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RESENHAS 209

As experiências relatadas no livro avanços? Podemos esperar que em um


mostram que, embora sejam muitos os breve futuro os recursos provenientes da
desafios, também foram importantes os cooperação internacional venham a com-
avanços desenvolvidos por esses pro- plementar, em lugar de pautar, promover
gramas em suas universidades: ao colo- e manter (de forma quase exclusiva!),
carem esse tema na pauta educativa; ao as poucas experiências bem-sucedidas
difundirem a melhoria do desempenho nessa direção?
acadêmico dos estudantes indígenas, o O livro não tem a pretensão de res-
que se reflete principalmente em suas ponder a tais perguntas, mas só o fato
notas e na diminuição da evasão; ao de- de suscitá-las já é outro de seus méritos.
monstrarem o aumento na participação Temos um longo caminho pela frente e os
desses estudantes na vida universitária movimentos indígenas sabem que toda
e no reconhecimento de sua existência e qualquer conquista alcançada é fruto
por parte do corpo docente e dos colegas de intensa mobilização. Sendo assim,
não indígenas; e ao apontarem caminhos vamos a ela.
que sugerem uma maior equidade do
acesso ao Ensino Superior de popula-
ções indígenas na América Latina. As
análises dos coordenadores que mostram OLIVEIRA, João Pacheco de (org). 2011.
as dificuldades mas também os êxitos A presença indígena no Nordeste: proces-
em cada realidade específica, oferecem sos de territorialização, modos de reco-
importantes subsídios para a redefinição nhecimento e regimes de memória. Rio de
das políticas educativas na região. Janeiro: Contra Capa. 714pp.
Cada vez é mais difícil invisibilizar a
legítima demanda das populações indíge-
nas que veem no acesso ao Ensino Supe- Maria Regina Celestino de Almeida
rior uma estratégia importante na busca Universidade Federal Fluminense
de novos recursos e meios para a melhoria
da qualidade de vida de suas populações. Os povos indígenas do Nordeste nunca
Mas cabe aqui lembrar que os sucessos deixaram de existir. Do século XVI aos
conquistados por esses programas só te- nossos dias, estabeleceram distintas
rão sentido e significado no longo prazo formas de interação bélica, política, eco-
se essas experiências forem institucio- nômica, religiosa e social com diferentes
nalizadas, com recursos previstos dentro agentes sociais e étnicos para enfrentar
do orçamento de cada instituição e com a situações de extrema violência. Guerras,
definição das políticas educativas de cada acordos de paz, conversões religiosas,
país, assegurando, assim, sua sustenta- alianças, roubos, conflitos armados,
bilidade e a independência dos recursos recursos jurídicos, negociações, deslo-
financeiros da cooperação internacional. camentos, fugas, apropriações de novos
E é aí que, ao final da leitura, sentimos códigos culturais e políticos, rearticu-
um certo mal-estar por ver que ficaram lações culturais, sociais e identitárias
em aberto algumas questões fundamen- foram algumas das muitas estratégias
tais: quanto foi possível avançar, a partir por eles adotadas. Misturaram-se e
dessas experiências, na discussão das transformaram-se muito, porém não
políticas públicas em cada um desses pa- deixaram de ser índios, como revelam
íses? Sem o apoio do Programa Pathways os 23 capítulos desta coletânea. A ideia
será possível pensar em continuidades e equivocada de que os povos indígenas
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do Nordeste foram extintos junto com cimento dos índios do Nordeste desde
suas aldeias coloniais no século XIX, o século XIX até muito recentemente.
que já vem sendo desconstruída desde Na linha da antropologia histórica e da
o século passado, recebe um golpe fatal história antropológica, os estudos atuais
com a publicação deste livro e deve ser valorizam a compreensão de cultura e
definitivamente enterrada. etnicidade como produtos históricos que
Além de demonstrar a falácia dessa se alteram, conforme as interações dos
noção, o livro leva o leitor a entender povos indígenas entre si e com as socie-
como e porque uma ideia tão equivocada, dades envolventes, tal como se verifica
que absolutamente não se sustenta com na coletânea A viagem da volta, por ele
a própria documentação da época, foi organizada, em 1999.
construída e mantida ao longo dos sécu- Os historiadores, por sua vez, no rumo
los XIX, XX e XXI, alimentando a opinião indicado por John Monteiro, estudam
pública e os discursos e as análises de os índios como sujeitos históricos, cuja
intelectuais e políticos que contribuíam atuação é compreendida a partir dos seus
para reforçá-la. Com o objetivo de “forne- próprios interesses que, vinculados à
cer ao leitor um amplo painel compreen- dinâmica de suas sociedades, modificam-
sivo da trajetória histórica dos índios do -se continuamente pelas experiências
Nordeste” (:10), João Pacheco de Oliveira do contato. O olhar antropológico sobre
reuniu textos de reconhecidos especialis- a documentação e a historicização dos
tas na temática indígena da região, cujas conceitos e das categorias analíticas, das
pesquisas sólidas e inovadoras têm contri- relações interétnicas, dos processos de
buído para uma revisão significativa dos mestiçagem, da produção dos documen-
estudos históricos e antropológicos sobre tos, da construção das leis e dos discursos
os índios. Apresentado como desdobra- e análises políticos e intelectuais sobre os
mento de um amplo projeto de pesquisa índios são essenciais para compreensões
que resultou na exposição “Os primeiros mais amplas e complexas de suas trajetó-
brasileiros” e contou com a participação rias. Como afirma Pacheco de Oliveira, os
de vários autores aqui reunidos, o livro “indígenas longe de serem portadores de
inclui um instigante caderno de imagens características constantes e imutáveis são
que, no entanto, exceto pela apresentação sempre descritos por qualificativos variá-
e pelo capítulo final, é pouco explorado ao veis [...] pois se mantêm sempre referidos
longo da obra. a um regime de memória específico”(:13).
Com esta publicação, Pacheco de Os vários registros de memória sobre os
Oliveira dá continuidade ao relevante índios devem, pois, ser analisados e pro-
trabalho que, junto a outros antropólogos blematizados nos respectivos contextos
e historiadores, vem desenvolvendo há nos quais foram elaborados.
várias décadas. Suas significativas refle- Três questões básicas foram colocadas
xões teóricas sobre os índios misturados, pelo coordenador para orientar a elabo-
somadas ao desenvolvimento, ao incenti- ração dos textos: “1. Que processos de
vo e à orientação de inúmeras pesquisas submissão foram concretamente usados
empíricas sobre o tema, têm contribuído contra os indígenas e que graus de eficá-
para descartar antigas concepções dua- cia tiveram em torná-los dependentes dos
listas, como índio puro/índio aculturado, colonizadores e cada vez mais invisíveis
resistência/aculturação; estruturas/pro- no conjunto da população?; 2. Como se
cessos históricos que, em grande parte, engendrou e se manteve a representação
embasavam os discursos do desapare- sobre a inexistência e a invisibilidade
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dos indígenas no Nordeste?; 3. Por quais livro,“Demônios e cativos, ou limites da


caminhos saíram da condição de invisibi- transformação em vassalos”.As adapta-
lidade e de caboclos e se transformaram ções do Diretório dos Índios para a região
em índios?”(:11) e as diferentes formas de sua aplicação
Com diferentes abordagens e tratando conforme os locais e os grupos indígenas
temas variados, que incluem análises dos específicos evidenciam-se em análises
registros e das produções intelectuais que articulam política indigenista e po-
sobre os índios, os autores responderam líticas indígenas, apontando os limites
ao desafio, apresentando, em tempos e impostos pelos índios às propostas para
espaços diversos, distintos caminhos se- eles traçadas. Em época de intensos con-
guidos pelos povos estudados. As quatro flitos por terra, tanto nas áreas dos antigos
partes do livro se articulam entre si e são aldeamentos, analisadas por Lopes e
organizadas por temas, seguindo mais Medeiros, como nos sertões estudados
ou menos as trajetórias históricas dos por Apolinario, Galindo, Oliveira e Pom-
indígenas em cinco séculos de contato pa, enfocam-se as complexas relações
e priorizando algumas questões centrais de guerras e negociações entre os índios
que respondem ao objetivo da obra. aldeados, os do sertão e os não indígenas,
A primeira parte,“Honras e mercês: destacando-se a intensa mobilidade e in-
a nobreza da terra”,engloba quatro teração entre eles. O discurso da mistura,
capítulos que analisam as complexas da dispersão e do desaparecimento dos
relações dos indígenas entre si e com os índios já se colocava nesse período, em
europeus do final do século XVI a meados contraste com sua ação, como apontam
do XVIII. Em conjunturas de guerra e de alguns autores, introduzindo o tema da
muita violência e discriminação contra os terceira parte.
índios, Maia, Raminelli e Vieira enfocam “A Fabricação social da mistura”inclui
a ação dos líderes indígenas, conforme sete capítulos que tratam essencialmente
os códigos culturais e políticos do Antigo do processo de extinção das aldeias colo-
Regime por eles apropriados.Enfatizam niais, enfatizando os conflitos de terra e
seus próprios interesses e capacidade de os discursos sobre o desaparecimento dos
negociação nas inconstantes alianças es- índios, vistos como construções históricas
tabelecidas e no complexo jogo político no que justificavam legalmente a extinção
qual souberam atuar, dividindo-se entre das aldeias. A ação decisiva dos índios,
si, e buscando possíveis ganhos, como defendendo seus direitos coletivos,
honras e mercês às quais tinham limita- contradiz sua extinção e é evidenciada
dos acessos em troca dos serviços pres- na ampla e diversificada documentação
tados, sobretudo militares. A catequese consultada pelos autores, que destacam
jesuítica e suas necessárias adaptações, contradições por vezes presentes em
de acordo com as especificidades locais um mesmo documento. Alguns estudos
e as interações com os índios, incluindo concentram-se em regiões e/ou grupos
suas próprias formas de apreensão do específicos, como os de Carvalho, Ma-
catolicismo,são analisadas em toda a sua galhães, Dantas e Edson Silva que ana-
complexidade por Castelnau-L’Estoile, lisam os índios do extremo sul da Bahia,
através da ação missionária do Padre os Chocó, o aldeamento de Ipanema e
Francisco Pinto. os Xucuru, respectivamente.Maranhão
Os efeitos das reformas pombali- Valle, Octaviano do Valle e Peixoto da
nas sobre os índios são abordados em Silva apresentam análises mais gerais
seis capítulos da segunda parte do que enfatizam os conflitos de terra na
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região associados à política indigenista, enfoques diferenciados. Personagens,


sem desconsiderar as especificidades dos documentos e episódios particularmen-
atores políticos e as discordâncias entre te marcantes aparecem, por vezes, em
diferentes instâncias de poder. vários textos. Sem desconsiderarem a
“Examinando descontinuidades: ter- extrema violência das várias situações de
ritório, populações, tradições” é a quarta contato, os autores demonstram a capa-
parte do livro e inclui seis capítulos que cidade dos índios de se apropriarem dos
demonstram a presença significativa dos novos códigos políticos, culturais e reli-
índios do Nordeste nos séculos XX e XXI, giosos à sua própria maneira, utilizando-
sem desconsiderar os intensos processos -os a seu favor.
de mestiçagem. As relações interétnicas, Os autores, ao valorizarem a agên-
as misturas e as várias categorias utiliza- cia indígena nas relações de contato,
das para classificar os índios, tais como procurando perceber os significados
caboclos e remanescentes, são identifica- que eles próprios atribuíam às suas
das pelos autores nos vários temas abor- fluidas e inconstantes alianças bélicas
dados: nos conflitos por terra e afirmação e políticas, aos cargos, mercês e honras
identitária dos Kaimbé analisados por desejados e nem sempre recebidos, às
Reesink; nas intensas e múltiplas trocas religiosidades impostas e assumidas, às
e influências culturais entre os vários classificações étnicas conferidas, nega-
gêneros musicais do Nordeste e a música das ou apropriadas, aos deslocamentos
indígena, conforme demonstra Pereira; forçados ou voluntários, às diferentes
nas construções intelectuais sobre os formas de inserção nas várias atividades
índios de Capistrano de Abreu estudadas econômicas, aos conflitos por terra etc.,
por Gontijo; na Etnografia do salvamento evidenciam que a violência do contato
do etnoarqueólogo americano Hohenthal não extinguiu os índios nem os imobili-
Jr. analisada por Grünevald e Palitot; nos zou como agentes sociais. “Misturados
textos de Carlos Estevão de Oliveira e e aculturados”, encontraram meios de
Mario Melo sobre os índios do nordeste se rearticularem entre si e com outros
discutidos por Secundino; como também grupos, sobrevivendo em novas bases e
nos registros numéricos empregados mantendo diferentes formas de luta em
em períodos diversos para quantificar defesa de seus direitos. Vale destacar a
os índios, conforme análise de Pacheco diversidade e a riqueza da documentação
de Oliveira. Ao contextualizarem histo- consultada pelos autores, que cruzam
ricamente a produção das informações informações de diferentes tipos de fontes
e analisá-las à luz das atuais tendências orais e escritas, problematizando-as e
teóricas já apontadas, os autores abordam levantando questões, sobretudo quanto
estes vários temas, evidenciando que as às contradições a respeito do propalado
mestiçagens não levavam absolutamente desaparecimento dos índios de meados
à extinção dos índios. Ao contrário, suas do século XVIII aos nossos dias.
análises demonstram o “ressurgimento Ponto alto das pesquisas é o enfoque
e a disseminação da categoria índio na sobre regiões, grupos e atores específi-
região Nordeste” (:12). cos, identificando as relações no nível
Os 23 textos têm em comum a preo- local, sem perder de vista contextos mais
cupação em dar visibilidade à presença amplos. O olhar centrado sobre atores in-
indígena nos processos históricos por eles dígenas e não indígenas, principalmente
vivenciados. Os conteúdos dos capítulos sobre os agentes intermediários (líderes
dialogam entre si e até se repetem com indígenas, religiosos, diretores parciais
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de aldeias, diretores gerais de províncias, e de etnogênese nos séculos XX e XXI


capitães mores, governadores, ouvidores, articulam-se e ganham novos significados
camaristas, delegados, fazendeiros etc.), com o aprofundamento dos estudos sobre
considerando as especificidades dos as trajetórias específicas dos diferentes
cargos ocupados e as complexas relações povos indígenas do nordeste.
entre as diferentes instâncias de poder, Cabe, assim, celebrar a publicação
revela a complexidade e o vaivém das re- deste livro, leitura indispensável não
lações entre os atores que, absolutamen- apenas para os especialistas do tema, mas
te, não agiam como blocos monolíticos. para todos os interessados na realidade
As misturas e os deslocamentos intensos social e política do Brasil atual, onde os
(forçados ou voluntários) entre os índios índios estão cada vez mais presentes
das aldeias, os dos sertões e os não índios e atuantes em esferas políticas, sociais
que circulavam frequentemente entre e acadêmicas do nordeste e de outras
vilas, cidades e fazendas, desde o século regiões.
XVII, são analisados em vários textos da
coletânea como importantes fatores para
a compreensão do entrelaçamento dos
processos de apagamento e ressurgimen-
to das identidades indígenas. Afinal, ser
chamado de caboclo, sertanejo, rema-
nescente, pardo ou mestiço não significa
necessariamente deixar de ser índio,
como apontam as análises aqui reunidas.
É instigante observar que as atuais
lutas por demarcação de terra baseadas
nas identidades étnicas têm significativos
antecedentes no passado, pois, desde
meados do século XVIII, moradores e
Câmaras municipais já ameaçavam e
usurpavam as terras das aldeias indí-
genas com o discurso de que os índios
já estavam misturados e civilizados. Em
nossos dias, vários povos indígenas em
processo de luta por direitos e reafirma-
ção identitária afirmam suas origens nos
aldeamentos do período colonial. A arti-
culação contínua entre presente e passa-
do apresenta-se, pois, em vários capítulos
do livro. Desde os tempos coloniais, os
índios fundamentam suas reivindicações,
com base em trajetórias passadas, recons-
truindo memórias a partir de referenciais
do presente, grosso modo, enfatizando
suas atividades de guerra e alianças com
agentes de diferentes instâncias do poder.
Os processos de apagamento das identi-
dades indígenas dos séculos XVIII e XIX

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