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Roteiros Homiléticos:
primeira parte do Tempo Comum
Ano À — São Mateus
ções CNS?
Novo povo construindo o Reino de Deus na justiça!
1º Edição - 2014
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C747r Conferência Nacional dos Bispos do Brasil / Roteiros Homiléticos do Tempo Comum - Ano À
- São Mateus - Junho/Agosto de 2014. Brasília, Edições CNBB. 2014.
W2p.:14x21t cm
ISBN: 978-85-7972-328-5
CDU: 263.941.6
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SUMÁRIO
APRESENTAÇÃO...
A IMPORTÂNCIA LITÚRGICA
DO TEMPO COMUM... eme
1 CNBB. Animação da Vida Litúrgica no Brasil. Documento 43, n. 113 (abril de 1989).
2 Idem,n. 132.
R
Novo povo construindo o Reino de Deus na jusliçal
+ Edmar Peron
Bispo Auxiliar de São Paulo
Comissão Episcopal Pastoral para a Liturgia
A IMPORTÂNCIA LITÚRGICA
DO TEMPO COMUM
6 BECKHAUSER, Frei Alberto. Viver o Ano Litúrgico. Vozes, Petrópolis, 2003, p. 163.
Roteiros Homiléticos do Tempo Comum | — Ano À — São Mateus
Situando-nos brevemente
Caros irmãos e irmãs, com a celebração de domingo passado, concluí-
mos o Ciclo Pascal. À Solenidade de Pentecostes se coloca como
cume de um percurso litúrgico, por meio do qual a Igreja nos introduz
no mistério da redenção operada por Deus o Pai a nosso favor por
meio de Jesus Cristo. Essa obra de redenção não se conclui com a
vinda do Espírito Santo ela continua na vida da Igreja. Se prolonga
nos séculos, pois Jesus continua vivo e operante entre nós, como
ele mesmo prometeu ficar entre nós até a consumação dos séculos
(cf. Mt 28,20). Esse seu estar em meio a nós se concretiza de modo
especial em cada celebração eucarística em que ele está sempre
presente. “Está presente no sacrifício da Missa, quer na pessoa do
ministro — “O que se oferece agora pelo ministério sacerdotal é o
mesmo que se ofereceu na Cruz” — quer, sobretudo, sob as espécies
eucarísticas. Está presente com o seu dinamismo nos Sacramentos,
de modo que, quando alguém batiza, é o próprio Cristo que batiza.
Está presente na sua palavra, pois é Ele que fala ao ser lida na Igreja
a Sagrada Escritura. Está presente, enfim, quando a Igreja reza e
canta, Ele que prometeu: “Onde estiverem dois ou três reunidos em
Novo povo construindo o Reino de Deus na justiçal
Recordando a Palavra
As três leituras de hoje descrevem uma espécie de itinerário da
progressiva revelação do mistério do Deus uno e trino feita aos
homens: na primeira leitura ele se revela como um “Deus misericor-
dioso e clemente, paciente, rico em bondade e fiel”. Esses adjetivos,
ou atributos divinos, que são conhecidos, por conceitos, a todos os
homens, alcançou um grau superlativo quando “na plenitude dos
tempos” (Gl 4,4), “Deus amou tanto o mundo, que deu seu Filho
unigênito, para que não morra todo aquele que nele crer, mas tenha a
vida eterna”, nos testemunhou João em seu Evangelho.
À obra da revelação iniciada no âmbito da Primeira Aliança não se
esgota, porém, num ato que poderia parecer um ponto final. O Deus
que tira os véus que envolvem o seu mistério se faz um Deus pere-
grino com o seu povo que não tem vergonha de invocar a Sua presença,
7 SC,n.7.
Roteiros Homiléticos do Tempo Comum | — Ano A - São Mateus
Atualizando a Palavra
Se as coisas estão assim desveladas, poderíamos nos perguntar por que
falamos ainda de um “mistério da Santíssima Trindade”? Mistério,
em primeiro lugar, no universo bíblico/patrístico, não significa
alguma coisa de sombrio e obscuro, diante da qual os homens se
colocam com a sua “aguçada e perspicaz inteligência” para desvendar,
esclarecer e publicar, como um crime ou uma situação incógnita,
como se vê no mundo fictício das aventuras de Sherlock Holmes.
Mistério é alguma coisa tão grande e ao mesmo tempo tão simples
que provoca tamanha admiração, que diante dela os homens se
colocam em espírito de admiração. Assim é, por exemplo, o mistério
da Encarnação; o que dizemos quando nos encontramos na gruta de
Belém e vemos o “Deus de Deus, Luz da Luz, Deus verdadeiro de
Deus verdadeiro, gerado não criado, consubstancial ao Pai” deitado
fragilmente sobre as palhas de uma manjedoura? Para o mistério não
se busca explicação, do mistério se tira, se colhe uma lição.
O mistério, digno de admiração, que celebramos hoje é esse:
“Deus é uno e trino porque é amor”, uma verdadeira escola de belas
relações. Deus é amor em si mesmo e para que haja amor é preciso
Novo povo construindo o Reino de Deus na justiça! BR
9 IGMR,n. 42.
Novo povo construindo o Reino de Deus na justiça! BR
O Kyrie eleison
A IGMR ensina que: “Depois do ato penitencial inicia-se sempre
o Senhor, tende piedade, a não ser que já tenha sido rezado no
próprio ato penitencial. Tratando-se de um canto em que os fiéis
aclamam o Senhor e imploram a sua misericórdia, é executado
normalmente por todos, tomando parte nele o povo e o grupo de
cantores ou o cantor. Via de regra, cada aclamação é repetida duas
vezes, não se excluindo, porém, um número maior de repetições
por causa da índole das diversas línguas, da música ou das circuns-
tâncias. Quando o Senhor é cantado como parte do ato peniten-
cial, antepõe-se a cada aclamação uma “invocação” (“tropo”).1º Fica
claro que o Senhor, tende piedade não é parte do ato penitencial
(salvo as exceções apresentadas no próprio texto, se tenha presente
a III fórmula de Ato penitencial prevista pelo Missal Romano),
mas que assume, depois da absolvição um caráter de “aclamação” ao
Senhor que tem usado de misericórdia. A tríplice invocação pode
evocar as pessoas da Santíssima Trindade.
10 IGMR, n. 52.
n Roteiros Homiléticos do Tempo Comum | - Ano A — São Mateus
O Salmo Responsorial
Uma das grandes novidades da Reforma Litúrgica foi o restauro
do Salmo Responsorial e sua colocação como um rito próprio, ou
seja o canto do Salmo Responsorial é um rito dentro da Liturgia da
Palavra.! Além disso a IGMR sublinha a sua importância pastoral
em “favorecer a meditação da palavra de Deus”, por isso, correspon-
dendo à leitura, é tomado normalmente do lecionário.
A IGMR prossegue indicando ritualmente a forma deste rito
particular: “De preferência, o salmo responsorial será cantado, ao
menos no que se refere ao refrão do povo. Assim, o salmista ou can-
tor do salmo, do ambão ou outro lugar adequado profere os versículos
do salmo, enquanto toda a assembleia escuta sentada, geralmente parti-
cipando pelo refrão, a não ser que o salmo seja proferido de modo contínuo,
isto é, sem refrão [...]. Se o salmo não puder ser cantado, seja recitado
do modo mais apto para favorecer a meditação da palavra de Deus!”,
por fim lembra que tal salmo só pode ser substituído pelos responsó-
rios apresentados pelos Graduais Romanum ou Simplex, o que equi-
vale dizer que não pode ser substituído pelos chamados “cantos de
meditação”.
Por causa do caráter litânico do Salmo Responsorial deste
domingo, sugerimos que a criatividade dos músicos o transforme
num momento alto da Liturgia da Palavra, especialmente pelo estilo
laudativo, quase que antecipando a grande “doxologia” do Prefácio.
O Prefácio
À oração eucarística, que é o centro e ápice de toda a celebração, tem
início com o convite feito pelo sacerdote a todo o povo para que esse
eleve os corações ao Senhof na oração e ação de graças “e o associa à
prece que dirige a Deus Pai, por Cristo, no Espírito Santo, em nome
11 Cf IGMR,n.37a.
12 IGMR, n. 61.
Novo povo construindo o Reino de Deus na justiça! BR
13 IGMR,n. 78.
14 IGMR,n. 147.
15 Cf. IGMR,n.37a.
16 CNBB, Guia litiúrgico-pastoral. Edições CNBB, Brasília, sd, p. 35.
SOLENIDADE DO SANTÍSSIMO
CORPO E SANGUE DE CRISTO
19 de junho de 2014
Leituras: Dt 8,2-3.14b-16a
Salmo responsorial: SI 147(147b),12-13.14-15.19-20 (R/.12a);
ICor 10,16-17; Evangelho: Jo 6,51-58
Situando-nos brevemente
Celebramos a Instituição da Eucaristia, sacramento da doação,
morte e ressurreição de Jesus. À Festa do Corpo e Sangue de
Cristo, celebrada neste dia, após a solenidade da Santíssima
Trindade, ressoa como eco da celebração da Quinta-feira Santa —
do Tríduo Pascal.
À festa de Corpus Christi foi introduzida no Calendário Uni-
versal pelo Papa Urbano IV, com a Bula Transiturus de 11 de agosto
de 1264. À festa teve sua origem na paróquia de Saint Martin em
Liêge, em 1230, por influência da freira agostiniana Juliana de Mont
Cornillon, que requeria uma festa da Eucaristia no Ano Litúrgico.
À cultura barroca enriqueceu a festa com todas as suas características
de pompa. Corpus Christi passou a ser celebrado com uma profu-
são de cores, músicas e expressões de grandeza. O povo simples, no
entanto, exprime a grandeza de sua fé e de sua devoção à Eucaristia
pelas procissões e por inúmeras manifestações de piedade.
A Eucaristia é, por excelência, “mistério da fé”. A fé da Igreja
é essencialmente fé eucarística e alimenta-se, de modo particular,
à mesa da Eucaristia. Quanto mais viva for a fé eucarística no povo
Novo povo construindo o Reino de Deus na justiçal RB
Recordando a Palavra
Na celebração eucarística, realiza-se a promessa de Jesus: “Eu sou
o pão vivo que desceu do céu. Quem come deste pão, viverá para
sempre. E o pão que eu vou dar é a minha própria carne, para que
o mundo tenha vida” (Jo 6,51). Depois de realizar a multiplicação
dos pães, Jesus, sensível à multidão entusiasmada pelo miraculoso
alimento, revela-lhe que o “sinal do pão” é ele mesmo: “pão vivo
que desceu do céu”, novo dom de Deus à humanidade. Comendo
do pão e bebendo do cálice da Eucaristia, recebemos Jesus como
alimento e bebida: sua vida doada para a vida do mundo, até a efusão
de seu sangue, torne-se nossa vida, para a eternidade. “Assim Jesus
manifesta-se como o pão da vida que o Pai eterno dá aos homens”
(Sacramentum Caritatis, n. 7).
À multidão revelou-se sensível aos problemas da fome que afli-
gem o corpo. O Evangelista reage e convida à busca do pão que ali-
menta o corpo e fortalece o espírito. A palavra de Jesus e seus gestos
são o “pão” do qual a multidão tem maior necessidade. Um alimento
que não só imortaliza, mas que projeta a existência ao futuro, destrói
a morte em perspectiva da ressurreição. Jesus como pão, diferente
' Roteiros Homiléticos do Tempo Comum | — Ano A — São Mateus
Atualizando a Palavra
À festa de Corpus Christi é a festa do reconhecimento e da memória.
À comunidade cristã reconhece as obras realizadas pelo Senhor e
celebra o memorial do Deus que se dá em alimento para saciar a
fome; de Deus que se oferece como força no caminhar: “Lembra-te
de todo o caminho, que o Senhor Deus fez você percorrer”. A Eucaristia é
R Roteiros Homiléticos do Tempo Comum | — Ano A - São Mateus
Preparando a celebração
É muito recomendável, na celebração da solenidade do Corpo é do
Sangue de Cristo, que a equipe de liturgia dê particular atenção:
Roteiros Homiléticos do Tempo Comum | — Ano A — São Mateus
22 de junho de 2014
DOS HOMENS NÃO DEVEMOS TER NEM TEMOR NEM MEDO: DE DEUS POREM
DEVEMOS TER TEMOR, MAS NÃO MEDO.
Situando-nos brevemente
Caros irmãos e irmãs, este XII Domingo do Tempo Comum pode
ser considerado como o “primeiro” da “segunda parte” deste tempo
litúrgico. Domingo passado celebramos a Solenidade da Santíssima
Trindade, como uma extensão do grande mistério da Ressurreição de
Cristo celebrado no arco de tempo de praticamente 90 dias do Ciclo
Pascal: 40 dias de preparação (Quaresma), celebração (Noite Santa
da Páscoa e “Domingo da Páscoa”) e 50 dias de vivência (Tempo
Pascal). O domingo passado, portanto, nos ensinava que a obra da
redenção operada em Jesus Cristo é na verdade uma obra da Trindade.
O Tempo Comum, ou tempo durante o ano (ger annum), que
retomamos domingo passado, “tem uma personalidade própria, um
significado teológico específico, referido sempre ao mistério pascal
de Cristo e à vida da Igreja. Se trata de um tempo importante, tão
importante que, sem ele, a celebração do mistério pascal de Cristo e
a progressiva assimilação desse mistério por parte da Igreja correria o
risco de reduzir-se a simples episódios isolados ao invés de empenhar
toda a existência dos fiéis e da inteira comunidade eclesial”!
17 Cr.M. Augé. Lanno liturgico, é Cristo stesso presente nella sua chiesa. LEV, Città del Vaticano,
2009, p. 217-218.
Novo povo construindo o Reino de Deus na justiça! B
Recordando a Palavra
O Evangelho de hoje começa com uma sentença capital da parte de
Jesus: “Não tenhais medo”. Não é a primeira vez que Jesus se dirige
de forma tão enfática aos seus discípulos. Ele sabe da fragilidade do
“pequeno rebanho” (Lc 12,32)? enviado “como ovelha entre lobos”
(Mt 10,16). O texto do capítulo 10 do Evangelho de São Mateus que
acabamos de ouvir está dentro do contexto do envio missionário cujo
único anúncio é a proximidade do advento do Reino e a paz (v. 7).
Tal anúncio é acompanhado por sinais que exprimem não um poder
de tipo “superman” mas a gratuidade dos que foram abençoados por
Cristo: “curai, ressuscitai, purificai, expulsai... De graça recebestes,
de graça dai” (v. 8). Tal gratuidade se revelará na confiança suprema
em Deus da parte do missionário, que “sai” sem os “equipamentos”
humanos que lhe garantiriam o “sucesso”: “ouro, prata, cobre, alforje,
duas túnicas, sandálias, cajado” (v. 9-10) e com o “consolo” que será
18 CIgC, n. 1166-1167.
19 CF. Jo 6,20; Lc 5,10; 8,50; Mc 6,50. De modo especial o ressuscitado convida aqueles que
o encontram a não terem medo: Mt 28,10; Lc 24,38-39.
No Roteiros Homiléticos do Tempo Comum | - Ano A — São Mateus
Atualizando a Palavra
Um mundo dominado pelo medo faz com que construamos relações
baseadas na desconfiança. O outro constitui sempre uma ameaça
para mim. Os muros das nossas casas são cada vez mais altos, telecá-
meras de segurança são espalhadas nas ruas, nos lugares públicos
e privados, nos tornamos a cada dia prisioneiros dentro dos nossos
próprios lares.
Dos homens não devemos ter nem temor nem medo; nos ensina
o Evangelho deste domingo, de Deus porém devemos ter temor, mas
não medo. O medo é a mais clara manifestação do nosso instinto
fundamental de conservação. O medo é o instinto natural de defesa
contra absolutamente tudo que nos arranca o que temos de mais pre-
cioso: a vida. Ele é a pronta resposta a um perigo que se manifesta
clara ou veladamente. O medo se manifesta diante do perigo mais
temido por todo ser vivente: a morte; se manifesta diante dos peri-
gos aparentemente pequenos que ameaçam a nossa tranquilidade, a
nossa saúde física, o nosso mundo afetivo, a nossa vida financeira,
familiar, profissional, etc. Para o medo humano não tem escola. Ele
chega improvisamente diante do perigo, “as coisas se encarregam por
si mesmas de incutir-nos medo; o temor de Deus, ao contrário, se
deve aprender. “Vinde, filhos, escutai-me” diz um salmo “vos ensina-
rei o temor do Senhor' (Sl 33,12)”.?! Para aprender o temor de Deus
é preciso fazer escola.
O sentido do temor de Deus é completamente diferente daquele
do medo. “Temer a Deus é o princípio do saber” (Sl 111,10), isto é,
tem sua fonte exatamente no saber quem é o Senhor. Se o medo nasce
da obscuridade do desconhecido, o temor de Deus nasce do conheci-
mento de Deus. O temor do Senhor é um maravilhar-se diante dele,
como diante de alguém que é imensamente maior. Como o povo que
ficou todo “tomado de temor e glorificava a Deus” diante do jovem
filho da viúva de Naim que estava morto e voltou a viver (Lc 7,16).
Temer a Deus é outro nome para o estupor, para o maravilhar-se
diante dele e louvá-lo. Esse tipo de temor é irmão gêmeo do amor. À
Oração do dia da missa de hoje é muito significativa porque coloca
esses “sentimentos” como inseparáveis para aqueles que são firmados
no amor de Deus e por Ele conduzidos: “Dai-nos por toda a vida
a graça de vos amar e temer”. Ele, o temor, é o receio de desagra-
dar ao amado que se percebe em toda verdadeira relação amorosa.
22 O hinário litúrgico da CNBB propõe a seguinte tradução: “Do seu povo ele é a força, salvação
do seu ungido, salva, Senhor, teu povo, socorre os teus queridos”. CNBB, Hinário litúrgico, 3º
fascículo, domingos do tempo comum anos a, be c. Edições Paulinas, São Paulo, 1991, p. 122.
Novo povo construindo o Reino de Deus na justiçal
23 CNBB, Hinário litúrgico, 3º fascículo, domingos do tempo comum anos a, b e c. Edições Paulinas,
São Paulo, 1991.
24 Cf. CNBB, Hinário litúrgico, 3º fascículo, domingos do tempo comum anos a, be c. Edições
Paulinas, São Paulo, 1991, p. 475.
Novo povo construindo o Reino de Deus na justiça! to
29 de junho de 2014
Situando-nos brevemente
Diletíssimo povo de Deus, “o martírio dos apóstolos Pedro e
Paulo tornou sagrado para nós este dia”, escreveu Santo Agosti-
nho. E é verdade. Este dia para nós é duplamente sagrado.
Sagrado em primeiro lugar porque é o domingo, o dia do
Senhor, o “dia em que celebramos a vitória de Cristo sobre o
pecado e a morte”, dia em que ele “arrombou portas de bronze e
quebrou trancas de ferro das prisões” arrancando-nos “das trevas
pavorosas e despedaçando nossas correntes, nossos grilhões”.?
Esse dia é ainda sagrado pela dádiva destas duas grande colunas
da Igreja, Pedro e Paulo que com as suas vidas, combatendo o
bom combate, guardaram a fé que nos salva e que estamos com
esta eucaristia publicamente confessando.
A solenidade de hoje se insere no ha/! daquelas festas que são
muito caras a todo o povo brasileiro. Festas que celebram com grande
alegria “gigantes da fé” com os quais o nosso povo se identifica tanto:
Santo Antônio e São João.
Recordando a Palavra
Os textos da Liturgia da Palavra desta Solenidade não têm como
objetivo narrar feitos gloriosos das Testemunhas de Cristo, mas
como o Senhor faz triunfar aqueles que o querem sempre ao seu lado
e que não se perdem em especulações, mas sabem com a clareza do
“Pai que está no céu”.
A primeira leitura nos falou da Igreja nascente que vê seus
“membros” padecendo a tortura e a espada e nos apresenta, passando
pela cruz, os três discípulos que experimentaram antecipadamente
sobre o Tabor o brilho da glória que sucede à morte injusta dos jus-
tos Pedro, Tiago e João. Pedro está preso nos dias dos “Pães ázi-
mos” (como Jesus — cf. Lc 22,21), dias da páscoa judaica e dias em
que a Igreja nascente provavelmente também celebrava a memó-
ria anual da Páscoa de Cristo.” O texto é eminentemente pascal:
Pedro está aferrolhado e vigiado por guardas, como Jesus estava
no sepulcro (cf. Mt 27,62-66), dormia e foi acordado por um anjo.
Os termos “dormir” e “acordar” no Novo Testamento são usados
para indicar a morte e a ressurreição. O texto se conclui com uma
frase que se liga perfeitamente ao Salmo Responsorial (Agora sei,
de fato, que o Senhor enviou o seu anjo para me libertar), também
esse pleno de “tonalidades” e “cores pascais”: “De todos os temores
me livrou o Senhor Deus”. Ele é o salmo do Servo de Javé que fez a
27 Cf M. Augé. Lanno liturgico, é Cristo stesso presente nella sua chiesa. LEV, 2009, p. 108-109.
Roteiros Homiléticos do Tempo Comum | — Ano A - São Mateus
Atualizando a Palavra
Numa perspectiva de fé nos perguntamos: o que confiou Jesus a
Pedro quando lhe entregou “as chaves do Reino dos céus”? Responde-
-nos São João Crisóstomo: “O que pertence propriamente a Deus,
como apagar os pecados, garantir a resistência da Igreja, malgrado
as ondas com que será batida, comunicar a um pobre pecador uma
firmeza superior à do mais sólido rochedo, a despeito dos ataques
da terra inteira. [...] Confia a um homem mortal todo o poder dos
céus, do qual dá as chaves, espalha sua Igreja sobre a superfície do
globo; e a estabelece mais solidamente que os céus; porque disse:
os céus e a terra passarão, mas minhas palavras não passarão”
(Mt 24,35). Pastoralmente falando, dizemos que Jesus conferiu a
Pedro o “ministério/serviço” de conduzir o rebanho de Deus (S1 94,7)
rumo à porta que é o próprio Cristo (Jo 10,7). Este ofício petrino
“e dos outros Apóstolos faz parte dos fundamentos da Igreja e é
continuado pelos Bispos sob o primado do Papa”?
Pastorear o rebanho do Senhor é um empenho próprio daqueles
que foram ordenados para esse fim, mas o dever de zelar por esse
rebanho, não seria de todo batizado? Depois do Concílio Vaticano II
ouvimos falar do “protagonismo dos leigos”, preferimos usar o termo
“comprometimento do batizado com a causa do Reino”, evidenciando
que a construção do Reino, o anúncio “integral da mensagem”, a
“peleja do bom combate”, o “guardar a fé”, faz com que homens e
239)
28 João Crisóstomo. Homilia sobre São Mateus. 54, 1-2, in PG 49, 1145.
29 ClgC,n. 881.
Roteiros Homiléticos do Tempo Comum | - Ano A - São Mateus
31 Cf IGMR, n. 55.
32 IGMR, n. 67-68.
33 Cf. Ritual de bênçãos por ministros leigos. Paulus, São Paulo, 1997,
XIV DOMINGO DO TEMPO COMUM
6 de julho de 2014
Situando-nos brevemente
Amados irmãos e irmãs em Cristo, a palavra “eucaristia”, vem do
grego e se traduz como “ação de graças”. Ela tem três significados:
o primeiro, o ato de dar graças. O Concílio Vaticano II restaurou essa
conotação da palavra eucaristia quando preferiu, nos livros litúrgicos,
chamar a “celebração dos divinos mistérios” de “Celebração Eucarís-
tica”, ou seja todo esse rito que estamos agora celebrando se chama
“eucaristia”. O segundo significado da palavra eucaristia se aplica à
oração por meio da qual damos graças. Assim a oração central desta
“celebração eucarística” é chamada de “Oração Eucarística”. Já no
seu início encontramos o sentido de dar graças: “Demos graças ao
Senhor nosso Deus”. Os antigos não tinham uma palavra semelhante
ao nosso “obrigado”, então para se agradecer a alguém por algum
bem recebido, o “agraciado” comentava publicamente o que aquela
determinada pessoa, o agraciador, tinha feito em seu benefício, assim
os Prefácios das Orações Eucarísticas, fazendo memória dos benefi-
cios que Deus nos fez, lhe rende graças. Para a Igreja, Jesus Cristo é o
nosso motivo de Eucaristia, de ação de graças: “Compadecendo-se da
nossa fraqueza humana, ele nasceu da Virgem Maria. Morrendo no
lenho da Cruz, ele nos libertou da morte. Ressuscitando dos mortos,
Novo povo construindo o Reino de Deus na justiça! R
ele nos garantiu a vida eterna”.** “Por ele, vós nos chamastes das
trevas à vossa luz incomparável”* , etc. Por fim a terceira realidade
à qual se aplica o termo eucaristia, são os elementos sobre os quais, na
celebração eucarística, se pronuncia a oração eucarística, isto é, o pão e o
vinho eucarísticos, o Corpo e o Sangue de Cristo.
Neste sentido, a celebração deste nosso XIV Domingo do Tempo
Comum é, em todos os sentidos, eminentemente eucarística.
Recordando a Palavra
O Evangelho deste domingo está entre as páginas mais intensas e
profundas de todo o Evangelho; ele, na verdade é composto de três
partes. À primeira é uma oração: “Te louvo, ó Pai, Senhor do céu
e da terra”, a segunda é uma narração dos feitos salvíficos de Deus
em favor do seu povo: a revelação “destas coisas aos pequeninos”, a
entrega, por parte do Pai, de todas as coisas ao Filho — “Tudo me
foi entregue por meu Pai” e a profunda intimidade entre o Paie o
Filho que resulta na “revelação” do rosto paterno de Deus àquele “a
quem o Filho o quiser revelar”. Essas duas primeiras partes, oração
e memória, nós podemos afirmar que são “eucarísticas”. À terceira
parte é um convite: “vinde a mim”.
Os destinatários da revelação feita pelo Pai são os pequeninos,
os humildes, os simples. Os pequeninos deste Evangelho são em pri-
meiro lugar os discípulos de Jesus; todo e qualquer discípulo de Jesus,
como é afirmado em Mt 10,42: “quem der, nem que seja um copo
d'água fria a um destes pequeninos, por ser meu discípulo, receberá
a vida eterna”. Às coisas que o Pai escondeu “aos sábios e entendidos”
consiste no “mistério do Reino dos céus”, como ouviremos no Evan-
gelho do próximo domingo: “Porque a vós foi dado o conhecimento
dos mistérios do Reino dos céus” (Mt 13,11).
Atualizando a Palavra
Irmãos caríssimos escutando esta página do Evangelho muitos de nós
podemos interpretá-la “ideologicamente” que Deus se revela, ou revel:
os mistérios do Reino, a uma categoria social e a outra não, mas issc
não corresponde à mensagem do Jesus Cristo que não faz acepção de
pessoas, “pois ele é Senhor de todos, rico para com todos os que c
invocam”;37 O Pai não “esconde o Reino” aos sábios e inteligentes, mas
ele o “protege” dos que se arrogam inteligentes e se recusam a toda
e qualquer forma de obediência e submissão âquele conhecimento
que não vem necessariamente através da comprovação científica: c
conhecimento da fé. O fechamento a toda revelação que vem do altc
e portanto à fé, não é consequência da inteligência, mas do orgulho,
A falsa ideia do homem de pensar saber tudo de todas as coisas anulz
39 IGMR, n. 30.
40 IGMR, n. 78.
41 IGMR, n. 147.
42 Cf IGMR, n. 148,
43 IGMR, n. 216.
44 IGMR, n. 78.
45 Para todas as citações deste parágrafo cf. IGMR, n. 365 d.
EO PME LIVES
13 de julho de 2014
Situando-nos brevemente
Diletos, é na liturgia que a Escritura se sente verdadeiramente
em casa, porque na proclamação litúrgica a Escritura se torna
plenamente aquilo que é: Palavra de Deus viva, presente em meio a
nós. O Concílio Vaticano II nos ensina que a proclamação da Palavra
de Deus na liturgia tem um valor sacramental da presença de Cristo,
pois “é Ele que fala ao ser lida na Igreja a Sagrada Escritura”.
O Concílio ensina que “é enorme a importância da Sagrada Escri-
tura na celebração da Liturgia. Porque é nela que se vão buscar as leituras
que se explicam na homilia e os salmos para cantar; com o seu espírito
e da sua inspiração nasceram as preces, as orações e os hinos litúrgicos;
dela tiram a sua capacidade de significação as ações e os sinais".” Por
causa desse imenso valor dado a Sagradas Escrituras, o mesmo Con-
cílio pediu que fossem “mais abundante, variada e bem adaptada a
leitura da Sagrada Escritura nas celebrações litúrgicas” e exortou que
se preparasse para os fiéis, com maior abundância, a mesa da Palavra de
Deus e se abrissem mais largamente os tesouros da Bíblia.”
46 SC,n. 7.
47 SC,n. 24.
48 SC,n. 35,1.
49 Cf. SC,n. 51.
Novo povo construindo o Reino de Deus na justiça! RB
Recordando a Palavra
O Evangelho que acabamos de ouvir é tirado do capítulo 13 de
São Mateus; os biblistas o chamam de capítulo das parábolas, que
se insere dentro de uma sessão própria do evangelista Mateus, na
qual ele reúne os discursos de Jesus feitos de forma “metafórica”.
O capítulo reúne sete parábolas, cujo tema central é o Reino de Deus,
não como uma realidade teórica, mas como uma proclamação
que só se entende depois que se responde positivamente ou negati-
vamente. Os que respondem positivamente encontrarão o reino
como um tesouro, uma pérola, os que respondem negativamente
são “sufocados pelos espinhos”, “comidos pelos pássaros” e morrerão
entre os “pedregulhos” da terra, sufocados pelo calor do sol.
As parábolas são: a do semeador, com sua explicação, a que
acabamos de ouvir; a do joio; a do grão de mostarda; a do fermento,
Atualizando a Palavra
Amados irmãos, esta Palavra é mais que atual. O sistema no qual
vivemos nos obriga a sermos cada vez mais insensíveis à Palavra.
Quantas vezes ela soa estranha aos nossos ouvidos. “A Palavra é fogo
(outra metáfora), escreve Pronzato. E nós atiramos sobre ela baldes de
água de nosso bom-senso, de nossa falsa prudência, de nossa incrível
preguiça. Eis o que significa “tornar inócua” a Palavra, atraiçoar a
Palavra, ter o coração empedernido. Portanto, a culta não deve ser
procurada [somente] e nossa cultura deficiente [pois o semeador é
“aparentemente” descuidado e não de fato). [...] A causa profunda deve
ser procurada, como podemos [deduzir], em uma atitude fundamental
que está errada. O coração empedernido, precisamente. O terreno já
está ocupado: por nós mesmos, pelos nossos esquemas, pelos nossos
preconceitos, pelo nosso bom-senso. À Palavra em nós deve tornar-se
vida. Não pode permanecer no estágio da inteligência e nem também
naquele do vago sentimentalismo. É preciso que se torne vida, caso
contrário acaba por se desvirtuar, envilecer, tornar-se incompleta”
Irmãos, intencionalmente, e não por negligência, o divino seme-
ador semeia a Palavra sobre o caminho, entre os espinhos, e em ter-
reno pedregoso. “Deus parece semear seu Reino em pura perda, entre
20 de julho de 2014
Situando-nos brevemente
Caros irmãos e irmãs, passada uma semana que ouvimos o Evangelho
do semeador a Igreja insiste positivamente em nos apresentar modelos
de “terra boa” aberta à Palavra semeada. Esta semana quatro grandes
testemunhas do que pode o divino Semeador, rico em paciência, fazer
em favor daqueles que lhe abrem o coração, nos serão apresentadas
na sagrada liturgia: terça-feira próxima celebraremos a memória de
Santa Maria Madalena, a primeira discípula missionária do Cristo
ressuscitado. Na sexta-feira 25 celebraremos a festa de São Tiago,
chamado Maior; ele que foi testemunha da transfiguração interce-
derá em nosso favor para sermos, também nós, transfigurados em
Cristo. E por fim, no sábado 26, celebraremos os santos Joaquim e
Ana, pais da Bem-Aventurada Virgem Maria.
Os santos são testemunhas da fé levada até as últimas conse-
quências, por isso a Igreja, desde tempos remotos, os introduziu na
celebração do mistério pascal de Cristo. Assim como cada domingo,
também esse, nossa Páscoa semanal, nos abre a possibilidade de nos
encontrarmos mais uma vez na casa do Senhor, para sermos nutridos
com o Pão da Palavra e da Eucaristia, elementos que nos dão forças
para que também nós nos tornemos suas testemunhas até os pontos
mais extremos da terra e da nossa existência.
n Roteiros Homiléticos do Tempo Comum | - Ano A - São Mateus
Recordando a Palavra
Como dito domingo passado, o Evangelho deste XVI Domingo do
Tempo Comum, é continuação do capítulo 13 do Evangelho de São
Mateus, e nos apresenta uma série de três parábolas: a do joio, a da
semente de mostarda e a do fermento, ambas ditas por Jesus para
ilustrar o modo de “entender” como se manifesta o Reino de Deus.
Das três o texto de Mateus sublinha a primeira, para a qual “Jesus fez
uma homilia”, explicando-a, em casa, aos seus discípulos, e dando-lhe
sentido. Também a nós neste momento, como aos discípulos “ele nos
abre e revela as Escrituras e parte o Pão para nós”.
Com essas três parábolas Jesus também traça a situação do Reino
espalhado pelo mundo, do qual a Igreja é um sinal. A parábola da
semente de mostarda que “um homem pega e semeia no seu campo”
e que, “embora seja a menor de todas as sementes, quando cresce, fica
maior do que as outras plantas. E torna-se uma árvore, de modo que
os pássaros vêm e fazem ninhos em seus ramos”, indica o crescimento
do Reino sobre a terra. Uma semente pequena, lançada numa terra
distante, árida, desértica, confiada a um pequeno grupo, se estende
por toda a terra. Comparar o Reino com o fermento “que a mulher
pega e mistura com três porções de farinha, até que tudo fique
fermentado”, equivale também a indicar o crescimento do Reino,
não tanto em extensão, quanto mais em intensidade; indica a força
transformadora do Evangelho, que fermenta a massa dos batizados,
Novo povo construindo o Reino de Deus na justiçal B
Atualizando a Palavra
O tema central da parábola do joio é a paciência de Deus. “A liturgia
o sublinha com a escolha da primeira leitura que é um hino à força
de Deus que se manifesta sob a forma de paciência e indulgência.
À paciência de Deus não é um esperar o dia do juízo para então
punir com mais satisfação. Ele é verdadeiramente como canta o
salmo responsorial, 'clemente e fiel, amor paciência e perdão”?
O belo é que a paciência do patrão deve servir de modelo aos servos.
27 de julho de 2013
O PREGO DO GRATUITO,
Leituras: 1Rs 3,5.7-12; Sl 118(119),57.76-77.127-128.129-130;
Rm 8,28-30; Mt 13,44-52.
Situando-nos brevemente
Dileto povo de Deus, de maneira vertiginosa nos encaminhamos
para o término de mais um mês e mais uma vez nos encontramos em
torno da mesa da Palavra e da Eucaristia para celebrarmos a nossa
Páscoa semanal. Esse templo, no qual estamos reunidos, nos abriu
suas portas como para indicar a nossa entrada naquela Jerusalém que
almejamos, e da qual já cruzamos os umbrais através dos mistérios
que celebramos.
Costumamos chamar o domingo de “fim de semana”, mas não
é bem assim, este dia na verdade “é o primeiro da semana”, “dia em
que Jesus Cristo venceu o mal e a morte”, é aquele que encabeça
a nossa semana de trabalho e nós, com alegria, o consagramos a
Deus através deste culto, desta obra divina. Este XVII Domingo do
Tempo Comum nos abre uma semana plena de oportunidades de
nos admirarmos da maravilhas que o Senhor tem operado em favor
do seu povo. Os santos do calendário nos testemunham essa ver-
dade. Na próxima terça-feira 29, celebraremos Santa Marta que jun-
tamente com sua irmã Maria e seu irmão Lázaro são os hospedeiros
do Senhor; na quinta-feira 31 celebraremos Santo Inácio de Loiola,
grande propagador e defensor da fé, e nos dia seguinte celebraremos
Santo Afonso Maria de Ligório, abrindo o mês vocacional.
Novo povo construindo o Reino de Deus na justiça! RB
Recordando a Palavra
O trecho do Evangelho que ouvimos hoje, como já sublinhamos
há dois domingos passados, conclui o capítulo 13 do livro de São
Mateus, o capítulo das parábolas do Reino. Trata-se de três brevís-
simas parábolas: a primeira parábola, a do tesouro escondido, fala
de “um homem que o encontra e o mantém escondido. Cheio de
alegria, vai, vende todos os seus bens e compra aquele campo” onde
ele sabe que está escondido aquele tesouro de inestimável valor, a
segunda parábola compara o Reino dos céus a um comprador de
pérolas preciosas, que “quando encontra uma pérola de grande valor,
vai, vende todos os seus bens e compra aquela pérola”; a terceira é a
parábola da rede lançada para pegar peixe. Ela apanha todo tipo de
peixe e só no fim é que se faz uma seleção. Lembra, na sua estrutura,
a parábola do joio, sobre a qual meditamos domingo passado.
Nestas três últimas parábolas Jesus não enfatiza a expansão nem o
crescimento do Reino, como fez nas parábolas da semente de mostarda
e do fermento, mas ele trata do valor, da preciosidade do Reino. Tal
proposição nos remete imediatamente à primeira leitura: O Senhor
aparece em Gabaon a Salomão, recentemente coroado rei de Israel, e
lhe faz a proposta dos sonhos de todas as pessoas da face da terra: “pede
o que desejas, e eu te darei”. Salomão não desejou para si nem “lon-
gos anos de vida”, o último sonho de consumo da humanidade, “nem
riquezas, nem a morte de seus inimigos”, embora soubesse ser isso tudo
de extrema necessidade para um edificação de um reino, pediu para si
o que era essencial: “Dá, pois, ao teu servo, um coração compreensivo,
capaz de governar o teu povo e de discernir entre o bem e o mal”.
n Roteiros Homiléticos do Tempo Comum | — Ano A - São Mateus
Atualizando a Palavra
Como as duas parábolas do grão de mostarda e do fermento, ouvidas
domingo passado, não se diferenciam muito entre si, assim também
as parábolas do tesouro e da pérola se assemelham: tanto uma como a
outra nos fazem entender que devemos preferir e estimar o Evangelho
acima de tudo. São João Crisóstomo lembra que “com estas duas
parábolas nós aprendemos não somente que é necessário despojar-se
dos outros bens para abraçar o Evangelho, mas que devemos fazer
esse gesto com alegria. Quem renuncia a quanto possui, deve estar
convencido de que o que faz é um negócio, não uma perda. Vês como
o Evangelho escondido no mundo — prossegue o Santo, boca de ouro
— é comparável a um tesouro, e como esse esconde em si todos os
bens? Se não vendes tudo, não podes conquistá-lo e, se não tens uma
alma que o procura com a mesma solicitude e com o mesmo ardor
com os quais se procura um tesouro, não poderás encontrá-lo”.
Este tesouro, no qual estão escondidos todos os tesouros da sabe-
doria e da ciência (cf. Cl 2,25), é o Verbo de Deus, que se revela se
escondendo no Corpo de Cristo. Quando alguém encontra em Cristo
tão grande verdade, deve renunciar a todas as riquezas deste mundo,
65 IGMR, n. 27.
Novo povo construindo o Reino de Deus na justiça! n
e partes da missa que são próprias do sacerdote, isto é, que não podem
ser delegadas sob o pretexto da “participação ativa dos fiéis”. A beleza
da ars celebrandi, consiste exatamente no fato de que cada “membro/
ator” da celebração exerça com dignidade eficiente o seu papel.
“Entre as partes que competem ao sacerdote ocupa o primeiro
lugar a Oração eucarística, cume de toda a celebração. À seguir, vêm
as orações, isto é, a oração do dia (coleta), a oração sobre as oferendas e
a oração depois da Comunhão. O sacerdote, presidindo a comunidade
como representante de Cristo, dirige a Deus estas orações em nome
de todo o povo santo e de todos os circunstantes. É com razão, por-
tanto, 3 que são chamadas “orações presidenciais”,
Em seguida a IGMR dá indicações pastorais de capital importân-
cia para o ministério da presidência, sublinhando a discrição necessária
para que a celebração dos divinos mistério não se torne um momento
de “verbosidade” infinita: “Da mesma forma cabe ao sacerdote, no
desempenho da função de presidente da assembleia, proferir certas
admoestações previstas no próprio rito. Quando estiver estabelecido
pelas rubricas, o celebrante pode adaptá-las um pouco para que aten-
dam à compreensão dos participantes; cuide, contudo, o sacerdote de
manter sempre o sentido da exortação proposta no Missal e a expresse
em poucas palavras. Cabe ao Sacerdote presidente também moderar
a palavra de Deus e dar a bênção final. Pode, além disso, com bre-
víssimas palavras, introduzir os fiéis na missa do dia, após a saudação
inicial e antes do ato penitencial, na liturgia da palavra, antes das lei-
turas; na Oração eucarística, antes do Prefácio, nunca, porém, dentro
da própria Oração; pode ainda encerrar toda a ação sagrada antes da
despedida”.& O adjetivo “brevíssimas”, aplicado às palavras de introdu-
ção da missa e nas outras partes previstas, é de valor inestimável para
66 “Nas celebrações litúrgicas, limite-se cada um, ministro ou simples fiel, exercendo o seu
ofício, a fazer tudo e só o que é de sua competência, segundo a natureza do rito e as leis
litúrgicas”. SC, n. 28.
67 IGMR, n. 30.
68 IGMR, n. 31.
No Roteiros Homiléticos do Tempo Comum | — Ano A - São Mateus
3 de agosto de 2014
TENHO COMPAIXÃO,
Situando-nos brevemente
Amados irmãos e irmãs, esse XVIII Domingo do Tempo Comum
se coloca como uma série de domingos nos quais a Igreja se volta de
modo especial para as vocações. À palavra “vocação” tem sua raiz
num termo latino que significa “chamado”. Nesse sentido é significa-
tivo que na metade do mês celebremos a Solenidade da Assunção de
Maria Santíssima, esse ano no domingo 17, porque ela foi a primeira
“vocacionada” por Cristo, se tornando assim o modelo de todos os
batizados, porque todos os batizados foram e são constantemente
convocados à santidade.
O mês não é caracterizado somente como o mês do chamado,
mas também como o mês da resposta. Esta é uma excelente oportu-
nidade para refletirmos sobre como temos respondido ao constante
chamado que Deus nos faz à santidade e ao bem. Não podemos neste
mês dispensar uma atenção “toda especial” às vocações sacerdotais
e religiosas sem fazer o mesmo para com a vocação matrimonial. O
matrimônio é uma escola de santidade, “uma admirável invenção
de Cristo para que a Eucaristia seja vivida a dois”, mas não só, a »72
72 H. Caffarel. Mariage et eucharistie, in Lnneau d'Or - Le mariage, rout vers Dieu, 117-118,
maio-agosto (1964), p. 242.
E Roteiros Homiléticos do Tempo Comum | — Ano A - São Mateus
Recordando a Palavra
Um dia Jesus se tinha retirado sozinho, sobre uma barca, para um
lugar deserto e despovoado, às margens do mar da Galileia. Quando
desembarcou encontrou uma grande multidão que o esperava. Ele
“sentiu compaixão da multidão e curou os seus enfermos”. Falou à
multidão do Reino de Deus. No entanto, sem que se apercebessem,
começou a declinar o dia. Os discípulos, que se sentiam “o pessoal
da logística”, sugeriram que se “despedisse” a multidão para que
as pessoas fossem às aldeias vizinhas comprar o que comer. Jesus,
porém, os desnorteia, dizendo-lhes: “Dai-lhes vós mesmos de comer”.
“Aqui não temos mais que cinco pães e dois peixes”, responderam os
discípulos, pensando que se tratasse, se não de uma insanidade, de
uma brincadeira. Jesus pede que tragam aquilo que aos discípulos
era “somente”. Convida toda a multidão a sentar-se na grama. Pega
os cinco pães e os dois peixes, ora, levantando os olhos para os
céus, dá graças, parte os pães, entrega-os aos discípulos, e estes às
pessoas. “Todos comeram e ficaram satisfeitos. Recolheram as sobras
e encheram doze cestos. Os que comeram eram cinco mil homens,
sem contar mulheres e crianças”. Foi o piguenigue mais fantástico de
toda a história da humanidade.
À primeira leitura, do livro do profeta Isaias, escrito mais de cinco
séculos antes do evento narrado pelo Evangelho, parece descrevê-lo. O
profeta se dirige âqueles que não têm dinheiro e os convida a comprar
trigo e leite sem dinheiro. Aos que têm sede o profeta anuncia um
tempo de saciedade. Pratos suculentos são colocados à disposição dos
Novo povo construindo o Reino de Deus na justiça!
Atualizando a Palavra
O que nos ensina então a Palavra de Deus hoje? Ensina-nos o correto
modo de procurar o Senhor. Para ouvir Jesus, o povo abandona suas
aldeias e parece esquecer-se do próprio alimento. Estão na verdade
famintos de uma forma diferente “não fome de pão ou sede de água,
mas de ouvir a palavra do Senhor” (Am 8,11). A Palavra de Deus nos
ensina ainda que Jesus é aquele que “sente compaixão” do homem
todo, compreende o homem e o sacia na sua alma e no seu corpo.
Às almas ele distribui largamente a Palavra que salva, aos corpos ele
cura e proporciona o pão.
Como Jesus opera a multiplicação de tão pouco para tantos? Ele
não usou um truque ou um passe de mágica, não fez um projeto finan-
ceiro para uma entidade rica do outro lado do mar, não enviou um
pedido de ajuda a uma nação rica disposta a partilhar o que lhe sobra
no Roteiros Homiléticos do Tempo Comum | —- Ano À — São Mateus
74 João Crisóstomo. Homilia 50a sobre o evangelho de são Mateus. 2-4, in PG 53, 347,
75 SC,n. 30.
76 IGMR, n. 45.
Novo povo construindo o Reino de Deus na justiça!
77 IGMR, n. 56.
XIX DOMINGO DO TEMPO COMUM
10 de agosto de 2014
Situando-nos brevemente
É domingo, o dia do Senhor ressuscitado, mas não só, este é também
o dia da Igreja por excelência. Faz sentido que seja assim porque a
Igreja é o corpo do Cristo ressuscitado, ela é o sinal visível da presença
do Cristo entre os homens, ela é o sinal do advento do Reino; pelos
seus sacramentos o Cristo continua vivo e operante entre nós.
O Catecismo da Igreja Católica ensina que “já presente na sua
Igreja, o Reino de Cristo ainda não está consumado 'com poder
e grande glória” (Lc 21,17) pelo advento do Reino na terra. Esse
Reino é ainda atacado pelos poderes maus, embora estes já tenham
sido vencidos em suas bases pela Páscoa de Cristo. Enquanto tudo
não for submetido, 'enquanto houver novos céus e a nova terra, nos
quais habita a justiça, a Igreja peregrina leva consigo nos seus sacra-
mentos e nas suas instituições, que pertencem à idade presente, a
figura deste mundo que passa e ela mesma vive entre as criaturas
que gemem e sofrem dores de parto até o presente e aguardam a
manifestação dos filhos de Deus”. Por este motivo os cristãos oram,
sobretudo na Eucaristia, para apressar a volta de Cristo dizendo-
lhe: “Vem, Senhor”?
78 CIgC, n. 671.
Novo povo construindo o Reino de Deus na justiça! N
Recordando a Palavra
O texto do Evangelho de hoje sucede imediatamente o texto do
Evangelho de domingo passado, do qual faz explícita referência:
“Depois da multiplicação dos pães”. Mateus prossegue dizendo que
Jesus “ordenou” que os discípulos embarcassem para a outra margem
do mar, enquanto ele mesmo se encarregava de despedir a multidão
saciada do pão da palavra e do pão do corpo. Depois Jesus, como de
costume se coloca em oração até as “altas horas” da noite. Terminada
a oração, Jesus se dirige ao encontro com os seus, caminhando por
sobre o mar, enquanto isso um forte vento se abatia sobre a barca dos
discípulos e as ondas ameaçavam engoli-la. Uma cena cômica acontece
com os discípulos que vendo Jesus, pensam se tratar de um fantasma e
se põe a gritar; então Jesus diz a célebre frase, que nos diz a nós nesta
Eucaristia: “Coragem! Sou eu. Não tenhais medo”. Pedro se oferece
para ir até Jesus caminhando sobre as águas, mas por medo começa a
afundar. Pedro não tem medo porque começa a afundar, mas Pedro
começa a afundar porque tem medo. O medo é o maior de todos os
males. Ele é o contrário não só da confiança, mas é o contrário do
amor, porque quem ama não tem medo. Mas da goela de Pedro sai
uma das mais belas orações da Sagrada Escritura: “Senhor, salva-me”,
Pedro, como Jesus na eminência da morte reza os salmos: “Salva-me,
ó Deus, pois a água sobe até o meu pescoço. Estou atolado no lodo
profundo, onde não posso ficar de pé; caí nas águas profundas e as
Roteiros Homiléticos do Tempo Comum | — Ano A — São Mateus
Atualizando a Palavra
Irmãos e irmãs caríssimos, os fatos do Evangelho não foram escritos
para servirem somente como histórias para serem contados e
79 S169,2-4.
80 S145,2-4.
Novo povo construindo o Reino de Deus na justiça! R
83 Atenção: o número 78 da IGMR lembra que a oração eucarística se abre com o “Diálogo
Introdutório ou Diálogo Invitatório”. Diz: “Inicia-se a Oração eucarística, centro e ápice de
toda a celebração, prece de ação de graças e santificação. O sacerdote convida o povo a elevar
os corações ao Senhor na oração e ação de graças e o associa à prece que dirige a Deus Pai,
por Cristo, no Espírito Santo, em nome de toda a comunidade. O sentido desta oração é que
toda a assembleia se una com Cristo na proclamação das maravilhas de Deus e na oblação do
sacrifício. À oração eucarística éxige que todos a ouçam respeitosamente e em silêncio”.
84 Convém recordar que o Prefácio é parte integrante da oração eucarística. Nós do rito romano
temos dois tipos de oração eucarística: orações com prefácio próprio (por ex. as OE II, IV, V)
e orações com prefácios móveis (por ex. as OE Ie III). Pastoralmente durante a concelebração
se o presidente da eucaristia precisar anunciar o número da oração eucarística, por causa
da mobilidade do prefácio usado, deve fazê-lo antes do diálogo invitatório e não depois do
Sanctus, para evitar uma separação entre o prefácio e o “Canon”.
Novo povo construindo o Reino de Deus na justiça! R
17 de agosto de 2014
Situando-nos brevemente
Caros irmãos e irmãs, por motivos pastorais, a Igreja no Brasil
transfere a Solenidade da Assunção de Nossa Senhora, do dia 15 de
agosto para o domingo seguinte a essa data. Portanto, hoje, 17 de
agosto, como é já sabido, o XX Domingo do Tempo Comum, cede
lugar a esta grande Solenidade.
É conveniente lembrar que é sempre Páscoa. Este domingo é
o dia em que celebramos a ressurreição do Senhor, na qual está
inserido o mistério que hoje celebramos. É o dia em que celebramos
também o prenúncio da nossa ressurreição, e esta Solenidade nos
aponta para isso. O Catecismo da Igreja Católica nos lembra que
“a Imaculada Virgem, preservada imune de toda mancha da culpa
original, terminado o curso da vida terrestre, foi assunta em corpo
e alma à glória celeste. E, para que mais plenamente estivesse
conforme a seu Filho, Senhor dos senhores e vencedor do pecado
e da morte, foi exaltada pelo Senhor como Rainha do universo.
A Assunção da Virgem Maria é uma participação singular na
Novo povo construindo o Reino de Deus na justiça!
Recordando a Palavra
Às três leituras que acabamos de ouvir, todas do Novo Testamento,
nos falam muito vivamente dos valores da assunção de Nossa Senhora,
nos revelam o lugar que tal mistério, que agora celebramos, ocupa no
plano da salvação e nos ensinam como vivermos plenamente a nossa
humanidade que encontra seu termo no mesmo lugar que a Mãe de
Deus encontrou o seu.
Na primeira leitura, tirada do livro do Apocalipse, João nos fala
de uma das suas visões, imagem de Maria, imagem da Igreja. Ele vê,
em primeiríssimo lugar, o Templo contendo a “arca da aliança”, depois
vê “uma mulher vestida de sol, tendo a lua debaixo dos pés e sobre a
cabeça uma coroa de doze estrelas”. A mulher está grávida e prestes a
dar à luz. “Ela deu à luz um filho homem, que veio para governar todas
as nações”. À mulher é perseguida por um grande dragão. O Filho foi
levado para junto de Deus e a mulher levada para o lugar que “Deus
lhe tinha preparado”. O texto joanino se conclui mostrando que esse
evento é a síntese da história da salvação: “Agora realizou-se a salvação,
a força e a realeza do nosso Deus, e o poder do seu Cristo”,
Na segunda leitura Paulo coloca a ressurreição de Cristo não
como única, mas como “primícia”, isto é, como primeira, como
86 ClgC, n. 966.
No Roteiros Homiléticos do Tempo Comum | — Ano A — São Mateus
Atualizando a Palavra
Isso mesmo, a Solenidade da Assunção de Maria não é outra
L
os seu Filho, isto é, que quer impedir sua mensagem, que quer fazer
“abortar” sua missão. Por isso ela foi levada, segundo o mistério que
hoje celebramos, ao “lugar que Deus lhe tinha preparado”. O que
é ressuscitar senão está plena e eternamente junto de Deus? Quem
com ele está já ressuscitou, que dele se afasta já se declara morto.
Assim a Virgem da Assunção se torna anúncio e meta final
da redenção: a glorificação da humanidade em Cristo. “Muitos não
gostam de ouvir falar em 'salvação das almas”, escreveu alguém.
Expressando-se assim, parece-lhes que a vida, com suas cores,
sabores e complementos que a tornam agradável, vá desaparecer,
parece-lhes que o corpo não serve para nada. Têm razão, porque
não será assim. Maria, assunta ao céu é garantia de que o homem
todo se salva, de que os corpos ressurgirão. Para os cristãos a salva-
ção é ressurreição dos corpos, um mundo novo e uma terra nova”.*”
Eis porque João disse ter visto no céu “uma mulher”, Essa mulher/
humanidade é elevada na sua completude, expressou a oração da
coleta desta missa: “Elevaste à glória do céu em corpo e alma a
imaculada Virgem Maria”,
Essa “mulher/humanidade” se expressa através do canto. O seu
cântico é profético ele nos ensina a olhar a história do mundo e, con-
sequentemente, a nossa história pessoal, com outros olhos. Deus é
visto como Senhor, todo-poderoso, santo e ao mesmo tempo visto
como um Deus próximo e pessoal “meu salvador”; excelso e trans-
cendente e ao mesmo tempo cheio de zelo e amor pelas suas criatu-
ras. O cântico também evidencia a triste realidade de divisão que se
acentua sempre mais no mundo: potentes e humildes, ricos e pobres,
fartos e famintos, mas não se detém em contemplar como expectador
indiferente a catástrofe da calamidade mundial, anuncia a reviravolta
que Deus decidiu operar em Jesus Cristo entre essas “categorias”:
“Derrubou dos tronos os poderosos...”.
87 Comentário in Missal dominical, missal da assembleia cristã. Paulus, São Paulo, 1995, p. 1346.
No Roteiros Homiléticos do Tempo Comum | — Ano A — São Mateus
90 J. Pereira. Dilata os tuum et implebo illud (Ps. 80, 11), 1 vocalizzare, il mangiare e il baciare, atti
della bocca nella celebrazione eucaristica: fonti di spiritualitã per la vita cristiana, Tesi di licenza in
Sacra Teologia con specializzazione in Liturgia Pastorale. S. Giustina, Padova 2012, p. 29-30, n.e.
91 Cf. Paulo VI, Missale Romanun, const. ap. 3 de abril 1969, in EnchVat 3, n. 996-1008.
N Roteiros Homiléticos do Tempo Comum | — Ano A — São Mateus
XXI
24 de agosto de 2014
Situando-nos brevemente
Domingo da profissão de fé de Simão Pedro. Animados pela
presença do Ressuscitado em nossa caminhada de discípulos, somos
convidados a proclamar a fé e a recordar o sentido de nossa missão.
Jesus é o Messias inteiramente devotado ao serviço do projeto do
Pai, que é o de salvar a todos. Os que assumem esse projeto tornam-se
agentes promotores da vida e servidores do bem comum, libertando
as pessoas das forças do mal. No exercício da missão, os discípulos de
Jesus se veem envoltos em situações delicadas que requerem muita fé.
O anúncio da Boa-Nova do Reino exige dos discípulos e missioná-
rios convicção profunda, mas, em certos momentos, eles fraquejam e
sentem-se impotentes.
Celebra-se o mistério da páscoa de Jesus Cristo que se manifestou
em todas as pessoas e grupos que professam sua fé em Jesus e tornam-se
testemunhas do Reino. Conscientes de nossa pobreza e fragilidade, dispo-
nhamo-nos à graça de Deus que nos faz proclamar a mesma fé de Simão
Pedro: “Tu és o Messias, o Filho do Deus vivo”. Recordamos com carinho
neste dia os vocacionados para os ministérios e serviços na comunidade.
Recordemos, hoje, os catequistas em sua importante missão de
educadores da fé.
' Roteiros Homiléticos do Tempo Comum ! — Ano A — São Mateus
Recordando a Palavra
Jesus e os discípulos chegam nas imediações de Cesareia de Filipe,
a cerca de 50 quilômetros do lago de Genesaré. Cesareia chamava-
-se Paneas, em honra ao deus Pan, a quem eram oferecidos cultos
numa gruta. Quando Herodes, o Grande, recebeu esta região do
Imperador Augusto, construiu ali um templo consagrado ao culto do
Imperador. Com a morte de Herodes, a região passou a ser governada
pelo tetrarca Filipe. Este, para cultuar César, passou a chamar
a cidade de Cesareia de Filipe. A população, em sua quase totali-
dade, era pagã. Portanto, Jesus e os discípulos estão fora do centro
político, econômico e religioso. Estão em uma verdadeira periferia,
se olharmos a partir do sistema dominante de Israel.
Enquanto caminhavam próximos da cidade de Cesareia, Jesus
interpela os discípulos: “Quem dizem os homens que é o Filho do
Homem?”. Os discípulos, pegos de surpresa, apresentam as mais
diferentes versões. Os testemunhos demonstram que o povo desco-
nhece e não acredita que Jesus seja o Messias, pois esperava por outro
messias, poderoso e triunfante. Circula entre a gente uma imagem
distorcida do Filho do Homem, por causa de sua humanidade. Jesus
não se enquadrava nas expectativas, no imaginário do povo.
Seguindo em frente na caminhada, o Mestre deseja saber
o que eles, os discípulos, pensam a seu respeito: “E vocês quem
dizem que eu sou?”. Todos se calam, menos Pedro que responde:
“Tu és o Messias, o Filho do Deus vivo”. À confissão do discí-
pulo reconhece em Jesus a messianidade e a divindade — Messias e
Filho de Deus. Observemos que Jesus será condenado mais tarde
por estas realidades proclamadas por Simão Pedro (cf. Jo 5,18;
10,33). O Mestre felicita o discípulo por sua resposta: “Você é
feliz, Simão, filho de Jonas, porque não foi um ser humano que
lhe revelou isso, mas o meu Pai que está no céus”. À profissão de
fé do discípulo é fruto da revelação do Pai que foi se sedimen-
tando pela escuta dos ensinamentos do Mestre. “Um ser humano”,
Novo povo construindo o Reino de Deus na justiça! BR
Atualizando a Palavra
A palavra de Deus, deste domingo, é uma mina de grande valor.
Podemos contemplá-la sob diferentes ângulos. Eliacim e Simão
Pedro, por serem pessoas tementes a Deus, receberam uma missão,
ou seja, as “chaves”. Na perspectiva da fé, qual seria a missão dos
discípulos e missionários do Senhor em nossos dias?
Na caminhada da vida, constantemente Jesus nos interpela: “e
vocês quem dizem que eu sou?”. O povo de Israel assimilara uma
imagem distorcida do Messias e não tinha clareza sobre sua identi-
dade. Hoje, como outrora, as pessoas são presas fáceis das novas pro-
postas religiosas e pseudorreligiosas. Estes responderão vagamente à
interpelação do Mestre (cf. Estudos da CNBB, 104, n.118-128).
Pedro confessou sua fé no Cristo, Filho de Deus vivo, graças à
escuta de sua palavra e à cotidiana convivência. O Discípulo reconheceu
Novo povo construindo o Reino de Deus na justiça! RB
fortalecer a fé, para encarar os novos desafios, uma vez que estão
em jogo o desenvolvimento harmônico da sociedade e a identidade
católica dos povos.
Preparando a celebração TT
Neste domingo da profissão de fé de Pedro e de todos os que seguem
a Jesus, “o Messias, o Filho do Deus vivo”, a equipe de liturgia é
convidada a dar particular atenção:
à à acolhida carinhosa e fraterna das pessoas que chegam para
tomar parte da celebração;
à ao clima orante, antes e durante toda a celebração, que favo-
reça o encontro da assembleia com o mistério da salvação
revelado pelo Messias e Senhor;
31 de agosto de 2014
Leituras: Jr 20,7-9;
Salmo Responsorial: SI 62(63),2.3-4.5-6.8-9 (R/. 2b);
Rm 12,1-2; Evangelho: Lc Mt 16,21-27.
Situando-nos brevemente
Domingo da renúncia de tudo para seguir livremente Jesus.
Quem deseja seguir Jesus, fazendo dele “caminho, verdade e vida”
ouve de imediato o apelo: “Renuncie a si mesmo, tome sua cruz e
siga-me”. É a certeza de que caminhar com Ele implica a entrega
e a doação radical.
No seguimento de Jesus Cristo, aprendemos e praticamos as
bem-aventuranças do Reino, o estilo de vida do próprio Jesus: seu
amor e obediência filial ao Pai, sua compaixão entranhável frente à
dor humana, sua proximidade aos pobres e aos pequenos, sua fideli-
dade à missão, seu amor serviçal até a doação de sua vida.
Celebramos a páscoa de Jesus Cristo que se revela e amadurece
nas inúmeras pessoas e comunidades que, renunciado a si mesmo e
carregando a cruz, doam sua vida em favor dos valores da Boa-Nova
do Reino. Necessitamos nos fazer discípulos dóceis, para aprender-
mos de Jesus, em seu seguimento, a dignidade e a plenitude da vida.
Recordamos, com carinho hoje, os diferentes servidores em nos-
sas comunidades eclesiais.
BR
Novo povo construindo o Reino de Deus na justiçal
Recordando a Palavra
Jesus inícia uma nova fase de vida. Até aqui ele foi instruindo os
discípulos e o povo, começando pela Galileia. Agora ele revela o
mistério de sua pessoa, o caminho da cruz, da paixão e ressur-
reição. O Mestre passa a se dedicar mais à formação interna do
grupo dos discípulos.
O caminho da cruz é marcado pela urgência de ir a Jerusalém,
cidade centro do poder político e religioso. Aqui será preso, torturado
e condenado à morte, mas ressuscitará depois de três dias (v. 21). Jesus
está determinado e consciente dos riscos que corre por causa da justiça
do Reino que anunciou. Na Judeia os anciãos, os chefes dos sacerdotes e
dos escribas vão oferecer resistência e determinadamente opor-se a Jesus.
Uma realidade dura demais para a cabeça de Pedro. O discípulo
que professara sua fé no Messias, “Filho de Deus vivo,” não consegue
entender as consequências de sua missão messiânica. Simão, que não
compreende o mistério do Filho de Deus, propõe uma alternativa
e repreende a Jesus: “Deus não permita tal coisa, Senhor! Que isto
nunca te aconteça!”. Ele, a exemplo do povo judeu, está arraigado a
um messianismo poderoso e vencedor.
Pedro constitui-se para Jesus em uma pedra de tropeço no cami-
nho. Por isso a reação do Mestre é violenta: “Fique longe de mim,
Satanás! Você é uma pedra de tropeço para mim, porque não pensas
as coisas de Deus, mas as dos homens!” (v. 23). O discípulo deseja
que Jesus seja feito à imagem e semelhança dos critérios humanos.
Todavia, o Messias não é como os humanos querem. Pelo contrário,
ele convida para ser aquilo que ele é, seguindo-o pelo caminho da
cruz. As condições implicam a renúncia de si mesmo e o carregar a
própria cruz. Realidades que identificam o discípulo com o Mestre,
que encontrou a vida na doação de sua própria vida. O discípulo que
perde a vida tem a grande vantagem: a entrega total como Jesus.
A única forma de realização total será sempre viver para os outros.
Este é o caminho da Cruz (Evangelho).
a Roteiros Homiléticos do Tempo Comum | — Ano A — São Mateus
Atualizando a Palavra
A compreensão da Boa-Nova de Jesus para o domingo de hoje
constitui-se no fundamento da vida e da espiritualidade cristã,
entendidas como seguimento na existência cristã. Seguir e contem-
plar o Cristo glorioso é fácil e consolador. Mas o Cristo dos Evange-
lhos, apresentado como modelo da prática cristã e fonte de inspiração,
Novo povo construindo o Reino de Deus na justiçal Pp
Preparando a celebração O
No domingo da renúncia para seguir a Jesus, a equipe de liturgia
prepara com antecedência e esmero a celebração da comunidade
cristã, considerando:
à acolher com carinho as pessoas que chegam para tomar parte
da celebração;
à preparar o ambiente da celebração de tal forma que as pessoas
percebam-se acolhidas e inseridas no mistério da celebração;
à reservar tempo para o ensaio de cantos e um momento para a
oração pessoal. O clima orante pode ser favorecido pelo canto
de um refrão meditativo;
à introduzir, na procissão de entrada, uma Cruz e colocá-la em
lugar de destaque junto à mesa da Palavra e da Eucaristia,
fazendo referência à renúncia e ao seguimento de Jesus pobre
e crucificado;
à reservar, na oração da coleta, uns instantes de silêncio para
a oração pessoal e depois solicitar à assembleia que erga seus
braços suplicantes, durante a oração proferida pelo ministro;
à erguer solenemente a cruz, após concluída a homilia, enquanto a
comunidade diz: “Nossa glória é a cruz ...' ou “Todos nós deve-
,