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20/01/2019 ESPACOS NARRADOS - Documentos Google

Ruína, Manoel de Barros e o entre-espaço do vazio 


Marcelo Chiavegato Arnellas 
Graduando em Arquitetura e Urbanismo 
Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP - FAUUSP 
 
Palavras-chave: experimentação audiovisual; poética do abandono; estética japonesa. 

O presente ar go é parte do processo de realização de um Trabalho Final de Graduação em


Arquitetura e Urbanismo pela FAUUSP, o qual baseia-se em uma inves gação subje va do autor em
torno do conceito do vazio. Encarado o trabalho como uma jornada existencial e um mergulho
reflexivo sobre o objeto de estudo, personificado na ruína, o produto em desenvolvimento é um
material audiovisual ob do através de experimentações esté cas apoiadas em uma amálgama de
referências dos campos da arquitetura, cinema, poesia e filosofia.
Para além da ruína, o ambiente que a envolve é também protagonista da narra va que se
constrói. Cada visita à campo é sen da como uma verdadeira viagem, um encontro com o possível e
o inesperado, visto que intencionalmente não houve uma aproximação analí co-descri va sobre os
espaços visitados. A coleta de informações empobreceria a experiência sensível: “Às vezes, quanto
mais você sabe menos você vê. O que você encontra é o seu conhecimento, não a coisa em si”, reflete
o poeta Andrew Greig.
Debruçando-se sobre o filme Stalker (1979), de Andrei Tarkovsky, que tem também como
protagonista a Zona, uma paisagem proibida e isolada, e sobre o material produzido pelo grupo
homônimo, principalmente por Francesco Careri em suas grandes caminhadas nas periferias de
Roma, o desenvolvimento do trabalho a que este ensaio se refere se dá por meio da imersão em um
espaço mutante e híbrido, um espaço do entre, um espaço de tensão entre cultura e natureza, a
exemplo dos conceitos de terrain vague (Ignasi Sola-Morales) e da terceira paisagem (Gilles
Clément).
A ruína é um objeto ponte para que se consume a experiência de um tempo lento, em
oposição a apressada marcha do tempo que transforma o meio urbano e a sociedade. A condição
não-funcional presente da ruína, lhe confere a sensação da experiência de uma espécie de tempo
puro, como nos coloca Marc Augé. Tempo este marcado pelo aqui-e-agora do lento processo de
metabolização do edi cio pela natureza, deslizando em direção a um estado orgânico: transformação
de uma arquitetura residual em um objeto esté co ou ar s co, provocando novos encantamentos.
Jorge de Lima se indaga, “porquanto, como conhecer as coisas, senão sendo-as?”. É a par r
deste exercício de contemplação de um tempo lento, que o trabalho se aproxima a poesia de Manoel
de Barros. O poeta tem seus olhos direcionados ao chão, às coisas rasteiras, aos miúdos
agenciamentos estabelecidos entre os reinos animais, vegetais e minerais, permeado pela presença

https://docs.google.com/document/d/1_hFph1lYsuzbZb_YyTd7Uz-13Q636-S4xkuUj1R8fbM/edit 1/2
20/01/2019 ESPACOS NARRADOS - Documentos Google

onipresente da água, o constante ciclo de decomposição e renovação do ambiente viçoso e alagadiço


do Pantanal. O imaginário da poesia barreana é prenhe de possibilidades e se faz através de trânsitos
sinestésicos entre a essência dos seres e não-seres, confundindo-os entre os diferentes reinos,
estabelecendo novos significados.
Esse deslocamento linguís co, além da clara referência quando o haikai é parte de sua obra,
explicita uma consonância de Barros com a filosofia zen-budista e a esté ca japonesa, no que tange à
fluidez entre opostos e suas nuances, evocando a impermanência e a transitoriedade da matéria
acima de qualquer certeza.
Aqui se faz relevante discu r, em formato de ensaio, as premissas estabelecidas para as
visitas à campo, o amadurecimento da percepção do espaço-tempo vivido guiado pela literatura
consultada, o desenvolvimento de uma poé ca do abandono e das coisas rejeitadas e sua tradução
para a linguagem audiovisual, de forma que o produto que se pretende alcançar é uma obra aberta,
a ser completada pela subje vidade do espectador por meio da mul plicidade de interpretações
proporcionada pelo uso da esté ca do oculto e da sugestão, emprestadas da esté ca japonesa,
adotada para a captação das imagens in loco (subexposições, superexposições, desfoques, planos
fechados).

https://docs.google.com/document/d/1_hFph1lYsuzbZb_YyTd7Uz-13Q636-S4xkuUj1R8fbM/edit 2/2

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