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Thorstein Veblen
Fonte: Journal of Political Economy, vol. 17, no. 9, novembro de 1909, pp. 620-636.
escola a este respeito é consistente e amplo. Contudo, estes economistas não são destituídos
nem de inteligência nem de informação. Eles são dotados, de fato e em geral, com uma ampla
série de informações e um controle exato da matéria, bem como de um interesse muito atento
pelos acontecimentos; e, à parte seus pronunciamentos, os membros desta escola
habitualmente professam as visões mais sãs e inteligentes a respeito de questões práticas
correntes, mesmo quando estas questões tocam em temas de desenvolvimento e decadência
institucional.
A debilidade desse esquema teórico está em seus postulados, os quais confinam a
investigação às generalizações de ordem teleológica ou “dedutiva”. Estes postulados, junto
com o ponto de vista e o método lógico que se lhes seguem, são partilhados pela escola da
utilidade marginal com outros economistas da linha clássica – pois esta escola não é senão um
ramo ou um derivado dos economistas clássicos ingleses do século dezenove. A diferença
entre esta escola e os economistas clássicos em geral está principalmente no fato de que na
economia da utilidade marginal os postulados que lhes são comuns têm adeptos mais
consistentes ao mesmo tempo em que são mais claramente definidos e suas limitações são
percebidas mais adequadamente. Tanto a escola clássica em geral quanto sua variante
especializada, a escola da utilidade marginal, tomam como seu ponto de partida comum a
psicologia tradicional dos hedonistas do princípio do século dezenove, que é aceita como uma
coisa óbvia ou de saber comum e é mantida de forma totalmente acrítica. O fundamento
central e bem definido que é mantido dessa forma é o cálculo hedonista. Sob a orientação
desse fundamento central e de outras concepções psicológicas associadas e consoantes com
ele, a conduta humana é concebida e interpretada como uma resposta racional às exigências
da situação na qual os homens se encontram. Em relação à conduta econômica, ela é uma
resposta racional e sem defeitos aos estímulos de prazeres e dores antecipados – sendo,
normal e principalmente, respostas induzidas pelo prazer antecipado, pois os hedonistas do
século dezenove e da escola da utilidade marginal são de temperamento otimista. A raça
humana é (concebida como) previdente e clarividente em suas avaliações dos ganhos e perdas
sensoriais futuros, embora possa haver alguma diferença (não apreciável) entre os homens a
esse respeito. As atividades dos homens diferem (não apreciavelmente), portanto, quanto à
agilidade de resposta e à precisão do ajustamento do custo de uma dor cansativa ao ganho
sensorial futuro a ser percebido. Mas, em geral, nenhuma outra base ou linha de orientação de
conduta além desse cálculo racionalista é adequadamente reconhecida pelos hedonistas
econômicos. Essa teoria pode levar em consideração a conduta apenas na medida em que seja
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economia hedonista que, por força de seus postulados, sua atenção restringe-se apenas a estas
implicações teleológicas da conduta. Ela lida com a conduta apenas na medida em que esta
possa ser concebida em termos racionalistas teleológicos de cálculo e escolha. Mas ao mesmo
tempo não é menos verdade que a conduta humana, seja econômica ou não, está sujeita a
seqüências de causa e efeito, por força de elementos tais como hábitos e requerimentos
convencionais. Mas fatos deste tipo – que para a ciência moderna são de maior interesse que
os detalhes teleológicos da conduta – estão necessariamente fora do foco de atenção do
economista hedonista, pois não podem ser concebidos em termos de razão suficiente, que seus
postulados exigem, nem ser encaixados em um esquema de doutrinas teleológicas.
Não se trata, portanto, de um apelo para impugnar essas premissas da economia
utilidade marginal em seu campo. Elas se recomendam, à primeiras vista, a todas as pessoas
sérias e não criticáveis. Elas são princípios de ação que subjazem o corrente esquema de
negócios da vida econômica e, como tais, como guias práticos de conduta, não devem ser
questionadas sem um questionamento da lei e da ordem existente. Como uma coisa natural, os
homens ordenam suas vidas por estes princípios e, em termos práticos, não colocam em
questão sua estabilidade e finalidade. É isso que se quer dizer quando chamamos esses
princípios de instituições; eles são hábitos estabelecidos de pensamento comum à
generalidade dos homens. Mas seria mera falta de acuidade se qualquer estudioso da
civilização daí admitisse que essa ou qualquer outra instituição humana tem a estabilidade que
lhe é correntemente imputada, ou que elas são, dessa forma, intrínsecas à natureza das coisas.
A aceitação pelos economistas desse e de outros elementos institucionais como dados e
imutáveis limita sua investigação de forma particular e decisiva. Ela obstrui a investigação no
ponto onde começa o interesse científico moderno. As instituições em questão são sem dúvida
boas para os seus propósitos como instituições, mas não são boas como premissas de uma
investigação sobre a natureza, origem, desenvolvimento e efeitos dessas instituições e as
mutações pelas quais passam e acarretam ao esquema de vida da comunidade.
Para o cientista moderno interessado em fenômenos econômicos, a cadeia de causa e
efeito na qual qualquer fase dada da cultura humana está envolvida, como também as
mudanças operadas na estrutura da própria conduta humana pelas atividades habituais da raça
humana, são questões de interesse mais absorvente e permanente que o método de inferência
pelo qual se presume que um indivíduo invariavelmente equilibra prazer e dor sob condições
dadas, supostas como normais e invariáveis. As primeiras são questões a respeito da história
de vida da raça ou da comunidade, questões de desenvolvimento cultural e do destino de
gerações; enquanto o último é uma questão de casuística individual em face de uma dada
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situação que pode ocorrer no curso deste desenvolvimento cultural. As primeiras têm a ver
com a continuidade e as mutações do esquema de conduta pelo qual a raça humana lida com
seus meios materiais de vida; o último, se é concebido em termos hedonistas, diz respeito a
um episódio fortuito na experiência sensorial de um membro individual dessa comunidade.
Na medida em que a ciência moderna investiga os fenômenos da vida, seja ela
inanimada, irracional ou humana, ela se ocupa com questões de gênese e mudança cumulativa
e converge para a formulação teórica na forma de história de vida obtida em termos causais.
Na medida em que ela é uma ciência no sentido atual do termo, qualquer ciência, incluindo a
economia, que tenha a ver com a conduta humana, torna-se uma investigação genética sobre o
esquema da vida humana. E onde, como em economia, o objeto de investigação é a conduta
do homem em suas atividades com os meios materiais de vida, a ciência é necessariamente
uma investigação sobre a história de vida da civilização material, num plano mais ou menos
amplo ou restrito. Não que a investigação do economista isole a civilização material de todas
as outras fases e comportamentos da cultura humana, para estudar os movimentos do “homem
econômico” concebido abstratamente. Pelo contrário: nenhuma investigação teórica sobre
essa civilização material em suas relações causais, vale dizer, genéticas, com as outras fases e
comportamentos do complexo cultural [ocorre] sem estudá-la a respeito de como ela é gerada
por outras linhas de desenvolvimento cultural e como operam seus efeitos sobre estas outras
linhas. Mas, na medida em que a pesquisa é ciência econômica especificamente, a atenção
convergirá para o esquema da vida material e considerará as outras fases da civilização apenas
em suas relação com o esquema da civilização material.
Como todas as formas de cultura humana, essa civilização material é um esquema de
instituições – estrutura institucional e desenvolvimento institucional. Mas as instituições são
um resultado do hábito. O desenvolvimento da cultura é uma seqüência cumulativa de
habituação e suas formas e meios são as respostas habituais da natureza humana a exigências
que variam de forma incontinente e cumulativa, mas com algo de consistente na seqüência de
variações cumulativas que ocorrem – de forma incontinente, porque cada novo movimento
cria uma nova situação que induz a mais uma variação na maneira habitual de resposta; de
forma cumulativa, porque cada nova situação é uma variação do que aconteceu antes dela e
incorpora como fatores causais tudo o que foi afetado pelo que aconteceu antes; e de forma
consistente, pois os traços subjacentes da natureza humana (propensões, aptidões e coisas
desse tipo) por força dos quais ocorre a resposta, e com base nos quais a habituação é
efetuada, permanecem substancialmente inalterados.
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verdade que este vizinho rico é, em geral, mais altamente considerado e melhor tratado do que
outro vizinho, que difere do anterior apenas por ser menos invejável em termos de riqueza.
É a instituição da propriedade que dá origem a essas bases habituais de discriminação
e, nos tempos modernos, em que a riqueza é contada em termos de moeda, é em termos de
valor monetário que os testes e padrões de excelência pecuniários são aplicados. Pode-se
admitir isso. Instituições pecuniárias induzem hábitos de pensamento pecuniários que afetam
a discriminação dos homens em questões que estão fora do âmbito pecuniário; mas a
interpretação hedonista alega que tais hábitos de pensamento pecuniários não afetam a
discriminação dos homens em questões pecuniárias. Embora o esquema institucional do
sistema de preços visivelmente domine o pensamento da comunidade moderna em questões
que estão fora do interesse econômico, os economistas hedonistas insistem, de fato, que não
se deve atribuir qualquer efeito a esse esquema institucional [justamente] naquela série de
atividades à qual deve sua gênese, desenvolvimento e persistência. Os fenômenos
empresariais, que são peculiar e uniformemente fenômenos de preço, são reduzidos, no
esquema da teoria hedonista, a termos hedonistas não-pecuniários e a formulação teórica é
feita como se as concepções pecuniárias não tivessem força no [próprio] âmbito em que se
originam. Admite-se que preocupações com interesses mercantis tenham “mercantilizado” o
resto da vida moderna, mas a “mercantilização” do mercado não é admitida. Transações
empresariais e cálculos em termos pecuniários, tais como empréstimos, descontos e
capitalizações são traduzidas em termos de utilidade hedonista, e vice-versa, sem hesitação ou
constrangimento.
Pode ser desnecessário objetar a essa conversão de termos pecuniários para sensoriais,
para os propósitos teóricos em que ela é habitualmente feita; contudo, se fosse necessário, não
seria excessivamente difícil mostrar que toda a base hedonista desta conversão é uma
concepção psicológica errônea. Mas é às mais remotas conseqüências teóricas desta
conversão que a objeção deve ser feita. Quando ela é feita, abstrai-se precisamente os
elementos empresariais que têm força institucional e que portanto se prestariam à investigação
científica do tipo moderno – os elementos institucionais cuja análise poderia contribuir para a
compreensão dos negócios modernos e da vida da comunidade de negócios moderna, em
contraste com o suposto cálculo hedonista primordial.
Este ponto talvez possa ser esclarecido. A moeda e o recurso habitual à sua utilização
são concebidos simplesmente como a forma e os meios pelos quais os bens de consumo são
adquiridos, e portanto simplesmente como um método conveniente pelo qual obter as
sensações prazerosas de consumo; estas últimas são, na teoria hedonista, o único e ostensivo
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fim de todo o empenho econômico. Os valores monetários não têm, portanto, nenhuma
significância que não seja a de poder de compra sobre os bens de consumo, e a moeda é
simplesmente um expediente de cômputo. Investimento, concessão de crédito, empréstimos
de todos os tipos e graus, com pagamento de juros e tudo o mais são, da mesma forma,
entendidos simplesmente como passos intermediários entre as sensações prazerosas de
consumo e os esforços induzidos pela antecipação dessas sensações, sendo totalmente
negligenciadas todas as outras implicações da questão. Estabelecido o equilíbrio em termos de
consumo hedonista, não surge qualquer distúrbio neste âmbito pecuniário enquanto os termos
extremos dessa equação hedonista ampliada – dor-custo e prazer-ganho – não são alterados, o
que está entre os extremos é considerado mera notação algébrica empregada por conveniência
de cálculo. Mas este não é o curso dos fatos nos negócios modernos. Variações na
capitalização ocorrem, por exemplo, sem que se possa atribuir claramente a elas variações
equivalentes quer no estado das artes industriais, quer nas sensações de consumo. Concessões
de crédito tendem à inflação de crédito, ao aumento dos preços, a um aumento da produção
nos mercados, etc. igualmente sem qualquer visível ou seguramente atribuível correlação com
o estado das artes industriais ou com os prazeres do consumo; quer dizer, sem uma base
visível naqueles elementos materiais aos quais a teoria hedonista reduz todos os fenômenos
econômicos. Logo, o curso dos fatos deve, dessa forma, ser descartado da formulação teórica.
A compra de bens finais de consumo, sob premissas hedonistas, não é habitualmente
contemplada como um objetivo empresarial. Os homens de negócio habitualmente aspiram a
acumular riqueza em excesso aos limites do consumo praticável e não se tenciona converter a
riqueza acumulada dessa forma, numa transação final de compra, em bens de consumo ou
sensações de consumo. Fatos de senso comum como esses, junto com uma interminável rede
de detalhes empresariais de caráter pecuniário, não induzem ao questionamento, na teoria
hedonista, de como estes objetivos, ideais, aspirações e padrões convencionais puderam
ganhar força ou como eles afetam o esquema de vida em atividades fora desse âmbito; e não
induzem porque estas questões não podem ser respondidas nos termos que os economistas
hedonistas contentam-se em utilizar ou, de fato, que suas premissas lhes permitem utilizar. A
questão que surge é como dar conta desses fatos; como neutralizá-los teoricamente de modo
que eles não tenham que aparecer na teoria, tal que esta possa então ser formulada
indiretamente e sem ambigüidade em termos de cálculo hedonista racional. Isto se faz
considerando-os aberrações devidas a descuidos ou lapsos de memória dos homens de
negócio, ou a alguma falha de lógica ou de discernimento. Ou eles são concebidos e
interpretados nos termos racionalistas do cálculo hedonista por recurso a um uso ambíguo de
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conceitos hedonistas. Dessa forma, toda a “economia monetária” com toda sua maquinaria de
crédito e tudo o mais desaparece num emaranhado de metáforas para reaparecer teoricamente
expurgada, esterilizada e simplificada em um “sofisticado sistema de escambo”, culminando
num máximo agregado líquido de sensações prazerosas de consumo.
Mas, uma vez que a rede da vida empresarial consiste apenas num âmbito não-
hedonista e não-racionalista; uma vez que é este convencionalismo peculiar de objetivos e
padrões que diferencia a vida da comunidade de negócios moderna de qualquer fase
concebivelmente anterior ou mais rude da vida econômica; uma vez que é nesta rede de
intercurso pecuniário e concepções, ideais, expedientes e aspirações pecuniárias que as
circunstâncias da vida empresarial surgem e seguem seu curso de ventura e devastação; uma
vez que é aqui que ocorrem as mudanças institucionais que distinguem uma fase ou era da
vida da comunidade de negócios de qualquer outra; uma vez que o desenvolvimento e a
mudança destes elementos habituais e convencionais moldam o desenvolvimento e o caráter
de qualquer era ou comunidade de negócios – qualquer teoria da vida empresarial que coloque
estes elementos de lado ou os dê por explicados ignora os principais fatos que se propõe a
explicar. Sendo a vida e suas circunstâncias e instituições dessa complexidade, ainda que
muito deste estado de coisas possa ser simplificado, uma concepção teórica desta vida deve
ser formulada nos termos em que os fenômenos ocorrem. Não se trata simplesmente de que a
interpretação hedonista dos fenômenos econômicos modernos seja inadequada ou enganosa;
se os fenômenos são submetidos à interpretação hedonista, na análise teórica eles
desaparecem da teoria. E se eles afetam a interpretação de fato, eles desaparecem de fato. Se
todas as relações e princípios de intercurso pecuniário estivessem de fato sujeitas a esta
revisão perpetuamente racionalizada e calculadora, de modo que cada item dos costumes, da
apreciação e do procedimento tivesse que ter aprovação de novo em bases hedonistas de
conveniência sensorial para todos os envolvidos a cada vez [em que ocorressem], não seria
concebível que a estrutura institucional durasse uma noite.