação da época, acentua-se a
funcional para o alfabetismo funcional (<http:// piora das condições de vida, fenômeno
publicacoes.fcc.org.br/ojs/index.php/eae/ que se refletiu nas demandas por saúde e
article/download/1932/1915>).
assistência médica (MORAES, 2006).
Os IAPs (Institutos de Assistência
A triste realidade revela uma população Previdenciária), que, a princípio, não
brasileira mais pobre, persistindo as se dispunham a fornecer esse tipo de
enormes desigualdades de renda entre cobertura, começaram a diferenciar-se
pobres e ricos e elevada concentração em suas estruturas, prestando serviços no
da riqueza nas mãos de uma parcela âmbito da assistência médica.
mínima da população. Mesmo diante No ano de 1933, é criado o primeiro
dessa realidade, surge um jovem advogado
Instituto de Aposentadoria e Pensões:
que veio para mudar um pouco dessa
desigualdade, assegurando pelo menos o dos Marítimos (IAPM). Seu decreto de
um mínimo de dignidade à classe pobre constituição definia, no artigo 46, os

152/234 Unidade 6 • História e Conceito de Política de Saúde Pública Brasileira: Lei Eloy Chaves, IAPs – Aspectos Relevantes das
Políticas Públicas de Saúde
benefícios assegurados aos associados:
a) aposentadoria;
Para saber mais
Em 1964, foi criada uma comissão para reformular
b) pensão em caso de morte para os o sistema previdenciário, que culminou com a
membros de suas famílias ou para os fusão de todos os IAPs no INPS (Instituto Nacional
beneficiários, na forma do art. 55 da Previdência Social), em 1966. Em 1990, o INPS
se fundiu ao Instituto de Administração Financeira
c) assistência médica e hospitalar, com da Previdência e Assistência Social. O INAMPS,
internação até trinta dias; que funcionava junto ao INPS, foi extinto e seu
d) socorros farmacêuticos, mediante serviço passou a ser coberto pelo SUS (<http://
indenização pelo preço do custo assistenciafarmaceutica.fepese.ufsc.br/pages/
arquivos/Escorel_2008_II.pdf>).
acrescido das despesas de
administração.
Em 1934, foram criados os IAPs dos A Previdência Social brasileira conta,
Comerciários (IAPC) e dos Bancários (IAPB), atualmente, com aproximadamente 58%
em 1936, o dos Industriários (IAPI) e, em da população economicamente ativa (PEA)
na condição de segurado e é responsável
1938, o dos Estivadores e Transportadores
pelo pagamento de aproximadamente
de Cargas (IAPETEL). 22 milhões de benefícios, entre

153/234 Unidade 6 • História e Conceito de Política de Saúde Pública Brasileira: Lei Eloy Chaves, IAPs – Aspectos Relevantes das
Políticas Públicas de Saúde
aposentadorias e pensões do Regime Geral caracterizando a forma tríplice de custeio
de Previdência Social (RGPS) e dos regimes
próprios do funcionalismo público de todas
Para saber mais
(público, empregado e empregador)
com contribuição obrigatória a favor da
as esferas de governo (MORAES, 2006). Utilização do pacto intergeracional: É utilizado na
velhice, invalidez, maternidade e nos
metodologia de precificação definida atualmente.
Após 20 anos da criação do Sistema de casos de acidente ou morte. Dessa forma,
A parcela de gastos dos idosos que ultrapassaria
Seguridade Social brasileiro, do qual fazem o limite de 6 vezes é financiada pelas faixas mais
parte as políticas previdenciárias, e dez jovens. Assim,, ocorre a diluição dos custos dentro
anos da primeira de série de emendas de grupo com perfil semelhante (preço por faixa
constitucionais voltadas para a questão etária) e há limites para o grau de financiamento
do equacionamento financeiro-atuarial dos beneficiários mais idosos pelos mais jovens
da Previdência Social, não restam dúvidas (<www.ans.gov.br>)
quanto à sua importância e seus avanços
institucionais. O que não significa que
novos ajustes não devam ser pensados,
senão para o curto, médio e longo prazos, A Constituição Federal de 1934, introduziu:
pois a Previdência Social, como sistema • competência para a União fixar regras
fundamentado em pacto intergeracional,
de assistência social;
precisa ser viável e sustentável no curto e
longo prazos (IAMAMOTO, 2007). • conferiu aos Estados-membros

154/234 Unidade 6 • História e Conceito de Política de Saúde Pública Brasileira: Lei Eloy Chaves, IAPs – Aspectos Relevantes das
Políticas Públicas de Saúde
responsabilidade para cuidar de os funcionários públicos foram os mais
saúde e assistência públicas; beneficiados e eram compulsoriamente
• competência aos Estados para aposentados aos 68 anos de idade
fiscalizar a aplicação das leis sociais. (MORAES, 2006).

Nesse contexto, o poder legislativo possuía Em suma, os IAPs foram criados de


competência para a) Legislar normas sobre acordo com a capacidade de organização,
aposentadorias; b) proteção social ao mobilização e importância da categoria
trabalhador; c) Conferência da assistência profissional em questão, na seguinte
médica e sanitária ao trabalhador e à sequência histórica (BEHRING, 2006;
gestante, assegurando a essa o descanso, BOSCHETTI, 2003; CARVALHO, 2006):
antes e depois do parto, sem prejuízo do • 1933 – IAPM – Instituto de
salário e do emprego (SPOSATI, 2007). Aposentadoria e Pensões dos
Essa foi a primeira Constituição a se Marítimos;
referir a “previdência”, embora sem o • 1934 – IAPC – Instituto de
acompanhamento da palavra “social”, Aposentadoria e Pensões dos
sendo a principal novidade a contribuição Comerciários (Decreto n° 24.272, de
da União, do empregador e do empregado, 21 de maio de 1934);
155/234 Unidade 6 • História e Conceito de Política de Saúde Pública Brasileira: Lei Eloy Chaves, IAPs – Aspectos Relevantes das
Políticas Públicas de Saúde
• 1934 – IAPB – Instituto de • 1939 – Instituto de Aposentadoria e
Aposentadoria e Pensões dos Pensões dos Operários Estivadores
Bancários (Decreto nº 24.615, de 9 de (Decreto-Lei n° 1.355, de 19 de junho
julho de 1934); de 1939);
• 1936 – IAPI – Instituto de • 1945 – ISS – O Decreto n° 7.526,
Aposentadoria e Pensões dos de 7 de maio de 1945, dispôs sobre
Industriários (Lei n° 367, de 31 de a criação do Instituto de Serviços
dezembro de 1936); Sociais do Brasil;
• 1938 – IPASE – Instituto de Pensões • 1945 – IAPETC – O Decreto-Lei
e Assistência dos Servidores do n° 7.720, de 9 de julho de 1945,
Estado (Decreto-Lei n° 288, de 23 de incorporou ao Instituto dos
fevereiro de 1938); Empregados em Transportes e Cargas
o da Estiva e passou a se chamar
• 1938 – IAPETEC – Instituto de Instituto de Aposentadoria e Pensões
Aposentadoria e Pensões dos dos Estivadores e Transportes de
Empregados em Transportes e Cargas Cargas;
(Decreto-Lei n° 651, de 26 de agosto
• 1953 – CAPFESP – Caixa de
de 1938);
Aposentadoria e Pensões dos
156/234 Unidade 6 • História e Conceito de Política de Saúde Pública Brasileira: Lei Eloy Chaves, IAPs – Aspectos Relevantes das
Políticas Públicas de Saúde
Ferroviários e Empregados em
Serviços Públicos (Decreto nº 34.586,
de 12 de novembro de 1953);
• 1960 – IAPFESP – Instituto de
Aposentadoria e Pensões dos
Ferroviários e Empregados em
Serviços Públicos (Lei nº 3.807, de 26
de agosto de 1960, art. 176 – extinta
a CAPFESP).

157/234 Unidade 6 • História e Conceito de Política de Saúde Pública Brasileira: Lei Eloy Chaves, IAPs – Aspectos Relevantes das
Políticas Públicas de Saúde
Glossário
IAPM: Instituto de Aposentadoria e Pensões dos Marítimos
IAPI: Instituto de Aposentadoria e Pensão dos Industriários
IAPs: Instituto de Aposentadoria Previdênciária.

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Políticas Públicas de Saúde
?
Questão
para
reflexão

Como você pode perceber, o histórico da criação da


Lei Eloy Chaves foi um marco para a nossa política de
saúde social brasileira. Reflita sobre essa situação e
descreva uma ou mais exemplos de situações que você
já vivenciou relacionados aos benefícios oferecidos por
essa lei.

159/234
Considerações Finais

A Lei Eloy Chaves foi criada em 1921 e sancionada pelo presidente da


República mineiro, Artur Bernardes, com assinaturas do ministro da Viação
também mineiro, Francisco Sá, e do ministro da Agricultura, baiano, Miguel
Calmon du Pin e Almeida;
os IAPs surgiram com a função de substituição das CAPs e trouxeram
consigo a inovação da organização por categoria profissional (marítimos,
comerciários, bancários).

160/234
Referências

BELTRÃO, K. I.; CAMARANO, A. A.; KANSO, S. Dinâmica populacional brasileira na virada do


século XX. Rio de Janeiro: Ipea, 2004 (Texto para discussão, n. 1.034).
BEHRING, E. R; BOSCHETTI, I. Política social: fundamentos e história. São Paulo: Cortez, 2006.
BOBBIO, N. A era dos direitos. Rio de Janeiro: Campus, 2004.
BOSCHETTI, I. Assistência Social no Brasil: um direito entre originalidade e conservadorismo.
2. ed. Brasília: UNB, 2003.
CARVALHO, R. T. Imunidade Tributária e Contribuições para a Seguridade Social. Rio de
Janeiro: Renovar, 2006.
CASTEL, R. As metamorfoses da questão social: uma crônica do salário. Rio de Janeiro: Vozes,
1998.
COUTO, B. R. O Direito Social e a Assistência Social na Sociedade Brasileira: uma equação
possível? São Paulo: Cortez, 2006.
DATAPREV. DECRETO Nº 22.872 - DE 29 DE JUNHO DE 1933 – DOU DE 31/12/1933 – Instituto
de Aposentadoria e Pensões Marítimos (IAPM). Art 46. Disponível em: <http://portal.dataprev.
gov.br/>. Acesso em: 20 set, 2015.

161/234 Unidade 4 • História e Conceito de Política de Saúde Pública Brasileira da Segunda República ao Regime Militar
FALEIROS, V. P. Estratégias em Serviço Social. 2. ed. São Paulo: Cortez, 2000.
FLEURY, J. S. F. O “pacto federativo” e a realidade atual. Disponível em: <https://dspace.almg.
gov.br/xmlui/bitstream/handle/11037/1162/001162.pdf?sequence=3>. Acesso em: 30 set. 2015.

FILHO, F. P. Eloy Chaves e as origens da Previdência Social no Brasil. Disponível em: <http://
www.jornalolince.com.br/2011/arquivos/focus-eloy-chaves-edicao040.pdf>. Acesso em: 29 set.
2015.
IAMAMOTO, M. V.; CARVALHO, R. Relações sociais e serviço social no Brasil: esboço de uma
interpretação histórico metodológica. São Paulo: Cortez, 2007.
MONTAÑO, C. Terceiro Setor e Questão Social: crítica ao padrão emergente de intervenção
social. 4. ed. São Paulo: Cortez, 2007.
MORAES, A. de. Direito Constitucional. 19. ed. São Paulo: Atlas, 2006.
SILVA, A. L. H. C. A evolução histórica da Previdência Social no Brasil. Disponível em: <https://
jus.com.br/artigos/12493/a-evolucao-historica-da-previdencia-social-no-brasil/2>. Acesso em:
10 set. 2015.
SPOSATI, A. A menina LOAS: um processo de construção da assistência social. 3. ed. São Paulo:
Cortez, 2007.
162/234 Unidade 4 • História e Conceito de Política de Saúde Pública Brasileira da Segunda República ao Regime Militar
Questão 1
1. O Dr. Eloy Chaves nasceu em:

a) São Paulo;
b) Jundiaí;
c) Pindamonhagaba;
d) Nenhuma das alternativas;
e) Todas as alternativas estão corretas.

163/234
Questão 2
2. A profissão de Eloy Chaves era:

a) médico;
b) engenheiro;
c) advogado;
d) nenhuma das alternativas;
e) todas as alternativas estão corretas.

164/234
Questão 3
3. A primeira IAP foi criada em:

a) 1930.
b) 1931.
c) 1932.
d) 1935.
e) Nenhuma das alternativas.

165/234
Questão 4
4. Em que ano foi criado o Instituto de Aposentadoria e Pensão dos In-
dustriários – IAPI?

a) 1934.
b) 1936.
c) 1935.
d) 1940.
e) Nenhuma das alternativas.

166/234
Questão 5
5. As competências do poder legislativo eram:

a) legislar normas sobre aposentadorias; proteção social ao trabalhador, assistência médica


e sanitária ao trabalhador e à gestante, assegurando a esta o descanso, antes e depois do
parto, sem prejuízo do salário e do emprego;
b) fornecer proteção social ao trabalhador;
c) fornecer a assistência médica e sanitária à gestante;
d) nenhuma das alternativas;
e) todas as alternativas estão corretas.

167/234
Gabarito
1. Resposta: C. e reivindicações dos trabalhadores no
contexto de consolidação dos processos de
O Dr. Eloy Chaves nasceu em industrialização e urbanização brasileiros.
Pindamonhagaba, na cidade de São Paulo,
em 27 de dezembro de 1875. 4. Resposta: B.

2. Resposta: C. No ano de 1936, foi criado o Instituto de


Aposentadoria e Pensão dos Industriários –
Fez faculdade de Direito e aos 20 anos IAPI. Desse eram excluídos os que exerciam
já era Promotor Público em São Roque, atividades industriais exclusivamente
transferindo-se, um tempo depois, para familiares.
Jundiaí, onde advogou, fundou o Colégio
Santo Antônio e iniciou sua carreira 5. Resposta: A.
política, elegendo-se vereador.
O poder legislativo possuía competência
3. Resposta: C. para a) legislar normas sobre
aposentadorias; b) proteção social ao
A primeira IAP foi criada, em 1932, em trabalhador; c) conferência da assistência
resposta, por parte do Estado, às lutas médica e sanitária ao trabalhador e à
168/234
Gabarito
gestante, assegurando a essa o descanso,
antes e depois do parto, sem prejuízo do
salário e do emprego.

169/234
Anexo 1 - Lei Eloy Chaves
Art. 1º Fica criada em cada uma das a) uma contribuição mensal dos
empresas de estradas de ferro existentes empregados, correspondente a 3%
no país uma Caixa de Aposentadoria e dos respectivos vencimentos;
Pensões para os respectivos empregados. b) uma contribuição anual da empresa,
Art. 2º São considerados empregados, correspondente a 1% de sua renda
para os fins da presente lei, não só os bruta;
que prestarem os seus serviços mediante c) a soma que produzir um argumento
ordenado mensal, como os operários de 1,5% sobre as tarifas da estrada de
diaristas, de qualquer natureza, que ferro;
executem serviços de carácter permanente.
d) as importâncias das joias pagas
Parágrafo único. Consideram-se pelos empregados na data da
empregados ou operários permanentes os criação da caixa e pelos admitidos
que tenham mais de seis meses de serviços posteriormente, equivale a um mês
contínuos em uma mesma empresa. de vencimentos e pagas em 24
Art. 3º Formarão os fundos da Caixa a que prestações mensais;
se refere o art. 1º: e) as importâncias pagas pelos
empregados correspondentes
170/234
Anexo 1 - Lei Eloy Chaves
à diferença no primeiro mês de e “e” nos salários de seus empregados,
vencimentos, quando promovidos ou depositando-os mensalmente, bem como
aumentados de vencimentos, pagas as importâncias resultantes das rendas
também em 24 prestações mensais; criadas nas letras “c”, “f”, “g” e “h” do
f) o importe das somas pagas a maior e mesmo artigo, em banco escolhido pela
não reclamadas pelo público dentro administração da Caixa sem dedução de
do prazo de um ano; qualquer parcela.

g) as multas que atinjam o público ou o Art. 5º As empresas ferroviárias entrarão


pessoal; mensalmente para a Caixa, por conta da
contribuição estabelecida na letra “b”,
h) as verbas sob rubrica de venda de do art. 3º, com uma soma equivalente
papel velho e varreduras; à que produzir o desconto determinado
i) os donativos e legados feitos à Caixa; na letra “a” do mesmo artigo. Verificado
anualmente quanto produziu a renda bruta
j) os juros dos fundos acumulados.
da estrada, entrará esta com a diferença
Art. 4º As empresas ferroviárias se o resultado alcançado pela quota de 1%
são obrigadas a fazer os descontos for superior ao desconto nos vencimentos
determinados no art. 3º, letras “a”, “d” do pessoal. Em caso contrário, a empresa
171/234
Anexo 1 - Lei Eloy Chaves
nada terá direito a haver da Caixa, não somas que o Conselho de Administração
sendo admissível, em caso algum, que a fixar como indispensáveis para os
contribuição da empresa seja menor que a pagamentos correntes, e serão aplicados,
de seu pessoal. com prévia resolução do Conselho de
Art. 6º Os fundos e as rendas que se Administração para cada caso na aquisição
obtenham por meio desta lei serão de de títulos de renda nacional ou estadual,
exclusiva propriedade da Caixa e se ou que tenha a garantia da Nação ou dos
destinarão aos fins nela determinados. Estados.

Em nenhum caso e sob pretexto algum, Parágrafo único. Não serão adquiridos
poderão esses fundos ser empregados títulos de Estado que tenha em atraso o
em outros fins, sendo nulos os atos que pagamento de suas dívidas.
isso determinarem sem prejuízo das Art. 8º Os bens de que trata a presente lei
responsabilidades em que incorram os não são sujeitos a penhora ou embargo de
administradores da Caixa. qualquer natureza.
Art. 7º Todos os fundos da Caixa ficarão Art. 9º Os empregados ferroviários, a que
depositados em conta especial no Banco, se refere o art. 2º desta lei, que tenham
escolhido de acordo com o art. 4º, salvo as contribuído para os fundos da Caixa com

172/234
Anexo 1 - Lei Eloy Chaves
os descontos referidos no art. 3º letra “a”, cinco anos de serviço, e será regulada do
terão direito: seguinte modo:
1. a socorros médicos em casos de 1. até 100$000 de salário, 90/100;
doença em sua pessoa ou pessoa de 2. salário entre 100$000 e 300$000,
sua família, que habite sob o mesmo 90$000 mais 75/100 da diferença
teto e sob a mesma economia; entre 101 e 300$000;
2. a medicamentos obtidos por preço 3. salário de mais de 300$000 até
especial determinado pelo Conselho 1:000$000, 250$000 e mais 70/100
de Administração; da diferença entre 301$000 e a
3. aposentadoria; importância de 1:000$000;
4. salário de mais de 1:000$000 até
4. a pensão para seus herdeiros em caso
2:000$000, 250$000 e mais 65/100
de morte.
da diferença entre 301$000 e a
Art. 10. A aposentadoria será ordinária ou importância de 2:000$000;
por invalidez.
5. salário de mais de 2:000$000,
Art. 11. A importância da aposentadoria 250$000 e mais 60/100 da diferença
ordinária se calculará pela média dos entre 301$000 e a importância do
salários percebidos durante os últimos salário.
173/234
Anexo 1 - Lei Eloy Chaves
Art. 12. A aposentadoria ordinária de que Art. 13. A aposentadoria por invalidez
trata o artigo antecedente compete: compete, dentro das condições do art.
a) completa, ao empregado ou operário 11, ao empregado que, depois de 10
que tenha prestado, pelo menos, 30 anos de serviço, for declarado física ou
anos de serviço e tenha 50 anos de intelectualmente impossibilitado de
idade; continuar no exercício do emprego ou
de outro compatível com a sua atividade
b) com 25% de redução, ao empregado habitual ou preparo intelectual.
ou operário que, tendo prestado 30
anos de serviço, tenha menos de 50 Art. 14. A aposentadoria por invalidez
anos de idade; não será concedida sem prévio exame
do médico ou médicos designados
c) com tantos trinta avos quanto forem pela administração da Caixa, em que
os anos de serviço até o máximo de se comprove a incapacidade alegada,
30, ao empregado ou operário que, ficando salvo à administração proceder a
tendo 60 ou mais anos de idade, qualquer outras averiguações que julgar
tenha prestado 25 ou mais, até 30 convenientes.
anos de serviço.

174/234
Anexo 1 - Lei Eloy Chaves
Art. 15. Nos casos de acidente de que Art. 17. Não se concederá aposentadoria,
resultar para o empregado incapacidade em nenhum caso, por invalidez, aos que a
total permanente, terá ele direito à requeiram depois de ter deixado o serviço
aposentadoria, qualquer que seja o seu da respectiva empresa.
tempo de serviço. Art. 18. Os empregados ou operários
Parágrafo único. Quando a incapacidade que forem declarados dispensados por
for permanente e parcial, a importância serem prescindíveis os seus serviços ou
da aposentadoria será calculada na por motivo de economia, terão direito
proporção estabelecida pela tabela anexa de continuar a contribuir para a Caixa, se
ao regulamento baixado com o Decreto nº tiverem mais de cinco anos de serviço, ou a
13.498, de 12 de março de 1919. receber as importâncias com que para ela
Art. 16. Nos casos de acidente de que entraram.
resultar para o empregado incapacidade Art. 19. As aposentadorias por invalidez
temporária, total ou parcial, receberá o serão concedidas em caráter provisório e
mesmo da Caixa indenização estabelecida ficarão sujeitas à revisão.
pela Lei número 3.724, de 15 de janeiro de Art. 20. O direito de pedir aposentadoria
1919. ordinária se extingue quando se

175/234
Anexo 1 - Lei Eloy Chaves
completarem cinco anos da sabida do Art. 23. Para os efeitos da aposentadoria
empregado ou operário da respectiva só se levarão em conta os serviços efetivos,
empresa. ainda que não sejam contínuos, durante
Art. 21. A aposentadoria é vitalícia e o o número de anos requeridos e prestados
direito a percebê-la só se perde por causa em uma ou em mais de uma empresa
expressa nesta lei. ferroviária.

Art. 22. O aposentado por incapacidade Quando a remuneração do trabalho for


permanente e parcial, cujos serviços paga por dia, calcular-se-á um ano de
tenham sido utilizados em outro emprego, serviço para cada 250 dias de serviço
perceberá, além do salário, a fracção efetivo e se tiver sido por hora dividir-
da aposentadoria. Se alcançar os anos se-á por oito o número de horas para
de serviço para obter a aposentadoria estabelecer o número de dias do trabalho
ordinária ser-lhe-á concedida efetivo.
aposentadoria definitiva, igual ao total Art. 24. A fracção que no prazo total de
da ordinária que corresponda ao salário
antiguidade exceder a seis meses será
do seu novo emprego mais a fracção da
calculada por um ano inteiro.
aposentadoria por invalidez que tenha
percebido.
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Anexo 1 - Lei Eloy Chaves
Art. 25. Não poderão ser aposentados os Art. 28. A importância da pensão de que
que forem destituídos dos seus lugares trata o art. 26 será equivalente a 50% da
por não desempenho de seus deveres no aposentadoria percebida ou a que tinha
exercício dos seus cargos. A eles serão, direito o pensionista, e de 25% quando
porém, restituídas as contribuições com o empregado falecido tiver mais de 10 e
que entraram. menos de 30 anos de serviço efetivo.
Art. 26. No caso de falecimento do Parágrafo único. Nos casos de morte
empregado aposentado ou do ativo que por acidente, a proporção será de 50%,
contar mais de 10 anos de serviços efetivos qualquer que seja o número de anos de
nas respectivas empresas, poderão a viúva serviço do empregado falecido.
ou viúvo inválido, os filhos e os pais e irmãs
enquanto solteiras, na ordem da sucessão Art. 29. Por falecimento de qualquer
legal, requerer pensão à Caixa criada por empregado ou operário, qualquer que
esta lei. tenha sido o número de anos, em trabalho
prestado, seus herdeiros terão direito
Art. 27. Nos casos de acidente de trabalho
de receber da Caixa, imediatamente,
têm os mesmos beneficiários direito à
um pecúlio em dinheiro de valor
pensão, qualquer que seja o número de
correspondente à soma das contribuições
anos do empregado falecido.

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Anexo 1 - Lei Eloy Chaves
com que o falecido houver entrado para a sede a empresa. Onde houver mais de
Caixa, não podendo esse pecúlio exceder o uma Vara, competirá à primeira. Esses
limite de 1.000$000. processos terão marcha sumaria e correrão
Art. 30. Não se acumularão duas ou mais independente de qualquer custas e selos.
pensões ou aposentadorias. Ao interessado Art. 32. Logo que seja criado o
cabe optar pela que mais lhe convenha, e, Departamento Nacional do Trabalho,
feita a opção, ficará excluído o direito às competirá ao respectivo diretor o
outras. julgamento de quaisquer recursos das
Art. 31. As aposentadorias e pensões decisões do Conselho de Administração
serão concedidas pelo Conselho de das Caixas de pensões e aposentadorias.
Administração da Caixa, perante o qual Art. 33. Extingue-se o direito à pensão:
deverão ser solicitadas, acompanhadas 1. para a viúva ou viúvo, ou pais quando
de todos os documentos necessários para contraírem novas núpcias;
a sua concessão. Da decisão do Conselho
2. para os filhos desde que completarem
contrária à concessão da aposentadoria
18 anos;
ou pensão haverá recurso para a juiz de
direito do civil da comarca onde tiver 3. para as filhas ou irmãs solteiras,
desde que contraírem matrimônio;
178/234
Anexo 1 - Lei Eloy Chaves
4. em caso de vida desonesta ou forma instituída nesta lei, as quantias a
vagabundagem do pensionista. que estão obrigadas a concorrer para a
Parágrafo único. Não tem direito à pensão criação e manutenção da Caixa incorrerão
a viúva que se achar divorciada ao tempo na multa de 1:000$000 por dia de demora,
do falecimento. até que efetuem o depósito. O Conselho
de Administração da Caixa terá autoridade
Art. 34. As aposentadorias e pensões de
para promover perante o Poder Executivo
que trata a presente lei não estão sujeitas a
ou perante o Poder Judiciário e efetivação
penhora e embargo e são inalienáveis. Será
dessas obrigações.
nula toda a venda, cessão ou constituição
de qualquer ônus que recaia sobre elas. Art. 37. O Conselho de Administração
publicará, anualmente, até o dia 30 de
Art. 35. As empresas ferroviárias são
março de cada ano, um relatório e balanço
obrigadas a fornecer ao Conselho
dando conta do movimento da Caixa no
de Administração da Caixa todas as
ano anterior.
informações que lhes forem por esta
solicitadas sobre o pessoal. Art. 38. A Caixa organizará um
recenseamento dos empregados
Art. 36. As empresas ferroviárias que não
compreendidos na presente lei e um estudo
depositarem no devido tempo, ou pela
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Anexo 1 - Lei Eloy Chaves
documentado sobre as bases técnicas sucessores optar pelo recebimento das
em que estiver operando dentro dos três indenizações estabelecidas na lei nº
primeiros anos da sua vida, de modo a 3.724, de 15 de janeiro de 1919, que,
poder propor as modificações que julgar nesses casos, ficarão a cargo das empresas
convenientes. ferroviárias.
Art. 39. As aposentadorias e pensões Art. 40. O Conselho de Administração
poderão ser menores do que as da Caixa de Aposentadorias e Pensões
estabelecidas nesta lei se os fundos da nomeará o pessoal necessário aos serviços
Caixa não puderem suportar os encargos da mesma e marcará os respectivos
respectivos e enquanto permaneça a vencimentos.
insuficiência desses recursos. Os membros do Conselho de
Parágrafo único. Nos casos de acidente, Administração desempenharão as suas
quando os fundos da Caixa não forem funções gratuitamente.
suficientes para o pagamento da Art. 41. A Caixa de Aposentadorias e
aposentadoria ou pensão, conforme Pensões dos ferroviários será dirigida
as taxas estabelecidas na presente lei, por um Conselho de Administração, de
poderão sempre o empregado ou seus que farão parte o superintendente ou

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Anexo 1 - Lei Eloy Chaves
inspetor geral da respectiva empresa, que se refere a presente lei só poderá ser
dois empregados do quadro – o caixa e demitido no caso de falta grave constatada
o pagador da mesma empresa – e mais em inquérito administrativo, presidido por
dois empregados eleitos pelo pessoal um engenheiro da Inspetoria e Fiscalização
ferroviário, de três em três anos, em das Estradas de Ferro.
reunião convocada pelo superintendente Art. 43. As empresas a que se refere a
ou inspetor da empresa ferroviária. presente lei fornecerão a cada um dos
Será presidente do Conselho o empregados uma caderneta de nomeação,
superintendente ou inspetor geral da de que, além da identidade do mesmo
empresa ferroviária. empregado, constarão a natureza das
Parágrafo único. Se for de nacionalidade funções exercidas, a data de nomeação e
estrangeira o superintendente ou inspetor promoções e vencimentos que percebe.
geral da empresa, será substituído no Art. 44. Os aposentados e pensionistas que
Conselho pelo funcionário de categoria residirem no estrangeiro só perceberão
imediatamente inferior que seja brasileiro. a sua pensão se forem especialmente
Art. 42. Depois de 10 anos de serviços autorizados pela Administração da Caixa.
efetivos, o empregado das empresas a

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Anexo 1 - Lei Eloy Chaves
Art. 45. Aos empregados chamados ao Art. 49. Revogam-se as disposições em
serviço militar serão pagos pelas empresas contrário.
mencionadas no art. 1º, 50% do respectivo Rio de Janeiro, 24 de janeiro de 1923; 102º
vencimento, pelo período em que durar da Independência e 35º da República.
aquele serviço.
Art. 46. São, para os fins da presente lei,
ARTHUR DA SILVA BERNARDES
considerados empregados funcionários os
funcionários das contadorias centrais das Miguel Calmon du Pin e Almeida
estradas de ferro. Francisco Sá
Art. 47. A partir da entrada em execução
da presente lei e para os fins nela visados
NOTA: Foi respeitada a ortografia do original.
ficam argumentadas de 1½% as tarifas das
estradas de ferro. Este texto não substitui a publicação
original de 28/01/1923.
Art. 48. Se dentro de sessenta dias após
a sua publicação não for regulamentada E também publicado na CLBR de
a presente lei, entrará ela em vigor 31/12/1923 - volume 001 - pá. 126 -
independente de regulamentação. coluna 1.

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Unidade 7
História e Conceito de Política de Saúde Pública Brasileira: INPS e Reforma Sanitária – Aspectos
Relevantes das Políticas Públicas dSaúde

Objetivos

1. Compreender o contexto histórico da


saúde pública no Brasil na reforma
sanitária e na criação do INPS.
2. Apresentar uma análise dos aspectos
relevantes das políticas públicas de
saúde neste período.

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1. Introdução

1.1 INPS e Reforma Sanitária categorias de trabalhadores, dos setores


público e privado. Foram criados, também,
O fato considerado como ponto de partida seis institutos de previdência, responsáveis
da Previdência Social propriamente dita no pela gestão e execução da seguridade
país, contudo, é a Lei Elói Chaves (Decreto social brasileira (BEHRING, 2006).
n° 4.682), de 1923, que criou a Caixa de
Em 1933, a previdência iniciou uma nova
Aposentadoria e Pensões para empregados
fase e criou os Institutos de Aposentadorias
de empresas ferroviárias, estabelecendo
e Pensões. E, como cada instituto operava
assistência médica, aposentadoria e
de forma distinta, foi necessária a
pensões, válido, inclusive, para seus
uniformização da legislação aplicável à
familiares. Em três anos, a lei seria
Previdência Social, bem como a unificação
estendida para trabalhadores de empresas
administrativa (BOSCHETTI, 2003).
portuárias e marítimas (CARVALHO, 2006;
COUTO, 2006; IAMAMOTO, 2007). E somente em 1960, com a Lei Orgânica
da Previdência Social, houve a unificação
Na década de 1930, através da
das Leis Previdenciárias. E mais tarde em
promulgação de diversas normas,
1960 ocorreu a unificação administrativa,
os benefícios sociais foram sendo
ocorrendo a inclusão dos Institutos de
implementados para a maioria das
Aposentadoria e Pensão (IAPs), em um
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Desafios de uma Sociedade Multicultural
único órgão então denominado Instituto foram instituídos o Fundo de Garantia por
Nacional de Previdência Social (COUTO, Tempo de Serviço – FGTS, uma indenização
2006). para o trabalhador demitido que também
Em 1960, foi criada a Lei Orgânica pode ser usada para quem quiser comprar
de Previdência Social, unificando a sua casa própria, e o Instituto Nacional de
legislação referente aos institutos de Previdência Social – INPS (atualmente, a
aposentadorias e pensões. A essa altura, a sigla é INSS), que reuniu os seis institutos
Previdência Social já beneficiava todos os de aposentadorias e pensões existentes
trabalhadores urbanos. Os trabalhadores (CARVALHO, 2006).
rurais passariam a ser contemplados em
1963. Em 1964, foi criada uma comissão Link
O Fundo de Garantia do Tempo de Serviço
para reformular o sistema previdenciário,
que culminou com a fusão de todos os IAPs foi instituído pela Lei número 5.107 de 13 de
no INPS (Instituto Nacional da Previdência setembro de 1966 (<http://www.planalto.gov.
Social), criado por Eloah Bosny em 1966 br/ccivil_03/leis/L5107.htm>).
(MONTAÑO, 2006).
O termo “reforma sanitária” foi usado
Em 1966, com a alteração de dispositivos pela primeira vez no país em função da
da Lei Orgânica da Previdência Social,
185/234 Unidade 7 • O Papel dos Órgãos Oficiais na Escola Frente à Demanda por Políticas Educacionais que Atendam aos
Desafios de uma Sociedade Multicultural
reforma sanitária italiana. A expressão Organização Pan-Americana da Saúde
ficou esquecida por um tempo até ser (Opas), em Brasília, esse grupo de pessoas,
recuperada nos debates prévios à 8ª entre os quais estava Sergio Arouca, foi
Conferência Nacional de Saúde, quando chamado de forma pejorativa de “partido
foi usada para se referir ao conjunto sanitário” (BEHRING, 2006).
de ideias que se tinha em relação às Em uma dissertação de mestrado
mudanças e transformações necessárias orientada por Sergio Arouca (1986),
na área da saúde. Essas mudanças não “Reviravolta na saúde: origem e articulação
abarcavam apenas o sistema, mas todo o do movimento sanitário”, a atuação desse
setor saúde, introduzindo uma nova ideia grupo foi chamada pela primeira vez de
na qual o resultado final era entendido movimento sanitário. Surgiram, também,
como a melhoria das condições de vida da outras denominações, como “movimento
população (FALEIROS, 2000). pela reforma sanitária” e “movimento
No início das articulações, o movimento da reforma sanitária”. No livro O dilema
pela reforma sanitária não tinha uma preventivista, uma nota feita por Arouca diz
denominação específica. Era um conjunto que todos esses termos podem ser usados
de pessoas com ideias comuns para o indistintamente.
campo da saúde. Em uma reunião na
186/234 Unidade 7 • O Papel dos Órgãos Oficiais na Escola Frente à Demanda por Políticas Educacionais que Atendam aos
Desafios de uma Sociedade Multicultural
Considerado “o eterno guru da reforma
Para saber mais sanitária”, Sergio Arouca costumava dizer
que o movimento da reforma sanitária
Em seu livro “O dilema preventivista’’ o autor
nasceu dentro da perspectiva da luta
comenta que a Medicina Preventiva emerge em
contra a ditadura. Arouca participou
um campo formado por 3 vertentes: A Higiene,
de perto de todas essas conquistas.
que faz o seu aparecimento no século XIX,
Ele apresentou o documento “Saúde e
intimamente ligada com o desenvolvimento do
Democracia”, presidiu a 8ª Conferência
capitalismo e com a ideologia liberal; A discussão
Nacional de Saúde, apresentou a emenda
dos custos de atenção médica, nas décadas
popular e, como Deputado Federal, foi
de 1930 e 1940 nos Estados Unidos, já sob
designado como relator da extinção do
uma nova divisão de poder internacional e na
Inamps (SPOSATI, 2007).
própria dinâmica da Grande Depressão, que vai
configurar o aparecimento do Estado interventor Entre os resultados do movimento pela
e a terceira o aparecimento de uma redefinição reforma sanitária, ele cita a conquista
das responsabilidades médicas surgida no da universalização na saúde (o princípio
interior da educação médica (<http://teses. constitucional que estabelece que todo
icict.fiocruz.br/pdf/aroucaass.pdf>). brasileiro tem direito à saúde), definindo
com clareza o dever do Estado e a função
187/234 Unidade 7 • O Papel dos Órgãos Oficiais na Escola Frente à Demanda por Políticas Educacionais que Atendam aos
Desafios de uma Sociedade Multicultural
complementar da saúde privada. A A forma de olhar, pensar e refletir o setor
formalização dos Conselhos de Saúde saúde nessa época era muito concentrada
como parte do SUS, tendo 50% de usuários, nas ciências biológicas e na maneira
e a formação da Comissão Nacional da como as doenças eram transmitidas.
Reforma Sanitária, transformou o texto Há uma primeira mudança quando as
da constituinte na Lei Orgânica 8080 teorias das ciências sociais começam
(MORAES, 2006). a ser incorporadas. Essas primeiras
Pouco antes de morrer, Arouca dizia que teorias, no entanto, estavam muito
era preciso retomar os princípios básicos ligadas às correntes funcionalistas, que
da reforma sanitária, que não se resumiam olhavam para a sociedade como um lugar
à criação do SUS. Ela mostrava que o que tendia a viver harmonicamente e
conceito de saúde e doença estava ligado a precisava apenas aparar arestas entre
trabalho, saneamento, lazer e cultura. Por diferentes interesses. A grande virada
isso, era preciso discutir a saúde não como da abordagem da saúde foi a entrada da
política do Ministério da Saúde, mas como teoria marxista, o materialismo dialético e
uma função de Estado permanente. Essa o materialismo histórico, que mostra que
visão certamente estava de acordo com a doença está socialmente determinada
as necessidades de saúde da população
(BEHRING, 2006).
(BEHRING, 2006).
188/234 Unidade 7 • O Papel dos Órgãos Oficiais na Escola Frente à Demanda por Políticas Educacionais que Atendam aos
Desafios de uma Sociedade Multicultural
O movimento da reforma sanitária nasceu conhecimento relevante, reconhecido
no contexto da luta contra a ditadura, no academicamente, difundido e propagado
início da década de 1970. A expressão foi (BRASIL, 2015; PAIM, 2008).
usada para se referir ao conjunto de ideias As propostas da reforma sanitária
que se tinha em relação às mudanças e resultaram, finalmente, na universalidade
transformações necessárias na área da do direito à saúde, oficializado com a
saúde. Essas mudanças buscavam melhoria Constituição Federal de 1988 e a criação
das condições de vida da população na do Sistema Único de Saúde (FLEURY, 2008;
área da saúde. No Brasil, duas teses são BRASIL, 2015).
consideradas um marco divisor de águas
que dá início à teoria social da medicina:
“O dilema preventivista”, de Sergio Arouca, Link
e “Medicina e sociedade”, de Cecília A universalidade é um dos princípios do SUS
Donnangelo, ambas de 1975. A partir daí, que caracteriza a saúde como um direito da
pode-se dizer que foi fundada uma teoria cidadania, ao ser definido pela Constituição
médico-social para análise de como as Federal como um direito de todos e um dever do
coisas se processam no campo da saúde Estado (<http://books.scielo.org/id/98kjw/
no país. Essa nova abordagem se torna pdf/noronha-9788581100173-03.pdf>).

189/234 Unidade 7 • O Papel dos Órgãos Oficiais na Escola Frente à Demanda por Políticas Educacionais que Atendam aos
Desafios de uma Sociedade Multicultural
Durante a década de 1970, surgiram o Sistema Nacional de Previdência e
inovações importantes na legislação Assistência Social (SINPAS), reorganizaria
previdenciária, dentre elas: a criação do a gestão administrativa, financeira e
salário-maternidade e do salário-família. patrimonial (CARVALHO, 2006).
A reunião dessas e de outras formas Com a Constituição Federal de 1988, foi
legais surgidas resultou na criação da instituída a Seguridade Social, com base
Consolidação das Leis da Previdência no tripé Saúde, Previdência e Assistência
Social (CLPS), em 1976 (CASTEL, 1998; Social. Foram incluídas, assim, as
BOSCHETTI, 2003). aposentadorias, pensões, auxílio-doença,
Em 1974, foi criado o Ministério da salário-maternidade, salário-família,
Previdência e Assistência Social. Até auxílio reclusão, SUS (Sistema Único de
então, o tema ficava sob o comando do Saúde), além de outros direitos garantidos
Ministério do Trabalho e Emprego (na pelo Regime Geral da Previdência Social
época, chamado Ministério do Trabalho e (FLEURY, 2008).
Previdência Social). No ano de 1977, com
o objetivo de reestruturar a Previdência
Social e as formas de manutenção e
concessão dos benefícios e serviços,
190/234 Unidade 7 • O Papel dos Órgãos Oficiais na Escola Frente à Demanda por Políticas Educacionais que Atendam aos
Desafios de uma Sociedade Multicultural
Dentre os diversos atores do movimento
Para saber mais sanitário, destacam-se ainda os médicos
O preâmbulo da nossa Constituição Federal
residentes, que, na época, trabalhavam
contém os seguintes dizeres ‘’Nós, representantes
sem carteira assinada e com uma carga
do povo brasileiro, reunidos em Assembléia
horária excessiva, as primeiras greves
Nacional Constituinte para instituir um Estado
realizadas depois de 1968, e os sindicatos
Democrático, destinado a assegurar o exercício
médicos, que também estavam em fase
dos direitos sociais e individuais, a liberdade,
de transformação. Esse movimento
a segurança, o bem-estar, o desenvolvimento,
entra também nos conselhos regionais,
a igualdade e a justiça como valores supremos
no Conselho Nacional de Medicina e
de uma sociedade fraterna, pluralista e sem
na Associação Médica Brasileira – as
preconceitos, fundada na harmonia social e
entidades médicas começam a ser
comprometida, na ordem interna e internacional,
renovadas (COUTO, 2006).
com a solução pacífica das controvérsias, A criação do Centro Brasileiro de Estudos
promulgamos, sob a proteção de Deus, a seguinte de Saúde (Cebes), em 1976, também é
CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO importante na luta pela reforma sanitária.
BRASIL (<www.planalto.gov.br>). A entidade surge com o propósito de
lutar pela democracia, de ser um espaço
191/234 Unidade 7 • O Papel dos Órgãos Oficiais na Escola Frente à Demanda por Políticas Educacionais que Atendam aos
Desafios de uma Sociedade Multicultural
de divulgação do movimento sanitário, Escola Nacional de Saúde Pública (Ensp),
e reúne pessoas que já pensavam dessa da Fundação Oswaldo Cruz, se incorpora
forma e realizavam projetos inovadores como espaço de atuação da abordagem
(SPOSATI, 2007). marxista da saúde. Vários projetos de
saúde comunitária, como clínica de família
e pesquisas comunitárias, começaram
Link a ser elaborados e pessoas que faziam
O CEBES é uma entidade organizada, política em todo Brasil foram treinadas
originalmente, por um grupo de alunos do I (BOSCHETTI, 2003).
Curso de Especialização em Saúde Pública para o A extensão dos benefícios da previdência
Nível Local, da Universidade de São Paulo - USP a todos os trabalhadores se dá com a
(<http://cebes.org.br/>). Constituição de 1988, que passou a
garantir renda mensal vitalícia a idosos
Entre 1974 e 1979, diversas experiências e portadores de deficiência, desde que
institucionais tentam colocar em prática comprovada a baixa renda e que tenham
algumas diretrizes da reforma sanitária, qualidade de segurado. Em 1990, o INPS
como descentralização, participação e mudou de nome, passando a ser chamado
organização. É nesse momento que a de INSS – Instituto Nacional de Seguridade
192/234 Unidade 7 • O Papel dos Órgãos Oficiais na Escola Frente à Demanda por Políticas Educacionais que Atendam aos
Desafios de uma Sociedade Multicultural
Social. Órgão resultante da fusão entre das mulheres, e 30 a 35 anos, no caso
o INPS e o IAPAS, com a atribuição dos homens, sem limite mínimo de idade
de gerenciamento das contribuições (FLEURY, 2008).
sociais destinadas ao financiamento da A DATAPREV permanece atuando na
previdência social, além de assegurar ao prestação de serviços de processamento
trabalhador o direito do recebimento dos de dados aos órgãos do MPAS. No ano
benefícios por ela administrados. Os outros de 1994, o reajuste dos benefícios
órgãos que faziam parte do SINPAS foram previdenciários foi desatrelado do reajuste
paulatinamente sendo extintos: o INAMPS do Salário-mínimo. Em seguida, foi criado
em 1993, a LBA e a FUNABEM em 1995 e o o Fator Previdenciário. Trata-se de uma
CEME em 1997 (SPOSATI, 2007). regra matemática que diminui o valor do
Em dezembro de 1998, o governo mudou benefício: quanto mais jovem o trabalhador
as regras da previdência, passando a exigir alcança o tempo de se aposentar, menos
uma idade mínima para a aposentadoria, irá receber (IAMAMOTO, 2007).
que, no caso das mulheres, é de 55 anos,
e do homem, 60 anos. Anteriormente,
a aposentadoria valia para quem
contribuísse por 25 a 30 anos, no caso
193/234 Unidade 7 • O Papel dos Órgãos Oficiais na Escola Frente à Demanda por Políticas Educacionais que Atendam aos
Desafios de uma Sociedade Multicultural
• o benefício salário-família seria
Para saber mais devido somente ao trabalhador de
O fator previdenciário é um instituto que
baixa renda;
se insere na fórmula de cálculo da renda • a proibição de qualquer trabalho
mensal inicial da aposentadoria por tempo de para menores de 16 anos, salvo na
contribuição e da aposentadoria por idade, condição de aprendiz a partir dos 14
instituído no ordenamento jurídico brasileiro anos;
pela Lei número 9.876 de 26 de novembro
• o estabelecimento de novas regras
de 1999, após desconstitucionalização
para concessão de benefícios
material feita pela EC número 20/98 (<www.
previdenciários a funcionários
conteudojuridico.com.br>).
públicos;
• a criação de diretrizes para o regime
No mês de dezembro de 1998, uma
de Previdência Privada.
Emenda Constitucional provoca diversas
mudanças no sistema de Previdência Atualmente, a Previdência continua
Social, das quais se destacam (BEHRING, passando por constantes reformulações.
2006): Dentre elas, destaca-se a Ampliação da
Licença-maternidade de quatro para seis
194/234 Unidade 7 • O Papel dos Órgãos Oficiais na Escola Frente à Demanda por Políticas Educacionais que Atendam aos
Desafios de uma Sociedade Multicultural
meses e a obrigatoriedade da contribuição
de, no mínimo, treze anos e meio para
aqueles que desejam se aposentar por
idade (SPOSATI, 2007).

195/234 Unidade 7 • O Papel dos Órgãos Oficiais na Escola Frente à Demanda por Políticas Educacionais que Atendam aos
Desafios de uma Sociedade Multicultural
Glossário
DATAPREV: Empresa de Tecnologia e Informações da Previdência Social
IAP: Instituto de Aposentadoria e Pensão (IAP)
INPS: Instituto Nacional de Seguridade Social

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Desafios de uma Sociedade Multicultural
?
Questão
para
reflexão

Como você pode perceber, o histórico da criação do


INPS foi um outro marco para a nossa política pública
em saúde. Reflita sobre esse tópico e descreva em qual
situação este órgão atua na vida da população em geral
de forma a contribuir para a assistência à saúde pública.

197/234
Considerações Finais

O fato considerado como ponto de partida da Previdência Social é a Lei Elói


Chaves (Decreto n° 4.682), de 1923, que criou a Caixa de Aposentadoria
e Pensões para empregados de empresas ferroviárias, estabelecendo
assistência médica, aposentadoria e pensões, válidos inclusive para seus
familiares;
em 1960, com a Lei Orgânica da Previdência Social, houve a unificação das
Leis Previdenciárias, ocorrendo a unificação administrativa, do Instituto
de Aposentadoria e Pensão (IAP), em um único órgão então denominado
Instituto Nacional de Previdência Social (INPS).

198/234
Referências

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BOBBIO, N. A era dos direitos. Rio de Janeiro: Campus, 2004.
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CARVALHO, R. T. Imunidade Tributária e Contribuições para a Seguridade Social. Rio de
Janeiro: Renovar, 2006.
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FLEURY, J. S. F. O “pacto federativo” e a realidade atual. Disponível em: <https://dspace.almg.
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IAMAMOTO, M. V.; CARVALHO, R. Relações sociais e serviço social no Brasil: esboço de uma
interpretação histórico metodológica. São Paulo: Cortez, 2007.

199/234 Unidade 4 • História e Conceito de Política de Saúde Pública Brasileira da Segunda República ao Regime Militar
MONTAÑO, C. Terceiro Setor e Questão Social: crítica ao padrão emergente de intervenção
social. 4. ed. São Paulo: Cortez, 2007.
MORAES, A. de. Direito Constitucional. 19 ed. SP: Atlas, 2006.
MINISTÉRIO DA SAÚDE. Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca – FIOCRUZ. Disponível
em: <http://www.ensp.fiocruz.br/>. Acesso em: 10 set. 2015.
SPOSATI, A. A menina LOAS: um processo de construção da assistência social. 3. ed. São Paulo:
Cortez, 2007.
ROYQUAROL, M. Z. Epidemiologia e saúde. Rio de Janeiro: Medsi, 2003.

200/234 Unidade 4 • História e Conceito de Política de Saúde Pública Brasileira da Segunda República ao Regime Militar
Questão 1
1. Qual foi considerado o ponto de partida da previdência social no país?

a) Lei Elói Chaves (Decreto n° 4.682) de 1923.


b) Lei 8080 de 1990.
c) Lei 8142 de 1990.
d) Nenhuma das alternativas.
e) Todas as alternativas estão corretas

201/234
Questão 2
2. Em que ano foi criada a comissão que reformulou o sistema
previdenciário e que culminou com a fusão de todos os IAPs no INPS
(Instituto Nacional da Previdência Social), criado por Eloah Bosny em 1966?

a) 1964.
b) 1965.
c) 1966.
d) Nenhuma das alternativas.
e) Todas as alternativas estão corretas.

202/234
Questão 3
3. Em qual ano foi reestruturada a Previdência Social e as formas de ma-
nutenção e concessão dos benefícios e serviços, sendo criado o Sistema
Nacional de Previdência e Assistência Social (SINPAS), abrangendo os se-
guintes órgãos: INPS, IAPAS, INAMPS, FUNABEM, LBA, CEME e DATAPREV?

a) 1975.
b) 1976.
c) 1977.
d) Nenhuma das alternativas.
e) Todas as alternativas estão corretas.

203/234
Questão 4
4. Em que ano o INPS mudou de nome, passando a ser chamado de INSS
– Instituto Nacional de Seguridade Social?

a) 1989.
b) 1990.
c) 1991.
d) 1992.
e) Nenhuma das alternativas.

204/234
Questão 5
5. Em que ano uma Emenda Constitucional provoca diversas mudanças
no sistema de previdência social?

a) 1989.
b) 1998.
c) 1991.
d) 1992.
e) Nenhuma das alternativas.

205/234
Gabarito
1. Resposta: A. 3. Resposta: C.

O fato considerado como ponto de partida No ano de 1977, com o objetivo de


da previdência social propriamente dita no reestruturar a Previdência Social e as
país, contudo, é a Lei Elói Chaves (Decreto formas de manutenção e concessão dos
n° 4.682), de 1923, que criou a Caixa de benefícios e serviços, além de reorganizar
Aposentadoria e Pensões para empregados a gestão administrativa, financeira e
de empresas ferroviárias, estabelecendo patrimonial, foi criado o Sistema Nacional
assistência médica, aposentadoria e de Previdência e Assistência Social
pensões, válidos, inclusive, para seus (SINPAS), abrangendo os seguintes órgãos:
familiares. INPS, IAPAS, INAMPS, FUNABEM, LBA,
CEME e DATAPREV.
2. Resposta: A.
4. Resposta: B.
Em 1964, foi criada uma comissão para
reformular o sistema previdenciário, que Em 1990, o INPS mudou de nome,
culminou com a fusão de todos os IAPs no passando a ser chamado de INSS – Instituto
INPS (Instituto Nacional da Previdência Nacional de Seguridade Social. Órgão
Social), criado por Eloah Bosny em 1966.
206/234
Gabarito
resultante da fusão entre o INPS e o IAPAS, • a proibição de qualquer trabalho
com a atribuição de gerenciamento para menores de 16 anos, salvo na
das contribuições sociais destinadas ao condição de aprendiz a partir dos 14
financiamento da Previdência Social, além anos;
de assegurar ao trabalhador o direito • o estabelecimento das novas regras
do recebimento dos benefícios por ela para concessão de benefícios
administrados. previdenciários a funcionários
públicos;
5. Resposta: B.
• a criação das diretrizes para o regime
No mês de dezembro de 1998, uma de Previdência Privada.
Emenda Constitucional provoca diversas
mudanças no sistema de Previdência
Social, das quais se destacam:
• o benefício salário-família seria
devido somente ao trabalhador de
baixa renda;

207/234
Unidade 8
SUS – A Organização e o Funcionamento

Objetivos

1. Compreender o contexto histórico da


criação do SUS.
2. Apresentar uma análise da
organização e o funcionamento do
SUS.

208/234
1. Introdução

A Lei Nº 8.080, de 19 de setembro de 1990,


em seu artigo 1º, regulamenta o Sistema
Único de Saúde em todo o território
Link
A promoção da saúde envolve duas dimensões:
nacional, dispondo sobre as condições para
a conceitual – princípios, premissas e conceitos
a promoção, proteção e recuperação da
que sustentam o discurso da promoção da
saúde, a organização e o funcionamento
saúde e a metodológica que se refere às
dos serviços executados isolada ou
práticas, planos de ação, estratégia, formas
conjuntamente, em caráter permanente ou
de intervenção e instrumental metodológico
eventual, por pessoas naturais ou jurídicas
(<www.scielosp.org>).
de direito público ou privado (TEIXEIRA,
2005; TEIXEIRA 2006).
A saúde é assegurada como um direito
fundamental do ser humano, em seu artigo
2º, devendo obrigatoriamente o Estado
prover essas condições indispensáveis ao
seu pleno exercício. Deve esse garantir a
saúde em toda a formulação e execução
das políticas econômicas e sociais que
visem à redução de riscos de doenças e de
209/234 Unidade 8 • SUS – A Organização e o Funcionamento
outros agravos e no estabelecimento de Essa lei garante às pessoas e à coletividade
condições que assegurem acesso universal as condições de bem-estar físico, mental e
e igualitário às ações e aos serviços para social. Estão inclusas nessa lei o conjunto
a sua promoção, proteção e recuperação de ações e serviços de saúde, prestados
(TEIXEIRA, 2009). por órgãos e instituições públicas federais,
estaduais e municipais, da Administração
direta e indireta e das fundações
Para saber mais mantidas pelo Poder Público (PAIM, 2008).
É importante ressaltar ainda que o dever do A lei autoriza a iniciativa privada na
Estado não exclui o das pessoas, da família, das participação do Sistema Único de Saúde
empresas e da sociedade. E que a saúde tem como (SUS), em caráter complementar. Destaca
fatores determinantes e condicionantes, entre os seguintes objetivos do SUS (TEIXEIRA,
outros, a alimentação, a moradia, o saneamento 2005; BRASIL, 2015):
básico, o meio ambiente, o trabalho, a renda, a
I. a identificação e divulgação
educação, o transporte, o lazer e o acesso aos
dos fatores condicionantes e
bens e serviços essenciais (TEIXEIRA, 2005).
determinantes da saúde;

210/234 Unidade 8 • SUS – A Organização e o Funcionamento


II. a formulação de política de saúde d) de assistência terapêutica integral,
destinada a promover, nos campos inclusive farmacêutica;
econômico e social; II. a participação na formulação da
III. a assistência às pessoas por política e na execução de ações de
intermédio de ações de promoção, saneamento básico;
proteção e recuperação da saúde, III. a ordenação da formação de recursos
com a realização integrada das humanos na área de saúde;
ações assistenciais e das atividades IV. a vigilância nutricional e a orientação
preventivas. alimentar;
A lei menciona que estão incluídas ainda
no campo de atuação do Sistema Único de Link
As ações práticas de vigilância alimentar e
Saúde (TEIXEIRA, 2006; BRASIL, 2015):
nutricional têm como enfoque prioritário
I. a execução de ações:
resgatar hábitos e práticas alimentares
a) de vigilância sanitária; regionais/tradicionais que valorizem a produção
b) de vigilância epidemiológica; e o consumo de alimentos locais de baixo custo e
elevado valor nutritivo (<https://www.unicef.
c) de saúde do trabalhador;
org/brazil/pt/br_cartilha_sisvan.pdf>).

211/234 Unidade 8 • SUS – A Organização e o Funcionamento


V. a colaboração na proteção do meio substâncias e produtos psicoativos,
ambiente, nele compreendido o do tóxicos e radioativos;
trabalho; X. o incremento, em sua área de
VI. a formulação da política de atuação, do desenvolvimento
medicamentos, equipamentos, científico e tecnológico;
imunobiológicos e outros insumos XI. a formulação e execução da política
de interesse para a saúde e a de sangue e seus derivados.
participação na sua produção;
VII. o controle e a fiscalização de
serviços, produtos e substâncias de Para saber mais
interesse para a saúde; A VISA é definida como ‘’um conjunto de ações
VIII. a fiscalização e a inspeção de capaz de eliminar, diminuir ou prevenir riscos
alimentos, água e bebidas para à saúde e de intervir nos problemas sanitários
consumo humano; decorrentes do meio ambiente, da produção e
circulação de bens e da prestação de serviços de
IX. a participação no controle e
interesse da saúde’’ (Royquarol, 2003. p. 686).
na fiscalização da produção,
transporte, guarda e utilização de

212/234 Unidade 8 • SUS – A Organização e o Funcionamento


Abrange as seguintes funções: (BOBBIO, 2000):
I. o controle de bens de consumo que, direta ou indiretamente, se relacionem com a saúde,
compreendidas todas as etapas e processos, da produção ao consumo;
II. o controle da prestação de serviços que se relacionam direta ou indiretamente com a saúde.

Para saber mais


A VE é definida como ‘’um conjunto de ações que proporcionam o conhecimento, a detecção ou
prevenção de qualquer mudança nos fatores determinantes e condicionantes de saúde individual ou
coletiva, com a finalidade de recomendar e adotar as medidas de prevenção e controle das doenças ou
agravos’’ (Royquarol, 2003. p. 686).

Explica também que a saúde do trabalhador é um conjunto de atividades que se destina,


através das ações de vigilância epidemiológica e vigilância sanitária, à promoção e proteção
da saúde dos trabalhadores, assim como visa à recuperação e reabilitação da saúde dos
trabalhadores submetidos aos riscos e agravos advindos das condições de trabalho,
abrangendo (TEIXEIRA, 2006; BRASIL, 2015):

213/234 Unidade 8 • SUS – A Organização e o Funcionamento


I. assistência ao trabalhador vítima de máquinas e de equipamentos que
acidentes de trabalho ou portador apresentam riscos à saúde do
de doença profissional e do trabalhador;
trabalho; IV. avaliação do impacto que as
II. participação, no âmbito de tecnologias provocam à saúde;
competência do Sistema Único de V. informação ao trabalhador e à
Saúde (SUS), em estudos, pesquisas, sua respectiva entidade sindical
avaliação e controle dos riscos e às empresas sobre os riscos de
e agravos potenciais à saúde acidentes de trabalho, doença
existentes no processo de trabalho; profissional e do trabalho, bem
III. participação, no âmbito de como os resultados de fiscalizações,
competência do Sistema Único avaliações ambientais e exames de
de Saúde (SUS), da normatização, saúde, de admissão, periódicos e de
fiscalização e controle das demissão, respeitados os preceitos
condições de produção, extração, da ética profissional;
armazenamento, transporte, VI. participação na normatização,
distribuição e manuseio de fiscalização e controle dos serviços
substâncias, de produtos, de de saúde do trabalhador nas
214/234 Unidade 8 • SUS – A Organização e o Funcionamento
instituições e empresas públicas e conveniados que integram o Sistema Único
privadas; de Saúde (SUS) serão desenvolvidos de
VII. revisão periódica da listagem acordo com as diretrizes previstas no art.
oficial de doenças originadas no 198 da Constituição Federal, obedecendo
processo de trabalho, tendo na ainda aos seguintes princípios (BRASIL,
sua elaboração a colaboração das 2015):
entidades sindicais; e I. universalidade de acesso aos
VIII. a garantia ao sindicato dos serviços de saúde em todos os níveis
trabalhadores de requerer ao de assistência;
órgão competente a interdição II. integralidade de assistência,
de máquina, de setor de serviço entendida como conjunto
ou de todo ambiente de trabalho, articulado e contínuo das ações e
quando houver exposição a risco serviços preventivos e curativos,
iminente para a vida ou saúde dos individuais e coletivos, exigidos para
trabalhadores. cada caso em todos os níveis de
E, ainda dentro da organização, destaca complexidade do sistema;
que as ações e serviços públicos de saúde
e os serviços privados contratados ou
215/234 Unidade 8 • SUS – A Organização e o Funcionamento
III. preservação da autonomia IX. descentralização político-
das pessoas na defesa de sua administrativa, com direção única
integridade física e moral; em cada esfera de governo:
IV. igualdade da assistência à saúde, a) ênfase na descentralização dos
sem preconceitos ou privilégios de serviços para os municípios;
qualquer espécie; b) regionalização e hierarquização da
V. direito à informação, às pessoas rede de serviços de saúde;
assistidas, sobre sua saúde;
X. integração em nível executivo das
VI. divulgação de informações quanto ações de saúde, meio ambiente e
ao potencial dos serviços de saúde e saneamento básico;
a sua utilização pelo usuário;
XI. conjugação dos recursos
VII. utilização da epidemiologia para o financeiros, tecnológicos, materiais
estabelecimento de prioridades, a e humanos da União, dos Estados,
alocação de recursos e a orientação do Distrito Federal e dos Municípios
programática; na prestação de serviços de
VIII. participação da comunidade; assistência à saúde da população;

216/234 Unidade 8 • SUS – A Organização e o Funcionamento


XII. capacidade de resolução dos
serviços em todos os níveis de
assistência;
Link
Dentro do funcionamento do SUS, foram criadas
XIII. organização dos serviços públicos
as comissões intersetoriais de âmbito nacional,
de modo a evitar duplicidade de
subordinadas ao Conselho Nacional de Saúde,
meios para fins idênticos.
integradas pelos Ministérios e órgãos competentes e
Ainda dentro da organização do SUS, esse por entidades representativas da sociedade civil, que
será estruturado no âmbito da União, pelo tem a finalidade de articular políticas e programas
Ministério da Saúde, no âmbito dos Estados de interesse para a saúde, cuja execução envolva
e do Distrito Federal, pela respectiva áreas não compreendidas no âmbito do Sistema
Secretaria de Saúde ou órgão equivalente e Único de Saúde (<http://conselho.saude.gov.br/
no âmbito dos Municípios, pela respectiva legislacao/lei8080.htm>).
Secretaria de Saúde ou órgão equivalente
(TEIXEIRA, 2005; TEIXEIRA, 2006).
A articulação das políticas e programas,
a cargo das comissões intersetoriais,
deverá abranger, em especial, as seguintes
atividades (BRASIL, 2015):

217/234 Unidade 8 • SUS – A Organização e o Funcionamento


I. alimentação e nutrição; II. administração dos recursos
II. saneamento e meio ambiente; orçamentários e financeiros
destinados, em cada ano, à saúde;
III. vigilância sanitária e fármaco
epidemiologia; III. acompanhamento, avaliação
e divulgação do nível de saúde
IV. recursos humanos;
da população e das condições
V. ciência e tecnologia; e ambientais;
VI. saúde do trabalhador. IV. organização e coordenação do
De acordo com a legislação em questão, sistema de informação de saúde;
a União, os Estados, o Distrito Federal e V. elaboração de normas técnicas e
os Municípios exercerão, em seu âmbito estabelecimento de padrões de
administrativo, as seguintes atribuições qualidade e parâmetros de custos
(BRASIL, 2015): que caracterizam a assistência à
saúde;
I. definição das instâncias e
mecanismos de controle, avaliação VI. elaboração de normas técnicas e
e de fiscalização das ações e estabelecimento de padrões de
serviços de saúde; qualidade para promoção da saúde
do trabalhador;
218/234 Unidade 8 • SUS – A Organização e o Funcionamento
VII. participação de formulação da de saúde, tendo em vista a sua
política e da execução das ações de relevância pública;
saneamento básico e colaboração XII. realização de operações externas
na proteção e recuperação do meio de natureza financeira de interesse
ambiente; da saúde, autorizadas pelo Senado
VIII. elaboração e atualização periódica Federal;
do plano de saúde; XIII. para atendimento de necessidades
IX. participação na formulação e na coletivas, urgentes e transitórias,
execução da política de formação decorrentes de situações de perigo
e desenvolvimento de recursos iminente, de calamidade pública
humanos para a saúde; ou de irrupção de epidemias, a
X. elaboração da proposta autoridade competente da esfera
orçamentária do Sistema Único de administrativa correspondente
Saúde (SUS), de conformidade com poderá requisitar bens e serviços,
o plano de saúde; tanto de pessoas naturais como de
jurídicas, sendo-lhes assegurada
XI. elaboração de normas para regular
justa indenização;
as atividades de serviços privados

219/234 Unidade 8 • SUS – A Organização e o Funcionamento


XIV. implementar o Sistema Nacional de XVIII. promover a articulação da política e
Sangue, Componentes e Derivados; dos planos de saúde;
XV. propor a celebração de convênios, XIX. realizar pesquisas e estudos na área
acordos e protocolos internacionais de saúde;
relativos à saúde, saneamento e XX. definir as instâncias e mecanismos
meio ambiente; de controle e fiscalização inerentes
XVI. elaborar normas técnico- ao poder de polícia sanitária;
científicas de promoção, proteção e XXI. fomentar, coordenar e executar
recuperação da saúde; programas e projetos estratégicos e
XVII. promover articulação com os de atendimento emergencial.
órgãos de fiscalização do exercício E, por fim, a direção nacional do Sistema
profissional e outras entidades Único da Saúde (SUS) ficará responsável em
representativas da sociedade civil (BRASIL, 2015):
para a definição e controle dos
I. formular, avaliar e apoiar políticas
padrões éticos para pesquisa, ações
de alimentação e nutrição;
e serviços de saúde;
II. participar na formulação e na
implementação das políticas:
220/234 Unidade 8 • SUS – A Organização e o Funcionamento
a) de controle das agressões ao meio ou dele decorrentes, que tenham
ambiente; repercussão na saúde humana;
b) de saneamento básico; V. participar da definição de normas,
critérios e padrões para o controle
c) relativas às condições e aos
das condições e dos ambientes de
ambientes de trabalho;
trabalho e coordenar a política de
III. definir e coordenar os sistemas: saúde do trabalhador;
a) de redes integradas de assistência VI. coordenar e participar na
de alta complexidade; execução das ações de vigilância
b) de rede de laboratórios de saúde epidemiológica;
pública; VII. estabelecer normas e executar
c) de vigilância epidemiológica; a vigilância sanitária de portos,
aeroportos e fronteiras, podendo
d) vigilância sanitária; a execução ser complementada
IV. participar da definição de normas pelos Estados, Distrito Federal e
e mecanismos de controle, de Municípios;
agravo sobre o meio ambiente

221/234 Unidade 8 • SUS – A Organização e o Funcionamento


VIII. estabelecer critérios, parâmetros
e métodos para o controle da
qualidade sanitária de produtos,
substâncias e serviços de consumo
e uso humano.

222/234 Unidade 8 • SUS – A Organização e o Funcionamento


Glossário
SUS: Sistema Único de Saúde.
VISA: Vigilância Sanitária.
VE: Vigilância Epidemiológica.

223/234 Unidade 8 • SUS – A Organização e o Funcionamento


?
Questão
para
reflexão

Como você pode perceber, o funcionamento e


organização do SUS é definido na Lei 8080/90. Reflita
sobre essa lei e descreva em quais aspectos ela ajuda
na sua assistência perante a população brasileira.

224/234
Considerações Finais

A Lei 8.080 regulamenta o SUS em todo o território nacional, dispondo


sobre as condições para a promoção, proteção e recuperação da saúde, a
organização e o funcionamento dos serviços de saúde público ou privado;
a saúde é assegurada como um direito fundamental do ser humano, devendo
o Estado prover estas condições indispensáveis ao seu pleno exercício;
os princípios destacados na lei são: universalidade de acesso, integralidade
de assistência, preservação da autonomia das pessoas na defesa de sua
integridade física e moral, igualdade da assistência à saúde, direito à
informação, divulgação de informações, utilização da epidemiologia,
participação da comunidade, descentralização, regionalização e
hierarquização da rede de serviços de saúde, integração em nível executivo
das ações de saúde, conjugação dos recursos financeiros, tecnológicos,
materiais e humanos, capacidade de resolução dos serviços e organização
dos serviços públicos.

225/234
Referências

BOBBIO, N. Teoria geral da política: A filosofia política e as lições dos clássicos. 2. ed. Rio de
Janeiro: Editora Campus. 2000.
BRASIL. Conselho Nacional de Secretários de Saúde – CONASS. Legislação do SUS. 20. ed.
Brasília: 2003.
PAIM, J. S. Reforma Sanitária Brasileira: contribuição para compreensão e crítica. Salvador:
EDUFBA, 2008.
TEIXEIRA, C. F. O SUS e a Vigilância da Saúde. PROFORMAR. FIOCRUZ, Rio de Janeiro, 2003.
______. Equidade, Cidadania, Justiça e Saúde. Paper elaborado para o Curso Internacional
sobre Desarrollo de Sistemas de Salud, OPS-OMS/ASDI. Nicarágua, 2005.
______. Modelo de atenção à saúde: Promoção, Vigilância Saúde da Família. CEPS-ISC -
EDUFBA, Salvador, Bahia, 2006.
______. O processo de formulação da Política de Saúde da população negra em Salvador,
2005-2006. CNPq, ISC-UFBA, Salvador, 2009.
ROYQUAROL, M. Z. Epidemiologia e saúde. Rio de Janeiro: Medsi, 2003.

226/234 Unidade 8 • SUS – A Organização e o Funcionamento


Questão 1
1. Qual é a lei que regulamenta o SUS em todo o território nacional, que
dispõe sobre as condições para a promoção, proteção e recuperação da
saúde?

a) Lei Elói Chaves (Decreto n° 4.682) de 1923.


b) Lei 8080 de 1990.
c) Lei 8142 de 1990.
d) Nenhuma das alternativas.
e) Todas as alternativas estão corretas.

227/234
Questão 2
2. Quais os princípios do SUS?

a) Universalidade de acesso, integralidade de assistência, preservação da autonomia das


pessoas na defesa de sua integridade física e moral, igualdade da assistência à saúde.
b) Universalidade de acesso, integralidade de assistência, preservação da autonomia das
pessoas na defesa de sua integridade física e moral, igualdade da assistência à saúde,
direito à informação, divulgação de informações, utilização da epidemiologia.
c) Universalidade de acesso, integralidade de assistência, preservação da autonomia das
pessoas na defesa de sua integridade física e moral, igualdade da assistência à saúde,
direito à informação, divulgação de informações, utilização da epidemiologia, participação
da comunidade, descentralização, regionalização e hierarquização da rede de serviços
de saúde, integração em nível executivo das ações de saúde, conjugação dos recursos
financeiros, tecnológicos, materiais e humanos, capacidade de resolução dos serviços e
organização dos serviços públicos.
d) Nenhuma das alternativas.
e) Todas as alternativas estão corretas.

228/234
Questão 3
3. As comissões intersetoriais de âmbito nacional, integradas pelos Mi-
nistérios e órgãos competentes e por entidades representativas da socie-
dade civil, são subordinadas por qual órgão?

a) Subordinadas ao Conselho Nacional de Saúde.


b) CONASS.
c) Ministério da Educação.
d) Ministério da Cultura.
e) Nenhuma das alternativas.

229/234
Questão 4
4. A VISA é definida como

a) um conjunto de normas;
b) um conjunto de medidas;
c) um conjunto de ações capaz de eliminar, diminuir ou prevenir riscos à saúde e de intervir
nos problemas sanitários decorrentes do meio ambiente, da produção e circulação de bens
e da prestação de serviços de interesse da saúde;
d) nenhuma das alternativas;
e) todas as alternativas estão corretas.

230/234
Questão 5
5. A VE é definida como:

a) um conjunto de normas;
b) um conjunto de ações que proporcionam o conhecimento, a detecção ou prevenção de
qualquer mudança nos fatores determinantes e condicionantes de saúde individual ou
coletiva, com a finalidade de recomendar e adotar as medidas de prevenção e controle das
doenças ou agravos;
c) um conjunto de medidas preventivas;
d) nenhuma das alternativas;
e) todas as alternativas estão corretas.

231/234
Gabarito
1. Resposta: B. das pessoas na defesa de sua integridade
física e moral, igualdade da assistência à
A Lei Nº 8.080, de 19 de setembro de 1990, saúde, direito à informação, divulgação de
em seu artigo 1º, regulamenta o Sistema informações, utilização da epidemiologia,
Único de Saúde em todo o território participação da comunidade,
nacional, dispondo sobre as condições para descentralização, regionalização e
a promoção, proteção e recuperação da hierarquização da rede de serviços de
saúde, a organização e o funcionamento saúde, integração em nível executivo das
dos serviços executados isolada ou ações de saúde, conjugação dos recursos
conjuntamente, em caráter permanente ou financeiros, tecnológicos, materiais e
eventual, por pessoas naturais ou jurídicas humanos, capacidade de resolução dos
de direito público ou privado. serviços e organização dos serviços
públicos.
2. Resposta: C.
3. Resposta: A.
Os princípios destacados na lei são:
universalidade de acesso, integralidade Dentro do funcionamento do SUS, foram
de assistência, preservação da autonomia criadas as comissões intersetoriais

232/234
Gabarito
de âmbito nacional, subordinadas ao 5. Resposta: B.
Conselho Nacional de Saúde, integradas
pelos Ministérios e órgãos competentes Um conjunto de ações que proporcionam
e por entidades representativas da o conhecimento, a detecção ou prevenção
sociedade civil, que tem a finalidade de de qualquer mudança nos fatores
articular políticas e programas de interesse determinantes e condicionantes de saúde
para a saúde, cuja execução envolva áreas individual ou coletiva, com a finalidade
não compreendidas no âmbito do Sistema de recomendar e adotar as medidas de
Único de Saúde (SUS). prevenção e controle das doenças ou
agravos.
4. Resposta: C.

Um conjunto de ações capaz de eliminar,


diminuir ou prevenir riscos à saúde e
de intervir nos problemas sanitários
decorrentes do meio ambiente, da
produção e circulação de bens e da
prestação de serviços de interesse da
saúde.
233/234

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