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do Nordeste foram extintos junto com cimento dos índios do Nordeste desde
suas aldeias coloniais no século XIX, o século XIX até muito recentemente.
que já vem sendo desconstruída desde Na linha da antropologia histórica e da
o século passado, recebe um golpe fatal história antropológica, os estudos atuais
com a publicação deste livro e deve ser valorizam a compreensão de cultura e
definitivamente enterrada. etnicidade como produtos históricos que
Além de demonstrar a falácia dessa se alteram, conforme as interações dos
noção, o livro leva o leitor a entender povos indígenas entre si e com as socie-
como e porque uma ideia tão equivocada, dades envolventes, tal como se verifica
que absolutamente não se sustenta com na coletânea A viagem da volta, por ele
a própria documentação da época, foi organizada, em 1999.
construída e mantida ao longo dos sécu- Os historiadores, por sua vez, no rumo
los XIX, XX e XXI, alimentando a opinião indicado por John Monteiro, estudam
pública e os discursos e as análises de os índios como sujeitos históricos, cuja
intelectuais e políticos que contribuíam atuação é compreendida a partir dos seus
para reforçá-la. Com o objetivo de “forne- próprios interesses que, vinculados à
cer ao leitor um amplo painel compreen- dinâmica de suas sociedades, modificam-
sivo da trajetória histórica dos índios do -se continuamente pelas experiências
Nordeste” (:10), João Pacheco de Oliveira do contato. O olhar antropológico sobre
reuniu textos de reconhecidos especialis- a documentação e a historicização dos
tas na temática indígena da região, cujas conceitos e das categorias analíticas, das
pesquisas sólidas e inovadoras têm contri- relações interétnicas, dos processos de
buído para uma revisão significativa dos mestiçagem, da produção dos documen-
estudos históricos e antropológicos sobre tos, da construção das leis e dos discursos
os índios. Apresentado como desdobra- e análises políticos e intelectuais sobre os
mento de um amplo projeto de pesquisa índios são essenciais para compreensões
que resultou na exposição “Os primeiros mais amplas e complexas de suas trajetó-
brasileiros” e contou com a participação rias. Como afirma Pacheco de Oliveira, os
de vários autores aqui reunidos, o livro “indígenas longe de serem portadores de
inclui um instigante caderno de imagens características constantes e imutáveis são
que, no entanto, exceto pela apresentação sempre descritos por qualificativos variá-
e pelo capítulo final, é pouco explorado ao veis [...] pois se mantêm sempre referidos
longo da obra. a um regime de memória específico”(:13).
Com esta publicação, Pacheco de Os vários registros de memória sobre os
Oliveira dá continuidade ao relevante índios devem, pois, ser analisados e pro-
trabalho que, junto a outros antropólogos blematizados nos respectivos contextos
e historiadores, vem desenvolvendo há nos quais foram elaborados.
várias décadas. Suas significativas refle- Três questões básicas foram colocadas
xões teóricas sobre os índios misturados, pelo coordenador para orientar a elabo-
somadas ao desenvolvimento, ao incenti- ração dos textos: “1. Que processos de
vo e à orientação de inúmeras pesquisas submissão foram concretamente usados
empíricas sobre o tema, têm contribuído contra os indígenas e que graus de eficá-
para descartar antigas concepções dua- cia tiveram em torná-los dependentes dos
listas, como índio puro/índio aculturado, colonizadores e cada vez mais invisíveis
resistência/aculturação; estruturas/pro- no conjunto da população?; 2. Como se
cessos históricos que, em grande parte, engendrou e se manteve a representação
embasavam os discursos do desapare- sobre a inexistência e a invisibilidade
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