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MAL-ENTENDIDOS SOBRE O MAL-ENTENDIDO:

INTERPRETAÇÕES DIVERGENTES NAS INTERAÇÕES


ENTRE BRASILEIROS E FRANCESES.

Júlia Christina Nascimento de Arruda Waite

Tese de Doutorado apresentada ao Programa de


Pós-Graduação em Letras Neolatinas da
Universidade Federal do Rio de Janeiro como
quesito para a obtenção do Título de Doutor em
Letras Neolatinas. (Estudos Lingüísticos
Neolatinos, opção Língua Francesa).

Orientadora: Profa. Doutora Angela Maria da Silva


Corrêa.

Rio de Janeiro
Julho de 2008
Vol. I
Mal-entendidos sobre o mal-entendido:
Interpretações divergentes nas interações entre brasileiros e franceses.

Júlia Christina Nascimento de Arruda Waite

Orientadora: Angela Maria da Silva Corrêa

Tese de Doutorado submetida ao Programa de Pós-Graduação em Letras


Neolatinas da Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ, como parte dos
requisitos necessários para a obtenção do título de Doutor em Letras Neolatinas
(Estudos Lingüísticos Neolatinos, opção Língua Francesa).

Examinada por:

________________________________________________
Presidente, Profa. Doutora Angela Maria da Silva Corrêa

_________________________________________________
Prof. Doutor Fernando Afonso de Almeida – UFF

_________________________________________________
Profa. Doutora Kátia Ferreira Fraga – UERJ

_________________________________________________
Profa. Doutora Maria Aurora Consuelo Alfaro Lagorio - UFRJ

_________________________________________________
Profa. Doutora Victoria Wilson da Costa Coelho – UERJ

_________________________________________________
Profa. Doutora Aurora Maria Soares Neiva – PPG Lingüística Aplicada – UFRJ,
Suplente

_________________________________________________
Profa. Doutora Márcia Atálla Pietroluongo – PPG Letras Neolatinas – UFRJ,
Suplente

Rio de Janeiro
Julho de 2008
Dedico:

Às minhas Fábulas encantadoras, aos meus Contos de fadas pueris, à minha


Antologia mais emocionante, ao meu Romance de aventuras, ao meu
precioso Soneto perfumado de inocência:
minhas filhinhas Laura e Gabriela;

À minha Epopéia avassaladora, aos meus Versos Parnasianos, ao meu


Sumário impecavelmente organizado, às minhas Declarações de pai zeloso,
às minhas Cartas apaixonadas: meu marido Jeremy;

Às minhas Crônicas de amizade, ao meu Diário de confidências, aos meus


Livros de ajuda, aos meus e-mails prestativos, ao meu Editorial de moda e
beleza, ao meu Resumo de companheirismo, às minhas Coletâneas de
qualidades e afetos, ao meu Atestado de ‘mãedrinhas’ exemplares de nossa
cria: minhas queridas irmãs Sylette e Shirley;

À minha Biografia:

Meu Cancioneiro cifrado, minhas Tarjas de humor, minha


Literatura de Cordel, minha Epígrafe de otimismo admirável, minha
Resenha de simplicidade e integridade: José Banza de Arruda Filho, meu
pai amado.

Meu Livro de orações, meu Manual de Boas maneiras, minhas


Novelas melodramáticas, meu Caderno de receitas do Nordeste, minha
Síntese de Dedicação, meus Romances de cabeceira preferidos, ao meu
primeiro Livro, às minhas primeiras Narrações: Marlene Matias
Nascimento de Arruda, minha querida mãe, o meu mais lindo Poema de
Amor.

Agradeço infinitamente:

A DEUS pela minha família, pelos meus amigos, pela minha História de VIDA.
Agradecimentos:

À minha orientadora Angela Maria da Silva Corrêa

Pela generosidade com que compartilhou sua sabedoria, seu talento


inspirador, sua compreensão e sua valiosa amizade.

Pelas imensuráveis contribuições acadêmicas aos que tive o


privilégio de chamar de Professor:

Judith Conceição de Oliveira Freitas no Francês;


Sebastião Josué Votre e Maria da Conceição Paiva
na Lingüística e
Lauro Góes na Literatura e no Teatro.

Pelas aulas cativantes e iluminadoras para a escolha teórica


Fernando Afonso de Almeida.

Pela atenção dispensada aos meus questionamentos


Kerbrat-Orecchioni.

Pelos depoimentos anônimos


A todos os entrevistados voluntários e aos Hotéis que colaboraram
com a pesquisa.

Pelas horas extras para que eu pudesse me dedicar à tese,


pelo carinho com nosso lar e com nossas pequenas.
À Lourdes Pereira e Márcia Gomes.

A todos os MESTRES, ALUNOS, AMIGOS e FAMILIARES a


quem devo o incentivo e o carinho para a realização deste trabalho.
SINOPSE

Análise Sociolingüística Interacional de mal-


entendidos gerados em interações verbais e não
verbais entre falantes brasileiros e franceses através
de língua francesa, em contextos diversificados e em
contexto profissional específico no meio hoteleiro.
RESUMO

ARRUDA WAITE, Júlia Christina Nascimento de. Mal-entendidos sobre o mal-


entendido: interpretações divergentes nas interações entre brasileiros e franceses.
Tese de Doutorado em Letras Neolatinas, UFRJ, 2008.

O presente trabalho investiga a ocorrência de mal-entendidos lingüísticos e


pragmáticos nas interações entre brasileiros e franceses, em que a língua veicular é o
francês. O mal-entendido ocorre quando dois ou mais interlocutores interpretam de
forma divergente um mesmo vocábulo, enunciado ou situação. Acreditamos que a
natureza assimétrica das interações interculturais favoreça a promoção de mal-
entendidos, no entanto, defendemos o caráter de transversalidade deste fenômeno
conversacional, presente nos mais diversos tipos de interação.
Através da análise de um corpus de relatos de mal-entendidos ocorridos em
interações entre brasileiros e franceses em contexto livre ou profissional, averiguamos
quais são suas causas promotoras, que efeitos eles produzem sobre as faces dos
interlocutores e consequentemente sobre o processo interativo.
Caminhamos no trajeto inverso ao da visão reducionista que atribui ao mal-
entendido toda a responsabilidade pelo fracasso nas conversações. Procuramos,
finalmente, apresentá-lo como elemento intrínseco ao discurso e sinalizador de
diferenças lingüístico-comportamentais, que nos convida a enxergar o Discurso sob a
ótica do outro.

Palavras-chave: mal-entendido, intercultural, interação, face, polidez

Rio de Janeiro
Julho de 2008
ABSTRACT

ARRUDA WAITE, Júlia Christina Nascimento de. Mal-entendidos sobre o mal-


entendido: interpretações divergentes nas interações entre brasileiros e franceses.
Tese de Doutorado em Letras Neolatinas, UFRJ, 2008.

The current study investigates the occurence of linguistic and pragmatic


misunderstandings on interactions between Brazilian and French people, in which the
language used is French. The misunderstanding occurs when two or more interlocutors
disagree on the same word, statement or situation. We believe that the asymmetric
nature of cross-cultural interactions stimulates misunderstandings. However, we support
the sight of transversality of this conversational phenomenon, present in a great variety
of interactions.
Through the analysis of a corpus of reports of misunderstandings occured in
interactions between Brazilian and French in a professional or non professional context,
we searched for the causes and effects they produce on interlocutors’ faces and
consequently on the interactive process.
We move into the opposite direction of the reductionist sight which assigns to
the misunderstanding all the responsability of failures in conversations. Finally, we
intend to present it as an intrinsic element of speech and as a signal of linguistic and
behavioural differences, which invites us to understand the Speech from the perspective
of the other.

Key words : misunderstanding, cross-cultural, interaction, face , politeness

Rio de Janeiro
July 2008
À Nerita Maria do Nascimento

Pelo Amor sem mesuras,


Que tantos acolheu como filhos;
Pela Alegria contagiante
Com que nos ensina a viver;
Pela Fé inabalável que a tornou
o Porto Seguro de nossa Família,
Pelos sequilhos com sabor de minha infância.
Terna gratidão a nossa tia avó.
SUMÁRIO

I – INTRODUÇÃO...................................................................................................10

II – FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA E METODOLÓGICA....................21

1. O MAL-ENTENDIDO E A CO-CONSTRUÇÃO DO DISCURSO.............21


1.1. A Teoria Interacionista........................................................................21
1.2. A Co-construção discursiva.................................................................23
1.3. A interação face a face: um meio multicanal.....................................25
1.3.1. As interações verbais...............................................................28
1.3.2. As interações não verbais e mistas..........................................30
1.4. O contexto, o enquadre e os esquemas de conhecimento..................33

2. O MAL-ENTENDIDO E A POLIDEZ...........................................................40

2.1. Grice: as máximas conversacionais e as implicaturas.......................43


2.2. Goffman, Brown e Levinson: a preservação das faces e os FTAs....44
2.3. Kerbrat-Orecchioni: o conceito de FFAs...........................................53

3. PARA ENTENDER O MAL-ENTENDIDO...................................................56

3.1. A administração do mal-entendido nas interações. ..........................57


3.1.1. Algumas teorias: definições, tipologias, reparações e efeitos do
mal-entendido. ...................................................................................58

3.2. O mal-entendido e alguns conceitos adjacentes.................................75


3.2.1. O mal-entendido deliberado......................................................76
3.2.2. O qüiproquó, o engano ou o equívoco.......................................76
3.2.3. O ato falho.................................................................................77
3.2.4. O ruído.......................................................................................78
3.2.5. O estereótipo..............................................................................78
3.2.6. A ironia......................................................................................79
3.2.7. A gafe........................................................................................80
3.2.8. A impolidez...............................................................................81

3.3. O mal-entendido propriamente dito, ou não dito? ...........................82


4. METODOLOGIA.........................................................................................84

4.1. Caracterização do corpus. ....................................................................84


4.1.1. Constituição da amostra CLD.....................................................86
4.1.2. Constituição da amostra CPH.....................................................89
4.1.3. Constituição da amostra ACI......................................................93
4.1.4. Apresentação dos dados qualitativos e quantitativos do corpus.94

4.2. Procedimentos analíticos e operacionais do corpus...........................100

III – ANÁLISES.......................................................................................................105

1. ANÁLISE INTERACIONISTA DO MAL-ENTENDIDO


INTERCULTURAL...........................................................................................105

1.1. Análise da amostra CLD....................................................................106


1.2.Análise da amostra CPH.....................................................................143
1.3.Análise da amostra ACI .....................................................................158

2. ANÁLISES CONCLUSIVAS...................................................................171

2.1. A delimitação do mal-entendido........................................................171


2.2. A comparação dos resultados obtidos nas amostras.......................175

IV- CONCLUSÃO..................................................................................................179

V – REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS....................................................184

VI - ANEXOS...........................................................................................................192
"Le monde ne marche que par le malentendu.
C´est par le malentendu universel que tout le monde s´accorde.
Car si, par malheur, on se comprenait on ne pourrait jamais s´accorder."
(Charles Baudelaire, Mon coeur mis à nu, XLII)
SUMÁRIO

VI - ANEXOS...........................................................................................................192

1. AMOSTRA CLD.............................................................................................192

2. AMOSTRA CPH.............................................................................................272

3. AMOSTRA ACI............................................................................................. 361


I – INTRODUÇÃO

Gabriela finalizava seu turno de fala, cercada por confortáveis pistas de

compreensão de seu interlocutor: um sorriso discreto de aquiescência conjugado a um

leve aceno positivo de cabeça durante a escuta. Mathieu abre, então, sua colaboração

discursiva com uma declaração objetiva que quebra, abruptamente, a aparente

sobriedade daquela interação. Ainda confusa por ter esquecido que nem sempre o que se

intenciona dizer corresponde ao que foi dito, ou efetivamente compreendido, Gabriela o

interpela: - Não, não, não. Acho que houve um mal-entendido.

Quantas vezes nos surpreendemos com a visita inesperada de um mal-entendido

no decorrer da conversação? Ele é o trem da interpretação que se descarrila e retorna

aos trilhos, em uma outra via, sem dar chance aos passageiros de perceberem o que

aconteceu, exatamente como na metáfora de Laforeste (2003, p.7). 1

A cena ilustrada no parágrafo introdutório está longe de representar um

fenômeno raro e descomprometido com o fluxo discursivo. Os estudos da última década

dedicados ao mal-entendido ressaltam seu caráter ‘acidental’ e de ‘transversalidade’ ou

seja, sua aparição involuntária e sua presença observada nas mais diversas situações

comunicativas. Uma palavra ou sentença em desarmonia com o contexto, uma

entonação em desalinho com um determinado ato de linguagem e ainda um gesto em

desacordo com a mensagem emitida, entre muitos outros fatores, podem promover um

mal-entendido.

1
Com esta metáfora, Laforest abre o artigo introdutório Accidents, ratés, pièges et leurres de
l´interprétation: quelques remarques sur le malentendu do livro Le malentendu: dire, mésentendre,
mésinterpréter. Uma importante seleção de textos oriundos de um Colóquio ocorrido na Universidade
Laval no Quebec em março de 2000, que abordou o tema do mal-entendido conversacional. O livro
também reedita dois artigos já pulblicados no Journal of Pragmatics de número 31, 1999, que representou
um marco na publicação de novas pesquisas sobre esta temática.
Dascal (2006) comenta que a relação da compreensão com o significado já foi

amplamente discutida por lingüísticas e filósofos, mas pouca ou nenhuma atenção teria

sido dada ao mal-entendido. Negligenciado devido a uma definição reducionista de

compreensão defeituosa, é tratado por muito tempo como a negação da compreensão.

Drescher (2003) não corrobora, por completo, essa afirmação, pois destaca que o mal-

entendido interpretado como uma das possíveis disfunções da comunicação, vem sendo

explorado tanto pela sociolingüística quanto pela análise do discurso há uns vinte anos.

É um consenso o fato de que tem havido um interesse crescente de novas pesquisas 2

consagradas ao tema, notadamente na última década. Dentro dessas novas correntes de

estudo, tomamos emprestado de Galatolo e Mizzau (1998, p.153) a definição para o

mal-entendido como uma divergência interpretativa entre dois ou vários locutores, em

que pelo menos um dos participantes não se dá conta imediatamente.

Drescher (2003) sustenta a tese de que o mal-entendido e a incompreensão

fazem parte da natureza humana. Respaldada pelo filósofo alemão Friedrich

Schleiermacher, que apresenta o homem simpático a seu ciclo de idéias e repulsivo às

idéias alheias, a autora descreve o homem como prisioneiro da sua própria

subjetividade, já que os mal-entendidos surgiriam de uma perspectiva egocêntrica do

indivíduo. Essa postura faz parte de uma nova abordagem dada ao mal-entendido, que

se contrapõe à antiga visão em que a ‘compreensão mútua’ era o modelo idealizado de

comunicação para todos os falantes envolvidos no processo conversacional. Drescher

(2003) lembra-nos que os estudos da compreensão estavam muito confinados a um

conceito de comunicação como mero transmissor de um conteúdo informacional,

interpretado de forma similar pelos falantes. A autora chama a atenção para essa
2
Ver Bazzanella e Damiano (1999); Dascal (2006); Traverso (2003); Trognon (2003); Laforest (2003);
Weigand (1999) entre outros.
inverdade afirmando que: “A intercompreensão parece estar, ao contrário, sendo

constantemente ameaçada e quando consegue ser alcançada, ela representa o resultado

de um esforço mútuo dos interagentes." 3

Se concebemos a conversação como fruto de um trabalho colaborativo dos

falantes, nela estão implicadas não somente o partilhar de competências lingüísticas e

comunicativas, como também o acesso mútuo a bagagens referenciais e sócio-culturais,

por vezes decisivas, para o estabelecimento da comunicação em curso.

Como garantir a intercompreensão dos falantes diante de expectativas

divergentes, da incerteza dos cálculos interpretativos desenvolvidos, dos implícitos

interacionais e dos freqüentes tropeços entre aquilo que queremos dizer e o efetivamente

dito? Todas essas questões estão envolvidas na tessitura das trocas conversacionais e

são naturalmente potencializadas quando tratamos, por exemplo, da situação assimétrica

das interações interculturais, que motivam as investigações da presente pesquisa,

propondo-nos novos questionamentos: entre falantes de diferentes culturas, como

privilegiar a intercompreensão perante o distanciamento de valores e as percepções

estereotipadas do ‘outro’?, como a discrepância dos esquemas de conhecimento de

falantes de culturas distintas pode promover um mal-entendido?

Propomos, na presente tese, adotar a perspectiva da Análise Conversacional 4

para o estudo de mal-entendidos interculturais gerados nas interações discursivas entre

falantes brasileiros e franceses, em contexto livre e diversificado e em contexto

3
Drescher (2003, p. 119). As traduções das citações retiradas de obras em língua estrangeira são de nossa
responsabilidade, exceto aquelas já publicadas em língua portuguesa assinaladas na bibliografia.
4
Dentro da Análise do Discurso existem duas concepções para o termo ‘Conversação’; e
conseqüentemente duas abordagens para a Análise da Conversação: a primeira permite um emprego mais
restrito e a segunda permite seu uso com um sentido mais ampliado, privilegiando análises
conversacionais de diferentes tipos. Para a fundamentação teórica do presente trabalho, assim como para
o desenvolvimento de nossas análises nos valeremos do emprego mais abrangente desse termo.
profissional hoteleiro. Dado o grau de especificidade do perfil constitutivo do corpus a

ser pesquisado, tornou-se preeminente, a realização de um trabalho de coleta e

montagem de amostras próprias. Realizamos 73 entrevistas, através das quais obtivemos

148 relatos (entre casos de mal-entendidos, de fenômenos adjacentes e de apreciações

interculturais). O francês é a língua utilizada como veículo de comunicação nas

interações recontadas e algumas vezes reconstituídas. Lembramos, então, que o idioma

usado nas interações terá status diferenciado entre os interagentes, sendo para os

franceses a língua materna (LM), enquanto que para os falantes brasileiros representará

sempre a língua estrangeira (LE).

Kerbrat-Orecchioni (1990) chama-nos a atenção para as especificidades da

delicada assimetria da comunicação entre falantes de culturas e línguas diferentes:

A comunicação em situação de contato impõe também aos


participantes um trabalho de ‘elaboração da face’ particularmente
intenso e delicado, visto que o LNN (falante de língua não nativa)
estando em princípio mais ou menos relativamente mutilado em
comparação ao LN (falante de língua nativa) sua ‘face’ corre o risco
de estar sempre ameaçada durante as trocas. (KERBRAT-
ORECCHIONI, 1990, p.122, t1, trad. nossa)

O mal-entendido despertou primeiramente a atenção dos especialistas em

comunicação intercultural. Foram eles os primeiros a se debruçar sobre os desafios

impostos pelos estudos referentes aos mal-entendidos. Reputada como uma

comunicação sensivelmente mais ‘difícil’ pelo caráter assimétrico dos diferentes níveis

de competência lingüística e comunicativa dos interactantes, a comunicação exolíngüe 5

é mais suscetível a ocorrência de hipóteses interpretativas divergentes, como sinaliza

Laforest (2003), referindo-se aos trabalhos de Gumperz (1982), Noyau e Porquier

5
Empregaremos o termo segundo a definição prototípica, utilizada por de Prieto (1988; In: Chauraudeau
e Maingueneau, 2006): situação em que se encontram face a face um locutor nativo e um locutor não
nativo em uma dada língua.
(1984), Varonis e Gass (1985), Giacomi e de Hérédia (1986) e de Hérédia (1986) como

os pioneiros nas explorações do mal-entendido intercultural. Laforest (2003), porém,

desenvolve uma crítica às contribuições acima citadas, pois elas acabaram mascarando a

também freqüente presença do mal-entendido nas interações de indivíduos de uma

mesma cultura e isso colaborou bastante para que erroneamente o mal-entendido tenha

recebido um status de ‘exceção’ dentro do funcionamento das trocas verbais ‘normais’.

A preocupação com fatores sócio-culturais e cognitivos envolvidos nas

interações verbais fez com que buscássemos fundamentação teórica na Sociolingüística

Interacional para investigar as fontes potenciais, as causas, os efeitos e o tratamento

dado pelos falantes a esse fenômeno conversacional.

Por trás da aparente fluidez das trocas discursivas, há um trabalho recíproco de

verificação de intercompreensão. Interagir é, pois, um processo de influências mútuas, é

o lugar em que se exercem um jogo de ações e reações (Cosnier In:Charaudeau e

Maingueneau, 2006, p.282).

Os interactantes discutem, revisam, inferem, confirmam e solicitam

confirmação, já que é impossível se ter a certeza de que tudo o que é dito no momento

da interação está sendo perfeitamente compreendido por seu(s) interlocutor(es). Esses

falantes valem-se dos componentes lingüísticos, para-lingüísticos e extralingüísticos

para garantir a emissão e recepção de seus enunciados, e toda a tarefa cooperativa

realizada na co-construção do Discurso dá à conversação um status de local ideal para a

negociação do sentido. A partir dessas considerações, apresentamos nossa hipótese

preliminar de que a própria complexidade do processo de intercompreensão, levando-se

em conta todos os esforços nele envolvidos, faz com que as interações sejam espaço
passível de divergências interpretativas. Acreditamos, desta forma, que o mal-entendido

não é exceção à regra, mas tem natureza intrínseca na interação verbal.

A interseção entre linguagem, cultura e sociedade traçou o fio condutor das

leituras teóricas de nossa pesquisa. Dentre muitos outros, contamos, principalmente,

com as contribuições de conceitos desenvolvidos por Bateson (1972, 2002), Goffman

(1974, 1987, 2002), Brown e Levinson (1978, 1987); e numa abordagem mais

contemporânea exploramos os trabalhos desenvolvidos por Gumperz (1982a, 1982b,

2002), Tannen e Wallat (2002), Traverso (1999) e Kerbrat-Orecchioni (1990, 1992,

1994, 1996, 2005 e 2006).

No centro das discussões do Interacionismo encontra-se o estudo da linguagem

em situação. Não há como considerar um enunciado fora de seu contexto comunicativo,

sobretudo tratando-se da análise de um fenômeno como o mal-entendido, tão

intimamente ligado à intercompreensão. Todos os elementos constitutivos da situação

comunicacional são importantes, tais como: o número de participantes e as relações

estabelecidas entre os mesmos, o objetivo da interação e o enquadramento da cena

analisada.

Bateson (1972) introduz o conceito de ‘enquadre’ que será desenvolvido por

Goffman (1974) como a interpretação do que está sendo encenado no dado momento da

interação. Com suas palavras: “O enquadre situa a metamensagem contida em todo

enunciado, sinalizando o que dizemos ou fazemos, ou como interpretamos o que é dito e

feito (Goffman, 2002, p.107).” Se numa dada interação um dos falantes não enquadrar a

cena adequadamente, a interpretação de um enunciado que se propõe cômico pode

ganhar, para esse determinado falante, uma conotação ofensiva por exemplo, gerando

um mal-entendido.
Durante o processo interativo, estamos a todo momento fazendo enquadres, ou

seja, interpretando os comportamentos verbais e não verbais contextualizados. A

capacidade que os falantes possuem de realizar e perceber as mudanças de

enquadramento no decorrer da interação foi definida por Goffman (1987) como

‘footing’. Entende-se esse conceito como o desdobramento da concepção dada ao

enquadre. O footing representa a mudança no alinhamento do participante, no seu

reposicionamento perante si mesmo e perante os outros envolvidos, é de fato uma

mudança na condução da produção ou da recepção da mensagem.

Numa linha conceitual complementar apresenta-se a noção de ‘esquema de

conhecimento’, que representa as expectativas dos participantes acerca de pessoas,

objetos, eventos e cenários no mundo (Goffman, 1974).

Bartlett (1932), precursor do conceito de esquemas, explicou tratar-se de um

princípio organizador na interpretação dos eventos. Ele realça o caráter dinâmico dos

esquemas de conhecimento, quando diz que os modos de interação e tudo o mais no

mundo são continuamente comparados à experiência de vida e, então, revistos.

Gumperz (1982a) afirma que os falantes fazem uso da diversidade lingüística

nas interações para categorizar eventos, inferir intenções e apreender expectativas. O

autor fala sobre a existência de pistas de contextualização que ajudam os interlocutores

a canalizar a interpretação através de ‘implicaturas conversacionais’, baseadas por sua

vez, em expectativas já convencionalizadas. Diz ele:

Ao contrário das palavras, que podem ser discutidas fora de contexto,


os significados das pistas de contextualização são implícitos.
Geralmente não nos referimos a eles fora do seu contexto. O valor
sinalizador depende do reconhecimento tácito desse significado por
parte dos participantes. Quando todos os participantes entendem e
notam as pistas relevantes, os processos interpretativos são tomados
como pressupostos e normalmente têm lugar sem ser percebidos.
Entretanto, quando um ouvinte não reage a uma das pistas, ou não
conhece sua função, pode haver divergências de interpretação e mal-
entendidos. É importante observar que, quando isso acontece e
quando se chama a atenção de um dos participantes para uma
interpretação diferente, há uma tendência a reações em termos de
uma questão de postura ou atitude. Dizemos que o falante é
antipático, impertinente, grosseiro, não-cooperativo, ou que não está
entendendo. (GUMPERZ, 2002, p.153, grifo nosso)

Martins (2002) comenta a demarcação estabelecida por Gumperz para o conceito

de pistas de contextualização, lembrando que elas não determinam o significado, e sim

limitam a interpretação. Reitera que essas pistas podem destacar alguns aspectos do

conhecimento de mundo e minimizar outros. “Ou seja, existem, na interação,

significados latentes, que não estão em destaque, mas estão presentes. Caberá aos

interagentes dar relevo aos significados escolhidos através da negociação (Gumperz,

1982a).”

Com o levantamento de questões como a cooperação discursiva e as implicaturas

conversacionais e a possível relação destas com a ocorrência de mal-entendidos,

buscamos auxílio na abordagem Pragmática para embasar nossas investigações. A partir

das máximas conversacionais fundamentadas por Grice (1975), nortearemos nossas

investigações com as contribuições de Lakoff (1973) e Leech (1983).

Buscamos também fundamentação teórica nos estudos das interações efetuados

por Brown e Levinson (1987), sobre a polidez; Goffman (1974), em seu trabalho de

preservação das faces; e Kerbrat-Orecchioni (2000), sobre as estratégias de atenuação.

Interessa-nos, aqui, investigar se o mal-entendido pode exercer o papel de um ato

ameaçador das faces (FTA) 6, e em caso positivo, responder a questões do tipo: em quais

6
A definação para os atos ameaçadores da face do inglês Face Traitening acts (FTAs) foi introduzida por
Brown e Levinson após minucioso trabalho de elaboração de uma tipologia para os atos de fala que
representassem ameaças às faces dos interlocutores.
circunstâncias ele pode representar um FTA? De quais estratégias valem-se os falantes

para evitá-lo ou atenuá-lo no processo de negociação conversacional?

Instaurada na dimensão sociossemiótica da linguagem “a pragmática reflete a

dinâmica do comportamento comunicativo social dos seres humanos, isto é: uma

perspectiva dos vários eventos interativos em que os indivíduos se envolvem

socialmente para evitar o ‘não-ser reconhecido’ ”, como afirma Oliveira

(Psicopedagogia on line, 2005, p.5). Segundo o autor:

Os atos pragmáticos devem ser encarados a partir de duas


perspectivas: social (que envolve o conjunto de crenças da
comunidade em que o usuário está inserido); lingüística, onde a
linguagem é a principal ferramenta em que os indivíduos se apóiam
para lidar com a realidade de constantes transformações. Em suma, a
partir dos atos pragmáticos a questão da significação não poderá mais
ser encarada somente pelo sentido e referência. É preciso considerar
as intenções, convenções, as crenças e o contexto mais amplo em que
ocorrem as interações. (OLIVEIRA, 1999, p.112, grifo nosso)

Se para a Pragmática falar é ‘agir’, para a Sociolingüística interacional falar é

imprescindivelmente ‘interagir’. Por isso, buscar-se-á naquela o apoio necessário para a

investigação do fenômeno conversacional contextualizado, valorizando o falante,

enquanto promotor e interpretante dos enunciados; e buscar-se-á nesta, um olhar atento

às influências mútuas que os interactantes exercem uns sobre os outros, enquanto co-

construtores do discurso.

Para Goffman (2002) são as regras culturais que estabelecem como os

indivíduos devem se conduzir em virtude de estarem em um grupo, e essas regras de

convivência, quando seguidas, organizam socialmente o comportamento daqueles

presentes à situação. Define o autor:

A fala é socialmente organizada, não apenas em termos de quem fala


para quem em que língua, mas também como um pequeno sistema de
ações face a face que são mutuamente ratificadas e ritualmente
governadas, em suma, um encontro social. (GOFFMAN, 2002, p.19)
Além da reafirmação da fala como reflexo de uma organização social, há na

citação um fator que mereceu nosso destaque como característica fundamental da

linguagem que é seu caráter de troca. Toda interação é um exercício de permutas.

Segundo (Cosnier In: Charaudeau e Maingueneau 2006, p.283) “a linguagem implica a

troca, portanto, uma determinação recíproca e contínua dos comportamentos de todos os

sujeitos engajados nessa troca: falar é trocar, e é trocar trocando.”

Traverso (1999) lembra-nos que a interação é uma experiência através da qual os

indivíduos reafirmam seu comprometimento social e estabelecem relações entre si, por

isso o lugar de destaque dado à polidez lingüística no Interacionismo.

Como negligenciar a polidez diante de um estudo intercultural? Mesmo que os

princípios gerais da polidez pretendam-se universais, até que ponto pode-se observar a

ocorrência de mal-entendidos entre brasileiros e franceses, decorrentes de regras de

polidez que não se assemelham? Outro fator importante é averiguar se os atenuadores

dos mal-entendidos encontrados mostraram-se sensíveis aos diferentes contextos

analisados, levando em consideração que o corpus ilustra relatos de mal-entendidos em

contextualização livre e profissional.

Ao tentarmos delimitar o campo em que se insere o mal-entendido, veio à baila

uma diversidade de fenômenos conversacionais afins, como por exemplo, a gafe, os

ruídos na comunicação, o engano, a ironia dentre outros. Problematizamos a questão,

buscando definição para essas manifestações adjacentes, no intuito de compreender por

que elas margeiam o mal-entendido, sendo muitas vezes tomadas por ele.

Procuramos estabelecer uma fonte potencial, as causas promotoras, os efeitos

causados na interação, e o tratamento dado pelos falantes nos casos de mal-entendidos


analisados, observando em todas as ocorrências como se dá a relação deste fenômeno

discursivo com os seguintes fatores:

ƒ O enquadramento da cena;

ƒ A atuação dos esquemas de conhecimento dos falantes;

ƒ E as estratégias de polidez (trabalho de elaboração das faces).

O capítulo seguinte detalha o procedimento teórico e metodológico desta

pesquisa. As análises do corpus de trabalho foram desenvolvidas no terceiro capítulo.

No capítulo quatro são apresentados os dados conclusivos. As referências bibliográficas

encontram-se no quinto capítulo. Foram reunidas em um segundo volume as

transcrições de todas as entrevistas realizadas, que constituem nosso corpus.


II – FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA E METODOLÓGICA

1. O MAL-ENTENDIDO E A CO-CONSTRUÇÃO DO DISCURSO

1.1. A Teoria Interacionista

Muitas são as veredas percorridas pela corrente teórica do Interacionismo,

trazendo contribuições aos mais diversos campos disciplinares. Na obra L´analyse des

conversations, Traverso (1999) orienta com precisão didascálica sobre as três correntes

disciplinares de mais forte expressão entre os estudos interacionistas. A primeira citada

é a pertencente à psicologia, e como referência maior, a autora destaca suas origens na

escola de Palo Alto 7 (fonte multiplicadora dos trabalhos de Bateson, 1972, 2002). Nesta

corrente os trabalhos possuem fins terapêuticos; mas já aqui, vemos surgir uma

focalização em torno da “comunicação”. É ela e seus recursos multicanais que

direcionam o rumo das investigações. A segunda corrente engloba a sociologia e a

antropologia. Traverso (1999) cita Garfinkel como precursor da etnometodologia,

abordagem preocupada em descrever os implícitos das situações sociais que constroem

a grande peça teatral do cotidiano, assim como em compreender a atuação dos

indivíduos como personagens atuantes desta encenação. Sacks e Shegloff (1977, 1978)

também trouxeram contribuições ao desenvolvimento da análise lingüística centrada no

estudo das trocas conversacionais, apontando para a co-elaboração dos falantes na

7
Esta corrente de abordagem psicológica e psiquiátrica dedicou-se ao estudo da comunicação das
disfuncões da relação conjugal e de crianças esquizofrênicas. A dita Comunicação “normal” se beneficiou
de importantes conceitos oriundos desta corrente teórica: a oposição entre comunicação simétrica vs
complementar; a distinção dos níveis do conteúdo vs da relação; e a noção herdada de Bateson “double
bind” (duplo vínculo) (KERBRAT-ORECCHIONI,1990 t1, p.58).
construção do discurso. Desta forma, o estudo da seqüencialização discursiva é posto

em evidência. Ainda na mesma corrente, alguns nomes se destacam com trabalhos de

peso para as pesquisas interacionistas. Hymes (1972) como fundador da etnografia da

comunicação, que preconiza o estudo dos comportamentos comunicativos e do

funcionamento da linguagem em situação; Gumperz (1982a, 1982b) dentro da

Sociolingüística interacional dedicou seus primeiros estudos às línguas em situação de

contato e à alternância de código, desenvolvendo aos poucos uma leitura interpretativa

de abordagem interacional; e finalmente Traverso (1999) arremata a lista com Goffman,

destacando a enormidade da contribuição de seus trabalhos sócio-interacionistas. A

autora destaca três aspectos importantes na análise pragmática das interações sob a ótica

goffmaniana: os rituais ligados à manutenção da face, os enquadramentos e a leitura do

encontro social como metáfora de uma encenação teatral. Veremos, mais tarde, que os

trabalhos desse autor agregaram valores às demais correntes disciplinares que exploram

a interação, sobretudo à lingüística interacionista, disciplina sobre a qual

concentraremos nossos esforços de pesquisa e que representa a terceira corrente citada

por Traverso. A corrente lingüística inspirada inicialmente por uma veia pragmática de

análise divide-se em pesquisas ligadas à enunciação, aos atos de linguagem e ainda ao

princípio de cooperação de Grice (1975).

Nossa pesquisa se insere no cruzamento disciplinar das correntes sociológica e

lingüística interacional, preocupando-se em investigar a cooperação discursiva, as

estratégias de polidez e de preservação das faces ‘utilizadas ou não’ pelos falantes no

momento das interações em que foram deflagrados mal-entendidos interculturais.


1.2. A Co-construção discursiva

Todo discurso é uma construção coletiva. Essa asserção firma o postulado do

Interacionismo, lembrando-nos do papel fundamental das influências mútuas exercidas

pelos interlocutores na construção do sentido. A teoria interacionista preocupa-se, pois,

com a produção e recepção do enunciado, sob a ação dessas influências múltiplas.

Segundo Lambert (1983), analisar tal reciprocidade dos participantes é "delimitar a

maneira pela qual os agentes sociais agem uns sobre os outros através da utilização que

fazem da língua." Segundo o dicionário (Ferreira, 2004) entende-se por interação “a

ação que se exerce mutuamente entre duas ou mais coisas, ou duas ou mais pessoas;

como ação recíproca.” Esta reciprocidade é o elemento freqüentemente presente nas

diversas definições para interação verbal, que pode ser expressa, porém, de diferentes

modos. Para Vion (1992, apud Cosnier In: Charaudeau e Maingueneau, 2006, p.281)

trata-se de toda ação conjunta, conflituosa ou cooperativa, colocando em presença dois

ou mais atores. Goffman (1985) compreende o processo interativo como a influência

recíproca que os participantes exercem sobre suas ações respectivas quando estão em

presença física imediata uns dos outros. Kerbrat-Orecchioni (1990) sintetiza a definição,

dizendo tratar-se da ação mútua dos indivíduos reunidos.

A partir destas definições para interação, entendemos melhor a dinamicidade do

papel do falante na perspectiva interacionista. No momento da emissão da mensagem,

todo emissor ao ouvir sua própria emissão coloca-se de forma involuntária, mas

automaticamente no papel de receptor. Por sua vez, o receptor pode, apenas valendo-se

do gestual no momento da recepção da mensagem, deixar escapar voluntária ou

involuntariamente alguma apreciação crítica, colocando-se quase que


concomitantemente na condição de emissor, ainda no momento de sua audição.

Entendemos melhor, desta forma, porque Philips (2002, p.21) atesta em seus estudos

sobre a importância da atuação do ouvinte na co-construção discursiva que “há

sobreposição de papéis discursivos dos interlocutores, que assumem ao mesmo tempo o

papel de ouvinte em curso e de falantes em potencial”. Traverso (1999, p.6)

complementa essa postura, ressaltando a co-participação desses falantes-ouvintes na

construção do discurso. Diz ela: “toda mensagem, pelo menos dentro de um contexto

face a face é co-construída.”

Ressaltamos, assim, a importância da idéia de retroação que despe o receptor de

uma noção passiva. Além do trabalho interpretativo e regulador que lhe cabe, nas

interações face a face ultrapassamos o limiar das manifestações verbais e analisamos

todo o conjunto semiótico, onde a expressão mimo-gestual tem atuação contínua e co-

participativa entre emissor e receptor.

Ao concebermos como postulado da teoria interacionista que o discurso é uma

formulação coletiva, trazemos à baila algumas problematizações possíveis decorrentes

dessa realização interativa. Kerbrat-Orecchioni define com objetividade as implicações

desta teoria:

A idéia não é nova. O que há de inovador, e característico da


abordagem interacionista é o fato de considerar que o sentido de um
enunciado é o produto de um trabalho colaborativo, que é construído
em conjunto, pelas diferentes partes presentes – a interação pode ser
então definida como o espaço de uma atividade coletiva de produção
do sentido, atividade que implica um trabalho de ‘negociações’
explícitas ou implícitas que podem ter êxito ou fracassar, (que é a
ocorrência do mal-entendido). (KERBRAT-ORECCHIONI, 1990,
p.29, trad. nossa)

Fazemos uma ressalva à citação de Kerbrat-Orecchioni quanto a sua colocação

de que o mal-entendido seria o resultado de negociações fracassadas. Defendemos, aqui,


uma definição para esse fenômeno conversacional como o resultado de uma

interpretação divergente entre os interlocutores, e por essa razão, sua ocorrência pode ou

não suscitar negociações; mas não concordamos, que ele se traduza no resultado de

negociações fracassadas. Distanciamo-nos de qualquer concepção reducionista que o

classifique como castrador do discurso, sem que tenham sido problematizadas as

circunstâncias que o promoveram, o tratamento dado ao fenômeno conversacional e

suas conseqüências no discurso. Através do processo cooperativo realizado pelos

falantes, os mesmos podem assumir estratégias que venham atenuar ou anular o mal-

entendido, sem que a conversação seja anulada ou fracasse.

1.3. A interação face a face: um meio multicanal

Na França, a lingüística interacionista teve sua origem como uma natural conseqüência

da incorporação de teorias pragmáticas no campo lingüístico. Segundo Kerbrat-

Orecchioni (1990) aceleraram a evolução dessa disciplina: a releitura da lingüística da

enunciação e da teoria dos atos de linguagem, e o interesse crescente por unidades de

estudo cada vez maiores pela Análise do Discurso. A teórica lingüística dos Atos de

linguagem, fundamentada por Austin (1970) e complementada pelos trabalhos de Searle

(1972) estabelece um inventário para classificação dos atos realizados no discurso. Os

autores ampliam a noção de valor performativo, em que o ato proferido realiza a ação

por ele denominada, ou seja dizer “eu prometo” implica prometer. Eles admitem que

todo ato possui um valor ilocutório que pode representar uma pergunta, ou uma ordem,

ou uma promessa, etc. Em nossas investigações sobre mal-entendidos interculturais

acreditamos que a não percepção do valor ilocutório por um dos falantes colabore na

promoção do fenômeno discursivo estudado. Em sua obra Os Atos de Linguagem no


Discurso (2005) Kerbrat-Orecchioni lança um olhar investigativo sobre os atos de

linguagem, inserindo-os dentro da abordagem interacionista. Ela os despe da roupagem

mais abstrata e isolada das concepções primordiais austiniana e searleana, conferindo-

lhes um papel de responsabilidade no encadeamento discursivo. A autora sintetiza com

maestria a importância da colaboração dos falantes no processo de construção

discursiva:

Dentro de uma perspectiva interacionista, ao contrário, os atos de


linguagem são reinseridos em seu contexto comunicativo. Daí resulta
primeiramente que um mesmo ato pode ser construído por vários
locutores e que um mesmo enunciado, se dirigido simultaneamente a
vários destinatários, pode adquirir valores diferentes para esses
diferentes destinatários. [...] Nessa perspectiva, com efeito, a unidade
elementar pertinente não é mais um ato isolado, mas pelo menos a
dupla de atos (o ‘par adjacente’, ou a ‘troca’) produzidos por pelo
menos dois locutores: falar é interagir. (Kerbrat-Orecchioni, 2005,
p.94)

A língua é vista, aqui, não somente como um veículo transmissor das

informações, mas se apresenta, essencialmente, como impulsionadora constante das

ações realizadas, decorrentes das trocas discursivas. Se entendemos interagir como agir

sobre o outro, se concebemos que a cada investida de um falante haverá uma

conseqüente reinvestida do outro, forma-se-á nitidamente um discurso co-construído,

como um tapete bordado a duas mãos, ou até mais, dependendo efetivamente do número

de falantes envolvidos na interação.

Na Teoria interacionista, o olhar observador do pesquisador sobre a língua é

redimensionado também para questões para-lingüísticas e extralingüísticas, que

exercerão papéis de grande relevância na leitura interpretativa dos dados. A interação

face a face apresenta-se como meio multi-canal, sensivelmente suscetível às influências

mimo-gestuais, já que os interlocutores podem valer-se do espaço físico-corporal para

complementar suas colocações lingüísticas, podendo por vezes substituí-las


completamente. Um dentista que pergunta ao paciente boquiaberto e anestesiado em sua

cadeira, se o mesmo está tolerando bem os efeitos da medicação, pode ter como resposta

um sim ou um não verbalizados; ou pode ainda ter que interpretar o balanço vertical ou

horizontal da cabeça de seu interlocutor para representar respectivamente as possíveis

respostas mencionadas. Tratando-se de uma análise interativa entre falantes de uma

mesma língua e cultura, o exemplo não parece nos apresentar grandes problemas

interpretativos. No entanto, se esta mesma passagem de exemplificação interativa fosse

realizada entre um brasileiro e um grego, por exemplo, a opção pela resposta através do

gestual traria um desconforto ao outro interlocutor, independente do mesmo optar por

um sim ou um não. Os gestos para positivo e negativo assumem representações opostas

no Brasil e na Grécia. Enquanto um balanço vertical da cabeça pode ser interpretado

com um sim por um brasileiro, ele carrega a simbologia de um não para um grego.

Contrariamente também funciona o balanço horizontal da cabeça no Brasil e na Grécia,

pois se naquele país temos a expressão de uma negação, nesse último teremos a

confirmação de uma resposta afirmativa. O que se passa como uma interação

corriqueira entre falantes da mesma cultura, muitas vezes poderá dar margem à

ocorrência de alguns mal-entendidos, como nos comprova esse exemplo de interação

entre falantes brasileiros e gregos, e tantos outros trabalhos atestados pelas pesquisas de

Kerbrat-Orecchioni (1994) 8.

8
“A sinonímia e a polissemia encontram-se em abundância no universo dos gestos. Nós somos mais
‘ligados’ a nossos gestos do que a nossas palavras – sem dúvida porque nós o fazemos de forma mais
inconsciente. Tomemos o exemplo da negação: que turista mesmo que advertido não se sente
desestabilizado por esses estranhos movimentos de cabeça que têm a reputação de expressar, na Grécia e
na Turquia, uma reação positiva (movimento horizontal) ou negativa (movimento de baixo para cima).
(Kerbrat-Orecchioni, Les Interactions Verbales, T3, p. 22, nossa tradução)
1.3.1. As interações verbais

Dentro do elenco das interações verbais encontram-se as conversações de

natureza diversa como a familiar, entre amigos de muita ou pouca proximidade, assim

como as entrevistas, os debates, as reuniões de trabalho etc. Na Análise do Discurso

existem duas concepções para o termo ‘Conversação’, e conseqüentemente duas

abordagens para a Análise da Conversação: a primeira permite um emprego mais

restrito e a segunda permite seu uso com um sentido mais ampliado, privilegiando

análises conversacionais de diferentes tipos. Neste trabalho nos valemos do emprego

mais genérico do termo.

Nosso corpus foi dividido em três amostras: CLD, CPH e ACI, e apenas as duas

primeiras reúnem exemplos de conversações, respectivamente, em contexto livre e em

contexto profissional. A terceira amostra reúne apreciações contrastivas entre as

culturas brasileiras e francesas, julgadas pelos relatores como fontes potenciais para a

promoção de mal-entendidos interacionais.

Marcuschi (2003, p.15) reforça a importância de estudos voltados para o

funcionamento da conversação, destacando-a como um fenômeno altamente organizado.

O autor lista cinco fatores importantes a se considerar no procedimento das análises

conversacionais: “as interações entre pelo menos dois falantes; a ocorrência de pelo

menos uma troca de falantes; a presença de uma seqüência de ações coordenadas; a

execução numa identidade temporal e o envolvimento numa interação centrada.”

A regra primordial da conversação é que cada um fale na sua vez. Assim, a

organização conversacional poderia ser representada pelo seguinte esquema:


A: (realiza seu turno de fala e pára)

B: (realiza seu turno de fala e pára)

A: (retoma a palavra e realiza outro turno de fala)

B: (retoma a palavra e realiza outro turno de fala)

A seqüência mínima de dois turnos de fala foi denominada por Schegloff (1972)

de par adjacente. Marcuschi (2003) cita alguns exemplos de pares adjacentes ou pares

conversacionais mais usualmente explorados nas análises de conversação, como por

exemplo a pergunta e a resposta, a ordem e a execução, a saudação e a saudação dentre

outros. A alternância de turnos pode compor pequenas seqüências (desde um par

adjacente apenas) ou grandes sequencializações, dependendo da extensão da interação.

Para Bazzanella e Damiano (1999) o mal-entendido recebe, na maioria das

vezes, um tratamento padrão, manifestando-se durante as trocas conversacionais,

exatamente no terceiro turno, por uma auto-reparação, ou ainda no quarto turno, através

de uma reparação feita pelo interlocutor, denominada pelas autoras de

‘heteroreparação’. Teríamos, então, respectivamente para o primeiro e segundo casos,

os seguintes esquemas representativos exemplificados pelas autoras (1999, p.826):

QUADRO 1

Auto-reparação Heteroreparação

A: turno que deu origem ao mal-entendido.Sua A: turno que deu origem ao mal-entendido.
fonte. Sua fonte.
B: encadeamento inadequado que deflagra a B: turno que pede ratificação da informação.
ocorrência de um mal-entendido. A: turno explicativo.
(percepção da divergência pelo menos p/ A.) B: turno de reparação do mal-entendido
A: auto-reparação do turno que deu origem ao percebido.
mal-entendido.
Em ambos os casos, a reparação é interpretada como inerente ao tratamento

padrão (standard) dado ao mal-entendido, segundo (Jefferson, 1972; Schegloff 1977;

Bazzanella e Damiano, 1999 e Weigand 1999). No entanto, não se pode confinar o

fenômeno a uma única linha de encadeamento de ações, já que apesar das reparações

ocorrerem com freqüência no terceiro ou quarto turnos, as mesmas podem dar-se muito

mais tardiamente, ou ainda não ocorrer. Por isso, Traverso (2003) defende que a

reparação não seja condição necessária para a existência de mal-entendido.

Corroboramos a colocação da autora, tendo em vista que em nossas amostras nem todos

os exemplos de mal-entendidos receberam o tratamento padrão de reparações no

terceiro ou quarto turno de fala.

1.3.2. As interações não verbais e mistas

Torna-se, evidente, no desenvolvimento da pesquisa que as interações verbais

analisadas fazem parte de um subconjunto incluído em um conjunto maior de interações

sociais, sendo muitas vezes impossível dissociá-las do material semiótico envolvido nas

trocas conversacionais. Kerbrat-Orecchioni (1990, p.133) lembra-nos que “os meios

através dos quais os agentes sociais podem interagir são extremamente diversos”. Tal

observação nos remete às analogias goffmanianas entre os turnos de fala do sistema

comunicativo e as regras de ‘cada um na sua vez’ dos jogos lúdicos; do mesmo modo,

nos cruzamentos, não passamos todos ao mesmo tempo, não ignoramos a ordenação

para andar nas calçadas ou a nossa vez nas filas de atendimento dos estabelecimentos

comerciais. Há interação por toda parte, verbalizada ou não, e quando focamos um olhar

de análise sobre a conversação, percebemos o quanto ela está submersa em


componentes extralingüísticos de grande significância para a compreensão da

mensagem em transmissão.

Vejamos, então, quatro aspectos importantes na análise do processo interacional

que podem ser estendidos tanto para as interações verbais quanto para as interações não

verbais, ou seja, segundo Kerbrat-Orecchioni (1990, p.134 e 135), podem ser

verbalizados ou representados por componentes não verbais:

1. Alguns ‘atos de linguagem’;

2. A noção de ‘par adjacente’;

3. As trocas ‘confirmativas’ ou ‘reparadoras’ segundo Goffman (1973 t2) e;

4. O conceito de atos ameaçadores da face (FTAs) de Brown e Levinson.

Referindo-se ao item 1, acima mencionado, percebemos que em nossa amostra

de contexto profissional específico hoteleiro, o gesto de levantar o dedo indicador pode

substituir um ato de linguagem de pedido, significando “venha até minha mesa, por

favor”, quando realizado, por exemplo, pelo cliente para o garçom. Assim como

podemos solicitar a presença de um recepcionista em um hotel através do toque de uma

campainha sobre o balcão. O que seria uma exemplificação do item de número 2 com a

formação do par adjacente não verbal e verbal: “tocar a campainha (cliente)-

verbalização ‘em que posso ajudá-lo?’(recepcionista). Com relação às trocas

confirmativas e reparadoras mencionadas no item 3, teríamos, respectivamente, um

exemplo para o primeiro caso a ação solícita do garçom ao puxar a cadeira para os

clientes se acomodarem confortavelmente e no segundo caso, o gestual utilizado para

justificar a falta de lugar em um restaurante lotado ou, num hotel a justificativa do não

cumprimento de uma reserva, tendo que recusar estadia a um cliente. Finalmente para o
item 4, reconhecemos que um olhar de crítica para a iminente realização de um ato

considerado impróprio pode inibir o exercício dessa ação, provando que o olhar de

recriminação agiu como intimidador.

Kerbrat-Orecchioni (1990) observa que no processo interativo em contexto

profissional há uma grande incidência de interações não-verbais e até mesmo de

interações mistas 9. Alguns exemplos de nosso corpus ratificam essa observação da

lingüista. É importante estabelecer, porém, que nosso reconhecimento à contribuição de

todo material extralingüístico relatado impede-nos de aprofundar ou esgotar, no

presente trabalho, essa temática, que exigiria por si só, uma pesquisa à parte. Sob o risco

de sermos negligentes, não pudemos, da mesma forma, ignorar por completo a atuação

de algumas interações não verbais, ou ainda, de alguns componentes não verbais que se

mostraram de grande pertinência para a exploração dos mal-entendidos interculturais

analisados. Tais considerações nos impuseram uma revisão do estado da arte sobre as

definições deste fenômeno, buscando um conceito mais amplo para melhor adequação

dos casos coletados em nossas amostras. Recorremos, assim, à definição empregada por

Hérédia (1986, p.50) que situa o fenômeno do mal-entendido no meio do caminho entre

a compreensão e a incompreensão. A autora diz que “o mal-entendido se configura

numa ilusão temporária ou permanente (quando não elucidado) de compreensão entre

dois ou vários interlocutores.”

Para Kerbrat-Orecchioni (1990), há ainda a destacar três sinais para-lingüísticos

ou extralingüísticos que serão importantes na análise de alguns exemplos, ordenados da

seguinte forma:

9
Entende-se, aqui, interação mista como aquela interação que apresenta a alternância entre ações verbais
e não verbais.
a. Em complemento aos sinais vocais e acústicos, que são representados por materiais

verbais através do léxico, da folonogia e morfo-sintaxe, há os materiais para-verbais das

entonações, das pausas, da intensidade da articulação, particularidades na pronúncia etc.

b. Sinais corporais e visuais: de natureza não verbal como a aparência física, composta

pelas características naturais como rugas, cor da pele etc, e um conjunto de

características superficiais como os trajes, a maquiagem, os acessórios decorativos etc.

c. Sinais olfativos e táteis: odores corporais e questões proxêmicas.

1.4. O contexto, o enquadre e os esquemas de conhecimento

Durante o processo interativo, os comportamentos verbais e não verbais dos

falantes são fortes potenciais de comunicação, até o silêncio como resposta pode ser

passível de interpretações diversas em meio à dinâmica conversacional. Daí a

importância da contextualização nas análises interacionais.

Kendon (1979) diz que as ações e as intenções de significado podem ser

entendidas somente com relação ao contexto imediato, incluindo o que o antecede e o

que pode sucedê-lo. Logo, a interação somente poderia ser entendida em contexto

específico.

Segundo Almeida (2006) o enunciador, ao procurar comunicar uma idéia, deve

ter motivos para supor que o destinatário irá utilizar o contexto que conduzirá à

interpretação desejada. Ancorados no conjunto de premissas que constitui o contexto, os

falantes realizam um cálculo interpretativo para a compreensão dos enunciados. O

significado decorreria, então, de um complexo processo de sinais lingüísticos e

extralingüísticos baseados no contexto (Schiffrin, 1994).


A natureza dinâmica das interações impede uma contextualização inerte. Ou seja, o

contexto pode ser delimitado e transformado no decorrer do processo interativo. A

Sociolingüística interacional procura investigar de que forma os falantes focalizam,

constroem e manipulam alguns aspectos contextuais, sendo tais ações constitutivas das

atividades nas quais estes falantes estão engajados. Explica Martins (2002, p.94): “Na

tradição dos estudos interacionais, o contexto é uma forma de práxis interacionalmente

constituída. Por esta razão, na sócio-interacional, o contexto é “conhecimento” e “situação”. ”

Assim sendo, entendemos a importância do contexto não somente na produção

dos enunciados, mas também na interpretação dos mesmos. Por isso pretendemos

averiguar, durante nossas análises, quando um mal-entendido foi decorrente de contexto

negligenciado pelos interagentes.

Goffman (1974) vê o contexto como uma categoria socialmente situada.

Segundo o autor, a experiência social é governada por enquadres. Na perspectiva

goffmaniana os chamados enquadres interativos funcionam como uma tarefa

interpretativa realizada pelos falantes, ou seja, manifestam-se através da percepção de

qual atividade está sendo encenada, de qual sentido os falantes dão àquilo que dizem. O

reconhecimento do contexto por parte do falante é o delineamento para a percepção do

enquadre que está sendo conferido à ação representada. O autor reitera: "Os enquadres

emergem de interações verbais e não-verbais e são por elas constituídos." Em Frame

Analysis, Goffman (1974) expande o que muitos sociólogos denominaram

‘conhecimento prévio’, ‘contexto’, ‘situação social’. Complementando Goffman,

Rodrigues (2005) define:

Enquadres, assim, são estruturas sociais reconhecidas pelos


interactantes, numa relação dinâmica de construção de significados,
tendo como principal lócus de expressão os aspectos semióticos da
comunicação humana, em relação íntima com a linguagem. Desta
maneira os enquadres se adaptam às formas complexas de nossa vida
cotidiana, conforme a condução interacional que elegemos uns para
com os outros, dinamizando o que queremos dizer e representar.
(RODRIGUES, 2005, p. 130)

Paralelamente ao conceito de enquadre, Goffman (1974) define os esquemas de

conhecimento como "as expectativas dos participantes acerca de pessoas, objetos, eventos

e cenários no mundo". Durante o processo de construção discursiva, os falantes parecem

apropriar-se instintivamente das regras de atuação, “cooperando” uns com os outros de

forma similar às manobras de uma partida de jogos de cartas: eles se lançam em

contínuos estabelecimentos de acordos, compartilhando informações que fazem parte de

seus ‘esquemas de conhecimento’, ou seja, das bagagens de informações que os mesmos

já possuem, como mensagens por eles pressupostas durante as trocas conversacionais e

por isso, às vezes, entendidas como estruturas de expectativa. É certo que, como um

script supostamente conhecido, estes conteúdos de informação podem ser ou não

compartilhados pelos interagentes. Kerbrat-Orecchioni (1994) faz referência aos

esquemas de conhecimento, quando diz que “todo enunciado carrega, além de seu

conteúdo informacional, um valor relacional específico, e ele opera automaticamente uma

classificação mútua entre os falantes envolvidos.”

Marcuschi (2003) detalha como os esquemas de conhecimento são constituídos,

evidenciando sua importância no processo de cooperação discursiva e conseqüente

organização conversacional:

[...] essa organização também é reflexo de um processo subjacente,


desenvolvido, percebido e utilizado pelos participantes da atividade
comunicativa, ou seja, as decisões interpretativas dos interlocutores
decorrem de informações contextuais e semânticas mutuamente
construídas ou inferidas de pressupostos cognitivos, étnicos e
culturais, entre outros. (MARCUSCHI, 2003, p. 7)
É importante lembrar que não será suficiente o domínio das informações

contextuais pelos interlocutores se os mesmos não estiverem engajados em cooperar

discursivamente. A cooperação é intrínseca à natureza dialogal do discurso co-construído.

Os interlocutores estabelecem acordos de maneira espontânea graças ao conhecimento

compartilhado de um script que dá sustentação à troca em que se encontram engajados

(Kerbrat-Orecchioni, 2005).

Os conceitos de enquadre e de esquema de conhecimento são descritos por Tannen

e Wallat (2002) como noções interligadas, porém distintas. As autoras sintetizam as

definições de enquadres interacionais como “mensagens calcadas nas múltiplas relações

que os participantes co-constroem em um encontro face a face”, e a de esquemas de

conhecimento como "mensagens pressupostas (compartilhadas ou não pelos

interagentes).” Mesmo em contextos altamente ritualizados a discrepância dos esquemas

de conhecimento entre os falantes envolvidos pode gerar um maior esforço para a

promoção da compreensão. Acrescentamos, desta forma, nossos questionamentos sobre a

ação da interculturalidade, tendo em vista que, em nosso trabalho, os falantes pertencem a

culturas distintas e o francês, que veicula as interações observadas, representa a língua

materna para um dos falantes e uma língua estrangeira para o outro.

Quando pensamos no ato de ir ao restaurante, formalizamos inconscientemente a

construção de uma moldura para este ‘quadro’ que significa ‘ir ao restaurante’. Somos

capazes de agir e interagir com os fatos relacionados dentro desta contextualização

maior que abarca o enquadre ‘restaurante’. Somos capazes de realizar esta tarefa

interpretativa porque, certamente, todos os elementos fazem emergir informações que

estão intrinsecamente ligadas a esta ação, as quais já foram por nós concebidas e

interiorizadas. Nesse caso específico, além de toda a descrição da cena que


visualizamos, temos a percepção de vários quadros possíveis de interações entre: cliente

e recepcionista; garçom e cliente; cliente e cliente etc. Se fizéssemos, por exemplo,

menção ao vocábulo ‘menu’ para brasileiros e franceses, eles não apresentariam

dificuldades em conferir-lhe um significado, pois há, nas duas culturas envolvidas, um

esquema de conhecimento construído para esse item, inserido no enquadramento de

‘interação no restaurante’sem maiores problemas. No entanto, se questionássemos esses

mesmos falantes sobre o significado que eles atribuem a ‘menu’, veríamos que ele não

coincide em suas respectivas culturas. Ou seja, apesar de uma palavra, ou um objeto

poder ser enquadrado na composição de uma mesma cena por interagentes de culturas

distintas, ele não será obrigatoriamente relacionado ao mesmo esquema de

conhecimento dos falantes em interação. Enquanto para um brasileiro menu significa

cardápio, para um francês esse mesmo termo tem a concepção de prato feito, como uma

sugestão de prato do dia. Os esquemas de conhecimento que brasileiros e franceses

construíram para ‘menu’ são divergentes. Tais divergências podem suscitar, por vezes,

alguns mal-entendidos na conversação. Brasileiros e franceses têm enraizados, enfim, os

esquemas representativos de tudo o que envolve a ação de ir ao restaurante; são aptos a

construir este enquadramento com o auxílio dos esquemas de conhecimento dos quais

dispõem em suas culturas. Por isso, Rodrigues Junior (2005) diz que a leitura do

enquadre é sensível às diferentes culturas:

[...] a experiência social é governada eminentemente por ‘enquadres’,


cuja relevância está exatamente em demonstrar que os eventos, ações,
performances e os eus não representam significados per se, mas
dependem dos enquadres para co-construírem e representarem
significados culturais através da linguagem em uso. (Rodrigues
Junior, 2005, p.128, grifo nosso)

Apesar de não ser, obviamente, o único terreno propenso à ocorrência de mal-

entendidos durante a interação, é claro que a relação intercultural e sua delicada


condição de assimetria acaba, incontestavelmente, favorecendo o surgimento de mal-

entendidos durante as trocas verbais. Justifica-se, desta forma, a pertinência em observar

além do enquadramento das cenas protagonizadas e dos esquemas de conhecimento

partilhados pelos falantes, como esses mesmos falantes realizam o trabalho de

figuração, definido por Goffman (1967) como todo o trabalho realizado pelos falantes

com o intuito de proteger suas faces durante a interação. Representado pelas posturas

defensivas e ofensivas tomadas pelos interactantes, o grau de comprometimento ‘moral’

do indivíduo nas tomadas de posição mediante a ocorrência de um mal-entendido

justifica seu estudo na presente pesquisa. Concordamos, desta forma, com Gumperz

(1982a) quando o autor afirma que o olhar investigativo da Análise da Conversação

ultrapassaria a análise de estruturas e atingiria os processos cooperativos presentes na

atividade conversacional: o problema, diz ele, passa da organização para a interpretação.

Parece-nos que todos estes fatores tornam-se ainda mais particularmente latentes

quando os indivíduos que atuam na interação pertencem a culturas diferentes.

Encontramos na literatura, diversos autores que mencionam com notável

recorrência a influência a influência do contexto, dos enquadres e dos esquemas de

conhecimento destacados na manifestação de mal-entendidos interculturais. Associados

também a outras circunstâncias e às diferenças comportamentais, eles podem gerar

pequenos obstáculos na interpretação/compreensão das informações compartilhadas.

Em seu estudo comparativo contrastivo entre falantes anglófonos pertencentes a

culturas distintas, Kerbrat-Orecchioni (1994, p.15) assinala que as diferenças dentro do

sistema lingüístico (tais como o repertório lexical e os procedimentos morfossintáticos,

exercem forte influência sobre o comportamento conversacional desses falantes. A

autora sublinha, entretanto, como podem ser profundamente significativas as


ocorrências de mal-entendidos gerados pela divergência de atitudes entre estes mesmos

falantes. Olhares voltados para esse problema não são uma preocupação de pesquisas

recentes; Sapir (1925 apud Ribeiro & Garcez, 2002, p. 21) postulou que em diferentes

culturas “não são os meios comunicativos que diferem; é a forma de sua organização

que provoca resultados qualitativamente diferentes e percepções radicalmente distintas”.

Gumperz (1982) chega a ser taxativo quando afirma serem críticas e quase

inviáveis, por vezes, as conversações inter-étnicas. Marcuschi (2003, p.16) atenua um

pouco mais este ponto de vista, porém não chega a discordar totalmente quando diz que

“para produzir e sustentar uma conversação, duas pessoas devem partilhar um mínimo

de conhecimentos comuns. Entre eles estão a aptidão lingüística, o envolvimento

cultural e o domínio de situações sociais.”

Nosso trabalho não caminha para o lado contrário deste raciocínio, pois

concordamos com a importância de todos os aspectos conflitantes apontados pelos

autores citados; tentaremos, porém, deixar aqui nossas considerações, explorando a

outra margem do rio: acreditamos que as diferenças sócio-culturais sejam um fator de

grande importância para promover mal-entendidos durante a conversação, entretanto

defendemos o caráter de transversalidade do mal-entendido, cuja manifestação pode se

dar nos mais diversos tipos de interação, não somente em comunicação intercultural.
2. O MAL-ENTENDIDO E A POLIDEZ

Estudar a língua em interação é considerar de forma determinante as influências

mútuas que os falantes exercem uns sobre os outros. É, sobretudo, avaliar o contexto

comunicativo mais amplo em que esses falantes encontram-se inseridos. Sendo assim,

não há como negligenciar alguns princípios da polidez, que exercem pressões

significativas sobre a produção dos enunciados no processo interativo, especialmente na

possível promoção de mal-entendidos ou ainda na forma de tratamento dessas

ocorrências pelos falantes.

Concebemos, aqui, um conceito amplo para polidez, que abarca regras

organizadoras de vários aspectos do discurso e seus componentes verbais e não-verbais.

Tais regras têm como principal função preservar o caráter harmonioso da relação

interpessoal (Kerbrat-Orecchioni, 2006).

Não há como apresentar teorias da polidez sem dar a ênfase devida ao trabalho

de Grice (1975), que fundamentou o Princípio de Cooperação, abrindo caminhos para

diferentes percepções teóricas (Lakoff, 1973; Leech, 1983; Brown e Levinson 1978,

1987; Goffman (1974), Kerbrat-Orecchioni (1992) sobre essa temática. O Princípio de

cooperação, segundo Grice, defende que toda contribuição conversacional exige um

requisito de racionalidade para a administração e para a dedução de quatro máximas

específicas: de quantidade, de qualidade, de relação e de modo. A idéia central deste

princípio é de que toda comunicação é regida por um processo cooperativo dos falantes,

que podem colaborar de forma explícita ou através de ‘implicaturas’.

Como num conseqüente processo de valorização da relação interpessoal na

interação verbal, Lakoff (1973) acrescenta mais um princípio às máximas

conversacionais griceanas: seja polido. Esse princípio é constituído por três regras:
a)formalidade (não se imponha); b)hesitação (deixe seu interlocutor decidir) e

c)camaradagem (deixe seu parceiro à vontade).

Outra importante contribuição sobre o tema foi dada por Leech (1983) que

agregou ao princípio de cooperação de Grice, o que denominou de Princípio da Polidez,

apresentando novas máximas: a)delicadeza; b) generosidade; c) aprovação; d)modéstia;

e)acordo e f) simpatia.

Tanto Lakoff quanto Leech mostraram que suas máximas de polidez são

sensivelmente variáveis de cultura para cultura, sobretudo na escolha das mais

prioritárias. Por isso acreditamos que alguns mal-entendidos também possam ser

decorrentes de diferentes formas de lidar com a polidez entre falantes de culturas

distintas. O grau de maior ou menor importância dada a essa ou àquela máxima é

naturalmente estabelecido nas relações sócio-culturais do meio ao qual pertence o

falante. Por isso, uma grande diversidade de máximas conversacionais admite uma

universalidade ‘relativa’, já que se mostram sensíveis às influências culturais. O que

pode ser impolido para ‘uns’ não o será, necessariamente, para ‘outros’.

Da mesma forma, outras questões envolvidas nas interações, como as regras

proxêmicas, o grau de formalidade etc., apresentam diferenças consideráveis de uma

cultura para outra. Os trabalhos de Kerbrat-Orecchioni testemunham algumas dessas

diferenças, através de uma consistente pesquisa dedicada às interações verbais 10 e sua

aplicabilidade em investigações lingüísticas contrastivas, entre falantes de culturas

distintas.

Kerbrat-Orecchioni (1992) desenvolve uma abordagem para polidez

influenciada por vários autores, utilizando sobretudo o conceito dos FTA´s, os

10
As obras Les interactions verbales desenvolvidas em três tomos, cuja referência bibliográfica encontra-
se na presente tese.
chamados atos ameaçadores da face de Brown e Levinson (1987), que por sua vez

tomaram de empréstimo o conceito de face segundo Goffman (1967). Goffman define a

face como a auto-imagem pública, a linha de conduta do indivíduo julgada por ele e os

demais envolvidos na interação. Observamos que o conceito de ‘face’ norteia muitas

teorias da polidez. Para Brown e Levinson interagir é lançar-se num estado constante de

ameaças, ora ameaçamos, ora somos ameaçados através dos FTAs. Dessa visão

considerada extremamente pessimista por Kerbrat-Orecchioni surge sua crítica e a

apresentação de um modelo analítico que mescla a atuação dos FTAs com outros atos

aduladores à face, batizados pela autora de FFAs. Os FFAs atenuam as ameaças dos

FTAs ou ainda realizam diretamente atos que valorizem a face.

Até que ponto um mal-entendido pode se configurar em ameaça às faces dos

interagentes? Os falantes valem-se de FFAs no tratamento de um mal-entendido?

A análise do mal-entendido faz frequentemente vir à tona o estigma de

negatividade ao qual ele está atrelado, já que sua ocorrência sugere ‘desvios’ na

interação, cuja realização se deu de maneira diferente da prevista ou almejada.

Paradoxalmente, a observação do fenômeno faz com que nos preocupemos em

averiguar o quão produtiva pode ser sua interferência, tendo em vista a possibilidade de

relacioná-lo ao funcionamento de estratégias de polidez. Para isso, consideramos

pertinente dar destaque, em nossos estudos, ao conceito das implicaturas griceanas, ao

conceito de elaboração das faces goffmaniano, assim como aos FFAs e FTAs definidos,

respectivamente, por Brown & Levinson e Kerbrat-Orecchioni, verificando como os

mesmos atuam na promoção ou no tratamento de mal-entendidos interculturais.


2.1. Grice: as máximas conversacionais e as implicaturas

Baseado na suposição de que os falantes conduzem racionalmente a conversa

de forma cooperativa, Grice (1975) cria o Princípio da cooperação, no qual postula que

“devemos fazer nossa contribuição corresponder ao que nos é exigido, no momento da

conversação, segundo o objetivo ou a direção da interação em andamento”. Para o autor

o conceito de cooperação estrutura a construção do significado, através da

administração de algumas máximas conversacionais. São elas:

a) Máxima de qualidade: que sua contribuição seja verdadeira, não afirme o que você

acredita ser falso;

b) Máxima de quantidade: seja informativo como requerido, que sua informação não

contenha nem mais nem menos do que o solicitado;

c) Máxima de relação: seja relevante;

d) Máxima de Modo: seja claro.

Segundo Grice (1957) existem dois tipos de significados, o convencional e o do

falante, aquele de natureza semântica e este de cunho pragmático. A intenção do falante

não repousará sempre sobre o significado convencional, na verdade, para o autor, o

significado convencional estabelecer-se-á no processo de cálculo das implicaturas. A

implicatura se traduz, então, como uma inferência sobre a intenção do falante. Segundo

Grice, para que a presença de uma implicatura conversacional seja percebida pelos

falantes, alguns itens devem lhes ser acessíveis e esses falantes acreditam que tais itens

são de conhecimento mútuo. São eles: 1º o significado convencional, 2º o princípio de

cooperação e suas máximas, 3º o contexto lingüístico e extralingüístico e 4º a


consideração de outros dados como conhecimentos anteriores. Ou seja, as implicaturas

se baseiam na crença, compartilhada por falantes e ouvintes, de que as máximas não

são, em geral, burladas durante a conversa; se esta burla ocorre, produz-se uma

implicatura (Martins, 2001). Dascal (2006) reitera que as violações ostensivas às

máximas não são tidas por Grice como violações reais, mas consideradas como uma

forma de transmitir significados indiretos e este fato consiste na construção de uma

implicatura. Por isso, Oliveira (2002) diz que cabe às implicaturas recuperar a força

ilocutória de um enunciado quando ela não é especificada lexicalmente, ou quando é

objeto de uma especificação enganosa.

Em algumas interações observadas entre falantes brasileiros e franceses, em um

dado momento, um dos falantes, pretensamente cooperativo, descumpre a máxima da

quantidade, por acreditar que seu interlocutor inferirá uma informação não explicitada

na mensagem. O que este falante desconsiderou foi o fato de que seu interlocutor não

tinha acesso à informação ‘inferida’ por não partilhar uma determinada competência

‘comunicativa’ exigida pela interação intercultural em questão. Pode acontecer ainda

que haja a inobservância, por parte do emissor, da 4a exigência descrita por Goffman

(consideração de conhecimentos anteriores) para a formulação de uma implicatura. Tal

fato ocasiona a não realização da implicatura pelo receptor, gerando um mal-entendido.

Pretendemos, então, averiguar possíveis relações entre cálculos mal-sucedidos de

implicaturas na promoção de mal-entendidos.

2.2. Goffman, Brown e Levinson: a preservação das faces e os FTAs

Goffman privilegia o estudo da ação social nas interações, distribuindo papéis

cênicos aos falantes para a representação do ato social. Segundo o autor, os


interlocutores são atores interpretando para a valorização de seu personagem, ou seja de

sua ‘imagem’ própria; buscando ainda o respeito e reconhecimento do(s) outro(s) numa

tentativa incessante de reafirmação dessa imagem de si mesmo. Em todo processo

interativo o indivíduo assume uma linha de conduta, através de atos verbais e não

verbais, que expressam seu ponto de vista sobre a situação em questão, o seu

julgamento sobre os participantes e o seu auto-julgamento (Goffman, 1974). Daí a base

para a definição do conceito de face:

[...] o valor social positivo que cada indivíduo requisita para si,
através da linha de ação que os outros supõem que ele adotou no
decorrer de um determinado contato. A face é uma imagem de ‘si
mesmo’ delineada por certos atributos sociais aprovados, embora
possa ser partilhada com os demais, quando por exemplo, podemos
transmitir uma boa imagem de nossa profissão ou de nossa devoção
dando uma boa imagem de si. (GOFFMAN, p. 9, 1974, trad. nossa)

O valor do engajamento pessoal nas interações é potencializado a partir da noção

de face, já que todo indivíduo apresenta uma resposta emocional imediata no contato

com o outro. Expressões como ‘ele foi desmascarado’, ‘ficou com a cara no chão’, ou

‘provou que não tem duas caras’ ilustram o quanto o conceito de face está envolvido

com a construção da ética do indivíduo, implicando consequentemente uma valoração

afetiva à face.

Há que se admitir que o julgamento dos outros, assim como o nosso próprio

julgamento encontram-se condicionados à nossa linha de conduta nas interações. Por

isso, somos de certa forma prisioneiros da construção e da preservação de nossa

imagem, promovida por tudo que verbalizamos ou realizamos.

Goffman (1974) reconhece o esforço dos falantes em prol da preservação de

suas faces, cuja realização torna-se uma condição para toda interação. O sociólogo
lembra, ainda, que são as regras do grupo e a definição da situação que determinam o

grau do sentimento ligado a cada face e a concordância desse sentimento por todos.

Acreditamos então, que nas ocorrências de mal-entendidos entre brasileiros e

franceses, em que haja evidências de um comprometimento afetivo das faces, esse

comprometimento possa ser dimensionado nas proporções estabelecidas pelo meio

cultural ao qual pertencem os falantes. Ou seja, a causa promotora de um mal-entendido

entre brasileiros e franceses será mais sensivelmente considerada em função da

importância dada ao fato em suas respectivas culturas.

Quando um brasileiro chama uma falante francesa pela forma de tratamento

Madame seguida do primeiro nome de sua interlocutora pode-se gerar um mal-

entendido intercultural, que não tem a mesma conotação valorativa de sentimentos

envolvidos com as faces. Enquanto para os brasileiros Madame Laura não recebe

nenhum significado extra, diferente da forma respeitosa de tratamento de senhora Laura,

ou ainda de Madame Laura como falam os cariocas 11, para os franceses seu uso pode

ser constrangedor e até ofensivo, já que Madame seguido do primeiro nome refere-se

para estes à dona de um bordel, a senhora que não é casada, que não recebeu o

sobrenome do homem, do marido.

Há restrições impostas coletivamente que delimitam o leque de escolhas

lingüísticas individuais nas ações interativas. Isto se deve ao fato de que mesmo não

sendo considerada uma super-máxima, a polidez está estritamente relacionada à noção

de “civilidade”, portanto, ao habitus e às normas pré-estabelecidas (Oliveira, 2005).

Faz-se, então, a pergunta: Como os falantes usam a linguagem para mudar a situação de

11
Pronome de tratamento comumente utilizado pelos porteiros e pelos feirantes, no Estado do Rio de
Janeiro, para dirigir-se à mulher na condição de ‘patroa’. A forma de tratamento é nesses casos marca de
status privilegiado, faz referência ao prestígio do poder econômico-social na relação interpessoal em jogo.
restrição em que eles se encontram sem transgredir regras de polidez, e preservar, ao

mesmo tempo, as intenções comunicativas?

Brown e Levinson (1978, 1987) parecem, de alguma forma, ter refletido sobre

questões dessa natureza, quando fundamentaram a mais elaborada teoria da polidez.

Vejamos algumas considerações importantes para sua compreensão:

1 . O indivíduo adota uma linha de conduta, que corresponde a uma imagem pública,

que ele acredita estar em conformidade com as expectativas dos outros indivíduos em

um dado encontro. Esse é o conceito de ‘face’, atribuído por Goffman (1974).

2. No decorrer da interação, o indivíduo tenta manter essa linha de conduta, para que

não venha a sofrer uma perda simbólica: ‘perder a face’ perante si mesmo e os outros.

3. Para Brown e Levinson (1978) cada indivíduo possui duas faces: a face positiva e a

face negativa, que correspondem respectivamente aos conceitos goffmanianos para

‘face’ e ‘território’. Nas palavras dos autores:

face positiva é a auto-imagem consistente positiva ou a


personalidade (incluindo o desejo que essa própria auto-imagem
possui de ser apreciada e aprovada) reclamada pelos interactantes.
Face negativa é a requisição de territórios, as reservas pessoais,
direitos a não perturbação – liberdade de ação e liberdade de não
imposição. (BROWN E LEVINSON, p.61, 1978, trad. nossa)

4. Em toda interação que conjugue atos verbais e/ou não verbais, em que estejam

envolvidos pelo menos dois falantes, temos em potencial uma situação ameaçadora para

as quatro faces presentes. Daí a noção de Goffman para ‘face want’: os indivíduos

desenvolvem um desejo de preservação das faces.

As faces se traduzem em alvo de ameaça e ao mesmo tempo em objeto de

desejo. Tanto Goffman quanto Brown e Levinson trataram desta contradição. Goffman

a resolve com a proposta de um trabalho de ‘figuração’ traduzido em português da

expressão original inglesa face-work. O trabalho de figuração representa tudo o que uma
pessoa possa fazer para não levar ninguém a perder a face, nem ela mesma. Também, é

denominado por alguns pesquisadores em português, como trabalho de ‘elaboração da

face’. Ele constitui todos os mecanismos dos quais se valem os falantes para não

perderem suas faces durante o processo de interação interpessoal e está estreitamente

ligado às regras de polidez, que regem muitas de nossas ações no meio sócio-

interacional.

Brown e Levinson respondem a essa mesma contradição, fundamentando o que

veio a ser conhecido como o modelo “B-L” da polidez, cuja definição é um compêndio

de estratégias tomadas pelos falantes a fim de conciliar o desejo mútuo de preservação

das faces. Admite-se a existência de um número grande de atos de linguagem tidos

como potencialmente ameaçadores à face, batizados pelos autores de Face Threatening

Acts, os FTAs. A partir daí, Brown e Levinson fazem um inventário dos diferentes atos

de fala que representariam um FTA às faces positivas e negativas envolvidas no

processo interativo:

QUADRO 2

Face Threatening Acts – FTAs


(Atos ameaçadores à face)
Atos ameaçadores à Atos ameaçadores à Atos ameaçadores à Atos ameaçadores à
face negativa daquele face positiva daquele face negativa do face positiva do outro
que os realiza: que os realiza: outro (do que sofre a (do que sofre a ação):
ação):

A oferta, O pedido de desculpa, Os contatos corporais A crítica,


a promessa. a auto-crítica, as agressões visuais, a reprovação,
a auto-acusação, sonoras, olfativas. o insulto,
a confissão. as indiscrições, a injúria,
as solicitações, a zombaria,
o conselho, o mal-entendido.
a sugestão,
a ordem,
o pedido,
a pergunta.
O quadro acima resume a proposta dos FTAs sugeridos por Brown e Levinson,

listando alguns atos ameaçadores às faces positiva ou negativa dos interlocutores.

Devemos levar em consideração, que alguns atos ameaçam mais fortemente aqueles que

os realizam, assim como outros acabam sendo mais perversos sobre aqueles que sofrem

a ação. Aquele que ‘promete’ algo se põe em situação delicada, ameaçando sua face

negativa, pois terá que empreender um esforço para cumprir a promessa feita. Já no caso

de uma ‘crítica’, será o criticado a pessoa posta em evidência na interação, o que terá a

face positiva mais fortemente ameaçada através do julgamento realizado.

Para Brown e Levinson (1978) o mal-entendido é considerado como um ato

ameaçador à face positiva do outro. Sua ocorrência deflagra a não realização pelo

locutor dos desejos e sentimentos do interlocutor, podendo ocasionar situações

ofensivas ou embaraçosas realizadas de forma intencional ou acidentalmente. É

importante lembrar que para os autores o mal-entendido está fortemente relacionado às

noções de divergências e desacordos.

Observamos, também, que um mesmo ato pode se inscrever em mais de uma

categoria. A pergunta, por exemplo, ao mesmo tempo representa uma ameaça à face

negativa do destinatário e à face positiva do falante. Sendo assim, caberá ao falante a

decisão de realizá-lo ou não. Ele poderá ver-se coagido em determinadas situações em

que tenha de decidir entre a realização de um FTA que ameace a face de seu interlocutor

e o desejo de preservação de sua própria face. Caso o falante decida-se por realizá-lo,

Brown e Levinson propuseram algumas estratégias:

1. Realizar o FTA diretamente sem estratégias de reparação (sem atenção às


necessidades da face positiva ou negativa).

2. Realizar o FTA através de estratégias de reparação (atento às necessidades da


face positiva ou negativa).
3. Realizar o FTA indiretamente, através de uma implicatura.

4. Evitar a realização do FTA.

A escolha de uma dessas estratégias, segundo os autores estará vinculada ao

peso que um FTA possui na interação em jogo. Para se dimensionar esse peso devem-se

considerar três fatores:

• A distância social entre os participantes (D)

• A relação de poder entre os participantes (P)

• A atribuição do grau de ameaça do FTA, imposta pela cultura em questão.(R)

Estabelecer-se-á, então, a seguinte fórmula:

Wx = D (F1,F2) + P (F1,F2) + Rx

Para se obter o peso ( Wx ) de um FTA numa dada interação, deve-se considerar

a distância social (D) entre os falantes envolvidos, a relação de poder (P) estabelecida

entre os mesmos e a valoração do quão ameaçador é o determinado FTA no meio

cultural dos falantes.

Para ilustrar a fórmula através de uma ocorrência do corpus, sugerimos a leitura

do 2º relato da 4ª entrevista da amostra CPH em nossos anexos. A cena se passa entre

um concierge brasileiro e uma hóspede francesa. O mal-entendido ocorre porque ao se

oferecer para reservar pessoalmente um horário no salão de cabeleireiro para a hóspede,

o funcionário teve seu gesto interpretado como oportunista. A cliente declara no

fechamento da conta que interpretou o oferecimento e a atitude de obsequiosidade do

concierge como uma forma de obtenção de comissão, o que não correspondeu ao que

aconteceu de fato. Neste exemplo atribuímos à variável D os papéis sociais exercidos

pelos participantes que pertencem a classes sociais diferentes. Para a Variável P

definimos o status de poder socialmente privilegiado para a falante hóspede. O R


representa o peso do FTA para o falante brasileiro dentro de uma contextualização

profissional brasileira, em que a cena ocorre. O entrevistado relata o grau de

constrangimento (ameaça à face positiva) vivido ao sentir-se acusado de tirar proveito

de uma situação profissional que o mesmo interpretava como uma tarefa cotidiana de

trabalho. Interpretamos que o resultado do peso (W) obtido na realização deste FTA foi

alto, tendo em vista a distância significativa das variáveis P e D e o peso atribuído para

a variável R como representatividade do grau ameaçador deste exemplo de mal-

entendido na cultura brasileira.

No caso das interações interculturais, duas variáveis (R) estão em questão, pois

um FTA não receberá, necessariamente, a mesma atribuição para seu grau de ameaça

nas duas culturas, tendo em vista as singularidades existentes na valoração afetiva

empregada na preservação das faces numa dada sociedade. Ou seja, caberia nesses casos

sugerir a seguinte formulação:

Wx = D (F1,F2) + P (F1,F2) + RCF1+ RCF2

As variáveis (D) e (P) independem dos falantes pertencerem ou não a mesma

cultura, pois como vimos são outros fatores que as determinam. Para a especificação, no

entanto, de interações em que os falantes são provenientes de culturas distintas, como

por exemplo, as que estudamos entre brasileiros e franceses, deverá haver uma variável

(R) para representar o teor de risco atribuído ao FTA em cada cultura (CF1 e CF2)

envolvida.

A ocorrência de alguns mal-entendidos interculturais deve-se ao fato de que, por

vezes os falantes ignoram o quanto um determinado FTA é tido como ameaçador na

cultura de seu interagente. Esse desconhecimento ou essa inobservância pode gerar mal-

entendidos, já que cabe ao falante escolher a estratégia mais apropriada para a situação,
seja através do uso de reparações, de implicaturas ou ainda da não realização do FTA

em questão.

Brown e Levinson (1978) afirmam que “Geralmente, as pessoas cooperam (e

acolhem a cooperação dos outros) para a manutenção da face na interação, cada

cooperação estando baseada na mútua vulnerabilidade da face.” 12 Em parte, essa

vulnerabilidade é justificada pelo risco mútuo de ameaça às faces e por sua conseqüente

relação com dimensões afetivas envolvidas numa dada interação. Por isso, Brown e

Levinson tecem considerações sobre como as diferenças entre as culturas, ou sub-

culturas dentro de uma mesma sociedade, podem ser evidenciadas através de seu ethos,

ou seja, da qualidade afetiva característica da interação dos membros de uma dada

sociedade.

Traverso (1999) acredita que a razão de os falantes dedicarem tamanha atenção a

preservação das faces revela a grandeza do envolvimento afetivo relacionado à perda

simbólica das mesmas. A autora afirma que a perda das faces é tão fortemente marcada

no plano emocional, que pode gerar diferentes sentimentos como o embaraço, a

vergonha ou a raiva. Entendemos que nesses casos, a escolha de estratégias de polidez,

além de administrar a função reguladora, evidencia o interesse dedicado ao bem estar do

interlocutor e valoriza o caráter altruísta das interações.

Certamente, não podemos relacionar toda ocorrência de mal-entendido à perda

das faces, nem tão pouco condicioná-lo a sentimentos como o embaraço, a vergonha, a

raiva, o constrangimento ou a qualquer outra manifestação afetiva de forma categórica.

No entanto, tal fato pode ocorrer como nos permitem admitir alguns exemplos do

corpus. Um mal-entendido pode, algumas vezes, impor situações constrangedoras que


12
In general, people cooperate (and assume each other´s cooperation) in maintaing face in interaction,
such cooperation being based on the mutual vulnerability of face.”(p.61, 1978)
requeiram dos participantes um maior esforço para atenuá-las através de estratégias de

polidez.

Interessa-nos, aqui, investigar em quais circunstâncias um mal-entendido pode

representar uma ameaça às faces dos interagentes. Seriam alguns casos conseqüentes de

um FTA? De quais estratégias valem-se os falantes para evitá-lo ou atenuá-lo? Nossas

análises estão comprometidas com o desenvolvimento dessas questões e para que isso

possa ocorrer a contento, contaremos também com a contribuição dos trabalhos de

Kerbrat-Orecchioni (1996).

2.3. Kerbrat-Orecchioni: o conceito de FFAs

Observando como funcionam efetivamente os FTAs na interação, Kerbrat-

Orecchioni (1992) ratifica sua produtividade na análise discursiva, mas critica o caráter

excessivamente negativo da elaboração Brown-levinsoniana. Ela mostra que por vezes

os falantes recorrem a estratégias que se sobrepõem a esses FTAs, na tentativa de

atenuá-los ou ainda de realizar ações independentes dos mesmos, que valorizam

unicamente as faces. Essas estratégias são denominadas de anti-FTAs, ou FFAs (face

flattering acts) em português os atos aduladores da face.

Kerbrat-Orecchioni (1992) sugere a criação de um modelo que agrega os FFAs

aos FTAs. Nessa perspectiva os falantes produzem atos para abrandar a força de um

FTA gerando a chamada ‘polidez negativa’; ou eles podem realizar diretamente um

FFA, promovendo a ‘polidez positiva’. Tentamos ilustrar algumas estratégias de FFAs

no quadro 3 a seguir:
QUADRO 3

Face Flattering Acts - FFAs os anti-FTAs


(Atos aduladores à face)
Polidez negativa com Polidez negativa com Polidez positiva com Polidez positiva com
relação à face negativa: relação à face positiva: relação à face negativa: relação à face positiva:

Um pedido de A atenuação de uma O presente. O elogio.


desculpas visando crítica.
reparar um empurrão,
um atraso,
uma interrupção
etc.

Interpretamos, com a ajuda do quadro 3, que a polidez negativa se apresenta em

dois momentos: através do pedido de desculpas pela ameaça à face negativa do

interlocutor e pela atenuação de uma crítica dirigida à face positiva do interlocutor. Em

ambos os casos estes atos funcionam como uma tentativa de abrandar a ação de um

FTA anteriormente realizado.

A polidez positiva realiza ações valorizadoras tanto para a face negativa quanto

para a face positiva do interlocutor, respectivamente representadas, no primeiro caso

pelo ato de presentear e no segundo caso pela ação de elogiar. Por essa razão, Kerbrat-

Orecchioni (2006) classifica a polidez negativa como sendo de natureza abstencionista

ou compensatória; enquanto que a polidez positiva tem caracterização como mais

produtiva.

Acreditamos que nos casos de mal-entendidos em que tenha havido nítida

ocorrência de ameaça às faces, as reparações, caso sejam manifestadas, trabalham em

prol da polidez negativa. Ironicamente, nas interações interculturais alguns casos de

polidez positiva podem dar margem a interpretações divergentes entre os falantes. Isto

deve-se ao fato de que até uma ação tida como lisonjeira numa dada cultura não terá
necessariamente a mesma percepção em outros meios culturais diferentes. Trazemos à

baila, mais uma vez, a discussão sobre o ethos, cuja definição empregada por Kerbrat-

Orecchioni (2006) difere um pouco daquela empregada por Brown e Levinson (1978).

Na perspectiva da autora, o ethos é o comportamento comunicativo de uma

comunidade, sua maneira de se apresentar na interação. Uma dada sociedade pode

assumir um ‘perfil comunicativo’ mais caloroso ou mais frio, mais suscetível ou mais

indiferente às ofensas 13. Por isso, entendemos que mesmo um enunciado ou gesto

utilizado com o intuito de lisonjear a face do interlocutor pode nem sempre surtir um

efeito desejado, caso o tratamento para a modéstia seja muito discrepante nas culturas

dos participantes da interação.

13
Kerbrat-Orecchioni(1994) desenvolve um trabalho consistente sobre o estudo do ethos diferente nas
sociedades, comparando perfis comunicativos de povos comunicativos vs povos debilmente
comunicativos, ethos de proximidade vs ethos de distância, ethos hierárquico vs ethos igualitário, ethos
consensual vs conflitual etc...
3. PARA ENTENDER O MAL-ENTENDIDO

Analisar a interação comunicativa requer atenção reservada ao mal-entendido,

visto que defendemos, aqui, sua natureza intrínseca ao discurso. No entanto, nem

sempre essa assertiva foi, ou é, consensual nas pesquisas dedicadas ao tema. Em dois

mil e três Laforest publicou que apenas há uns doze anos começou-se a rever a

conceituação, demasiadamente negativa, do mal-entendido como incidente infeliz e

particularmente freqüente nas interações interculturais (Laforest, 2003).

É inegável que a situação assimétrica de diferentes competências lingüísticas

e/ou comunicativas entre falantes de culturas distintas favoreça o surgimento de mal-

entendidos. Porém, faz-se necessário esclarecer, que nossa opção pela análise do mal-

entendido ‘intercultural’ não credita sua ocorrência, unicamente, à comunicação

exolíngüe. Trata-se aqui, apenas, de uma abordagem para o fenômeno conversacional,

considerando sua característica de transversalidade, que ratifica sua presença nos mais

diversos tipos de interações discursivas.

O limiar entre o ‘entendido’ e o ‘mal-entendido’ privilegia a formação de um

terreno pantanoso, já que não há como caminhar com segurança sobre o relevo da

intercompreensão mútua. O processo comunicativo não pode ser reduzido a

automaticidade de uma decodificação de dados.

Ao contrário, a comunicação se assemelha muito mais à montagem cooperativa

de um complexo quebra-cabeças, que os falantes co-constroem, produzindo o sentido a

cada nova peça agregada. Por isso, é tão apropriada a metáfora empregada por Lodge

(1991, p.46) que compara a conversação a um jogo de tênis com uma bola de massa de

modelar que ganha uma nova forma a cada travessia da rede. O falante da vez deixa
impressa sua contribuição e ao final do jogo, a forma modelada será resultante das

influências múltiplas dos jogadores. Esta metáfora ilustra como a conversação se

transforma em espaço de negociação para a construção do sentido. Por isso mesmo,

afirma Trognon (2003, p.54) que a comunicação humana e em particular a comunicação

linguageira abriga inúmeras ocasiões para o mal-entendido.

Dascal (2006) aponta para a existência de um distanciamento considerável entre

os dois pólos opostos da incompreensão total e da ilusória intercompreensão absoluta. O

mal-entendido costuma ser inserido exatamente em uma posição mediana, assim como

uma série de fenômenos que levam o prefixo mis - em inglês: misunderstanding,

mishearing, mispronounce, etc. Eles parecem apontar para algum desvio, não

intencional, no decorrer do trajeto interativo.

Entre as ciências da linguagem houve uma corrente 14 que redirecionou o

interesse pela ambigüidade, enquanto fenômeno da língua, para o estudo do mal-

entendido, enquanto fenômeno do discurso (LAFOREST, 2003, p.10). As pesquisas

atuais sobre o mal-entendido procuram explorar diversos fatores sobre o tema: suas

causas, sua tipologia, o tratamento dado pelo falante, suas influências sobre o discurso

em construção, e ainda seu parentesco com outros fenômenos conversacionais etc. Até

mesmo sua definição mereceu diferentes abordagens, como será exposto na seção

seguinte.

3.1. A administração do mal-entendido nas interações

Apresentamos, a seguir, algumas orientações teórico-metodológicas sobre o mal-

entendido através de estudos que privilegiaram abordagens semânticas e pragmáticas da

14
Trata sobre essas correntes lingüísticas: Kess e Hoppe, 1985; Berthoud, 1988; Trognon, 1988.
linguagem em uso numa dada cultura e/ou em situações interculturais. Destacamos as

contribuições de Bazzanella e Damiano (1999), Weigand (1999), Dascal (2006),

Traverso (2003), Lüsebrink (2003) e Kerbrat-Orecchioni (1992), que se mostraram de

extrema relevância para nossas análises.

3.1.1. Algumas teorias: definições, tipologias, reparações e efeitos do


mal-entendido

• Carla Bazzanella e Rossana Damiano

Para Bazzanella e Damiano (1999) o mal-entendido deve receber um

tratamento de processo continuum: as autoras rejeitam a acepção bipolar, empregada por

alguns estudiosos do fenômeno, cuja fundamentação é a ausência ou a presença de

‘compreensão’ nas interações.

Segundo as pesquisadoras, uma definição adequada para o mal-entendido

reuniria em um lado ‘o caminho para o entendimento’, ‘o entendimento’ e ‘o mal-

entendido’ e colocaria em uma outra margem, isolado, o ‘não entendido’. Ou seja, na

verdade, o mal-entendido seria uma forma de entendimento, inserido no próprio

processo da compreensão e que deveria ser monitorado e negociado na interação.

A partir da análise de um corpus informal de falantes italianos, Bazzanella e

Damiano (1999, p.181) propõem cinco níveis de ocorrência para o mal-entendido:

fonético, sintático, lexical, semântico e pragmático (estando este último envolvido com

os atos de fala indiretos, a força ilocucionária, as implicaturas, a ironia, a metáfora, a

relevância, o tópico e planos). Ao invés de apontarem causas determinantes para a

ocorrência de mal-entendidos, as autoras optaram por especificar uma série de

“gatilhos” que estariam relacionados à promoção do fenômeno. Divididos em categorias


(a) estruturais, (b) relacionadas ao falante, (c) relacionadas ao interlocutor e (d)

relacionadas à interação entre os participantes, os gatilhos foram especificados da

seguinte forma:

(a) Gatilhos estruturais:


(1) Distúrbios no canal comunicativo;
(2) Similaridades entre elementos do código lingüístico;
(3) Problemas causados pelo uso de uma língua estrangeira;
(4) Ambigüidades estruturais (lexical ou sintática).

(b) Gatilhos relacionados ao falante:


(1) Fatores ‘locais’, como deslizes no tom, concepções erradas, uso de formas
ambíguas.
(2) Fatores ‘globais’ relativos à estrutura da informação nos níveis pragmático e
sintático (tais como a polidez, a indeterminação, e os anaculotos)

(c) Gatilhos relacionados ao interlocutor:


(1) Problemas de conhecimento, como falsas crenças, incompetência lexical, lacunas
no conhecimento enciclopédico.
(2) Processos cognitivos, como inferências erradas e o peso cognitivo de seus efeitos
sobre a produção do interlocutor.

(d) Gatilhos relacionados à interação entre os participantes:


(1) Conhecimento não partilhado;
(2) Tópico de organização;
(3) Focalização de problemas.

As autoras destacam a ambigüidade entre os gatilhos estruturais como um dos

fatores mais freqüentemente ligados à promoção de mal-entendidos. Elas esclarecem

ainda que a presença de um ou a reunião de vários desses gatilhos no decorrer do

discurso tornam o processo de compreensão mais custoso, não resultando, no entanto,

obrigatoriamente em um mal-entendido. Considerando os casos em que esses gatilhos

venham desencadear um mal-entendido, em algum dos cinco níveis anteriormente

expostos, Bazzanella e Damiano apresentam um esquema representativo para ilustrar o

ciclo de negociação desse fenômeno conversacional, desenvolvido pelos falantes.

Vejamos a figura 1:
Figura 1: Ciclo de Negociação do mal-entendido adaptado de Bazzanella e Damiano (p.827,
1999).

Mal-entendido: A não coincidência


entre o significado do falante e a
interpretação do interlocutor no
turno N.

1.O mal-entendido foi A interação prossegue sem nenhuma


NÃO
percebido? mudança.

SIM

2.O participante que


percebeu o mal-entendido Pode ocorrer incidentes na
realiza uma reparação? NÃO comunicação.

SIM

TURNO DA REPARAÇÃO

NÃO

3b. A RECUSA
3.REAÇÃO DOS RECUSA FOI
INTERLOCUTORES COMPLETA?

SIM

ACEITAÇÃO COMUNICAÇÃO
FRACASSADA

NÃO 3a. A ACEITAÇÃO FOI


COMPLETA?

SIM

“NOVO COMEÇO”
Não haverá reparação, caso o mal-entendido não seja detectado, porém se ao

contrário, ele for percebido pelo falante ou pelo interlocutor, um turno de reparação um

turno de reparação poderá ou não ser gerado. A reação dos interlocutores pode

promover uma aceitação ou recusa do reparo (passo 3). No primeiro caso, se a aceitação

não for considerada completa, ela poderá requerer um novo turno de reparação até que

um acordo seja estabelecido. No segundo caso, a recusa da reparação pode apresentar

certa flexibilidade, permitindo novas tentativas de reparos, ou ainda a recusa pode ser

categórica, ocasionando o fracasso da conversação.

• Edda Weigand

Weigand (1999) disserta sobre diferentes tipos de mal-entendidos e afirma que o

propósito de estudo seleciona a abordagem mais adequada para o fenômeno. Entre os

casos mais importantes, apresentamos a listagem que adaptamos da autora (1999, p.764-

766):

1. O caso de “cross-cultural” (mal-entendido intercultural):baseia-se no fato de que a


comunicação é uma atividade dependente da cultura, justificando vários casos de mal-
entendidos decorrentes das diferenças lingüísticas e culturais dos participantes. Podem
ocorrer não somente em comunidades inter-étnicas como também pode resultar de
diferentes papéis culturais assumidos numa dada comunidade (comunicação do homem
vs mulher).

2. O caso de aspectos desviados ou aspectos laterais: os aspectos desviados são os mal-


entendidos deliberadamente planejados e os casos que não recebem resolução, já os
aspectos laterais reúnem os casos de prevenção do mal-entendido.

3. O caso da comunicação como má comunicação: há duas abordagens a se considerar, a


primeira inserindo os casos de compreensão na comunicação e os casos de mal-
entendidos ou má-comunicação como desvios da comunicação; a segunda considera a
linguagem em uso como permanentemente problemática, sendo assim, os casos de má
comunicação não seriam falhas, mas considerados como uma parcela do ato de
comunicar.

4. O caso do mal-entendido em um modelo harmônico: é a contraposição da visão da


comunicação como má comunicação. Aqui, a comunicação deve produzir o
entendimento. A análise do mal-entendido dentro de um modelo harmonioso considera
os interlocutores pertencentes a uma mesma comunidade. Devem-se distinguir os
problemas externos (sociais, culturais e diferenças lingüísticas) e os problemas internos
relacionados ao modelo harmônico (referências problemáticas e implicaturas
seqüenciais problemáticas)

A exposição dessa variedade de tipos para o mal-entendido (mais específico,

casos marginais ou desvios) evidencia, segundo Weigand (1999), a possibilidade de

inclusão do fenômeno em um dos dois princípios gerais: o que remete a ‘diferentes

casos de distúrbios na comunicação’ ou o que aborda a ‘comunicação como inerente à

má-comunicação’.

Para o tratamento de suas análises, a autora despreza em princípio todos os casos

expostos, justificando seu interesse pelo que chama de ‘uma definição padrão’ para o

mal-entendido. Sua linha de abordagem exige que se estabeleça, de imediato, um

conceito para ‘o entendimento’ na linguagem em uso. O que, consequentemente,

também demandaria o esclarecimento de qual modelo de linguagem em uso é

concebido.

Para Weigand (1999), o homem é guiado por propósitos, sejam emocionais,

materiais, cognitivos ou comunicativos. Identificar significados nos exige o

reconhecimento do propósito para o qual a língua foi utilizada. A autora afirma que é a

necessidade dos seres humanos de viverem e trabalharem juntos (por nós interpretada

como a necessidade de ‘interagir’), que determina o propósito geral de todas as ações

comunicativas e o propósito de ‘caminhar para o entendimento’ através de jogos de

ações dialógicas.

É por intermédio desse jogo de ações dialógicas que os participantes fazem uso

da habilidade complexa que constitui a linguagem para esclarecer e regular a


comunicação mútua, os seus propósitos dialógicos e consequentemente ‘caminhar para

o entendimento’. Com as palavras da autora:

[...] a chave da questão não é o entendimento, mas ‘caminhar para o


entendimento’ em um nível interativo. Nosso modelo de ‘caminhar
para o entendimento’ nos jogos de ações dialógicas, portanto, tem
que aceitar ou tolerar a possibilidade de casos de mal-entendidos que
de qualquer maneira são inerentes à sistemática da linguagem em
uso. 15 (WEIGAND, p.769, 1999, nossa trad.)

Uma parcela dos mal-entendidos apresentados por Weigand corresponde a erros

e outra parte pode estar relacionada a diferenças ligadas às interações interculturais.

Porém, o modelo padrão de mal-entendido se encontra no nível da competência

comunicativa e possui alguns traços constitutivos, adaptados por nós, aqui, da

apresentação de Weigand (1999, p.769-770):

o O mal-entendido é uma forma de entendimento que é parcialmente ou


totalmente diferente do que o falante tencionou comunicar.

o Sendo uma forma de entendimento, ele faz referência a um lado avesso do


significado ou do lado avesso do enunciado, e representa um fenômeno
cognitivo que pertence ao interlocutor.

o O interlocutor que “mal-entende” não tem consciência disso.(...)

o O mal-entendido não pode ser considerado um ato cognitivo porque o ouvinte


não é consciente disso; em vez disso, o mal-entendido representa uma habilidade
ou inabilidade do ouvinte (...)

o O mal-entendido poderá ser normalmente corrigido no desenvolvimento da ação


do jogo dialógico. Podemos estar confiantes que chegaremos a um entendimento
no jogo de ação dialógica como um todo, até mesmo se um enunciado tiver sido
mal compreendido. Significado e entendimento ou mal-entendido de um
enunciado não são unidades autônomas por si mesmas, mas uma parte da
interação dialógica. É em função do Princípio Dialógico geral que a linguagem
em uso pode tolerar casos de mal-entendido.

15
“[...] the key notion is not understanding, but coming to an understanding on an interactive level. Our
model of coming to an understanding in dialogic action games, therefore, has to accept or tolerate to a
certain degree cases of misunderstanding which are somehow inherent in the systematics of language
use.”
Weigand sustenta a definição para o mal-entendido padrão, considerando que o

significado lingüístico utilizado pelo falante nem sempre é corretamente identificado

pelo ouvinte, e que não se pode prever as inferências, nem desconsiderar os

componentes cognitivos e emocionais que os falantes empenham numa dada interação,

e finalmente, por questão de economia discursiva, quando se ‘diz’, na verdade, ‘nem

tudo é dito’.

• Marcelo Dascal

Para dar início à análise de um mal-entendido, Dascal (2006) considera que todo

enunciado possui ‘camadas de significância’, exatamente como a estrutura de uma

cebola. As camadas mais internas são relacionadas ao conteúdo proposicional,

geralmente tratadas pela semântica e as camadas mais externas estão ligadas às

implicaturas conversacionais, tradicionalmente a cargo da pragmática. Haveria ainda

uma camada intermediária que dá conta das forças ilocucionárias sobre as quais não há

um consenso se pertencem à semântica ou à pragmática. Para o autor, os procedimentos

analíticos se desenvolvem, então, a partir da definição de qual camada percente um

determinado mal-entendido. Alguns exemplos, analisados por ele, mostram que não são

raros os casos em que mais de uma camada é atingida. Nas palavras do autor:

Na verdade, o mal-entendido – como o entendimento – resulta de


formas específicas de interação entre as diferentes camadas. A
análise, portanto, requer não só a identificação das camadas, mas
também uma descrição dos mecanismos de interação envolvidos,
uma vez que o seu mal funcionamento pode ser a causa do mal-
entendido. (DASCAL, p. 327, 2006)

Essas camadas de significância estão relacionadas a quatro perguntas elaboradas

por Fillmore (1976) em que a resposta errada dada a qualquer uma delas poderia resultar

na ocorrência de um mal-entendido. São elas:


a. O que ele disse?

b. Do que estava falando?

c. Por que resolveu dizer isso?

d. Por que disse da maneira que disse?

A partir dessas questões podem-se identificar vários tipos de mal-entendidos,

levando em consideração, segundo Dascal, o tratamento dado pela semântica

tradicional, pela lingüística e pela filosofia no caso da primeira pergunta, já a segunda

questão é tratada pelas versões atuais e ampliadas da semântica (como a “frame” ou a

“scene-semantics” de Fillmore, 1976), a pragmática cuida da terceira (teoria dos atos de

fala a lógica da conversação) e a quarta fica a cargo da retórica.

O autor apresenta a exigência conversacional como um conjunto formado pela

elocução de um dado falante A, suas injunções para optar pela realização de

determinados atos de fala, sua administração de regras e princípios comportamentais,

enfim sua posição ao longo da conversação e o contexto comunicativo. Diz, ainda, que a

resposta de um falante B para a elocução do falante A deverá corresponder à percepção

de B à exigência conversacional estabelecida e às quatro perguntas. Quando a

interpretação de B da elocução de A for extremamente diferente daquilo que A

pretendia comunicar, é provável que a resposta de B será inadequada aos olhos de A, e o

mal-entendido poderá surgir. Dascal afirma que é possível detectar a(s) camada(s)

responsáveis pelo mal-entendido para que possam ser processadas as reparações

cabíveis.

Observar a capacidade do falante A para decidir se houve ou não um mal-

entendido por parte de B parece uma pré-condição para responder a qualquer uma das

quatro perguntas interpretativas, antes de retomar sua vez na troca conversacional.


Estabelece-se uma condição sine qua non para o bom funcionamento da conversação

em todos os seus níveis a disponibilidade de meios para verificar se houve um mal-

entendido (Dascal, 2006).

Para Dascal, essa pré-condição de verificação ocupa lugar de destaque na geração

e compreensão das implicaturas griceanas, visto que elas demandam um maior esforço

dos interlocutores para averiguar se realmente houve uma violação intencional de uma

das máximas.

Reconhecendo o papel fundamental que a noção de mal-entendido exerce sobre a

compreensão das implicaturas griceanas, o autor sugere a inclusão de duas regras

especiais para o seu monitoramento: 1º “Verifique se existe uma explicação causal” e 2º

“Verifique se há um mal-entendido”.

Perscrutar possíveis mal-entendidos, através da seleção de palavras, ou atos de

fala, ou ainda reforçar o trabalho de prevenção, são atitudes sugeridas por Dascal e pelas

pesquisas de Traverso (2003) e Galatolo (2003). Aquela mostrou que em situações de

argumentação de inquietudes interpretativas os falantes tomam mais precaução, auto-

reformulando e verificando os enunciados; a segunda autora comprova que as mesmas

medidas são tomadas em grande escala nas interações acadêmicas com o intuito de

minimizar a ocorrência de mal-entendidos e conseqüentemente salvaguardar a face do

falante.

Mesmo sem dar crédito à infalibilidade de qualquer medida de prevenção ou

reparação de mal-entendidos, Dascal atribui aos falantes a responsabilidade de produzir

interpretações confiáveis das elocuções de seus interlocutores e de acompanhar os

efeitos de suas próprias elocuções a fim de monitorar e corrigir, quando possível, os

mal-entendidos discursivos.
• Veronique Traverso

Em princípio, Traverso (2003) toma emprestada a definição de Galatolo e

Mizzau (1998) para o mal-entendido, enfatizando o fato de que há um espaço de tempo

em que os falantes não se dão conta da ocorrência da divergência ou do distanciamento

entre suas interpretações sobre o enunciado.

A autora (2003) faz uma minuciosa exposição daquilo que considera como

fonte e causa do mal-entendido e faz um levantamento de tipos de tratamento dado ao

fenômeno.

Primeiramente, ela define as fontes através das quais os mal-entendidos se

manifestam, destacando quatro grandes grupamentos:

(a) O texto conversacional: os signos empregados, as referências, a entonação, o tema


das trocas, as interpretações dos atos indiretos não convencionais etc.

(b) A estrutura da interação: os problemas ligados ao corte e à hierarquização dos


elementos constituintes das unidades textuais como as trocas, as seqüências etc.

(c) Os quadros participativos: quanto maior o número de participantes na interação,


maiores serão as chances da ocorrência de um mal-entendido.

(d) A situação e seus elementos constitutivos: os participantes, o quadro, ou seja, o


lugar, o tempo e a finalidade da interação.

Quanto às causas do mal-entendido apontadas pela autora como fatores que

favorecem sua aparição foram listados os dados contextuais, situacionais e

extrasituacionais. Traverso (2003) apresenta também alguns tratamentos dados ao mal-

entendido através dos processos de auto-reparação ou heteroreparação. Segundo ela,

quanto maior o tempo entre o turno que contém o mal-entendido e aquele que dá início

a sua reparação, maiores serão os riscos empreendidos na interação.


Ao rever a definição para mal-entendido Traverso chama a atenção para os usos

estratégicos do fenômeno no discurso:

O mal-entendido constitui um distúrbio na ordem tranqüila da


interação que os participantes deverão, às vezes, comentar,
explicando e desta forma justificando o instante de distração que
ocasionou seu ‘erro’ de direção, suas representações do outro que os
conduziu a acreditar que ele poderia ter dito o que ele não disse, etc.
É a partir desta dimensão relacional que podemos discernir
utilizações mais estratégicas do mal-entendido.(TRAVERSO, p.103,
2003, trad. nossa)

Traverso acredita que o mal-entendido comprometa de certo modo as faces dos

interlocutores, já que a dinâmica interacional envolve também aspectos relacionais. A

produção de um mal-entendido pode evidenciar uma divergência interpretativa

decorrente da construção interiorizada da ‘imagem’ de nosso interlocutor, daquilo que

pensamos que nosso interlocutor deveria ter dito ou poderia dizer.

Descartando os casos de mal-entendidos deliberados, em que podem ser usados

como pretexto para justificar uma ‘falta’ cometida de forma voluntária, a autora aponta

dois importantes usos estratégicos do fenômeno: salvar uma dada situação, e

conseqüentemente, salvar as faces dos interlocutores, evocando um mal-entendido para

evitar uma interação conflitante; ou ainda reconduzir a interação à sua via quando o

interactante formular um enunciado que apresente um mal-entendido, que poderia

desestabilizar seu interlocutor, caso mostrasse a ambigüidade em seu enunciado. Na

primeira possibilidade temos o que a autora chama de ‘quase mal-entendido’ pois ele

não tem caráter acidental.

Traverso (2003) preocupou-se sobretudo em distinguir situações em que os mal-

entendidos são imediatamente reparados daquelas em que são mais sistematicamente

explorados pelos participantes da interação.


• Hans-Jürgen Lüsebrink

Lüsebrink (2003) acredita que nas interações interculturais tanto as trocas

comunicativas em que ocorrem disfunções, quanto às formas de comunicação bem

sucedida tenham o mesmo grau de importância. Para o autor, os casos de disfunções

revelam-se particularmente interessantes por evidenciar obstáculos parcialmente ocultos

das expectativas de falantes pertencentes a diferentes culturas.

Em sua perspectiva o mal-entendido se traduz como um processo de atribuição de

sentidos divergentes entre os participantes de uma dada interação. Sua ocorrência,

segundo o autor, encontra-se mais freqüentemente relacionada a cinco importantes

fontes, como atestam as pesquisas interculturais dedicadas ao fenômeno. Apresentamos,

abaixo, nossa adaptação para a listagem proposta por Lüsebrink (2003, p.140) das

maiores fontes promotoras de mal-entendidos interculturais:

1. A comunicação não verbal (formas de saudação física por exemplo, distancia


física no momento do encontro.

2. Os valores (respeito da autoridade, formas externas de representação da


autoridade, por exemplo, a honra, o insulto);

3. As crenças (por exemplo as superstições)

4. O código verbal (locução, atos de linguagem ... );

5. Os comportamentos linguageiros diferentes (o ritmo, as interrupções do


interlocutor, o recurso do silêncio, as entonações (...).

O autor nos chama a atenção para o fato de que algumas vezes a defasagem entre

as interpretações dos enunciados de falantes pertencentes a culturas distintas pode gerar

uma visão extremamente conflituosa dos mal-entendidos discursivos. Lüsebrink observa

que esses ‘incidentes críticos’ são seguidos com freqüência de formas de reparação. Na

tentativa de esclarecer o mal-entendido, constrói-se um meta-discurso comunicacional


gerando-se o risco denominado por Rehbein (1985 apud Lüsebrink, 2003) de ‘confusão

intercultural’/‘embrouillage interculturel’.

Nesses casos, as diferenças existentes podem ser potencializadas, distanciando

ainda mais os interlocutores e produzindo um enrijecimento de suas posições no

discurso.

Ao fazer referências ao trabalho de Nancy Adler (1991), Lüsebrink concorda

com colocações da autora de que quanto maiores forem as diferenças entre as culturas

dos interlocutores, maiores serão as chances de ocorrer má-comunicação. Por sua vez,

Lüsebrink define cross-cultural mis-communication como as interações em que a

mensagem não é percebida pelo falante-receptor da mesma forma que ela foi tencionada

pelo falante-emissor, devido ao fato desses interlocutores pertencerem a culturas

diferentes.

O autor acredita que grande parte dos casos de mal-entendidos em situação

intercultural estejam intrinsecamente ligados a interações conflituosas e apresenta um

esquema para ilustrar essa situação. Vejamos a figura 2:


Figura 2: Esquema dos problemas fundamentais da comunicação intercultural um
modelo do processo. Adaptado de Lüsebrink (p.149, 2003). O original foi retirado de
Helmolt (1993).

Membros de uma cultura C1 Membros de uma cultura C2

Atitudes Língua Atitudes Língua


Valores _léxico, Valores _léxico
História _Atos de linguagem, História _Atos de linguagem,
_Estilos de comuni- _Estilos de comuni-
cação, cação,
_Comunicação verbal _Comunicação verbal
e não verbal. e não verbal.

Situação de comunicação intercultural

Esquemas de comportamentos culturais como modelos de interpretação de atos de


comunicação de uma outra cultura.

Mal-entendidos; não obtenção dos objetivos comunicativos

Frustração; stresse

Atribuições falsas
(categorizações do problema comunicacional)

Utilização de estereótipos

Falta de objetividade relativa à percepção de situações


de comunicações interculturais futuras.

Evitar contatos diretos com representantes de outras culturas.

O esquema de Lüsebrink representado pela figura 2 leva em conta as atitudes, os

valores e a memória histórica dos falantes, juntamente com todos os componentes


lingüísticos para determinar o comportamento interacional e comunicativo. Por essa

razão, o autor acredita que as situações comunicativas interculturais, ao confrontar

realidades sociolingüísticas e culturais substancialmente distintas estão mais suscetíveis

a divergências interpretativas entre seus falantes em contato. Para Lüsebrink, o esquema

demonstra que após a deflagração do mal-entendido, os resultados podem se manifestar

como uma experiência estressante ao ponto de surgirem atitudes mais castradoras como

evitar terminantemente o contato com representantes de outras culturas. Nas palavras do

autor:

[...] a situação de comunicação intercultural é forçosamente geradora


de modelos de interpretação divergentes, que promovem mal-
entendidos e por conseqüência, eventualmente, frustrações, falsas
atribuições e a recorrência a esquemas de percepções estereotipadas.
Como última conseqüência, esta dinâmica interacional, no cerne da
qual se encontra o fenômeno do mal-entendido, é suscetível de
promover a não-comunicação sob suas diferentes formas: o silêncio,
evitar o contado direto, o distanciamento ou a exclusão do Outro de
uma situação, de uma comunidade de comunicação, ou mesmo de
uma nação. (LÜSEBRINK, p.141, 2003)

Apesar da análise de Lüsebrink repousar sobre uma perspectiva excessivamente

traumática de experiências de mal-entendidos interculturais, achamos alguns traços em

consonância com nosso corpus, quanto à atuação de estereótipos na promoção ou no

julgamento de mal-entendidos. Sobretudo na amostra ACI (apreciações contrastivas

interculturais), em que os falantes revelam experiências contrastivas de comportamentos

verbais e não verbais entre brasileiros e franceses.

• Catherine Kerbrat-Orecchioni

Em sua obra Os atos de linguagem no Discurso (2005, p.62) Kerbrat-Orecchioni

define o mal-entendido como “uma defasagem entre o sentido codificado pelo locutor
(sentido intencional, que o emissor deseja transmitir ao destinatário) e o sentido

decodificado pelo receptor.”

A autora apresenta três tipos de defasagem ligados ao mal-entendido: a

subinterpretação, a sobreinterpretação e a interpretação incorreta. No primeiro caso, o

receptor por razões estratégicas demonstra interpretar somente o sentido literal da

sentença, ignorando deliberadamente uma outra acepção para o enunciado, que pode

estar sendo expresso por um ato de linguagem indireto. No segundo caso, a

sobreinterpretação parece realizar o processo inverso ao da subinterpretação, explorando

ao máximo o exercício da interpretação do enunciado. O terceiro caso reúne exemplos

de erros na realização do cálculo interpretativo dos falantes, decorrentes de uma

interpretação incorreta do receptor de atos indiretos realizados pelo locutor.

Além de realizar análises contrastivas sobre o mal-entendido em diferentes

culturas separadamente (abordagem intracultural), Kerbrat-Orecchioni (1994) pesquisa

o mal-entendido em interações entre falantes de comunidades lingüístico-culturais

distintas (abordagem intercultural). Segundo a autora é no encontro intercultural que se

torna mais evidente a importância de:

• Conhecer as regras gramaticais que estruturam uma língua, mas, sobretudo, ser

capaz de inseri-las de forma coerente e adequada no contexto interativo;

• Administrar a interpretação do material verbal e não verbal;

• Estar sensível à união dos saberes lingüísticos e socioculturais.

Todas estas ponderações expressam a preocupação de reunir a competência

lingüística à competência comunicativa, esta última definida por Hymes (1984) como “a

reunião de aptidões que habilitam o sujeito falante a comunicar-se de maneira eficaz em

situações culturais específicas.”


Para Kerbrat-Orecchioni, o contato das diferentes normas lingüísticas e

comportamentais na comunicação intercultural favorece a ocorrência de mal-

entendidos. Isto se deve em parte ao fato de que os falantes têm interiorizadas suas

regras lingüístico-comportamentais e por isso acabam julgando a conduta diferente de

seus interlocutores como imprópria. A autora (1994, p.135) advoga que “os membros

de uma dada cultura são geralmente inconscientes das variações que afetam as

convenções comunicativas, por acreditarem que elas são universais [...]” Sendo assim,

um dos efeitos catastróficos, segundo a autora, da reincidência de mal-entendidos

interculturais em função do julgamento do outro como ‘mau comunicante’ é a

construção de estereótipos negativos das duas partes.

Suas obras Análise da Conversação (2006) e o terceiro tomo de Les Interactions

Verbales resumem as principais causas de mal-entendidos interculturais:

1. Os sistemas interacionais e as regras de polidez que variam sensivelmente de uma


cultura para outra;

2. A crença dos falantes na universalidade das regras lingüístico-comportamentais e sua


conseqüente inconsciência da existência de variações;

3. Falhas na codificação: a ocorrência de decalques prosódicos, retóricos ou


pragmáticos;

4. Falhas na decodificação: é o mal-entendido que ameaça por dois lados; pode até
mesmo ocorrer mal-entendido sobre mal-entendido quando o problema comunicativo é
imputado a um domínio deficiente da língua ou interpretado negativamente em termos
psicológicos (má vontade, hostilidade, grosseria, obsequiosidade etc.);

Kerbrat-Orecchioni (1994) afirma que as conseqüências dos mal-entendidos

interculturais assumem diferentes proporções, dependendo do caso. Podem surgir desde


‘momentos desconfortáveis’ na interação até a ocorrência de experiências denominadas

por Carroll (1987) como ‘feridas culturais’.

3.2. O mal-entendido e alguns conceitos adjacentes

Como vimos no tópico anterior, o estado da arte no campo do mal-entendido

tem discutido uma variedade de casos e uma multiplicidade de metodologias para o

tratamento deste fenômeno conversacional. Não há como confiná-lo a uma abordagem

única. Optar por trabalhar com o conceito de sua manifestação “padrão” (Weigand,

1999) ou com definições mais abrangentes (Trognon, 2003) não nos exime da árdua

tarefa de estabelecer diferenças entre o mal-entendido e outros fenômenos adjacentes.

Não foram raros os relatos do nosso corpus que ilustraram experiências de ‘enganos’ ou

‘gafes’, ou ‘ofensas’ como pretensos mal-entendidos. Percebemos também que os

falantes, às vezes, tomam as causas geradoras do fenômeno pelo próprio, como no caso

das ambigüidades, ou de algumas percepções estereotipadas do ‘outro’.

Perrin (2003) já havia sinalizado a freqüente associação do mal-entendido a

outros diversos ‘acidentes’ da comunicação, devido ao fato de todos eles não receberem

dos interlocutores a mesma reconstituição discursiva tencionada pelo locutor. O autor

desenvolve uma pesquisa sobre a ironia como uma dessas associações equivocadas.

Apresentaremos a seguir um pouco de seu estudo, assim como outros conceitos

adjacentes ao mal-entendido, procurando melhor entender como eles se relacionam com

o fenômeno estudado.
3.2.1. O mal-entendido deliberado

A definição de mal-entendido deliberado ou falso mal-entendido é explorada nos

estudos de Galatolo e Mizzau (1998) sobre a íntima relação do mal-entendido com

situações comunicativas conflituosas. As autoras perceberam que às vezes um mal-

entendido pode promover ou sustentar alguns conflitos nas interações, o que estimula

sua ocorrência deliberada por falantes que têm a intenção de inflamar a comunicação.

Traverso (2003) também assinala a existência de falsos mal-entendidos com as

exemplificações dos pretextos utilizados para justificar faltas em reuniões

negligenciadas. Em todas as situações abordadas o mal-entendido é forjado. Se uma das

características fundamentais do mal-entendido conversacional é seu caráter de

acidentalidade, provocar seu surgimento compromete a definição do fenômeno. Por

isso, desconsideramos os casos de mal-entendidos deliberados em nossa proposta de

análise.

3.2.2. O qüiproquó, o engano ou o equívoco.

Expressão do latim quid pro quo 'uma coisa pela outra', o verbete qüiproquó

recebe três entradas no dicionário HOUAISS em sua versão on-line. A primeira acepção

vem da área médica, referindo-se ao antigo receituário farmacêutico, que orientava a

substituição da droga receitada, caso a farmácia não a possuísse. Surge então a

expressão “Livre-nos Deus de um Quid pro quo; porque às vezes há erro nas drogas, e

em lugar de mezinha, dão os Boticários veneno. (Houaiss, versão on-line)” A segunda

concepção para qüiproquó surge por processos de derivação, através de extensão de

sentido ou de metonímia, no primeiro caso temos a concepção de ‘engano’, que consiste


na ação de tomar ou dar um objeto por outro, um equívoco, um erro, uma tolice; no

segundo caso, temos a noção de ‘confusão’ criada por esse engano. O dicionário destaca

como exemplo: “o fato de eles serem gêmeos gerou um enorme qüiproquó.” A terceira e

última entrada para o termo refere-se à definição de ‘trocadilho’, dito espirituoso

resultante de se tomar uma idéia por outra e que dá lugar uma combinação casual das

palavras que se proferem.

O qüiproquó pode ser interpretado como uma avaliação errada, enganosa,

equivocada do falante a respeito de algum fato, ou como um efeito desastroso devido a

este engano, formando-se uma confusão, sem que necessariamente tenha ocorrido

‘interpretações divergentes entre os participantes’ como é o caso do mal-entendido.

Quando um falante dirige-se ao outro com a identidade errada: -Você é a

Claudia? -Não, eu sou a Telma. O que houve neste caso foi um engano e não um mal-

entendido nos moldes como, aqui, foi definido.

3.2.3. O ato falho

O ato falho e suas distintas denominações como parapráxis, ato sintomático, ou

ainda lapso freudiano é a expressão da batalha travada entre o consciente (conteúdo

evocável) e o inconsciente (conteúdo não evocável). Segundo Freud (1974) a censura

que inibe nossos instintos inconscientes é representada pelo superego e o ato falho

deflagra o desejo do inconsciente, através de um erro na fala, na memória, ou nas ações,

como se tivesse ocorrido um lapso no sistema que reprime a exteriorização de nossos

instintos. Realiza um ato falho o marido que troca o nome da mulher pelo da amante ou

o marido indiferente ao fato da mulher ir sozinha a uma festa, solicitando-lhe antes de

sair: -Deixe o telefone da festa pra pedir vitamina C, não! Deixe o telefone da
farmácia... Sendo o primeiro exemplo bem favorável ao surgimento de qüiproquós na

sua acepção de ‘confusão’, o segundo, porém, parece não apresentar maiores

conseqüências do que a denúncia de que a indiferença do marido era ‘relativa’.

3.2.4. O ruído

É considerado como ruído qualquer distúrbio ou perturbação que ocasione perda

de informação na transmissão da mensagem (Houaiss versão on-line, 2008). Há ainda

duas explicações especificamente ligadas aos comprometimentos fonéticos: “1.qualquer

efeito acústico de articulação que não dependa dos órgãos ressonadores e não apresente,

por isto, vibrações harmônicas. 2. na produção dos sons lingüísticos, o som produzido

pela obstrução total ou parcial da passagem da corrente expiratória, como na articulação

das consoantes, por oposição às vogais formadas de sons laríngeos modulados segundo

a forma da cavidade bucal.” Os casos aqui listados como ruídos não se tratam portanto

de mal-entendidos, mas correspondem na verdade a um má compreensão do enunciado

por entraves ocorridos na transmissão que impedem a boa recepção da mensagem.

3.2.5. O estereótipo

O estereótipo é a representação coletiva cristalizada: ele é recuperado e

reconstituído no discurso pelo alocutário em função de um modelo cultural preexistente

(Amossy, 1991, 1997). Para Stangor e Schaller (1996) o estereótipo é definido como

uma crença sobre atributos típicos de um grupo e sobre o grau com que tais atributos

são compartilhados.

O artigo ‘Os estereótipos e o viés lingüístico intergrupal’ de Pereira et alli (2003)

indica que os membros do ingroup (mesma cultura) tendem a ver-se e tratar-se de forma
mais favorecida em detrimento dos membros do outgroup (outra cultura), cujas

apreciações recebidas são sempre mais homogêneas. Os autores (2003, p.125) dizem

que “um aspecto bastante significativo das relações entre os grupos é a denominada

alusão depreciativa aos estrangeiros”. As concepções a respeito do outgroup são

formuladas pelo pensamento categórico e são expressas por crenças estereotipadas, as

quais nutrem as vicissitudes das relações intergrupais. Por isso não é difícil entender

porque, na comunicação intercultural, alguns mal-entendidos possam ser gerados pela

atuação de crenças estereotipadas sobre o ‘outro’. Encontramos relatos em nosso corpus

que deixaram transparecer visões estereotipadas que os brasileiros possuem dos

franceses e vice versa através da exposição de algumas apreciações feitas e até mesmo

da ocorrência de alguns mal-entendidos. Vimos, no entanto, que para Kerbrat-

Orecchioni (1994) e para Lüsebrink (2003) os estereótipos são muito mais uma

conseqüência da repetição de mal-entendidos interculturais do que promotores dos

mesmos. Por isso, pretendemos verificar mais cuidadosamente sua atuação em nossas

amostras.

3.2.6. A ironia

Definida por Perrin (2003) como um mal-entendido enunciativo, a ironia não

pode ser esclarecida diretamente pelo conteúdo proposicional, mas através da tomada de

consciência enunciativa do interlocutor de elementos citados (direta ou indiretamente)

no discurso do falante. Perrin descreve a ironia fundamentada sobre o que chama do

verdadeiro ‘falso mal-entendido’. A indeterminação enunciativa do contexto discursivo

autoriza diferentes opções interpretativas que podem em alguns casos de não apreensão

da ironia transmitida levar a ocorrência de mal-entendidos. Por isso, para Lüsebrink a


não identificação de entonações diferentes em alguns enunciados irônicos é apontada

como uma causa promotora de mal-entendidos interculturais.

Entendemos melhor o porquê da ironia estabelecer com freqüência uma estreita

relação com o mal-entendido quando lembramos da quebra ostensiva que a ironia

representa com relação à da máxima de modo griceana.

Ela é o que Dascal (2006) define como “fenômeno através do qual, aquilo que

‘dizemos’ é substancialmente diferente do que ‘dizem’ nossas palavras.”

3.2.7. A gafe

A gafe se produz quando um falante diz algo que não deveria ter dito, seja por

que isto representa uma ameaça a sua face ou nos casos mais freqüentes porque ameaça

a face de seu interlocutor, ou ainda de terceiros (Vincent, Deshaies e Martel, 2003). O

mal-entendido, por sua vez, pode representar uma ameaça às faces dos interlocutores,

porém diferentemente de como se dá nos casos da gafe, nem todas as ocorrências do

fenômeno estarão condicionadas a isto.

Segundo Vincent, Deshaies e Martel (2003) uma gafe assume a representação

de algo que não deveria ter sido verbalizado, mas foi, enquanto que o mal-entendido

pode se dar de forma potencial, nos casos em que o locutor impede sua realização ao

antecipar possíveis interpretações divergentes de seu interlocutor. Para os autores,

quando essa antecipação de interpretações divergentes ocorre com uma avaliação de

risco às faces do interlocutor os fenômenos do mal-entendido e da gafe se entrecruzam.

Parece-nos mais apropriado afirmar que as gafes estão muito mais ligadas ao fator

‘desconhecimento’ no nível lingüístico ou comportamental do que os mal-entendidos,

cuja realização não implica necessariamente o desconhecimento de regras pelo falante.


Sendo assim, as gafes constituem muito mais fruto do desconhecido do que do mal-

entendido, por sua vez, em alguns casos os mal-entendidos podem levar a gafes e

finalmente há casos em que os dois fenômenos podem co-ocorrer.

3.2.8. A impolidez

Ao tomar como regra geral da polidez a manutenção da gestão harmoniosa das

relações interpessoais, qualquer atitude de um falante interpretada como um ato

‘grosseiro’ por seu interlocutor ganhará o rótulo da ‘impolidez’. Devemos no entanto

tomar o devido cuidado para não atribuir todos os casos ao mal-entendido. Entendemos

que a impolidez pode ser consensual, sem carregar desta forma qualquer traço de

divergências interpretativas. Quando, por exemplo, uma gerente de hotel francesa tratou

seu funcionário brasileiro por “burro” em função de sua má atuação na realização de

uma determinada tarefa, a intenção da gerente foi de chamar-lhe a atenção e o

funcionário apreendeu a referência como alta ofensa. Sem entrar no mérito da dimensão

do comprometimento afetivo do ato nas culturas envolvidas, acreditamos ser consensual

que tanto na França como no Brasil trata-se aqui de um caso de impolidez. Outro

exemplo do corpus traz à baila um ato de cortesia (pretensamente polido) de um

empregado brasileiro que se oferece para agendar um serviço no salão de cabeleireiro

do hotel para uma cliente francesa. A atitude do empregado foi interpretada pela cliente

como excessiva e interesseira (gratificação financeira intencionada), conseqüentemente,

impolida. Entendemos que este último exemplo ilustre uma discrepância do tratamento

da polidez nas culturas em contato, gerando interpretações dos atos verbais e não

verbais realizados de forma divergente. Ou seja, o que é polido numa dada leitura
cultural não será necessariamente numa outra, justificando a possibilidade de mal-

entendidos surgirem.

3.3. O mal-entendido propriamente dito, ou não dito?

As interações interculturais promovem o encontro não somente de falantes com

competências lingüística e comunicativa diferentes, mas sobretudo com sistemas

culturais próprios.

Em meio a tantos fatores a serem considerados na comunicação entre brasileiros

e franceses, como diferentes esquemas de conhecimento, diferentes hábitos e

comportamentos, diferenças e semelhanças entre as línguas maternas, influenciando na

produção do idioma estrangeiro, não é difícil compreender a ocorrência de mal-

entendidos como uma conseqüência natural de divergências interpretativas. No entanto,

tornamos a reafirmar que a própria complexidade da construção discursiva envolvendo

a cooperação mútua dos participantes para a construção do sentido também privilegia a

ocorrência de mal-entendidos.

A partir dessas considerações nos valeremos da definição de Hérédia (1986) para

o mal-entendido não como um fenômeno unicamente expressivo na comunicação

exolíngüe, mas sobretudo como um elemento localizado entre a compreensão e a

incompreensão. A autora nos oferece uma definição mais abrangente em que o mal-

entendido é descrito como ‘uma ilusão interpretativa temporária ou permanente ou de

compreensão entre dois ou mais interlocutores. Cada um dando a uma palavra, a um

enunciado, ou a uma situação um sentido que lhe é próprio, mas que diverge do sentido

concebido pelo outro. (HÉRÉDIA, 1986, p.50)”


Assim como a dinamicidade das interações não permite garantir a

‘intercompreensão mútua’, é insustentável a tese de que tudo que intencionamos dizer é

o que efetivamente foi dito.


4. METODOLOGIA

4.1. Caracterização do corpus.

O interesse pela análise de mal-entendidos ocorridos em interações face a face

entre falantes brasileiros e franceses impôs preeminentemente, a condição de montagem

de um corpus específico, que possibilitasse a verificação de nossas hipóteses.

Outro fator motivador importante para a montagem das amostras foi o

desenvolvimento paralelo de um trabalho de pesquisa voltado para a produção de um

material didático para a formação em língua francesa na área profissional hoteleira. A

escassez de pesquisas acadêmicas que privilegiassem interações verbais entre brasileiros

e franceses, dentro das especificidades exigidas por nossas pesquisas, evidenciou o

caráter de originalidade e aplicabilidade que a construção de um corpus próprio poderia

proporcionar.

Por essa razão, optamos pela formação de duas amostras: uma que reunisse

exemplos em contexto livre e diversificado, e outra que ilustrasse cenas ocorridas em

contexto profissional. À primeira demos a sigla CLD (contexto livre e diversificado) e

denominamos a segunda de CPH (contexto profissional hoteleiro). A composição de

dois grupos de contextualizações distintas gerou diferentes parâmetros para

comparações e evidenciou os fatores promotores de mal-entendidos em ambas as

situações.

Não queremos, porém, induzir à falácia de que as análises conclusivas sobre a

amostra CPH restringirão os resultados obtidos a um único contexto profissional. O

destaque dado a uma contextualização profissional específica dá-se tão somente por

dois motivos: o primeiro evidencia a inviabilidade mecânica de multiplicarmos os


campos profissionais a serem investigados dentro do tempo que disponibilizamos para a

realização da pesquisa e o segundo motivo revela que independente da área profissional

privilegiada nas análises, ela será sempre um modelo para aplicação em outros diversos

grupos também profissionais.

Em princípio teríamos, então, apenas duas amostras constituintes, divididas em

CLD e CPH, mas um fato não programado surgiu no decorrer das gravações das

entrevistas, transformando relatos inicialmente não previstos em constituintes

produtivos para a complementação de nossas análises e conseqüente formação de uma

terceira amostra, denominada de ACI (apreciações contrastivas interculturais).

Muitas vezes, nosso pedido por relatos de ‘mal-entendidos’ interculturais foi

transformado pelos voluntários em descrições de experiências pessoais, que refletiam

suas leituras da cultura do ‘outro’. Esses comentários revelaram o grau de desconforto

do falante em relação a alguns aspectos contrastivos, dimensionados desde uma

intolerância ao ‘diferente’, até casos mais expressivos representando circunstâncias

‘promotoras potenciais’ de mal-entendidos interculturais.

Os falantes relataram comportamentos, hábitos, atitudes e interações mistas

‘deflagradoras’ de diferenças sócio-culturais. Como essas observações nem sempre se

encontravam num contexto discursivo interativo face a face com outros falantes e nem

sempre ilustravam a ocorrência de mal-entendidos, não pudemos inseri-las nem na

amostra CLD e nem na CPH. Em função da pertinência dessas apreciações, que também

significavam um possível ‘truncamento’ no olhar interpretativo de uma outra cultura (ou

seja de brasileiros com apreciações contrastivas da cultura francesa e de franceses com

observações contrastivas decorrentes do contato com a cultura brasileira) foi gerada

uma terceira amostra à qual demos a sigla ACI (Apreciações Contrastivas e


Interculturais). Para esses relatos dedicamos um capítulo de análise, explorando os

fatores relevantes nas interpretações interculturais do relator que não coincidem

necessariamente com a forma pela qual aquela sociedade descrita realmente é ou se vê.

Sendo assim, evidenciaremos um tipo de mal-entendido na leitura ou na construção

identitária do ‘outro’.

A caracterização diversificada das três amostras constituintes do corpus nos

ajudou a optar por trabalhar com um conceito mais abrangente para o mal-entendido

intercultural, privilegiando análises não somente das interações verbais, como das

interações não verbais e das apreciações contrastivas mencionadas.

Retomamos então a idéia principal de “divergências interpretativas” que norteia

o conceito de mal-entendido em nossas investigações.

4.1.1. Constituição da amostra CLD (Contexto livre e diversificado)

A amostra CLD é constituída por falantes brasileiros que colaboraram com

relatos de casos de mal-entendidos durante a interação face a face com interlocutores

franceses, ou ainda a situação inversa em que coletamos também relatos de casos de

franceses que expuseram mal-entendidos ocorridos em trocas interativas com

brasileiros.

Sendo assim, há uma equivalência entre o número de interagentes brasileiros e

franceses em todo o corpus, pois as amostras vão privilegiar o contato desses falantes.

Não esqueçamos, contudo, que os brasileiros estão em maior número na condição de

entrevistados, de relatores das interações.

A dificuldade da gravação em tempo real ocorreu não somente em contexto

profissional, como também nos casos de contextualização livre, já que seria difícil ou
impossível estabelecer situações e ficar quase que à espreita de possíveis ocorrências.

Essa limitação tem suas conseqüências atenuadas pela revisão do conceito de mal-

entendido como elemento inerente à linguagem, já que desta forma, qualquer situação

de troca discursiva é passível de nos fornecer exemplos produtivos.

Na amostra CLD os falantes brasileiros em sua maioria relatam experiências

vividas na França enquanto que os franceses entrevistados relatam interações ocorridas

no Brasil.

Uma parcela do grupo de falantes brasileiros é constituída por professores de

língua francesa e uma outra parte é diversificada, reunindo um grupo de pessoas que

viajaram à França por lazer, trabalho ou estudo. Os falantes possuem níveis de

competência lingüística variada, teremos desde aqueles que têm apenas noções do

idioma, que nos relataram com minúcias as interações alternadas pelo idioma e por

recorrência ao gestual, até aqueles que possuem um domínio bilíngüe. Para todos,

porém, a língua francesa representará sempre uma língua estrangeira, adquirida em

ambiente formal de ensino.

Os falantes franceses são minoria na amostra CLD, mas agregaram aos relatos

de mal-entendidos suas leituras contrastivas das duas culturas (brasileira e francesa) em

contato. As trocas interativas por eles relatadas são frutos de experiências vividas no

Brasil.

Utilizamos um questionário básico para o controle de identificação dos falantes

entrevistados, marcando algumas variantes que poderiam ser pertinentes na

interpretação dos dados. Chamamos de ficha de identificação do falante o que na

verdade serviu como um guia de controle apenas para o entrevistador. Vejamos as

variantes privilegiadas nessa ficha através do quadro ilustrativo a seguir:


QUADRO 4

FICHA DE IDENTIFICAÇÃO DO FALANTE DA AMOSTRA CLD


Nome: (facultativo)
Numeração da entrevista: (obrigatório)
Sexo F M
Nacionalidade Brasileira Francesa
Formação Fundamental ( )
Ensino médio ( )
Curso superior ( )
Pós-graduação ( )
Faixa etária: (20 a 25) (26 a 31)
(32 a 37) (38 a 43)
(44 a 49) (50 a 55)
(56 a 61) acima de 61( )
Competência lingüística: Básica ( )
Intermediária ( )
Avançada (até bilíngüe) ( )
LM( )

O quadro 4 controla cada falante da amostra CLD através de um número, que

será obrigatório, já que a identificação nominal do entrevistado é facultativa e pouco

relevante para as investigações. Na amostra CLD forma realizadas 23 entrevistas,

transcritas nos anexos do 2º volume deste trabalho. As demais variantes expostas no

quadro 4 otimizarão o controle dos resultados obtidos nessa amostra. São elas: o sexo, a

nacionalidade, a formação educacional, a faixa etária e a competência lingüística. É

importante frisarmos que a competência lingüística sobre o desempenho do idioma

francês está estrita e unicamente relacionada à modalidade oral da língua, tendo em

vista nosso objeto de estudo estar focado sobre a produção da oralidade através da

conversação. Externamos ainda que seria impreciso, em tão curto tempo, graduar com

exatidão a competência lingüística de cada falante brasileiro entrevistado. Mediante essa

inviabilidade, para facilitar a leitura dessa variante, condensamos os diferentes níveis de

competência oral dentro de apenas três grandes grupos: o básico para os que possuíam
domínios mínimos em francês para o estabelecimento da comunicação e os demais

foram enquadrados nos níveis intermediário ou avançado (este último incluindo até os

considerados bilíngües) segundo adequação apresentada pelos próprios falantes antes e

durante a entrevista. A sigla LM que aparece na variante competência lingüística

significa língua materna e está reservada aos falantes franceses entrevistados.

4.1.2. Constituição da amostra CPH (Contexto profissional hoteleiro)

A amostra CPH privilegia o contexto profissional hoteleiro recolhendo os relatos

de mal-entendidos gerados entre brasileiros e franceses dentro desse universo de

trabalho. Os falantes oscilam entre dois papéis apenas: ou assumirão o status de

funcionário do hotel ou de cliente e/ou de hóspede.

Quando optamos por nos dedicar às especificidades do contexto profissional-

hoteleiro, previmos algumas dificuldades para a realização da coleta de dados. A

gravação de exemplos de mal-entendidos em tempo real mostrou logo de início um

grande obstáculo, pois tocamos no universo muito delicado da invasão de privacidade

dos ‘clientes’, nossos falantes em potencial, envolvidos no contexto interativo

juntamente com os ‘prestadores de serviços’ do hotel. Sem autorização dos

estabelecimentos hoteleiros nosso estudo estaria fadado ao insucesso. Contornamos o

problema, sem abdicar da contextualização específica, realizando entrevistas de ‘relatos

de casos’ de mal-entendidos vividos ou presenciados pelos falantes.

Se perdemos, por um lado, a possibilidade de registrar a efemeridade da

realização dos atos em tempo real, ganhamos por não abdicar do contexto específico,

recolhendo relatos ‘autênticos’ de especificidade ainda pouco explorada. Através deste

procedimento metodológico atenuamos as barreiras impostas quanto à privacidade


direta dos hóspedes, persistindo alguma resistência quanto ao que chamamos de

privacidade indireta, por tratar-se de gravações que preservam o anonimato tanto dos

hóspedes quanto dos funcionários e dos estabelecimentos hoteleiros.

Há como discutir, nesses casos, o receio de exposição da imagem, individual e

institucional. Como já discutimos, nem todo mal-entendido acarreta comprometimento

às faces dos falantes envolvidos, mas não há como categorizar que toda ocorrência do

fenômeno esteja livre de ‘ameaças’. Por isso, acreditamos que, ao reagirem

negativamente às solicitações de relatos de casos de mal-entendidos os falantes as

interpretam como uma situação desestabilizadora, que ameaça suas próprias faces e a

imagem personificada da instituição que eles representam. Nossas suposições parecem

ser confirmadas pelas atitudes de alguns hotéis de se recusarem a colaborar com a

pesquisa, justificando como conduta interna não conceder entrevistas. 16

Quando conseguíamos abrir portas para a apresentação de nossa proposta de

estudo, as entrevistas eram autorizadas e transcorriam sem maiores problemas. Há, no

entanto, uma segunda ressalva a fazer: alguns funcionários, mesmo com autorização da

instância superior, mostraram-se pouco à vontade com o pedido de relato de um mal-

entendido. Alguns se limitaram a traçar o perfil do hóspede francês, não admitindo a

ocorrência de ‘mal-entendidos’ no ambiente de trabalho. Foram recorrentes as

assertivas: ‘-Teve alguma coisa, mas não me lembro’; ‘- Não, tive mal-entendido com

hóspedes no hotel’; e ainda ‘- Não me recordo de nenhum mal-entendido’. Por mais que

desvinculássemos o ‘mal-entendido’ de uma conotação de ‘falha’, ‘conduta incorreta’

ou ‘relapsa’, explicando o caráter intercultural que nos interessava, algumas hesitações

16
A primeira solicitação por e-mail a uma Rede francesa de hotéis, localizada no Estado do Rio de
Janeiro, com a especificação de nossos interesses acadêmicos e com o pedido de autorização para as
gravações não obteve resposta. Após novas tentativas frustradas, decidimos nos hospedar no hotel para
viabilizar as negociações e a realização das entrevistas, que foram concedidas sob condição de manter o
anonimato da empresa e dos funcionários.
persistiram. Percebemos, então, nesses casos, a atuação de uma estratégia de

preservação da face, pois negar-se a relatar um mal-entendido, por interpretá-lo como a

confissão de uma ‘falha’ é esquivar-se da realização de um FTA à sua própria face

positiva. Admitir uma conduta ou uma interpretação equivocada ocorrida sobretudo no

ambiente de trabalho envolve a exposição da face, por isso, muitos deixaram evidente,

através dos sinais lingüísticos, ou ainda extralingüísticos, ao morder os lábios, ao olhar

reticente ao justificar-se com pouca convicção, que não estavam dispostos a encarar os

riscos da exposição. Coube-nos então respeitá-los e explorar os exemplos daqueles que

aceitaram o convite e resolveram se aventurar.

Na condição de “entrevistado” e de relator do mal-entendido há um maior

número de falantes brasileiros em contexto profissional hoteleiro. Quanto ao grau de

competência em língua francesa dos entrevistados brasileiros, a situação da amostra em

contexto profissional hoteleiro é similar à da amostra em contexto livre e diversificado.

Na amostra CPH, os falantes brasileiros adquiriram o francês como língua estrangeira e

apresentaram diferentes níveis de competência lingüística. Todos os franceses sem

exceção adquiriram o idioma francês em contexto de língua materna. Em função da

contextualização profissional específica, estruturamos um quadro de controle dos

falantes com alguns questionamentos extras. Vejamos a seguir os quadros 5 e 6:


QUADRO 5

FICHA DE IDENTIFICAÇÃO DO FALANTE DA AMOSTRA CPH

Nome: (facultativo)
Numeração da entrevista: (obrigatório)

Sexo F M
Nacionalidade Brasileira Francesa
Formação Fundamental ( )
Ensino médio ( )
Curso superior ( )
Pós-graduação ( )
Faixa etária: (20 a 25) (26 a 31)
(32 a 37) (38 a 43)
(44 a 49) (50 a 55)
(56 a 61) acima de 61( )
Competência lingüística: Básica ( )
Intermediária ( )
Avançada (até bilíngüe) ( )
LM( )

QUADRO 6

PERFIL IDENTITÁRIO DO HÓSPEDE FRANCÊS


AMOSTRA CPH

CARGO NO HOTEL:

¾ Em comparação ao hóspede + Exigente ( ) - Exigente ( )


brasileiro, o hóspede francês
+ Formal ( ) - Formal ( )

é... + Objetivo nos pedidos ( )


- Objetivo nos pedidos ( )

Faz MUITAS solicitações ( )


Faz POUCAS solicitações ( )

Agradece MAIS pelos serviços solicitados ( )


Agradece MENOS pelos serviços solicitados( )
O quadro 5 foi utilizado tanto para os funcionários quanto para os clientes

entrevistados. O quadro 6 se restringe aos funcionários. Achamos importante controlar

o status profissional assumido pelo falante (no caso dos funcionários) na interação, pois,

por tratar-se de relatos ocorridos no ambiente de trabalho, situações assimétricas quanto

aos cargos exercidos podem se configurar em elementos potencializadores na ocorrência

de mal-entendidos durante as trocas discursivas e, por esta razão, contribuírem de forma

representativa na interpretação dos dados. Acrescentamos, também, no quadro 6 para a

amostra CPH alguns questionamentos quanto à imagem construída do hóspede francês

sob a ótica do funcionário brasileiro. Tal solicitação reflete uma tentativa de construção

de um perfil identitário de um falante sobre o outro na situação específica desse

contexto profissional. As demais variantes não tiveram alteração quanto à apresentação

e aos critérios classificatórios utilizados e anteriormente expostos na especificação da

amostra CLD no quadro 4.

4.1.3 - Constituição da amostra ACI (Apreciações contrastivas


interculturais)

Essa amostra reúne relatos de apreciações contrastivas de falantes brasileiros e

franceses, geradas através do contato de um indivíduo com uma outra cultura. As

interações aqui são de natureza diversa. Há casos de interações verbais e de trocas mais

ampliadas decorrentes do contato do indivíduo com as regras sócio-comportamentais

constituintes da outra cultura (francesa ou brasileira). Ela reúne apreciações de falantes

brasileiros relatando experiências vividas na França, que por representarem ‘eventos

sócio-culturais’ diferentes das do seu país, suscitaram interpretações ‘truncadas’,

‘equivocadas’ e tentando ajustar um melhor termo, tornamos a constatar a ocorrência de


um ‘mal-entendido’ de divergências situacionais ou comportamentais, mesmo que se

tenha processado e permanecido, a princípio, no nível da apreciação. Acreditamos,

porém que esse nível precede o da verbalização e por isso seja extremamente importante

no processo de construção da identidade do outro. Tal constatação torna-se mais

evidente quando percebemos que, durante o processo interativo, todo indivíduo faz uso

de seus esquemas de conhecimento, em que também se encontram inseridas suas

apreciações referentes ao outro e à cultura do outro.

Mesmo que em menor número, também temos a situação inversa, de relatos

feitos por franceses que expuseram suas apreciações equivocadas da cultura brasileira

pelas experiências contrastivas ocorridas no Brasil. Não criamos para essa amostra uma

ficha de identificação diferenciada dos falantes, pois, na verdade, um mesmo

entrevistado pode ter um ou vários relatos. Havendo mais de um exemplo relatado

teremos a seguinte situação: todos os exemplos enquadram-se em apenas uma das três

amostras (CLD, CPH ou ACI); ou ainda os vários exemplos de um determinado falante

podem ser distribuídos entre as três diferentes amostras, dependendo de suas

características.

4.1.4 - Apresentação dos dados qualitativos e quantitativos do corpus

O corpus reúne um total de 73 entrevistas realizadas, em que foram recolhidos

148 relatos de casos de mal-entendidos interculturais e apreciações contrastivas das

duas culturas. No quadro 7, a seguir, apresentamos a relação de entrevistas e relatos que

constituem as três amostras formadoras do corpus. O quadro destaca o número da

entrevista com sua quantidade de relatos recolhidos. Acompanhemos então o perfil

quantitativo e qualitativo das amostras no quadro seguinte:


QUADRO 7

ACI CLD CPH


Apreciações contrastivas Contexto livre e diversificado Contexto profissional
interculturais hoteleiro
nº de nº de nº de nº de nº de nº de
entrevistas relatos entrevistas relatos entrevistas relatos
1 10 1 3 1 1
2 2 2 3 2 2
3 1 3 1 3 2
4 1 4 2 4 3
5 1 5 1 5 1
6 4 6 3 6 1
7 4 7 3 7 1
8 3 8 2 8 1
9 3 9 1 9 2
10 2 10 1 10 4
11 1 11 5 11 1
12 1 12 1 12 1
13 2 13 1 13 1
14 7 14 4 14 2
15 2 15 3 15 1
16 1 16 1 16 2
17 1 17 1 17 2
18 1 18 1 18 2
19 1 19 13 19 1
20 1 20 3 20 1
21 2 21 1
22 1 22 1
23 1 23 1
24 1
25 1
26 1
27 1
28 1
29 1
30 1
Total de 49 57 42
Relatos
A amostra CLD ficou em maior quantidade, com 57 relatos; seguida de 49

números de relatos pertencentes a amostra ACI e finalmente 42 relatos constituintes da

amostra CPH que apresentou exemplos em menor número.

A busca por relatos de mal-entendidos nas trocas discursivas entre brasileiros e

franceses nos forneceu uma diversidade de exemplos nas três amostras: CLD, CPH e

ACI.

Desta forma, visitamos alguns hotéis para a realização das entrevistas da

amostra CPH e buscamos voluntários que se enquadrassem no perfil dos falantes

pesquisados para que nos concedessem os exemplos da amostra CLD. Os exemplos que

se enquadram na amostra ACI surgiram durante a realização das entrevistas,

diferentemente das amostras CLD e CPH que foram previamente estabelecidas. A

diversidade das apreciações dos relatos coletados na amostra ACI nos impôs a criação

de mais uma vertente a ser analisada e que conseqüentemente traria contribuições às

demais amostras já definidas.

Solicitamos a todos os falantes entrevistados que relatassem as circunstâncias

nas quais os fatos ocorreram e que descrevessem com a maior fidelidade possível as

trocas interativas que proporcionaram ‘o mal-entendido’, dando precisão de detalhes

lingüísticos, assim como dos paralingüísticos e extralingüísticos recuperáveis.

Sublinhamos a importância da atuação de minúcias para a leitura interpretativa dessas

ocorrências, reforçamos ainda a necessidade de conferir-lhes contextualização local e

temporal. Não estabelecemos um inquérito de perguntas, ou questionários de lacunas. O

procedimento metodológico foi extremamente objetivo e consistia na reconstrução mais

verossímil possível da ocorrência de um mal-entendido vivido ou presenciado. Em sua

quase absoluta totalidade os exemplos refletiram a primeira solicitação. Quando o


falante entendia a proposta solicitada e mostrava-se menos preocupado com o caráter

ameaçador de sua própria face, os exemplos promoviam relatos carregados de emoção e

interpretações mais consistentes e assim entendemos que as cenas eram recuperadas

com maior fidelidade.

Resumimos então uma seqüência de quatro passos tomados para a realização de

um roteiro metodológico que orientou a preparação, a gravação e a transcrição das

entrevistas concedidas para a formação de nosso corpus. Vejamos o quadro seguinte:

QUADRO 8

Quando possível disponibilizamos previamente ao dia da


entrevista a pergunta impulsionadora para os relatos de casos,
1º passo numa tentativa de propiciar mais conforto ao entrevistado para a
(Anterior ao dia da recuperação do maior número de detalhes constituintes da
entrevista) interação em questão.

Pergunta impulsionadora: _Você poderia descrever um mal-


entendido que você tenha vivenciado em interação face a face
com um (brasileiro/francês)? O mal-entendido pode ter sido
puramente lingüístico, um equívoco no emprego de
determinada palavra; ou comportamental, um gestual mal
interpretado; ou ainda uma atitude diferente provavelmente
proveniente de diferentes hábitos sócio-culturais etc...
2º passo Preencher os dados dos falantes para o cadastro da entrevista. Os
(Dia da entrevista) guias utilizados para a realização desse passo estão expostos nos
quadros 4 e 5 no capítulo de especificação das amostras CLD e
CPH.

Apresentar a especificidade da pesquisa e pontuar todos os fatos


importantes para uma maior fidelidade na reconstrução da
interação discursiva.

Apresentar ou reapresentar a pergunta impulsionadora ao


entrevistado.
3º passo Gravar as entrevistas com os relatos de casos.
(Dia da entrevista)
4º passo Transcrever os relatos gravados e reuni-los em um CD.
(Após a realização
das entrevistas)
Para a realização das transcrições das entrevistas utilizamos os sinais

ortográficos convencionais, tentando empregá-los com ‘fidelidade’ ao ritmo de fala do

entrevistado. Mantivemos os eventuais neologismos e alguns empregos gramaticais

inapropriados da língua francesa e brasileira para não alterarmos a identidade do

entrevistado, assinalando somente os casos que comprometem as análises. Usamos

ainda algumas convenções de sinais sugeridas por Marcuschi (2003) expostas abaixo,

acrescentando algumas adaptações próprias de acordo com as necessidades que

surgiram durante todo o período de transcrição dos relatos. Mediante a impossibilidade

de aplicar alguns recursos simbólicos sugeridos na bibliografia utilizada, recorremos ao

uso de cores para sanar nossas restrições. Eles respeitam, então, as indicações seguintes:

MAIÚSCULA: Aumento de volume no tom da voz.


Sublinhado: ênfase particular ou menção ao trecho nas análises.
Falas simultâneas. (uso da cor roxa nas falas simultâneas)
... : hesitação
( + ) pausa longa
( ): Dúvidas e suposições na transcrição
(( )) : Comentário do analista
{ } : Comentário do falante que está sendo entrevistado.
_ _ _ _ : Pronúncia da palavra através de silabação.
[...] : Para marcar transcrição parcial.
A reduplicação de letra ou sílaba é usada para marcar a repetição das
mesmas.

É importante lembrar que um mesmo falante pode nos fornecer mais de um

relato de ocorrência de mal-entendidos vivenciados, assim como pode ter participações

nas duas amostras. Por isso estabelecemos um controle individual para cada

entrevistado mencionando a letra R seguida de um número, por exemplo R022 trata-se


do entrevistado de número 22. Para o controle de relatos numa determinada amostra

procedemos da seguinte forma: um determinado falante marcado com a numeração de

entrevista 20 que tem cinco mal-entendidos relatados, receberá para o primeiro relato a

marcação de 1º, para o segundo teremos 2º e assim sucessivamente 3º, 4º e 5º. Em todas

as entrevistas, sempre no início da transcrição do primeiro relato de cada entrevistado

aparecerá o seguinte quadro elucidativo:

QUADRO 9

ENTREVISTA nº 20 ACI
R005
o
N total Nacionalidade Faixa etária Sexo Escolaridade Competência
de Lingüística
relatos

ENTREVISTA no 20 RELATO 1 ACI

O início dos demais relatos feitos durante uma mesma entrevista será sempre

marcado por uma tarja que controla a sua ordenação na segunda coluna.

ENTREVISTA no 20 RELATO 2 ACI

Ela tem a função de marcar a continuidade da entrevista com um mesmo falante,

realçando, porém uma nova ocorrência de mal-entendido relatado, dentro de uma

contextualização diferente.
Em cada novo relato do mesmo falante, a tarja marcará o número da entrevista,

o número do relato e uma sigla representando em que amostra ele foi classificado.

Apenas duas entrevistas foram passadas por escrito (entrev.2 e entrev.23 da CLD); , e

uma entrevista (entrev. 22 da CLD) foi retirada de um relato concedido à revista Boa

Viagem. Todas as entrevistas transcritas encontram-se reunidas nos anexos do segundo

volume deste trabalho.

4.2. Procedimentos analíticos e operacionais do corpus.

A análise de nosso corpus privilegia uma abordagem metodológica contrastiva

para a observação dos mal-entendidos ocorridos em interações de indivíduos

pertencentes a culturas diferentes: a brasileira e a francesa. Procuramos, por esta razão,

conceituar o mal-entendido de forma a corresponder às especificidades da abordagem

empregada.

Uma das definições mais abrangentes para o mal-entendido que abarca

confortavelmente os exemplos recolhidos em nosso corpus é dada por Hérédia (1986).

A autora apresenta o fenômeno como uma ilusão temporária ou permanente (nos casos

em que não é percebido) de compreensão entre os interlocutores. O falante atribui às

palavras, aos enunciados e ainda às situações interativas um sentido que lhe é próprio,

mas que divergente daquele empregado por seu interlocutor. Nas palavras da autora « o

mal-entendido se apresenta como uma codificação dupla de uma mesma realidade

efetuada por dois interlocutores diferentes.” 17

Alguns de nossos relatos não ilustram exatamente casos de mal-entendidos nos

moldes em que definimos aqui. Há exemplos que representam, na verdade, a ocorrência


17
“le malentendu se présente comme un double codage d´une même réalité par deux interlocuteurs
différents’’ (De Hérédia, p.50, 1986)
de gafes, ou simples enganos ou ainda problemas de impolidez. Sendo assim,

consideramos como fator preeminente nos procedimentos analíticos identificar qual

fenômeno está sendo manifestado nos exemplos postos em evidência. Será importante a

exploração de qualquer um desses fenômenos conversacionais quando houver co-

ocorrência com o mal-entendido, ou ainda nos casos em que eles promovam ou sejam

promovidos por divergências interpretativas.

Para dar andamento à análise, tão logo tenhamos separado os casos de mal-

entendidos buscaremos relacioná-los a uma tipologia, investigando em paralelo sua

fonte, causa, efeitos e tratamento recebido pelos falantes.

Em primeiro lugar, não devemos esquecer tratar-se aqui de uma pesquisa de

abordagem intercultural que investiga interações entre falantes brasileiros e franceses,

razão determinante para a denominação mais abrangente dada a todos os casos

estudados de ‘mal-entendidos interculturais’. Para definir quais subtipos podem ser

encontrados nessa classificação superior, utilizaremos a proposta de divisão tipológica

empregada por Bazanella e Damiano (1999), ilustrada através do seguinte esquema:

ESQUEMA 1

Mal-entendido Intercultural

fonético sintático lexical semântico pragmático

Em segundo lugar, procuramos investigar as fontes e causas do mal-entendido e

constatamos que às vezes elas recebem tratamento teórico diferenciado por alguns
pesquisadores. Alguns autores definem a fonte de um mal-entendido, separadamente, de

suas causas, dando à primeira a tradução dos objetos sobre os quais um mal-entendido

pode incidir (o texto conversacional, a estrutura da interação, a quantidade de

participantes ou ainda a própria interação e seus constituintes - participantes, lugar,

tempo e finalidade) e à segunda a definição dos fatores que favorecem sua aparição

(Traverso, 2003). Outros autores parecem ter unificado os conceitos de fonte e causa:

Kerbrat-Orecchioni (2006) denomina-os de mecanismos promotores de mal-entendidos

interculurais, Lüsebrink (2003) toma-os por disfunções comunicacionais geradoras do

fenômeno e Bazanella & Damiano (1990) aglutinam os dois conceitos, batizando-os de

‘gatilhos’.

Para as análises, optamos por separar os conceitos de fonte e de causa. A

‘situação de interculturalidade’ do corpus é atribuída como fonte única para todos os

casos de mal-entendidos encontrados. Buscaremos especificar dentro desta fonte quais

as causas promotoras mais significativas nas ocorrências de mal-entendidos. Para essa

investigação vamos reunir as propostas analíticas de Lüsebrink (2003) e de Kerbrat-

Orecchioni (1994, 2006), tendo em vista que esses autores priorizaram os casos de mal-

entendidos ‘interculturais’ em seus trabalhos. A junção dos modelos propostos por

Lüsebrink e Kerbrat-Orecchioni para análise das causas dos mal-entendidos privilegia

nosso interesse em observar a atuação de diferentes enquadramentos realizados pelos

falantes e de discrepâncias nos esquemas de conhecimento dos mesmos.

Em terceiro lugar, verificaremos se nas ocorrências de mal-entendidos há

indícios de ameaça às faces dos falantes e quais são seus efeitos sobre a interação. Para

essas averiguações nos serão valiosos o conceito de face goffmaniano e o modelo

revisado de Kerbrat-Orecchioni (1992) para a teoria da polidez de Brown & Levinson


(1978, 1987). Faremos uso desses mesmos teóricos para investigar de quais estratégias

de polidez valem-se os falantes no tratamento do mal-entendido. Consideraremos

também os mecanismos de auto-reparação ou heteroreparação como o tratamento

padrão dado ao fenômeno do mal-entendido, de acordo com os critérios utilizados por

Traverso (2003).

Com o intuito de melhor ilustrar a reunião das possíveis causas promotoras de

mal-entendidos interculturais, montamos o esquema seguinte:

ESQUEMA 2:

Causas do mal-entendido intercultural

O código Comuni- Variações Falhas Falhas Crenças


cação na na decodi-
verbal
não verbal codificação ficação

Diferenças No Julgamen- Univers.


na compe- Questões Sistema Decalques tos lingüístico
tência co- Proxê- Interacio- inapropri comporta
municativa nicas nal ados: mentais

Enqua prosó grosse


dres dicos ria,
O ato de Saudações Valores
linguagem
Esque retóri má-
ma co cos vonta
nheci de,

Diferenças prag- hostili


na compe- Na má- dade, Estereó-
tência lin- expressão ticos tipos
güística das
emoções obse-
Hiper- quiosi
Correção dade.
A
elocução Nas
Regras
de
Polidez

No
ethos
Apesar de Kerbrat-Orecchioni (1994, 2006) e Lüsebrink (2003) conferirem aos

estereótipos o status de conseqüência do mal-entendido, nós os incluímos no esquema

2, entre suas causas promotoras. Acreditamos que quando os falantes realizam seus

cálculos interpretativos baseados em julgamentos estereotipados, eles potencializem as

chances de ocorrência de um mal-entendido. Estereótipos atribuídos por uma dada

sociedade A a uma dada sociedade B, na maioria das vezes, não correspondem à visão

que essa determinada sociedade B tem de si mesma, e a assertiva se repete se o processo

inverso for proposto. Por isso, acreditamos que, enquanto o falante não reavaliar a visão

estereotipada que ele construiu do outro, tentando realmente enxergar que existem

diferenças inerentes às diferentes culturas, estabelecer-se-á um ciclo de repetição. Ou

seja, se a recidiva de mal-entendidos interculturais ajudou a fundamentar alguns

estereótipos negativos, como acreditam Kerbrat-Orecchioni (1994, 2006) e Lüsebrink

(2003), nós cremos que a interiorização desses estereótipos pelos falantes e sua

manifestação nas interações possam atuar como causas promotoras de novos mal-

entendidos. Pretendemos comprovar essa hipótese através da análise de alguns

exemplos do corpus.
III – ANÁLISES

1. ANÁLISE INTERACIONISTA DO MAL-ENTENDIDO INTERCULTURAL

Em todas as amostras as ocorrências de mal-entendidos foram classificadas

segundo a tipologia do fenômeno descrita por Bazanella e Damiano (1999).

Estabelecemos assim a divisão de cinco grandes feixes: os mal-entendidos classificados

como fonéticos, sintáticos, lexicais, semânticos e pragmáticos.

Procuraremos, em todos os grupos tipológicos, identificar quais foram as causas

promotoras do mal-entendido intercultural, atentando para aquelas que se mostrarem

mais recorrentes. Buscaremos ainda, verificar a atuação de fatores paralingüísticos e

extralingüísticos presentes em nossos relatos que tenham influenciado na realização do

cálculo interpretativo desses interactantes de culturas distintas.

Reforçamos que para uma melhor compreensão de todos os elementos

constituintes das cenas destacadas em nossas análises, a leitura da entrevista na íntegra é

em todos os casos aconselhável e em alguns exemplos imprescindível. Todos os relatos

de nosso corpus encontram-se transcritos nos anexos (vol.2) deste trabalho.


1.1. Análise da amostra CLD

O primeiro exemplo a ser explorado ocorreu em Paris e foi relatado por um

brasileiro que interagia com um padeiro. Ocorreu no momento da compra de um pão

artesanal. O falante ambientou a situação chamando a atenção para a forma gentil com

que seu interactante explicava a confecção e os ingredientes constituintes de cada pão

em exposição para ele e seu irmão que o acompanhava na viagem pela Europa. A

mudança na expressão mimo-gestual e no olhar do falante no momento da ocorrência do

mal-entendido é fortemente sinalizada pelo interactante entrevistado na reconstrução da

interação. O falante nos relata que o pão que ele escolheu era enorme e ele pretendia

colocá-lo em sua mochila para lanchar mais tarde durante uma viagem de trem. Seu

irmão pediu então ao padeiro que cortasse o pão para facilitar sua arrumação na

mochila. Analisemos o exemplo:

Entrevista nº 1 CLD, relato 3.

F1: padeiro francês.


F2: falante brasileiro (o irmão).
F3: falante brasileiro entrevistado.
E: entrevistadora
Reconstrução da cena 18:

18

1. F1: _ É isso, está perfeito. {{ aí ele pegou o pão}}


2. F2 : _ Não, não senhor, o senhor poderia partir o pão ?
3. {{ o velhinho ficou olhando pra ele assim}}
4. F1 : ( + )
5. F2 : _ Partir! {{fez o gesto de cortar o pão com a mão como serra}}
6. F1 : _ Ah ! CORTAR!
7. E e F3 : ((risos))
8. F1 :_Partir! {{ele fez um gesto com os dedinhos da mão indo
9. embora}}.
1. F1: _ C´est ça c´est parfait {{ aí ele pegou o pão}}
2. F2 : _ Non, non monsieur est-ce que vous pouvez partir le pain ?
3. {{ o velhinho ficou olhando pra ele assim}}
4. F1 : ( + )
5. F2 : _ Partir! {{fez o gesto de cortar o pão com a mão como serra}}
6. F1 : _ Ah ! COUPER!
7. E e F3 : ((risos))
8. F1 :_Partir! {{ele fez um gesto com os dedinhos da mão indo
9. embora}}.

O exemplo ilustra um mal-entendido lingüístico, que classificamos dentro da

tipologia lexical, já que é o uso do verbo ‘partir’ que parece promover o mal-entendido.

Trata-se de um falso cognato, pois partir em português pode ser empregado para

representar a ação de ir embora ou a ação de cortar, enquanto que em francês seu uso

está restrito ao ato de ir embora, de deixar um local, ausentar-se por um período mais

longo. O falante apresentou uma falha em sua competência lingüística, provavelmente

influenciado pelo uso do mesmo verbo em sua língua materna. A partir desta

constatação definem-se suas duas grandes causas promotoras: uma defasagem na

competência lingüística e a crença de uma universalidade lingüística, já que o falante

insiste na ‘ilusão’ de que o verbo possui significações idênticas no português e no

francês. Ao empregá-lo na língua francesa, querendo obter o mesmo sentido do

português, ele instaura o mal-entendido que é deflagrado e corrigido com um apoio

importante de fatores extralingüísticos. Os olhares de estranhamento do padeiro, assim

como uma pausa como resposta inicial não verbalizada funcionaram como uma

exigência de explicação para seus interlocutores. O falante F3 demonstra entender

perfeitamente essa requisição, fazendo o seguinte comentário durante a entrevista: “e aí


eu olhei pra ele ((para o irmão)) e falei assim: -Você falou alguma lenha né? Porque não

é possível, tava super simpático e de repente ele fez uma cara de mal-entendido.”

O F3 descreve-nos com grande ênfase sua percepção na mudança de expressão

de F1 no momento exato da ocorrência do mal-entendido no 2º turno com o emprego do

verbo partir por F2. A interpretação de fatores extraverbais foi decisiva tanto para

deflagrar a ocorrência do mal-entendido, quanto para neutralizá-lo. O gestual realizado

por F2, no 3º turno de fala, reforça a inconsciência do falante na produção do mal-

entendido, ao mesmo tempo em que esclarece para F1 a atribuição que F2 deu ao verbo

partir. A reação de F1 no 4º turno de fala marca o momento de sua tomada de

consciência do cálculo interpretativo que F2 teria realizado ao insistir na aplicação do

verbo partir. A reparação surge então no 5º turno com a explicação do significado de

partir em francês, com o auxílio do gestual. A cena foi enquadrada da mesma forma por

todos os falantes envolvidos na interação: trata-se de uma troca discursiva objetivando a

venda para um e compra para os outros. A pausa expressa na linha 4 representa a dúvida

de F1 ao realizar seu cálculo interpretativo quanto ao emprego do verbo partir utilizado

por F2. Se considerarmos que todos enquadraram a cena da mesma forma e levarmos

em conta uma maior abrangência do significado do verbo ‘partir’ na língua brasileira

em detrimento de sua significação mais restrita no idioma francês, podemos tentar

reconstruir a linha interpretativa realizada por F1 para essa interação. Ponderamos,

entretanto, que a representação das expectativas dos falantes acerca das trocas

interativas é feita por linhas pontilhadas para que fique caracterizada a impossibilidade

da previsão da interação como um processo fechado. Ilustramos, então, a seguir uma

linha de ‘ações possíveis’ para simbolizar o processo interativo que objetiva vender o

pão na perspectiva de F1:


QUADRO 10

_ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _

1º passo 2º passo 3º passo 4º passo 5º passo

_ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _

Receber o cliente. Informar sobre Informar ou Receber o Concluir a interação.


o produto. negociar o preço. pagamento. Despedir-se do
cliente.
_ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _

Considerando que nos esquemas de conhecimento de F1 o verbo partir evoca a

efetiva conclusão da interação com a partida do cliente, nós acreditamos que em sua

interpretação o interlocutor F2 teria pulado pelo menos dois passos (3º e 4º) da

seqüência interativa hipotética sugerida no quadro 10, indo diretamente para o efetivo

desfecho (5º passo) da encenação. Qualquer verbalização que sugerisse ir embora com o

produto antes da efetivação completa da ação de compra, justificaria o grande

desconforto, interpretado, aqui, como uma potencial ameaça à face negativa desse

vendedor. Quando o F2 utilizou o verbo partir, ele não tinha consciência alguma de

que acabara de promover um mal-entendido e obviamente ele não pôde suspeitar ou

compreender de imediato qual a interpretação dada ao mesmo verbo por seu interlocutor

F1. No entanto F2 percebeu sem dificuldades que seu cálculo interpretativo diferia

daquele desenvolvido por seu interlocutor e que esta discrepância de interpretações

tinha ficado explícita para ambas as partes. Neste exemplo analisado, após a reparação

feita ao mal-entendido, não houve maiores conseqüências à conversação que foi

concluída com êxito.

Há casos em que o mal-entendido não chega a tornar-se tão evidente para todas

as partes envolvidas, principalmente quando o tempo entre sua realização e sua tomada

de consciência é ínfimo e em princípio percebido apenas por um único falante, o qual dá


início geralmente a um processo de reparação. Ainda no campo lingüístico, o 11º relato

da entrevista de nº 19 CLD exemplifica um mal-entendido lexical e semântico. A

falante brasileira relata um fato ocorrido em uma loja da Galeria Lafayette em Paris. A

cena se passou quando ela se dirigia a uma vendedora para pedir uma ficha que lhe daria

direito a um desconto de taxas. Vejamos o exemplo:

Entrevista nº 19 CLD, relato 11.


F1: falante brasileira.
F2: falante francesa (vendedora).
Reconstrução da cena 19:
1. F1: _ Bonjour.
2. F2 : _ Bonjour Madame.
3. F1: _ C´est ici qu´on prend la fiche pour avoir la détaxe ?
4. F2 : _ Absolument. (avec un geste affirmatif et léger de tête)
5. F1 : _ (+) Je peux prendre la fiche avec vous?
6. F2 : _ Oui Madame, parfaitement.
7. F1 : _ Ah oui?!, merci. (j´ai pris le papier et je me suis assise
8. pour le remplir)

Em português o advérbio ‘absolutamente’ tem uma carga negativa muito forte.

Expressões como ‘em absoluto’, ‘absolutamente não’ ajudaram a reforçar essa

conotação negativa. No caso desse exemplo específico responder ‘absolutamente’ para

uma pergunta direta fez com que F1 desenvolvesse uma interpretação de negação. A

falante brasileira relata o desconforto da interpretação equivocada, deixando evidentes

19

1. F1: _ Bom dia.


2. F2 : _ Bom dia Senhora.
3. F1: _É aqui que a gente pega a ficha para ter desconto de taxas?
4. F2 : _ Certamente. (com um leve gesto de cabeça afirmativo)
5. F1 : _ (+) Eu posso pegar a ficha com a senhora?
6. F2 : _ Sim senhora, perfeitamente.
7. F1 : _ Ah sim?!, obrigada. (eu peguei o papel e eu me sentei
8. para preenchê-lo)
suas reticências para o ‘absolument’ emitido pela falante francesa: “_Eu me lembro bem

que minha primeira interpretação do absolument foi como uma negativa. Mesmo muito

pouco à vontade eu peguei o papel pra preencher porque o gesto afirmativo que ela fez

com a cabeça me dava licença para que eu interpretasse o absolument corretamente,

como uma afirmativa. Aí eu percebi que havia um mal-entendido na minha

interpretação, não tenho como afirmar categoricamente se ela percebeu tudo, mas com

certeza ela sentiu minha insegurança no ar.”

Percebemos nesse exemplo que o mal-entendido foi mais fortemente vivenciado

por uma das partes. Ao mesmo tempo, notamos também que a reorganização da

pergunta por F1: ‘Je peux prendre la fiche avec vous?’ no 5º turno de fala, assim como

uma leve pausa antes de pronunciá-la, pode ter chamado a atenção de F2 para a

insegurança de F1 quanto sua interpretação duvidosa de absolument. A interlocutora F2

pode ter percebido um problema na comunicação, ou ter interpretado a questão apenas

como uma dúvida restrita ao fato de F1 estar se dirigindo ou não à interlocutora correta.

Nesse caso o gestual foi fundamental para a elucidação da mensagem durante a troca

discursiva, ou seja, sua reparação para F1. Não houve divergência quanto ao

enquadramento da cena, para ambas as partes ela representava um ato de fala de uma

pergunta, onde caberiam basicamente uma afirmativa ou uma negativa como resposta.

Uma possível imprecisão na competência lingüística de F1 aponta para uma das causas

promotoras deste mal-entendido. Outro fator a se considerar é a atribuição negativa de

F1 para absolument devido a um cálculo interpretativo ancorado em esquemas de

conhecimento de sua língua materna. F1 interpreta absolument com a mesma conotação

negativa atribuída ao vocábulo ‘absolutamente’. Não vimos, neste exemplo, nenhuma

ameaça explícita às faces diretamente relacionada ao mal-entendido.


No artigo ‘Malentendus, quiétude et inquiétude interprétatives dans la

conversation familière’ Traverso (2003) chama a atenção para a existência de uma

relação entre o tempo de realização de um mal-entendido e sua reparação com a

dimensão dos efeitos causados por este mal-entendido na interação. Ou seja, a autora

acredita que “quanto mais tempo tiver passado entre o turno que contém o elemento

promotor do mal-entendido e a abertura de uma reparação maior será o risco da tarefa

tornar-se árdua” 20. O exemplo seguinte, retirado da entrevista de nº 12 CLD retrata

exatamente esse árduo trabalho exercido pelo falante para a reparação de um mal-

entendido que teve a percepção mais tardia de sua ocorrência. Trata-se de um rapaz que

morou na França em uma República de jovens estudantes. É importante relatar que

nessa República todos os moradores dividiam a execução das tarefas domésticas e que

fazia parte das regras do local a responsabilidade individual de lavar a louça que

sujasse. A cena se passa no momento em que o falante brasileiro estava na cozinha com

uma panela que havia sujado e fazia parte do cenário uma pia cheia de pratos e panelas

sujas, quando entra a falante francesa a procura de uma panela para fazer pipoca e inicia

a conversação. Vejamos:

Entrevista nº 12 CDL, relato 1.


F1: falante francesa.
F2: falante brasileiro.
Reconstrução da cena. 21
1. F1: _Est-que vous allez laver la casserole?
2. {{ procurei a caçarola e a vi, sim, suja, mas não por minhas mãos.}}

20
“Plus le temps aura passé entre le tour contenant l’élément source et l’ouverture d´une réparation, plus
la tâche risque d’être ardue’’. (TRAVERSO, 2003, p. 100)
21

1. F1: Você vai lavar a panela?


2. F2: Não, eu não vou lavar. Não fui eu quem sujou. [...]
12. F2: Perdoe-me eu não sabia o significado da palavra casserole. Porque no meu país ...
3. F2: _Non, je ne vais pas laver la casserole. Ce n´était pas moi
4. qui l´a utilisée.{{ ela tinha me visto terminar de sujar a
5. panela (não a caçarola) e ficou me olhando com um ar de
6. quem diz: "Mas é mesmo um sem vergonha, suja e não quer
7. limpar!..."}}
8. F1: {{Tomou a panela de minhas mãos e começou a lavá-la}}
9. F2: {{ Voltei à cozinha, alguns minutos mais tarde,
10. para tomar chá. Lá estava ela, intervalo do jogo. Apressei-me a
11. explicar à nhá francesa}}
12. F2: Pardonnez-moi, je ne savais pas la signification du mot
13. 'casserole', parce que chez-moi...
14. F1: {{Ela sorriu um riso de compreensão, de perdão e de piedade por meu pobre
francês}}

O falante F2 que é o relator da entrevista faz questão de assinalar sua

interpretação diferente dada para o objeto casserole do francês, já que o mesmo

restringiu a tradução do termo em francês ao que ele concebia como caçarola em

português. Se compararmos as entradas para os vocábulos caçarola e casserole

respectivamente no dicionário Ferreira (2004) e no dicionário acadêmico do site

http://dictionnaire.tv5.org/ nós veremos que as descrições são bem similares. Vejamos:

Caçarola: (do fr. Casserole) S. f. Panela de metal com bordas altas, cabo e tampa.
Casserole: (nom féminin) Récipient de cuisine à hauts bords et muni d'une queue, destiné à faire
22
chauffer la nourriture.

Se fizermos, no entanto, uma sondagem entre brasileiros e franceses sobre o que

eles concebem no dia a dia como uma caçarola(casserole), nós veremos que as imagens

construídas para esses objetos não se restringem às descrições de suas entradas nos

dicionários. As construções dos esquemas de conhecimento para esses objetos parecem

22
Recipiente de cozinha com bordas altas e munido de um cabo, destinado a cozinhar alimentos.
ter assumido uma flexibilidade maior de formatos através de seu uso contextualizado.

Por exemplo em ambas as culturas em questão as panelas com alças também são

concebidas como casserole, no entanto percebemos que são os falantes, através do uso

contextualizado do objeto que acabam privilegiando a imagem consagrada na

construção do esquema de conhecimento.

Numa requisição de imagem para os objetos caçarola e casserole, no site de

busca brasileiro www.google.com.br e em seu correspondente francês www.google.fr,

obtivemos as seguintes ilustrações como aparições mais predominantes para os objetos

no Brasil e na França:

QUADRO 11:

1ª Imagem mais consagrada pelo uso e privilegiada na construção do


esquema de conhecimento desse objeto nas respectivas culturas.
NO BRASIL NA FRANÇA

A imagem de casserole para os franceses é mais fiel à descrição de sua entrada

no dicionário do que a imagem que os brasileiros sedimentaram para caçarola. No Brasil

geralmente denominamos de panela o que para os franceses representa uma casserole.

O falante explicita sua concepção de casserole ao tecer o seguinte comentário:

“Procurei a caçarola e a vi, sim, suja, mas não por minhas mãos. Eu só conhecia poucas

palavras de cozinha em francês (...) e abrangência de casserole não era uma delas.

Casserole no meu vocabulário era caçarola e nada mais.” O comentário do entrevistado

iniciado na linha 5 denuncia que F2 percebeu algo de errado através do olhar


recriminador de F1, que culminou com o gesto de tirar-lhe a panela das mãos, relatado

na linha 8. O mal-entendido foi gerado pelo vocábulo casserole, sendo então

essencialmente lexical. Porém a construção de diferentes imagens para a mesma palavra

acentua a atuação da discrepância dos esquemas de conhecimento dos falantes em

contato para a promoção do mal-entendido, o que leva-nos a reavaliar a tipologia deste

mal-entendido, classificando-o como semântico. Houve também neste exemplo a

atuação da crença de uma universalidade lingüística, já que F2 ignorou que pudessem

existir diferenças nas acepções para o mesmo vocábulo.

Até o falante perceber que o que ele concebia como casserole não coincidia com

o esquema de conhecimento reservado para o mesmo objeto na concepção de sua

interactante, ele vivenciou a árdua tarefa de auto-reparação tardia do mal-entendido.

Comenta F2 durante a entrevista: “Fui-me embora, certo de minha justiça. Só minutos

depois, dei-me conta de minha besteira, já desconfiado da cena insólita e tendo

consultado o dicionário e, literalmente, morri de vergonha. Logo eu, que tento sempre

ser justo e, no mais das vezes, limpo!”

A ocorrência deste caso de mal-entendido mostra que F1 teve sua face negativa

ameaçada pela negação de F2 no segundo turno de fala. F1 viu-se obrigada a realizar

uma tarefa que não lhe competia.

Outros exemplos em que os falantes realizaram traduções literais de um termo

francês para o português que ocasionaram um qüiproquó e um mal-entendido são

ilustrados, respectivamente, na entrevista 7 através do 1º relato e na entrevista 19

através do 12º relato. No primeiro exemplo temos um grupo de brasileiros que estavam

em Besançon e procuravam um vinho suave e doce para comemorarem juntos. Foram

ao supermercado e levaram para casa o vinho que lhes pareceu conveniente. Ao abrirem
e beberem o vinho, todos acharam o gosto horrível e nesse momento chega um amigo

francês e junta-se ao grupo sinalizando o engano. No segundo exemplo, acompanhamos

o relato de uma brasileira e uma francesa que conversavam durante uma dinâmica de

apresentação de um curso de teatro realizado em Avignon na França. Analisemos as

cenas:

Entrevista nº 7 CLD , relato 1.


F1: falante francês.
F2: falante brasileira.
F3: falante brasileira.

Reconstrução da cena. 23
1. F1: _Mais qu´est-ce que c´est ça ? Qu´est-ce que vous buvez ?
2. mais ça c´est du vin de table !
3. F2 : _Mais c´est... c´est le vin On veut boire un vin doux sucré
4. c´est pour ça mais c´est terrible on ne sait pas pourquoi.
5. F3: C´est, c´est ce n´est pas bon.
6. F1: Bien sûr. Vous buvez un vin de table. Le vin de table c´est
7. pour faire la cuisine ce n´est pas pour boire.
8. F2: Mais Au Brésil les vins de table c´est pour boire.
9. F1: Mais c´est pas possible et...Mais je ne crois pas vous buvez
10. du vin de table ! Ça c´est pour faire la cuisine.
11. C´est pas possible.

23

1. F1: _Mas o que é isso? O que vocês estão bebendo ?


2. mas isso é vinho pra cozinhar !
3. F2 : _Mas é ... é o vinho. A gente quer beber um vinho suave e doce
4. é por isso que ... mas tá horrível A gente não entende porque.
5. F3 : É, não está bom.
6. F1: Claro. Vocês estão bebendo vinho para cozinhar. O vin de table é
7. para cozinhar não é para beber.
8. F2: Mas no Brasil os vinhos de mesa são para beber.
9. F1: Mas não é possível.. Mas eu não acredito vocês estão bebendo vinho para cozinhar.
10. Isso é pra cozinhar.
11. Não é verdade.
Entrevista nº 19 CLD, relato 12.
F1: falante brasileira.
F2: falante francesa.

Reconstrução da cena. 24
1. F1: _ Tu as dit que tu habites à Lyon ?
2. F2 : _ Oui c´est ça. Et toi tu viens d´où ?
3. F1 : _ Je suis du Brésil.
4. F2 : _Brésilienne ? Superbe. _Combien d´heures de vol ?
5. F1 : _ Dix, onze heures à peu près.
6. F2 :_ Qu´est-ce que tu attends de ce cours de théâtre ?
7. F1 : _ J´aime le théâtre, mais tout ça c´est très nouveau, Je
8. suis un peu anxieuse pour commencer.(visage content)
9. F2 : _ Anxieuse ?... Non, non. tu veux pas dire anxieuse.
10. F1 : _Oui, tu sais il y a beaucoup d´expectatives sur ce cours.
11. F2 : _ Oui je comprends mais je pense que tu veux dire que
12. tu as hâte de commencer. L´anxiété est très forte, très négative.
Tu dois dire que tu as hâte de commencer le cours.

24

1. F1: _ Você falou que mora em Lyon ?


2. F2 : _ Sim. E você vem de onde ?
3. F1 : _ Eu sou do Brasil.
4. F2 : _Brasileira ? Legal. _Quantas horas de vôo?
5. F1 : _ Dez, onze horas mais ou menos.
6. F2 :_ O que é que você espera desse curso de teatro ?
7. F1 : _ Eu adoro o teatro, mas tudo isso é muito novo. Eu
8. estou um pouco ansiosa para começar (expressão contente)
9. F2 : _ Ansiosa ? Não, não. Você não quer dizer ansiosa.
10. F1 : _Sim, você sabe há muitas expectativas sobre esse curso.
11. F2 : _ Sim eu entendo, mas eu acho que você quer dizer que
12. não vê a hora para começar. A ansiedade é muito forte, muito
13. negativa. Você deve dizer que não vê a hora de começar o curso.
Nos dois exemplos anteriormente explorados, a tradução literal dos termos em

francês em questão ‘vin de table’ e ‘anxieuse’ para a língua portuguesa conduziu o

falante a um falso trajeto, estimulando a realização de um cálculo interpretativo errôneo

que ocasionou o qüiproquó no primeiro exemplo e instaurou um mal-entendido

semântico no segundo. O fator principal para distinção dos dois fenômenos é que no

primeiro exemplo não houve a concretização do tempo de ‘ilusão de compreensão’,

segundo a definição de Hérédia (1986) para a ocorrência de um mal-entendido. Na 7ª

entrevista, F1 sinaliza imediatamente o qüiproquó de que um elemento foi tomado por

outro: vin de table por vinho suave, como no Brasil. Já na entrevista 19, vimos que a

expressão facial de satisfação e de expectativa positiva de F1, no 7º turno de fala, não

condizia com a conotação da palavra anxieuse para os franceses. Neste último caso, o

tempo de ilusão de compreensão foi curto, mas existiu: F2 realiza um cálculo

interpretativo (8º turno de fala) que não corresponde a expressão mimo-gestual de F1 ao

pronunciar anxieuse e por isso ele dá iniciou, nesse mesmo turno, ao processo de

reparação, e por sua vez, F1 ainda tenta replicar, no 9º turno, mostrando-se submersa em

sua ‘ilusão de compreensão’. Acreditamos que tanto uma falha na competência

comunicativa quanto a crença na universalidade lingüística dos termos em questão

tenham promovido esses fenômenos conversacionais. Não pareceu ter havido neste caso

de mal-entendido um comprometimento das faces dos falantes. Chamamos a atenção

para o fato de que a reparação e explicação do mal-entendido favoreceu o conhecimento

mútuo na relação intercultural.

Observemos agora três exemplos da amostra CLD, que classificaríamos, em

princípio, como ‘mal-entendidos’ semânticos, extraídos do 1º relato da entrevista 6, do

1º relato da entrevista 19 e do 2º relato da entrevista 21. Vejamos:


Entrevista nº 6 CLD, relato 1.
F1: falante brasileira.
F2: falante francesa.

Reconstrução da cena 25

1. F1: _ Je te désire un bon voyage.


2. {{F2 ficou com cara de assustado sem falar nada}}
3. F1: _ Bon donc, je te désire un bon voyage.
4. F2: _Non non attend, ah.. Je te souhaite un bon voyage parce que désirer
5. implique une conotation sexuelle.
6. F1: _ bon, d´accord parce qu´en portugais c´est pas comme ça, on peut désirer un
7. bon voyage.

Entrevista nº 19 CLD, relato 1.


F1, F3, F4: falantes francesas.
F2: falante brasileira.

Reconstrução da cena 26
1. F1 :_Qui veut acheter des billets pour Richard III ? (fala brincando para as
2. pessoas da fila).
3. F2 :_J’ai une idée superbe, au lieu de vendre les billets, on peut faire la pièce
4. nous même. _On va faire la pièce de la queue !
5. F1, F3, F4: _ Nonnn!(elas gritam e riem)
25
1.F1:_Eu te desejo uma boa viagem.
3.F1: _Bom então, eu te desejo uma boa viagem.
4.F2:_Não, espera ah... Tenha uma boa viagem(usa o souhaiter) porque desejar em francês tem
uma conotação sexual.
6.F1:_Bom tudo bem, porque em português não é assim, a gente pode desejar uma boa viagem.
26
1.F1:_Quem quer comprar as entradas para RicardoIII?
3.F2:_Tive uma ótima idéia, ao invés de vender as entradas, nós podemos fazer a peça nós
mesmas._Vamos fazer a peça da fila! (conotação de pênis).
5.F1, F3, F4: _Nãaaao!
6.F2: Sim, a gente vai fazer a peça da fila!
7.F1: Não, Joana!
8.F3: Isso pode ter uma outra interpretação.
9.F2: O rabo do animal?
10.F3: _Não, o do homem.
12.F2: _Ah não, eu não sou culpada se vocês franceses mudam o lugar das coisas, o rabo fica atrás, não
na frente.
6. F2: _Oui on va faire la pièce de la queue!
7. F1 : _Non, Joana!
8. F3 : _Ça peut donner une autre interpretation..
9. F2 : _La queue de l´animal?
10. F3 : _Non, de l´homme. (Ela fez um gesto apontando para a posição do
11. órgão sexual masculino)
12. F2 : _Ah non ! Mais je ne suis pas coupable si vous les français modifient le
13. placement des choses, la queue c´est derrière, pas avant. (risos)

Entrevista nº 21 CLD, relato 2.


F1: falante francesa.(esposa)
F2: falante brasileira.(amiga)

Reconstrução da cena 27
1. F1 : _Et alors, Jean a été un bon guide ? Tu as aimé la promenade ?
2.F2 : _ Ah adorei !! _Jean m´a donné beaucoup de plaisir!! {{Jean ri muito}}
3.F1 : _Como?!!! Eu saio de casa e você vai dormir com meu marido? Assim
4. não dá!! {{tom de brincadeira}}
5.F2: {{Corei de vergonha}}

Os três exemplos acima expostos parecem ter tido uma causa comum que é a

defasagem na competência comunicativa dos falantes brasileiros, que influencia nas

interpretações dos enunciados. No 1º relato da entrevista 6, F1 desconhecia a conotação

sexual que o emprego do verbo désirer poderia ganhar. Na entrevista 19 o 1º relato

denuncia que F1 também ignorava o emprego do vocábulo queue para o órgão sexual

masculino e o 2º relato da entrevista 21 demonstra que o falante brasileiro emprega

donner plaisir no lugar de faire plaisir. Os três casos sofreram heteroreparação com a

explicação do ‘mal-entendido ou engano’ pelos interlocutores. Vejamos agora o porquê

de nossa ponderação em classificar os três exemplos como mal-entendidos. Ao


27
1.F1: _E então Jean foi um bom guia? _Você gostou do passeio?
2.F2:_Ah adorei! Jean me deu muito prazer!
problematizar o tempo mínimo de ‘ilusão de compreensão’ que deve existir para que

possamos admitir a ocorrência de um mal-entendido na interação, vemos que houve

uma gradação no processo de ‘percepção e reparação’ entre os interlocutores do

fenômeno manifestado.

No 1º relato da entrevista 6, em um primeiro momento que chamaremos de

t1(tempo 1), F2 compreende o enunciado de F1 como desconexo. Em um segundo

momento que denominaremos de t2 (tempo 2), F2 reavalia seu cálculo interpretativo,

procurando entender porque F1 utilizou o verbo ‘désirer’ e mostrando-se, finalmente,

capaz de ter compreendido a lógica de raciocínio empregada por F1. Por isso, atestamos

a existência de um tempo mínimo de ‘ilusão de compreensão’ - representado por (t1) –

para que pudéssemos interpretar a exemplo como um mal-entendido.

No relato 1 da 19º entrevista, o que chamamos de t1 pareceu extremamente mais

curto do que no primeiro exemplo. Pois não houve demonstração, pelo menos através

do relato, de que F1, F3 e F4 tenham reagido ou expressado através do gestual algum

estranhamento ao enunciado de F2. A participação de mais de um interlocutor dificulta

a precisão de todas as reações. É impossível sermos categóricos quanto à avaliação da

reação de F1, F3 e F4 no terceiro turno: nada impede que, em meio à negação e ao riso

dessas interlocutoras, alguma delas tenha pensado que F2 usou a palavra queue sabendo

de sua possível referência ao órgão sexual masculino. Se esse foi o caso, então houve

um tempo de ilusão de compreensão, mesmo que breve. Se ao contrário, todas pensaram

unicamente tratar-se do emprego equivocado de queue, então o exemplo estaria mais

próximo da falta de percepção de F2 para a ambigüidade que o termo em questão

propicia. Optamos pela primeira hipótese, visto que o grau de informalidade entre as

amigas e o mesmo enquadramento das cenas pelos interactantes: “brincadeira numa fila
de espera para o teatro” dão margem à F1, F3 e F4 pensarem que F2 empregou queue

ciente da abrangência do seu campo semântico. Esses fatores são provas contextuais que

nos autorizam a considerar o exemplo como um mal-entendido, já que há fortes indícios

da ocorrência de um tempo de ilusão de compreensão.

No 2º relato da 21ª entrevista, ao contrário dos dois primeiros exemplos, a

reparação de F1 no terceiro turno, ironizando o enunciado de F2 no segundo turno,

deixa evidente a inexistência para ele de um t1 partilhado, ou seja, de um tempo de

ilusão de compreensão para os dois falantes envolvidos. F1 mostra-se ciente de que F2

usou a expressão donner plaisir inadequadamente, porque desconhecia sua significação

na língua francesa. Sendo assim, este último caso não ilustra um mal-entendido, pois

não houve a concretização de um tempo mínimo de ilusão mútua de compreensão. O

que parece ter ocorrido neste caso foi uma gafe cometida por F2, que externa no 4º

turno o comprometimento de sua face e o seu envolvimento emocional após sua tomada

de consciência do que realmente havia dito em língua francesa.

Até mesmo os exemplos dos 1ºs relatos da 6ª e da 19ª entrevistas, analisados

como casos de mal-entendidos, parecem margear a co-ocorrência com a gafe. Os

falantes comentam o grau de comprometimento com as faces envolvidas na interação.

Vejamos o seguinte comentário do 1º relato da entrevista 6: “ele ficou assustado,

assustadíssimo pra falar a verdade e ele explicou a ela que o désirer implicava uma

conotation sexuelle”. O fato de F1 ter empregado désirer no lugar de souhaiter obriga

F2 a dar explicações que ele não estaria necessariamente disposto a fazer, mas se viu

obrigado. A perplexidade de F2 ao ouvir o enunciado de F1, no primeiro turno, pode

estar demonstrando que sua face negativa foi ameaçada.


No 1º relato da 19ª entrevista, F2 externa seu desconforto ao se dar conta de que

pode ter sido mal-interpretada e ainda de que cometeu uma gafe: “numa tentativa de

esconder o vexame, eu lembro que falei alguma coisa parecida com...” F2 ironiza a

cena, no 9º turno de fala, numa tentativa de reestruturar sua imagem ameaçada pelo

mal-entendido.

Ainda na amostra CLD, partiremos para análise do 1º relato da 14ª entrevista

que ilustra uma cena ocorrida dentro de um trem bastante cheio, no fim de tarde, no

horário de saída de escola. A falante brasileira encontra-se sentada e havia um lugar

vago na janela ao seu lado, quando uma francesa aproxima-se e dá inicio a interação.

Entrevista nº 14 CLD, relato 1.


F1: falante francesa.
F2: falante brasileira.
Reconstrução da cena 28
1.F1:_Ça vous dérange Madame?
2.F2: (fica olhando perplexa sem entender)
3.F1: _Je vous dérange Madame?
4.F2 : (F2 dá passagem para F1 sentar-se à janela)

Temos, aqui, mais um exemplo de mal-entendido semântico, particularmente,

interessante por ilustrar trocas interativas com dois pares adjacentes formados por

componente verbal e não verbal. O exemplo parece reunir duas importantes causas para

sua promoção. A primeira revela variações na regra de polidez entre as duas culturas em

contato e a segunda está centrada na interpretação do ato de linguagem. F1 realiza um

pedido, através de um ato de fala indireto ao solicitar a passagem para ocupar o lugar

vago ao lado de F2. Ao pronunciar _Ça vous dérange Madame? ou _Je vous dérange

28
1.F1:_ Incomodo Senhora? (forma polida de pedir: _Poderia passar por gentileza, Senhora?)
3.F1: _Estou incomodando Senhora?
Madame? F1 pedia passagem de forma polida e F2 teve dificuldade para entender o ato

de linguagem como um pedido, levando algum tempo em seu cálculo interpretativo para

atribuir sentido ao que compreendia como uma pergunta. Essa reflexão marca a

existência de um tempo de ilusão de compreensão até a tomada de consciência de F2.

Alguns trechos da entrevista concedida por F2 ratificam nossa análise: “Aí eu fiquei

assim tão estatelada [...] ela falou dessa forma tão educada que eu não esperei. [...] Eu

acho que deve ter um momento do cérebro que você dá conta daquilo, né. [...] mas o

meu cérebro deve ter tido o momento de entender que ela não ia me tirar do lugar. Que

ela não queria me empurrar pra janela. Mas o je vous dérange Madame é é eu vou te

desarrumar eu vou te te incomodar.” O contexto tanto contribuiu para a ocorrência do

mal-entendido quanto para sua elucidação. Por isso Hérédia (1986, p.50) afirma que o

mal-entendido contém, por vezes, em sua origem os elementos para sua resolução.

Outro fato a se destacar é que se F2 interpreta o pedido de passagem como uma

pergunta ou uma solicitação para deslocar-se no banco, consequentemente sua

interpretação passa a representar uma ameaça a sua face negativa. Com a percepção e

auto-reparação do mal-entendido por F2 não houve maiores comprometimentos com as

faces.

Prosseguimos com a análise de três mal-entendidos fonéticos. Trata-se do 2º e

do 3º relatos da entrevista 8 e do 1º relato da entrevista 22. O primeiro caso ambienta

uma cena ocorrida no mercado durante a compra de batatas.

Entrevista nº 8 , relato 2.
F1: falante brasileira. (compradora)
F2: falante francês (vendedor da feira).
Reconstrução da cena 29:
1.F1: - Je veux des kilos de pommes de terres.
2.F2 : - Combien ?
3.F1 : _Je veux des kilos de pommes de terres.
4.F2 : _Combien ?
A segunda cena é presenciada por uma colega de viagem, no momento da compra

de um bilhete de trem no guichê de uma estação em Marseille.

Entrevista nº 8 , relato 3.
F1: falante brasileira.
F2: falante francês (vendedor).
F3: falante brasileira. (a entrevistada)
Reconstrução da cena 30
1. F1 : _Je veux savoir les [OrEy] du train ?
2. F2: _Oreilles ? (aí ele apontou pra orelha né)
3. F1 : _Non, les [OrEy].
4. F2 : _ Non, oreilles c´est ça. (apontou pra orelha)
5. F3 : _ NON ! les horaires.
6. F1: _ Ahhhh c´est bon.

O terceiro exemplo relata a compra de um tecido de renda numa loja em Paris, em

que a falante brasileira tenta negociar para abaixar o preço do metro.

29

1. F1: _ Eu quero quilos de batatas.


2. F2 : _ Quantos quilos ?
3. F1 : _ Eu quero quilos de batatas.
4. F2 : _ Quantos quilos ?
30

1. F1 : _Eu posso saber as [OrEy] do trem ?


2. F2: _Orelhas !? (aí ele apontou pra orelha né)
3. F1 : _Não, as [OrEy].
4. F2 : _ Não orelhas são isto.. (apontou pra orelha)
5. F3 : _ NÃO ! os horários.
6. F1: _ Ahhhh está bem.
Entrevista nº 22, relato 1
F1: falante brasileira.
F2: falante francês (vendedor).
Reconstrução da cena 31
1. F1 : _Ça coûte combien?
2. F2: _Cent dix neuf euros.
3. F1 : _ Réduction, s´il vous plaît.
4. F2 : _Non, c´est pas possible.
[F1 torna a pedir e F2 nega, F1 torna a pedir e F2 nega...]
5. F1: _ Réduction, s´il vous plaît. (gesticula também)
6. F2 : _Soixante dix ! (F1 interpreta como cent-dix)
7. F1 : _Só cent, s´il vous plaît ! (F2 interpreta como soixante)
8. F2 : {{Deu um pulo e foi chamar o gerente. A loja fechando e a comunicação
9. esgotada deixavam tudo mais difícil. O gerente chegou e perdeu a
10. paciência. Entregou os pontos e fechou o negócio.}}

Percebemos que nos três últimos exemplos expostos houve uma falha na

competência lingüística dos falantes que ajudou na promoção desses mal-entendidos de

base fonética. O 2º e 3º relatos da entrevista de número 8 mostram, respectivamente,

que F1 pronuncia [de] no lugar de [dØ] e [OrEy] ao invés de [ORER], o que caracteriza a

troca de fonemas e justifica a dificuldade de compreensão de seus interlocutores. Os

exemplos receberam tratamentos diferentes, no primeiro caso não houve reparação

imediata. Segundo a entrevistada a falante só se deu conta do mal-entendido ao chegar

em casa e comentá-lo com o marido. No segundo caso houve heteroreparação no 4º

turno de fala. Percebemos que na 8ª entrevista o tempo entre a ocorrência e a tomada de

consciência do mal-entendido foi mais estendido no 2º relato do que no 3º, ocasionando

31
1. F1:_Custa quanto?
2. F2: _Cento e dezenove euros.
3. F1: _Pode abaixar o preço, por favor?
4. F2: _Não posso. Não é possível.
5. F1: _Reduza, por favor!
6. F2: _Setenta!
7. F1:_Só cem, por favor!
maiores conseqüências na interação, visto que a compra objetivada parece não ter

ocorrido. Corroboramos as colocações de Traverso (2003) que relaciona a distância

entre o tempo de realização de um mal-entendido e sua reparação com a dimensão dos

efeitos causados por este mal-entendido. Percebemos mais uma vez que quanto maior

for este espaçamento de tempo entre o turno que contém o elemento promotor do mal-

entendido e a abertura de uma reparação maior poderá ser o risco de ameaça às faces

dos falantes envolvidos.

O 1º relato retirado da entrevista de nº 22 retrata exatamente que o longo tempo

entre a ocorrência de um mal-entendido e sua reparação pode afetar mais

significativamente o processo interativo. O mal-entendido começa quando no hipotético

6º turno, F1 interpreta o _Soixante dix ! (70) de F2 como cent-dix (110). Ainda achando

o preço caro, F1 torna a pechinchar pedindo para que F2 abaixe o valor para cem (100).

F1 mistura sua língua materna (o português) com o francês, pedindo a seu interlocutor

que o preço fique só cent (apenas cem euros, só cem). Por sua vez, F2 não percebe que

F1 misturou o português com o francês e interpreta o pedido de F1 na língua

predominante na interação, entendendo a solicitação em francês como soixante (60

euros). Mesmo com a chegada do gerente a negociação não é alterada e o negócio é

fechado por sessenta euros. O mal-entendido só é percebido tardiamente por uma das

partes, no caso, por F1 que é também a relatora da entrevista: “Andei, então, até o caixa,

tentando ficar feliz. Afinal, 100 euros não era o melhor preço do mundo, mas era o que

eu havia pedido. Porém, ao conferir a nota, não acreditei: 60 euros. [...] O meu “só cent”

e o “soixante” (60) deles só poderiam significar a mesma coisa.” Neste caso, não houve

reparação do mal-entendido e o F2 teve que arcar com as conseqüências de sua face

negativa ameaçada.
Vejamos agora o 1º relato da entrevista 20. A cena se passa no mercado durante

a compra de um presunto.

Entrevista nº 20, relato 1


F1: falante brasileira.
F2: falante francês (vendedor).
Reconstrução da cena 32
1. F1 : _ [de] cent grammes de jambon, s’il vous plaît?
2. F2: _Comment ?
3. F1 : _ [de] cent grammes de jambon, s’il vous plaît?
4. F2: _Comment ?(começa a gesticular estirando o polegar para cima e depois o
5. dedo indicador para frente)
6. F1: (Olha para onde a vendedora está aparentemente apontando. Procura o
presunto lá para onde a vendedora está apontando, no entanto vê que o presunto está
perto delas. Não entende porque a vendedora aponta para longe.)
7. F2: _Deux cent grames?
8. F1: _Ah sim! Deux cent grames !

No exemplo acima ilustrado, F2 demonstra, no 2º turno, não ter conseguido

entender completamente o enunciado de F1, em função da troca de fonemas realizada

por F1 em sua tentativa de pronunciar o número dois em francês. Quando F2 realiza seu

cálculo interpretativo, ele testa sua hipótese, gesticulando com os dedos o que para ele é

contar até dois. No entanto, F1 interpreta o gesto de F2 como se seu interlocutor

estivesse apontando para frente e não contando. Houve aqui um mal-entendido

primeiramente fonético, que sofreu um desdobramento de ordem pragmática. Os

32
1. F1:_ [do] gramas de presunto, por favor?
2. F2: _Como ?
3. F1 : _ [do] gramas de presunto, por favor?
4. F2: _Como ?
7. F2: _ Duzentos gramas?
8. F1: _Ah sim! Duzentos gramas !
falantes brasileiros e franceses não possuem o mesmo esquema de conhecimento para o

gestual de contar, utilizado por F2. A entrevistadora tece o seguinte comentário: “[...] os

brasileiros, eles fazem a contagem com as mãos a partir do indicador 1, 2... e os

franceses pelo relato da entrevistada eles fazem a partir do polegar. Então quer dizer

dava uma noção diferente do que a gente faz ao gesticular. Uma impressão de estar

apontando e não contando.” Em função dos fatores destacados, temos duas causas

promotoras para esse mal-entendido: a diferença na competência lingüística dos falantes

e a diferença na comunicação não verbal. Mais uma vez constatamos que um fator

promotor do mal-entendido também pôde colaborar para sua elucidação, já que a

insistência da utilização da linguagem não verbal leva F1 a reavaliar seu cálculo

interpretativo: “Aí eu fiquei preocupada, confusa com aquilo né. Como é que o presunto

tá lá embaixo se ele tá aqui na minha frente. Era evidente que o presunto estava na

minha frente, mas ao mesmo tempo ela apontava pra lá, e... depois de muita insistência,

tanto da minha parte quanto da parte dela, eu vim compreender que o que ela tava

fazendo com aquele gesto era pra representar um dois... né...” F2 faz duas reparações do

mal-entendido, através do gestual, tentando representar o dois e quando pergunta

diretamente - Deux cent grames? Não parece haver neste exemplo ameaça às faces dos

falantes.

Ainda na amostra CLD, observaremos agora, os exemplos classificados como

essencialmente pragmáticos. Os quatro exemplos selecionados ilustram o 1º relato da

11ª entrevista, o 1º relato da 15ª entrevista, 3º relato da 19ª entrevista e o 3º relato da 20ª

entrevista. Para a compreensão de nosso procedimento analítico desses casos, pedimos a

leitura na íntegra das entrevistas acima citadas. Não havia como transcrevê-las com

fidelidade, visto que elas representam interações em que o código não verbal é
predominante. Podemos comparar esses exemplos em vários aspectos, primeiramente

apontando para diferentes leituras do código não verbal empregado e ou para a

construção de esquemas de conhecimento distintos como as causas promotoras dos mal-

entendidos neles representados.

O 1º relato da 11ª entrevista revela que apesar do brasileiro ter enquadrado

corretamente a cena interativa como sendo uma parada de pedágio, seu esquema de

conhecimento para o processamento desta cobrança não correspondeu à forma de

cobrança de pedágio construída na cultura francesa. No Rio de Janeiro, não existem

cabines de cobrança de pedágio sem um funcionário para efetuar o trabalho. Houve

neste caso, a interferência de terceiros para a reparação do mal-entendido que não

trouxe maiores conseqüências às faces do protagonista.

O 1º relato da 15ª entrevista mostra que o gestual para representar muito na

cultura brasileira é interpretado como medo na cultura francesa. Assim como o 3º relato

da 20ª entrevista demonstra que gesticular com o braço esticado para que o ônibus pare

no ponto é uma prática brasileira, o emprego do mesmo gestual por uma brasileira na

França provocou um mal-entendido pragmático. O mesmo relato ilustra ainda uma outra

faceta desta prática brasileira de fazer parar os ônibus, quando revela que um francês

teve dificuldades para pegar ônibus por desconhecer o uso ‘código não verbal’. Tanto

no exemplo da 15ª entrevista quanto no da 20ª temos a comprovação de que diferentes

esquemas de conhecimentos, diferenças no comportamento não verbal assim como a

crença na universalidade comportamental colaboram para a promoção de mal-

entendidos interculturais. No relato 1 da 15ª entrevista houve a heteroreparação

verbalizada do mal-entendido, já no relato 3 da 20ª entrevista os protagonistas das cenas


exemplificadas tomam consciência da ocorrência de um mal-entendido e realizam a

auto-reparação. Em ambos os casos, não parece ter havido comprometimento das faces.

O 3º relato da 19ª entrevista revela que a brasileira não enquadrou corretamente

a cena por ela vivida. Para os franceses que compartilhavam com ela o vagão do metrô

parecia óbvio tratar-se de uma transferência rápida de metrô, para a brasileira todo o

alvoroço inesperado da cena representava a ocorrência de um arrastão (prática de assalto

a grupo de pessoas realizada no Rio de Janeiro). Ou seja, o esquema de conhecimento

que a entrevistada possuía para arrastão também a conduziu ao mal-entendido

pragmático. Os elementos contextuais espacial e temporal (dentro do metrô à noite)

reforçaram a realização de um cálculo interpretativo que conduziu ao mal-entendido.

Neste caso, a relatora realiza a auto-reparação do mal-entendido através da observação

situacional, mas antes e durante a elucidação do mal-entendido, ela revela-nos o grau de

sentimento envolvido na ameaça à sua face negativa: “Eu fiquei super assustada, morri

de medo. A impressão que eu tive naquela hora é que tava rolando um assalto e eu

distraída não tinha percebido. Eu fiquei gelada, eu tinha certeza que estava sendo

assaltada, uma espécie de arrastão no metrô, só que quando eu consegui ter alguma

reação de pegar minha bolsa e levantar o vagão já tava vazio. Só eu estava lá dentro.

Todos tinham corrido para a linha ao lado, para pegar um metrô que parou ao lado. Não

sei bem e o trem já tinha ido embora e eu fiquei sozinha no vagão, aí eu tive uma

mistura de relaxamento e vergonha. assim... por não ter entendido antes o que estava

acontecendo.”

Vejamos a seguir mais dois exemplos de mal-entendidos pragmáticos que

receberam a mesma leitura para suas causas promotoras e seus efeitos na interação.
Entrevista nº 1, relato 1
F1: falante brasileiro.
F2: falante francês (garçom).

Reconstrução da cena 33
1. F1 : _ Je voudrais un coca et... deux bières.
2. F2 : _Et pour manger ?
3. F1 : _Rien.
4. F2 : _C’est un restaurant! _Vous devez manger, si vous voulez seulement boire
5. vous devez aller à ce bar lá!...(aponta para os bares ao lado)

Entrevista nº 6, relato 3
F1: falante francesa (vendedora).
F2: falante brasileira (cliente).
Reconstrução da cena 34
1. F1 : _C´est pour emporter Madame?
2. F2 : _Bon c´est pour emporter. (a vendedora entrega o doce, F2 abre o saquinho
3. não resiste e começa a comer o doce)
4. F1: _Non ! c´est pour emporter! Pardon, c´est pour emporter Madame.
5. F2 :_Non, mais... je veux manger maintenant.
6. F1: _Non vous avez demandé c´est pour emporter.

33
1. F1 : _ Eu quero uma coca e... duas cervejas.
2. F2 : _E pra comer ?
3. F1 : _ Nada.
4. F2 : _ Aqui é um restaurante ! _Vocês têm que comer, se vocês querem somente beber então
5. devem ir para esse bar ali...(aponta para os bares ao lado)

34

1. F1 : _ É para levar, Senhora?


2. F2 : _Bom, é para levar. (a vendedora entrega o doce, F2 abre o saquinho
3. não resiste e começa a comer o doce)
4. F1: _Não ! É para levar! Perdão, é para levar Senhora.
5. F2 :_Não, mas... eu quero comer agora.
6. F1: _Não, a senhora pediu para levar !
Tanto o 1o relato da entrevista 1, quanto o 3º relato da entrevista 6 ilustram casos

de mal-entendidos interculturais provenientes de falhas na decodificação. F2 no

primeiro exemplo e F1 no segundo realizam julgamentos inapropriados de seus

interlocutores por desconhecerem as condutas comportamentais adotadas na cultura do

outro, naquela dada situação. A ilusão de compreensão em ambos os casos é

fundamentada numa crença de universalidade comportamental. Espera-se do outro uma

conduta similar à aplicada em nossa cultura, ignorando as especificidades da cultura do

outro, por isso esse comportamento se traduz em um elemento significativo para a

promoção de mal-entendidos interculturais.

No relato 1 da 1ª entrevista para F2 parece óbvio que o fato de se estar em um

restaurante condiciona os clientes não somente a beber mas sobretudo a comer, para F1,

porém, essa conduta pareceu-lhe muito categórica.

Através da leitura desta entrevista, percebemos que os interlocutores enquadram

a cena ‘interação no restaurante’ sob perspectivas diferentes. F1 encontra-se no

estabelecimento para ser servido, ele é o cliente, enquanto que F2 vê a interação de

ângulo profissional, ele está ali a trabalho, para servir. Há diferenças também na

definição dada ao estabelecimento, que F1 denomina de pizzaria e F2 chama de

restaurante. Através dos seguintes trechos comentados por F1 percebemos que também

são divergentes os “esquemas de conhecimento” que esses interagentes possuem quanto

ao ritual do que é ou não permitido se fazer em um ‘restaurante’: [...] a impressão que se

tem é que era pressuposto pra ele sabe. Se a pessoa entrou numa pizzaria ela tem que

comer. [...]_C’est un restaurant. Sabe assim bravo. É um restaurante! Não é possível

que eu tenha que explicar o que é um restaurante, né! [...]é aquela questão você pode, eu

acho no Brasil, perfeitamente sentar na pizzaria, beber alguma coisa e aí lá pelas tantas
você decide que você vai comer alguma coisa [...]”. Os comentários seguintes

demonstram que elementos do contexto reforçam para F1 a idéia de que não estava

fazendo nada de errado, em não pedir nada para comer, parecia-lhe óbvio poder

escolher entre comer ou não, naquela circunstância: “[...] ainda mais assim que eram sei

lá cinco horas da tarde, sabe, sol do cão né?” Logo em seguida, ele declara-nos o

momento em que identifica e reflete sobre o mal-entendido, o qual interpretamos como

um processo de auto-reparação: “[...] E assim você via de fato depois que você vai

reparar você vê que todo mundo, que tava sentado tava lá com uma pizza, tava comendo

sabe então assim era um, uma outra prática diferente da nossa.”

Há indícios de que os falantes sentiram suas faces ameaçadas. Quando F2 chama

a atenção de F1 para a obrigatoriedade de ‘pedir comida’, é quase como uma atitude

defensiva (de preservação de sua face negativa) para o que interpretou como um afronte

de F1 dizer que não iria pedir nada. As estratégias de preservação das faces de um

determinado falante são interpretadas como grosseria pelo outro. Quando a

entrevistadora pergunta a F1: - Como era o tom dele nesse momento? - Ele foi ríspido?

F1 responde: - Ah! no cúmulo da falta de educação. A estratégia de polidez tomada por

F1 é ir embora do local. Ele não cede às exigências contextuais do procedimento

francês, mas se retira por tornar-se insustentável a conciliação da permanência e da

preservação das faces.

Os falantes realizam cálculos interpretativos divergentes, conduzidos por regras

culturais, sócio-comportamentais diferentes. Mergulham numa ilusão de inter-

compreensão, em que o outro é visto como o jogador que quebra as regras do jogo

interacional. A incapacidade de colocar-se no lugar do outro, de admitir a existência de

outras condutas sócio-comportamentais para o mesmo contexto instaura o que Kerbrat-


Orecchioni (1994) denomina de ‘momentos desconfortáveis’, comuns em alguns

desfechos de mal-entendidos interculturais. Em casos como esse, em que o mal-

entendido só é parcialmente reconhecido e que as divergências interpretativas nele

contidas não são exploradas por todos os participantes, aumentam as chances de

construção de estereótipos ou de sedimentação daqueles já existentes.

O segundo exemplo em destaque, retirado do 3º relato da 6ª entrevista recebe a

mesma leitura analítica. Para a falante F1 optar por comprar e comer no local ou

comprar para levar para casa é uma opção a critério do cliente, mas irredutível, pelo

menos deve-se notificar ao vendedor caso queira mudar de decisão, ou seja mudar as

regras do jogo sem notificar pode se traduzir em ameaça às faces. No esquema de

conhecimento que F1 construiu, socialmente inserido na cultura francesa, a opção de

comprar para levar (emporter) é mais rígida do que aquela construída por F2, na cultura

brasileira. F2 se sente duplamente ameaçada: sua conduta foi inadequadamente julgada,

ferindo sua face positiva e sua liberdade de ação foi cerceada, atingindo sua face

negativa. A ocorrência da mesma cena no Brasil não traria - salvo raros

estabelecimentos com procedimentos diferenciados - maiores conseqüências para o

comprador. Optar por levar e decidir comer no local sem que a compradora solicite

utensílios extras, prato ou talher parece perfeitamente possível em um contexto

interacional na cultura brasileira. Mais uma vez o mal-entendido fica parcialmente

detectado, nutrindo julgamentos inapropriados sobre a conduta do outro. Listamos em

nosso corpus outros casos (entrev. 1, rel.2; entrev. 2, rel.1; entrev. 6, rel.2; entrev. 17,

rel.1 e entrev. 18, rel.1 ) que parecem apresentar comportamentos similares a esses dois

últimos exemplos analisados. Decorrentes da concomitância das seguintes causas

promotoras: variações nos sistemas de interação entre brasileiros e franceses,


discrepâncias nos esquemas de conhecimento desses falantes utilizados para a

interpretação das cenas vivenciadas, somados a julgamentos inapropriados e

fundamentados em crenças de uma universalidade comportamental, os seguintes

exemplos reúnem características similares, distinguindo-se apenas no grau

envolvimento afetivo que cada caso promove nos falantes envolvidos. Sugerimos, então

a leitura na íntegra dos exemplos acima citados, destacaremos dentre eles o seguinte

exemplo:

Entrevista nº 2, relato 1
F1: falante brasileira (cliente).
F2: falante francesa (vendedora).
Reconstrução da cena 35
6. F1 : _Pardon, Madame, est-ce que vous...?(é interrrompida por F2)
7. F2 : _ Madame faites attention la queue c´est là-bas.
8. F1 : _Mais Madame ! mais Madame !
9. F2:_Madame, c´est là-bas! (aponta para o fim da fila)

A cliente brasileira (F1) foi julgada como oportunista pela vendedora francesa

(F2), por querer uma informação sem ter que entrar na fila. No Brasil é conduta

rotineira ser mais tolerante com os que ‘furam a fila’ para fazer um breve

esclarecimento, sobretudo se for apenas para perguntar se no local vende-se o objeto

desejado, como no caso do exemplo. Na França para pedir uma informação deve-se

aguardar sua vez na fila. Iniciaríamos, aqui, uma discussão infindável, se tentássemos

julgar quais das condutas favorece à polidez na interação em pauta. Para os franceses

35

1. F1 : _ Por favor, Senhora...?


2. F2 : _Senhora, por favor preste atenção a fila é pra lá.
3. F1: _ Mas Senhora...mas senhora.
4. F2 :_Senhora é pra lá!
respeitar a vez do outro, independente do que se queira perguntar ou comprar traduz-se

no respeito à face negativa do outro e à sua própria face positiva, ao exercer um

procedimento julgado como socialmente mais justo. Para os brasileiros parece mais

lógico, que aquele que deseja apenas tirar uma dúvida não seja penalizado a enfrentar

uma fila, não tenha sua face negativa ameaçada por uma espera em vão. Compreender

as regras socialmente construídas ajuda-nos a interpretar com mais propriedade as

interações verbais e não verbais desenvolvidas entre indivíduos de culturas distintas.

Devemos, no entanto, admitir e respeitar as diferenças na expressão lingüístico-

comportamental do outro.

O 1º relato da entrevista 3 e o 3º relato da entrevista 15 são exemplos que

demonstram nossas colocações, expostas no capítulo teórico, em que incluímos as

percepções estereotipadas entre as possíveis causas promotoras de mal-entendidos

interculturais. Vejamos o primeiro caso em que F1 representa uma falante brasileira que

aguarda a chegada de seu pedido de almoço em um restaurante francês. A cena começa

com a chegada do pedido de F1 à mesa:

Entrevista nº 15, relato 3


F1: falante brasileira (cliente).
F2: falante francesa (garçonete).
Reconstrução da cena 36
1. F1 : _ Oh, c’est quoi ça ? Où est mon jambon ?
2. F2 : _ Vous n’êtes pas une mulsumaine? Vouz mangez pas du jambon?!

36

1.F1 : _ O que é que isso? _Onde está meu presunto?


2.F2 : _A senhora não é mulçumana? _A senhora não come presunto, não é?
3.F1: _ Sinto muito, mas eu sou brasileira.
4.F2 :_Ah o carnaval no Rio! As praias! Desculpe-me, por favor!
3. F1 : _ Désolé mais je suis brésilienne
4. F2:_ Carnaval à Rio!les plages! Excusez-moi! excusez-moi! (F2 não cobra a
refeição e dá direito a outro jantar)

O exemplo seguinte ilustra o passeio de um brasileiro com amigos franceses a

um rio em Besançon, onde se encontram mulheres fazendo top-less.

Entrevista nº 3, relato 1
F1: falante francesa.
F2: falante brasileiro.
Reconstrução da cena 37
1. F1 : _ João, pourquoi tu es étonné ? parce que... au Brésil ça c’est commun,
2. n’est-ce pas?
3. F2 : _Pas du tout! Au Brésil on ne fait pas ça parce que au Brésil c’est même
4. interdit aux femmes de faire au topless. Si on fait ça à la plage par exemple
5. on est pris un eh c’est pas c’est pas ( ) en fait c’est pas permis de faire
6. le topless au Brésil.
7. F1 : _C’est étonnant ça !

No relato 3 da 15a entrevista F2 retira por conta própria a fatia de presunto do

prato de F1 por julgá-la mulçumana. As características físicas da brasileira induziram a

leitura equivocada da francesa: “...à cause que je suis simplement matte avec les

cheveux très longs, oui je ne ressemble pas une européenne on va dire... ». O

julgamento inapropriado de F2 faz com que ela atribua à brasileira o esquema de

37

1.F1 : _ João porque você está assustado? Por que no Brasil isso é comum, não é?
2.F2 : _De jeito nenhum, no Brasil não se faz top less. É proibido às mulheres de fazer top less. Se
3. por exemplo fizerem isso na praia podem ser presas, ( ) na verdade não é permitido o top less
4. no Brasil.
5.F1: _Nossa surpreendente!
conhecimento que possuí para as muçulmanas, conduzindo-a um mal-entendido. Não

houve, neste exemplo, chance para que F1 pudesse expressar sua ‘identidade’ de mulher

brasileira. Vemos, então, como pode ser danoso para o processo interativo valer-se de

apreciações estereotipadas sem que seja concedida a oportunidade do outro de se auto-

apresentar livremente. Observamos, através do relato de F1 que o mal-entendido

representou uma ameaça à sua face positiva: “Ça m´a derangé, oui un peu, c’est le

racisme, pas pensé, naturel quoi, enfin je pense.” 38 F2 percebe que mesmo que

involuntariamente ameaçou à face positiva de F1, verbalizando suas desculpas e

tentando redimir-se de sua atitude toma uma estratégia de polidez que vai contra sua

própria face negativa. (oferece outro jantar à F1)

O segundo exemplo parece não ter causado comprometimento das faces dos

interlocutores, mas também deflagra julgamentos divergentes, embasados por visões

estereotipadas. F1 indaga F2 sobre sua reação de espanto ao ver mulheres fazendo top-

less quase como uma cobrança: _ João, pourquoi tu es étonné ? parce que... au Brésil

ça c’est commun, n’est-ce pas? F1 possui provavelmente um estereótipo do Brasil que

não condiz com a reação de espanto de F2 ao ver mulheres fazendo top-less tão

livremente. Ele reforça seu estranhamento: _C’est étonnant ça ! Neste exemplo o mal-

entendido é comentado e consequentemente reparado para os participantes da interação,

contribuindo para o conhecimento intercultural, já que a ilusão de compreensão foi

dissipada.

Ainda no âmbito de mal-entendidos pragmáticos, alguns exemplos do corpus

ilustram que diferenças no ethos de culturas em contato podem promover mal-

entendidos. Empregamos aqui, a definição de ethos utilizada por Kerbrat-Orecchioni

38
Isso me incomodou, sim um pouco, é racismo, não premeditado, natural, eu penso que é.
(2006) como o perfil comunicativo de uma dada comunidade. O 4º e o 5º relatos da

entrevista 19 descrevem cenas que apresentam o comportamento do francês com

tendência a ser mais objetivo, mais direto do que o brasileiro ao dar informações

solicitadas e o 1º relato da 16ª entrevista ressalta a mesma característica do francês ao

tecer comentários pessoais. Pedimos a leitura na íntegra dos exemplos mencionados

para a compreensão do procedimento analítico.

Os relatos 4 e 5 da 19ª entrevista remete-nos às máximas griceanas. É provável

que para os franceses as informações dadas correspondam de forma quantitativa e

relevante àquilo que lhes foi pedido. Para os brasileiros, no entanto, o julgamento de

que os franceses burlaram as máximas de quantidade e de relevância ficou evidente nos

seguintes comentários, no 4º relato da 19ª entrevista: “eu acho os franceses objetivos,

diretos ao extremo no jeito de dar uma informação[...] A questão é que para nós

brasileiras não fazia o menor sentido a francesa da bilheteria não ter nos explicado que

não adiantava ficar calculando a melhor opção de compra, nós não poderíamos mesmo

comprar a carte orange naquele dia. Parece óbvio pra gente que a primeira informação

deveria ser que naquele dia não poderíamos mais comprar a carte. No 5º relato da

mesma entrevistada: “eu perguntei pra ela então porque ela não me disse isso antes e ela

me respondeu na maior simplicidade que eu não havia perguntado aquilo.” Nos dois

exemplos o julgamento do que é ou não relevante nas informações solicitadas é

interpretado de forma diferente pelas falantes brasileiras e francesas. Questionamos se

nestes casos, as falantes francesas valeram-se de implicaturas não interpretadas a

contento pelas brasileiras. Se o processo interativo fica comprometido pela incapacidade

de percepção de implicaturas podem-se gerar julgamentos inapropriados do

comportamento do outro na interação. Ou seja, o brasileiro passa a atribuir ao francês


um comportamento grosseiro, pouco prestativo porque em sua visão ele não foi

informativo a contento. Ainda 5º relato, a falante comenta: “aqui no Brasil quando a

gente pergunta um itinerário na rua pra uma pessoa, às vezes a outra que tá passando ao

lado se mete para dar maiores detalhes na explicação. Há sem dúvida um engajamento

maior na conversação de caráter informativo entre os brasileiros... que eu não sinto da

mesma forma com os franceses.”

O mal-entendido relatado no 1º exemplo da 16ª entrevista também parece ter sido

promovido por uma diferença no sistema interacional entre franceses e brasileiros. A

entrevistada revela que a forma direta como que o francês tece o comentário sobre seu

vestido a surpreendeu, porque segundo ela, os brasileiros atenuam mais os comentários,

referentes ao outro. Essa observação foi reincidente como vimos nos dois últimos

exemplos analisados, sobre o julgamento da forma direta com que os franceses

interagem ao dar informações.

O mal-entendido, neste caso, é causado por diferenças no tratamento da

interação. A maneira direta como o comentário foi feito pelo falante francês recebeu

uma interpretação divergente aos ouvidos da receptora. O que provavelmente para o

francês era uma observação produtiva, condizente com a máxima de relevância

griceana, para a brasileira o falante francês burlou não somente a máxima de relevância,

como a de quantidade. Nas palavras da entrevistada: “Eles (os brasileiros) atenuam mais

os comentários. Os franceses não, eles são bem curtos e grossos, literalmente.” Vemos

que a falante brasileira generaliza a conduta do interlocutor francês, esboçando traços da

formação de um possível estereótipo cristalizado: brasileiros atenuam mais os

comentários, franceses são mais diretos. Segundo Pereira et alli (2003) os membros do

ingroup (mesma cultura) tendem a atribuir-se valores mais positivos em detrimento dos
membros do outgroup (outra cultura). Esses autores atentam para a existência de uma

‘alusão depreciativa aos estrangeiros’ nas interações interculturais, que acreditamos ter

ocorrido neste caso, assim como nos exemplos 4 e 5 da 19ª entrevista analisada. Desta

forma, o cálculo interpretativo dos falantes brasileiros é influenciado pela visão

estereotipada, ocasionando um mal-entendido intercultural no momento da interação.

Deparamo-nos mais uma vez com o paradoxo de que as percepções estereotipadas

podem provocar mal-entendidos, ao mesmo tempo em que as reincidências de um mal-

entendido podem gerar estereótipos. Mesmo cientes da complexidade desta questão, a

análise de nossos exemplos conduziu-nos a inserir o estereótipo entre as possíveis

causas de um mal-entendido intercultural.

Os efeitos do mal-entendido sobre a interação foram marcados pela percepção

da brasileira de ter sofrido a ação de um FTA, produzido pelo falante francês: “Aí me

assustou a maneira grosseira dele falar, porque brasileiro nunca fala de uma maneira

dessa. Fazem até um comentário tipo: teu vestido tá curtindo, senta de uma outra

maneira, seria uma coisa mais... mas ele não, ele virou pro lado e falou e continuou

comendo. [...] Eu fiquei muda, olhando pra ele meia assustada é meio indelicado pra

gente assim, pra ele foi super natural.” Percebemos mais uma vez, que a entrevistada

desenvolve uma apreciação mais favorável para os falantes de sua cultura. Não nos

parece precoce observar, mediante a análise corpus, que nas interações interculturais há

uma tendência muito mais forte em atribuir uma conceituação positiva ou negativa à

conduta lingüística-comportamental do ‘outro’, ao invés de apenas admiti-la como

diferente da sua, mostrando-se cooperativo na interação.

A análise de alguns exemplos da amostra CLD nos autoriza a desenvolver a

hipótese de um ethos diferenciado entre franceses e brasileiros com, respectivos, perfis


lingüístico-comportamentais mais objetivo vs menos objetivo, nas interações de caráter

informativo ou apreciativo.

1.2. Análise da amostra CPH

Vamos comparar dois exemplos da amostra CPH, que marcam a ocorrência de

um mal-entendido do tipo lexical e de um aparente equívoco. O primeiro se dá pela

interpretação errônea de uma funcionária no 1º relato da entrevista 3 e o segundo caso é

produzido por uma cliente no 1º relato da entrevista 7.

Na cena ilustrada a responsável pelo guess service de um hotel, relata-nos que

um hóspede telefonou para seu setor reclamando da demora do café que já havia sido

pedido no quarto. Vejamos o exemplo:

Entrevista nº 3, relato 1
F1: falante francês. (cliente)
F2: falante brasileira. (responsável pelo guess service).
Reconstrução da cena. 39
1. F1 : _Où est-ce qu’il est mon café?
2. F2 : _ Le café c’est déjà monté.

39

1. F1 : _Onde está meu café?


2. F2 : _ O café já subiu..
3. F2 : {{ Passaram-se cinco minutos}}
4. F1 : _ Senhor já se passaram quinze minutos e meu café não
5. chegou.
6. F2 : _ Não, não é possível. Seu café já subiu senhor.
7. F2 : _ desculpe-me senhor, eu cometi um erro,.
8. Une confusão, o café ou o café da manhã? Eu vou pedir para
9. que levem seu café agora.
10. F1 : Ah não, não. Não tem problema porrque eu terminei o de
11. tomar o café da manhã.
3. F2 : {{ passaram-se cinco minutos}}
4. F1 : _ Mais Madame, c’est déjà passé 15 minutes mon café
5. c’est pas là.
6. F2 : _ Non mais c’est pas possible votre café c’est déjà monté .
7. ((Ela foi verificar com o pessoal responsável. Ela observou
8. que ela havia pedido para subirem com o café da manhã))

9. F2 : Je m´excuse monsieur parce que j´ai fait une erreur, une


10. confusion, le café ou le petit-déjeuner ? Je vais faire monter votre
11. café maintenant.
12. F1 : Ah non, non. Ça fait rien parce que moi j´ai déjà fini le
petit-déjeuner.

Neste exemplo, a funcionária interpretou o café solicitado pelo hóspede

francês como o nosso café da manhã e por isso mandou que subissem com um serviço

de café completo para o quarto. O cliente desejava, no entanto, apenas uma xícara de

café. Ironicamente, no café da manhã servido no quarto do cliente não havia o café

tradicional, ou pelo menos não do jeito que o mesmo almejava, já que continuou

insistindo para que trouxessem seu café.

No Brasil, nós também temos a possibilidade de chamar o ‘café da manhã’ de

apenas ‘café’. Dizemos muitas vezes, vou tomar meu café, significando tudo que

comporta um farto café da manhã brasileiro, sobretudo no contexto hoteleiro. Essa

maior abertura no campo semântico da palavra ‘café’ em português induziu o cálculo

interpretativo da falante brasileira para uma interpretação focada apenas no ‘café da

manhã’ completo, esquecendo ou ignorando que em francês, nosso café da manhã

corresponde ao petit-déjeuner. Em língua francesa não há possibilidade de referência ao

petit-déjeuner com o vocábulo café. Isso justifica um pouco a irritabilidade do cliente,

pois não havia na perspectiva do hóspede uma justificativa plausível para o mal-
entendido, provavelmente, interpretando a não realização de seu pedido como má-

vontade ou morosidade. Neste caso, a diferença na competência lingüística entre os

falantes foi um dos fatores promotores do mal-entendido agregado ao fato dos falantes

franceses e brasileiros não possuírem esquemas de conhecimento com a mesma

abrangência de campo semântico.

O segundo exemplo é 1º relato da 7ª entrevista. A entrevistada é uma francesa

que se hospedou em um hotel no Rio de Janeiro por um curto período de tempo para

uma Convenção de trabalho. Ela tinha conhecimentos do português de Portugal e

relativa competência oral e escrita nessa língua. Como o relato não privilegiou a

ocorrência de trocas interativas verbais, sugerimos a leitura da entrevista em nossos

anexos. Achamos importante analisar este exemplo para compará-lo com o relato

anteriormente citado, destacando os trajetos opostos realizados pelos falantes na

construção de seus cálculos interpretativos para o mesmo vocábulo: ‘café’.

A entrevistada relata que viu na recepção do hotel o preço do café da manhã,

interpretado por ela como uma xícara de café que o hotel serviria pela manhã. Seu

cálculo interpretativo foi influenciado pelo esquema de conhecimento que possuía para

o vocábulo café em francês. Seus conhecimentos do português de Portugal não a

ajudaram muito para a elucidação dos fatos, ao contrário reforçaram a interpretação

equivocada, já que em Portugal café da manhã é ‘pequeno almoço’, uma tradução literal

da língua francesa. Ela esperava que o café da manhã tivesse a mesma denominação ou

algo bem similar no português do Brasil. Destacamos seu comentário quando toma

conhecimento do preço: « et moi j´ai pensé que ce café de manhã c´était une tasse de

café qu´on me donnait le matin et que le prix correspondait à ce café (...)et j´ai pensé
donc que le café était très très cher au Brésil. » 40 A interpretação errônea da

entrevistada não chegou a se concretizar em um mal-entendido, já que ela manteve a

‘ilusão de compreensão’ fora de um processo interativo. Neste caso parece ter havido

um engano que poderia ter gerado mal-entendidos em interações, como ocorreu no

exemplo anterior.

Chamamos a atenção para o quadro 12 que faz a representação dos esquemas

de conhecimento constituídos para o vocábulo ‘café’ nas duas culturas. Vejamos as

imagens:

QUADRO 12

O café para os O café para os


Brasileiros Franceses

Os brasileiros constroem um esquema de conhecimento para café que permite

duas interpretações, selecionadas pelo contexto. A língua francesa dá margem à

construção de um esquema de conhecimento de referência única para o vocábulo café.

Com o auxílio da ilustração, sugerimos que pode ocorrer entre falantes brasileiros que

possuam o francês como língua estrangeira uma tentativa e expandir a interpretação de

café para uma área inexistente (como mostra o quadro 12), gerando possíveis mal-

entendidos. A área vazia ilustra a impossibilidade do nativo francês que desconhece a

40
“E eu pensei que esse café da manhã fosse uma xícara de café que me serviriam de manhã e que seu
preço era muito muito caro no Brasil.”
língua portuguesa de interpretar a contendo o vocábulo café empregado como café da

manhã. Por isso havíamos mencionado que os 1ºs relatos das entrevistas 3 e 7

apresentam percursos opostos nos cálculos interpretativos realizados pelos falantes. Nos

dois casos, o enquadramento das cenas no contexto hoteleiro não contribuiu para a

elucidação do mal-entendido nem do equívoco, já que as interpretações divergentes

eram perfeitamente aceitas pelo contexto.

A entrevista de número 2 da amostra CPH ilustra através do 1º relato um caso

de mal-entendido fonético que ocorreu no momento em que um garçom brasileiro

recepciona um cliente francês em um restaurante de hotel no Rio de Janeiro. Passemos

ao exemplo:

Entrevista nº 2, relato 1
F1: falante brasileiro. (garçom)
F2: falante francês. (cliente)
Reconstrução da cena. 41
1. F1 : _ Nous avons aujourd’hui un tournedos avec un purê de
2. pommes de terre brésilien, un type de pommes de terre un peu ( )
3. un peu de sauce de vin rouge .
4. F2 :_ Oui je voudrais le (plat) du jour .
5. F1 :_ Ah oui je vais demander _Comment vous voulez le ( la ) de viande,
6. Monsieur?
7. F2 : _ Ah oui je voudrais la viande bien [kry]. (Na verdade F2 teria falado cuit)
8. (O maître faz o pedido. Depois de algum tempo, chega o prato à mesa)
9. F2: _Ah non, ce n’est pas bien cru c’est bien cuit.

41

1. F1 : - Nós temos hoje um bife a tournedos com purê de batatas da terra brasileira, um tipo de
2. batata da terra um pouco ( ) um pouco de molho com vinho tinto.
4. F2: - Vou querer o (prato) do dia.
5. F1: - Ah sim eu vou pedir - Como o senhor deseja o (a) carne?
7. F2: - Ah sim, eu gostaria da carne bem [kry]. (Na verdade F2 teria falado cuit)
6. F2: - Ah não, não queria crua queria bem passada.
Este mal-entendido de base fonética tem como causa promotora uma falha na

competência lingüística, ainda imatura, de F1. Debutante na língua francesa, F1

compreende [kru] no lugar de [kyi], ou seja, interpreta ‘cru’ ao invés de ‘cozido’.

Com a chegada do prato, que não correspondia ao pedido feito, F2 realiza uma

heteroreparação no 5º turno de fala. Nesse momento quebra-se a ilusão de compreensão

mantida durante quase toda a interação. Podemos afirmar que houve ameaça à face

negativa de F2, já que seu direito a não perturbação não foi resguardado. A ocorrência

do mal-entendido obriga-o a aguardar pela correção do pedido.

Sobre a mesma temática do ponto em que é servida a ‘carne’, a 20ª entrevista

atesta a ocorrência de diversos mal-entendidos pragmáticos em função de não

coincidirem as noções de ‘carne bem passada’ (bien cuit), ‘ao ponto’ (à point) entre

outros, na cultura francesa e brasileira. Vejamos o seguinte trecho da entrevista:

Entrevista nº 20, relato 1


E: entrevistadora
R035- hôtesse
R036- garçom
R037- garçom

281. R037: Pois é, mas assim uma coisa que ainda me causa estranheza assim
282. que eu não me acostumo é a forma de comer carne. Eles comem carne
283. praticamente crua.
284. R036: E aí eles pedem “saignant e blue”, e aí quando eles não entendem é
285. tsc tsc fazem um sinal.
286. E: Muitos garçons me relataram, por exemplo quando eles falam
287. ‘cuit’ cozida né, “bien cuit” essa noção não bate muito com a nossa?
288. R036: Não, bem diferente o nosso ao ponto e bem passado pra eles
289. totalmente diferente, pra eles é bem crua mesmo.
290. E: Pois é de forma prática o cuit nosso e o cuit deles/
291. R036: O nosso ao ponto pra eles já é bem passado. O deles bem passado pra
292. nós tá crua, e o bleu pra eles pra nós já é sushi (risos).
293. E: (risos) Já aconteceu assim ...vocês virem com alguma coisa que pra
294. vocês já estivesse no ponto e pra eles... eles pedirem pra trocar?
295. R036: Acontece muito à la carte no Restaurant à noite, que a carne vem
296. muito passada, aí eles não gostam e pedem pra trazerem uma mal passada.
297. E. Sim, mas na verdade eles tinham pedido cuit né?
298. R036: É, e aí a pessoa que às vezes não está acostumada a anotar o pedido,
299. aí anota ao ponto e não fala que é pra ‘francês’, aí eles fazem ao ponto como
300. se fosse pra brasileiro e aí vem pra francês e eles não conseguem comer.
301. E: Ah, mas tem essa observação pra dar uma ajuda pro pessoal aí dentro?
302. R036: Isso! tem que observar, se não colocarem eles não conseguem fazer a
303. carne do jeito do francês.
304. E: Olha só que coisa interessante, quer então que vocês já dão uma dica pro
305. próprio cozinheiro não é? Quando é um brasileiro ou um francês?
306. R036: É sim porque se não avisar eles não comem, o prato vai vir como se
307. fosse de um brasileiro e quando alguns comem porque eles são muito
308. educados [...]

O exemplo mostra que na prática as traduções literais nem sempre funcionam a

contento. O fato de o garçom ter competência lingüística para entender que em francês

bien cuit e mal cuit são, respectivamente, em português bem passada e mal passada não

será suficiente sem que tenha competência comunicativa para saber que aquilo que é

carne mal passada para o brasileiro não é para o paladar do francês, influenciando

consequentemente nas outras noções de ‘ao ponto’, ‘bem passada’ etc. como explica o

falante (lin. 291). Sendo assim, percebemos que há uma discrepância entre os esquemas

de conhecimentos construídos por franceses e brasileiros para as noções de preparo da


carne. Constatamos que mais uma vez a crença em universais lingüístico-

comportamentais agiu para a promoção de mal-entendidos.

Em comparação aos exemplos analisados na amostra CLD, destacamos que em

ocorrências como esta, a contextualização profissional contribui para que os falantes

reconheçam a possibilidade de divergências interpretativas no âmbito lingüístico e

comportamental entre as culturas brasileiras e francesas, convertendo-as em benefício

próprio. Com a propriedade de quem fez a reparação de mal-entendidos anteriores, o

garçom nos relata que eles especificam para o chefe de cozinha em suas comandas

tratar-se de cliente francês ou brasileiro. Através de um código lingüístico-pragmático

dizem sem efetivamente dizer: atenção se é cliente francês esse bem passado não é tão

bem passado assim!

Vejamos agora outro exemplo de mal-entendido pragmático através da leitura do

1º relato da 4ª entrevista que ilustra uma provável ‘invasão territorial’ durante a

interação de um guia brasileiro com uma hóspede francesa. Acompanhemos a cena

relatada pelo concierge do hotel que a presenciou:

Entrevista no 4, relato 1
F1: guia brasileiro.
F2: hóspede francesa.
F3: O concierge (entrevistado)
E: Entrevistadora
Reconstrução da cena.
1. F1: {{Recepciona de forma calorosa a hóspede francesa,
2. abraçando-a e dando dois beijinhos, um em cada face do rosto.}}
3. F2: {{Ruboriza por completo as faces}}
Na entrevista:
8. E: - E ela externou alguma coisa, não?
9. F3: - Não, mas foi visível que ela se sentiu incomodada
10. com aquele tipo de atitude do guia. A gente depois falou
11. com ele. Independente de ser francesa ou não, um certo
12. distanciamento do cliente nesse aspecto é é é uma coisa que é
13. desejável enfim.

Questões proxêmicas que impõem o distanciamento entre os interlocutores,

assim como a tolerância ao toque no momento da interação é um fator particularmente

interessante a se investigar, sobretudo quando analisamos interações interculturais.

Dentro da amostra CPH esta questão torna-se mais latente, pois o contexto profissional

por si só impõe algumas restrições proxêmicas, que obviamente também estão

subordinadas às regras sócio-culturais de cada sociedade.

A passagem ilustra a reação de uma hóspede que teve sua face negativa

ameaçada. O espaço físico corporal foi momentaneamente invadido e o reflexo

involuntário de ruborizar-se denunciou seu incômodo. O relato é dado com uma carga

de emoção muito forte no momento da descrição da reação da hóspede: “[...] ela ficou

assim ruborizada da cabeça aos pés. Foi uma coisa instantânea.” Também é muito

interessante a gradação estabelecida pelo concierge daquilo que ele considerou como

invasão de terreno do outro: 1ª ‘infração’ pela quebra de uma regra de ‘contrato social

implícito’ (o ambiente de trabalho limita a aproximação profissional-cliente); 2ª

‘infração’ por tratar-se de uma francesa (outra nacionalidade considerada mais formal) e

3ª ‘infração’ por ter sido o primeiro contato com a interagente, o que inegavelmente

potencializa o fato. É interessante acompanhar no relato a ponderação de todos esses

fatores: “É uma coisa muito que denota uma intimidade muito grande né mas até que

enfim nós entre nós brasileiros né de repente uma forma mais informal com um grupo

de amigos pessoas novas que você conhece poderia ser perfeitamente cabível, mas em
se tratando ser o nosso tipo de negócio o nosso tipo de trabalho e especialmente sendo

um hóspede de origem francesa isso caiu muito mal, entendeu.”

O comentário do entrevistado remete-nos à fórmula proposta por Brown e

Levinson (1978, 1987) para dimensionar o peso de um FTA nas interações. Para os

autores, a atribuição do peso (W) de um FTA será dada a partir do somatório da

distância social (D) dos interlocutores mais a relação de poder (P) estabelecida entre os

mesmos, adicionando ainda o julgamento (R) do caráter ameaçador do FTA

determinado pelas culturas envolvidas. Relembrando a fórmula teríamos:

W = D (F1,F2) + P(F1+F2) +R

Para avaliar a dimensão deste mal-entendido, interpretamos a variável (D) pela

relação de formalidade entre a ‘cliente’ e o ‘guia de turismo’. A posição hierárquica

superior da turista como cliente a ser servida pelo profissional guia determina o peso da

variante (P). O seguinte comentário do entrevistado deixa transparecer sua consciência

da existência de uma variável (R) responsável por dimensionar o FTA nas diferentes

culturas: “se fosse um brasileiro poderia até causar algum impacto assim, mas com

certeza ela não ficaria ruborizada, então sem dúvida que eles são muito formais.

Especialmente no primeiro contato né [...]” Outros exemplos do corpus apresentam

situações similares de ‘possíveis’ mal-entendidos pragmáticos, ocorridos em

contextualização profissional.

O 4º relato da 10ª entrevista ilustra uma cena ocorrida entre um funcionário e um

cliente e o 2º relato da 3ª entrevista descreve um exemplo entre funcionários de cargos

hierárquicos diferentes. A leitura desses dois casos, constantes nos anexos, nos

permitirá compará-los ao exemplo (1º rel. da 4ª entrev.) anteriormente analisado,

observando as variações na atribuição de peso para (D), (P) e (R).


Os falantes externam as emoções envolvidas nas interações relatadas,

influenciados pelo valor simbólico afetivo através do qual suas respectivas culturas

dimensionam o potencial de agressividade do FTA em questão.

No 2º relato da 3ª entrevista, a entrevistada conta que uma funcionária francesa

de posto hierárquico superior a um funcionário brasileiro teria chamado-lhe a atenção

por falhas no trabalho, fazendo um decalque da palavra stupide da língua francesa para

a palavra burro em português, dirigindo-lhe a palavra da forma seguinte: _Vous êtes

burro ou quoi? A leitura da cena pareceu ter recebido interpretações diferentes dos

interlocutores envolvidos. É provável que para a francesa sua expressão reflita apenas o

calor da discussão, mas para o brasileiro que teve suas faces positiva e negativa mais

fortemente afetadas foi uma catástrofe. Mesmo se considerarmos, que nas culturas

observadas, a dimensão ofensiva para a expressão utilizada não seja equivalente e que a

funcionária francesa não dominava o peso (R) dado ao FTA realizado na cultura

brasileira, é inegável que houve impolidez e intenção de agredir. Desta forma, não

consideramos este exemplo como um mal-entendido. Não houve ilusão de

compreensão, a mensagem transmitida foi perfeitamente apreendida pelas duas partes:

houve uma advertência, que se difere no peso da variável (R) nas culturas envolvidas

ocasionando conseqüentes variações no comprometimento das faces. Ressaltamos,

ainda, que mesmo na cultura francesa também teria um potencial de impolidez ainda

que fosse em menor grau.

O 4º relato da 10ª entrevista apresenta uma interação entre um funcionário que

pede para sentar-se à mesa de um cliente e recebe um não como resposta. É importante

citarmos que é uma prática deste Hotel estimular o convívio entre hóspedes e

funcionários adequadamente capacitados para exercer tais papéis. Nas boas vindas ao
Hotel, os clientes são cientificados do perfil do estabelecimento. Nosso preâmbulo é

para assegurar que é prática local, conhecida pelos freqüentadores, que estes

profissionais sentam-se à mesa nos almoços e jantares, desde que os clientes julguem

conveniente. As negativas para sentar-se à mesa são raras, mas por vezes ocorrem como

relata-nos o entrevistado. O exemplo parece representar um mal-entendido pragmático

porque recebeu interpretações divergentes dos falantes. Provavelmente o cliente francês

interpreta o pedido do funcionário como uma ameaça à sua face negativa, por isso como

numa tentativa de defesa territorial, nega-lhe a solicitação. O cliente brasileiro recebe a

recusa como uma ofensa, declarando o ressentimento pela ameaça à sua face positiva. A

entrevistadora pergunta: _ Nós leríamos o gesto como uma indelicadeza d´une certaine

façon, né? _Como uma humilhação!

Todo pedido expõe incontestavelmente a face daquele que o realiza e

considerando que o falante que recebe a solicitação poderá aceitá-la ou negá-la, esse

falante enquanto receptor acaba sofrendo uma pressão que representa uma ameaçada

para sua face também. O funcionário que relatou a cena está ambientado com clientes

franceses e os reconhece na entrevista como hóspedes mais reservados, que demandam

um maior cuidado principalmente no primeiro contato. Mesmo assim ele não lê o gesto

como uma reserva e sim como uma humilhação. Nessa batalha interativa de ameaça das

faces, ele se saiu mais fortemente atingido. Há uma relação de assimetria a ser

considerada: não se trata de um cliente negando a aproximação de outro cliente, mas de

um hóspede recusando a companhia de um funcionário, ou seja, o peso das variáveis

(D) e (P) será potencializado. Neste caso, o contexto profissional inibe a reparação do

mal-entendido e a estratégia de polidez utilizada pelo falante é deixar transparecer o fato

com naturalidade, como se não tivesse sido atingido. A ilusão de compreensão não é
dissipada e o exemplo parece aproximar-se das ‘situações interculturais

desconfortáveis’ descritas por Kerbrat-Orecchioni (1994) e Carroll (1987). Queríamos

ainda problematizar neste exemplo a crítica desenvolvida em análises anteriores quanto

à atribuição de um ethos mais ‘objetivo’, mais ‘direto’ na forma de se expressar dos

franceses em comparação a dos brasileiros. A apresentação direta com que a negativa

foi construída pelo falante francês parece destoar da forma adornada de atenuações com

que ‘grande parte’ dos brasileiros formularia um ‘não’ como resposta. Desta forma, esse

exemplo parece dispor de dados que contribuem para a fundamentação de nossas

hipóteses. Acreditamos tratar-se aqui de um mal-entendido com as seguintes causas:

variações na forma de interagir de mais objetividade vs menos objetividade e

julgamento inapropriado de ‘grosseria’.

Um fator importante a lembrar sobre análises comparativas interculturais foi

ponderado por Kerbrat-Orecchioni (1996, p.106): “[...] um princípio fundamental do

domínio intercultural: é o princípio do tudo é relativo.” A autora explica que se pode

considerar que uma sociedade S1 possui determinada característica em relação a uma

sociedade S2, mas pode-se atribuir à S1 uma característica inversa caso seja comparada a

uma sociedade S3.”

Ainda entre os exemplos de mal-entendidos pragmáticos, gostaríamos de

destacar o 2º relato da 4ª entrevista, cuja transcrição encontra-se nos anexos. Um

concierge brasileiro que trabalha em um hotel no Rio de Janeiro relata a cena de

interação vivida com uma hóspede francesa.

A atitude do funcionário de se oferecer para marcar um horário no salão de

cabeleireiro do hotel para a cliente foi interpretada como oportunista, como um meio de

pedir comissão. O entrevistado relata que no momento da interação não percebe que a
hóspede teria realizado essa interpretação, não tendo a dimensão do que seu gesto teria

significado para a hóspede. Só no fechamento da conta, o funcionário teria tomado

conhecimento do mal-entendido, através de reclamação deixada por escrito pela cliente.

Acreditamos que o fato de estar em contato com um meio cultural diferente tenha

gerado na hóspede expectativas embasadas em percepções estereotipadas. Julgamentos

inapropriados sobre a expressão lingüística ou comportamental do ‘outro’ na interação

são apontados como causas de muitos mal-entendidos inculturais. Kerbrat-Orecchioni

(2006) lista a obsequiosidade entre esses possíveis julgamentos inapropriados. A

hóspede parece ter interpretado a obsequiosidade do funcionário como excessiva,

nutrindo uma ilusão de compreensão que não correspondia às boas intenções do

concierge. O cálculo interpretativo realizado pela cliente fez com que ela traduzisse

como ameaça à sua face negativa a atitude do funcionário. Houve neste caso, a

sinalização através da linguagem escrita para o mal-entendido, que permaneceu,

entretanto, sem resolução. Já discutimos anteriormente que quanto maior é o tempo

entre a ocorrência de um mal entendido e sua percepção e conseqüente reparação,

maiores serão os danos por ele provocados na interação.

Destacaremos algumas entrevistas que não refletiram exatamente ocorrências de

mal-entendidos, mas que se mostraram pertinentes como observações contrastivas no

contexto profissional hoteleiro em interações entre as culturas brasileira e francesa.

Chamamos a atenção para a leitura do 1º relato da 5ª entrevista, que fala sobre a

instalação de uma conhecida rede hoteleira francesa no Brasil. O fato interessante foi a

sensibilidade da empresa para a adequação de alguns serviços oferecidos em função das

diferenças sócio comportamentais entre o Brasil e a França. O exemplo ilustrado relata

que o modelo aplicado pela Rede hoteleira de ter o banheiro no corredor foi julgado
inadequado dentro dos moldes culturais brasileiros, exigindo uma adaptação de suítes

no quarto. Os 1ºs relatos da 16ª, 20ª e da 26ª assim como o 2º relato da 17ª entrevista

descrevem alguns hábitos dos franceses à mesa sob a ótica dos brasileiros também

apontados como pontos de contrastes.


1.3. Análise da amostra ACI

As entrevistas concedidas para esta amostra refletem um pouco da construção

identitária que o falante brasileiro idealiza de seu interagente francês e vice-versa. Não

houve imposição de um tema específico a ser relatado, porém alguns temas mostraram-

se naturalmente recorrentes, comprovando que muitas observações contrastivas

interculturais vão além de uma voz isolada, com percepções individualizadas. Por vezes

eles representam um coral de vozes que identificam características específicas de um

grupo social, que chamou a atenção do relator exatamente por diferir dos hábitos, dos

comportamentos e da organização social em sua cultura.

Essas apreciações revelam muitas vezes importantes contrastes culturais que em

alguns contextos interativos podem se traduzir em ameaças às faces dos interlocutores e

por conseqüência em promotores potenciais de mal-entendidos interculturais.

O 4º relato da 7ª entrevista revela diferenças comportamentais no sistema

interacional que representa a manipulação do pão para a venda. Uma brasileira que vai

morar e trabalhar com sua irmã, proprietária de uma padaria na França relata seu

estranhamento ao ver que era um hábito para os franceses, manipular o pão com as

mãos para entregar aos clientes no balcão de vendas. A descrição da brasileira revela-

nos o quanto o gesto pareceu-lhe ameaçador à sua face positiva, enquanto vendedora, e

à sua face negativa, pondo-se no lugar do cliente: “_Ah franchement c’est sale, c’est

avec la main ! ce n’est pas acceptable quoi ! Mais oui, lá bas ils servent avec la

main.” 42

42
_Ah francamente, isso é sujo! Pegam com a mão, isso não é aceitável! Mas sim, lá eles servem com as
mãos.
Logo em seguida a entrevistada justifica sua decepção : “Oui oui ça m’a choqué

beaucoup, parce que on imagine la France..., tout le monde poli, très classique, etc...” 43

Sua observação atesta a existência de um estereótipo de polidez francesa não condizente

com a prática de pegar o pão diretamente com as mãos, sem o auxílio de pinças, sem

papéis para embrulhar. Por ser um hábito diferente do empregado na cultura brasileira,

ele estimula a produção de julgamentos inapropriados. Este exemplo demonstra também

a construção de esquemas de conhecimentos diferentes entre brasileiros e franceses para

a ação em questão. Quando a entrevistada compreende tratar-se de uma conduta

generalizada, torna-se mais fácil respeitar o modo do outro ‘agir’: c’est différent car

j’étais de l’autre côté, avec la vendeuse qui c’est ma soeur d’ailleurs et en voyant

comme ça donner le pain avec la main directement je lui ai demandé si c’était normal,

elle m’a dit qu’au début elle a trouvé bizarre aussi mais c’est comme ça partout en

France, et après j’ai vu que c’était vrai. A tomada de consciência de variações de

alguns comportamentos construídos sócio-culturalmente auxilia na interpretação do

funcionamento dos sistemas interacionais.

Sugerimos a leitura de outros exemplos que exploraram a mesma temática sob a

ótica do comprador: o 1º relato da 11ª entrevista e o 2º relato da 13ª entrevista.

Ainda sobre o pão, mas falando de sua importância para os franceses nas três

refeições do dia e de sua manipulação à mesa, como pontos divergentes da cultura

brasileira citamos os seguintes casos: o 4º relato da 6ª entrevista, o 1º relato da 7ª

entrevista e 6º relato da 14ª entrevista.

Os contatos corporais, as agressões visuais, sonoras e olfativas foram listadas

por Brown e Levinson (1978) como atos ameaçadores à face negativa daqueles que

43
_Sim, sim, isso me chocou um pouco, porque a gente imagina a França..., todo mundo educado, muito
clássico, etc...
sofrem a ação. Na amostra ACI, as menções aos odores corporais descritas por

brasileiros experienciadas em interações com franceses ilustram o grau de ameaça à face

negativa ressentida por aqueles. Outras entrevistas, que exploram a mesma temática

mostraram-se mais conscientes da existência de diferentes hábitos sócio-culturais entre

brasileiros e franceses, capazes de despir a roupagem de FTAs dessas percepções

olfativas. De uma forma ou de outra, esses depoimentos tornam-se relevantes para a

análise de contrastes culturais que se mostraram influentes nas interações entre

brasileiros e franceses. Vejamos agora algumas entrevistas e alguns trechos de relatos,

que aconselhamos a leitura na íntegra para o acompanhamento das análises:

Entrevista nº 1, relato 6
1. F: Au Brésil les gens n’aiment pas sentir leur odeur personnel et imposer
2. aux autres l’odeur de la sueur c’est très mal vu. Les gens se
3. douchent beaucoup et par exemple parfois même deux fois par jours,
4. trois fois par jours s’il fait très chaud au Brésil. j’ai vu des familles
5. ( ) chez les enfants de prendre des douches sans arrêt
6. parce que les enfants avaient couru ops ! ils allaient prendre une
7. douche sans arrêt et moi, en France, je connais des enfants qu’il
8. faut obliger à se laver, ils veulent pas se laver les enfants français ils
9. ont pas envie de se déshabiller il fait froid ils grelottent même les
10. bébés des fois ils n’aiment pas le bain parce qu’ils ont froid et au
11. Brésil j’ai trouvé que c’était le contraire même les enfants ils adorent
12. prendre des douches parce qu’il fait tellement chaud alors ça soulage
13. ça fait du bien. Ils posent que des odeurs eh... Au Brésil il faut faire
14. très attention de ne pas imposer son odeur personnelle. il faut utiliser
15. des déodorants ou des parfums. J’étais surprise de voir que les
16. brésiliens adoraient le parfum (elle rit). En Europe ça dépend de gens
17. mais il y a beaucoup de gens qui pensent aussi que le parfum c’est du
18. luxe, c’est de l’argent jeté par les fenêtres. Par exemple ma mère elle
19. n’a jamais utilisé un parfum dans sa vie toute entière. Jamais. Et pour
20. elle c’est presque un principe, elle n’utilise pas de parfum. Elle n’est
21. pas superficielle. Elle ne passe pas sa vie à se pomponner à se
22. maquiller à s’habiller et au Brésil j’ai l’impression que presque tout
23. les Brésiliens aiment les parfums que pour eux presque tous les
24. Brésiliens c’est très important et même peut-être dans l’Amérique
25. Latine en générale. Peut-être pas seulement au Brésil eh... bon il faut
26. faire attention dans cette différence de culture au dans le couple
27. parce que si on a une odeur de sueur alors là c’est une catastrophe
28. pour le partenaire quand il est Brésilien.
29. F e E: (beaucoup rire)

Entrevista nº 3, relato 1
1. As mulheres bem maquiadas e tudo mais O problema
2. era o cheiro que disseminam pelas ruas pelo metrô. Eu senti assim,
3. muita dificuldade porque eu fiz alguns pequenos trajetos em metrô
4. e em ônibus e assim haviam muitas pessoas que exalavam um cheiro
5. muito desagradável mesmo com um perfume se notava aquele cheiro muito forte[...]
8. Os franceses assim vários vários, muitas vezes não foi uma vez um dia, foram dez
9. dias em que eu ficava alucinada desesperada porque eu tinha a sensação de
10. quem ninguém tomava banho naquela cidade, alguns eram uma exceção
11. mas eu sinceramente eu senti como se fosse a maioria. [...] Né então pra gente
12. isso era algo que completamente destoava da nossa realidade Por exemplo uma
13. brasileira que tava morando lá comentou sobre o uso de toalhinhas pra
14. limpeza do corpo em lugar de tomar banho né [...]

Entrevista nº 6, relato 1
1. F: É então, então assim essa coisa de que o...francês não toma banho Isso
2. não é real. Algum tempo atrás há muito tempo atrás não existia água quente
3. Então o banho, ele era um banho na semana, mas assim o banho na semana
4. não é que a pessoa ficaria sem tomar banho. Eles têm umas toalhinhas de
5. mão, tipo uma luva de...de pegar panela.
6. E: É!
7. F: feito do suporte de toalha. Do pano de toalha. Eles tomavam banho com
8. aquilo.Eles lavavam as partes é é é
9. E: mais reservadas
10. F:que suavam mais, mais reservadas. De baixo do braço né, perna, cabelo
11. eles lavavam o cabelo. O fato de não banho é aquela coisa de jogar a água
12. em cima do corpo inteiro, assim ensaboar. Isso realmente não existia, era
13. uma vez na semana isso. É... então assim, uma vez na semana isso é...uma
14. vez na semana eles tomavam um banho inteiro, mas todos os dias eles se
15. banhavam, se molhavam, se lavavam com essas toalhinha. Então assim, não
16. é que eles era não eram higiênicos e a e assim lugar frio, você não precisa
17. tomar banho todos os dias, realmente porque você não sua. É claro que tem
18. as células mortas, disseram que a gente tem que remover mas, na época
19. chuveiro na França é uma coisa recente não é uma coisa antiga. Sem contar
20. que a água quente lá.. a eletricidade é muitooo muito cara. A água quente é
21. um ba eles pegam um de sistema de balão de água. Então quanto mais você
22. demora na água, mais gelada a água chega dentro desse balão e pra esquen-
23. tar demora bastante, então o consumo é muito alto. O pessoal de de francês
24. não tomar banho é é o fato é exatamente esse.Não jogavam água no corpo
25. inteiro. Tomavam banho sim. Eu eu morei na França. Eu utilizava uma rou-
26. pa branca poooor dois três dias. Aqui a gente usa uma roupa branca em um
27. dia né por da umidade da poeira. Lá não, lá não suja. Lá roupa branca não
28. suja, que a gente não sua, o clima é frio, é seco.
29. E: _Mas a leitura que os brasileiros fazem é outra né? Que o europeu não
30. tem o mesmo asseio que o brasileiro.
31. F: É é sem dúvida, mas assim. É aquela história de quem conta um pon..
32. quem conta um conto aumenta um ponto né. Então a coisa foi se propa-
33. gando e dizendo tudo isso. É óbvio que essa coisa de asseio existe por
34. uma questão cultural e de necessidade. A gente realmente precisa tomar
35. três banhos por dia ou mais, a gente precisa tá sempre com roupas
36. limpas porque suja realmente o suor suja a poeira suja a umidade suja
37. então isso acaba fic se você fizer uma coisa contínua isso vai deixar de
38. ser uma rotina pra virá uma coisa cultural isso passa de geração em geração
39. e se transforma em cultura. É como a criação européia a criação francesa
40. mais ou menos isso.

Entrevista nº 10, relato 2


1. E. E a segunda observação do metrô que você comentou né?
2. F. Eu estava no inverno é...dentro do metrô dentro de um vagão de
3. metrô e observando um casaco de pele muito bonito, houve um
4. desequilíbrio no metrô, a gente se ajeitou e aí ela se segurou, essa
5. pessoa levantou e levantaram essa senhora e essa senhora levantou o
6. braço e um odor muito forte de suor (risos). Aí eu me lembrei da
7. época que eu trabalhava saindo da zona sul e ia pra zona norte do meu
8. trabalho isso já no Brasil. No Brasil, dentro de um ônibus e aí no
9. horário que as pessoas estão saindo dos seus trabalhos e todas elas
10.tinham tomado banho e eu, apesar do calor do Rio de Janeiro, nenhum
11. momento eu senti um cheiro tão forte de suor como naquela vez em
12. Paris que ficou muito registrado.

Entrevista nº 13, relato 1

1. F. Uma coisa cultural assim bem de banho mesmo né?, a primeira foi
2. assim eu trabalhava na IBM na época e o projeto que eu trabalhava era um
3. projeto mundial da IBM e o sistema era francês. Então eu tinha um contato
4. muito grande como pessoal da França, aliás o pessoal do mundo inteiro mais
5. da França porque foi desenvolvido lá. Aí veio uma época, um cara pra ficar
6. uns 3 meses aqui no Brasil e ele veio bem nessa época de verão.
7. Chegou aqui, primeiro que o cara continuou com o hábito dele de não tomar
8. banho, então passou um, dois, três dias e a gente não agüentava mais o cara
9. da IBM e ele ia todo dia com o mesmo casaco, o casaco azulzinho da Adidas,
10. todo dia também de casaco na IBM com esse calor, era engraçado
11. (riu) porque a gente entrava nas salas da IBM de reunião e as salas
12. não tinham janelas sentava todo mundo num canto da sala de um lado
13. da mesa e ele do outro lado da mesa, a gente não podia fechar a porta
14. por causa do cheiro e todo mundo ficava assim constrangido por causa do
15. cara, não dá pra falar pro cara.
16. E. E ele não percebia em nenhum momento esse afastamento?
17. F. ...Ele era um cara assim que eu acho que a personalidade dele ele era um
18. cara assim meio tímido, caladão, não era de conversar muito só falava de
19. trabalho né ia almoçar com a gente no campo de refeitório da IBM, aí lá
20. pelas tantas foi engraçado, porque tinha um cara que trabalhava com a gente
21. que era mais cara-de-pau e aí ele fazia natação no clube do botafogo. Aí
22. (risos) ele foi chamou o francês pra ver se queria fazer natação com ele
23. pra ver se pelo menos ele ia entrar na água e melhorar o cheiro né, ah
24. Eu tô fazendo natação de manhã é super agradável e tal, mas ele não foi
25. mesmo assim.
26. E. Foi uma alternativa então né?
27. F. Ah foi pra ver se pelo menos ele ia se molhar e tirava o cheiro
28. né?
29. E continuando assim no mesmo sujeito eu estava em Paris
30. novamente aí fui passear e visitar a Torre Eiffel, fui pegar aquele
31. elevadorzinho que leva lá pros andares da Torre né, aí lotado né, aí eu entrei
32. fui uma das últimas a entrar, aí entrou um francês grudado em mim aí o cara
33. fedia tanto, tanto, tanto, que eu tive que prender a respiração pra não ficar
34. sufocada sentindo o cheiro dele né. Aí fui poxa né segurando a respiração
35. até chegar lá no andar, pra tentar me livrar um pouquinho, mas foi forte! (risos).

O 6º relato da 1ª entrevista foi feito por uma francesa, que ilustra sua percepção

da visão contrastiva entre brasileiros e franceses do caráter ameaçador dos odores

corporais. A entrevistada inicia o relato dizendo que no Brasil as pessoas não gostam de

sentir seus próprios odores e que impor os odores pessoais aos outros é muito mal visto.

No fim do trecho que selecionamos, ela declara que é preciso tomar cuidado com essa

diferença cultural entre casais formados por brasileiros e franceses, pois o odor do suor

é visto como uma catástrofe para o(a) parceiro(a) brasileiro(a). Os 1os relatos das

entrevistas 3 e 13, assim como o 2º relato da 10ª entrevista concedidas por brasileiros

ratificam as apreciações da entrevistada francesa. Um fator importante na análise

comparada desses depoimentos é a constatação de que aquilo que parece óbvio aos

participantes de uma cultura não o é necessariamente aos de uma outra. A evidência de

que o suor do outro é ofensivo, ou ao contrário, de que é mais um traço identitário é

construída e fundamentada social e culturalmente pelos indivíduos de uma dada

comunidade. Por essas razões, na fórmula sugerida por Brown e Levinson (1978) para

se dimensionar o grau de ameaça de um FTA, a variável (R) ganhará valores diferentes,

nas culturas brasileira e francesa, em suas atribuições ao potencial ameaçador das


impressões olfativas analisadas. Os adjetivos destacados (desagradável, desesperada,

alucinada, constrangido, grudado, sufocada) nesses relatos mostram o envolvimento

afetivo dos falantes como expressão do grau ameaçador daquelas interações para suas

faces. Divergências dessa natureza tornam-se pontos vulneráveis para promoção de mal-

entendidos interculturais. Relatos como o 1º da 6ª entrevista comprovam que só a

compreensão e admissão destes contrastes podem ajudar a redimir julgamentos

inapropriados. O entrevistado em questão mostra-se consciente da relação de

‘imposições naturais’ estabelecidas entre o meio social em que se vive e o

desenvolvimento dos hábitos numa dada cultura. Destacamos o seguinte trecho do

falante: ‘É óbvio que essa coisa de asseio existe por uma questão cultural e de

necessidade. A gente realmente precisa tomar três banhos por dia ou mais[...]” Esta

declaração parece complementar o depoimento da 1ª entrevistada: “ils veulent pas se

laver les enfants français ils ont pas envie de se déshabiller il fait froid ils (grellotent)

même les bébés, des fois ils n’aiment pas le bain parce qu’ils ont froid et au Brésil j’ai

trouvé que c’était le contraire même les enfants ils adorent prendre des douches parce

qu’il fait tellement chaud alors ça soulage ça fait du bien.’’ Há evidências nos trechos

destacados das realidades contrastivas de um país tropical e um país europeu,

favorecendo diferentes formas de interação do homem com o meio. Destas

constatações interessa-nos sobretudo acompanhar as conseqüências das interações deste

homem com o meio social, reveladas nas interações interculturais. Na interação face a

face, entre falantes pertencentes a meios culturais distintos, as divergências

comportamentais apresentam-se de forma mais intensa aos olhos do outro. A

abordagem investigativa da Sociolingüística interacional deve contribuir com a


exploração de dados que promovam o conhecimento entre as culturas na tentativa de

reduzir a distância naturalmente imposta por diferenças no agir, no falar e no interagir.

Os últimos relatos analisados comprovam as colocações de Kerbrat-Orecchioni

(1994) de que apenas a percepção de diferenças comportamentais no contato

intercultural não é suficiente para que os falantes as aceitem de imediato e muito menos

que erradiquem por completo todos os preconceitos éticos que elas resguardam.

Fundamentamos, mais uma vez, a partir dessas considerações o importante papel do

mal-entendido na tomada de consciência da existência de variações lingüísticas,

comportamentais inerentes à cultura do ‘outro’. Pois mesmo que a transformação no

modo de ver e aceitar esse ‘outro diferente’ demande de um tempo relativo, é necessário

promovê-lo o quanto antes, trazendo ao conhecimento o desconhecido, ou me

apropriando das palavras de Gumperz (1991) ‘tornando o invisível visível’.

Ainda no âmbito sensorial, recomendamos a leitura do 1º relato da 17ª entrevista

que ilustra percepções táteis e ou gustativas divergentes para definir e graduar noções

do quente ao frio nas culturas brasileira e francesa.

Destacamos a seguir quatro relatos que exploram o valor afetivo empregado às

formas de saudação ‘bonjour’ e ‘au revoir’ pelos franceses segundo a interpretação de

brasileiros. Prossigamos com as leituras:


Entrevista no 14, relato 1
F1: falante brasileira.
F2: falante francesa (vendedora).
Reconstrução da cena. 44
1. F1: _ Madame, s´il vous plaît, est-ce que vous/
2. F2 : _ Bonjour Madame!
3. F1: _ Bonjour Madame! S´il vous plaît, est-ce que vous avez
4. le médicament Oropivalone ?

Entrevista no 16, relato 1


F1: falante brasileira.
F2: falante francesa.
Reconstrução da cena. 45
1. F1: _ Pardon Madame, pardon.

2. F2 : _ Pardon, Bonjour Madame !

Entrevista no 18, relato 2


F1: entrevistada
1. E: A outra cena não aconteceu comigo, eu presenciei. Foi em um
2. estabelecimento na na França quando um cliente chega e pergunta pra um
3. senhor que atendia, já era um senhor de meia idade.
4. _Bonjour.
5. E logo em seguida iniciou o pedido dele quando foi cortado pelo senhor:
6. _Bonjour quoi? Bonjour mon chien? 46 {O senhor fazia questão do Bonjour
7. Monsieur. Eu achei de uma grosseria tremenda. E muito irônico pedir a polidez
do outro sendo tão grosseiro}.

44

1. F1: _ Senhora, por favor, a senhora/


2. F2 : _ Bom dia Senhora.
3. F1: _ Bom dia Senhora, por favor, a senhora teria
4. o medicamento Oropivalone?
45

1. F1: _ Por favor Senhora, por favor.


2. F2 : _ Por favor, Bom dia Senhora !
46
6. _Bom dia o que? _Bom dia meu cachorro?
Entrevista no 4, relato 1
F1: entrevistado
1. F1:Levei uns dias para entender porque para eles é tão importante dizer au
2. revoir ao final da comunicação. Quando eu agradecia, simplesmente e ia
3. embora, diziam-me, um tanto indignados
4. _ Au revoir, monsieur!
5. como se eu houvesse quebrado uma regra básica de polidez. Para mim, o
6. simples "merci" já dizia tudo. Dias depois, entendi que au revoir
7. significava, também, implicitamente: "câmbio, desligo". O simples
8. obrigado não dizia tudo, como diz em português. Passei, daí por diante, a
9. usar a fórmula e sentir-me, naqueles dias, também eu estrangeiro, um pouco
10. mais integrado...

Os 1os relatos das entrevistas 14 e 16 mostram que a valoração afetiva atribuída

para a saudação de bom dia(bonjour) não é a mesma entre brasileiros e franceses. Na

cultura francesa, a expressão parece fazer parte de um ritual de abertura das interações e

o seu não cumprimento pode ser interpretado como uma invasão territorial, como

atestam os exemplos. A 16ª entrevistada comenta: “Você pra iniciar uma conversação,

seja pra pedir uma informação na rua é... não importa qual, você tem que começar pelo

bonjour. [...] E aí o bonjour já vinha com aquela carga de quem diz: _ Você não sabe

que o código aqui né cultural você tem que primeiro dizer o bonjour pra depois você vir

com a sua pergunta?”

Da mesma forma que os franceses interpretam a omissão do bonjour nas

aberturas interativas como uma ameaça à face negativa, a maneira sistemática com que

eles cobram o uso da saudação de seus interlocutores é traduzida por esses como

impolidez. Os brasileiros parecem reconhecer o pedido como uma repreensão,

consequentemente como uma ameaça à face positiva. Testemunha a 14ª entrevistada:

“Quando ela disse _ Bonjour Madame, eu me senti repreendida como uma criança que é
chamada a atenção pela mãe: Como é que se fala mocinha? Antes de qualquer coisa

BONJOUR! Repreendida foi assim que me senti, repreendida. Foi uma espécie de

alerta, já tinha acontecido antes, mas desta vez ela foi tão incisiva que me marcou mais

e eu tomei mais cuidado daí por diante.”

O 2º relato da 18ª entrevista mostra modo grosseiro com que um falante requisita

o bonjour acompanhado da forma de tratamento Monsieur. O exemplo não poderia

deixar de ser interpretado como impolidez. A ironia deste caso encontra-se no fato de

que a arrogância do locutor francês sobre seu interlocutor brasileiro para a utilização da

fórmula completa ‘bonjour monsieur’ funciona como uma comprovação de que a

formulação ‘incompleta’ lhe soara como grande ofensa, ou seja, ameaça significativa à

sua face negativa. Trata-se então de uma defesa territorial com o uso de um FTA sobre

um FTA na perspectiva do falante francês. A interpretação mais provável do falante

brasileiro é a do comprometimento de sua face positiva, mediante a cena

constrangedora.

O 1º exemplo da 4ª entrevista revela-nos a percepção de um brasileiro quanto a

importância dada pelos franceses ao emprego do au revoir como saudação de

fechamento das interações. A apreciação contrastiva do entrevistado revela que na

cultura brasileira há uma maior flexibilidade no encerramento interativo, podendo-se

por exemplo omitir a saudação final, caso a interação termine com um agradecimento.

Na ocasião do II Simpósio Internacional de Letras Neolatinas em setembro de

2007 na faculdade de Letras da UFRJ, ao ministrar um mini-curso sobre interação,

Kerbrat-Orecchioni relata uma experiência vivenciada sobre a temática da saudação

com o bonjour. Jocosamente, a pesquisadora inicia o depoimento contando que munida


de seus artefatos de polidez abordou, em plena rua, um guarda de trânsito para pedir

uma informação. Descrevemos a cena logo abaixo:

K-O : _Monsieur, s´il vous plaît/


Guarda :_Bonjour Madame.
K-O :_Bonjour Monsieur, s´il vous plaît...

Kerbrat-Orecchioni na condição de pesquisadora e francesa não desconhece o

uso do bonjour como elemento de abertura de trocas interativas. Entretanto, ela nos

assiná-la ter havido uma gradativa expansão da obrigatoriedade do bonjour em

enquadramentos que antes não o exigiam, como por exemplo a cena do pedido de

informação em plena rua, por ela relatada. A lingüista revela que a interpelação de seu

interagente, remetendo-a para a reabertura da interação soou-lhe como uma leve

repreensão.

O contato com os depoimentos da amostra ACI mostrou o quanto diversidades

sócio-comportamentais e culturais podem tornar-se ameaçadoras às faces dos

participantes nas interações interculturais.


2. ANÁLISES CONCLUSIVAS

2.1. A delimitação do mal-entendido

A análise de nosso corpus confirma a existência de uma estreita relação entre o

mal-entendido e alguns fenômenos comunicacionais adjacentes, que reivindicam

delimitações mais expressivas de suas características próprias, para que não venham a

ser tomados uns pelos outros, nem por uma ocorrência de mal-entendido.

Percebemos que alguns relatos ilustraram a ocorrência de enganos, situações de

impolidez ou de gafes em concomitância com casos de mal-entendidos, ou de forma

isolada. Na tentativa de melhor ilustrar esses conceitos, que parecem funcionar de modo

paralelo ou tangencial ao mal-entendido, ou seja, co-ocorrendo com o fenômeno,

promovendo-o, ou ainda sendo por ele promovidos, propomos a construção do esquema

seguinte:

ESQUEMA 3:

enga-
no
gafe

Ironia
Mal-
entendido
impolidez

ato falho

ruído mal-
ent.
delibe
rado
A representação gráfica em forma de margarida tem o intuito de ilustrar a

relação de contato estabelecida entre o mal-entendido e alguns fenômenos

comunicacionais adjacentes. Colocamos o mal-entendido na posição nuclear do miolo e

acomodamos em suas pétalas os fenômenos periféricos da impolidez, da gafe, do

engano, da ironia, do ato falho, do mal-entendido deliberado e do ruído. Esta estrutura

gráfica pretende evidenciar a delimitação desses conceitos periféricos como

manifestações distintas e esclarecer suas vinculações com o fenômeno central.

As áreas de interseção formadas entre o mal-entendido e os fenômenos que o

margeiam simbolizam os aspectos em comum entre os mesmos. Para melhor explorar

essas características comuns, recorremos, mais uma vez, à definição de Hérédia (1987)

para o mal-entendido. A autora define-o como uma ‘ilusão de compreensão’ temporária

ou permanente entre dois ou mais falantes. A partir desta conceituação, afirmamos

embasados nos resultados obtidos em nossas análises, que essas áreas sinalizadas como

interseções, em alguns fenômenos periféricos ilustrados, também abrigam uma parcela

‘ilusória’ daquilo que foi expressado ou compreendido: como por exemplo, nos casos da

gafe (para aquele que a realiza), do engano e da ironia não assimilada.

Hérédia (1987, p.50) diz ainda que nos casos de mal-entendidos cada falante dá

a uma palavra, a um enunciado ou a uma situação um sentido que lhe é próprio, mas que

diverge daquele empregado por seu interlocutor. De uma forma menos evidente, a

impolidez, os ruídos e os atos falhos constroem seus pontos de interseção com o

fenômeno nuclear porque também suscitam a existência de ‘divergências’. No caso do

mal-entendido deliberado, como toda réplica, ele simula características semelhantes às

de um mal-entendido real, esboçando conseqüentemente áreas de interseção.


Sugerimos a leitura gráfica, começando pelo fenômeno adjacente que foi mais

recorrente em concomitância com o mal-entendido, tanto nas amostras de corpus em

Contexto Livre Diversificado (CLD) quanto naquelas em Contexto Profissional

Hoteleiro (CPH). Sendo assim, a interpretação do gráfico deve ter início na pétala mais

escura, que representa a impolidez. A partir daí realiza-se um movimento no sentido

horário, ilustrado pela diminuição gradativa do tom azul, que expressa de forma

decrescente, o índice de recorrência destes fenômenos comunicacionais nas amostras

CLD e CPH. A representação do ato falho dá início aos tons mais claros que refletem a

quase inexistência dele e dos fenômenos seguintes entre os relatados do corpus.

Se estabelecemos que esses conceitos constroem uma interseção no ponto

central, justificando sua relação causal, ou de conseqüência, ou ainda de co-ocorrência

com o mal-entendido, admitimos que o esquema 3 permitiria a inserção de outras

pétalas conceituais. Poderíamos ainda reorganizar a ordem de apresentação dos

fenômenos periféricos, privilegiando suas características em comum, como expõe o

esquema seguinte onde há interseção entre as pétalas adjacentes e não apenas destas

com o núcleo central:

ESQUEMA 4:

ato
falho

gafe

impolidez Mal-
entendido
A co-ocorrência de gafes com casos de impolidez proporcionaria a construção de

um ponto de interseção entre esses fenômenos, da mesma forma que a realização de um

ato falho que provocasse uma gafe promoveria uma área em comum. Esta reflexão

apresenta um novo critério para a ordenação das pétalas no esquema 4 e evidencia a

pertinência das relações estabelecidas dos fenômenos discursivos expostos entre eles

mesmos e deles com o fenômeno do mal-entendido.


2.2. A comparação dos resultados obtidos nas amostras

A aplicação da divisão tipológica sugerida por Bazanella e Damiano (1999) de

mal-entendidos fonéticos, lexicais, semânticos, sintáticos e pragmáticos revelou a

possibilidade da conjunção desses casos em alguns exemplos de mal-entendidos

analisados em nosso corpus. Para a análise dos resultados os quatro primeiros tipos

foram reunidos nos casos lingüísticos e contabilizamos os casos pragmáticos

separadamente. Sobretudo as ocorrências lexicais e pragmáticas apresentaram a atuação

de componentes semânticos. Nossos resultados corroboraram Dascal (2006) quando o

autor afirma existirem formas específicas de interação das diferentes ‘camadas de

significância’ do enunciado, tanto para a promoção do entendimento quanto do mal-

entendido.

Os resultados das análises mostraram que em Contexto Livre e Diversificado

(CLD) os casos de mal-entendidos interculturais pragmáticos com a co-ocorrência de

impolidez foram mais freqüentes. A amostra recolhida em contexto profissional

hoteleiro (CPH) apresentou um equilíbrio na ocorrência de mal-entendidos lingüísticos

e pragmáticos, havendo ainda uma terceira fatia de relatos, na mesma proporção que os

demais, que se restringiu ao preenchimento do perfil identitário do hóspede francês.

Vejamos o gráfico seguinte:

GRÁFICO 1
30

25
Mal-entendidos
20 pragmáticos
15 Mal-entendidos
lingüísticos
10
Perfil identitário do
5 hóspede francês

0
CLD CPH

A amostra CPH em comparação a amostra CLD apresentou resultados mais

equilibrados na ocorrência de mal-entendidos pragmáticos e lingüísticos. Interpretamos

esse dado como uma conseqüente resposta à maior ‘limitação’ e repetição dos

enquadramentos das cenas vividas nas interações do ‘profissional com o cliente’ em

ambiente de trabalho. Da mesma forma que uma ‘relativa’ recorrência aos mesmos

esquemas de conhecimento, imposta pela atuação profissional destes falantes, ajuda

como elemento referencial nas trocas comunicativas. Não esqueçamos, no entanto, que

durante uma interação intercultural, o locutor estará sujeito a desenvolver seu cálculo

interpretativo recorrendo aos esquemas de conhecimento que construiu através de sua

vivência sociocultural, assim como poderá ser requisitado a interpretar os esquemas

referidos, explícita ou implicitamente, por seu interlocutor de uma cultura diferente.

A re-ocorrência de mal-entendidos vivenciados e detectados pelos falantes em

contexto profissional mostrou que os ‘rituais de realização de tarefas’ no ambiente de

trabalho contribuem para o reconhecimento de divergências lingüísticas e

comportamentais que podem funcionar como causas do mal-entendido. Vimos que em

ambiente livre e diversificado abre-se um leque de possibilidades interativas

infinitamente maior, o que expõe os falantes à constante realização de novos enquadres

e a uma recorrência mais dinâmica a seus esquemas conhecimento.


Os resultados obtidos na definição do perfil identitário do hóspede francês

descrito por funcionários brasileiros estão expostos no gráfico seguinte:

GRÁFICO2

100

80

60
Hóspede francês
40 Hóspede brasileiro

20

0
Formalidade Objetividade Exigência Polidez

Pedimos durante as entrevistas realizadas que funcionários de hotelaria

definissem o perfil identitário do hóspede francês em comparação ao hóspede brasileiro,

através da comparação de algumas características. Entre as variáveis destacadas,

selecionamos as mais expressivas para a análise. O índice de resposta para a

formalidade foi de 94% para os franceses e 6% para os brasileiros e para a objetividade

foi de 88% para os franceses e 12% para os brasileiros. Os entrevistados classificaram

os hóspedes franceses e brasileiros com níveis de exigência bem aproximados, com

48% das respostas para os hóspedes franceses e 52% para os hóspedes brasileiros. Esta

foi a variável mais marcada para os hóspedes brasileiros e a única que apresentou leve

predominância sobre o índice atribuído aos franceses. Quanto à polidez, relacionada

sobretudo ao agradecimento por serviços prestados, os franceses receberam 68% das

atribuições em detrimento do índice de 32% dado aos brasileiros. Esses resultados

expressam o perfil identitário do hóspede francês em relação ao hóspede brasileiro


como extremamente mais formal e objetivo, mais polido e quase tão exigente quanto o

hóspede brasileiro.

Alguns relatos analisados na amostra CLD (1º rel._16ª entrev./ 4º rel._19ª

entrev./ 5º rel._19ª entrev.) e na amostra ACI (2º rel._ 2ª entrev.) atribuíram

explicitamente um perfil comunicativo ‘mais objetivo’ aos falantes franceses em

comparação aos falantes brasileiros. Os altos números da variável ‘objetividade’

conferida aos hóspedes franceses na amostra CPH sugerem um ethos mais objetivo

entre os falantes da cultura francesa, pelo menos nas circunstâncias (dar

informações/tecer comentário pessoal) e na contextualização (área hoteleira) observadas

por nossos entrevistados.

A amostra ACI reuniu apreciações contrastivas entre as culturas brasileira e

francesa que funcionaram como indicadores de diferenças lingüísticas, comportamentais

e de organização social. Essas temáticas que acentuam divergências entre as duas

culturas são fatores mais suscetíveis a promoção de mal-entendidos. Destacamos, aqui,

as que versam sobre: a ‘inclusão dos idosos na família’ (1ºrel., 9º rel._1ª entrev.); ‘o

corpo, a vaidade, a beleza’(4ºrel., 5ºrel., 10º rel._1ª entrev.); ‘o tratamento com as

crianças e jovens’(3ºrel._1ª entrev./ 2ºrel._6ª entrev.), ‘o espaço físico da casa’ (3ºrel._7ª

entrev./ 7ºrel._14ª entrev.), ‘o café da manhã, o queijo, o pão, os comentários à mesa’

(4ºrel._6ª entrev./ 1ºrel._7ª entrev./ 2ºrel._9ª entrev./ 5ºrel._14ª entrev.)’, ‘a cidadania, a

honestidade’ (3ºrel._6ª entrev./ 2ºrel._7ª entrev./ 3ºrel._8ª entrev.), ‘o banho’ (6ºrel._1ª

entrev./ 1ºrel._3ª entrev./ 1ºrel._6ª entrev.), ‘o banheiro misto’ (1ºrel._10ª entrev/

4ºrel._14ª entrev.) e ‘o riso’ (1º rel._1ª entrev.). Os olhares da cultura brasileira sobre a

francesa e da cultura francesa sobre a brasileira promovem o conhecimento social,

ajudando na interpretação da comunicação verbal e não verbal estabelecida entre seus


falantes. Essas apreciações contrastivas revelam normas sociais implícitas das culturas

em questão. A conscientização da carga afetiva empregada numa cultura em

determinadas ocorrências de mal-entendidos contribui para a compreensão do quanto

esses incidentes são interpretados como ameaçadores por esta mesma sociedade.

IV- CONCLUSÃO

Como procedimento analítico, atribuímos a todos os casos de mal-entendidos

analisados uma única fonte, representada pela situação que lhes foi condicionada: as

‘interações interculturais’. Partimos, então, para as investigações das causas promotoras

deste fenômeno discursivo com a ajuda dos modelos propostos por Kerbrat-Orecchioni

(1994, 2006) e Lüsebrink (2003).

Entre as causas mais expressivas na promoção dos mal-entendidos interculturais,

encontrados em nosso corpus, listamos os julgamentos inapropriados do representante

de uma cultura sobre o outro, a atuação da crença de uma universalidade lingüística e

comportamental, a assimetria de competência lingüística e comunicativa, e finalmente

as variações no sistema interacional, destacando-se os esquemas de conhecimento

divergentes dos interlocutores. A conjunção destes fatores intensifica a probabilidade de

haver ameaça às faces dos falantes envolvidos na interação. Por isso, muitos destes

relatos externaram sentimentos como a vergonha e o constrangimento como expressão

de ameaça à face positiva e destacaram o sentimento de indignação, demonstrando o

grau de ameaça à face negativa. Observamos duas estratégias realizadas pelos falantes
quando a ocorrência de um mal-entendido é assimilada como ameaça às faces: às vezes

os falantes realizam a reparação do mal-entendido num trabalho conjunto de

preservação das faces e em outros casos, é comum agir de forma indiferente ao

ocorrido, numa tentativa de mascarar a ameaça sofrida às faces. Nossos exemplos

comprovaram, entretanto, que não são todos os casos de mal-entendidos que se

traduzem em atos ameaçadores às faces. Constatamos ainda que nos casos de

concomitância do mal-entendido com a gafe ou com a impolidez o comprometimento

das faces é muito mais ressentido pelos falantes, exatamente pelo caráter ameaçador

intrínseco à natureza desses outros dois fenômenos discursivos. A ocorrência

significativa de exemplos que denunciaram ameaça seja à face positiva ou negativa dos

falantes envolvidos na interação consente-nos apontar para uma divisão tipológica de

‘casos de mal-entendidos com ameaça à face’ e ‘casos de mal-entendidos sem ameaça à

face’.

Foi comprovada nossa hipótese do papel de causalidade que pode ser exercido

por visões estereotipadas na promoção de alguns casos de mal-entendidos. Nossas

análises demonstraram que a percepção estereotipada sobre uma outra cultura alimenta

julgamentos, muitas vezes, inapropriados que se tornam com freqüência causadores de

mal-entendidos sobre um mal-entendido.

Fatores extralingüísticos mostraram-se presentes em alguns momentos como

causas promotoras do mal-entendido, mas em outras circunstâncias funcionaram como

um auxílio para sua resolução. Por isso Hérédia (1986) afirmou tratar-se de um

fenômeno dúbio que contém em sua gêneses indicadores para sua resolução.
Atestamos através de alguns relatos que o mal-entendido pode passar

despercebido, pode ser detectado, mas não resolvido ou na melhor das possibilidades,

observado e solucionado na interação. Nos casos em que não é percebido por uma ou

pelas duas partes, temos a impressão de que houve um ‘congelamento’ da interpretação

divergente que permanece submersa em uma ‘ilusão de compreensão’. Porém, nos casos

em que são detectados e reparados no discurso, trazem à baila impressões, percepções,

conhecimentos antes desconhecidos, evocando o caráter ‘produtivo’ deste fenômeno.

Os resultados obtidos no trabalho de pesquisa e na análise do corpus

comprovaram em vários aspectos papel revelador do mal-entendido. Primeiramente, a

experiência de um mal-entendido intercultural vivenciado e percebido pelos falantes

pode tornar-se um elemento produtivo para a compreensão e assimilação das regras

implícitas de competência comunicativa exigidas numa determinada troca interacional.

Quando a sua ocorrência se dá pelo desconhecimento de ‘regras sócio-interacionais’ da

outra cultura em contato, então a detecção desse mal-entendido deflagra a existência e a

infração dessas ‘regras’, conferindo ao fenômeno discursivo um status sinalizador em

futuras trocas interativas em contextos similares.

Em segundo lugar, também podemos constatar a função reveladora do mal-

entendido quando sua aparição permitir que os falantes revisem seus esquemas e tomem

conhecimento da existência de outros, ligados à cultura de seu interlocutor. Exemplos

da amostra CPH relatam que experiências de mal-entendidos vividos trouxeram a

percepção de que as noções para os pontos de preparo da carne não coincidem entre

brasileiros e franceses. Por isso, nesses casos, os garçons anotam na comanda a

nacionalidade do cliente.
As amostras CLD e ACI também estão repletas de exemplos que comprovam a

tomada de consciência dos falantes para diferenças, através do mal-entendido - como

nas experiências relatadas por falantes que percebem o uso obrigatório do ‘bonjour’ nas

aberturas interativas com os franceses, empenhando mais atenção em situações futuras;

ou como o falante que usou o verbo ‘partir’ em francês querendo expressar recortar,

mostrou-se sensível ao uso do verbo, ao relatar sua vivência. Da mesma forma,

experiências com mal-entendidos gerados por gestuais não coincidentes entre brasileiros

e franceses revelaram-se como fontes de conhecimento da cultura do outro: como no

exemplo do braço esticado para parar o ônibus no Brasil que inexiste na França, ou no

caso do mesmo gestual que indica ‘medo’ para os franceses e ‘muito’ para os

brasileiros. Esta nos parece ser uma propriedade da função iluminadora do mal-

entendido: contribuir para a dinamicidade dos esquemas de conhecimento,

permanentemente revistos após o contado com novas vivências.

Estes relatos nos fazem refletir sobre a produtividade destas vivências quando

trazidas para sala de aula de FLE (Francês Língua Estrangeira) ou de FOS (Francês com

Objetivos Específicos). Certamente, elas privilegiariam o conhecimento de aspectos

lingüísticos e comportamentais, realçando a ótica da cultura em estudo.

Uma terceira exposição é feita por Trognon e Saint-Dizier (1999), que

reconhecem o aspecto revelador do mal-entendido, ao afirmar que sua resolução está

condicionada a um falante colocar-se no lugar do outro. Dascal (2006) corrobora estes

autores quando diz que o mal-entendido acentua o lado altruísta da comunicação, ao

revelar a percepção do outro.

Nesta perspectiva, discutiríamos em vão com os franceses sobre não parecer

apropriado o hábito de manipular o pão no momento da venda, sem embrulhá-lo,


quando para eles o descabido seria não poder pegar no alimento, trabalhando com as

mãos limpas. Da mesma forma, de nada adiantaria contestar os moçambicanos tentando

convencer-lhes parecer esdrúxulo sentar no colo de um perfeito estranho, quando não

houver mais lugares vazios no ônibus. Para eles, não há justificativa lógica em manter-

se de pé, obstruindo o corredor de passagem e impedindo a acomodação de mais

passageiros. Não há como conceber a lógica dos contrastes socioculturais sem que

estejamos abertos a nos colocar no lugar do outro.

Se permitirmos que crenças de universalidades lingüísticas e comportamentais

atuem como vendas sobre nossos olhos, não seremos capazes de enxergar a existência

de aspectos contrastivos interculturais e muito menos de aceitá-los.

As considerações apresentadas nesta tese sobre o mal-entendido intercultural

reforçam nossas convicções da função iluminadora deste fenômeno discursivo. Seu

estudo propicia a tomada de consciência de diferentes modos de ‘pensar’, de ‘falar’ e de

‘se comportar’ nas interações. Aceitar as diversidades reveladas por um mal-entendido é

respeitar a expressão de uma outra cultura, é redimir visões estereotipadas, é finalmente

trabalhar em prol do conhecimento intercultural.


V – REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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VI - ANEXOS
ENTREVISTA nº 1 CLD
R001
o
N total Nacionalidade Faixa etária Sexo Escolaridade Competência
de Lingüística
relatos

3 Brasileira 20 a 25 Masc. Pós-grad. Intermediária

ENTREVISTA no 1 RELATO 1 CLD

1. F: Então, a gente estava num restaurante aliás, a gente estava numa


2. pracinha que tinha restaurante, pizzaria e tal. A gente escolheu uma
3. pizzaria pra poder beber alguma coisa e aí quando a gente entrou,
4. logo quando a gente entrou, o garçom disse assim, algo do tipo que
5. vocês serão servi in 40 minutes uma coisa assim, né. Agora não
6. lembro como é vocês serão, enfim, né? E aí ele perguntou:
7. - C’est bon?
8. E a gente falou:
9. - C’est bon!
10. Porque afinal de contas tava, tava tranqüilo pra gente e aí ele... ele
trouxe
11. os cardápios né e deu um tempo pra gente olhar o que que a gente
queria,
12. então ele voltou e a gente disse né
13. - Je voudrais un coca et... deux bières.
14. E aí ele foi me perguntou
15. - Et pour manger?
16. E aí a gente falou
17. - Rien
18. E aí ele disse que se a gente não quisesse comer né, que a gente
deveria ir
19. pra outro lugar. Aí ele falou eh..
20. - C’est un restaurant! - Vous devez manger, si vous voulez
seulement...
21. E: - boire ?
22. F: - É! boire. Vous devez aller à ce bar lá! (E aí foi apontando pros
lugares
23. que eram bares mesmo) Não tinham nada de comer, né.
24. E: - Como era o tom dele nesse momento? - Ele foi ríspido?
25. F: Ah!
26. E: - Ou você acha que ele foi...
27. F: - No cúmulo da falta de educação. (risos) Tipo assim, a
impressão
28. que se tem é que era pressuposto pra ele sabe. Se a pessoa entrou
29. numa pizzaria ela tem que comer.
30. E: - Ele achou um absurdo então.
31. F: - É, um absurdo, é tipo (inaudível) - C’est un restaurant. Sabe
32. assim bravo. É um restaurante. Não é possível que eu tenha que
33. explicar o que é um restaurante, né!
34. E: - E na tua concepção de restaurante aqui no Brasil... porque você
35. classificou no começo, como pizzaria.
36. F: É então assim, é aquela questão você pode, eu acho no Brasil,
37. perfeitamente sentar na pizzaria, beber alguma coisa e aí lá pelas
38. tantas você decide que você vai comer alguma coisa, ainda mais
39. assim que eram sei lá cinco horas da tarde, sabe, sol do cão né? E
40. assim você via de fato depois que você vai reparar você vê que todo
41. mundo, que tava sentado tava lá com uma pizza, tava comendo sabe
42. então assim era um, uma outra prática diferente da nossa.
43. E: - E como é que foi resolvida esta questão?
44. F: Foi resolvida que a gente saiu do restaurante. Foi pra outro lugar.
45. Eh..., eh (risos) pro bar que ele sugeriu.
46. E: - Vocês optaram por não comer?
47. F: É por não comer justamente. Aí a gente foi pra esse bar que foi a
48. segunda situação que a gente já sabendo que bar era o lugar que a
49. gente ia só para beber que se a gente quisesse comer aí a gente
50. voltava pra pizzaria do cara e aí a gente sentou lá.
ENTREVISTA no 1 RELATO 2 CLD

1. F: E aí a gente sentou lá no no no bar. Ah! aí tem um detalhe


2. interessante. O sujeito que tava no bar, não foi levar a bebida não!
3. não foi perguntar o que a gente queria.
4. E: Esse já é o exemplo 2?
5. F: É!
6. E: Tá, aí vocês saíram da pizzaria e foram pro suposto bar, né. O bar
7. mesmo.
8. F: Aí a gente sentou na mesa e ficou esperando o garçom. E não
9. havia garçom. Havia um cara só, atrás do balcão. Aí depois de uns
10
10. minutos esperando, falei assim, bom vou lá conversar com o cara
11. porque às vezes, né? Aí quando eu cheguei lá ele perguntou é, é, é...
12. - Ça va ? e tal fez um comentário, um um cumprimento e aí é eu
13. perguntei se ele é
14. - Vous avez le menu?
15. e ele apontou pra parede. Porque assim, as bebidas com os preços
estavam
16. no alto assim. Uma coisa assim meio Mc Donald’s. Era meio o
sistema da
17. tabela de preços do Mc Donald’s. E aí eu olhei e tal e falei com ele.
Ele
18. perguntou assim:
19. - Qu’est–ce que vous voulez?
20. - Je voudrais un coca et deux bières.
21. Et tal fiz o mesmo pedido do outro bar. E aí ele, ele
22. nem respondeu nada. Ele já foi preparar as coisas e eu assim como
23. não obtive nenhuma [resposta] voltei pra mesa e ele levou na mesa a
24. coca e as duas cervejas e deixou a conta.
25. E: - Você havia mencionado l’addition?
26. F: Não, não. Aí ele foi deixou a conta só e voltou lá pra dentro. E aí
27. a gente terminou de beber aquilo eu voltei lá dentro e o mesmo
28. procedimento. Pedi de novo a mesma coisa, voltei, já sabendo que
29. ele não ia falar mais nada mesmo, voltei e sentei lá e ele trouxe de
30. novo e trouxe a conta de novo. E a gente ficou lá, acumulando as
31. notinhas que ele trazia, né. E aí na terceira vez que eu fui lá e ele aí

32. aí ele me perguntou assim
33. - Seulement?
34. E eu não entendi porque que ele queria saber se era só aquilo assim,
aí eu
35. falei
36. - Oui.
37. Aí eu sei que eu entendi, mas exatamente como ele falou eu não sei.
Ele
38. perguntou se eu não ia querer algo mais depois assim. Se seriam só
aquelas
39. três coisas. Eu disse que não sabia Je ne sais pas Aí ele, ele, ele foi e
40. disse assim
41. - Vous vous pouvez... Ah uma coisa assim. Você deveria
42. decidir, você deveria saber, sabe alguma coisa assim parce que je ne
43. voudrais pas aller, venir, aller, venir. Ele ficou, ele dizia assim que
44. não era, não era praxe que ele fosse até a mesa e levasse as coisas e
45. fosse fazendo um controle a parte da bebida pra que no final a gente
46. pedisse a conta e ele trouxesse como seria de se esperar num bar,
47. por exemplo, no Brasil.
48. E: Certo, vocês chegaram a tentar é é é conversar, negociar com ele
49. isso?
50. Não a gente pede, você faz o controle e no final de tudo que a
51. gente pede a conta.
52. E: - Ou vocês nem tentaram?
53. F: - Não, a gente não tentou, porque a gente tava muito revoltado
54. nesse momento
55. E: (risos)
56. F: A gente fez isso depois na Itália, que aí a gente já chegava no
57. restaurante e o meu italiano é mais fluente eu já perguntava pro cara
58. falava assim: aqui eu posso sentar sem comer? aí o garçom me
59. olhava assim. Por que? Porque na França é assim que funciona se é
60. restaurante você tem obrigação de comer. Aí eles já morriam de rir,
61. achavam o máximo e tal, Mas aí na Itália já tinha esse diálogo, assim
62. mais aberto sobre como que funcionava a prática social. Na França a
63. gente tava apanhando ainda pra aprender.
64. E: Então tá. Como é que você contornou esse segundo mal-
65. entendido?
66. F: - A gente decidiu ir embora também
67. (risos de ambos)
68. F: No final das contas. E aí quando a gente olhou pro lado é que a
69. gente viu assim de fato todo mundo já tava com a a
70. E: Com as cervejas?
71. F: Com as cervejas todas. Duas pessoas com oito canecas em cima
72. da mesa.
73. E: Ah! Canecas, não eram garrafas?
74. F: Não canecas mesmo abertas, tipo chop! eh eh...
75. E: Esquentavam?
76. F: Esquentavam, assim o fato interessante também que quando o
77. garçom trazia a conta as pessoas já deixavam o dinheiro na hora,
78. imediatamente. Tipo assim, trazia oito canecas de cerveja. Colocava
79. lá a a conta. 16 euros. A pessoa tirava os 16 euros colocava em cima
80. da notinha e ela passava e recolhia aquilo enquanto ele ia trazer uma
81. outra bebida, ele já recebia que ele sabia que aquela mesa já estava
82. fechada.
83. E: Ele chegou a deixar quantas continhas em cima da mesa?
84. F: Três
85. E: E as três foram pagas imediatamente, ou não, vocês só
perceberam
86. F: pago as três no final
87. E: no final?
88. F: no final, é.
89. E: Tá ok, ta bom, Obrigada.
ENTREVISTA no 1 RELATO 3 CLD
1. F : A gente foi… fechou a conta do Hotel e antes de pegar o ônibus
2. pra poder ir pro aeroporto de Bovequia mais distante assim, a gente
3. passou numa feira pra comprar um pão e um vinho pra levar pra
4. Veneza que a gente ia chegar à noite e tal, ficou com medo de não ter
5. o que comer né, esse tipo de coisa E aí o meu irmão é começou a
6. conversar com um sujeito da barraca de pão, porque ele queria saber
7. como que o pão era feito, que eram pães diferentes, com formatos
8. diferentes e tinha umas sei lá, azeitonas coisas assim. Aí depois o
9. sujeito explicou, daí era um senhor mais de idade assim mais
10. MUITO simpático MUITO (ênfase) simpático. E aí ele explicou
11. como é que ele fazia o pão, que era ele mesmo que fazia não sei o
12. que de onde que vinha a azeitona, que uma vinha de Portugal a outra
13. não sei o que, todo artesanal o pão do sujeito. E aí o meu irmão
14. escolheu um pão específico, o pão era muito grande.
15. E: Isso era em Paris?
16. F: Em Paris, é. A gente tinha que colocar o pão dentro de uma
17. bagagem de mão que era uma mochila pequena e aí meu irmão foi
18. pedir a ele é pra partir o pão. E aí é quando o senhor acabou de
19. explicar como era o pão ele falou assim
20. - C’est ça c’est parfait
21. Aí ele foi pegou o pão
22. - Non, non monsieur est-ce que vous pouvez partir le pain?
23. Aí o velhinho ficou olhando pra ele assim. E aí eu olhei pra ele
24. e falei assim você falou alguma (lenha) né? Porque não é possível
25. tava super simpático de repente ele fez uma cara de mal-entendido.
26. Ele ficou olhando aí meu irmão olhou pra ele de novo e fez com a
27. mão assim como se fosse cortar mesmo sabe?
28. - Partir {{fez o gesto de cortar o pão com a mão como serra. Aí o
velhinho
29. olhou pra ele e falou assim}}
30. - Ah! Couper!
31. [risos]
32. E explicou pra ele tá ok! Como é que seria o o Aí ele foi e falou
33. F Vendedor: - Partir [fez gesto com a mão/dedinhos da pessoa indo
34. embora]
35. F: Ele deve ter imaginado assim Será que eu posso ir embora com o
36. pão? Será que eu posso levar embora o pão?
37. E: Sem pagar né? Ele ficou preocupado? Aí foi o último. Então esse
38. mal-entendido vocês contornaram, através do gestual. O gestual foi
39. fundamental pra elucidação aí do/
40. F: É É que eu acho assim que foi mais
também é
41. num sei porque ele, ele num é um mal-entendido por ser cultural
sabe.
42. Porque os outros eram culturais, quer dizer o conceito de frio, o
conceito de
43. restaurante, o conceito de bar e tal, mas esse foi lingüístico mesmo,
44. eu acho mais assim, ele errou o verbo
45. E: É verdade.
46. F: É Como se um estrangeiro que não falasse português visse que
47. partir é sinal de ir embora.
48. E: Certo.
49. F: Né por exemplo
50. E: Agora pois é, agora a questão é mais delicada ainda porque o
51. verbo partir ele, ele ele ... é similar ao português
52. F: É isso, ele é cognato falso nesse caso, né ?
53. E: isso, isso Facilitou o caminho aí
54. F: isso
55. então para fazer isso
56. E: Tá ok, obrigada.
ENTREVISTA nº 2 CLD
R002
o
N total Nacionalidade Faixa etária Sexo Escolaridade Competência
de Lingüística
relatos

3 Brasileira 50 Fem. Pós-grad. Intermediária

ENTREVISTA no 2 RELATO 1 CLD

1. F: Em 2001 eu tava fazendo um curso na França de 30 dias no mês


2. de julho e... na cidade de Strasburgo que é fronteira com a
3. Alemanha e... lá tem muitos mercadinhos de bairro pequenininhos e
4. eu entrei no mercadinho querendo fazer uma pergunta pra saber se
5. existia, se eles vendiam lá cartão de crédito aí eu virei pra, entrei,
6. cheguei até a dona do da mercearia virei pra ela falei assim
7. - Pardon, madame, Est-ce que vous...
8. na hora que eu falei Est-ce que vous ela me cortou na mesma hora e
na
9. hora na que eu ia fazer a pergunta tinha uma fila de pelo menos umas
seis
10. pessoas, como eu queria só fazer uma pergunta eu achei que já
poderia até
11. falar desculpa senhora e ela na mesma hora me cortou, falou
12. - Madame, faites attention la queue c’est là-bas.
13. Então, ela me disse claramente que eu tinha que eu tinha que entrar
numa
14. fila. Não interessava se eu queria só fazer uma pergunta.
15. E: Você insistiu? Tentou...
16. F: Eu falei, Mais Madame! Mais Madame!
17. Ela falou - Madame, c’est là-bas!
18. E acabou morreu ali eu tive que entrar na fila, a sorte é que lá
19. vendiam carte de crédit senão o barraco ia rolar.

ENTREVISTA no 2 RELATO 2 CLD

1. F: Tem uma situação cultural também que é muito interessante na


2. França. Você pra iniciar uma conversação seja pra pedir uma
3. informação na rua é... não importa qual, você tem que começar pelo
4. bonjour. Aconteceu comigo várias vezes deu tá na rua assim querer
5. perguntar o itinerário Aí eu falava
6. - Pardon Madame, pardon. Ela
7. - Pardon, Bonjour Madame!
8. E aí o bonjour já vinha com aquela carga de quem diz Você não
sabe que o
9. código aqui né cultural você tem que primeiro dizer o bonjour pra
depois
10. você vir com a sua pergunta, então isso depois aconteceu comigo
várias
11. vezes lá.
12. E: Certo.
13. F: Pra você fazer uma pergunta você não pode pular uma etapa você
14. não pode ficar sem falar primeiro o bonjour, depois o pardon depois
15. você fazer a sua pergunta.
16. E: Ok. Merci.

ENTREVISTA no 2 RELATO 3 CLD

1. F: Nós estávamos eh.. a segunda a primeira vez que eu fui à França


2. eu fui com tudo pago por um casal amigo, isso parece piada, né?
3. conto de fadas, Mas aconteceu porque eu era professora dela e como
4. ela tinha muito dinheiro ela falou - quero te levar junto pra você
5. facilitar minha vida lá.
6. E: Oba.
7. F: E eu fiquei num hotel quatro estrelas coisa que eu
8. nunca tinha ficado nem aqui, quanto mais lá. E elas tavam jantando
9. falaram - Rosana desce pra você jantar com a gente. Você e seu
10. marido. Eu desci na hora que eu entrei no restaurante, um restaurante
11. muito chique. Esse hotel não é hotel pra estrangeiro é um hotel pra
12. franceses pela categoria do do restaurante. Aí eu sentei ela já sentada
13. me esperando ela e o marido, sentamos eu e o meu marido aí o
14. garçom chegou eu virei pro garçom, ele foi assim, perguntou
15. - Qu’est-ce que vous voulez, Madame? - Avez-vous déjà vu la carte?
16. le menu tam nam nam? Aí eu virei falei assim
17. - Qu’est-ce que c’est persil? tem uma receita aqui com persil e eu
queria
18. saber o que que é. Ele virou pra mim com toda falta de educação e
falou
19. - Persil c’est persil Madame. Ora uma coisa assim - voilà, voilà.
20. Eu virei pra ele, aí eu tive que falar senhor eu falo a sua língua
porque eu
21. gosto do seu país. Eu gosto da sua cultura eu gosto do seu povo,
22. Mas eu não sou obrigada a saber o que é persil que eu tô aqui a uma
23. semana só e eu realmente não sei o que é isso. Só depois
24. E: Ele pensou que
você era
25. francesa provavelmente.
26. F: Não sei. Ele achou que eu tava lá há muito tempo. E eu tava lá há
27. uns 5 dias na França porque eu falava um pouquinho do francês,
28. então ele deve ter pensado Ela deve tá aqui fazendo gracinha com a
29. minha cara. Só depois de eu ter sido grosseira, porque eu fui, porque
30. eu achei que ele foi muito grosseiro
31. - Persil, c’est persil Madame, Voilà
32. E: ((imitou a voz do garçom com desdém))
33. F: Aí só depois que eu falei com ele desse jeito foi que ele me
explicou o
34. que que era persil
35. F: - C’est une petite feuille verte etc
36. E: Ok Aí então quer dizer a maneira de você contornar esse exemplo
37. de mal-entendido foi a insistência?
38. F: Foi a insistência e a grosseria, porque eu achei que eu fui
grosseira
39. mesmo acho que eu fui impolie como eles são, porque eu acho que o
40. parisiense é muito isso. Ele tem um jeito de ser assim meio meio
41. grosseiro eu não sei se a invasão dos turistas mês de julho
42. E: Excesso de objetividade.
43. F: É eu acho que... foi por aí na hora que eu falei isso ele:
44. - Pardon Madame.
45. me pediu desculpa aí ele me explicou devagarinho e,
46. inclusive outros itens que tinham no menu que eu não conhecia aí ele
47. pegou e me explicou
48. E: Merci beaucoup!

ENTREVISTA nº 3 CLD
R003
o
N total Nacionalidade Faixa etária Sexo Escolaridade Competência
de Lingüística
relatos
1 Brasileira 34 Masc. Pós-grad. Avançado

ENTREVISTA no 3 RELATO 1 CLD

1. E: Vamos lá para o primeiro exemplo, 1º relato do entrevistado.


2. F: J’étais à Besançon et... nous avions organisé un pique nique au
3. bord du fleuve Doux, un beau fleuve de la ville Besançon et
4. quand nous sommes arrivés au bord du fleuve ah… nous avons
5. rencontré une famille ah… c’était la grand-mère la mère deux filles
6. le père et le grand-père Et en fait quand J’ai regardé les femmes
elles
7. faisaient ah… le ah… topless en fait c’est un comportement auquel
8. j’étais pas du tout habitué ah... en... Je... Je me suis en fait vu et
étonné
9. ah... tout à fait étonné.
10. E: Vous avez remarqué ça pour les gens qui étaient avec toi ?
11. F: Oui, d’une manière générale c’est intéressant parce que des
12. collègues qui étaient d’autres nationalités ah... ils ont dit en fait
13. - João, pourquoi tu es étonné parce que au Brésil ça c’est commun,
14. n’est-ce pas?
15. Et… Je leur ai dit.
16. - Pas du tout! Au Brésil on ne fait pas ça parce que au Brésil c’est
même
17. interdit aux femmes de faire au topless. Si on fait ça à la plage par
exemple
18. on est pris un eh c’est pas c’est pas ( ) en fait c’est pas permis
de faire
19. le topless au Brésil. - C’est étonnant ça !
20. Et c’est intéressant justement parce que le contraste culturel
21. ah c’est total. Les étrangers étaient étonnés de mon étonnement ah et
22. moi étonné de la situation ah La famille française une famille
23. française où les femmes font du topless naturellement et ça c’est
24. encore intéressant parce que le regard d’un français vers une femme
25. est tout à fait différent de celui du brésilien ah… parce que ici au
26. Brésil les hommes ont toujours un regard disons de désir ah… de
27. sensualité eh en France ce que j’ai apperçu c’est justement le
28. contraire les hommes ne regardent pas les femmes ah… d’après ce
29. type de regard ah sauf s’ils ont vraiment l’intérêt d’avoir une relation
30. avec cette femme une relation plus… ah disons ah… sexuelle au
31. même une relation amoureuse disons mais au contraire ils ne vont
32. pas regarder la femme avec ce désir, ce regard ah ah disons
33. malicieux comme les nôtres.
34. E: Et là je pense que c’était un moment de détente.
35. F: Exactement, c’est un moment de détente tout le monde était très à
36. l’aise sur la pelouse une pelouse au repos, les familles étaient là eh…
37. personne n’était choqué sauf moi.
38. F: e E: rá, rá, rá, rá ((risos))
39. E: Le brésilien !
40. F: Le brésilien !
41. E: Merci beaucoup.
42. F: De rien.
ENTREVISTA nº 4 CLD
R008
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2 Brasileira 32 a 37 Fem. Pós-grad. Avançada

ENTREVISTA no 4 RELATO 1 CLD

1. F: Bom eu sou professora e aí teve uma reunião com os professores e


2. o diretor é francês E aí no final da reunião pra terminar a reunião ele
3. queria dar um brinde e ele só tinha um livro e aí ele fez uma... falou
4. que ia fazer uma brincadeira e ele disse que os professores deveriam
5. escrever num papel en français eh...l´ami qu´ils aimaient
6. dans......dans l´école e e les brés os brasileiros ficaram surpresos
7. com eu por exemplo, eu fiquei surpresa com a pergunta porque
8. tinham vários professores ali e eu tinha que escolher um Então a gen-
9. te não tá acostumado com isso.
10. E: Surtout l´ami qu´ils aimaient le plus, né ?
11. F: É iiiii aí todo mundo escreveu sem ninguém falar um com o outro
12. uma professora que era mais velha, que todo mundo gostava, mas que
13. o sentido era pra não ser mal educado com os outros professores com
14. os outros amigos. Então selecionaram sem ninguém ver... Escolheu... to-
15. dos os professores escolheram o mesmo professor. E aí ele foi falou
16. - Vocês gostam mais dessa pessoa?
17. Ele ficou surpreso com a escolha, quer dizer ele queria ter um líder ou
18. alguém que era admirado, mas na verdade foi escolhido por uma gen-
19. tileza brasileira né que a gente não ia dizer na verdade quem a gente
20. gostava mais.
21. E: Qual foi o critério que vocês utilizaram? Você sentiu o critério
22. que a maioria utilizou pra escolher?
23. F: Eu acho que o critério foi que era pessoa que trabalhou mais
24. tempo É ...era a mais velha do grupo Então pra ser gentil com essa
25. pessoa e pra responder a pergunta dele ééé todo mundo colocou o
26. nome dessa pessoa Escolheram essa pessoa sem ninguém falar um
27. com o outro e essa pessoa foi selecionada eu acho que foi pelo tempo
28. pelo carinho pelo respeito com essa pessoa Acho que foi um critério
29. de respeito
30. E: Ok Obrigada
31. E: E por que que você classifica isso como um mal-entendido?
32. F: Eu classifico isso como um mal-entendido porque na nossa cultu-
33. ra a gente não tem o hábito de fazer isso pra gente isso é constrange-
34. dor a gente ter que escolher uma pessoa perante os outros A gente
35. não faz isso né, a gente pode falar e e ééé com o amigo com uma ou-
36. tra pessoa que gosta dela, mas não dessa forma, na frente de um grupo,
37. dessa forma que eles fazem. É uma coisa que pra eles parece natural
38. mas pra gente não é
39. E: Por que que vocês não externaram esse desconforto?
40. F: Ah porque era uma relação de trabalho. O patrão pediu e a gente
41. ficou na obrigação de escrever o nome dessa pessoa e fizemos o que
42. ele pediu mas fizemos o que ele pediu só que o que ele imaginava
43. era diferente Era realmente ter o dado o amigo o melhor amigo quem
44. a gente gostava mais dali daquele grupo Mas infelizmente ele não te-
45. ve esse dado ele não conseguiu
46. E: Ele percebeu isso?
47. F:Ele não percebeu isso, quer dizer, pra ele passou como a gente tinha
48. uma consideração tinha um carinho por essa professora Mas não
49. como se a gente tivesse feito isso com o intuito de de respeito aos
50. outros a essa professora e a todo mundo que tava naquela situação ali
51. E: Todos tiveram a mesma sensibilidade né?
52. F: A a todos tiveram quase a mesma sensibilidade Quer dizer ela
53. ganhou de 10 professores ou 15 professores mais ou menos ela
54. ganhou seis votos né então assim a maioria optou por ela
55. e os outros votos foi um de cada e a tendência foi essa Foi escolher
56. essa professora
57. E: Então pra gente concluir vocês solucionaram o malentendu é pela
58. sensibilidade de vocês O critério de escolha e não externaram
59. prefiriram não externar
60. F: É a gente preferiu ficar tentar contornar esse constrangimento fa-
61. zendo essa estratégia que foi quase uma estratégia brasileira a gente
62. saiu pela tangente (deu uma risada) dando um jeitinho a gente
63. arrumou um jeitinho
64. E: A mesma dinâmica com um francês ou um grupo francês você
65. acha que não causaria o mesmo efeito?
66. F: Eu acho que não porque o francês tem o hábito de falar realmente
67. o que ele acha E isso eu eu observo em várias circunstâncias Eles
68. têm o hábito de dizer realmente qual é o problema - Não eu gosto
69. mais disso. Eu quero isso. Eu acho isso. E não tem esse critério que
70. o brasileiro tem
71. E: Ok Obrigada.

ENTREVISTA no 4 RELATO 2 CLD

1. F: Eu estava na rua com uma amiga em Paris e a gente não sabia


2. um lugar específico agora eu não lembro e ela queria uma informa-
3. ção ela parou um francês e ela pediu uma informação
4. - Je voudrais savoir eh... par exemple où est la tour Eiffel et il a
5. commencé à expliquer il a commencé à dire à droite vous... après
6. elle a dit ah je sais je sais je sais Et il je pense qu´il a été un peu
7. étonné mais tout de suite il a dit
8. - Non mais je n´ai pas fini
9. Et donc elle a été surprise parce que il a dit qu´il n´avait pas fini et il
10. a continué àààà ... à expliquer l´itinéraire
11. E : Et Il a continué
12. F: Il a continué à expliquer l´itinéraire
13. E : Qual é a visão da brasileira com relação ao francês e do francês
14. com relação brasileira na tua opinião?
15. F: Bom nesse caso a brasileira ela ficou surpresa né Ela achou ele
16. grosseiro só que depois a gente pensando analisando a situação ela
17. também foi grosseira Ele tava falando Ele tava explicando Ela parou
18. é.... não quis mais saber da informação porque ela já sabia e ele
19. achou isso umaaaaaa um ato eu acho que nesse sentido ele achou
20. grosseiro e aí ele também foi ele respondeu na hora e falou não
21. não terminei e vamos e ele continuou explicando e a gente ficou
22. aguardando a explicação dele quer dizer aí ela ficou meio de uma
23. maneira meio debochada olhando pra ele balançando a cabeça e
24. explicando e esperando a explicação dele
25. E: De qualquer forma vamos dizer assim ela contornou o
26. mal-entendido né di di di é recíproco aí de indelicadezas nesse
27. caso de que forma? Escutando?
28. F: Ela escutou mas na verdade eu acho que manteve o mal-entendido
29. porque porque na verdade no momento nenhum dos dois entenderam
30. que era uma relação de cultura, que a gente tá acostumada a pedir
31. uma informação e depois sabe aonde é a gente continua vai embora
32. né não precisa mais da informação Pede obrigado e vai embora e ela
33. que que ela fez Ela achou a maneira dele agressiva então ela ficou de
34. uma maneira debochada olhando pra ele balançando a cabeça né
35. E: Ok merci.
ENTREVISTA nº 5 CLD
R009
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N total Nacionalidade Faixa etária Sexo Escolaridade Competência
de Lingüística
relatos

1 Brasileira 32 a 37 Fem. Pós-grad. Avançada

ENTREVISTA no 5 RELATO 1 CLD

1. F: O caso aconteceu com ex-professor da ufrj Tava havendo um


2. encontro éé sobre análise do discurso em linha francesa Com
3. vários professores franceses e a professora Sophie Moirand se dirigiu
4. a ele e perguntou assim como ele ia e ele disse assim:
5. - Je suis très fatigué
6. Ah não não não já está acabando a semana você já vai poder
7. descansar (ela falou) e ele se deu conta de que o très je suis très fatigué
pra ela
8. é caus é era relacionado ao encontro e ele simplesmente queria dizer
9. que estava cansado e ele se desculpou. Ela já tinha entendido mal ,
10. mas ele tentou contornar e contou depois isso pra mim e pra outras
11. bolsistas na época é como um mal-entendido que a gente tem que
12. ter muita preocupação com os fatores culturais e etc.
13. E: ok obrigada.

ENTREVISTA nº 6 CLD
R012
o
N total Nacionalidade Faixa etária Sexo Escolaridade Competência
de Lingüística
relatos

3 Brasileira 30 a 32 Fem. Pós-grad. Avançada

ENTREVISTA no 6 RELATO 1 CLD

8. F: Bom era um casal que tava na cidade universitária em Paris e o rapaz


9. ia viajar Então a menina brasileira o rapaz francês A menina virou pra
10. ele e falou assim :
11. - Je te désire un bon voyage
12. E ele ficou assustado, assustadíssimo pra falar a verdade e ele explicou
13. a ela que o désirer implicava uma conotation sexuelle e ela devia na
14. verdade falar je te souhaite un bon voyage.
15. - Bon donc je te désire un bon voyage
16. - Non non attend ah Je te souhaite un bon voyage parce que désirer
17. implique une conotation sexuelle.
18. E: Quelle a été la reaction de la personne ?
19. F: De qui de la femme ?
20. E: Oui !
21. F : Bem elle a dit - Bon d´accord parce que en portugais c´est pas
22. comme ça on peut désirer un bon voyage.
23. E: Ela resolveu o mal-entendido externando como funciona no Brasil
24. até porque em português é muito é similar né desejar désirer
25. F: Desejo a você uma boa viagem Eu te desejo um feliz ano novo então
26. não não há essa essa conotação sexual no desejar.
27. E: Até há mas... dentro de um outro contexto. Obrigada.
28. F: ( ) risos
ENTREVISTA no 6 RELATO 2 CLD

1. F: Era um grupo de cinco pessoas e nós íamos encontrar mais um


2. mais um rapaz um rapaz francês numa área é bem turística de Paris
3. que era o Odeon eee quando nós chegamos lá no bar nós escolhemos
4. uma mesa pra seis pessoas e a garçonete perguntou o que que a gente
5. ia beber Quatro pessoas escolheram as suas bebidas e eu e mais uma
6. amiga nós dissemos que nós íamos escolher mais tarde e aí ela muito
7. irritada ela disse
8. - Alors sortez Si vous n´allez pas boire maintenant sortez.
9. E: Ok
10. F : Bom então, é...
11. E: La Madame elle est arrivée et elle a dit quoi ?
12. F : - Qu´est-ce que vous allez choisir ?
13. Quatro pessoas escolheram e eu e uma amiga nós dissemos
14. - Bon on va attendre un peu et après on va choisir
15. Et immédiatement elle a dit
16. - Donc si vous n´allez pas boire maintenant, sortez - Si vous n´allez
17. pas choisir quelque chose comme ça, sortez !
18. E : - Qual o tom de voz dela ? A expressão
19. F: Não bem agressivo.
20. E: Ah..
21. F: Bem agressivo. Inclusive ela tava com a carta de pedidos na mão
22. e ela batia
23. E: Batia com a carta na mesa?
24. F: Ela bateu a carta na perna dela - Sortez eeeeh..
25. E: Gesticulando forte pra gente
26. F: Gesticulando e todas as pessoas que estavam no bar ouviram
27. e olharam
28. E: Você imagina essa cena no Brasil?
29. F: Não Até porque a gente aqui trata muito bem o turista e lá
30. parece que eles não têm necessidade alguma do turista
ENTREVISTA no 6 RELATO 3 CLD
1. F: Pois é aaaa Uma amiga entrou numa pâtisserie pra comprar um
2. doce e de início ela pensou que fosse resistir ao doce e ela pediu
3. por emporter a.. - C´est pour empoter Madame?
4. - Bon c´est pour emporter
5. A empregada entregou o doce pra ela e ela não resistiu começou a
6. comer Quando ela abriu o saquinho e começou a comer (riso
7. ao contar) aaa la vendeuse elle a dit
8. - Non c´est pour remporter Pardon c´est pour emporter Madame
9. Il faut sortir et la la la fille
10. E : la cliente ?
11. F : Oui la cliente
12. - Non mais je veux manger maintenant
13. Et la vendeuse elle a dit
14. - Non, vous avez demandé c´est pour emporter
ENTREVISTA nº 7 CLD
R013
o
N total Nacionalidade Faixa etária Sexo Escolaridade Competência
de Lingüística
relatos

3 Brasileira 36a Fem. Pós-grad. Avançada

ENTREVISTA no 7 RELATO 1 CLD

1. F : A gente foi pra Besançon, então a gente resolveu tomar um vinho


2. Todo o grupo de brasileiros Vamos tomar um vinho né pra comemo-
3. rar a partida tudo mais e então fomos no supermercado só que as
4. meninas queriam vinho tinto a gente queria vinho tinto né Só que a
5. gente queria vinho tinto doce não queria seco Então tá vamos procu-
6. rar um vinho tinto Aí a gente viu olha acho que um dos colegas falou
7. não tem vinho tinto doce na França, não existe né. Então tá nós
8. vamos procurar no supermercado pra ver se a gente acha alguma
9. coisa porque o vinho tinto doce é o vin de table né Aquele vinho de
10. mesa o suave o suave Aí a gente encontrou Olha aqui encontramos
11. um vinho de mesa Era uma caixinha Eu falei gente eu nunca vi vinho
12. em me vinho em caixa né Tem que ser em garrafa eu nunca vi disso
13. Vamos levar porque vinho de mesa né é vinho doce é vinho suave né
14. Eu digo doce suave Então tá aí a gente foi e levou Quando a gente
15. abriu horrível mas era uma coisa horrível parecia vinagre Aí um
16. francês que tava com a gente Aí ele viu Ele entrou lá viu Disse
17. - Vocês tão tomando isso? Porque vinho de mesa aqui na França é
18. vinho pra fazer comida. É de comida não é pra vocês tomarem É o
19. contrário Vocês tão tomando um vinho que se faz comida pra
20. cozinhar aí foi foi parar no lixo na mesma hora né (risos)
21. E : On va reconstruire la scène :
22. F : Oui, Il y est arrivé et alors il a regardé et il a demandé
23. - Mais qu´est-ce que c´est ça ? Qu´est-ce que vous buvez ? mais ça
24. c´est du vin de table !
25. Et alors nous avons dit
26. - Mais c´est... c´est le vin On veut boire un vin doux sucré c´est pour
27. ça mais c´est terrible on ne sait pas pourquoi. C´est c´est ce n´est pas
28. bon. Et alors il a dit :
29. - Bien sûr Vous buvez un vin de table. Le vin de table c´est pour
faire
30. la cuisine ce n´est pas pour boire et nous avons dit mais Au Brésil
31. les vins de table c´est pour boire. Mais c´est pas possible et...
32. C´est ça il a dit
33. Mais je ne crois pas vous buvez du vin de table. Ça c´est pour faire la
34. cuisine. C´est pas possible (risos)
35. E: Ok merci.
ENTREVISTA no 7 RELATO 2 CLD

1. Bom eu reparei assim uma coisa interessante em relação as lojas né.


2. Porque aqui no Brasil se você tá dentro de uma loja ta no horá-
3. rio de fechar ninguém te perturba Deixa você ficar fazendo suas
4. compras até a hora de você sair super bem tratada mas eu tava em
5. Besançon eu reparei que seis horas tudo fechava. E realmente se
você
6. quisesse qualquer coisa você não era tão bem tratado como se
espera-
7. va. Uma colega minha foi comprar um sandwich faltando dez cinco
8. minutos pra fechar a loja pediu pra moça fazer Ela entregou pra ela
9. um sandwich frio, queijo e presunto um pedacinho só de queijo e de
10. presunto só e pronto e acabou. E outro momento foi quando eu fui
11. comprar numa loja de roupa com uma colega minha A gente foi
12. comprar umas roupas. Ela comprou uma calça e uma blusa e eu
13. comprei uma blusa e a moça faltando realmente três minutinhos pra
14. fechar a loja Ao invés dela pegar a nossa roupa, depois de paga,
15. pagamos e tudo mais Pegar bonitinho, dobrar e colocar no saco, não
16. ela fez uma bolinha com a calça da minha amiga. Pegou amassou fez
17. uma bola, jogou dentro do saco. Mesma coisa fez com as nossas
18. blusas uma bolinha e tuff. E na hora que a gente tava saindo aí a loja
19. tava fechada, só que a gente voltou só pra ver uma blusinha Ela virou
20. pra gente Não reparou que éramos nós que pensou que fosse outra
21. moça que entrou na loja virou
22. - Mesdames mesdames le magasin est déjà fermé. Et aí quando ela
23. viu que era a gente ela ficou até meio sem graça. Pediu desculpa e
24. aí depois disso a gente foi embora né.(risos)
25. E: Ok Merci.

ENTREVISTA no 7 RELATO 3 CLD

1. F: Bom Eu tava voltando néee da França pro Brasil. No aeroporto na


2. Air France, é na Companhia De repente na hora daaaa de passar né a
3. bagagem de mão, naquele naquele negócio ali do raio x Aí o moço
4. pediu pra eu tirar o sapado. Tava com uma sandália plataforma Ele
5. pediu pra eu tirar o sapato e colocar o sapato na máquina. Tudo bem
6. eu fiz né. Aí ele me deu um saquinho plástico, falando em francês
7. que era pra protéger -C´est pour protéger.
8. Eu crente assim porque antes de mim já tinha ultrapassado dois
9. rapazes que eu vi que fizeram o mesmo procedimento de botarem o
10. sapato ali e entrarem descalços, passarem pela máquina descalços.
11. Eu vendo aquilo não tava entendendo o que que era aquele saquinho
12. plástico. To crente que era pra protéger um um o maior vexame eu
13. pensei que era pra protéger o sapato. Então eu queria botar o sapato
14. dentro do saquinho plástico.
15. - Non, non, non. C´est pour protéger.
16. Só que ele não falava o que Pra mim era o sapato. Até que eu
Quando
17. eu coloquei tava colocando realmente o sapato dentro do saquinho
ele
18. falou
19. - Non, non non c´est pour protéger les pieds.
20. Aí que eu percebi que era pra botar o saco plástico no meu pé. pra
21. protéger o meu pé pra poder passar num carpete Eu não entendi mas
22. tudo bem eu fiz.
23. E: Quando ele falava pra você - C´est pour protéger, c´est pour
24. protéger. Qu´est-ce que tu repondais?
25. F : Não respondia nada. Eu tava ficando tão nervosa que eu já tava
bo
26. tando direto o sapato dentro do (risos) eu num aí até que eu perguntei
27. - Mais pour protéger quoi?
28. Aí qu´il a disse non eh qu´il a dit
29. - C´est pour protéger les pieds.
30. - Ahhh bom merci
31. Aí que eu comecei. Botei o sa o meu pé dentro do saquinho, né. O
32. saquinho no pé.
33. E: Ok obrigada.
ENTREVISTA nº 8 CLD
R014
o
N total Nacionalidade Faixa etária Sexo Escolaridade Competência
de Lingüística
relatos

2 Brasileira 31a Fem. Pós-grad. Intermediária

ENTREVISTA no 8 RELATO 1 CLD

1. F :Eu tava na sala de aula a professora na época da faculdade a


2. professora contou um caso em que houve um mal-entendido com ela
3. ééé assim em relação aaa fonética da língua francesa. Ela chegou no
4. mercado e ela queria comprar batata. Ela sabia todo o vocabulário de
5. batata, o que era batata, como se pedia alguma coisa no mercado. E
6. ela chegou pro dono do mercado e ela falou assim.
7. - je veux des kilos de pommes de terres.
8. - Combien ?
9. - Je veux des kilos de pommes de terres.
10. - Combien ?
11. Mas ela esqueceu de gesticular e fazer a linguagem universal.
12. Ela chegou em casa assim muito chateada e falou pro marido Mas eu
13. cheguei lá no mercado e pedi des kilo de pommes de terre et ele
14. ficou me perguntando combien combien diversas vezes.
15. Aí o marido chegou assim. Você esqueceu que você queria deux
kilos
16. de pommes de terres Pas des kilos de pommes de terres.
17. E : Ok merci.

ENTREVISTA no 8 RELATO 2 CLD

1. Eu e minha amiga a gente tava em Marseille non non em Versailles


2. eee isso foi na estação do do trem é do trem né. E ela perguntou. Ela
3. queria saber o horário da estação. O horário da estação. O horário
4. dooo da viagem né de volta que a gente poderia pegar Ela queria um
5. papel com os horários. Ela chegou no guichê pro rapaz que trabalha e
6. perguntou assim
7. - Je veux savoir les horaires non les oreilles du train.
8. - Oreilles ? (aí ele apontou pra orelha né)
9. Aí ela
10. - Non, les oreilles.
11. - Non oreilles, c´est ça.
12. Aí eu disse né. - Non les horaires.
13. Aí ela ahhhh c´est bon

ENTREVISTA nº 9 CLD
R015
o
N total Nacionalidade Faixa etária Sexo Escolaridade Competência
de Lingüística
relatos
Curso
1 Brasileira 24a Fem. Superior Intermediária
ENTREVISTA no 9 RELATO 1 CLD

1. F: Tou me sentindo uma estrela aqui.


2. Bem eu fiquei hospedada na casa de uma francesa e no momento da
3. conversa eu vi uma uma panela que pra gente lembra uma panela de
4. pressão Era uma panela de pressão. Então eu fui e apontei e falei
5. - Ah c´est une casserole à pression.
6. - Non c´est pas une casserole à pression, c´est une cocotte-minute.
7. E : Ok, você fez na verdade uma tradução literal.
8. F: É é verdade.

ENTREVISTA nº 10 CLD
R016
o
N total Nacionalidade Faixa etária Sexo Escolaridade Competência
de Lingüística
relatos
Curso
1 Brasileira 26a Fem. Superior Intermediária

ENTREVISTA no 10 RELATO 1 CLD

1. F :Bom eu tava em Paris e eu me dirigi até uma banca de de jornais


2. revistas enfim. E eu fui comprar uma caneta eee eu dei uma nota de
3. dez euros e aí o vendedor me perguntou se eu queria é... en billet ou
4. en monnaie monnaie monnaie (risos) monnaie. E aí euuuu eu na
hora
5. eu não assim o billet pra mim eu não não eu não sabia que o billet
6. significava nota de dinheiro eu tinha aprendido como qualquer tipo
7. de bilhete mesmo
8. E: Ticket
9. F: Tcket. Aí então eu fiquei naquela assim. Vai que é algum vale.
Ele
10. vai me dar um vale pra eu voltar e comprar alguma coisa e eu ficaria
11. sem o dinheiro. Então como eu não entendi não tinha certeza do que
12. era eu disse.
13. - En monnaie
14. Pensando que monnaie significaria naquela situação dinheiro mesmo
15. a nota. E aí ele me deu tudo em moeda. Várias moedas cinqüenta
16. centados (um real ) montinho de moedas e eu não queria aquilo eu
17. queria em notas pra facilitar.
18. Ok. Merci.
ENTREVISTA nº 11 CLD
R017
o
N total Nacionalidade Faixa etária Sexo Escolaridade Competência
de Lingüística
relatos
Pós-
5 Brasileira 31a Masc. Grad. Intermediária

ENTREVISTA no 11 RELATO 1 CLD

1. F:O primeiro exemplo que eu gostaria de citar não aconteceu


exatamente
2. comigo, mas eu estava presente. Bom , bein je vais essayer de
reproduire la
3. scène qui était mise en place à l’année 2000 et c’était la première fois
que
4. j’étais en France, on avait mis...on avait recupéré un véhicule de
service (o
5. entrevistado se refere à empresa de automóveis que ele trabalha)
6. on nous l´a preté ce véhicule de la société (inaudível) Citroën pour
un
7. weekend donc on est parti dans un autre pays et donc on a participé
de
8. comment s´appelle eeuhh... d’une palestre *( ??) avec le responsable
du
9. parking des véhicules du service a fin que nous puisse* nous passer
les
10. expériences ahnn... la legislation locale , par rapport à ça donc on
était très
11. formé par rapport à ça et donc on a essayé le véhicule, et donc en
passant
12. pour l’autoroute on a arrêté* dans un posto de péage et j’étais dans
mon
13. véhivule et mon colègue était dans un autre véhicule,
14. j’étais derrière le véhicule de mon colègue.
15. Et on est arrêté au poste de péage..et il y avait juste une file
16. d´attente pour qui les gens puissent bien recupérer les billets de
péages, par
17. contre mon collegue ne pas fait attention qui... dans les postes de
péages
18. français, dans cette autoroute il n´y avait pas une personne pour
payer le
19. péage, en fait il doit uniquement, il devrait donc récupérer les tickets
donc
20. pour payer juste juste en sortant de l´auto-route. Et donc il a arrêté
21. complètement dans l´auto-route et il y avait une file d’attente
incroyable
22. derrière nous en faisant le carnaval on dit comme ça
23. et donc c’était incroyable et j’étais pratiquemente obligé
24. de descendre de ma voiture afin que je puisse rappeler mon colègue
qu’il
25. devrait uniquement récupérer les tickets et partir, donc c’était un
26. exemple, c’était une experience et je me rappellerai pour toute ma
vie.
* Mantivemos a transcrição fiel ao que foi dito pelo falante.

ENTREVISTA no 11 RELATO 2 CLD


1. F. Voilà mon deuxième exemple c’est toujours dans ma première*
voyage
2. en France et j’ai passé trois mois dans la région de (..) etc, j’ai pris
aussi un
3. véhicule de service pour y aller dans un autre site de production de
4. l’entreprise que je travaille et donc il y avait une ville dans la
région de
5. (Saud) qu’il s’agit dans une région qui possède un domaine très fort
6. allemand et donc cette région surtout à l’époque de la guerre la
France a
7. souffert d’infiltration nucleaire par rapport à l’Allemagne, donc il y
avait
8. pas mal de ville qu’était dans un drame, et surtout a souffert une
forte
9. influence pour avoir un non plus proche de la langue allemande.
10. Donc il y a pas mal de ville qui possède un non typique allemand
« Varh
11. her » (o entrevistado imita fonemas da língua alemã) (risos) et j’ai
pris
12. l’autoroute pour aller à la cité de production et je devais passer dans
des
13. villes où le non était vraiment bizarre pour nous brésiliens, surtout
pour moi
14. qui à l’époque ne parlait pas français correctement alors, je me suis
arrêté
15. pour prendre des renseignements pour pouvoir y aller correctement.
À
16. l’époque n’avait pas le GPS , alors une personne m´a renseigné pour
y aller :
17. Tout droit, tout droit, jusqu’à la fin de la rue il y avait à droite un
pont
18. donc j’avais compris pour touner à droite, quand il a dit tout droit,
tout droit,
19. en fait je me suis trompé, un peu perdu et là je suis arrêté dans une
place et
20. j’ai compris que tout droit c’est pour continer direct en avant, surtout
ne pas
21. tourner.

ENTREVISTA no 11 RELATO 3 CLD

1. F. Dans ma lune de miel s’est passé le cinquième exemple. En


France le
2. métro, enfin il faut acheter les billets, mais pas toujours le
contrôleur, la
3. personne qui vérifie regarde nos billets et si tu n’as pas le billet tu
es
4. obligé de payer le billet au moment. Alors ma femme elle était
ravie très
5. contente, elle venait de connaître la France. Alors elle regardait
tout et
6. tout, mais elle ne faisait pas attention aux gens
7. qui étaient à son côté et le contrôleur demandé ma femme
8. de montrer les billets et ma femme ne comprenait pas ce qu’il
demandait
9. et moi je n’étais pas très loin alors je suis venu
10. et j’ai expliqué qu’on étaient des brésiliens et que ma femme ne
11. parle pas français. Mais il était vraiment énervé quoi, Il allait
presque
12. demander la police pour pouvoir voir ma femme quoi, alors ma
femme a
13. été desesperée, et je lui ai dit calma ! calma ! et voilà c’est une
question
14. de langue, de malentendus.
ENTREVISTA no 11 RELATO 4 CLD

1. F. Mon sixième exemple était simple, et toujours comme tu peux


percevoir
2. mes histoires sont toujours avec mon véhicule de service. Je me
rappelle
3. bien que j´avais pris une 206 (marca de carro) équipée avec le kit
anti-
4. brouillard. Ici au Brésil surtout vous êtes bien habitués à rouler avec
le kit
5. anti-brouillard allumé donc... o farol de milha, normallement,
6. normallement euhh...j’avais pris la 206 tout’équipé avec toutes les
7. options[...] j´étais au centre ville il y avait la police. J´ai passé devant
8. la police et ils ont regardé la voiture comme ça donc je suis garé
dans...
9. tout près d´un pub pour bien boire quelque chose avec des copains.
10. Et donc euh, quand je suis sorti j´ai allumé aussi le kit anti-
brouillard et j´ai
11. passé de nouveau devant la police donc la police m’a arreté en me
12. demandant pourquoi je roulais avec le kit anti-broullard allumé. En
premier
13. moment j´avais pas compris la demande parce que ici au Mercosul
au Brésil
14. ce n´est pas normal tout le temps t’arrêter pour demander pourquoi
tu roules
15. avec le kit anti-brouillard allumé, donc j’ai dit bon c’est pas normal.
16. Donc euh... J’étais un peu quand même surpris, je voulais pas passer
mon
17. temps à m’expliquer. J’ai dit bon normalement ici c’est très dure
pour
18. regarder la route, quelque chose comme ça ,donc ils ont dit : - non
c’est pas
19. une excuse, c’est pas la peine de mettre le kit anti-brouillard, c’est
hors la
20. loi, je vais vous passer une amande. Alors j’ai dit, non monsieur,
excusez
21. moi. Je suis brésilien donc euh...je ne savais pas qu’ici en France
nous ne
22. pouvons pas, que c’est interdit de rouler avec le kit anti-brouillard.
Alors ils
23. m´ont demandé ma pièce d’ identité, mon permis de conduire donc
ils
24. m´ont passé tous ce qu’il fallait et bon d’accord c’est la première
fois,
25. on te laisse passer cette fois-ci mais... pas la prochaine fois,
26. parce que ici en France on est interdit de rouler avec le fare anti-
brouillard
27. allumé, sauf s’il y a des brouillards et j’ai dit bon ok d’accord.
ENTREVISTA no 11 RELATO 5 CLD
1. Le première fois que j´ai pris le RER, donc parce que en métro il n´y
a pas
2. de soucis parce que dans la station du métro vous êtes bien obligé de
3. s´arrêter dans chaque station de métro. Par contre, moi
personnellement je
4. connaissais pas tous les RERs et il y avait les points d´arrêts
spécifiques et
5. donc les trains de RERs ils ne s’arrêtent pas dans toutes les stations.
6. Donc j´ai pris le RER pour y aller dans un site de mon entreprise à
Poitiers.
7. En fait j´ai acheté correctement les billets de RER tranquille, il n´y
avait pas
8. de soucis. J´ai pris le RER correcte c´était le RER A ( ) donc je ne
faisais
9. pas attention qui euh......qui RER que j´avais pris il n´était pas prévu
de
10. s´arrêter à la station que je voulais bien descendre. Et donc au
moment que
11. je suis arrivé à la station donc j´ai bien vu qu´il est parti sans s´arrêté.
Je dis
12. eh.. comment ça se passe ? j´ai demandé une personne, c´était
toujours ma
13. première fois. Donc j´ai dit excusez-moi monsieur mais bon euh...
14. Il m´a expliqué que :- dans le RER il faut faire attention aux sinaux
luminaux
15. donc dans chaque station, dans les panneaux vous avez aussi toujours
dans
16. les sinaux luminaux quelles sont les stations que normalement le
train va
17. s´arrêter et donc ce train là n´avait prévu de s´arrêter dans la station
18. que vous voulez descendre.

ENTREVISTA nº 12 CLD
R018
o
N total Nacionalidade Faixa etária Sexo Escolaridade Competência
de Lingüística
relatos
Curso
1 Brasileira 40 a 50 Masc. Superior Avançada

ENTREVISTA no 12 RELATO 1 CLD

1. F:Estávamos na Copa de 2006 e o povo queria mesmo era assistir


aos
2. jogos pela TV. Ao menos era assim na Casa do Brasil. Eu, que não
3. estava interessado, mas antes fascinado pela ocasião rara de ser
4. brasileiro e poder estar livre do zunzum de tudo o que é ligado a
5. futebol, deliciava-me em não assistir aos jogos. Os que os assistiam,
6. faziam a festa comendo, é claro, e deixando tudo sujo na pia da
Casa-
7. République. Eu detestava, sobretudo porque precisava de vez em
8. quando da cozinha e encontrava a pia na maior sujeira.
9. pois bem, num desses jogos, encontrei na cozinha uma francesa.
10. Vamos chamá-la, para efeito da narrativa, de Marie, já que o
narrador
11. tem péssima memória e não lembra de detalhes (ele, que sempre foi
12. fascinado pela beleza dos brancos, só lembra que ela era branca, loira
13. e bonita [coisa de descendente de escravos que traz no sangue um
14. pouco do hábito de chamar nhor e de nhá]).
15. Eu acabara de usar a panela e a sueca perguntou-me se eu iria lavar o
16. objeto, ela queria fazer pipoca.
17. - Est-que vous allez laver la casserole?
18. u procurei a caçarola e a vi, sim, suja, mas não por minhas mãos. Eu
19. só conhecia poucas palavras de cozinha em francês (hoje
20. provavelmente conheço menos) e a abrangência de casserole não era
21. uma delas. Casserole no meu vocabulário era caçarola e nada mais.
22. - Não, respondi, não vou. Não fui eu quem a usou. - Non, je ne vais
pas
23. la laver. Ce n´était pas moi qui l´a utilisée.
24. Ora, ela tinha me visto terminar de sujar a panela (não a caçarola) e
25. ficou me olhando com um ar de quem diz: "Mas é mesmo um sem-
26. vergonha, suja e não quer limpar!..." Já deu pra imaginar, não é?
Cara
27. de surpresa e uma quase raiva. Tomou a panela de minhas mãos e
28. começou a lavá-la, que urgia a pipoca.
29. Fui-me embora, certo de minha justiça.
30. Só minutos depois, dei-me conta de minha besteira, já desconfiado
da
31. cena insólita e tendo consultado o dicionário e, literalmente, morri de
32. vergonha. Logo eu, que tento sempre ser justo e, no mais das vezes,
33. limpo!
34. Voltei à cozinha, alguns minutos mais tarde, para tomar chá. Lá
estava
35. ela, intervalo do jogo. Apressei-me a explicar à nhá francesa:
36. "Pardonnez-moi, je ne savais pas la signification du mot 'casserole',
37. parce que chez-moi..." etc. etc. etc.
38. Ela sorriu um riso de compreensão, de perdão e de piedade por meu
39. pobre francês. Como ela havia lavado o que eu sujara, dispus-me a
40. lavar o que ela tinha sujado com a pipoca.
41. E, após a limpeza, foi feita a justiça, à la langue et aux casseroles.
Eu,
42. no final, aprendi mais esse falso cognato.

ENTREVISTA nº 13 CLD
R020
o
N total Nacionalidade Faixa etária Sexo Escolaridade Competência
de Lingüística
relatos
Curso
1 Francesa 30 Fem. Superior LM
ENTREVISTA no 13 RELATO 1 CLD

1. F: j´étais dans un restaurant avec une amie brésilienne à São Paulo


eh...qui
2. parle français qui est professeur de français donc on parle français on
parle
3. un petit peu portugais aussi de temps un temps pour pratiquer eh je
me lève
4. et je veux eh.. pour aller aux toilettes et donc je vois une serveuse
passer et
5. je lui dis.. vous savez que au Portugal pour parler des toilettes on dit
casa de
6. banho. Et donc j´ai dit à cette personne onde é que fica a casa de
banho por
7. favor et cette personne m´a regardé un peu bizarre parce que et moi
je
8. comprenais pas pourquoi elle me comprenait pas et je sentais bien
qu´elle
9. était en train d´entendre autre chose mais pour moi casa de banho
c´était
10. salle de bain c´était des toilettes en complet les cabines et mon amie
brési-
11. lienne qui était là a arrêté la serveuse et a dit
12. - non non elle tá a procura do toilette.
13. Et a serveuse :
14. - ah tá bem o toilette
15. et après moi j´ai pas compris ce qui s´était passé et j´ai demandé à
mon
16. amie pourquoi elle n´a pas compris quand je lui ai dit casa de banho
elle me
17. dit parce que casa de banho ici au Brésil c´est autre chose
18. E : - Ok merci

ENTREVISTA nº 14 CLD
R022
o
N total Nacionalidade Faixa etária Sexo Escolaridade Competência
de Lingüística
relatos
Pós-
4 Brasileira 47a Fem. grad. Intermediário

ENTREVISTA no 14 RELATO 1 CLD

1. F: Eu fiquei assim tão perplexa com a frase que eu ouvi, porque eu


nunca
2. esperei ouvir uma frase dessa ou eu não sabia (desconhecia) que tinha
3. uma frase tão educada ( ) Eu tava num trem chamado tram não é trem
4. é tram e ele roda a cidade toda né e eu tava indo numa direção da
cidade
5. pra procurar enfim um material um livro ( ) e eu peguei na hora du
rush
6. na hora que fica todo mundo ( ) da escola, parte da tarde saída do
colégio
7. né?
8. E: Certo
9. F: os adolescentes. E os professores também tavam saindo Então eu
tava
10. acostumada porque geralmente eu ia pra uma biblioteca(inaudível)
então
11. entravam professores e alunos e eu tava acostumada com esse percurso
todo
12. dia eee era assim quando tinha espaço no trem é do meu lado, eu
nunca sento
13. na janelinha Os alunos entravam jogando as mochilas báa (fez barulho
14. imitando a mochila caindo ao lado) e sentava do meu lado. Então um
dia
15. veio uma senhora ( ) muito bem vestida, linda e ela olha pra mim e
fala
16. assim Eu tava cheia de material tava com muito livro pra pesquisa né
tava
17. sempre cheia de coisa. E ela olhou pra mim e falou assim
18. - Ça vous dérange madame?
19. E: Hum rum
20. F: Aí eu fiquei assim tão estatelada porque eu eu
21. E: Mas ela tava em pé ou tava sentada?
22. E: Tava querendo entrar ( ) então ela falou dessa forma tão educada
23. que eu não esperei
24. F: Hum rum
25. E: Porque ela poderia dizer Madame s´il vous plaît. Pra ela poder
entrar
26. ficar ali na janelinha do lado da janela eu tava do lado do passageiro

27. E ela falou
28. - Je vous dérange Madame?
29. Quer dizer é é é um Eu tô te incomodando? Mas no sentido de pedir
per-
30. missão
31. E: Exatamente. Isso é legal isso é cultural mesmo.
32. F: ( ) E foi uma das coisas que eu mais marquei assim E eu
fiquei
33. pensando assim o grau de educação dessa senhora. Não só a educação
enfim
34. no sentido de educação familiar como educação escolar né.
35. E: Certo. Entendi e e como é que a coisa se fechou. Vamos dizer
assim. A
36. cadeira do lado tava vaga Ela pediu dessa forma delicada
Delicadíssima né
37. pra passar. Agora você entendeu pela postura dela ma de repente ou
38. F: ( ) dela ter( ) mesmo Mas eu( )
39. E: Meio hesitando um pouquinho talvez?
40. F: Eu acho que deve ter um momento do cérebro que você dá conta
41. daquilo,né.
42. E: Hum rum.
43. F: ( ) ela tava dizendo pra mim que ela vai me desarrumar né.
44. E: Hum rum é verdade.
45. F: ( ) mas o meu cérebro deve ter tido o momento de entender que ela
não
46. ia me tirar do lugar. Que ela não queria me empurrar pra janela. Mas o
je
47. vous dérange Madame é é Eu vou te desarrumar eu vou te te
incomodar.
48. E: ah ram. Entendi.

ENTREVISTA no 14 RELATO 2 CLD

1. E: Nunca nunca nem pensar. Então eu tava assim andando era meio dia.
2. Horário de corre corre também ( ) o tram ( ) o tram
3. E: O que eles chamam de Tramway não?
4. F: Ele é o tram ele é o trem que você vai daqui pra pra Paris. De lá pra
5. Paris. Daqui olha só?
6. E: É rá rá rá (risos)
7. Eu tava assim andando sei lá Aí um rapaz tipo uns 40 anos seriamente
8. parou e falou
9. - Quel soin!
10. E: Como é que é? Quel soin?
11. F: Soin. S O I N (ela soletrou)
12. E: Ah rum. Cuidado.é
13. F: Exatamente.
14. E: Gente
15. F: Aí ele ficou olhando pra mim perplexo. Aí eu fiquei assim meio
16. assustada ( ) você está habituada né. Quer dizer uma paquera tão
17. educada.
18. (risos)
19. E: -Comment monsieur?! (brinca)
20. F: E aí ele ficou parado olhando como se eu fosse devesse como se
fosse
21. naturel da uma resposta de volta. E eu jamais saberia qual seria né.
22. E: É..
23. F: Oui, Monsieur, nous allons sortir ce soir ?
24. (risos)
25. F : E ele ficou esperando uma resposta.
26. E: Mas você entendeu de imediato que era uma paquera ou não?
27. F: entendi de imediato que era uma paquera porque eu já vinha quando
28. eu saí do trem Eu já tava olhando em frente. Eu vi um homem também
me
29. atraindo né. Tudo bem até aí. Ele passava direto ou eu passava direto.
Ou
30. então como um Brasileiro, olharia e diria - gostosa.
31. E: (riu)
32. F: né? E sei lá o que. Aí ele foi e falou
33. - Quel soin.
34. Agora eu entendi que cútis, que pele. - Você entendeu como cuidado?
35. E: É não sei. Agora você me deixou na dúvida. Eu ficaria na dúvida que
36. era uma paquera, pra começo de estória né.Assim mas eu acho que os
37. outros elementos iam colaborar os olhares enfim né.
38. E: Eu olhei. Aquela coisa assim de você bater o olho. Bateu a química.
39. Aí tudo bem tô passando. Quando ele passou por mim, ele parou e falou
40. - quel soin. E ficou parado esperando. E eu interpretei que esse soin que
41. ele tava dizendo era assim que pele, que pele bonita. Mas aí o soin...
42. E: É eu pensei eu pensei assim como algumas paqueras mais cuidadas
43. brasileiras né, não tem aquela coisa assim meio que puxando pro lado
44. romântico né? Que coisa divina né que Deus me deu. Ou alguma coisa
45. assim Mas aí a gente ouve frases mais cuidadosas de alguém que a gente
46. já tem um contato e não de uma paquera inicial. Eu acho que aí né aí tá
47. a diferença Você é é ainda existem poucos românticos ainda que que
que
48. as vezes saem com uma sacada bem inteligente, mas delicada e tudo
mais
49. Mas é é eu acho que dentro da nossa cultura ta mais ligada a uma
relação
50. que você já está desenvolvendo, não é ? É isso
51. (inaudível)

ENTREVISTA no 14 RELATO 3 CLD

1. F: Eu nunca pensei em passar por uma situação do “y” da seguinte


forma
2. é.. que eu possa dizer assim Vamos lá pra o outro lado da sala? Aí
você
3. diz on y va.
4. E: Hum rum.
5. F: É eu me lembro de eu estar saindo assim do banco. (inaudível) Aí
eu
6. abri a porta e eu vi alguém ou saía eu era muito pequena ou entrava a
7. moça que tava vindo eu é... na minha cabeça ela ela ela não
precisava falar
8. nada porque em português a gente não fala muito um anda pra trás
ou um
9. outro pra um entrar. Aí ela virou pra mim e falou assim
10. - Vas-y!
11. Ai eu tive que dá conta da onde ela quer que eu vá. Eles lá esse vas-y
ela
12. quer que eu vá pra que lado, né? (risos) da da praça agora?( ) Vai
indo
13. vai saindo. Só que vai indo pra láé um pra lá que... que eu não sei
onde era
14. é é eu não se foi incomodante, se foi incomodativo pra ela eu ter, ela
ter
15. que me dar o lugar da da da sair primeiro né. E por isso ela falou vas-
ye
16. jogava bem o (rosto) e aí vas-y
17. E: Peraí eu perdi o começo da estória. Você estava aonde?
18. F: Eu tava dentro do banco.
19. E: Ah o banco!
20. F: É
21. E: A por exemplo. Porque eu entendi banco mas eu pensei dentro do
22. ônibus.
23. F: Não não banco banco banco mesmo
24. E: Agência bancária?
25. F: Agência bancária. E a portinha pra sair é bem estreita. E eu tive
que em
26. purrar, depois que você sai numa porta maior é é aquelas que você
fica
27. segurando e tal tem uma portinha estreita então foi foi foi. Aí eu
empurrei
28. pra sair da portinha. Ela tava com mala tava com um monte de coisas
29. (inaudív.) e eu tava mais livre.
30. E: Hum rum.
31. F: Mas na realidade, quem sai a a mais ou menos na educação que eu
32. imagino quem sai quem está pra sair do local é que tem que sair
33. primeiro, não quem tem que entrar.
34. E: É exatamente.
35. F: Né então na verdade eu que teria que sair e depois ela entrar.
36. E: Correto.
37. F: Só que ela disse com muita raiva. Ela - Vas-y!
38. É aí eu tive que dar conta de
39. entender que ela não queria me mandar é ... Vai lá comprar alguma
coisa. O
40. vas-y pra mim foi muito....É... muito pesado
41. É eu acho que foi/ (interrompida) .
ENTREVISTA no 14 RELATO 4 CLD

1. F:O que eu pude ver assim também É que como a cidade ela tem
uma
2. grande incidência de Árabes o francês ele tá ficando assim..O R ele

3. muito arranhado ( ) as palavras fossem ter uma uma A freqüência
4. fosse muito ééé até sibilante e arranhada È o caso do [J] pas.
Muitas
5. vezes em lojas árabes né eles falam também E até Alemães e
Árabes. A
6. cidade é bem Alemã E eles não falam je ne sais pas Eles falam [S]pas
7. [S]pas E eu passei uma semana pra entender o que que a pessoa tava
me
8. dizendo Porque eu não consegui nem no contexto dá conta né. Aí
depois
9. de uma semana eu passei a dar conta do [S]pas.
10. E: Ok, merci.

ENTREVISTA nº 15 CLD
R043
o
N total Nacionalidade Faixa etária Sexo Escolaridade Competência
de Lingüística
relatos

3 Brasileira 20 a 25 Fem. Tec. Avançado

ENTREVISTA no 15 RELATO 1 CLD

1. E. Et à propôs du gestuel?
2. F. Ouais, le fait ici au Brésil de présenter le beaucoup on fait comme
ça avec
3. la main et les doigts...(a entrevistada faz o gesto de muito com os
dedos)
4. E. Quando a gente pega as mãos assim e junta abre e fecha os
dedinhos.
5. né, aí faz assim , muito , muito.
6. F. Voilà et ça en France ça ne veut pas du tout dire beaucoup, ça veut
dire
7. peur, donc j’ai fais une gaffe j’étais en train de dire que j’étais
beaucoup
8. pressée et ils ont compris que j’avais beaucoup peur. Alors que
j’étais pres-
9. sée donc j’ai pas trop trop compris et après pour moi je croyais que
j’étais en
10. train de montrer une chose, et finalement pas du tout ils ont cru que
j’avais
11. peur (risos). Pour m’expliquer et comprendre après j’ai eu du mal,
mais
12. enfin on est arrivé.
13. après directement je me suis excuser, non non j’ai pas peur de vous
juste un
14. malentendu.
15. E. Ouais, Super alors le malentendu s’est résolu à partir d’une
explication
16. directe ?
17. F. Oui, exactement.
ENTREVISTA no 15 RELATO 2 CLD

1. E. Indo no âmbito do gestual, a gente vai ter que explicar as mãos.


2. Quando a gente faz os gestos com a mão dizendo que indo embora, a
gente
3. faz aí eu tenho que descrever com a palma da mão pro alto né?
Gesticulando
4. assim, no vai e vem. Pra eles, eles não entendem?
5. F. Não, não, pra eles não tem nenhum sentido, pra eles pra mostrar
assim to
6. indo embora je vais partir são com as duas mãos, como se tivesse
cortando
7. bate uma mão na outra assim,(a entrevistada fazendo o gesto como
se fosse
8. pedindo um tempo só que a mão inferior fica na horizontal e bate
uma na
9. outra) ah tô indo embora que já o nosso jeito de
10. explicar ah eu estou embora e tal é a mão aberta então pra eles não
tem
11. nenhum sentido.
12. E. Você lembra assim de alguma vez que você tenha utilizado,
13. principalmente na primeira vez?
14. F. Sim , hi com certeza até porque eu tenho um sobrinho francês aí
ele
15. olhou pra mim que isso? (risos) ai eu disse “vão bora” dépêche-toi aí
ele me
16. disse b... ça ne veut dire rien pour moi (risos), aí ele me mostrou
como se
17. fazia lá.
18. E. Parece que quando a gente faz um gesto que pro outro a leitura
não é
19. direta, pela expressão do rosto do outro a gente vê diretamente que
não foi
20. bem compreendido.
21. F. Com certeza ai a gente se pergunta o que que é isso?
22. será que eu to ficando doida, aí a gente acaba descobrindo.

ENTREVISTA no 15 RELATO 3 CLD

1. F. J’ai eu un dérangement personnel, mais très commum.


2. En france il y a beaucoup des musulmains, donc.... à cause que je
suis
3. simplement matte avec les cheveux très longs, oui je ne ressemble
pas une
4. européenne on va dire, mais c’est pas grave ça m’a dérangé quand
même, et
5. je suis allée à un restaurant et les musulmains ne mangent pas de
jambon,
6. pas de porc, d’ailleurs rien dérivé.
7. Il y avait un repas avec un steak haché et une tranche de jambon
avec, alors
8. la dame quand m´a servi n’avait pas du jambom, de suite j’ai
demandé Oh
9. c’est quoi ça ? Où est mon jambon ? et puis la dame, vous n’êtes pas
une
10. musulmaine? Vouz mangez pas de jambon?
11. E. Ah elle a demandé ça ?
12. F. Ah oui, un procès là (risos), bon je lui ai dit désolé mais je suis
13. brésilienne, elle de suite ah carnaval à Rio, les plages etc....
14. À la fin elle s’est excusé m´a donné même 2 repas (risos) et c’est
bien fini.
15. Ça m’a dérangé, oui un peu, c’est le racisme, pas pensé, naturel
quoi, enfin
16. je pense.
ENTREVISTA nº 16 CLD
R046
o
N total Nacionalidade Faixa etária Sexo Escolaridade Competência
de Lingüística
relatos

1 Brasileira 30 a 35 Fem. Pós-Grad. Avançado

ENTREVISTA no 16 RELATO 1 CLD

1. E. Qual é a sua observação, como é que aconteceu a cena?


2. F. Nós estávamos fazendo o curso de teatro em Avignon e tivemos
3. um dia livre na parte da tarde, fomos fazer piquenique.Eu fui vestida
com
4. um vestidinho simples, nem muito curto, nem muito longo, aí um
senhor
5. que fazia parte do nosso grupo me olhou assim de repente e disse:
6. - Vous n’êtes pas habillée pour un piquenique! Do nada assim.
7. Aí me assustou a maneira grosseira dele falar, porque brasileiro nunca
fala de
8. uma maneira dessa. Fazem até um comentário tipo: Teu vestido ta
curtindo,
9. senta de uma outra maneira, seria uma coisa mais... mas ele não, ele
virou pro
10. lado e falou e continuou comendo.
11. E. Você lembra como é que foi a sua reação? o que você falou pra ele
na
12. hora?
13. F: Não. Eu fiquei muda, olhando pra ele meia assutada é meio
indelicado pra
14. gente assim, pra ele foi super natural.
15. E. Eu acho que, eu acho não, você que tem que dizer o que você acha,
16. mas assim, os brasileiros parecem que fazem mais rodeios.
17. F. Eles atenuam mais os comentários. Os franceses não, eles são bem
18. curtos e grossos, literalmente.

ENTREVISTA nº 17 CLD
R048
o
N total Nacionalidade Faixa etária Sexo Escolaridade Competência
de Lingüística
relatos

1 Brasileira 25 a 30 Masc. Superior Básico

ENTREVISTA no 17 RELATO 1 CLD

1. F. Eu estava , eu me hospedei em Paris em um hotel em Paris onde


por
2. minha surpresa, eu encontro que por andar existe só um banheiro,
é...é...
3. Eu comento ao gerente que eu tomava banho todos os dias e
4. ele mostrou uma cara de estranho né, ficou estranhado com essa,
com esse
5. pedido e depois de uns cinco dias que eu já diariamente tomava
banho
6. ele veio me comunicar, me perguntar se eu tinha algum problema de
pele,
7. alguma doença pra que eu tivesse que tomar banho todos os dias e eu
fiquei
8. estranhado e fiz essa pergunta porque isso? Ai ele disse que é aqui
não é
9. comum as pessoas tomarem banho todos os dias só uma pessoa que
tenha
10. algum problema de pele alguma coisa assim e se você precisa de
algum
11. tratamento algum serviço, algum tratamento de quarto um serviço
especial,
12. de toalhas de alguma coisa especial eu posso te proporcionar isso...
13. E. E isso foi em Paris mesmo ou em outras regiões?
14. F. Isso em Paris, centro de Paris mesmo e eu falei assim não , não eu
não
15. tenho nenhum problema simplesmente que eu tomo banho todos os
dias,
16. ele ficou surpreso e ainda fez assim é... a famosa piada que, que são
assim
17. atribuidas a eles - Por isso que os perfumes franceses são os mais
caros e os
18. mais cheirosos aí rimos e eu fui pro meu quarto.
19. E. Ok, Obrigada.
20. F. De nada.
21. E. E outra coisa que tenha assim te chamado atenção?
22. F. Eu , eu fiquei foi é muito surpreso que em qualquer hotel aqui do
Brasil
23. tem uma suíte, quer dizer são suítes quarto com banheiro
24. e eu chegando lá, é eu encontro que só tem um banheiro por andar,
25. e... pra mim um hotel em Paris deveria ter suítes, mas não é o
costume deles
26. ter suite.
27. E. Ok !
ENTREVISTA nº 18 CLD
R050
o
N total Nacionalidade Faixa etária Sexo Escolaridade Competência
de Lingüística
relatos

1 Brasileira 35 a 40 Fem. Pós-Grad. Básico

ENTREVISTA no 18 RELATO 1 CLD

1. F. É. A situação foi eu tava em Paris né, eu tinha ido a trabalho aí eu


estava
2. passeando em Paris, aí eu parei em uma mercearia que vendia frutas
e
3. legumes, aí tinha uns morangos super bonitos parei pra comprar os
4. morangos e comecei, como a gente faz aqui no Brasil, a escolher as
caixas
5. de morango, aí veio o dono, o gerente da mercearia, com uma cara
muito
6. zangada pra mim e me deu uma bronca porque eu estava escolhendo
as
7. caixas e disse que eu não podia escolher que todos morangos eram
bons e
8. iguais e que eu tinha que pegar qualquer um se eu quisesse.
9. E. E ele gesticulava? o tom era muito agressivo?
10. F. Assim não era muito agressivo, mas era um tom zangado,
11. uma coisa assim, como se tivesse ficado ofendido por eu ter
escolhido,
12. olhando os morangos, como se eu achasse que alguma coisa ali não
era boa.
13. E. Como é que você chegou a entender perfeitamente o que ele
estava
14. falando com relação a fruta ou foi o gestual que te ajudou de alguma
forma?
15. F. Não, eu não entendi perfeitamente o que ele estava falando não.
Entendi
16. alguma coisa, que ele tava me dando bronca porque eu tava
mexendo e o
17. gestual. Ele gesticulava assim (a entrevistada imita o gesto do
comerciante,
18. dizendo não com o dedo indicador) que não que
19. eu não podia mexer naquilo e o tom dele assim, porque ele tava
meio
20. zangado (risos). Pela cara dava pra entender que ele não estava
gostando do
21. que eu estava fazendo.
22. E. E como é que foi o desfecho da coisa?
23. F. Não, aí eu pedi desculpas (risos) peguei uma caixa qualquer e
paguei e
24. tal, agradeci e foi isso.
25. E. Agora você observou isso como uma coisa isolada ou você acha
que é
26. um procedimento deles mesmo assim de não manipular muito como
a gente
27. aqui?
28. F. Me deu a entender que era assim até porque ele não sabia que eu
era
29. turista nada disso não é porque eu tava quieta, tava calada, estava na
entrada
30. da mercearia a banquinha de fruta então e não tinha entrado e falado
com
31. ninguém. Ele que veio lá de dentro pra falar comigo, então me deu a
32. entender que era uma situação deles, que eles não manipulam não
mexem
33. assim nas frutas como nós aqui estamos acostumados pra escolher.
34. E. Ok, Merci.
ENTREVISTA nº 19 CLD
R059
o
N total Nacionalidade Faixa etária Sexo Escolaridade Competência
de Lingüística
relatos

13 Brasileira 35 a 40 Fem. Pós- Grad. Avançado

ENTREVISTA no 19 RELATO 1 CLD

14. F. Nós estávamos numa fila né, pra assistir a uma peça de teatro
quando uma
15. pessoa da bilheteria avisou que iria atrasar uma meia hora. Então nós
16. começamos a brincar entre a gente e... depois dos trinta minutos o ra-
17. paz voltou à fila dizendo que iria demorar, que iria atrasar mais vinte
18. minutos quando uma amiga falou que iria vender os bilhetes
também
19. brincando. Aí ela começou a dizer : - Qui veut acheter des billets
pour
20. Richard III ? Não lembro bem se ela disse se era une promo ou une
remise,
21. quando eu a interrompi dizendo - J’ai une idée superbe, au lieu de
vendre les
22. billets, on peut faire la pièce nous même. Je leur ai dit : - On va faire
la pièce
23. de la queue ! E elas gritaram - Nonnn !(risos) Como eu sabia que la
queue
24. também podia significar o rabo do cavalo eu pensei que elas estavam
rindo
25. por isso. E eu insistia - Oui on va faire la pièce de la queue! - Non,
Joana!
26. E elas continuavam rindo. Uma outra colega falou - ça peut donner
une
27. autre interpretação. - La queue de l´animal? - Non la queue de
l´homme. (Ela
28. fez um gesto apontando para a posição do órgão sexual masculino) e
como
29. numa tentativa de esconder o vexame eu lembro que falei alguma
coisa
30. parecida com - Ah non ! Mais je ne suis pas coupable si vous les
français
31. modifient le placement des choses, la queue c´est derrière pas avant.
E todo
32. mundo levou na brincadeira e continuou rindo.

ENTREVISTA no 19 RELATO 2 CLD

1. F. Ainda na mesma fila do teatro enquanto esperávamos atores de outros


grupos
2. de teatro faziam panfletagens de outras peças, então tava aquele clima
3. descontraído e... todo mundo, brincando com todo mundo ah.....
4. Então chegou uma jovem atriz e distribuiu individualmente um papel de
5. publicidade de sua peça para cada um de nosso grupo. Quando chegou
na
6. minha vez ela me pulou eee... naquele clima de brincadeira eu
perguntei pras
7. meninas - Mais...c´est du préjugé ça !? depois olhando pra moça eu
disse
8. - Pourquoi tu m´as sauté ? Ela continuou panfletando na fila e pareceu
não ter
9. me ouvido e eu tornei a perguntar pras minhas colegas
10. - Pourquoi elle m’a sauté?
11. E Imediatamente elas gritaram. - non ! non! tu peux pas dire ça, tu
12. peux pas dire ça. (elas falavam e riam ao mesmo tempo) Eu fiz uma
relação
13. imediata com a palavra ‘préjugé’. É engraçado como num curto espaço
de
14. tempo a gente procura uma justificativa para dar sentido as coisas. Eu
cheguei a
15. pensar que fosse uma brincadeira de mal gosto dizer explicitamente que
eles
16. são preconceituosos. Então eu me lembro que ainda perguntei assim:
17. - C´est très fort dire comme ça... ? e elas me cortaram explicando - C´est
très
18. vulgaire. Aí eu percebi - Quoi !? Tu m´as sauté ? - Ah non ça veut dire
quelque
19. chose différent de sauter tout simplement ? (deu um saltinho) Uma
colega
20. respondeu - Oui, ça veut dire faire de l´amour mais tu sais... c´est une
façon
21. grossière de parler, c´est vulgaire. E uma outra interrompeu. - C´est
féroce !
22. Mais motivos para rizadas...
23. Minha saída pra disfarçar a saia justa ééé, foi perguntar assim:
24. - Mais pour les pommes de terre sautés, aucune conotation différente
j´espère ?
25. Ela riu - Non pour les pommes de terre sautées ça va.
26. E. E a menina que te entregou o panfleto, como foi a reação dela?
27. F. Como eu disse, eu acho que ela não ouviu, na verdade nunca vou ter
a
28. certeza. Mas é provável que não tenha escutado, tinha muito barulho a
fila tava
29. enorme, imensa se ouviu fingiu que não ouviu.
30. E. Deu sorte de estar entre amigas, não é?
31. F. Muita sorte.
ENTREVISTA no 19 RELATO 3 CLD

1. F. Eu lembro que eu entrei no.. no ponto, na estação de uma linha de


metrô
2. em Paris. O metrô estava parado na plataforma e me informaram que
levaria
3. uns 10 minutos para sair. Isso não era comum pra mim, eu estava
4. acostumada a chegar na estação e esperar o metrô que geralmete tem
aquela
5. parada rapidíssima padrão aí a gente entra e ele vai embora. Mas não
sei se
6. porque já era muito tarde da noite... não sei, só sei que o metrô já
estava lá
7. parado e deveríamos esperar uns 10 minutos para sua saída. Aí eu
sentei no
8. vagão que tava parado, né, aguardando a saída, assim como outras
pessoas
9. também entraram e sentaram. Então de repente sem nenhum aviso no
auto-
10. falante, nenhuma sinalização, nada nada nada, eu só vi o povo se
levantar e
11. sair correndo, todo mundo, literalmente correndo mesmo. Eu fiquei
super
12. assustada morri de medo, a impressão que eu tive naquela hora é
que tava
13. rolando uma assalto e eu distraída não tinha percebido. Eu fiquei
gelada eu
14. tinha certeza que estava sendo assaltada, uma espécie de arrastão no
metrô,
15. só que quando eu consegui ter alguma reação de pegar minha bolsa e
16. levantar o vagão já tava vazio, só eu estava lá dentro. Todos tinham
corrido
17. para a linha ao lado para pegar um metrô que parou ao lado. Não sei
bem e o
18. trem já tinha ido embora e eu fiquei sozinha no vagão, aí eu tive
uma
19. mistura de relaxamento e vergonha. assim... por não ter entendido
antes o
20. que estava acontecendo. Eu percebi que todos, que a correria era
21. pra pegar o outro trem. Entrou um francês e eu perguntei se tinha
algum
22. problema e se aquele metrô iria continuar ali, ele me explicou que se
23. chegasse outro antes da saída daquele a gente poderia mudar. E foi o
que
24. aconteceu, outro metrô passou de novo ao lado, todos se levantaram
25. correndo iclusive eu e passamos pro outro metrô. Quer dizer fazia
parte de
26. uma rotina que eu desconhecia, por isso interpretei como um assalto,
uma
27. coisa de louco, um susto, mas depois eu entendi.
ENTREVISTA no 19 RELATO 4 CLD

1. F. Uma observação contrastiva, eu acho os franceses objetivos,


diretos ao
2. extremo no jeito de dar uma informação. Eu tenho um exemplo que
ilustra
3. bem isso. Quando eu e mais duas amigas brasileiras estávamos
decidindo se
4. compraríamos ou não a carte orange semanal pergutamos a moça do
guichê
5. o valor da carte e do carnê que vem com mais bilhetes. Nós
queríamos saber
6. o que sairia mais em conta. Nós perguntamos para ela assim - Quelle
est
7. l´option la moins chère ?e ela respondeu - Ça dépend.
8. E nós perguntamos - Ça dépend de quoi exactement? E ela
respondeu:
9. Ça dépend ça dépend de la zone que vous allez utilisez
10. e aí não vou lembrar com detalhes mas sei que ela deu
11. uma explicação mais suscinta possível das zonas que compreendiam
o
12. carnê a carte orange. Então nós saímos da fila pra fazer as contas de
acordo
13. com os passeios que a gente queria fazer naquele dia. Tudo
aconteceu ali na
14. frente do guichê por que não tinha muita gente de vez em quando
chegava
15. um pra comprar um bilhete. Chegamos a conclusão
16. de que sem dúvida para o que queríamos a carte orange era a mais
17. econômica. Como disse toda essa discussão, se passou ali na frente
dela no
18. guichê, ela pode acompanhar tudo e quando nós enfim pedimos pra
ela:
19. - On va acheter la carte orange. Ela nos respondeu assim: - Mais
20. aujourd’hui ce n´est pas possible. La carte orange n´est plus vendue
21. aujourd’hui. Aí a gente não entendeu nada e começou a contestar
porque ela
22. não poderia vender até que entendemos que o raciocínio do francês
era o
23. seguinte: a carte orange semanal como uma opção econômica para o
24. comprador é válida de domingo a domingo por exemplo, para
alguém que
25. compra a carta na quinta feira já não é tão bom negócio porque
perdeu
26. quatro dias de uso, por isso a bilheteria só vende até a quarta feira,
27. independente da vontade do cliente. A questão é que para nós
brasileiras não
28. fazia o menor sentido a francesa da bilheteria não ter nos explicado
que não
29. adiantava ficar calculando a melhor opção de compra nós não
poderíamos
30. mesmo comprar a carte orange naquele dia. Parece óbvio pra gente
que a
31. primeira informação deveria ser que naquele dia não poderíamos
mais
32. comprar a carte. Nossa, nós quase tivemos um troço ali na frente
dela,
33. perdemos um tempão discutindo uma coisa inútil, e bem revoltada eu
34. perguntei pra ela já que era impossível comprar a carta orange
naquele dia
35. - Pourquoi vous ne nous avait pas dit ça avant? et elle m´a répondu
36. - Vous ne m’aviez pas demandé ça, vouz m’aviez demandé le prix
de la
37. carte orange.
38. Na minha opinião isso é ser direto ao extremo, não vejo essa cena
39. acontecer no Brasil, parece óbvio que a primeira coisa que eles
diriam aqui
40. é que a carta orange não seria mais vendida naquela data, naquele
dia e eu
41. ainda arrisco a dizer que no sistema brasileiro é bem provável que
fosse
42. vendida até o último dia independente de ser vantajoso ou não para o
cliente.
43. Tá bom eu confesso que aquela idéia da falsa liberdade é tão ruim
quanto a
44. objetividade extrema.

ENTREVISTA no 19 RELATO 5 CLD

1. F. No outro exemplo que acaba confirmando a minha idéia de que os


2. franceses eles são muito diretos, ou objetivos como algumas pessoas
3. costumam falar. Nós entramos na plataforma pra pegar o RER e lá
4. dentro nós ficamos na dúvida se realmente estávamos na plataforma
correta.
5. A gente foi logo no guichê e perguntou se o trem que queríamos
passava
6. naquela plataforma, pra o lugar que a gente tava querendo ir.. né..
pro... o...
7. nosso destino. E a atendente muito simpaticamente disse que sim. eu
8. estávamos na plataforma correta. Aí nós voltamos, éramos um grupo
e...
9. esperamos o trem chegar , né o metro lá. Depois nós vimos que tinha
uma
10. espécie de panneau lumineux com vários itinerários e...então quando
o trem
11. parou na plataforma eu já ia entrando e a minha amiga me puxou
pelo braço
12. falando assim: - Não, espera, tem alguma coisa estranha.
13. Porque o lugar que a gente ia, eu não me lembro o nome agora, o
nome da
14. estação não estava aceso no panneau lumineux, mas havia outras
estações
15. que acenderam. Bom todo mundo concordou que realmente tinha
uma coisa
16. estranha e achamos melhor voltar no guichê de informação. De novo
a
17. pergunta: Madame s’il vous plaît quand le train s´est arrêté nous
avons
18. remarqué queuh.... Notre station n’était pas allumée au panneau. Aí
elle a
19. dit: - Oui, probablement ce n’est pas votre train. Et je lui ai dit : Ah
bon, ça
20. veut dire que il y a beaucoup de trains qui passent par là
21. dans la même plataforme avec des destins différents ? Et elle m’a
dit: - Oui,
22. madame il faut que le panneau soit allumé . Eu perguntei pra ela
então
23. porque ela não me disse isso antes e ela me respondeu na maior
simplicidade
24. que eu não havia perguntado aquilo. Eu saí de fininho com o meu -
De toute
25. façon, merci Madame. Aí virou brincadeira entre nós brasileiras que
26. quando a gente quer saber alguma coisa dos franceses tem que
perguntar os
27. mínimos detalhes por que eles são extremamente econômicos com as
28. palavras. Aqui no Brasil quando a gente pergunta um itinerário na
rua pra
29. uma pessoa, às vezes a outra que tá passando ao lado se mete para
dar
30. maiores detalhes na explicação. Há sem dúvida um engajamento
maior na
31. conversação de caráter informativo entre os brasileiros.. que eu não
sinto da
32. mesma forma com os franceses.
ENTREVISTA no 19 RELATO 6 CLD

1. Eu estava hospedada em uma escola na França, num esquema de


internato,
2. fazendo um curso e tinha encomendado um livro para ser entregue
pelo
3. correio, mas a escola era enooorme e eu todo dia ia checar se já
tinha
4. chegado, é... eu já tava ficando nervosa porque eu já ia
5. embora dentro de dois dias pro Brasil e nada de livro. Então eu
descobri que
6. como era época de férias no internato eles costumavam colocar toda
7. correspondência numa sala fechada. Fui até lá com um funcionário
que por
8. sinal foi uma luuuuta pra conseguir achar o responsável é.... e ele
abriu a
9. porta pra mim e vasculhou a correspondência . Eu fiquei feliz da
vida
10. porque tava lá no meio daquela papelada e como eu já tinha enchido
o saco
11. de todo mundo perguntando sobre o livro, eu saí mostrando pra
galera que
12. tinha achado. A minha coordenadora de curso chegou mais perto de
mim e
13. eu falei assim pra ela : - Il était renfermé je l’ai trouvé.
14. Aí ela fez uma cara de quem não está entendendo nada e perguntou :
15. - Quoi? Aí eu disse - le livre il était renfermé dans une salle. E ela
me
16. respondeu : - Ahh le pauvre tu l’as sauvé ? eu percebi a
17. ironia na hora, aí entendi que era o verbo. Provavelmente tinha uma
18. conotação muito forte pra uma pessoa presa mesmo!
ENTREVISTA no 19 RELATO 7 CLD

1. F. On était deux brésilienne avec um groupe des françaises et on


parlait
2. des hommes, de la vie, bon des choses... e..le sujet principal c´était le
3. mariage. Une française mariée comme moi m’a regardé et à ce
moment là,
4. on parlait exactemment du mariage e suas ‘mazelas’. Donc elle a
conclue
5. avec une blague un peu vers le proverbe : « L’amour est aveugle et
le
6. mariage rend la vue ». et une autre résilienne qui était avec nous
ehhhh... il
7. faut remarquer qu´elle était mariée, il y avait seulement quelques
mois. Bon,
8. elle a entendu la phrase et..elle tout à coup a dit: - Ah c’est très beau
ça ! et
9. tout le monde a ri à la fois. Je lui ai demandé - Qu’est-ce que t’as
compris
10. toi ? Le mariage rend la vie ! Elle nous a dit très romantique (risos)
mais non
11. ce n’est pas la vie, c’est la vue (risos) et tous ensemble on a ri.

ENTREVISTA no 19 RELATO 8 CLD

1. Nós estavamos num bistrot em Paris quando o garçom me trouxe um


copo
2. de suco de pamplemousse super gelado. E eu não podia, eu tava com
a
3. garganta muito ruim. Não podia tomar gelado. Eu já tinha passado
por
4. alguns apertos na França por perceber que pra eles não existia a
noção de
5. natural como existe pra gente. Como o suco estava muito gelado eu
falei
6. assim pra ele: - s’il vous plaît monsieur, vouz pouvez réchauffer un
peu
7. mon jus? Car j’ai mal à la gorge.
8. E ele reagiu naturalmente e levou meu suco e segundos depois trouxe
de
9. volta. Quando ele pôs o suco em cima da mesa e que eu fui pegar no
copo,
10. eu soltei imediatamente. A gente viu fumaça saindo do
11. suco. . Tava pegando fogo, nós tiramos uma foto do copão
12. de suco pegando fogo.
13. Eu não sei se era porque além do suco estar muito quente, a noite
14. estava muito fria. Eu pensei será que ele tá me sacaneando ou ele é...
15. ou ele não entendeu que era só pra esquentar um pouco, pra
amenizar o
16. gelado do suco?
17. Esperamos o suco ficar numa temperatura suportável bebemos e
fomos
18. embora (risos) Aí isso me lembra de novo a aaaa...a maneira
diferente deles
19. manejarem a informação. São diretos pra falar, pra esclarecer, pedir
20. e parece que pra obedecer também.
ENTREVISTA no 19 RELATO 9 CLD

1. É na época da faculdade, eu não me esqueço de um exemplo que a


2. professora de francês contou sobre uma amiga que estava numa loja
de
3. roupas relativamente chic, em Paris, escolhendo um vestido. Ela se
4. interessou por um e perguntou a vendedora quanto custava e a
vendedora foi
5. e ... é auxiliando-a né com todas as informações sobre roupa que ela
se
6. interessou e no final a vendedora perguntou pra ela se ela ia levar o
vestido e
7. ela respondeu: - Non, elle est très chère et je suis fauchée. A
vendedora
8. respondeu: - Excusez-moi Madame, je n’ai pas votre niveau de
langue. E o
9. legal é que esse exemplo foi usado pra mostrar que numa língua há
10. diferenças de registros, níveis de... de graus de formalidade. Em toda
língua
11. a gente tem que estar atenta às estruturas mais formais, coloquiais,
12. familiares. Nesse caso acho que foi mesmo uma gafe, mas quando se
13. emprega uma expressão familiar numa ocasião que pede
formalidade,
14. ou se numa ocasião familiar fala-se com extrema erudição isso
15. pode dar margem tanto a gafes quanto a mal-entendidos.

ENTREVISTA no 19 RELATO 10 CLD

1. Quando eu trabalhei numa empresa francesa, às vezes tinha que fazer


2. aqueles milagres de botar um cara que não falava nada, falando em
duas
3. ou três semanas o básico da aérea técnica dele pra fazer uma
formação na
4. França. Então aconteceu numa dessas vezes que... eu preparei o
aluno dentro
5. dos objetivos planejados e do curto tempo. Lembro que frizei
bastante a
6. importância do tratamento com o ‘vous’, já que ele teria uma missão
de
7. trabalho. Não poderia chegar lá chamando os chefes franceses por
‘tu’.
8. Ele parecia ter aprendido a lição e lá se foi. Quando voltou chegou
contando
9. a seguinte história: - Conseguia acompanhar o curso, mas na parte
prática
10. que tinha que fazer com um francês que me acompanhava era mais
difícil.
11. Depois do primeiro dia, ele foi logo me pedindo para chama-lo de
‘tu’.
12. Vinha com aquele - On se tutoie, d´accord? E eu sem graça dizia -
D´accord.
13. Mas eu continuava tratando ele por ‘vous’. Eu sentia que aquilo o
chatiava,
14. até que ele não conseguiu esconder uma hora e falou - S´il te plaît,
tu! On se
15. tu tutoie! Então eu falei - Je vais vous dire la vérité, je dis toujours
vous
16. parce que je ne sais par conjuguer le verbe avec tu. Je n´ai pas étudié
le ‘tu’.
17. J´ai pris mon temps pour apprendre la conjugaison seulement avec le
vous.
18. Aí ele entendeu meu drama.
19. Depois meu aluno me explicou que para o francês que o tratava por
tu e
20. tinha como resposta o vous, aquela história ficava esquisita porque
podia
21. significar dele enquanto brasileiro e estrangeiro ‘não quero
aproximação’.

ENTREVISTA no 19 RELATO 11 CLD

1. Eu tenho bem nítido esse exemplo vou tentar descrever a cena como se
2. passou. Foi na Galeria Laffayete, quando eu tentava ver com uma
atendente
3. o desconto da détaxe. Eu cheguei e disse:
4. - Bonjour.
5. - Bonjour Madame.
6. - C´est ici qu´on prend la fiche pour avoir la détaxe ?
7. - Absolument. (avec un geste affirmatif et léger de tête)
8. - (+) Je peux prendre la fiche avec vous?
9. - Oui Madame, parfaitement.
10. - Ah oui?!, merci. (j´ai pris le papier et je me suis assise
11. pour le remplir)
12. F: Eu me lembro bem que minha primeira interpretação do absolument
foi
13. como uma negativa. Mesmo muito pouco à vontade eu peguei o papel
pra
14. preencher porque o gesto afirmativo que ela fez com a cabeça me dava
15. licença para que eu interpretasse o absolument corretamente, como uma
16. afirmativa. Aí eu percebi que havia um mal-entendido na minha
17. interpretação, não tenho como afirmar categoricamente se ela percebeu
tudo,
18. mas com certeza ela sentiu minha insegurança no ar.

ENTREVISTA no 19 RELATO 12 CLD

1. F: Na dinâmica de apresentação de nosso curso de teatro, eu estava me


2. apresentando para uma francesa e ela para mim. Então eu me lembro
que
3. houve um mal-entnedido em função do emprego da palavra ‘anxieuse’.
Vou
4. relatar a cena como foi eu comecei perguntando:
5. - Tu as dit que tu habites à Lyon ?
6. - Oui c´est ça. Et toi tu viens d´où ?
7. - Je suis du Brésil.
8. - Brésilienne ? Superbe. - Combien d´heures de vol ?
9. - Dix, onze heures à peu près.
10. - Qu´est-ce que tu attends de ce cours de théâtre ?
11. - J´aime le théâtre, mais tout ça c´est très nouveau, Je
12. suis un peu anxieuse pour commencer.(visage content)
13. - Anxieuse ? Non, non. tu veux pas dire anxieuse.
14. - Oui, tu sais, il y a beaucoup d´expectatives sur ce cours.
15. - Oui, je compreds mais je pense que tu veux dire que
16. tu as hâte de commencer. L´anxiété est très forte, très négative.
17. Tu doit dire que tu as hâte de commencer le cours.
18. Foi interessante que ela teve a sensibilidade de perceber que pra mim o
19. anxieuse tinha uma conotação diferente.

ENTREVISTA no 19 RELATO 13 CLD

1. Acho que esse exemplo foi uma gafe mesmo, mas vale a pena contar
2. porque acho muito engraçado. Eu estava fazendo turismo com umas
3. amigas brasileiras pela primeira vez em Paris. E estávamos em frente a
4. Notre Dame, quando eu vi que havia fincado na praça uma espécie de
5. binóclo por onde pode se observar os detalhes da arquitetura. Corri para
6. ver de perto, mas quando cheguei um homem já estava usando, olhando
7. né pelo binóclo. Na verdade é como um telescópio fincado no chão e a
8. impressão é de olhar por uma luneta. Mas então ele estava usando e logo
9. depois entrou um adolescente que parecia ser o filho, parecia uma família
10. pois tinham a mesma cara. E outro jovem, um hipotético irmão com uma
11. mulher adulta que parecia a mãe também se aproximavam para olhar.
12. Como eu me pus logo atrás do adolescente, assim que ele saiu da luneta
13. eu entrei e comecei a usar, pois na minha cabeça era a próxima da fila.
14. Adorei ver todos aqueles detalhes bem de perto e na empolgação do
15. momento chamei minhas amigas que estavam sentadas do outro lado. Eu
16. chamava - Venham ver! É lindo! Muito legal a gente ver os mínimos
17. detalhes! Aquela hipotética família agora estava toda me cercando e eu
18. queria que minhas colegas vissem logo antes que eles pedissem para
19. passar a frente, mas como observei que elas me acenavam como se me
20. chamassem pedindo para sair dali, eu resolvi sair. Nenhum membro
21. daquela família sisuda falou nada, mas pelos olhares estavam achando
22. alguma coisa ruim. Cheguei perto das minhas colegas e elas riam
23. muito... de mim. Elas viram que o homem tinha colocado uma moeda
24. para usar a luneta e que havia um tempo pra usá-la e eu estava gastando o
25. tempo dos outros. Meu Deus que vergonha! e ainda por cima chamando
26. as colegas para gastar também. Nossa que vergonha!

ENTREVISTA nº 20 CLD
R060
o
N total Nacionalidade Faixa etária Sexo Escolaridade Competência
de Lingüística
relatos

3 Brasileira 40 a 50 Fem. Pós-Grad. Avançado

ENTREVISTA no 20 RELATO 1 CLD

1. Nos meus primeiros dias na França como dona de casa, eu precisei ir ao


2. mercado comprar né... o jambom e com o meu francês ainda de
iniciante né
3. porque fazia pouco tempo que eu estava na França eu pedi à atendente
que
4. me servisse 200g de presunto, é...
5. - [de] cent grammes de jambon, s´il vous plaît.
6. Bom como ela não entendia o que eu falava, eu percebi que ela
começou a
7. apontar fazendo um gesto com a mão. A impressão que eu tive foi que
ela
8. tava apontando, que ela apontava pra algum lugar como se o presunto
9. tivesse em outro local mais longe. Aí eu fiquei procurando pela
identificação
10. do gesto dela é... Com o indicador estirado e o polegar também. (faz
uma
11. imitação de revólver). Aí eu fiquei preocupada, confusa com aquilo né.
12. Como é que o presunto ta lá embaixo se ele tá aqui na minha frente. Era
13. evidente que o presunto estava na minha frente, mas ao mesmo tempo
ela
14. apontava pra lá, e... depois de muita insistência tanto da minha parte
15. quanto da parte dela, eu vim compreender que o que ela tava fazendo
16. com aquele gesto era pra representar um dois... né... - Deux cent
grames?
17. ela disse e eu - Ah sim! Deux cent grammes.
18. E: Agora minha interferência na entrevista é que os brasileiros, eles
fazem a
19. contagem com as mãos a partir do indicador 1, 2... e os franceses pelo
20. relato da entrevistada eles fazem a partir do polegar. Então quer dizer
dava
21. uma noção diferente do que a gente faz ao gesticular. Uma impressão
de
22. estar apontando e não contando.

ENTREVISTA no 20 RELATO 2 CLD

1. Um amigo nosso francês, o Jean, veio passar uma temporada no Rio e ele
2. pediu pra gente uma ajuda com o português dele, pra que ele pudesse se
3. virar um pouco nas ruas. Nós emprestamos um daqueles guias de
viagem. E
4. numa visita a nossa casa depois de alguns dias no Rio, ele quis mostrar o
que
5. havia aprendido. O jean era solteiro, então andou treinando como
paquerar
6. as cariocas e a primeira coisa que quis nos mostrar foi uma frase que
havia
7. decorado pra dizer a uma bela carioca. Com aquele sotaque francês ele
8. esbanjou seu português: - Como vai bela rapariga!
9. Eu e João caímos na gargalhada e claro explicamos o porquê para o Jean.

10. o João teve idéia de olhar a editora do guia e viu que era uma editora
11. portuguesa.

ENTREVISTA no 20 RELATO 3 CLD

1. F: É aquele amigo francês que tava no Brasil acabou voltando pra


França
2. e nós nos encontramos lá e ele acabou contando umas coisas que
conteceram
3. com ele, aqui no Brasil, que eu vou contar pra você umas das histórias
4. engraçadas que aconteceu com ele foi exatamente o inverso que
aconteceu
5. comigo, no que tem há ver na questão da espera e... o
6. ônibus, no ponto de ônibus.
7. Bon, então eu tava lá na França e por diversas vezes no ponto de ônibus
eu
8. acenava várias vezes como no Brasil sacudindo lá o braço, pra sinalizar
o
9. ônibus pra que ele parasse, aí eu comecei a perceber que as pessoas
10. ficavam assim meio olhando desconfiadas pra mim como se aquilo que
eu
11. tivesse fazendo fosse anormal. E em função disso eu comecei a
observar as
12. pessoas que estavam no ponto e vi que elas não gesticulavam e todos os
13. ônibus paravam independente de qualquer sinal, que fizesse. Não
precisa na
14. verdade fazer sinal nenhum , os ônibus paravam. E o Jean (o amigo),
15. por sua vez, falou que o que aconteceu com ele foi exatamente a
16. situação inversa ele aqui no Brasil ficava parado no ponto esperando
que os
17. ônibus parassem pra ele e os ônibus passavam direto, porque ele não
18. gesticulava é, é... É achando que o procedimento era igual na França
que os
19. ônibus normalmente parariam no ponto, mas não é assim.

ENTREVISTA nº 21 CLD
R061
o
N total Nacionalidade Faixa etária Sexo Escolaridade Competência
de Lingüística
relatos

2 Brasileira 50 a 60 Fem. Graduação Avançado


ENTREVISTA no 21 RELATO 1 CLD

1. Eu estava no sul da França na casa de uma amiga e passeava com sua filha.
2. Então vi uma loja com belíssimas flores de porcelana. Disse que iria
3. comprá-las para minha amiga colocar em cima da mesa da sala. Ficaria um
4. belo enfeite! A moça me disse rindo que não achava conveniente..
5. Então eu surpresa perguntei: - Por quê ? Ela não gosta de flores? Essas são
6. tão, tão bonitas!!!
7. E ela respondeu: - Ah, acho que dessas ela não vai gostar... (disse, rindo
8. muito)
9. Eu, um pouco surpresa, felizmente, não as comprei.
10. Ao chegar à casa, a menina disse: - Mãe, Joana queria comprar flores de
11. porcelana para enfeitar a sua mesa!
12. Minha amiga sabendo que eu desconhecia alguns costumes me disse,
13. rindo, que flores de porcelana são adorno de sepulturas e me levou a um
14. cemitério para que eu aprendesse que na França se adornam sepulturas não
15. com flores de plástico, mas, de porcelana!!!!

ENTREVISTA no 21 RELATO 2 CLD

1. Ainda no sul da França, estava na casa de uma amiga e, então, como ela ia
2. trabalhar me disse que seu marido ia me levar para visitar a cidade. Assim
foi
3. feito, foi um belo passeio.
4. À noite, quando ela chegou, perguntou:
5. Então, o fulano cumpriu bem a missão? você gostou?
6. - Et alors, Jean a été un bon guide ? Tu as aimé la promenade ?
7. - Ah adorei !! - Jean m´a donné beaucoup de plaisir!!
8. Ele às gargalhadas e ela com ar malicioso, já sabendo que eu me enganara:
9. - Como?!!! Eu saio de casa e você vai dormir com meu marido? Assim
não dá!!
10. É que em francês donner plaisir e faire plaisir são coisas diferentes. E
me
11. explicou o meu grave erro.!!!
12. Corei de vergonha! donner plaisir é similar ao prazer físico, para eles
coucher
13. avec e o faire plaisir é o prazer de sentimento, de dar prazer em
português, que,
14. afinal, era o que eu queria ter dito!!!

ENTREVISTA nº 22 CLD
R062
o
N total Nacionalidade Faixa etária Sexo Escolaridade Competência
de Lingüística
relatos

1 Brasileira 50 a 60 Fem. Superior Básico

ENTREVISTA no 22 RELATO 1 CLD

1. [...] finalmente fomos guiados até uma loja de rendas. Só que estava
2. fechando, passava das 5 horas da tarde e eles tinham pressa. O vendedor
3. anunciou o valor do metro: “Cent dix neuf euros” (119 euros),
caríssimo.
4. Pechinchei. Usei como pude o meu reles francês e... nada. Ele cedeu
alguns
5. milímetros: “Cent dix” (110). Eu suplicava: “Réduction, s´il vous plaît”,
6. gesticulando. Parecia irredutível. Seguimos no estica-e-puxa. O
vendedor
7. soltou : « Soixante dix », o que, em meu parco entendimento da língua,
8. continuava 110! Estava pronta para desistir, mas ainda pedia, de todas
as
9. maneiras, para baixar o preço para 100 euros. “Só cent”, dizia eu. Ele
ficou
10. louco. Deu um pulo e foi chamar o gerente. Sabe como são os
franceses...A
11. loja fechando e a comunicação esgotada deixavam tudo mais difícil. O
12. gerente chegou e perdeu a paciência. Entregou os pontos e fechou o
negócio.
13. Andei, então, até o caixa, tentando ficar feliz. Afinal, 100 euros não era
o
14. melhor preço do mundo, mas era o que eu havia pedido. Porém, ao
conferir
15. a nota, não acreditei: 60 euros. Festa! Não escondia o sorriso ao
entender o
16. que se passava. O meu “só cent” e o “soixante” (60) deles só poderiam
17. significar a mesma coisa. Voltei ao hotel com a renda dos sonhos e 40
euros
18. de “lucro”. Se soubesse, comprava mais metros. Pechicha como essa
nem
19. em português.
ENTREVISTA nº 23 CLD
R063
o
N total Nacionalidade Faixa etária Sexo Escolaridade Competência
de Lingüística
relatos

1 Brasileira 20 a 30 Fem. Superior Avançado

ENTREVISTA no 23 RELATO 1 CLD

1. A cena aconteceu comigo. Trabalho para uma companhia aérea na


França e
2. um dia no final do plantão, uma amiga francesa fez comentou sobre
um
3. passageiro que veio pedir uma informação. Ela o achou bonito e
4. simplesmente comentou comigo: - T´as vu le type là? Il était très
beau, les
5. cheveux noirs? e eu respondi que não tinha reparado realmente: -
Non j´ai
6. pas remarqué. E ela continuava com seu comentário entusiasmado
quando
7. fez, falou assim - Il était vraiment beau, mais ....il avait, j´ai
remarqué
8. j´ai vu qu´il avait un cheveu sur la langue. Na mesma hora eu
pensei: nossa
9. deve ser aqueles sinais que a pessoa tem cabelo. Nossa, mas ela deve
ter se
10. aproximado muito pra ver que o cara tinha cabelo na língua. Aí
fiquei
11. pensando mil coisas antes de ser indiscreta, perguntando se ela havia
12. chegado tão perto ao ponto de ter beijado?? sei lá!? E ela repetiu. -
c´est
13. dommage, il était vraiment beau. Não resisti e comentei : - você
chegou tão
14. perto ao ponto de ter visto o sinal com cabelo na língua dele? Aí ela
riu
15. muito, muito mesmo antes de me explicar que avoir un cheveu sur la
langue
16. era uma expressão em francês que quer dizer que a pessoa tem a
língua presa
17. ao falar.
ENTREVISTA nº 1 CPH
R058
o
N total Nacionalidade Faixa etária Sexo Escolaridade Competência
de Lingüística
relatos

1 Brasileira 25 a 30 Fem. Médio Básico

PERFIL IDENTITÁRIO DO HÓSPEDE FRANCÊS


AMOSTRA CPH

CARGO NO HOTEL: Butique

¾ Em comparação ao hóspede + Exigente ( ) - Exigente ( x )


brasileiro, o hóspede francês
+ Formal ( x ) - Formal ( )

é... + Objetivo nos pedidos ( x )


- Objetivo nos pedidos ( )

Faz MUITAS solicitações ( )


Faz POUCAS solicitações ( x )

Agradece MAIS pelos serviços


solicitados ( x )
Agradece MENOS pelos serviços
solicitados ( )

ENTREVISTA no 1 RELATO 1 CPH/perfil


ENTREVISTA nº 2 CPH
R004
o
N total Nacionalidade Faixa etária Sexo Escolaridade Competência
de Lingüística
relatos
Superior
2 Brasileira 20 a 25 Masc. incompleto Básico

PERFIL IDENTITÁRIO DO HÓSPEDE FRANCÊS


AMOSTRA CPH

CARGO NO HOTEL: Garçom

¾ Em comparação ao hóspede + Exigente ( x ) - Exigente ( )


brasileiro,
o hóspede francês + Formal ( x ) - Formal ( )

+ Objetivo nos pedidos ( )


é... - Objetivo nos pedidos ( x )

Faz MUITAS solicitações (x )


Faz POUCAS solicitações ( )

Agradece MAIS pelos serviços


solicitados (x )
Agradece MENOS pelos serviços
solicitados ( )

ENTREVISTA no 2 RELATO 1 CPH


10. E: Vamos ao exemplo como é que se deu a interação? Era entre
11. quem e quem?
12. F: _Que eu falei? que eu falei? Qui commencé foi le maître qui… ele
13. il ( ) a fait un… un demandé un pedido d’un client Il a dit par le
14. client: _ Nous avons aujourd’hui un tournedos avec un purê de
15. pommes de terre brésilien, un type de pommes de terre un peu ( )
16. un peu de sauce de vin rouge
17. _ Oui je voudrais le ( ) du jour
18. _ Ah oui je vais demander _Comment vous voulez le ( ) de viande,
19. Monsieur?
20. _ Ah oui je voudrais les viandes bien [qu] [kru]
21. _ Et le maître demandé le pedido.
22. Après a arrivé le plat le client dit que
23. ce n’est pas bien [qu] [kru] le plat (prononcé)
24. _Ah non, ce n’est pas bien cru c’est bien cuit.
25. E: Ok, merci.
ENTREVISTA no 2 RELATO 2 CPH

1. F: Nous avons ici la différence de thé et infusion puisque le thé c’est


2. un petit sachet et la infusion* c’est préparée avec des herbes ah... un
3. client est démandé de faire une infusion J’ai compris ce que c’est
4. l’infusion et j’ai dit que
5. _ J’ai seulement de ah... de menthe Et dit:
6. _Oui, oui.
7. _ Je arrivé* avec l’infusion que c’est préparée avec des herbes
8. c’est un peu de l’eau chaud et il a dit:
9. _ Ah non ce n’est pas l’infusion.
10. _ C´est comme je dis au Brésil ah un thé un chá en espanhol.
11. _ Ah oui j’ai compris je vais faire pour vous Monsieur.
12. _ Il y a une différence très...choc choquante
13. E: Grande.
14. F: Très grande oui !
15. E: Marcante.
16. F: Très marcante un thé et l’infusion.
17. E: Ok, merci.
18. F: Je vous en prie.
***
*Mantivemos a transcrição fiel ao que foi dito pelo informante.
- O que é que é ser um garçom para você?
- Ser garçom é ser atencioso com o cliente, é não passar nervosismo
pro cliente, procurar resolver tudo pro cliente do jeito que ele quer
oferecer possibilidades de serviços a todo momento, opções de
serviços que você tem e pra ser um garçom. Você tem que conhecer
teu restaurante, tua carta de vinhos teu menu tudo isso.
- Ok. Como é que você se comunica com seu hóspede francês? Você
se comunica, você usa só francês, intercala ou faz gestos?
- Somente o francês.O hóspede francês é mais exigente, tá acostumado
com outro tipo de serviço. Mais formal, porque é um pouco mais
clássico da educação dele européia então nós não temos uma
colonização tão européia apesar de ter sido colonizados pelos
portugueses né
- O brasileiro é mais objetivo (nos pedidos) porque o brasileiro já
conhece o que tem, a carta que tem, as iguarias, o francês ele fica um
pouco inseguro porque é muita iguaria que a gente usa daqui frutas,
ervas. São coisas que ele não tem lá ou que ele nunca provou lá e que
ele chegou aqui tá essa esse monte de iguarias pra ele, então a gente
tem que definir, explicar cada uma, às vezes ele pode ter uma alergia,
alguma coisa a gente não sabe.
- Quem agradece mais?
- O francês a todo momento.
ENTREVISTA nº 3 CPH
R006
o
N total Nacionalidade Faixa etária Sexo Escolaridade Competência
de Lingüística
relatos
Pós-
2 Brasileira 32 a 37 Fem. Graduação Intermediário

PERFIL IDENTITÁRIO DO HÓSPEDE FRANCÊS


AMOSTRA CPH

CARGO NO HOTEL: Responsável pelo Guess Service


¾ Em comparação ao hóspede + Exigente ( x ) - Exigente ( )
brasileiro,
o hóspede francês + Formal ( x ) - Formal ( )

+ Objetivo nos pedidos (x )


é... - Objetivo nos pedidos ( )

Faz MUITAS solicitações (x )


Faz POUCAS solicitações ( )

Agradece MAIS pelos serviços


solicitados (x )
Agradece MENOS pelos serviços
solicitados ( )

ENTREVISTA no 3 RELATO 1 CPH

1. F: C’est le monsieur qui a appelé le guess service et il a commandé


2. -Où est-ce qu’il est mon café?
3. Et je l’ai dit
4. -Le café c’est déjà monté.
5. eh... Ça fait cinq minutes après le monsieur me rappelez et me dit
6. _Mais Madame c’est déjà passé 15 minutes mon café c’est pas là.
7. J’ai dit _Non mais c’est pas possible votre café c’est déjà monté est
8. tout ça j’ai raccroché le téléphone je suis allé là au monsieur qui
9. travaille. _Vous avez apporté le café à le Monsieur ah Il me dit *
10. _Oui C’est là le récit et tout Et je dit Ah ! et après il voulait pas le
11. café le café pour boire Donc j’ai appelé le monsieur j’ai dit je
12. m’excuse parce que j’ai fait un erreur une confusion Le café ou
13. le petit-déjeuner je fais monter votre café maintenant Et il a dit
14. _Ah non non non Ça fait rien parce que moi j’ai déjà fini le petit-
déjeuner
15. Mademoiselle.

*Mantivemos a transcrição fiel ao que foi dito pelo informante.

ENTREVISTA no 3 RELATO 2 CPH


1. F: Ah aussi un soir quelque chose très... quelque chose vraiment
2. désagréable qui s’est passé. C’est la l’assis l’assistante d’alimentos
3. e bebidas. Elle a appelé un garçon de burro et je pense que pour le
4. français, le français (chut chut para as pessoas que estavam na sala
5. fazerem menos barulho) ça je ne sais pas vraiment le mot burro c’est
6. pas très fort comme pour nous d´aller appeler quelqu’un de burro eh
7. elle a dit
8. _ Mais vous êtes con ou quoi?
9. en portugais
10. _Mais vous êtes burro ou qoui?
11. Et ce monsieur là était vraiment choqué. Il est allé au recursos
12. humanos/
13. E : Il était français?
14. F : Non il était brésilien Il était portugais il travaillait ici. La fille,
elle était
15. française j’étais presque je ne sais pas ce qui s’est passé parce que
j’étais
16. pas à mon service, je travaillais dans l’autre secteur mais je sais que
ce
17. monsieur là, il a fait quelques erreurs je sais pas, et elle est allée, et
elle a dit
18. _ Mais, excusez-moi vous êtes burro ou quoi?
19. Et c’était une catastrophe
20. E :_ Elle a parlé en portugais?
21. F : _En portugais oui parce qu’elle parle le portugais mais elle
22. a traduit le mot un portugais que pour nous c’est très fort et pour le
23. français non, c’est presque ça
24. _Vous êtes stupide ou quoi!
25. ou peut-être Con quoi, je pense que pour le français ça c’est pas
très...
26. E: C’est comme le ‘‘merde’’.
27. F: Oui, et pour nous appeler quelqu’un de burro c’est la même chose
28. que appeler quelqu’un de preto sujo. Je sais pas c’est preconceituoso
29. c’est vraiment choqué.
30. E: Surtout au lieu de travail.
31. F: Oui, au lieu de travail, Elle a fait devant tous les gens, c’était une
32. situation horrible.
33. E: Merci.

*******

Guess service – Metade room service, metade alimentos e bebidas p/ os


apartamentos. Metade atendimento a hóspedes por telefone. Tudo que o
hóspede precisa relativo a estadia dele dentro do apartamento, ele liga pra
gente. Desde arrumação, lavanderia, problema de manutenção.

Se você falar do hóspede brasileiro no geral, ele é menos exigente, mas se


você falar do paulista por exemplo, ele é um hóspede muito chato. Cobra
muito, pede muito
ENTREVISTA nº 4 CPH
R007
o
N total Nacionalidade Faixa etária Sexo Escolaridade Competência
de Lingüística
relatos
Curso
3 Brasileira 32 a 37 Masc. Superior Básico

PERFIL IDENTITÁRIO DO HÓSPEDE FRANCÊS


AMOSTRA CPH

CARGO NO HOTEL: Concierge

¾ Em comparação ao hóspede + Exigente ( x ) - Exigente ( )


brasileiro, o hóspede francês
+ Formal ( x ) - Formal ( )

é... + Objetivo nos pedidos (x )


- Objetivo nos pedidos ( )

Faz MUITAS solicitações (x )


Faz POUCAS solicitações ( )

Agradece MAIS pelos serviços


solicitados (x )
Agradece MENOS pelos serviços
solicitados ( )

ENTREVISTA no 4 RELATO 1 CPH


1. F: Os franceses são FORMALÉRIMOS. São muito formais. Eu me
2. lembro que numa ocasião isso causou assim até um certo embaraço
3. porque foi visível A senhora era uma francesa de cor branca O guia
4. a recepcionou de uma forma calorosa. Como a gente brasileiro assim
5. mesmo que não se conheça com dois beijinhos no rosto e ela ficou
6. assim ruborizada da cabeça aos pés.Foi uma coisa instantânea E
7. aquela coisa assim sabe Até mesmo na na nas relações.
8. E: _ E ela externou alguma coisa, não?
9. F: _Não, mas foi visível que ela se sentiu incomodada com aquele
10. tipo de atitude do guia. A gente depois falou com ele. Independente
11. de ser francesa ou não um certo distanciamento do cliente nesse
12. aspecto é é é uma coisa que é desejável enfim. É uma coisa muito
13. que denota uma intimidade muito grande né mas até que enfim nós
14. entre nós brasileiros né de repente uma forma mais informal com um
15. grupo de amigos pessoas novas que você conhece poderia ser perfei-
16. tamente cabível, mas em se tratando ser o nosso tipo de negócio o
17. nosso tipo de trabalho e especialmente sendo um hóspede de origem
18. francesa isso caiu muito mal, entendeu. A gente falou com esse guia
19. A gente falou com esse guia pediu pra que ele não fizesse nunca
20. mais isso na vida dele (pronúncia com risos) nem com nossos
21. clientes nem com qualquer outro, mas em se tratando de ser um
22. francês eu diria se fosse um brasileiro poderia até causar algum
23. E: Éé
24. F: impacto assim mas com certeza ela não ficaria ruborizada, então
25. sem dúvida que eles são muito formais. Especialmente no primeiro
26. contato né Depois quando eles já se habituam com você enfim já cria
27. aquela espécie de vínculo né Que isso é uma coisa que acontece mui-
28. to Aí eles já começam a se soltar Mas num primeiro momento de um
29. modo assim geral eles são muito muito muito formais em compara-
30. ção ao brasileiro né
31. E: E você acha que ele faz mais pedidos mais solicitações do que o
32. hóspede brasileiro?
33. F: Em termos da questão da objetividade? Se é mais ou menos obje-
34. tivo ou pedido de uma forma geral?
35. E: não
36. E: pedido de uma forma geral.
37. F: Sim sem dúvida porque o francês é... o brasileiro por mais que ele
38. não seja do Rio Ele fala o idioma Ele fala a língua De uma maneira
39. geral ele vai saber se virar
40. E: Entendi
41. F: Independentemente de ser uma cidade estranha a pessoa sendo de
42. fora ela enfim vai te solicitar direto E essa cultura do concierge
43. enfim é uma coisa assim muito É uma ferramenta né que é muito
44. utilizada por eles né
45. E: Eles estão num terreno estranho né?
46. F: Exatamente né Então não tem ( )então sem dúvida
47. nenhuma que assim nos procuram demais Demais mesmo
48. E: E agradecimentos Quem agradece mais pelos serviços solici-
49. tados? O hóspede brasileiro se é mais marcante ou o hóspede ou
50. o hóspede francês?
51. F: O francês sem dúvida O brasileiro agradece mas dá aquele agra-
52. decimento O francês sem dúvida é mais caloroso na forma de falar e
53. expressar a gratidão pelo enfim pelo bom serviço que você deu Não
54. que o brasileiro não agradeça enfim agradeça sim mas é de uma for-
55. ma menos calorosa né por mais contraditório que possa parecer
56. O francês quando ele cria aquele vínculo com você que visualiza
57. que ele foi super bem atendido Ele demonstra isso de uma forma
58. muito mais enfática que o hóspede brasileiro

ENTREVISTA no 4 RELATO 2 CPH

1. F: Eu acho que tem relação sim. A gente assim ééé.......como eu


2. falei, só falta pegar o cliente no colo Então houve uma solicitação
3. de uma senhora praaaaa um salão de beleza, né um coiffeur. E aí nós
4. perguntamos a ela se ela gostaria que fizéssemos o contato,
5. fizéssemos a reserva no salão e ela sentiu, não ouviu isso de bom
6. tom. E fez inclusive um registro sobre esse fato Olha que coisa
7. absurda A gente ficou assim meu Deus. (fala carregada com um leve
8. riso pela lembrança da situação)
9. Porque na cabeça dela, (riso discreto) isso foi uma evasão e foi uma
10. tentativa de é...obter algum tipo de comissionamento no desejo que
11. ela tinha.
12. E: Ah não
13. F: Pelo fato de nós ligarmos pra fazer reservas Fazer a ponte com o
14. que estava no hotel e essa coisa toda.
15. E: Mas ela
16. F: Foi uma coisa..
17. E: Não interpretou como um...
18. F: Não entendeu como uma
19. gentileza, ela entendeu como uma forma de tirar proveito de uma
20. necessidade que ela tava tendo Ela queria se virar ela queria ir ao
21. salão Entendeu Então...
22. E: Agora ela externou isso já na hora da solicitação, não? Ela isss..
23. F: Não ela ficou em silêncio, ela infelizmente
24. E: Qual foi a resposta dela na
25. hora do contato? Da interação?
26. F: Nada, não se percebeu nada de de errado. Ficamos sabendo isso
27. aí quando fomos ler o gues comand que soou pra ela como uma coisa
28. assim extremamente invasiva. E até enfim denegrindo de forma
29. profissional o nosso serviço, achando que a gente queria na verdade
30. era ter algum tipo de comissionamento pelo fato de é...nos
31. oferecermos pra fazer a reserva do salão.Entendeu? então é uma
32. coisa assim..
33. E: É delicado...mas também pode ser uma coisa bem pontual. Né
34. F: É.
35. E: De interpretação dela.
36. F: Uma coisa específica, exatamente, mas enfim. De qualquer forma
37. foi um mal-entendido Isolado ou não, né?
38. E: Agora
39. F: Foi exatamente.
40. E: Alors On va essayer de décrire l´exemple né une partie de
41. l´exemple
42. F : La cliente m´a demande quiiiii... elle voudrait aller au coiffeur et
43. j´ai repondu _ Est-ce que je peux reserver pour vous? Et elle m´a
44. rapondu. _ Non, je voudrais seulement le nom ou alors le numéro du
45. téléphone. Seulement ça.
46. E: Et vous lui avez donné le numéro ?
47. F : Oui exactement, exactement ça
48. E: Mais à ce moment là vous avez trouvé quelque chose de différent
49. dans l´air?
50. F: Un peu, un peu. Mais je ne pouvais imaginer qui ça se passerait,
51. en vrai. Seulement en fin quand j´ai lu le guess command.
52. Leee…Qu´est-ce qu´elle a pensé de de..
53. E: Ce qu´elle a écrit.
54. F: Exactement, ce qu´elle a écrit. Et que j´ai compris qu´est-ce que
55. s´est passé en ce moment, ok?
56. E : Ok.
ENTREVISTA no 4 RELATO 3 CPH

1. E : João, tu peux commencer à raconter le deuxième exemple.


2. F1: _Bonjour où est-ce que je peux boire l´eau de coco.?
3. F2: Rá rá rá rá [risos do terceiro ouvinte Trata-se de um funcionário
4. que carregava pacotes para a hóspede Um ouvinte não ratificado)
5. F1: _Qu´est-ce que s´est passé? Qu´est-ce qui se passe?
6. F3: _Ah non, ne vous inquiétez pas. Il se rappelle d´une blague qu´il
7. m´a raconté. C´est ça seulement ça. Pardon, pardon madame.
8. E: Ok Agora isso pode dar explicação em português Na verdade ela
9. tinha se direcionado a um outro funcionário
10. F:Não não na verdade ela se dirigiu a mim e aí o rapaz quando
11. ouviu o cocô o cocô né francês
12. E: Ah ran
13. F: Enfim imediatamente ele lembrou do cocô brasileiro e achou gra-
14. ça naquilo Imaginou acho que sei lá talvez que ela quisesse fazer
15. cocô (risada) onde é que tinha um banheiro alguma coisa assim
16. E: Une façon différente de demander les toilettes
17. F : Isso E... não pode segurar e deu essa risada discreta né e que
18. foi uma coisa discreta mas ela percebeu e perguntou o que tinha de
19. errado enfim por ter percebido ele sorrindo e aí eu me vi numa saia
20. justa e rapidamente aquela coisa também do hoteleiro de ter que ter
21. respostas rápidas e vim com essa entendeu que ele havia se lembrado
22. de uma piada e tava rindo porque se lembrou da piada que ele tinha
23. me contado
24. E: Ok
25. F: rá rá rá rá (risos)

********
É uma função extremamente importante de muita responsabilidade
porque é você tem um contato direto com o cliente, com o hóspede. Então
você pode fazer de forma maravilhosa a estadia dele, a permanência dele na
cidade. Como você também pode destruir né dependendo de como você o
atenda pros lugares onde você o encaminha o indique. Então é uma coisa
de muita responsabilidade, né? Eu diria assim que nós, somos assim
verdadeiros secretários particulares do cliente. A gente tem a orientação de
atender toda e qualquer tipo de solicitação desde que não seja focada pra
questão de drogas nem de sexo, garota de programa, coisas do tipo, mas
fora isso. As solicitações mais absurdas que você possa imaginar a gente já
se deparou, já se deu conta e atendeu super bem, entendeu. É exatamente
isso que a empresa espera da gente. É exatamente o que a gente faz né.
Então a gente faz uma gama de funções assim enorme. Eu acho que essa
é... é o grande plus da profissão. É que cada dia é diferente porque você
sempre tá eh na frente de uma pessoa diferente com expectativas diferentes
a serem atendidas, então a gente não tem absolutamente rotina dentro do
nosso trabalho.

ENTREVISTA nº 5 CPH
R010
o
N total Nacionalidade Faixa etária Sexo Escolaridade Competência
de Lingüística
relatos

1 Francesa 32 a 37 Masc. Grad. LM

PERFIL IDENTITÁRIO DO HÓSPEDE FRANCÊS


AMOSTRA CPH
CARGO NO HOTEL: Chef de cozinha

¾ Em comparação ao hóspede + Exigente (x) - Exigente ( )


brasileiro, o hóspede francês
+ Formal ( x ) - Formal ( )

é... + Objetivo nos pedidos (x )


- Objetivo nos pedidos ( )

Faz MUITAS solicitações ( )


Faz POUCAS solicitações (x )

Agradece MAIS pelos serviços


solicitados (x )
Agradece MENOS pelos serviços
solicitados ( x )

ENTREVISTA no 5 RELATO 1 CPH

1. F: Numa formação para cozinheiros no hotel lembro que ainda tinha


pouco
2. tempo de Brasil. Eu estava ensinando uma receita com poulet, o
frango. E de
3. repente quando falei que deveriam pegar o cou [ku]e ... nem terminei
e todos
4. deram aquela rizadinha e bom.. é isso mesmo que a gente ton
pensando? Aí
5. depois que eu refleti eu falei Oh oh, o [ku] deve ser um outro
significatif. Aí
6. depois que eu fui conversar com os outros eu perguntei o que que
era.
7. _A mais o [ku] a aqui no... naqui no Brasil não é o pescoço.
8. Aí eu falei, é isso mesmo. Na na realidade é intéressant de voir un
peu les
9. différences de termes, principalement téchiniques dans la
restauration ou
10. dans la cuisine que de temps en temps il peut avoir de ..des troubles.
11. E : Voilà, merci monsieur.
ENTREVISTA nº 6 CPH
R019
o
N total Nacionalidade Faixa etária Sexo Escolaridade Competência
de Lingüística
relatos
Ens.
1 Brasileira 20 a 25 Masc. Médio Intermediário

PERFIL IDENTITÁRIO DO HÓSPEDE FRANCÊS


AMOSTRA CPH

CARGO NO HOTEL: Recepcionista

¾ Em comparação ao hóspede + Exigente ( ) - Exigente (x )


brasileiro, o hóspede francês
+ Formal ( x ) - Formal ( )

é... + Objetivo nos pedidos (x )


- Objetivo nos pedidos ( )

Faz MUITAS solicitações ( )


Faz POUCAS solicitações (x )

Agradece MAIS pelos serviços


solicitados (x )
Agradece MENOS pelos serviços
solicitados ( )

ENTREVISTA no 6 RELATO 1/perfil CPH


ENTREVISTA nº 7 CPH
R020
o
N total Nacionalidade Faixa etária Sexo Escolaridade Competência
de Lingüística
relatos
Curso
1 Francesa 30 Fem. Superior LM

ENTREVISTA no 7 RELATO 1 CPH/cliente

1. F : La connaissance du portugais que j´avais en arrivant du Brésil


éstait
2. celle du Portugal donc ( ) et quand je suis arrivée la première fois
au
3. Brésil j`ai vu dans un hôtel le prix de la chambre et juste en dessus le
prix
4. de quelque chose qui s´appelait café de manhã et moi j´ai pensé que
ce café
5. de manhã c´était une tasse de café qu´on me donnait le matin et que
le prix
6. correspondait à ce café parce que eh... pour moi café de manhã c´est
le café
7. qu´on prend le matin mais je n´avais pas compris qu´au Brésil café
da
8. manhã c´était pequeno almoço pra mim du Portugal c´est à dire le
petit
9. déjeuner et j´ai pensé donc que le café était très très cher au Brésil.
10. E : Et comment est-ce que le malentendu s´est resolu ?
11. F : et parce que ... après je suis arrivée le le Je suis arrivée à l´hôtel
j´ai
12. dormi le le endemaint matin je me suis reveillée et quand je suis
allée
13. prendre le café de manhã j´ai vu que c´était merveilleux et que c´était
un
14. buffet avec des fruits avec un petit tout et là j´ai compris que eh.......
le petit
15. déjeuner avait cette terminologie differente au Brésil et au Portugal.
16. E: Volà mais tu n´as pas osé demander quelqu´un à propos de cela
non ?
17. F : Non.
18. E : Tu as découvert
19. F : Tout juste vu J´ai pensé tiens c´est bizarre c´est très cher
et c´est
20. le lendemain que j´ai realisé que j´avais interprété café de manhã
comme
21. une tasse de café alors que c´était petit déjeuner.

ENTREVISTA nº 8 CPH
R021
No total Nacionalidade Faixa etária Sexo Escolaridade Competência
de Lingüística
relatos
Ens.
1 Brasileira 40 Masc. Médio Intermediário

PERFIL IDENTITÁRIO DO HÓSPEDE FRANCÊS


AMOSTRA CPH

CARGO NO HOTEL: Recepcionista

¾ Em comparação ao hóspede + Exigente ( ) - Exigente (x )


brasileiro, o hóspede francês
+ Formal ( x ) - Formal ( )

é... + Objetivo nos pedidos (x )


- Objetivo nos pedidos ( )

Faz MUITAS solicitações ( )


Faz POUCAS solicitações (x )

Agradece MAIS pelos serviços


solicitados (x )
Agradece MENOS pelos serviços
solicitados ( )

ENTREVISTA no 8 RELATO 1/PERFIL CPH


ENTREVISTA nº 9 CPH
R023
o
N total Nacionalidade Faixa etária Sexo Escolaridade Competência
de Lingüística
relatos
Curso
2 Brasileira 25 Fem. Superior Básico

PERFIL IDENTITÁRIO DO HÓSPEDE FRANCÊS


AMOSTRA CPH

CARGO NO HOTEL: Assistente de governança

¾ Em comparação ao hóspede + Exigente ( x ) - Exigente ( )


brasileiro, o hóspede francês
+ Formal ( x ) - Formal ( )

é... + Objetivo nos pedidos (x )


- Objetivo nos pedidos ( )

Faz MUITAS solicitações (x )


Faz POUCAS solicitações ( )

Agradece MAIS pelos serviços


solicitados ( )
Agradece MENOS pelos serviços
solicitados ( x )

ENTREVISTA no 9 RELATO 1 CPH


1. F: Antes de entrar pra governança eu era funcionária da boutique do
clube
2. e eu fui atender um francês e ele pediu não me lembro eu acho que foi
uma
3. escova de cabelo e não tinha. E eu expliquei pra ele que não tinha aí eu
fui
4. tentar falar em inglês com ele. Ele não gostou ficou muito nervoso,
bateu no
5. balcão e tudo mais eu saí desesperada procurando alguém que falasse
francês.
6. Aí consegui achar Ele ficou muito nervoso chegou até o gerente,
7. tudo isso.
8. E: Chegou ao gerente?
9. F: Chegou ao gerente.
10. E : Você entendia que ele queria que você falasse em francês?
11. F: Entendia tudo. Eu o que a pessoa fala agora eu falar eu não consigo.
12. Eu não sei falar. Mas eu acho eu consigo entender. Então eu entendi o
que
13. ele tava falando comigo.
14. E:: O que você acha que justificava, que justificou o nervoso dele?
15. F: Eu acho que foi né o tema cultural né, que eles tiveram uma rixa
com os
16. Estados unidos, ainda tem. Eles sabem falar o inglês mas eles não
gostam.
17. E: A tá você não tentou falar em português, só em inglês.
18. F: Eu falava em português, mas como a grande maioria deles fala o
inglês eu
19. fui falar o inglês que seria mais fácil ele entender do que o português.
20. E: Certo. Quer dizer você deu até mais uma alternativa.
21. F: Dei mais uma alternativa e ele não gostou.
22. E: Quer dizer em termos de gestual. A tua leitura do gestual dele foi
23. agressiva ou não?
24. F: MUITO. Muito, ele bateu no balcão, quase quebrou o balcão de
vidro e
25. tudo mais.
26. E: Nossa. Ok merci
27. F: Merci beaucoup.

ENTREVISTA no 9 RELATO 2 CPH

1. E: Quando eu vim no HOTEL a última vez, eu achei legal é... a


animação que
2. tinha. Eu observava que tinha sempre na hora do almoço em todos os
momen-
3. tos tinha. Não existe mais? Porque eles tiraram?
4. F: Eles tiraram porque os franceses começaram a reclamar que não
tinham
5. sossego. Sempre tava um animador perto. As crianças ficavam
assustadas.
6. Então eles tiraram essa parte.
7. E: Então a leitura dos franceses é é com relação a recreação não é igual
a
8. nossa né.
9. F: Não. A gente é muito mais festivo do que eles.
10. E: Eles interpretaram como alguma coisa que podia incomodar.
11. F: É isso ... Algumas algumas algumas como eu posso falar. Algumas
brinca-
12. deiras aparições. Algumas brincadeiras aparições sim eles interpretaram
mal.
13. E: Ok, merci.

ENTREVISTA nº 10 CPH
R024
No total Nacionalidade Faixa etária Sexo Escolaridade Competência
de Lingüística
relatos
Curso
4 Brasileira 26 a 31 Masc. Superior Básico

PERFIL IDENTITÁRIO DO HÓSPEDE FRANCÊS


AMOSTRA CPH

CARGO NO HOTEL: Funcionário de Esportes

¾ Em comparação ao hóspede + Exigente ( x ) - Exigente ( )


brasileiro, o hóspede francês
+ Formal ( x ) - Formal ( )

é... + Objetivo nos pedidos (x )


- Objetivo nos pedidos ( )

Faz MUITAS solicitações (x )


Faz POUCAS solicitações ( )

Agradece MAIS pelos serviços


solicitados (x )
Agradece MENOS pelos serviços
solicitados ( )

ENTREVISTA no 10 RELATO 1 CPH

1. F: O francês ele não participa dos jogos. Ele é bem discreto, ele não
gosta de
2. chamar a atenção. Sabe eles estão sempre lendo o livro, do lado da
piscina. A
3. maioria raramente eu vejo tomar um banho de mar. Realmente eles vão
mesmo
4. na piscina o dia inteiro.
5. E: Hum rum. São mais reservados.
6. F: São bem reservados exatamente. Eles ficam..não não incomodam.
Ficam no
7. lado deles reservadinhos lá. Ninguém incomoda.
8. E: Então você classificaria ele como mais é.. formal ou menos formal?
9. F: Mais formal
10. E: Faz mais pedidos ou menos?
11. F: Faz mais pedidos.
12. E: Faz mais pedidos do que os brasileiros?
13. F: Faz mais pedidos, mais pedidos. Depende do do ok tipo tipo assim.
Isso é
14. um pouco relativo. Mas eles faz pedido de que? Depende se o francês
gosta de
15. velejar. E eles vêm aqui e ele vai ser exigente, porque até porque eles
sempre
16. comparam com outros Hoteis. Na minha atividade eles são mais
exigentes
17. que os brasileiros, porque porque eles estão acostumados lá a ter um
18. equipamento novo, um equipamento de ponta, um equipamento
lançamento.
19. E aqui ele não vai encontrar isso. Ele vai encontrar equipamentos não
danifica
20. dos mas equipamentos, não modernos. Equipamentos normais. Certo
então
21. isso é um pouco no meu ponto de vista eu acho que é um pouco relativo,
em re
22. lação ao pedido deles. Certo, em termos de comida por exemplo, eu
nunca vi
23. nenhum francês se queixar da comida. A comida pra eles é a melhor pra
eles.
24. Eles sempre falam. Isso eu to me referindo ao Hotel Itaparica Bahia, foi
25. onde eu passei três anos como experiência passei. Tive um chefe Hotel
francês
26. Tive responsável de vela francês. Então eu tô passando um pouquinho
do
27. que realmente eu vivi.
28. E: Très bien. Ok.
29. E Quem agradece mais? O brasileiro ou o francês? Ou é igual?
30. F: O francês.
31. F: O francês ele agradece mais por tudo.
32. E: Para ser mais gentil.
33. F: Exatamente.
34. F: Assim eu hoje entendo o francês. O francês ele é meio, ele é fechado
35. tudo bem. Ele espera que você faça o primeiro contato. Ele sempre
espera
36. isso. Se você é simpático e você faz esse primeiro contato você vai
ganhar ele
37. Em qualquer palavra, em qualquer ajuda que você que seja em direção a
um
38. francês. Ele vai dar um merci. Ele vai apertar sua mão. Ele lembra seu
nome.
39. Eles são pessoas que personalizam. Você fala teu nome hoje ele vem te
per
40. guntar. Eu canso de jantar e convidar eles pra minha atividade. Eles
chegam
41. aqui e perguntam. Cadê João? e eu só tive um contato com ele, certo.
42. Então eles. Essa parte tem haver um.. bem é um conjunto. É formal.
Eles
43. gostam que chamem pelo nome, quer dizer isso eu eu observo sabe.
Tem
44. até um curso agora de percepção. A forma que você trata
45. o hóspede, Cada um tem que ser tratado da forma que ele é.
46. Certo , se ele é fechado, tem que ser mais formal.
47. Se é um cara mais aberto. Epa como é que tá beleza. Então essa é
48. minha forma de reagir.
49. E: Senão isso acaba gerando o mal-entendido.
50. F: Exatamente.
51. E: Primeiro relato vamos dizer assim.
52. F: Ele na maioria das vezes ele.. ele fica fora do sério por muito pouco.
53. E: (risada)
54. F: Sabe, tipo assim. Se alguém ou alguma pessoa fala pra ele assim , eu
acho
55. que não é grave. Não isso não é um exemplo, não é uma coisa grave pra
você
56. ficar ou até fechado por um dia que ele fica de cara fechada. Pó ele é
assim,
57. ele tá de folga hoje. Se ele não vier falar pro Jean que ele tá de folga,
que ele
58. não vai fazer o show. Ele fica zangado com ele. Fica até sem falar, fica
de
59. cara feia. Fala oh porque? Mas não fala assim Oh porque você não
apareceu?
60. É outro tom. A cara fechada, sabe eu não acho que pelo fato de eu não
ter
61. avisado a ele que eu tô de folga e não vou fazer show, ele tem que se
compor-
62. tar dessa forma. Hoje eu entendo. É a cultura deles. Eles são fechados.
Tem
63. dias que ele acorda e não me dá um bom dia, beleza. Também eu não
fico.
64. Antigamente eu reagia diferente, eu também fechava a minha cara e no
final
65. do dia a gente começava de boa. Eu vinha beleza eu vinha fazia
conversava.
66. E: Então você acha que essa reserva dos franceses pode ser lida pelos
brasi-
67. leiros como as vezes até uma arrogância, quando a pessoa não conhece
muito
68. bem? Pode ser interpretada de forma diferente?
69. F: Num num sei arrogância porque eu morro com ele, sabe. Eu acho
que é um
70. pouco a intimidade não sei se é a intimidade, não sei se a característica
pessoal
71. dele, mas O que eu quero falar resumindo tudo.
72. E: Mas aí o que eu falo que não especificamente ele. Os franceses
assim, os
73. franceses de uma forma geral, você tá caracterizando como mais
reservados.
74. Você acha que essa reserva pode ser interpretada de forma diferente
pelos
75. brasileiros.
76. F: Eu acho que a depender da situação, a depender do momento. A
depender
77. do que se foi feito. A depender da ação que foi o que passou. Acho que
pode
78. ser interpretada comooo realmente uma...
79. E: Uma pessoa mais arrogante?
80. F: Mais arrogante.

ENTREVISTA no 10 RELATO 2 CPH


1. E:Na vela ele, ele. Como eu te falei. Lá ele tem um equipamento de
ponta,
2. então. Ele chegou na praia ele pergunta. Não tem vela maior? Não
tem
3. uma vela mais nova? Não infelizmente a nossa escola de vela é uma
escola
4. pra iniciantes. Então a gente não tem necessidade de ter um
equipamentos
5. pra avançados.
6. _ Ah mais com quem eu converso então? _Quem é o responsável
daqui?
7. _Da praia sou eu o responsável.
8. _Bom mais você pode resolver?
9. Eu falei não. Não posso resolver.
10. _Com quem eu resolvo?
11. _Você pode conversar com o chefe de esportes, então.
12. _O chefe de esporte é o chefe de todos os esportes do HOTEL.
13. _Então tudo bem, então eu vou lá conversar com ele.
14. E aí. Geralmente o chef tem a mesma, tem o mesmo discurso que
eu.
15. Realmente, ele ta certo a gente não tem que ter material mais
avançado
16. do que a gente tem, porque é uma escola pra iniciantes.
17. _Ah mais o outro club tem. Porque esse não tem?
18. _Justamente por isso, porque os outros clubes é avançado. Os outros
clubes
19. podem ser quatro tri dentes. Não sei qual você foi, qual está se
referindo,
20. mas a grande maioria são quatro tri-dentes, cinco. São Hotéis top.
21. Então tem que ter realmente um equipamento de ponta. Um
equipamento
22. bom. Quando eles vêm pra cá, eles realmente reclamam. E isso eles
co-
23. locam até no papel. Eles fazem questão de deixar claro, quando eles
não
24. são bem, não estão bem satisfeitos, eles falam.
25. Hum rum, ok.

ENTREVISTA no 10 RELATO 3 CPH

1. F: Foi no início do do do da minha chegada no club. É... a gente


funciona
2. na praia de Itaparica com seis barcos, na época era seis barcos uma
lancha
3. pra dar socorro a ao hóspede, essas pessoas que estão
4. hospedadas no hotel. O que que aconteceu.
5. Daí que a gente tem que tá com essa lancha
6. funcionando. Ela não pode estar na praia sem funcionar, só pra ,
somente
7. dizer ah ali é pra dar socorro, mas se ela não está bem. Se ela não
está
8. funcionando, ela não vai adiantar de nada tá lá parada. O que
aconteceu foi
9. que a lancha tava quebrada nesse dia. Ta, o Club tava com gente
10. muito cheio. E foi quando apareceu uma família de francês. Ele
veio a
11. primeira vez. Eu apontei ele pra lancha eu falei
12. _Ó a lancha está quebrada. Não pode sair.
13. E: Você lembra se você falou em francês ? casse ou...
14. F: Não eu falei. Não lembro eu não sei se eu misturei o francês.
Porque
15. tem bastante tempo. Eu lembro se eu misturei o francês ou se eu
misturei,
16. ou se eu falei português mas eu lembro muito bem que eu fiz
gestos.
17. E: Ah...ok
18. F: Certo. Eu mostrei a ele a lancha que estava ruim. Com o sinal
pra baixo.
19. Não funciona.
20. E: Polegar pra baixo.
21. F: Exatamente. E coloquei a a o barco, o único barco que estava no
meio
22. da prancha.
23. E: Hum rum.
24. F: Fazendo outro sinal com os olhos, dizendo que eu tô apontando,
que eu
25. to olhando as pessoas que tava ao redor, que eu tinha que ter um
barco pra
26. fazer a segurança, se precisar de alguma coisa. E beleza ele, aí
nisso ele
27. concordou, não falou nada. Mas eu acho que ele não entendeu, o
que eu
28. tinha falado, explicado.
29. E: Hum rum.
30. F: Certo, então ele continuou lá com a família dele. De novo ele
chegou
31. pra mim. E eu falei a mesma coisa. Não pode, não pode, porque a
gente
32. tem que ter uma lancha pra fazer a segurança. Beleza ele pegou
33. simplesmente na lancha, no naa na no bote e disse que ia colocar
dentro
34. d´água. Não disse que ia colocar na água, mas ele queria arrastar,
aí eu
35. falei não.
36. _Você não vai colocar essa lancha na água.
37. Só que outra vez eu não me lembro se eu falei isso em francês ou
se
38. eu falei isso em português. Mas eu falei me coloquei na frente dele,
disse
39. que ele não ia passar.
40. _Você não vai sair daqui com o barco. Aí ele falou
41. _Bom eu vou sair sim.
42. Aí eu falei _Não você não vai.
43. Então ele botou a mão na minha mão e eu peguei a mão na dele, foi
na
44. hora que chegou o meu responsável que falava francês, que na
verdade não
45. falava francês. Ele é francês. E aí que ele explicou a situação ó,
nossa
46. lancha tá quebrada e ele tem a autorização de não liberar esse barco
pra
47. ninguém, porque se acontecer alguma coisa com as pessoas que
estão na
48. água, a gente vai colocar esse barco, certo ? Então ele apertou
minha mão,
49. me pediu desculpa e foi realmente um mal-entendido.
50. E: mal-entendido, ok merci.

ENTREVISTA no 10 RELATO 4 CPH

1. F: Tem uns que como eu te falei. O primeiro contato com um


francês
2. A maioria da.. A grande parte é a gente que tem que fazer. Sabe o
primeiro
3. contato é bom você ir Porque o francês como ele é fechado, então
ele.
4. E: Ele não chega..
5. F: Ele não se chega tão rápido. Se você vai até ele então é mais fácil.
6. O que eu quero falar é o seguinte. Um belo dia, em várias vezes, eu
já tomei
7. não na mesa.
8. F: _ Será que eu posso sentar com vocês? _Excusez-moi il y a une
place
9. pour moi?
10. F: _ Il y a mais je préfère que non.
11. E: _ Ah... Três bien ça.
12. E: Nós leríamos o gesto como uma indelicadeza d´une certaine
façon, né?
13. F: Como uma humilhação.
ENTREVISTA nº 11 CPH
R025
o
N total Nacionalidade Faixa etária Sexo Escolaridade Competência
de Lingüística
relatos
Curso
1 Brasileira 26 a 31 Fem. Superior Intermediário

PERFIL IDENTITÁRIO DO HÓSPEDE FRANCÊS


AMOSTRA CPH

CARGO NO HOTEL: Funcionário de Grupos e eventos

¾ Em comparação ao hóspede + Exigente ( x ) - Exigente ( )


brasileiro, o hóspede francês
+ Formal ( x ) - Formal ( )

é... + Objetivo nos pedidos (x )


- Objetivo nos pedidos ( )

Faz MUITAS solicitações (x )


Faz POUCAS solicitações ( )

Agradece MAIS pelos serviços


solicitados (x )
Agradece MENOS pelos serviços
solicitados (x )

ENTREVISTA no 11 RELATO 1 CPH


1. E: Você teria algum relato de malentendu interculturel à nível
vocabular
2. ou social pra falar não?
3. F: Mais acho que da questão do do francês na hora é...
4. E: Você teria algum exemplo au niveau culturel enfim pra que
você tenha
5. observado deles mais característicos do francês do que do povo
brasileiro.
6. F:Bom o francês quando eles chegam ao HOTEL, eles logo eles já
7. perguntam se o tempo não tá não tá muito bom, eles já perguntam e
o sol?
8. vai vir amanhã? _Que horas vai parar de chover?
9. Isso todos os dias como se a gente tivesse né uma bola de cristal e a
gente
10. soubesse quando parasse de chover ou se o sol vem ou não vem.
Tipo uma
11. característica deles né porque eles acham que sempre o Brasil tem
sol todo
12. tempo. Todo o ano e pra eles seria dife.. seria estranho chegar no
Brasil e
13. não encontrar o sol.
14. E: Quer dizer é um pouco a imagem que eles formaram do Brasil.
15. F: Sim. De país tropical, sempre com sol, com carnaval, mulata e
futebol.
ENTREVISTA nº 12 CPH
R026
o
N total Nacionalidade Faixa etária Sexo Escolaridade Competência
de Lingüística
relatos
Curso
1 Brasileira 27a Masc. Superior Básico

PERFIL IDENTITÁRIO DO HÓSPEDE FRANCÊS


AMOSTRA CPH

CARGO NO HOTEL: Funcionário de Grupos


¾ Em comparação ao hóspede + Exigente ( x ) - Exigente ( )
brasileiro, o hóspede francês
+ Formal ( x ) - Formal ( )

é... + Objetivo nos pedidos (x )


- Objetivo nos pedidos ( )

Faz MUITAS solicitações (x )


Faz POUCAS solicitações ( )

Agradece MAIS pelos serviços


solicitados ( )
Agradece MENOS pelos serviços
solicitados (x ) É menos simpático no
retorno Tem um pouco mais de reticência ;
por acreditar que é uma obrigação aquele
tipo de serviço.

ENTREVISTA no 12 RELATO 1 CPH

1. E:Tem algum exemplo interculturel pra citar pra gente?


2. F:O tratamento com eles de... pessoal você nunca pode chamar ele
por tu
3. sempre por vous. Por exemplo esse distanciamento que eles têm,
eles nor-
4. malmente tratam sempre por vous e sempre tem uma conversa mais
formal
5. do que uma informal. A gente normalmente em português a gente
sempre
6. fala um com os outros mais informalmente por mais que eu
conheça a
7. pessoa naquele momento. Eles não, sempre um tratamento formal
8. na conversação e sempre exige isso de você também.
9. E: Ok. Você lembra de ter. Você ter começado alguma conversa
com al-
10. guém usando o tu e eles terem pedido o vous, não?
11. F: Comigo não porque eu falo muito pouco francês e o que eu
aprendi aqui
12. no Hotel sempre foi tentando me cuidar com isso, mas o que tem
francês
13. como primeira língua aqui. No caso uma menina que trabalhava
nas
14. excursões com a gente que deixou escorregar um tu. E ele
perguntou pra
15. ela se eles tinham criado porcos juntos porque ele não tinha
intimidade
16. nenhuma com ela pra ela chamar ele de tu.
17. E: Ah tá então esse é um exemplo real?!
18. F: Real!
19. E: Ok. Merci.
ENTREVISTA nº 13 CPH
R027
o
N total Nacionalidade Faixa etária Sexo Escolaridade Competência
de Lingüística
relatos
Curso
1 Brasileira 27 Masc. Superior Intermediário

PERFIL IDENTITÁRIO DO HÓSPEDE FRANCÊS


AMOSTRA CPH

CARGO NO HOTEL: Recepcionista

¾ Em comparação ao hóspede + Exigente ( x ) - Exigente ( )


brasileiro, o hóspede francês
+ Formal ( x ) - Formal ( )

é... + Objetivo nos pedidos (x )


- Objetivo nos pedidos ( )

Faz MUITAS solicitações (x )


Faz POUCAS solicitações (x )

Agradece MAIS pelos serviços


solicitados (x )
Agradece MENOS pelos serviços
solicitados (x )

ENTREVISTA no 13 RELATO 1 CPH


1. E: O hóspede francês ele é mais exigente ou menos exigente do que
o
2. brasileiro?
3. F: ( ) depende assim depende do lugar que ele venha. O parisiense
4. ele é muito exigente e ele gosta de se antecipar a tudo. Por exemplo
se ele
5. ta no hotel e ele quer e ele vai fazer ummm um passeio fora, ele vem
um
6. dia dois dias antes saber do horário que ele vai sair. Aqui mesmo é
assim.
7. Ele por exemplo, a saída dele é daqui a três dias, ele já vai na
recepção hoje,
8. saber o horário que ele vai sair, o horário do vôo e pedir pra
reconfirmar o
9. vôo. Ninguém no Brasil tem esse costume de confirmar o vôo. Você
10. comprou o vôo, você vai voar. Todos os europeus que chegam aqui.
Eles a
11. gente tem que confirmar o vôo deles porque eles não confiam eles
não
12. garantem.
13. E: A isso é legal então em termos de hotelaria como uma observação
14. pertinente né di di di diiiiii entre hóspede brasileiro e hóspede
francês?
15. Tem esse diferencial?
16. F:Tem sem dúvida tem. O brasileiro por mais exigente que ele seja.
Ele tem
17. na alma o jeitinho brasileiro. É impressionante.
18. E: Quem é mais formal o brasileiro ou o francês?
19. F: O francês sem dúvida nenhuma.
20. E: mais objetivo nas solicitações o brasileiro ou o francês? Assim
mais
21. direto naquilo que quer.
22. F: O francês sem dúvida nenhuma, o europeu sem dúvida nenhuma.
Ele é
23. mais objetivo. Ele comprou branco, ele vai ter branco, ele não vai ter
bege,
24. nem branco gelo, nada. Ele vai ter branco e acabou.
25. E: E ele pede muito? Por que eu botei assim, quem faz muita
solicitação,
26. geralmente é hóspede brasileiro ou hóspede francês?
27. F: Aí depende do hotel do nível e daaa do nível
28. E: social?
29. F: Social.
30. E: da pessoa.
31. F: Da pessoa.
32. E: Independente da nacionalidade ou você diria que o brasileiro
assim é
33. um hóspede que pede muito. Se você tivesse que classificar é claro
que há
34. uma questão de particularidade né é muito individual, mas assim não
sei se
35. em termos de nacionalidade a gente podia formar dois grupos
brasileiros e
36. franceses. Ah os franceses solicitam muito mais do que os brasileiros
ou
37. vice versa não sei.
38. F: Não, existe uma diferença mas é muito pouca a nível de
solicitações é
39. muito pequena, muito pouca.
ENTREVISTA nº 14 CPH
R028
o
N total Nacionalidade Faixa etária Sexo Escolaridade Competência
de Lingüística
relatos
Curso
2 Brasileira 20 a 25 Masc. Superior Básico

PERFIL IDENTITÁRIO DO HÓSPEDE FRANCÊS


AMOSTRA CPH

CARGO NO HOTEL: Esportes

¾ Em comparação ao hóspede + Exigente ( x ) - Exigente ( )


brasileiro, o hóspede francês
+ Formal ( x ) - Formal ( )

é... + Objetivo nos pedidos (x )


- Objetivo nos pedidos ( )

Faz MUITAS solicitações ( )


Faz POUCAS solicitações (x )

Agradece MAIS pelos serviços


solicitados (x )
Agradece MENOS pelos serviços
solicitados ( )

ENTREVISTA no 14 RELATO 1 CPH


1. E: Você grava naturalmente.
2. F: Mas eu vou falar assim do escrito bonsoir ser escreve S O I
ERRE
3. E: R seulement le R.
4. F: Então soir bonsoir. Então é na escrita é diferente do falar das
vezes do
5. bonjour, bonjour madame, bonjour mademoiselle. Eles falam os
franceses
6. falam muito isso. E agora é pra dar o exemplo?
7. E: Oui. A gente vai dar o primeiro exemplo. (risos)
8. F: Oui é O - U - I né?
9. E: É (risos)
10. Oui. Exemplo aconteceu lá no clube Med de Itaparica,
11. tinha uma francesa e
12. um brasileiro, eles conversando. A francesa chegou pra ele e
perguntou.
13. _Comment tu t´appelles ? Ele respondeu pra ela _Como está minha
pele?
14. E ficou naquela sem entender e ele chegava pra ela perguntava alto,
15. achando que ela ia ouvir. _Como é seu nome? Ele gritava pra ela. E
ela não
16. entendia, ele achando que falando alto ela entenderia. Ela ficava
olhando
17. assim sem entender. Aí eu perguntei pra ela
18. _Comment appelles? Ela oui é..
19. E: Je m´appelle
20. F: Je m´appelle Ma..ééé... Matria eu não lembro. É Mátria o nome
dela.
21. Je m´appelle Mátria. Aí o básico né eu perguntar o comment tu
t´appelles?
22. Parler français? , Oui, non, excusez-moi. Je ne parle pas très bien
le
23. français. Alguma coisa do básico de exemplo assim o mais
engraçado foi
24. esse que aconteceu.
25. E: Ok, merci.
26. F: Merci.

ENTREVISTA no 14 RELATO 2 CPH

1. F: É o caso do très bien. Então eu cheguei pra jantar numa mesa de


2. franceses. Aí falei meu nome e falei Excusez-moi je ne parle pas très
bien
3. Très bien é o muito bem daí eles entendiam entenderam que eu
falava
4. alguma coisa do francês, daí eles começaram a falar comigo em
francês. Só
5. que começaram a falar muito rápido eu aí não entendia nada. E
ficava non,
6. non, non, non parle français, non parle ferançais, non parle français.
7. Ele _non très bien, pero. Aí eu fiquei pux.... E ele ele falando ainda,
8. continuava falando. Aí foi que eu fui salvo por um funcionário
9. francês por sinal
10. aí que entrou a Vaia e me salvou por que senão iria ficar esse mal-
entendido
11. pelo très bien. Achava que se eu falando como aqui no Brasil se eu
falar
12. eu não falo muito bem o português, eles iam entender o port o
brasileiro.
13. Mas lá na França o très bien é o muito bem, eles acham que a gente
fala o
14. básico, básico. E o básico do básico é basicão.
15. E: Ok merci monsieur.
ENTREVISTA nº 15 CPH
R029
o
N total Nacionalidade Faixa etária Sexo Escolaridade Competência
de Lingüística
relatos
Curso
1 Brasileira 20 a 25 Fem. Superior Intermediário

PERFIL IDENTITÁRIO DO HÓSPEDE FRANCÊS


AMOSTRA CPH

CARGO NO HOTEL: Assistente de Excursões

¾ Em comparação ao hóspede + Exigente ( x ) - Exigente ( )


brasileiro, o hóspede francês
+ Formal ( x ) - Formal ( )

é... + Objetivo nos pedidos (x )


- Objetivo nos pedidos ( )

Faz MUITAS solicitações (x )


Faz POUCAS solicitações ( )

Agradece MAIS pelos serviços


solicitados (x )
Agradece MENOS pelos serviços
solicitados (x )

ENTREVISTA no 15 RELATO 1 CPH

1. F: É recentemente chegou no Brasil a marca Fórmula 1 da Accord


hotels e
2. na França já já tem um grande número de hotéis nessa categoria e o
3. interessante é que lá o os banheir é banheiro como se fosse vamos
dizer é
4. banheiro público assim, mais ou menos dez quartos tem dois
banheiros,
5. então eles dividem, todo mundo tem que fazer fila pra usar os
banheiros, já
6. aqui no Brasil isso não funciona. Então o o o fórmula 1 foi
estruturado de
7. acordo com a nossa cultura, então todos os banheiros.. cada quarto
tem tem
8. seu banheiro.
9. E: Hum rum. Aqui no Brasil causaria.. você acha que causaria muito
10. estranhamento do brasileiro um um se não tivesso banheiro no
quarto?
11. F: A com certeza. Imagina você na fila sai sai uma mulher enrolada
numa
12. toalha com o marido da outra la na porta esperando e não
13. não ia dar certo não.
14. Ok.
ENTREVISTA nº 16 CPH
R030
o
N total Nacionalidade Faixa etária Sexo Escolaridade Competência
de Lingüística
relatos
Ens.
2 Brasileira 26 a 31 Masc. Médio Básico

PERFIL IDENTITÁRIO DO HÓSPEDE FRANCÊS


AMOSTRA CPH

CARGO NO HOTEL: Garçom


¾ Em comparação ao hóspede + Exigente ( x ) - Exigente ( )
brasileiro, o hóspede francês
+ Formal ( x ) - Formal ( )

é... + Objetivo nos pedidos (x )


- Objetivo nos pedidos ( )

Faz MUITAS solicitações ( )


Faz POUCAS solicitações (x )

Agradece MAIS pelos serviços


solicitados (x )
Agradece MENOS pelos serviços
solicitados (x )

ENTREVISTA no 16 RELATO 1 CPH

1. F:Ele é mais exigente em questão de serviço. De você servir a ele,


2. a questão de mis (en place /classe?) e toda aquela preparação, tem
que ser
3. bem minuciosa né que fala.
4. E: Hum rum. É.. mais formal ou menos formal?
5. F: É você diz o que comunicação com ele?
6. E: É você acha ele uma pessoa mais formal, mais afastada,
7. mais reservada do que o hóspede brasileiro.
8. F: É mais afastada, mais afastada sim.
9. E: Ele é mais direto no pedido?
10. F: É mais direto com certeza.
11. E: É mais objetivo né? Quem que pede mais? Quem é mais
exigente, é o
12. brasileiro ou o francês? Quem faz mais pedido?
13. F: Quem faz mais pedido é o brasileiro, o francês ele, ele,
14. ele, ele já define o que ele quer. Ele chega e fala.
15. E: Você falou ele é mais
objetivo.
16. F: Objetivo, ele é
objetivo
17. no que ele quer. O brasileiro ele fica muito indeciso no que no que
vai
18. pedir. É mais complicado.
19. E: E a última, quem agradece mais o brasileiro ou o francês?
20. F: Ah os dois têm a mesma proporção no agradecimento.
21. Obrigado e acho que nesse ponto né? Brasileiro é mais
extrovertido, né?
22. Até pra dialogar com ele né , mas é o dois.
23. E: O primeiro exemplo é uma curiosidade com relação ao pão né?
24. F: Você não pode retirar o pão da mesa, eles não colocam o pão no
prato.
25. eles colocam o pão direto no jogo americano ou se a mesa tiver
forrada né
26. põe na toalha, então. Eles vão pegar o pão, vão colocar ali pra
comer, ali
27. com a sobra do molho ali no prato. O mesmo pão eles vão reutilizar
28. novamente, então você não pode retirar de maneira nenhuma, né.
Senão
29. eles vão chamar tua atenção. (risos)
30. E: Entendi, já aconteceu de alguém tentar retirar e..
31. F: já aconteceu até
de retirar
32. né.
33. Retirar o pão (risos) depois ele chegar e falar assim, o pão né e tal
aquela
34. coisa assim.
35. E: Hum rum. Questionar porque tirou.
36. F: Justamente é questionar. E esse tipo de comportamento de
37. comportamento com relação ao pão né que é bem cultural, é deles.
Você já
38. observou algum brasileiro?
39. F: Não não. A exclusividade deles é essa mesma. (risos)
40. Ok. Obrigada.
ENTREVISTA no 16 RELATO 2 CPH

1. F: Ela ela tava é de biquíni né, então eu pedi que ela colocasse tipo
assim
2. alguma canga, alguma blusa por causa do restaurante que tem fritura
essas
3. coisas perigosas. Talvez assim pra ela sentiu como se tivesse que
colocar
4. E:
e
5. você falou em francês ou em português?
6. F: Não não eu não falei
7. E: Você gesticulou mais?
8. F: eu gesticulei pra ela, aí ela levou
na
9. brincadeira e entendeu ela entendeu. Na verdade ela entendeu que
era uma
10. blusa, mas ela na brincadeira ela fez como fosse pra tirar pra tirar.
(faz gesto
11. imitando o que a francesa realizou, como se perguntasse para tirar a
parte
12. superior do biquíni) (risos) eu falei assim não, não.
13. E: E como é que foi o gesto que você fez? Se fez como se fosse pra
colocar.
14. F: Eu fiz assim pra ela né. (demonstra fazendo o gesto de por algo
por cima
15. do biquíni superior) Então ela pegou aí ela pensou assim ela. Aí ela
pegou,
16. ah pra tirar e tal.
17. E: Fez o gesto contrário.
18. F: É ao contrário. Ela foi acho que meio irônica comigo, entendeu.
19. E: É entendi, na interpretação do gesto. Merci monsieur.

ENTREVISTA nº 17 CPH
R031
o
N total Nacionalidade Faixa etária Sexo Escolaridade Competência
de Lingüística
relatos
Ens.
2 Brasileira 24 a Fem. Médio Básico

PERFIL IDENTITÁRIO DO HÓSPEDE FRANCÊS


AMOSTRA CPH

CARGO NO HOTEL: Garçonete

¾ Em comparação ao hóspede + Exigente ( ) - Exigente (x )


brasileiro, o hóspede francês
+ Formal ( x ) - Formal ( )

é... + Objetivo nos pedidos ( )


- Objetivo nos pedidos (x )

Faz MUITAS solicitações ( )


Faz POUCAS solicitações ( x )

Agradece MAIS pelos serviços


solicitados (x )
Agradece MENOS pelos serviços
solicitados ( )

ENTREVISTA no 17 RELATO 1 CPH

1. Teve foi com o João que a francesa perguntou se podia entrar de


bikini
2. e aí ele falou que podia só que foi um desentendimento que parece
3. que ele falou que era para ela entrar sem o ... sem a parte de cima.
4. Ela morreu de rir. Foi muito engraçado. Ele ficou vermelho cara,
5. ele ficou muito vermelho, foi muito engraçado. (entrevista de
número 30)
6. F: Eles falam da beleza, eles são mais até porque...
7. Você acha que eles dão mais atenção ao garçom?
8. Dá mais atenção ao garçom porque também é umaaa,
9. vamos dizer assim é diferente né lá na França. O pessoal é mais..
10. E: Eles perguntam alguma coisa sobre o que está sendo servido.
11. Alguma coisa típica? Ou algum já já fez alguma observação
12. sobre alguma fruta nossa ou algum
13. F: manga. Eles sempre chegam aqui.
14. A curiosidade deles é a manga.
15. E: Querem saber com relação a manga.
16. F: Chupa. Maracujá também já teve um francês aqui procurando
saber
17. como é que chupava o maracujá se tinha que descascar o maracujá.
18. Foi muito engraçado, se tinha que descascar. Aí eu ensinei a ele
que não
19. que podia cortar ele podia to ééé.. chupar tanto com o açúcar
quanto sem
20. açúcar.
21. E: A observação da tigela né que pra gente é uma tigela?
22. F: É diferente né porque eu também nunca tinha visto. Aí ela
chegou, eu
23. coloquei a xícara na mesa ela pegou a cumbuquinha e colocou água
quente
24. e um negocinho, um sachezinho de de chá. É diferente né porque a
gente
25. nunca viu. Acho super diferente.
26. Ok.
ENTREVISTA no 17 RELATO 2 CPH

1. E:Porque que você classifica que eles aaa se comportam à mesa


2. com relação ao pão diferente do brasileiro. O que que te chama a
atenção?
3. F: É diferente porque parece queeee não sei, eu pra mim,
4. eu acho que eles dão mais atenção ao alimento do que o próprio
brasileiro.
5. O brasileiro é muito cheio deee de coisinha né. Já eles não,
6. eles vão lá, pega come, sem problema nenhum. Já o brasileiro não
sei,
7. parece que tem vergonha de comer o pão com a mão, porque na
maioria das
8. vezes eles colocam num guardanapo pra comer o pão. O francês não
é a mão
9. mesmo. Eles.. parece que usa mais os gestos na no alimento.
10. E: O toque?
11. F: O toque deles, parece que eles dão mais importância ao alimento
do que o
12. brasileiro.
13. E: E eles têm o hábito de por o pão no prato?
14. F: Não não coloca. A maioria deles que nós.. já passou por
15. aqui não colocam.

ENTREVISTA nº 18 CPH
R032
o
N total Nacionalidade Faixa etária Sexo Escolaridade Competência
de Lingüística
relatos
Ens.
2 Francesa 32 a 37 Masc. Médio LM

PERFIL IDENTITÁRIO DO HÓSPEDE FRANCÊS


AMOSTRA CPH

CARGO NO HOTEL: Funcionário da boutique


¾ Em comparação ao hóspede + Exigente ( x ) - Exigente ( )
brasileiro, o hóspede francês
+ Formal ( x ) - Formal ( )

é... + Objetivo nos pedidos (x )


- Objetivo nos pedidos ( )

Faz MUITAS solicitações ( )


Faz POUCAS solicitações (x)

Agradece MAIS pelos serviços


solicitados (x )
Agradece MENOS pelos serviços
solicitados (x )

ENTREVISTA no 18 RELATO 1 CPH

1. F: Alors..par rapport aux brésiliens. Déjà..


2. E : Des cultures, les habitudes, ce qui vous a attiré l´attention.
3. F : Déjà le Brésil c´est un très très beau pays, les gens que
j´adore.
4. Les gens sont formidables, souriants. Le seul incovenient c´est
que par
5. rapport aux français qui viennent ici, c´est..euh.. Ils trouvent les
6. brésiliens mal élévés. Si par exemple mettons au bar ils vont
demander
7. une chope mais même pas bonjour, même pas merci. Si il est le
premier il
8. passe devant tout le monde.
9. C´est la seule remarque des français. Voilà.
10. Les français ne sont pas très habitués aaaaa au Brésil. Il y en a
très très
11. peu de français qu´y viennent. C´est.. par semaine c´est peut-être
une
12. dizaine de français par semaine. Donc, pour eux ils disent oui il y
a trop
13. des brésiliens. Mais moi je leur dis
14. _Vous êtes au Brésil. Donc..
15. E : (risada)
16. F :C´est normal qu´il y a des brésiliens qu´y viennent
17. en vacances et tout ça. Ce qu’ils regrettent ce qui ait beaucoup de
18. brésiliens qui arrivent le week-end, juste pour le week-end et
19. que c´est bruyant, ils sont mal élévés. Et voilà après
20. le reste de la semaine ça va.
21. E: C´est vraiment une question culturelle? Le traitement avec..
22. F: Oui,
Autrement,
23. par contre les français qui ( ) les excursions ou euh.. qui visitent
le pays
24. sont enchantés quoi. Ils adorent.
ENTREVISTA no 18 RELATO 2 CPH

1. E: Quand on est à table?


2. F : Quand on est à table, et que bon, ils prennent (mettant) le premier
plat.
3. et quand ils ont fini ils disent tous ‘Com licença’ excusez-moi. Mais
nous
4. on dit pas nous en France ça. Nous en France on le dit pas parce
qu´en
5. France on dit : _Est-ce que vous voulez quelque chose ? Et puis on
va
6. chercher à manger. Alors que les brésiliens ils disent ‘com licença’
ou
7. quand ils s´en vont ‘com licença’ et ils s´excusent tout le temps.
8. E : C´est bizarre pour vous alors ?
9. F : Oui. Parce que nous on n´est pas habitué à ça en France. En
France on dit
10. _vous voulez quelque chose ? ou _Vous désirez quelque chose ?
_non, non.
11. Bon, ben on va chercher à manger. On dit pas _Excusez-moi (je me
laisse )
12. de la table pour aller chercher à manger.
13. E : Même quand quand vous allez partir ou pas? Même si vous allez
partir,
14. vou allez quitter la table pour descendre ?
15. F : eh ben là, c´est pour descendre si on quitte la table on dit _Bonne
soirée.
16. _Bon après midi. Voilà alors que les brésiliens c´est toujours
excusez-moi,
17. excusez-moi, excusez-moi.

ENTREVISTA nº 19 CPH
R033
o
N total Nacionalidade Faixa etária Sexo Escolaridade Competência
de Lingüística
relatos
Ens.
1 Brasileira 41a Fem. Médio Básico

PERFIL IDENTITÁRIO DO HÓSPEDE FRANCÊS


AMOSTRA CPH

CARGO NO HOTEL: Arrumadeira


¾ Em comparação ao hóspede + Exigente ( ) - Exigente (x )
brasileiro, o hóspede francês
+ Formal ( x ) - Formal ( )

é... + Objetivo nos pedidos ( )


- Objetivo nos pedidos ( x )

Faz MUITAS solicitações ( )


Faz POUCAS solicitações (x )

Agradece MAIS pelos serviços


solicitados (x )
Agradece MENOS pelos serviços
solicitados (x )

ENTREVISTA no 18 RELATO 1/Perfil CPH

ENTREVISTA nº 20 CPH
R034 a R039
o
N total Competência Vários participantes
de Nacionalidade Lingüística R034- Mulher 1
relatos de todos de todos R035- Mulher 2
R036- Homem 1
1 Brasileira Básico R037- Homem 2
R038- Homem 3
R039- Homem 4

PERFIL IDENTITÁRIO DO HÓSPEDE FRANCÊS


AMOSTRA CPH
CARGO NO HOTEL: Garçonete/ 28anos/ R034- Mulher 1

¾ Em comparação ao hóspede brasileiro, o + Exigente ( ) - Exigente (x )


hóspede francês
+ Formal ( x ) - Formal ( )

é... + Objetivo nos pedidos (x)


- Objetivo nos pedidos ( )

Faz MUITAS solicitações ( )


Faz POUCAS solicitações (x )

Agradece MAIS pelos serviços solicitados (x )


Agradece MENOS pelos serviços solicitados ( )

PERFIL IDENTITÁRIO DO HÓSPEDE FRANCÊS


AMOSTRA CPH

CARGO NO HOTEL: Hôtesse/ 24anos/ R035- Mulher 2

¾ Em comparação ao hóspede brasileiro, o + Exigente ( ) - Exigente (x )


hóspede francês
+ Formal ( x ) - Formal ( )

é... + Objetivo nos pedidos (x)


- Objetivo nos pedidos ( )

Faz MUITAS solicitações ( )


Faz POUCAS solicitações (x )

Agradece MAIS pelos serviços solicitados (x )


Agradece MENOS pelos serviços solicitados ( )

PERFIL IDENTITÁRIO DO HÓSPEDE FRANCÊS


AMOSTRA CPH

CARGO NO HOTEL: Garçom/ 22anos/ R036- Homem 1

¾ Em comparação ao hóspede brasileiro, o + Exigente ( ) - Exigente (x )


hóspede francês
+ Formal ( x ) - Formal ( )

é... + Objetivo nos pedidos (x)


- Objetivo nos pedidos ( )
Faz MUITAS solicitações ( )
Faz POUCAS solicitações (x )

Agradece MAIS pelos serviços solicitados (x )


Agradece MENOS pelos serviços solicitados ( )

PERFIL IDENTITÁRIO DO HÓSPEDE FRANCÊS


AMOSTRA CPH

CARGO NO HOTEL: Garçom/ 21anos/ R037- Homem 2

¾ Em comparação ao hóspede brasileiro, o + Exigente ( ) - Exigente (x )


hóspede francês
+ Formal ( x ) - Formal ( )

é... + Objetivo nos pedidos (x)


- Objetivo nos pedidos ( )

Faz MUITAS solicitações ( )


Faz POUCAS solicitações (x )

Agradece MAIS pelos serviços solicitados (x )


Agradece MENOS pelos serviços solicitados ( )

PERFIL IDENTITÁRIO DO HÓSPEDE FRANCÊS


AMOSTRA CPH

CARGO NO HOTEL: Garçom/ 18anos/ R039- Homem 3

¾ Em comparação ao hóspede brasileiro, o + Exigente ( ) - Exigente (x )


hóspede francês
+ Formal ( x ) - Formal ( )
é... + Objetivo nos pedidos (x)
- Objetivo nos pedidos ( )

Faz MUITAS solicitações ( )


Faz POUCAS solicitações (x )

Agradece MAIS pelos serviços solicitados (x )


Agradece MENOS pelos serviços solicitados ( )

PERFIL IDENTITÁRIO DO HÓSPEDE FRANCÊS


AMOSTRA CPH

CARGO NO HOTEL: Ajudante de cozinha/ 32anos/ R038- Homem 4

¾ Em comparação ao hóspede brasileiro, o + Exigente ( ) - Exigente (x )


hóspede francês
+ Formal ( x ) - Formal ( )

é... + Objetivo nos pedidos (x)


- Objetivo nos pedidos ( )

Faz MUITAS solicitações ( )


Faz POUCAS solicitações (x )

Agradece MAIS pelos serviços solicitados (x )


Agradece MENOS pelos serviços solicitados ( )

ENTREVISTA no 20 RELATO 1 CPH


309. E: Eu estou entrevistando uma, duas, três quatro pessoas do sexo
masculino
310. e duas pessoas do sexo feminino. Deixa eu só pegar a faixa etária.
311. R034: 28 anos
312. R035: 24 anos
313. R036: 22
314. R037: 21
315. R039: 18
316. R038: 32
317. E: 32 Ok, obrigada. A função.. é a função de todo mundo no hotel?
318. R034: garçonete.
319. R036: garçom.
320. R037: garçom.
321. R039: garçom.
322. R038: (servidor) de cozinha.
323. E: e uma hôtesse, não é isso?
324. R035: hôtesse.
325. E: Ok. Como é que vocês definem o hóspede/ Todo mundo tem nível
básico
326. dos quatro cinco seis entrevistados. A maioria se comunica e interage
327. através de gestos e os conhecimentos mínimos né? da língua. Como é
que
328. vocês classificam o hóspede francês em relação ao brasileiro. Ele é
mais
329. exigente ou ele é menos exigente.
330. R036: menos.
331. R037: acho que menos.
332. R038: bem menos exigente.
333. R034: menos exigente.
334. E: todo mundo é de acordo?
335. R036: Todo mundo é de acordo que eles não falam o mesmo idioma
336. que nós, aí eles são bem menos exigente.
337. R035: Muito menos exigente. Muito menos.
338. E: E em termos de fala.
339. R038: Pelo menos do forma, nossa forma de trabalhar no restaurante
340. eles são menos exigente porque, eles já vêm com a noção de
341. buffet, de à la carte, de ..
342. TODOS JUNTOS: self-service.
343. R036: Eles, eles não exige tanto o serviço da gente, entendeu?
344. R034: Não fica pedindo tanta coisa.
345. R037: Não pede tanto.
346. R038: A gente faz só o serviço básico pra eles.
347. R037: Pedi um vinhozinho e acabou.
348. E: E.. mais formal ou menos formal? / Vocês acham que..
349. R036: Ficam mais a dois, casal assim, conversam mais entre eles.
350. R034: quando tá em grupo tá sempre em grupo e assim, não se
351. misturam muito, também não gostam muito se são misturados.
352. E: Vocês já/
353. R036: muito destacados.
354. E: Muito destacado né? E assim eles optam mesmo por ficarem mais
355. reservados? É a posição deles?
356. R035: A maioria não aceita dividir a mesa.
357. R034: Quando é uma muito grande pra oito pessoas e tem sete, eles
358. normalmente ou tiram o lugar ou pedem a gente pra tirar. Pra ficar só
359. eles mesmos.
360. E: Ah isso é interessante quer dizer até pra/
361. R035: Principalmente se for brasileiro.
362. R036: É.
363. R035: Eles não gostam de dividir a mesa com brasileiros. Sejam eles
364. funcionários ou hóspedes. Eles gostam. Mesmo falando
365. francês, eles preferem ficar
366. entre eles. Só eles.
367. R034: Só falam o básico, mas pra tentar se misturar e conversar, uma
368. conversa.. uma conversa longa, pra um íntimo.
369. E: Certo. Então a reserva, o fato de eles serem mais reservados isso
aí é bem
370. frizado, é bem destacado mesmo né?
371. R034: Bem aparente.
372. E: Eles são mais diretos quando eles vão fazer o pedido, mais
objetivos né
373. eu coloquei aqui? Vocês acham que os brasileiros?
374. R038: Eu acho que sim
375. R037: Eu acho que eles já vêm com o pedido em mente assim. Já
376. sabem o que vai querer. O que vai comer entendeu? Aí eles falam pra
pedir
377. e já pedem uma coisa só. Não fica isso nem aquilo
378. R035: É igual a escolha de vinho. O hóspede brasileiro tem dúvida,
ele
379. experimenta um pouco de cada vinho. O hóspede francês já chega e
pede,
380. por exemplo um vinho rosé. Chama, pede é aquilo que ele vai beber.
A
381. refeição inteira, o almoço inteiro, o jantar inteiro. É tudo que ele vai
beber
382. é só aquilo.
383. E: então ele já vem com/
384. R035: A maioria dos franceses, 80% dos franceses (adquirem) pelo
385. vinho rose. Então eles já chegam e já pedem aquilo e pronto.
386. E: Engraçado isso. A maioria pede rosé?
387. R035: Rosé.
388. R036: É um padrão eles. Eles gostam bastante de vinho rosé. Eles
389. quase não tomam vinho tinto.
390. E: Mas o rosé de vocês é adocicado?
391. R039: não, não
392. R036: É seco.
393. E: ahhhh tá!
394. R036: Eles pedem bastante vinho rosé. Já tem já tem um padrão. Já
395. tem um gosto. Que eles já sabem o que vão pedir, vão pedir só
aquilo.
396. R035: Normalmente quando chega a convenção de hóspedes
397. franceses, quando chega o grupo a gente já sabe. Então o pessoal do
398. restaurante que o pessoal do passe vinho, que são responsáveis pelos
vinhos
399. Eles já sabem que a reserva de vinho rosé tem que ser muito maior.
Até no
400. restaurante na hora do almoço, quando a gente chega e olha o buffet.
Aao
401. estoque de vinho rosé é o dobro.
402. E: Certo.
403. R035: Porque o consumo deles é muito grande.
404. E: já aconteceu alguma vez de tipo eles pedirem um tipo de vinho e
vocês
405. trazerem outro? É... no momento da compreensão do pedido?
406. R036: Comigo não, eles tentam ser bem claros assim em relação a
isso
407. porque eles sabem que a maioria não fala/
408. R035: A língua.
409. R036: o francês. Eles tentam ser bem claros, bem objetivos. Eles até
410. tentam aprender falar o branco, ou roséé
411. E: Hum, rum.
412. R036: pra poder ser claro.
413. R034: Como.. como vous parlez? Rosé ah.. duas é (faz o gesto de
414. número dois com a mão) ah.. duas é. Aí eles já sabem no outro dia aí
eles
415. já vêm e eles já pedem.
416. R036: Você tem que falar ser bem claro bem objetivo pra não ter
erro.
417. R034: (inaudível) interesse de aprender o que a gente fala.
418. E: Então nunca, vocês não lembram de nenhum fato assim pra
ilustrar dessa
419. coisa de um de fazer um pedido e vir outro.
420. R035: O hóspede francês é um hóspede que não demora muito no
421. restaurante. É um hóspede que ele é muito básico. Ele chega come
pega sua
422. sobremesa e logo vai embora.
423. R039: desperdiça menos.
424. R035: Isso aí é legal uma coisa diferente.
425. R039: Desperdiça bem menos que o hóspede espanhol.
426. E: Como é que vocês classificam essa noção de desperdiçar menos?
Como
427. é que se percebe isso?
428. R035: Muita sobra de comida na mesa. Pratos intocados sabe?
429. R039: E o jeito de.. de ele comer entendeu, ele pega, ele sabe que ele
430. vai comer aquilo e ele vai terminar de comer.
431. E: Certo.
432. R039: entendeu? Em relação aos outros não. Pega pega e não
consegue
433. comer tudo. Não
mistura.
434. R035: e não consegue dar
conta
435. do que comeu.
436. R034: Pega no máximo uma salada, uma entrada, depois um prato
437. principal e por último o queijo e sobremesa
438. R035: Pouca salada.
439. R039: bastante pão.
440. R035: bastante pão.
441. E: gente esse negócio do pão/
442. R039: Mas quando eles vão colocar aquilo no prato e bota na
mesa.
443. Eles separam, deixam o pão lá e vão comendo, a gente vai tirando o
prato e
444. o pão continua em cima da mesa.
445. E: Certo. Aí isso causa, quer dizer a gente num...identifica logo que é
um
446. francês.
447. R039: Não é como o brasileiro/
448. R035: Eles não tem o costume de cortar o pão pra passar a manteiga
o
449. que quer que seja, eles rasgam na mão mesmo. É assim que eles
fazem.
450. R034: Sempre no final, quando é um prato assim com calda, eles
451. passam o pão no prato e comem, raspa bem o prato mesmo. (faz o
gesto
452. como se limpasse o prato com um pedaço de pão.) (A entrevista se
deu no
453. refeitório durante o almoço dos funcionários, havia pratos sobre a
mesa.)
454. E: Pois é, mas como a gente não está acostumada com essa coisa de
mani-
455. pular muito o pão à mesa, às vezes acontece um mal-entendido do
garçom
456. ou da garçonete/
457. R034: Recolher.
458. R036: Tirar o pão
459. E: Já aconteceu com vocês?
460. R036: É tipo assim, de tirar o pão depois o francês chega/
461. E: Ah isso me interessa gente. Então conta ah?
462. R035: Aconteceu de eu chegar na mesa de ter um prato com um
463. molhinho alguma coisa, tirar o prato e ele vim de lá do buffet com
um
464. pedacinho de pão na mão. Tipo assim, puxa eu vim fui buscar o pão
pra
465. comer com esse molho e você tirou. Aconteceu muito já isso.
466. E: Um mal-entendido.
467. Todos: (Comentários ao mesmo tempo)
468. R035: Já aconteceu muito.
469. E: já aconteceu com você também?
470. R034: Já aconteceu comigo de tirar (risos) e ... ah muito! (imita o
471. olhares perplexos dos clientes franceses procurando o pão que já foi
472. retirado.)
473. E: Ah aí eles ficam olhando e aí questionando e aí vocês percebem
na hora
474. que/
475. R034: Na hora.
476. R038: A gente tira todo o pão dele que tá jogado na mesa, que a
gente
477. acha que é pra jogar fora, recolhe, joga no lixo, eles/
478. E: Qual é a reação dele?
479. R038: Parado né. tenta argumentar, mas se não compreende.
480. R039: A gente não fala francês eles até../
481. E: Gesticula né?
482. R039: Eles vão buscar de novo, mas ficam meios.
483. R034: Ou eles ficam entre eles, todo mundo olhando pra gente e
484. (inaudível) e falam rum rum (imita os hóspedes falando sobre o
ocorrido)
485. E: de vocês terem retirado. E qual é a reação de vocês? Como é que
vocês/
486. Todos: (todos falando ao mesmo tempo, inaudível)
487. R036: Num sei, parece que eles já sabem que a gente não sabia que
era
488. pra ter retirado o pão. Aí eles já levam na brincadeira, já
489. E: Ah.. eles/
490. R036: Riem um com o outro.
491. E: Ah eles entendem que foi um mal-entendido intercultural.
492. R037: É uma questão de costume então, o mal-entendido eles levam
493. até na brincadeira, vão buscar de novo, entendeu?
494. R035: Às vezes a gente até se oferece pra ir buscar, a gente tenta
495. gesticular pra ele, pede pra esperar que eu vou no buffet buscar e tal,
aí eles
496. mesmos não, não. Dizem que não precisam, eles mesmos vão buscar.
497. E: Ah rum.
498. R035: É numa boa. Eles, eles/
499. R036: São muito educados. Muito educados assim eles não ligam,
eles
500. levam na brincadeira, normal.
501. E: Ah rum.
502. R036: Não se chateiam nem nada não.
503. R035: A gente também não fala o espanhol muito bem, o João é
504. que fala melhor, mas assim a maioria dos franceses, eles
compreendem o
505. espanhol. Então pra gente é mais fácil falar com eles em espanhol.
Muitas
506. das vezes eu procuro falar com eles em espanhol pra, pra poder dar
um
507. melhor atendimento pra eles igual, nessa minha nova função agora.
Eu não
508. falo nada de francês, só o básico mesmo, né. Um bom dia, só isso,
mas eu
509. consigo conversar com eles. Hoje mesmo teve um exemplo disso. A
hóspede
510. chegou, uma francesa chegou, tava a procura dos amigos e ela falou
o nome
511. e eu não sabia, mas eu já tinha ouvido o nome da pessoa. Né, na
véspera da
512. minha folga, anteontem eu ouvi, quando essa mesma hóspede
513. chamou por essa outra pelo nome lá no no setor embaixo
514. e eu guardei a fisionomia dela. Aí hoje quando
515. ela chegou falando em francês nervosa que tinha perdido
516. alguma coisa e tal aí falou o nome, aí eu já levei ela direto
517. aonde a hóspede tava. Aí ela falando, tentando me explicar
518. que tinha esquecido alguma coisa no
519. restaurante. Aí eu tentei falar com ela em espanhol pra ela procurar
na
520. recepção, que tinha sido ontem à noite. Aí ela veio e me devolv ela
veio me
521. mostrar o celular que ela esqueceu. Quer dizer eu não entendi nada
do que
522. ela falou, mas pelos gestos dela e pelo nervosismo eu sabia que era/
523. E: Talvez alguma ou outra palavra você também entendeu/
524. R035: Aí ela veio, me agradeceu, quer dizer eu não entendi nada do
que
525. ela falou, mas eu, pelo nervosismo dela, eu sabia que ela tinha
perdido
526. alguma coisa.
527. R038: ( ) pessoa tá procurando tá pedindo dá pra você
conseguir
528. entender.
529. E: Essa é a
última
530. questão na verdade é..quer dizer são duas. Quem pede mais se o
brasileiro
531. ou se é o francês e quem agradece mais se é o brasileiro ou se é o
francês?
532. R035: Quem pede mais é o brasileiro. Na minha opinião.
533. E: Todo mundo tá de acordo?
534. R037: O francês agradece mais.
535. R036: É aquilo que eu falei, porque o francês é muito mais educados,
536. entendeu. Ele tem muito mais educação é muito mais refinado do que
o
537. brasileiro. O brasileiro pede muito mais, pede muito mais. O francês
538. agradece.
539. E: Uma coisa que está sendo recorrente nas entrevistas é que as
pessoas
540. falam que eles falam muito bonjour antes de qualquer coisa. Vocês
541. observaram isso?
542. R034: Muito nossa.
543. R036 e R037: Oui, merci, merci ,merci. Toda hora agradecendo.
Toda
544. hora.
545. R034: Então isso, isso é quase que uma marca registrada pra gente
546. classificá-los como mais educados, vamos dizer assim?
547. Todos: (Confirmando ao mesmo tempo.)
548. R035: Com certeza, com certeza mais educados.
549. R034: Eles são mais educados, no falar com a gente, no pedir, no
jeito
550. de comer e o comportamento na mesa. É per/ (fim da fita; troca de
fita).
551. R037: Me fala então exemplos de hábitos diferentes?
552. O que ele mais explicou foi assim até mesmo pra gente estar
explicando
553. os hospedes pra na hora do buffet quando bota aí na hora de cortar o
pão os
554. franceses não tem mania de cortar o pão no buffet, eles pegam o pão
rasgam
555. e deixam a outra parte lá, então os hospedes falam poxa eles pegaram
os
556. dois lados do pão e deixa a outra aqui, aí eu vou logo e explico, não a
cultura
557. deles é assim eles não tem costume de usar faca pra cortar o pão e
tal.
558. E. E aí vocês vendo uma cena dessa vocês tem como falar pro
francês pra
559. não pegar no pão?
560. R037: Não no máximo a gente vai lá e corta e deixa porque é a
cultura deles
561. né fazer o que, a gente não vai mudar.
562. R035: o brasileiro tem o costume de comer as refeições e depois
comer a
563. sobremesa, o francês não. Ele come todas as refeições depois a
sobremesa e
564. por último a sobremesa dele é o queijo, não é como o brasileiro que
565. normalmente come antes. O francês come toda a refeição direitinho,
a
566. sobrema e por último o pão com queijo né.
567. E: E algum francês já chamou a atenção por alguma coisa assim que
ele já
568. considerou exótica no buffet, vocês já viram assim alguém perguntar
sobre
569. alguma fruta?
570. R039:. Ah , sim o mamão, perguntam muito sobre o mamão...é...
571. R036:. É e o maracujá assim pra eles também, gostam muito de
maracujá
572. R037: É eles perguntam se podem comer a semente, aí eu falo não,
não,
573. semente não , é engraçado porque eles não conhecem né eu acho.
574. R038: é, é diferente pra eles né.
575. R036: Eles não sabem o que eles comem ou não, não estão
acustumados.
576. E: Ah isso é interessante, mas é semente de que fruta?
577. R037 e R038: Mamão e o Maracujá !
578. R035: Aí teve um deles que me perguntou o que se fazia com a
semente aí
579. eu peguei , peguei e falei perai , falei pra ele esperar um pouquinho
ai fui lá
580. dentro pedi pro rapaz fazer um suco aqui rapidinho e entreguei pra
ele e
581. falei aí é só isso, ai ele tomou e gostou muito, ficou...
582. R036:. E eles comem bastante aqui manga, nossa eles adoram
manga.
583. R038: Abacaxi.
584. R035: na realidade as frutas pra ele a maioria das frutas pra eles do
nosso
585. país é novidade o que a gente pode perceber é que uma fruta que pra
eles é
586. do cotidiano é uva sabe pra eles é muito mamão, mas todas as outras
uva,
587. melão e melancia, e todas as outras frutas como kiwi, o mamão,
manga o
588. abacaxi, o maracujá pra eles é como se fosse uma novidade,
principalmente
589. o maracujá e o mamão.
590. R039: Nossas frutas aqui são nativas tropicais então não tem lá né, ai
eles
591. chegam aqui e ficam maravilhados.
592. R037: Pois é, mas assim uma coisa que ainda me causa estranheza
assim
593. que eu não me acostumo é a forma de comer carne. Eles comem
carne
594. praticamente crua.
595. R036:. E aí eles pedem “ saignant e bleue”, e aí quando
596. eles não entendem é tsc tsc fazem um sinal.
597. E: Muitos garçons me relataram, por exemplo quando eles falam
598. ‘cuit’ cozida né, “bien cuit” essa noção não bate muito com a nossa?
599. R036: Não, bem diferente o nosso ao ponto e bem passado pra eles
600. totalmente diferente, pra eles é bem crua mesmo/
601. E: Pois é de forma prática o cuit nosso e o cuit deles assim.
602. R036: o nosso ao ponto pra eles já é bem passado o deles bem
passado pra
603. nós tá crua e o bleu pra eles pra nós já é sushi (risos).
604. E: (risos) Já aconteceu assim ...vocês virem com alguma coisa que
pra
605. vocês já estivesse no ponto e pra eles, eles pedirem pra trocar?
606. R036:Acontece muito à la carte no Restaurant à noite, que a carne
vem
607. muito passada, aí eles não gostam e pedem pra trazerem uma mal
passada.
608. E. Sim, mas na verdade eles tinham pedido cuit né?
609. R036: É, e aí a pessoa que às vezes não está acostumada a anotar o
pedido,
610. aí anota ao ponto e não fala que é pra ‘francês’, aí eles fazem ao
ponto como
611. se fosse pra brasileiro e aí vem pra francês e eles não conseguem
comer.
612. E: Ah, mas tem essa observação pra dar uma ajuda pro pessoal aí
dentro?
613. R036: Isso!tem que observar, se não colocarem eles não conseguem
fazer a
614. carne do jeito do francês.
615. E: Olha só que coisa interessante, quer então que vocês já dão uma
dica pro
616. próprio cozinheiro não é? Quando é um brasileiro ou um francês ?
617. R036: É sim porque se não avisar eles não comem, o prato vai vir
como se
618. fosse de um brasileiro e quando alguns comem porque eles são
muito
619. educados, raramente eles reclamam, se eles pediram alguma coisa às
vezes
620. e vier meio errado os franceses não reclamam, eles comem assim (a
621. entrevistada fez um semblante de aversão), a gente percebe no rosto,
mas
622. eles não falam assim _Non, Non, non! Muito raro às vezes um ou
outro
623. pede e reclama, mas eles não questionam muito. Eles comem a seco
e...
624. E: E outra coisa, não são muito desagradáveis na apreciação quando
não
625. gostam, me falaram isso assim eles tem uma maneira de dizer ham...
626. R034: Na realidade eles tem uma educação pra tudo mesmo pra
alguma
627. coisa positiva ou negativa eles nunca se alteram você nunca vê eles
alterados
628. eles nuncam te destratam raramente eles se expõem que não se
agradou,
629. você percebe pelo jeito, a reação das mãos, o olhar um deles olhando
pro
630. outro ai a gente percebe que tem alguma coisa errada.
631. R037: É , eles não reclamam de nada mesmo são bem tranqüilos.
632. R035: É teve uma vez que uma francesa... é... porque eles são muito
assim
633. eles não são muito exigentes no falar não mais eles observam muito
o jeito
634. da gente de servir de colocar a mesa e ai logo no começo que eu
tava aqui
635. eu não tinha muito o costume até porque até a gente sabe disso mas
passa
636. despercebido e servir o vinho e virar a garrafa pra poder não pingar
ai
637. normalmente eu já ia e virava logo na correria ai teve uma vez que
uma
638. francesa viu e tirou e disse não não! E não deixou eu servir daquele
jeito aí
639. foi assim pegou a garrafa e me ensinou ai ela fez, eu fiz muito
rápido e ela
640. não gsotou ai ela foi la de novo e me ensinou de novo, ai quando eu
fiz
641. certo na terceira vez ai ela foi e bateu palma (risos).
642. R036: Eles gostam de muita perfeição, pra eles tudo tem que ser
perfeito,
643. tudo que faz tem que ser perfeito ou quase perfeito. O legal é que o
franceses
644. assim os que freqüentam ai, os americanos, os espanhóis os
franceses
645. gostam de ensinar, mesmo o idioma eles perguntam muito, como se
fala
646. bom dia!, boa tarde! pra eles cumprimentar a gente em português.
Teve um
647. dia que eu levei o menu pra eles na mesa aí ele veio me chamou e
falou
648. assim Oh, ele me explicando que estava feio a forma como estava
escrita no
649. menu, era fruto misto do mar, ai ele pô muito feio! Ai ele foi pegou
o papel
650. escreveu, assortiment e o fruit de mer, ai eu fui chamei o francês
651. que era chefe de cozinha ai ele foi falou, obrigada né, ai ele foi
652. agradeceu porque na hora de fazer o menu , não tinha pensando num
653. a forma mais bonita de colocar e ai até o próprio francês
654. (o entrevistado referiu-se ao cozinheiro) agradeceu e
655. falou depois -Dei mole! (risos). Sou Francês e dei esse mole (risos).
656. R034: Engraçado uma vez os franceses estavam fazendo maior festa
657. comemoração deles lá, e aí fizeram uma dança em volta do garçom,
658. ai o garçom achou que eles estavam fazendo uma macumba, porque
659. eles estavam dançando, sei lá aí o garçom ficou muito bravo e os
660. franceses rindo deles (risos). E eles rodando e batendo (risos)
661. E: Mas isso não é muito comum entre os franceses essa festividade
662. toda será que eles estavam/
663. R034: É eu não sei, foi muito engraçado e esse garçom ficou muito
664. bravo achando que eles estavam fazendo algum tipo de magia (risos)
665. E: Ué, mas não era e aí, era o que , uma maneira de...
666. R034: Sambar. Eles estavam tentando sambar mas ai como eles não
667. sabem sambar aí eles ficavam olhando pro pé e rodava abaixado, ai o
668. rapaz falou isso ai tá mais pra macumba do que pra samba (risos).
669. E: (risos) É isso aí é um mal-entendido intercultral (risos)
670. R035: É e eles assim admiram, não sei se por acharem diferente e
eles
671. admiram muito assim a nossa cor ( a entrevistada se refeiu a pele
672. morena) o jeito admiram muito assim o cabelo o jeito não sei a
673. maioria deles são brancos alguns deles bem loiros, então.
674. R034:Eles ficam encatados quando vêem uma pessoa de cor escura
(a
675. entrevistada se refere a pele negra), e bem escura, quando tem um
676. garçom escuro no salão pra eles é tudo. Assim eles ficam olhando
677. a gente admirados e às vezes fala, ri, simpatizam logo, já assim uma
678. simpatia...
679. R034:E eles procuram se informar se é um hóspede, porque...
680. E: Mas não tem nada que vocês tinham percebido que tira um
francês
681. do sério? Que ele fica irritado, ou incomoda eles?
682. Que vocês até evitam?
683. R037: Não, até hoje não, até porque eles são assim muito educados
não
684. é de demostrar, então assim pra mim até hoje não.
685. Os franceses preferem mais falar em espanhol, mas agora teve um
686. mico né falando assim, eu atendi a mesa dos franceses e eles são fã
de
687. sopa e não dispensam a sopa por nada ai na correria servir o prato de
688. entrada aí eu passei e bon appétit! e nada , de novo bon appétit! e
nada
689. aí eu fui e disse pela terceira vez bon appétit, aí eles _ Sans la soupe
690. non!, aí eu tive que tirar os pratos todos pra servir a sopa pra depois
691. eles comerem ai eles foram e me explicaram sem la soupe sem janta,
692. pra eles se não comerem la soupe antes nada do menu interessa, aí eu
693. caramba voltei sem graça. Aí ele falou _Na país que inventa muita
694. sopa. Sopa de frango de legumes aí ele foi me explicando que é a
695. tradição deles ele invetavam no restaurante que a sopa preparam eles
696. pro jantar porque a França é um pais muito frio né.
697. R036: Na hora assim que eu passei pra recolher os pratos sujos né, ai
ela
698. colocou o pratinho de salada em cima e prato maiorzinho embaixo,

699. eu fui né , e tirei os dois juntos, ela não gostou não (risos), foi la
onde
700. fica a loça suja e puxou e prato dela e colocou na mesa de novo
(risos)
701. Brasileiro nunca faria isso entendeu.
702. E: É não deixa de ser um mal-entendido intercultural.
703. R037: É, ela não também não discutiu não falou nada só olhou e foi

704. entendeu, ai a desculpa foi que a gente tava fazendo o nosso trabalho
e
705. nada mais e que não foi por mal.
706. R034: Agora a gente aqui já presta mais atenção , porque os
franceses
707. tem mesmo esse costume. Já aconteceu de um francês deixar o prato
708. na mesa e falar Non, Non Non Tirar! (risos) ou seja pra não tirar o
709. prato dele. Isso já aconteceu muitas vezes porque a gente tem o
710. costume né de tirar o prato, mas agora a gente lembra que o francês
711. não gosta.
712. R037: É , é deles eles não consideram sujo.
713. E: e o quem vocês acham que
714. manipula mais os alimentos com as mãos o francês ou o brasileiro?
715. R034: Francês.
716. R035: Francês.
717. R039: Francês.
718. R036: Ah o francês claro!
719. R037: É o francês .
720. E: Como eles comem camarão, lagosta?
721. R037: Camarão eles não tem vergonha de botar a mão no camarão
não
722. abrem normalmente com a mão tanto que a gente serve até o lenço
723. umedecido depois, pra limpar a mão.
724. R036: pra eles não é falta de educação nem nada...
725. R035: Mas geralmente eles pedem depois pra gente água morna
com
726. limão pra lavar a mão, sempre a maioria dos franceses pedem, se
727. enrolam assim pra explicar porque a gente assim nunca tinha visto
728. antes mas agora é quase todo francês pede e não é só frutos do mar
729. não, frango também dependendo do pedaço do frango aí que eles
730. pedem. A água de lavanda que a gente chama né, que é a água
quente
731. com limão.
732. E: Aí de repente existiu um mal-entendido nessa água de lavanda
733. porque a gente não tem o habito. Já aconteceu alguma vez eles
pedirem
734. e vocês não entederam?
735. R034: Já aconteceu de a gente explicar que tinha uma torneira pra ir
la
736. lavar a mão , mas ele non, queriam a água lá pra eles (risos).
737. R037: Agora uma coisa que eles apreciam muito é o molho, molho
da
738. carne , molho do frango , molho de qualquer coisa eles adoram, é por
739. isso que eles depois raspam com o pão e comem o molho porque pra
740. eles o molho é tudo. E comem muita mostarda, e o pão tem que ter,
741. no café, almoço e jantar.
742. R035: é mesmo principalmente as franceses elas comem muito
pouco
743. muita salada e tal, mas o pão elas comem como os homens elas
744. comem muito pão mas a comida mesmo muito pouco.
745. toda a refeição o almoço todos os pratos que a gente retira é só
salada.
746. E: Pessoal merci beaucoup, bom trabalho pra vocês.
747. Todos: Merci.

* Caso o leitor tenha a oportunidade de ouvir a gravação da presente


entrevista é importante esclarecer que os barulhos nela contidos, devem-se
ao fato dos relatos terem ocorrido no refeitório do Hotel, durante o almoço
dos funcionários, que colaboraram gentilmente. Só nestas condições
conseguimos reunir o grupo.
ENTREVISTA nº 21 CPH
R040
o
N total Nacionalidade Faixa etária Sexo Escolaridade Competência
de Lingüística
relatos
Ens.
1 Brasileira 30 a 35 Masc. Médio Básico

PERFIL IDENTITÁRIO DO HÓSPEDE FRANCÊS


AMOSTRA CPH

CARGO NO HOTEL: Chefe de equipe de garçons

¾ Em comparação ao hóspede + Exigente ( x ) - Exigente ( )


brasileiro, o hóspede francês
+ Formal ( x ) - Formal ( )

é... + Objetivo nos pedidos ( x )


- Objetivo nos pedidos ( )

Faz MUITAS solicitações ( )


Faz POUCAS solicitações (x )

Agradece MAIS pelos serviços


solicitados (x )
Agradece MENOS pelos serviços
solicitados ( )
ENTREVISTA no 21 RELATO 1 CPH

1. F. Foi muito curisoso um atendimento a la carte, um casal muito


conhecido
2. do chefe do Hotel e eu não sabia ai eu cheguei e coloquei tudo em
francês ai
3. ele foi embora e comentou com o chef do vilage que foi a primeira
pessoa
4. que ofereceu todas as cartas em francês pra ele, a point, bien cuit,
blue, e ele
5. ficou muito impressionado em saber que alguém conhecia o gosto
dele, o
6. que é muito, e... ele tava uns dias no Hotel, e tinha que comer muitas
coisas
7. que não queria porque não entendiam o que ele queria e aqui ele viu
que
8. entendiam e ficou feliz, porque estava comendo tudo bem passado e
tal , e
9. ele queria saignant e ele não conheguia ai comentou com o chef do
Hotel e
10. veio me agradecer ai comentou pô legal vamos desenvolver.
11. Sabe ?
12. Eles gostam quando eles são compreeendidos porque
13. eles vem pra uma empresa francesa e eles acham que todo mundo
14. vai falar francês e tal e isso não acontece quando eles vêem que
15. as pessoas se esforçam pra atender eles bem aí eles gostam chamam
16. até pelo nome e tal , eles não gostam muito de
17. atraso por exemplo eles chegam na mesa gosta de um atendimento
assim
18. não precisa correr mas gostam das coisas formais. Uma vez tinha
chegado
19. um pessoal e estava esperando já na mesa aí demorou um pouco,
quando eu
20. cheguei eles reclamaram e tal, mas aí eu servi eles e tal, no final de
21. tudo o que tinha servido, o tempo todo sem falar francês, aí no final
22. decorei uma frase de um livro como se falava _Désirez vous encore
23. quelque chose? aí os franceses Oui, vous allez commencer tout de
novo
24. (risos) aí fiquei sem entender nada (risos).

ENTREVISTA nº 22 CPH
R041
o
N total Nacionalidade Faixa etária Sexo Escolaridade Competência
de Lingüística
relatos
Ens.
1 Brasileira 35 a 40 Fem. Médio Básico
PERFIL IDENTITÁRIO DO HÓSPEDE FRANCÊS
AMOSTRA CPH

CARGO NO HOTEL: Femme de Chambre

¾ Em comparação ao hóspede + Exigente ( ) - Exigente (x )


brasileiro; o hóspede francês
+ Formal ( x ) - Formal ( )

é... + Objetivo nos pedidos ( x )


- Objetivo nos pedidos ( )

Faz MUITAS solicitações ( )


Faz POUCAS solicitações ( x )

Agradece MAIS pelos serviços


solicitados (x )
Agradece MENOS pelos serviços
solicitados ( )

ENTREVISTA no 22 RELATO 1 CPH/perfil

1. F. Bem eu acho que os franceses são bem mais delicados e generosos


que o
2. próprio brasileiro, não falando mal da minha raça mas o francês
agradece diz
3. bom dia, obrigado. E o brasileiro não, já acha que é a nossa
obrigação.Nem
4. todos são assim, mas tem uns que são meio grosso assim sabe.
ENTREVISTA nº 23 CPH
R042
o
N total Nacionalidade Faixa etária Sexo Escolaridade Competência
de Lingüística
relatos
Ens.
1 Brasileira 20 a 25 Masc. Médio Básico

PERFIL IDENTITÁRIO DO HÓSPEDE FRANCÊS


AMOSTRA CPH

CARGO NO HOTEL: Animador

¾ Em comparação ao hóspede + Exigente ( ) - Exigente ( x )


brasileiro, o hóspede francês
+ Formal ( x ) - Formal ( )

é... + Objetivo nos pedidos ( )


- Objetivo nos pedidos ( x )

Faz MUITAS solicitações ( )


Faz POUCAS solicitações ( x )

Agradece MAIS pelos serviços


solicitados ( x )
Agradece MENOS pelos serviços
solicitados ( )

ENTREVISTA no 23 RELATO 1 CPH


1. F. O santo de casa não faz milagre. O estrangeiro dá muito valor, por
2. exemplo veio fazer um frevo, aí o estrangeiro vê e acha coisa de
outro
3. mundo muito lindo e o brasileiro vê parabeniza mas não como um
francês,
4. um outro entusiamo.
5. Aqui no club a gente tem um flexibilidade não bem isso mas a gente
tem um
6. (previsagem) do dia a dia com a ( ) dos hóspedes onde a gente
estuda o
7. perfil e a cultura de cada um dos hóspedes, o que eles gostam e o
que eles
8. não gostam porque tem palavras que a gente fala, tem palavras que
isso é
9. pessoal bem pessoal de cada um. Por exemplo meu francês ainda
não está
10. no nível do meu espanhol porque eu adapto meu espanhol
dependendo do
11. lugar ou região de onde o hóspede vem, tem o argentino, ou
espanhol.
12. Já o francês ainda não está fluente, mas quando estiver
evidentemente eu
13. vou fazer o que? Vou estudar o sul da França como é o estilo de
palavras
14. culturais exemplo: bavarde, coisas assim elaborada que eles falam,
porque
15. tem coisas que a gente fala que não é legal pra eles ou vice e versa.
16. E. É só uma observação cultural entre os contrastes das culturas no
17. tramaneto com o francês né qual o tipo de cuidado?
18. F. Bem primeiro cuidado assim é na forma de tratamento né, é que
quando
19. eu vou conhecer uma pessoa nunca vou chamar a pessoa , tratar a
pessoa de
20. tu, porque tratar tu fica uma coisa íntima né. Então eu sempre vou
né com o
21. vous appelez, para que não tenha agressividade na primeira
impressão né?
22. Tratar uma pessoa de tu que eu não conheço.
23. E.Você chegou, já chegou assim no começo de errar, esquecer? E a
reação
24. deles?
25. F. (risos) Sim, muitas vezes, eu não percebi porque eu não tinha
noção, não
26. chegaram a falar isso ainda pra mim mas como eles basicamente,
eles
27. entendem, o problema é que quando vc é imigrante brasileiro, eles
não se
28. importam, sabem que a pessoa se esforça, mas se caso já for um
europeu
29. um nativo aí sim, ele vai e pá...
30. E. Ok, Merci
31. F. à toi aussi.
ENTREVISTA nº 24 CPH
R051
o
N total Nacionalidade Faixa etária Sexo Escolaridade Competência
de Lingüística
relatos

1 Brasileira 20 a 25 Fem. Superior Básico

PERFIL IDENTITÁRIO DO HÓSPEDE FRANCÊS


AMOSTRA CPH

CARGO NO HOTEL: Recreadora

¾ Em comparação ao hóspede + Exigente ( x ) - Exigente ( )


brasileiro, o hóspede francês
+ Formal ( x ) - Formal ( )

é... + Objetivo nos pedidos ( x )


- Objetivo nos pedidos ( )

Faz MUITAS solicitações ( )


Faz POUCAS solicitações ( x )

Agradece MAIS pelos serviços


solicitados (x )
Agradece MENOS pelos serviços
solicitados ( )

ENTREVISTA no 24 RELATO 1 CPH/perfil


1. F: É o francês vem pra cá com muita expectativa que a gente vai
saber se
2. comunicar com eles, eles já vem esperando que a gente saiba falar
francês e
3. outro dia um francês chegou e falou comigo em francês e eu falei je
ne parle
4. français aí ele falou que no Brasil no HOTEL X que fala francês.
5. E: Aí ele comenta uma expectativa frustada né?
6. F: Exatamente.
ENTREVISTA nº 25 CPH
R052
o
N total Nacionalidade Faixa etária Sexo Escolaridade Competência
de Lingüística
relatos

1 Brasileira 30 a 35 Masc. Médio Básico

PERFIL IDENTITÁRIO DO HÓSPEDE FRANCÊS


AMOSTRA CPH

CARGO NO HOTEL: Chefe de equipe de garçons

¾ Em comparação ao hóspede + Exigente ( ) - Exigente ( x )


brasileiro, o hóspede francês
+ Formal ( x ) - Formal ( )

é... + Objetivo nos pedidos ( x )


- Objetivo nos pedidos ( )

Faz MUITAS solicitações ( )


Faz POUCAS solicitações ( x )

Agradece MAIS pelos serviços


solicitados ( x )
Agradece MENOS pelos serviços
solicitados ( )
ENTREVISTA no 25 RELATO 1 CPH/perfil

ENTREVISTA nº 26 CPH
R053
o
N total Nacionalidade Faixa etária Sexo Escolaridade Competência
de Lingüística
relatos

1 Brasileira 30 a 35 Masc. Médio Básico

PERFIL IDENTITÁRIO DO HÓSPEDE FRANCÊS


AMOSTRA CPH

CARGO NO HOTEL: Garçom


¾ Em comparação ao hóspede + Exigente ( ) - Exigente ( x )
brasileiro, o hóspede francês
+ Formal ( x ) - Formal ( )

é... + Objetivo nos pedidos ( x )


- Objetivo nos pedidos ( )

Faz MUITAS solicitações ( )


Faz POUCAS solicitações ( x )

Agradece MAIS pelos serviços


solicitados ( x )
Agradece MENOS pelos serviços
bsolicitados ( )

ENTREVISTA no 26 RELATO 1 CPH

1. F: O francês ele pede o ponto da carne saignant, que é a mal passada


2. é...bien cuit e ... à point não, muito raro, porque a carne deles são
3. sangrando.
4. E: Agora quando ele pede cuit você acha similiar ao nosso bem passado?
5. F. É bem cuit eu já faço na minha cabeça que seria bem cozido, bem
6. passada, e o francês existe uma regra dentro do restaurante, o francês
senta
7. a gente serve a água o couvert só que eles não admitem que o garçom
retire
8. o prato de pão deles antes de servir a sobremesa. Por exemplo terminou o
9. prato de entrada, o garçom pode recolher. Vem o prato principal o
garçom
10. recolhe, na hora que vai tirá-lo o prato principal para a sobremesa o
11. pratinho de pão tem que permanecer na mesa até o final, ou eles podem
12. depois do prato principal comer, pedir o queijo ou eles podem dizer retira
e
13. eu quero a sobremesa mas geralmente eles não admitem que tirem o
14. pratinho de pão, só quando está comendo a sobremesa. No finalzinho da
15. sobremesa, eles pedem pra recolher, no momento que a gente vai
recolher
16. na hora que terminou o prato principal eles não deixam.
17. E:Ah, isso é legal já aconteceu de alguma vez que..
18. F: às vezes a gente vê muito pão em cima da mesa... às vezes a gente
vai...
19. Já aconteceu, eu tava numa mesa de francês e terminou o prato principal
20. eu fui recolher, tirei os pratos dos que terminaram o principal pra levar
pra
21. cozinha e vim com uma bandeija pra recolher os couverts pra limpar a
22. mesa pra mim entrar com a sobremesa. Já aconteceu de quando eu pedi
23. licença e o francês fez assim pra mim, non merci non (gesticulando com
a
24. mão) -Monsieur vou comer pain. Aí eu falei excusez-moi e saí.
25. E: Ok, Ok, merci.
26. F. Se tem 10 franceses em uma mesa eu digo bonsoir todos respondem se
27. tem 10 brasileiros em uma mesa um ou dois retornam o cumprimento.
ENTREVISTA nº 27 CPH
R054
o
N total Nacionalidade Faixa etária Sexo Escolaridade Competência
de Lingüística
relatos

1 Brasileira 30 a 35 Fem. Médio Básico

PERFIL IDENTITÁRIO DO HÓSPEDE FRANCÊS


AMOSTRA CPH

CARGO NO HOTEL: Garçonete

¾ Em comparação ao hóspede + Exigente ( ) - Exigente ( x )


brasileiro, o hóspede francês
+ Formal ( x ) - Formal ( x )

é... + Objetivo nos pedidos ( x )


- Objetivo nos pedidos ( )

Faz MUITAS solicitações ( )


Faz POUCAS solicitações ( x )

Agradece MAIS pelos serviços


solicitados ( x )
Agradece MENOS pelos serviços
solicitados ( x )

ENTREVISTA no 27 RELATO 1 CPH/perfil


ENTREVISTA nº 28 CPH
R055
o
N total Nacionalidade Faixa etária Sexo Escolaridade Competência
de Lingüística
relatos
Superior
1 Brasileira 20 a 25 Fem. Incomp. Básico

PERFIL IDENTITÁRIO DO HÓSPEDE FRANCÊS


AMOSTRA CPH

CARGO NO HOTEL: Vendedora Boutique

¾ Em comparação ao hóspede + Exigente ( x ) - Exigente ( )


brasileiro, o hóspede francês
+ Formal ( x ) - Formal ( )

é... + Objetivo nos pedidos ( x )


obs: são mais auto-suficientes. - Objetivo nos pedidos ( )

Faz MUITAS solicitações ( )


Faz POUCAS solicitações ( x )

Agradece MAIS pelos serviços


solicitados ( x )
Agradece MENOS pelos serviços
solicitados ( x )

ENTREVISTA no 28 RELATO 1 CPH/perfil


ENTREVISTA nº 29 CPH
R056
o
N total Nacionalidade Faixa etária Sexo Escolaridade Competência
de Lingüística
relatos

1 Brasileira 25 a 30 Masc. Médio Básico

PERFIL IDENTITÁRIO DO HÓSPEDE FRANCÊS


AMOSTRA CPH

CARGO NO HOTEL: Barman

¾ Em comparação ao hóspede + Exigente ( x ) - Exigente ( )


brasileiro, o hóspede francês
+ Formal ( x ) - Formal ( )

é... + Objetivo nos pedidos ( x )


- Objetivo nos pedidos ( )

Faz MUITAS solicitações ( )


Faz POUCAS solicitações ( x )

Agradece MAIS pelos serviços


solicitados ( x )
Agradece MENOS pelos serviços
solicitados ( )

ENTREVISTA no 29 RELATO 1 CPH/perfil


ENTREVISTA nº 30 CPH
R057
o
N total Nacionalidade Faixa etária Sexo Escolaridade Competência
de Lingüística
relatos

1 Brasileira 35 a 40 Masc. Médio Básico

PERFIL IDENTITÁRIO DO HÓSPEDE FRANCÊS


AMOSTRA CPH

CARGO NO HOTEL: Chefe de equipe do bar

¾ Em comparação ao hóspede + Exigente ( ) - Exigente ( x )


brasileiro o hóspede francês
+ Formal ( x ) - Formal ( )

é... + Objetivo nos pedidos ( x )


- Objetivo nos pedidos ( )

Faz MUITAS solicitações ( )


Faz POUCAS solicitações ( x )

Agradece MAIS pelos serviços


solicitados ( x )
Agradece MENOS pelos serviços
solicitados ( )

ENTREVISTA no 30 RELATO 1 CPH/perfil


ENTREVISTA nº 1 ACI
R005
o
N total Nacionalidade Faixa etária Sexo Escolaridade Competência
de Lingüística
relatos

10 Francesa 45 Fem. Superior LM

ENTREVISTA no 1 RELATO 1 ACI

1. F: Alors déjà.. ça fait assez longtemps et puis c’est pas tous les
2. Brésiliens et... toutes les classes sociales du Brésil. C’est seulement
3. certaines personnes et moi j’ai réagi selon la réalité des choses donc
4. c’est pas ça ne concerne peut-être pas tout le monde au Brésil.
5. E: D’accord.
6. F: Alors, par exemple le rire moi, les gens que j’ai connu riaient
7. beaucoup plus que les Français et encore plus que les Allemands.
8. Parce que quand j’ai connu mon ami brésilien j’habitais en
9. Allemagne et le contraste il est encore plus grand entre l’Allemagne
10. et le Brésil que entre la France et le Brésil. Et... effectivement mon
11. ami était toujours un peu étonné que même les jeunes ne riaient pas
12. tellement et... quand on... il reprochait aux européens de pas être
13. assez rigolos de pas raconter des plaisanteries de pas rigoler de
toutes
14. sorte de choses et... pour un Brésilien on était un peu (coincé)
15. (risos)
16. Et par exemple au cinéma quand il est vénu au cinéma en Allemagne
17. il a trouvé que les gens étaient beaucoup trop sérieux, trop
18. silencieux, plus respectueux ne disaient rien le silence était
19. obligatoire. Personne n’avait le droit de rien dire de rien faire au
20. cinéma, ça cela l’a beaucoup choqué parce qu’il m’a dit _ Au Brésil
21. si on va voir un film on va avec des copains, avec des amis il y a
22. plein de gens, tout le monde rigole, tout le monde crie tout le monde
23. donne son avis sur le film c’est beaucoup plus gai qu’ici et le public
24. participe beaucoup il était très choqué il a même remarqué ça c’est
25. lui qui a remarqué ça _ Mais vous vous êtes trop sérieux ah...
26. vous dites rien vous êtes sages la [cope] des images et au Brésil
c’est
27. pas du tout comme ça (rire)
28. E:Très bon.
ENTREVISTA no 1 RELATO 2 ACI

1. E: Ok, un autre point de vue?


2. F: Alors, par exemple les vieux lui dans sa famille dans toutes les
3. familles qu’il connaît les vieux restent ensemble, les familles sont
4. très (soudées) les gens vivent beaucoup ensemble Et les vieux... les
5. femmes font la cuisine. Tout le monde a encore une fonction quand
les
6. gens, les les vieux Monsieurs gardent la maison et ils ne trouvent pas
7. normal que en France, en Allemagne, en Italie presqu’en toute
8. l’Europe les gens ne vivent pas avec les vieilles personnes parce
9. qu’elles sont isolées, seules, solitaires ou bien même pire encore
10. quand on met dans des maison de vieux et ça ça l’a beaucoup
11. choqué. Et... il a vécu pas mal d’années en en Europe et à la fin
12. parce qu’il a connu des vieux, oui mais il faut dire que vos vieux
13. [bilard] ils sont très autoritaires et ils ont très les options de leurs
14. générations et ils veulent forcer tous les jeunes à vivre comme eux
15. alors évidemment comme ça je comprends que des fois des jeunes
16. ne veulent pas vivre avec les vieux parce qu’ils sont pas drôles
17. vos vieux ils sont pas amusants.
18. E: Alors l’observation c’était par rapport les vieux français.
19. F: les gens âgées... oui les vieux dans toute l’Europe dans plusieurs
20. pays en Europe en général. Au début il était très choqué et après
21. il a dit c’est vrai les vielles personnes en France sont pas pareilles
ou
22. en Allemagne que au Brésil. Au Brésil ils vivent avec nous, ils
23. rigolent avec nous et ils sont gais comme nous, ils pensent comme
24. nous et y a pas de problème de génération.
25. E: Comment est-ce que vous vous êtes porté en face de cette
26. observation? Est que... vous avez souligné ((bruit))
27. F: J’ai un peu vécu au Brésil mais pas très longtemps et j’ai trouvé
28. que les vieux au Brésil étaient beaucoup plus gais et beaucoup plus
29. heureux et beaucoup plus intégrés et qu’ils savaient aussi beaucoup
30. plus s’amuser que les vieux en France. J’ai trouvé que j’aimerais
31. mieux être une vielle personne au Brésil qu’une vielle personne en
32. France j’ai trouvé qu’il avait raison mais c’est vrai que les vieux au
33. Brésil ils s’adaptent aussi, ils restent avec les jeunes générations
donc
34. il y a moins de séparations.
35. E: Voilà, voilà c’est vrai.
36. F: Il y a moins de vieux au Brésil nous en Europe il y a plus que de
37. vieux bientôt au Brésil il y a beaucoup d’enfants c’est un pays de
38. vielles personnes.
ENTREVISTA no 1 RELATO 3 ACI

1. F: Les enfants j’ai remarqué que au Brésil les enfants étaient


2. traités comme des rois chez les riches et chez les pauvres qu’ils
3. avaient le droit de tout faire et qu’ils étaient vraiment au centre que
4. tout le monde aimait les enfants et et et en France on ( hait)
5. beaucoup d’enfants. Ça va encore pour les européens mais les
6. allemands ils ont presque plus d’enfants. Personne aime les enfants,
7. on trouve que les enfants agacent tout le monde, qu’au restaurant ils
8. savent pas se tenir que c’est aux parents d’être très sevèrent pour
9. que les enfants se tiennent en société. On aime pas que les enfants
10. pleurent on aime pas que les enfants fassent du bruit les enfants ça
11. coûte de l’argent on a pas beaucoup. Là vraiment il y a une grande
12. différence de culture parce que au Brésil je ne sais pas si c’est
13. toujours comme ça maintenant mais tout le monde a envie d’avoir
14. des enfants. Les hommes et les femmes alors que en Europe c’est
15. souvent les femmes, e les hommes aussi, mais beaucoup moins et
16. souvent en Allemagne ils veulent pas de d’enfants. Par exemple
17. en Allemagne j’ai connu beaucoup de gens qui était operées, des
18. femmes et des hommes qui ( ) définitivement plus avoir
19. d’enfants. C’était définitif (ils ont opéré) pour pas prendre la pilule
20. et être sûr de n’avoir d’enfants. Et je crois que pour un Brésilien ça
21. c’est vraiment une idée très bizarre.
22. E: Sauf si vous en avez déjà quelques-uns !
23. (risos)
24. F: ( ) que j’étais étonnée de voir au Brésil ces de tas d’hommes
25. qui ont plusieurs femmes ou qui ont eu plusieurs femmes ils ont eu
26. des enfants à plein de femmes ils sont très contents ils montrent les
27. photos ils sont fières d’avoir les enfants avec le maximum des
28. femmes le maximum d’enfants et plus en ont plus ils se sentent
29. reconnus alors qu’en Allemagne c’est presque le contraire. J’ai
30. remarqué en France et en Allemagne et en Europe en général les
31. enfants ils doivent toujours aller au lit de bonne heure et que c’est
32. toujours un drame les enfants pleurent les enfants crient surtout s’ils
33. ont l’impression que les adultes vont s’amuser après et qu’ils ont des
34. amis qu’ils ont invité ils ne veulent pas aller au lit. Alors en France
35. c’est toujours terrible, il y a beaucoup d’enfants qui crient presque
36. tous les soirs parce qu’ils veulent pas aller au lit et dans le milieu
37. où je vis au Brésil c’était pas partout pareil non plus et bien les
38. enfants restent avec les adultes si les adultes s’amusent jusqu’à
39. une heure du matin les enfants aussi et les plus petits ils s’endorment
40. avec les adultes ils s’endorment par terre, ils s’endorment dans les
41. bras, des adultes adorent les enfants, les embrassent alors tout le
42. monde il y a toujours quelqu’un qui est là pour prendre un enfants
43. dans ses bras et même les bébés assez petits et bien ils restent là
44. jusqu’à ce qu’ils s’endorment avec... dans les bras des adultes mais
ils
45. sont plus heureux et non frustrés et il y a pas cette cérimonie
affreuse
46. où les enfants hurlent tous les soirs parce qu’ils veulent pas aller se
47. coucher
48. (rire)
49. Mais j’ai vu aussi dans une famille au Brésil plus riche où les
enfants
50. devaient aller à l’école aussi le matin on les a obligés aussi à se
51. coucher. Bon, c’est vrai, c’est pas toujours et c’est pas partout et ça
52. dépend peut-être aussi à quelle heure les enfants vont à l’école et
53. ça dépend peut-être aussi du milieu dans le milieu pauvre j’ai vu
54. que les enfants étaient très libres.
55. (rire)
56. E: Ça dépend aussi de la façon ah... avec laquelle les parents les
57. éduquent, les élèvent vous comprenez?
58. F: Il y a aussi des différences au Brésil. Un jour j’allais... dans je
59. crois que c’était un train, je sais plus qui va au Corcovado.
60. E: Ah oui.
61. F: Il y a un petit train, J’étais là assise et en face de moi il y avait
une
62. dame brésilienne tout à fait un peu riche ou classe moyenne et elle
63. avait je crois que c’était un petit garçon je me rappelle plus je me
64. rappelle plus parce qu’il y a longtemps et ce petit garçon me ( ) de
65. coup de pieds dans les genoux sans arrêt il me euh... j’étais toute
sale et
66. la mère ne disait rien et j’étais très surprise qu’on laisse faire ça
67. parce qu’en Europe on dirait au gamin _ Arrête Il faut pas ficher des
68. coups de pieds dans la dame qui est en face. Mais là, la mère ne
faisait
69. rien et j’ai pensé aussi que c’était un peu l’enfant roi qui a le droit
de
70. tout faire et tout le monde adore tellement les enfants. Jamais on
71. n’oserait rien. Ne fiche pas de coups de pieds à la dame qui est en
face.
72. E : Eh oui, mais de toute façon ça ne va pas partout. Elle a exagéré
quand
73. même.
74. F: Oui je sais pas oui
75. E: Même si parfois on on permet des enfants de faire quelque chose
76. avec avec de famille, les parents.
77. F: Mais peut-être pas avec quelqu’un comme ça dans les trains
78. c’était quelque chose qu’avec
79. E: un étrange on ne permettrait jamais. ( ) Si tu permets avec un
étrange
80. dans la rue alors ça je pense que c’est déjà/
81. F: c’est peut-être un peu éxagéré.Oui oui
82. E: C’est pas de la prudence ah prudence non il faut avoir de euh...
du
83. sens d’une notion de...
84. F: peut-être d’ ( )
85. E: Voilà!
86. F :C’était peut-être pas du typique mais je l’ai vécu quand j’étais là-
bas.
87. E :Ça serait mal jugé par les Brésiliens conscients
88. F: c’était peut-être pas
89. toujours comme ça.
90. E: non, oui. Ils seront même jugés comme des enfants mal élévés. On
met
91. des tampons sur les enfants parce qu’on aime les laisser libres
92. F: ( )
93. E: Oui, mais on aime pas beaucoup ce type de chose là de
94. comportement.
95. F: C’est trop, oui.
96. E: Vous comprenez? Oui c’est trop, c’est trop

ENTREVISTA no 1 RELATO 4 ACI


1. F: Sinon à propos du corps quand je suis allée au Brésil dans la
2. famille de mon ami, j’avais des poils sous des bras, il l’a presque
3. pleuré pleurer pour que je les enlève tellement il avait honte que
4. j’arrive dans sa famille avec des poils sous des bras.
5. (Elle a rit)
6. E: Et comment il vous a dit ça?
7. F: Il m’a expliqué que au Brésil c’était vraiment impossible qu’on
8. ne pouvait pas faire ça
9. Il m’a dit :
10. _Tu peux pas me faire ça parce que là on va pas seulement au
Brésil
11. on va dans ma famille et pour moi c’est très important ma famille.
12. Et tu peux pas arriver avec des poils sous les bras sous
13. les aisselles. Pour ma famille c’est impossible. J’ai dit
14. _ Écoute je vais jamais les couper. Je fais ce que je veux, c’est pas
si
15. important. Ta famille elle va pas donner telle importance à ce
détail.
16. Il di :t _Si ! Tu peux pas savoir vraiment chez nous c’est pas
possible
17. (Elle rit) et donc Il a ... pour me donner de courage. Il a lui même
coupé
18. ses poils sous les aisselles, alors que les hommes le vous font pas
c’est
19. seulement les femmes pour que je le fasse pour me montrer et je
crois
20. qu’il a presque pleuré pour m’expliquer que pour lui c’est
21. une question d’honneur devant sa famille de pas arriver avec une
22. femme avec des poils pleins les aisselles.

ENTREVISTA no 1 RELATO 5 ACI

1. F: Je vais continuer avec les corps c’est très important le corps


parce
2. qu’en Europe du Nord on est toujours habillé et on voit pas
3. tellement le corps et plus on va vers les nord moins le corps est
4. important dans le sud de la France le corps est beaucoup plus
5. important que dans le nord où il fait froid parce que pendant
presque
6. toute l’année personne ne voit presque le corps on voit le visage les
7. mains et c’est tout d’une personne le corps n’existe pas, alors qu’au
8. Brésil presque partout on voit le corps des gens et donc les gens
9. soignent beaucoup plus leur apparence physique et ils soignent
10. beaucoup plus le corps et c’est pas seulement les poils mais par
11. exemple ils changent souvent de coiffure ils mettent du vernis sur les
12. ongles et même de pieds en Europe on ne mettra jamais du vernis
13. sur les pieds parce que personne ne voit jamais les pieds peut-être en
14. été mais en hiver on voit jamais les pieds des gens. Alors beaucoup
15. de gens ne mettent pas du vernis sur les pieds en hiver et au Brésil
16. c’est important j’ai vu que les gens passaient beaucoup des temps à
17. ça ah.. les cheveux ils aiment aussi la variété la différence on ne
peigne
18. pas toujours les cheveux de la même manière. Mon ami était choqué
19. que j’avais le (cheveux) un peu comme toi à l’époque et ils
20. étaient choqués parce que pendant toutes les années je les ai eus de
la
21. même manière.
22. _ Tu veux pas changer un peu regarde mes soeurs,elles changent
sans arrêt
23. de coiffure et elles font des (efforts) on est surpris ça change tout le
24. temps. Toi c’est tout le temps la même coiffure.
25. (Elle rit) Et en France et en Allemagne...
26. E: Qu’est-ce que tu as répondu ?
27. F: Justement peut-être que j’ai été éduquée comme beaucoup de
gens
28. mais pas tout le monde aussi il y a des milieux différents comme
29. quoi c’était trop superficiel de passer sa vie à s’occuper du corps et
30. que le temps qu’on passait à ça on le passe pas à lire ou à discuter
ou
31. à écrire ou à travailler ou à étudier et qu’on peut pas tout faire et
que
32. le fait de s’occuper trop du corps c’est horriblement trop superficiel
33. ça c’est des bêtises presque. Ou qu’à force de regarder que les
34. vêtements que les bijous que les maquillages on devient bête parce
35. qu’on n’a pas le temps de cultiver son cerveau c’était un peu comme
36. ça dans ma famille (Elle rit)
37. E: Oui.
38. F: Et donc pour moi c’était un petit peu difficile eh... de donner
39. autant de l’importance au corps mais bon il y a aussi en France des
40. femmes qui se... encore plus qu’en Allemagne qui ne pensent qu’à
41. s’habiller qu’à la mode qu’aux maquillages qu’au coiffeur donc
c’est
42. pas/
43. E: Salle de gym.
44. F: Salle de gym
45. E: Dans tous le quartiers.
46. F: C’est pas seulement le Brésil et l’Europe c’est un peu plus
47. compliqué en plus ( ) en Europe plus ça va plus comme au
48. Brésil la mode c’est de s’occuper du corps. Les salles de gym il y a
30
49. ans il y en avait pas, maintenant il y en a donc là aussi en France ça
50. change et en Allemagne aussi et en Allemagne on s’occupe aussi du
51. corps mais d’une manière un peu différente la tradition c’était de
52. faire beaucoup de sport de vivre seulement de se nourrir seulement
et
53. de faire beaucoup de sport. Donc et ça évolue aussi tout ça reste pas
54. pareil.

ENTREVISTA no 1 RELATO 6 ACI


30. E: Les odeurs. Rá Rá Rá (risos)
31. F: Au Brésil les gens n’aiment pas sentir leur odeur personnel et
imposer
32. aux autres l’odeur de la sueur c’est très mal vu. Les gens se
33. douchent beaucoup et par exemple parfois même deux fois par jour,
34. trois fois par jour s’il fait très chaud au Brésil j’ai vu des familles
35. ( ) chez les enfants des prendre des douches sans arrêt
36. parce que les enfants avaient couru ops ils allaient prendre une
37. douche sans arrêt et moi en France je connais des enfants qu’il
38. faut obliger à se laver, ils veulent pas se laver les enfants français ils
39. ont pas envie de se déshabiller il fait froid ils grelottent même les
40. bébés des fois ils n’aiment pas le bain parce qu’ils ont froid et au
41. Brésil j’ai trouvé que c’était le contraire même les enfants ils
adorent
42. prendre des douches parce qu’il fait tellement chaud alors ça
soulage
43. ça fait du bien Ils posent que des odeurs eh... Au Brésil il faut faire
44. très attention de ne pas imposer son odeur personnelle il faut utiliser
45. des déodorants ou des parfums. J’étais surprise de voir que les
46. Brésiliens adoraient le parfum (rit). En Europe ça dépend de gens
47. mais il y a beaucoup de gens qui pensent aussi que le parfum c’est
du
48. luxe, c’est de l’argent jeté par les fenêtres. Par exemple ma mère elle
49. n’a jamais utilisé un parfum dans sa vie toute entière. Jamais. Et
pour
50. elle c’est presque un principe, elle n’utilise pas de parfum. Elle n’est
51. pas superficielle. Elle ne passe pas sa vie à se pomponner à se
52. maquiller à s’habiller et au Brésil j’ai l’impression que presque tous
53. les Brésiliens aiment les parfums que pour eux presque tous les
54. Brésiliens c’est très important et même peut-être dans l’Amérique
55. Latine en général. Peut-être pas seulement au Brésil eh... bon il faut
56. faire attention dans cette différence de culture au dans le couple
57. parce que si on a une odeur de sueur alors là c’est une catastrophe
58. pour le partenaire quand il est Brésilien.
59. F e E: (beaucoup rire)
60. F: On était chez un coiffeur africain à Paris parce que c’était
61. (faiseur) de petites nattes, pleins petites nattes et ça dure très
62. longtemps et...
63. E: Des tresses?
64. F: Oui, des tresses. Et les femmes africaines font des tresses comme
ça
65. et dans les coiffeurs chez des coiffeurs français il y a pas de ça. Et
donc
66. on est discuté de cette histoire d’odeur avec un africain. Un vieux
67. monsieur africain je sais pas de quel pays il venait et pour lui les
68. odeurs du corps les odeurs personnelles étaient très importantes. Il
69. pensait que c’était bien et qu’on aimait l’odeur de quelqu’un on
70. aimait cette personne parce qu’on aimait aussi son odeur et qu’on
71. reconnaissait aussi à leur odeur et que c’était très important d’aimer
72. l’odeur d’une personne et il pensait aussi que les bébés les enfants
ils
73. reconnaissent la mère à l’odeur de la mère et qu’il faut que la mère
74. elles (passent) son odeur et qu’elle ne l’enlève pas pour que les
75. enfants ils aient le plaisir de l’odeur de leur mère. Et mon copain
76. brésilien n’ose pas trop critiquer. Il a eu de n’a pas trop rien dit
parce
77. que c’était un vieux monsieur mais il était très/
78. E: Il est quand même
79. une lecture poétique.
80. F: Oui mais il était un peu surpris de voir que un noir au Brésil et un
81. noir en Afrique sur cette histoire des odeurs du coeur avait des idées
82. si différentes ça ça l’avait beaucoup surpris.

ENTREVISTA no 1 RELATO 7 ACI

1. F: Ah la nourriture, j’adore ça. Dans le milieu où j’ai habité au


2. Brésil des gens sont déjà très contents quand ils ont bien mangé et
3. assez mangé.
4. E: C’était exactement où?
5. F: C’était dans une favela à Jacarezinho à Rio de Janeiro. Nous, les
6. Français on parle beaucoup, beaucoup de la nourriture et on dit
7. toujours si on a été invité ou si on mangeait ( ) si était bon la sauce
8. elle est bien le vin avec le fromage et tout ça et on parle donc de goût
9. et de raffinement et des sauces les meilleures. Et au Brésil j’ai
10. remarqué que souvent les gens quand ils avaient ( ) invités ils
11. remerciaient d’avoir bien mangé parce qu’ils avaient assez mangé et
12. c’est sur je suis bien rassasié sans préciser que c’était très bon bien
13. préparé ou que la nourriture étaient très bonne pour un Français c’est
14. très surprenant quelqu’un qui vient à la fin du repas :
15. _ Ah merci beaucoup vraiment j’ai suffisamment mangé j’ai le
ventre bien
16. plein je suis bien ça va bien maintenant parce qu’en France c’est
17. quasiment pas possible c’est... je l’ai jamais vécu alors qu’on parle
18. tout le temps de la nourriture mais pas de la même manière.
19. E: Ah, d’accord.
20. F: Sinon j’ai connu une jeune fille au pair une fille brésilienne qui
21. est arrivée très mince comme fille au pair en France elle est arrivée
22. dans une famille un peu bourgeoise et à l’époque tout le monde
23. voulait maigrir tout le monde veut toujours maigrir, ben je crois que
24. c’est dans tous les pays. Donc dans sa famille on ne mangeait jamais
25. de riz, de pâtes, et de pommes de terre parce qu’on pensait que ça
26. faisait grossir et pas de pain non plus et on ne mangeait que de la
27. viande et des légumes. Et elle elle sortait de table et elle avait
28. toujours très faim. Et donc elle n’osait pas dire qu’il lui fallait
29. manger du riz ou des haricots tous les jours. Et donc elle mangeait
30. la... de qu’on lui donnait mais avec ça après avoir mangé en France.
31. Et tous l’après midi elle allait acheter des choses avec son argent
32. dans les boutiques elle mangeait du chocolat des gâteaux et elle est
33. devenue grosse en France à faire un régime amaigrissant dans sa
34. famille ou elle est fille au paire parce qu’elle n’était pas rassasiée,
35. parce qu’il n’ y avait pas assez de riz et du du feijão et alors elle
36. avait toujours faim et c’est très étonnant parce que les Brésiliens ils
37. mangent toujours de riz ou presque ou des pâtes et tous les jours de
la
38. feijão et ils sont minces ils sont pas gros du tout ça c’est il fait un peu
39. comme ça en Amérique du Sud qui ont dit la même chose _Moi, il
40. me faut du riz (risos) parce que sinon j’ai faim.

ENTREVISTA no 1 RELATO 8 ACI

1. F: J’ai remarqué que dans la favela des gens s’intéressent pas


2. beaucoup à la politique ils ne lisent jamais au journal par exemple
3. mais ça ça peut être seulement dans la favela, je ne sais pas je ne sais
4. pas par exemple comme moi je m’intéressais à la politique ça lui
5. plaisait c’était aussi une source de conflit alors il m’a raconté une
6. histoire du côté de la politique et m’a dit voilà dans la favela il y
7. avait une femme qui venait toujours pour des élections faire des
8. discours faire des promesses pour que les gens de la favela l’élisent.
9. Elle est venue une fois elle a pas tenu ses promesses alors quand
10. même elle (une fois d’après) est revenue elle a refait des promesses
11. alors on a quand même encore essayé on a voté pour elle. Et elle n’a
12. pas tenu ses promesses et quand elle est venue la troisième fois on l’a
13. tuée.
14. E: Rá rá rá (riu) Quelle horreur!
15. F: Il dit qu’il m’a raconté ça pour expliquer qu’il ne faut pas faire
16. confiance à la politique ça serait rien de voter pour les candidats.
17. E: Les gens sont vraiment déçus.
18. F: Oui, alors il m’a raconté cette histoire je ne sais pas si elle est
19. vraie Mais il me l’a raconté comme une histoire vraie je sais pas si
20. c’est vrai (beaucoup de bruits) Et pour eux la politique que c’était
21. surtout pour se moquer par exemple dans les années 70 Il y avait un
22. dictateur en Amérique au Brésil Il y a très longtemps Donc c’était
23. déjà passé Et les gens des favelas ou peut-être tous les Brésiliens se
24. moquaient beaucoup de lui parce qu’il paraît qu’il ne riait jamais il
25. le fait déjà que (un) politique ne rit pas du tout c’était déjà très
26. négatif ils se moquaient de lui ils l’imitaient avec un visage comme
27. ça qui ne riait jamais.
28. E: Et même pour être au courant on regarde plutôt la télé le journal
29. télévisé.
30. F: Oui, peut-être aussi qu’on regarde différemment la télé mais ça
31. dépend aussi beaucoup du cercle. En Europe il y a aussi des gens qui
32. regardent beaucoup toute la journée la télé ça marche mais c’est vrai
33. que dans la famille où j’étais on regardait beaucoup la télé ensemble
34. en rigolant en criant en dansant c’est à dire on était assez
35. actifs. Les gens regardaient la télé et ils riaient regardant la télé et
36. même les dames âgées qui dansaient regardant la télé qui étaient très
37. participatives qui participaient beaucoup oui. Oui parce qu’il y a
38. aussi une façon statique parfois vous êtes là mais vous n’êtes pas là.

ENTREVISTA no 1 RELATO 9 ACI

1. F: Pour revenir aux vieux et à la danse et au plaisir et à la rigolade en


2. France de moins en moins les vieux dansent. Autrefois aussi en
3. France pour les mariages pour les fêtes des familles tous les vieux
4. mais générations mélangées dansaient et maintenant on ne danse de
5. moins en moins en France et on danse surtout dans les discothèques
6. il y a que des jeunes, on danse aussi dans des fêtes privées où il y a
7. beaucoup des jeunes. Au Brésil on sait pas si c’est toujours comme
ça
8. les vieux ils dansaient et même très bien les vieillent dames
9. dansaient merveilleusement la samba et en France les vieux ne
10. dansent plus, c’est fini, c’est plus la mode il n’y a pas d’endroit pour
11. que les vieux dansent peut-être le 14 juillet sous les fêtes du village
12. encore il y a des gens qui dansent mais de moins en moins parce
13. qu’on dansait aussi beaucoup dans la tradition paysanne et il y a de
14. moins en moins des paysans en Europe Il y a de plus en plus de gens
15. qui abandonnent leur ferme ça ne marche pas et donc la la la société
16. qui permettait aux vieilles personnes de danser sans va disparaît et
17. dans une discothèque il y a pas de vieilles personnes qui dansent ce
18. que des jeunes, beaux, minces, à la mode et j’avais bien aimé au
Brésil
19. que les vieux ils dansent et mon ami quand il y avait une petite fête
20. ou quand il mettait de la musique pour lui c’est un honneur de danser
21. avec sa mère et tous les frères et ils dansaient avec la mère. Et j’ai
22. trouvé que c’était bien pour sa mère elle était intégrée. Elle dansait
23. avec les jeunes. Elle était fière de danser avec ses fils.
24. E : Mais même pas en famille ça arrive jamais en France/
25. F: De moins en moins. de mélanger les générations. Il y a de moins
en
26. moins d’occasion. C’est ( ) très dommage. C’est dommage.
27. Ok. Très bien je vous remercie fortement.
ENTREVISTA no 1 RELATO 10 ACI
1. F: Comme j’ai parlé du corps, la beauté c’est vrai que la beauté est
2. plus important pour le Brésil. En France en Italie c’est très
important,
3. en Allemagne c’est moins important. Je crois que vraiment il y a
des
4. cultures qui favorisent le fait d’être beau et par exemple je me
5. rappelle quand des Brésiliens de Hambourg c’était en Allemagne,
6. Hambourg quand elles voyaient les Allemands qui s’amusaient ou
qui
7. dansaient elle disaient toujours feio feio oh!
8. E: Ah! (admiration)
9. F: (rire)
10. E: Elles trouvaient toujours que les Allemands ils faisaient pas
d’effort
11. pour s’arranger ils étaient tous habillés en jeans (avec ) en t-shirt
12. et au contraire les Brésiliennes elles se faisaient beaucoup d’effort
13. même si elles étaient vieilles même si elles étaient
14. grosses. Tout le monde faisait des efforts pour être le plus beau
15. possible Rá Rá rá (risos) Ça compte plus sur le Brésil que surtout
16. l’Italie c’est un peu pareil, mais en Allemagne du nord ou en
17. Scandinavie en hiver mais les jours ils sont pas beaux ils font pas
18. d’efforts parce qu’ils d’abord ils ont peur d’avoir froid donc ils
19. s’habillent contre le froid ils mettent des gros chaussures ils
20. s’habillent tous les jours pareils ils font pas d’effort même les
21. étudiants par exemple Au nord de l’Allemagne les étudiants ils font
22. pas beaucoup d’effort sauf peut-être en été ( ) quand il fait
23. chaud les gens font d’efforts. Et quand j’étais en Allemagne,
24. maintenant ça n’existe plus beaucoup, Il y avait beaucoup de filles
25. avec le crâne rasé le plus laid possible, avec des des épingles à
26. nourrice dans les cheveux très laides faisant des grimaces
27. s’habillant comme des garçons marchant comme ça ((elle fait des
28. gestes de marcher balançant le corps)) (est allé) dans la rue aussi
29. montrant ( ) des filles habillées exprès avec des vêtements
sales
30. déchirés vraiment en essayant d’être le plus laid possible et quand
je
31. suis ..j’habitais en Allemagne cette année là et c’est après que je
suis
32. allée passer deux mois au Brésil et j’ai cherché ça au Brésil
33. maintenant ça existe peut-être aussi je l’ai jamais vu les filles au
34. crâne rasé au Brésil, le plus sale possible, le plus laid possible j’ai
35. jamais vu. Ça m’avait surpris cette différence dans la jeunesse que
en
36. Allemagne beaucoup de filles avec ce style là tête laide, le crâne
rasé
37. Alors qu’au Brésil non. Les filles essayaient toujours d’être jolies
38. E: Oui. Et quand il y en a ça fait partie d’un groupe on dit même…
il
39. y a même un nom pour ça eh… comme les indiens (inaudible) non
40. non comme les indiens on appartient à des tribus différents.
41. F: Mais en Allemagne c’est un peu comme ça aussi simplement à
42. l’époque c’était la mode et la mode elle a touché un peu plein de
43. jeunes comme c’était la mode à l’école par exemple dans les lycés
44. on voyait des jeunes comme ça même s’ils n’étaient pas vraiment
45. dans un groupe spécial mais bon c’est... la mode a passé un peu
46. maintenant.
47. E: Oui mais c’est vrai quelle n’est pas appréciée par tout le monde
48. F: Oui, Au Brésil ça doit pas avoir beaucoup de gens parce que la
49. beauté c’est trop important. Rá rá rá (risos)

ENTREVISTA nº 2 ACI
R006
o
N total Nacionalidade Faixa etária Sexo Escolaridade Competência
de Lingüística
relatos
Pós-
2 Brasileira 32 a 37 Fem. Graduação Intermediário

ENTREVISTA no 2 RELATO 1 ACI

1. F: C’est un monsieur qui travaille ici il n’est pas vraiment mais


2. il a l’attitude d´un Français. Il parle français Il ( ) que je travaille
3. aussi avec normalement ou j’ai l’habitude l’habitude de faire une
4. exclamation ensemble Ah ?! en question je sais pas je je je je vois
5. la personne avec un cigarette et je dis :
6. _ Ah! Mais vous fumez!
7. Elle me dit :
8. _ Bah oui euh... j’ai une cigarette là !
9. Mais c’est une habitude des Brésiliens de demander de remarquer
quelque
10. chose en parlant. Et pour le Français ça c’est très... un... étrange.
11. Oui c’est une cigarette là ! C’est là.

ENTREVISTA no 2 RELATO 2 ACI

1. F: Oui eh aussi quand on a la la l’habitude de parler beaucoup de


2. choses d’expliquer trop les choses. Et pour les Français ça c’est aussi
3. vraiment trop étrange, Ils sont très pratiques eh... Objectifs pour
4. travailler Si vous avez un problème et dites :
5. _Ah mais ça s’est passé à cause de mon père...
6. _Non, non, mais c’est comme ça et pa pum.
ENTREVISTA nº 3 ACI
R011
o
N total Nacionalidade Faixa etária Sexo Escolaridade Competência
de Lingüística
relatos

1 Brasileira 30 a 32 Fem. Pós-grad. Básico

ENTREVISTA no 3 RELATO 1 ACI


6. F: Bem eu achei assim como ponto positivo eu achei todos assim todos
7. bem elegantes As mulheres bem maquiadas e tudo mais O problema
8. é ao cheiro que disseminam pelas ruas pelo metro Eu senti assim
9. muita dificuldade porque eu fiz alguns pequenos trajetos em mêtro
10. e em ônibus e assim haviam muitas pessoas que exalavam um cheiro
11. muito desagradável mesmo com um perfume se notava aquele cheiro
12. muito forte é em viagens por exemplo da Bélgica para Paris isso
13. também aconteceu e isso me chamou muita atenção. Os franceses assim
14. vários vários muitas vezes não foi uma vez um dia Foram dez dias em
15. que eu ficava alucinada desesperada porque eu tinha a sensação de
16. quem ninguém tomava banho naquela cidade, alguns eram uma exceção
17. mas eu sinceramente eu senti como se fosse a maioria.
18. E: Você acha que um brasileiro faria essa leitura? Os brasileiros fariam
19. essa leitura de
20. F: Não com certeza pra gente que é brasileiro pelo menos pra
21. maioria dos brasileiros também a gente não pode generalizar que todos
22. os franceses são assim ou que os os brasileiros que são ééé agem de
23. forma contrária pra gente isso é bastante chocante e eu acredito que seja
24. uma questão realmente assim hábito até questão cultural porque eu e as
25. duas brasileiras que estavam comigo nós três passávamos pela mesma
26. víamos a mesma sensação e o restante agia com toda naturalidade Ou
27. seja pra eles isso não era nada estranho Né então pra gente isso era algo
28. que completamente destoava da nossa realidade Por exemplo uma
29. brasileira que tava morando lá comentou sobre o uso de toalhinhas pra
30. limpeza do corpo em lugar de tomar banho né Ela morava em residência
31. de de uma família francesa e a família usava essa toalhinha enquanto
32. que ela tomava banho e as vezes ela tinha que tomar banho escondido
33. porque ela tava gastando muita água da família E isso me pareceu assim
34. um absurdo porque aqui a gente não cogitaria a assim a possibilidade
35. não tomar pelo menos dois banhos ao dia E lá usar a toalhinha A gente
36. entende o clima e tudo mais mas enfim é uma questão de hábito também
37. isso não é só na França é também em outros lugares
38. E: Ok Obrigada

ENTREVISTA nº 4 ACI
R018
o
N total Nacionalidade Faixa etária Sexo Escolaridade Competência
de Lingüística
relatos
Curso
1 Brasileira 40 a 50 Masc. Superior Avançada
ENTREVISTA no 4 RELATO 1 ACI

11. F:Levei uns dias para entender por que para eles é tão importante

dizer "au
12. revoir" ao final da comunicação. Quando eu agradecia, simplesmente

e ia
13. embora, diziam-me, um tanto indignados

14. _ Au revoir, monsieur!

15. como se eu houvesse quebrado uma rebra básica de polidez. Para

mim, o
16. simples "merci" já dizia tudo. Dias depois, entendi que "au revoir"

17. significava, também, implicitamente: "câmbio, desligo". O simples


18. obrigado não dizia tudo, como diz em português. Passei, daí por
diante, a
19. usar a fórmula e sentir-me, naqueles dias, também eu estrangeiro, um
pouco
20. mais integrado...
ENTREVISTA nº 5 ACI
R020
o
N total Nacionalidade Faixa etária Sexo Escolaridade Competência
de Lingüística
relatos
Curso
1 Francesa 30 Fem. Superior LM

ENTREVISTA no 5 RELATO 1 ACI

1. F : J´ai vu que les Brésiliens ils disent beaucoup ‘se Deus quiser’.
Ça c´est
2. vraiment partout et ça je ne vois pas chez les Français, pas comme ça
3. C´est plutôt chez les arabes comme ‘Ich Alah’. À la fin de la phrase
les
4. Brésiliens disent Je veux faire tel ou tel chose, se Deus quiser. C´est
partout
5. E: Même à la télé, c´est fréquent d´écouter aux émissions. Bonsoir
et à
6. demain si Deus quiser. Il y a un présentateur qui a créé son slogan:
7. À demain, “Se Deus quiser e ele há de querer”.
ENTREVISTA nº 6 ACI
R027
o
N total Nacionalidade Faixa etária Sexo Escolaridade Competência
de Lingüística
relatos
Curso
4 Brasileira 27 Masc. Superior Intermediário

ENTREVISTA no 6 RELATO 1 ACI

41. E: Depois eu pergunto sobre o hóspede francês. Ele vai fazer o


primeiro
42. relato.
43. F: É então, então assim essa coisa de que o...francês não toma banho
Isso
44. não é real. Algum tempo atrás há muito tempo atrás não existia água
quente.
45. Então o banho, ele era um banho na semana, mas assim o banho na
semana
46. não é que a pessoa ficaria sem tomar banho. Eles têm umas
toalhinhas de
47. mão, tipo uma luva de...de pegar panela.
48. E: É!
49. F: feito do suporte de toalha. Do pano de toalha. Eles tomavam
banho com
50. aquilo.Eles lavavam as partes é é é
51. E: mais reservadas
52. F:que suavam mais, mais reservadas. De baixo do braço né, perna,
cabelo
53. eles lavavam o cabelo. O fato de não banho é aquela coisa de jogar a
água
54. em cima do corpo inteiro, assim ensaboar. Isso realmente não existia,
era
55. uma vez na semana isso. É... então assim, uma vez na semana isso
é...uma
56. vez na semana eles tomavam um banho inteiro, mas todos os dias
eles se
57. banhavam, se molhavam, se lavavam com essas toalhinha. Então
assim, não
58. é que eles era não eram higiênicos e a e assim lugar frio, você não
precisa
59. tomar banho todos os dias, realmente porque você não sua. É claro
que tem
60. as células mortas, disseram que a gente tem que remover mas, na
época”
61. chuveiro na França é uma coisa recente não é uma coisa antiga. Sem
contar
62. que a água quente lá.. a eletricidade é muitooo muito cara. A água
quente é
63. um ba eles pegam um de sistema de balão de água. Então quanto
mais você
64. demora na água, mais gelada a água chega dentro desse balão e pra
esquen-
65. tar demora bastante, então o consumo é muito alto. O pessoal de de
francês
66. não tomar banho é é o fato é exatamente esse.Não jogavam água no
corpo
67. inteiro. Tomavam banho sim. Eu eu morei na França. Eu utilizava
uma rou-
68. pa branca poooor dois três dias. Aqui a gente usa uma roupa branca
em um
69. dia né por da umidade da poeira. Lá não, lá não suja. Lá roupa
branca não
70. suja, que a gente não sua, o clima é frio, é seco.
71. E: _Mas a leitura que os brasileiros fazem é outra né? Que o europeu
não
72. tem o mesmo asseio que o brasileiro.
73. F: É é sem dúvida, mas assim. É aquela história de quem conta um
pon..
74. quem conta um conto aumenta um ponto né. Então a coisa foi se
propa-
75. gando e dizendo tudo isso. É óbvio que essa coisa de asseio existe
por
76. uma questão cultural e de necessidade. A gente realmente precisa
tomar
77. três banhos por dia ou mais, a gente precisa tá sempre com roupas
78. limpas porque suja realmente o suor suja a poeira suja a umidade
suja
79. então isso acaba fic se você fizer uma coisa contínua isso vai deixar
de
80. ser uma rotina pra virá uma coisa cultural isso passa de geração em
geração
81. e se transforma em cultura. É como a criação européia a criação
francesa
82. mais ou menos isso.

ENTREVISTA no 6 RELATO 2 ACI

1. F: Antigamente com 15, 16, 17 anos a família do rapaz tipo


expulsava
2. literalmente o filho de casa e dizia o seguinte _Ó a Pátria é que vai te
criar
3. te vira. Sai e vai embora. E aí aquela crian... aquele adolescente era
obrigado
4. a se virar, passava por situações dificílimas. Eu tenho amigos que
adquiri-
5. ram febre amarela. É... _como é o nome daquela doença do rato?
6. E: Leptospirose.
7. F: Leptospirose, porque dormiam em porão que a família botou ele
pra fora
8. por isso ele dormia em porão. Então ele convivia nas rua até ele
entrar pras
9. forças armadas e daí a ... a Pátria realmente se encarrega disso. Isso
indo de
10. geração em geração quer dizer esse meu amigo nunca vai poder ser
uma
11. pessoa calorosa porque nunca foram com ele. Os filhos dele igual
igual
12. igual isso vai passando passando se transforma culturalmente frio,
frios.
13. Eu até atribuo à frieza do povo europeu por esse tipo de criação.
14. F: Isso é uma coisa rotineira e contínua muitos na.. hoje em dia bem
menos.
15. Mas hoje se você passar um tempo na Europa, principalmente na
França
16. onde foi foi onde eu passei, você vai ver como eles tratam as
crianças. Eles
17. tratam as crianças como adultos. É impressionante. Se você tiver
uma
18. oportunidade de ver um
19. E: você viu alguma cena assim que tenha te
chamado a
20. atenção de de adulto com criança?
21. F: A criança não quer comer, tá bom concordo. Não é aquela coisa
de você
22. se preocupar com a com que ele vai ficar doente que ele vai ficar é
fraco,
23. alguma coisa assim. Não vai comer, ta bom.
24. E: Quer dizer uma outra forma de criação?
25. F: Totalmente, totalmente diferente. Independente, a criança é
independente
26. ela já dá. Ela já, não tem mimos como a gente faz, carinho como a
gente dá.
27. Não tem.

ENTREVISTA no 6 RELATO 3 ACI

1. E:Conta de novo a história do ônibus. Terceiro, terceiro exemplo. Do


2. ônibus aquela apreciação que você fez de quando você chegou logo
na
3. França há pouco tempo.
4. F: É chocante porque logo quando você chega. Você querendo ou
não, você
5. faz uma uma comparação com o que você vive no seu dia a dia e
com o que
6. você vai viver né? Embora seja um país, uma cultura diferente, o
primeiro
7. ônibus que eu peguei eu fiquei procurando o cobrador e.... o lugar
pra colo-
8. car o ticket ou alguma coisa assim, uma roleta que controlasse a
capacidade
9. de pessoas que entram e que saem. Não existe se você não tem, se
você
10. sobe no ônibus senta e cabou, a cada, no seu ponto você sai e desce
não
11. tem ninguém que te controle nada. Dentro do ônibus não tem, mas
assim o
12. mais curioso é que, todo mundo que entra no ônibus sabe que tem o
dever
13. de pagar então por livre e espontânea vontade cada pessoa vai e paga
o
14. ônibus. Se a pessoa sobe no ônibus faz a viagem inteira e não tem o
ticket
15. que ele poderia muito bem, subir e descer e ninguém perguntar nada.
Ele
16. vai até o motorista e ele compra na mão do motorista o ticket ééé
numa boa
17. sem o menor problema, o motorista para o ônibus, ele paga, dá o
troco
18. e acabou.Pessoal vai embora. E aí eu perguntei vem cá e quem
controla
19. isso? Ninguém. Mas sabe que usa e tem que pagar. É claro que existe
um
20. controle é a a assim de repente num ponto de ônibus pode subir um
grupo
21. de fiscais e solicita o ticket de todo mundo, das vezes que eu subi,
das vezes
22. que eu peguei ônibus, que eu tava no ônibus, acho que ... em dois
anos eu
23. vi três quatro pessoas que não tinham o ticket que tiveram que pagar
uma
24. multa. E essa multa você vai, não é que nem aqui. Se fosse no Brasil.
A
25. desculpa eu vou pagar agora é que eu tinha esquecido. Não, não é
que você
26. tinha esquecido. É você vai pagar a multa agora, você não adianta
que
27. você não vai pagar o a passagem de ônibus. A multa é assim cento e
oitenta
28. francos. Então era um valor absurdo porque você não pagou um...
29. E: Uma coisa que era obrigação.
30. F: Uma coisa que era obrigação, você sabia disso
31. E: hum rum.
32. F: Você falou assim. Não deixa que eu vou pagar o ônibus agora.
Não não
33. não você vai pagar a multa agora.
34. E: Quer dizer, nesse ponto você acha muito diferente do brasileiro?
Isso não
35. funcionaria aqui essa cobrança de uma conduta correta sem
vigilância?
36. F: Não.
37. E: sem vigilância assim
38. F: Sem dúvida nenhuma não funcionaria. Não funcionaria porque o
sistema
39. de de transporte em Paris é compatível com a cultura do país com a
política
40. do país que é a civilidade. As pessoas são muito educadas. Educadas
nesse
41. nível de de obrigação, de saber o que tem que pagar o que não deve.
42. Obrigação cívil mesmo né. Eu não sei se a educação educação de um
pro
43. outro seja igual, mas acredito até que não.

ENTREVISTA no 6 RELATO 4 ACI

1. F: Outra coisa que eu observei de diferente do Brasil é que as filas do


pão na
2. padaria eram enormes por volta do meio dia. No Brasil a procura do
pão
3. é muito mais significativa pela manhã ou ainda no fim de tarde, jamais
4. vemos grandes filas ao meio dia pra comprar pão. O brasileiro não tem
o
5. hábito de almoçar com pão à mesa.
ENTREVISTA nº 7 ACI
R043
o
N total Nacionalidade Faixa etária Sexo Escolaridade Competência
de Lingüística
relatos

4 Brasileira 20 a 25 Fem. Tec. Avançado

ENTREVISTA no 7 RELATO 1 ACI

1. F. En parlant du pain (risos) c’est que l’habitude à l’heure du repas,


du dîner,
2. pour manger en France, c’est qu’ils (franceses) prennent le pain et
coupent
3. avec la main aussi surtout les plus agées, tout un préparement, ils
rangent la
4. table, tranquillement, mettent à côté, ils font tout, ah et d’ailleurs le
vin aussi
5. le vin c’est obligé, comme on dit au petit village où j’ai habité du vin
et pain
6. santé. Et le rigolo aussi une chose qui m’a choqué beaucoup dès que
tout
7. est fini le bout du pain que reste sert pour faire la vaisselle (risos), ils
raclent
8. l’assiette.
9. Voilà, et ici au Brésil les amis de ma soeur Français sont venus pour
le
10. Carnaval de Rio de Janeiro et puis on est tous allés au restaurant
connu ici,
11. s’appelle Porcão, donc on est tous dans la table tranquille on était
une
12. dizaine, uns dez mãe ? não uns vinte né mãe nós éramos ? (a
entevistada
13. questionando a mãe) alors, le churrasco est arrivé tranquille et de
suite les
14. Français regardent et bah _il est où le pain ? (risos) Il n’y a pas du
pain ici ?
15. et ça a été bizarre pour eux ne pas avoir du pain sur la table.
16. E. Et qu’est-ce que vous leur avez dit ?
17. F. On a dit que c’était pas l’habitude ici normalement mais on va
18. demander quoi ! Mais ça m’a...Il avait pas, le pain qu’avait...n’avait
pas
19. assez, voilà ! ça leur a choqué quoi !ils ont dit pas de pain et tout
mais bon
20. c’est pa grave ils ont été bien cool, bien sympas mais ça a choqué
quand
21. même un peu.
22. E. D’accord ! Ça peut risquer de penser que le restaurant n’est pas
bon !
23. F. Oui, dans un restaurant il faut avoir sûrement du pain,
normalement
24. sur la table il y a un petit panier plein du pain en France c’est déjà
comme
25. ça, le pain déjà coupé, tranché quoi on va dire et aussi le vin ça
c’est sûr,
26. pour la France c’est culturel, traditionnel quoi !

ENTREVISTA no 7 RELATO 2 ACI


1. F. Donc, voilà autre chose aussi qui m’étonné, les plus âgés quand
ils
2. arrivent au magasin pour payer quelque chose ils nous donnent à
nous,
3. (vendeur,vendeuse) pour compter et payer en nous donnant leurs
4. porte-feuille. Il nous dit que on peut le prendre , c’est une question
de
5. confiance, c’est normal,pourtant ici au Brésil si on donne notre
porte-feuille
6. à quelqu’un pour payer un pain ou quelque chose, on ne sait pas s’il
7. reviendra...(risos)
8. En plus, la clientèle elle est fidèle au bonlanger qu’elle aime en
France car
9. même le pain la baguette c’est la culture, car c’est incroyable la
queue qui
10. se forme tous les jours dans les boulangeries,le matin pour le petit
déjeuner,
11. le midi pour le repas et le soir pour le dîner,toujours les mêmes
gens dans
12. les mêmes horaires, toujours pareil.
13. E. Euh quelqu’un m’a remarqué que surtout à midi à onze heure
enfin...
14. F. La queue est plus grande que le matin.
15. E. Oui oui voilà c’est plus grande ?
16. F. Oui oui elles sont plus grande...peut-être les gens ont la flemme
pour se
17. lever tôt (risos) non non, serieusement oui c’est à midi la plus
grande.
18. Au Brésil il y a une différence c’est que le matin et des fois
19. dans l’après midi.

ENTREVISTA no 7 RELATO 3 ACI

1. E. Uma outra observação interculturel.


2. F. Donc les maisons françaises sont différente que les brésiliennes,
quand je
3. suis arrivée à la maison je suis allée aux toilettes,
4. généralement pour moi c’est la douche, salle de bain avec le
sanitaire dans
5. une même pièce, mais dans toutes les maisons que je suis allée dès
6. mes 12 ans, ce n’est pas comme ça.
7. Alors, c’est que la salle de bain, avec une baignoire normalement et
8. la douche et le... como é pia mesmo ?
9. E. Évier.
10. F. Voilà (risos), l’évier...donc n’avait pas le sanitaire pour faire pipi
etc...
11. la pièce avec le sanitaire était toute à côté de la salle de bain, en
plus il y a
12. simplement que le sanitaire, pas d’évier, rien, et je trouve même pas
poli,
13. pour nous les brésiliens pour eux c’est normal.

ENTREVISTA no 7 RELATO 4 ACI

1. F. Donc les faits rigolos sont les habitudes françaises. Eux lá-bas on
va dire,
2. ils sonts tous carrément carrés comme ça (a entrevistada gesticula
fazendo
3. um quadrado). Ici (no Brasil) on s’amuse beaucoup plus, si jamais
4. il y a un malentendu on dit Ah ! c’est pa grave, tandis que lá-bas (na
5. França) eux, non, quand il y a de petits trucs, de petites gaffes, c’est
déjà
6. énormement vu.
7. Donc alors pour nous avec les habitudes et les traditions
brésiliennes,on
8. arrive lá-bas c’est marrant de voir la... l´assitance quoi ! On va dans
une
9. boulangerie par exemple et puis on voit la vendeuse, elle sert du pain
avec la
10. main, elle prend normalement avec, sans gants, sans rien. Alors
11. pour nous (brasileiros) ici c’est étonnant, on se dit _Ah franchement
c’est
12. sale, c’est avec la main ! ce n’est pas acceptable quoi ! Mais oui, lá
bas ils
13. servent avec la main.
14. E. La première fois que tu as vu ça , c’était bizarre.. un peu.. ?
15. F. Oui oui ça m’a choqué beaucoup , parce que on imagine la France,
tout le
16. monde poli, très classique, etc...
17. E. C’était quand même un peu délicat pour lui dire ça ?
18. F. Oui exactement ! je lui ai demandé même pas, mais dans mon cas
19. c’est différent car j’étais de l’autre côté, avec la vendeuse qui c’est
ma soeur
20. d’ailleurs et en voyant comme ça donner le pain avec la main
directment je
21. lui ai demandé si c’était normal, elle m’a dit qu’ au début elle a
trouvé
22. bizarre aussi mais... c’est comme ça partout en France, et après j’ai
vu que
23. c’était vrai.
ENTREVISTA nº 8 ACI
R044
o
N total Nacionalidade Faixa etária Sexo Escolaridade Competência
de Lingüística
relatos

3 Brasileira 50 a 55 Fem. tec. Básico

ENTREVISTA no 8 RELATO 1 ACI

1. F. Bom, na minha ida à Paris, na cidade onde minha filha habita


2. é... o que eu pude observar é que todos os dias você vê senhoras e
senhores é
3. indo comprar legumes e comprar assim dois, três, um... mas todos os
dias
4. aquela pessoa está indo lá comprar um tomate ou duas cenouras. Eles
não
5. costumam estocar os legumes em casa, eles deixam dentro de uma
cesta
6. em cima da pia e ali vai se usando. Todos os dias ele coisa, eles não
tem esse
7. costume que nós no Brasil temos. Vamos lá, fazemos o sacolão,
enfiamos
8. dentro da geladeira. na França eles não têm.
9. E. Eles não tem o hábito de guardar...comida.
10. F. Não, eles não têm. O que sobra eles jogam foram, então eles já
tem
11. assim, eu não sei se foi devido assim épocas atrás da guerra etc etc
etc,
12. então ele já tem esse perfil de não... tudo fresco é tudo fresco,
13. tudo naquele momento.
14. Eles não têm esse habito de fazer compras assim de frutas e de
lugumes
15. porque eles dizem, pelo menos o que falaram pra mim, que estraga,
que
16. estraga .

ENTREVISTA no 8 RELATO 2 ACI

1. F. Senhores lá usam pochetezinhas igual a nossa de mulher com


2. pratinhas dentro e vai até a boulangerie, vai comprar o pãozinho com
as
3. pochetes igual a nossa de mulher, se fosse aqui no Brasil...
4. E. Porta níquel você fala?
5. F. É , é um porta níquel e eles usam como nós...
6. E. Que legal, então olha só quando você viu um homem usar...
7. F. É eu achei estranho aí eu disse caramba ele tá usando uma bolsa
de
8. mulher um porta níquel (risos), aí eu perguntei à minha filha.
9. Ai é normal isso aqui? puxa se fosse no Brasil...xiiiiiiii.
10. E. Vai dar margem a outros entendimentos.

ENTREVISTA no 8 RELATO 3 ACI

1. F. Bem, assim por minha filha ter uma boulangerie eu pude presenciar o
2. contador ir até a casa dela. Fazerem toda a parte de contabilidade do dia
e
3. ele sair com a mala normalmente com o dinheiro da féria do dia
4. normalmente, assim sem ninguém incomodá-lo. Eu achei assim incrível,
5. porque você ir até à casa de um comércio e trazer uma maleta com
6. dinheiro e todos em volta sabendo que aquilo ali é o dinheiro que os
7. contadores agem assim... é realmente incrível.
8. E. Você como brasileira acha isso impossível aqui?
9. F.Ahhh Muito impossível (muitos risos), com certeza.

ENTREVISTA nº 9 ACI
R045
No total Nacionalidade Faixa etária Sexo Escolaridade Competência
de Lingüística
relatos

3 Brasileira 60 a 70 Fem. Superior Básico

ENTREVISTA no 9 RELATO 1 ACI

1. E. Qual é a sua observação relacionanda à cultura?


2. F. Eu achei assim um povo muito alegre, descontraído, gostam assim
de
3. fazer...é... como é que se diz...?
4. E. Pique-nique?
5. F. É, eu achei fantástico, assim nos jardins na França o pessoal, o
povo
6. eles lancham, eles levam uma merenda, entendi? É um coletivo.
7. E. Você foi pra onde? em Paris ou pra outras regiões?
8. F. Paris, ali do lado do Sena inclusive.Não tem um jardim do lado da
entrada
9. dos barcos que vai andar ali no rio Sena? Nossa o pessoal ali todos
10. lanchando, nossa eu acho que todos os jardins da França é um eterno
11. pique-nique. Deitam na grama, conversam, tiram a camisa
12. pra se bronzear, pra pegar aquele solsinho
13. é uma coisa coletiva é um povo muito alegre. Eu
14. fiquei boba sabe porquê? Porque eu disse pra minha neta: vamos
lanchar?
15. Ah mas assim no meio da rua quando olhei pro lado vi todo mundo

16. tomando seu suco comendo seu sanduíche, é ,uns já tinham aquele
plástico
17. com a comidinha ali dentro uma coisa normal diferente do Brasil,
porque
18. você não vê essa coisa assim comum em qualquer lugar.

ENTREVISTA no 9 RELATO 2 ACI

1. F. É o seguinte aqui no Brasil os hotéis oferecem um café da manhã


2. maravilhoso, um pequeno almoço com bolos, frutas, salgadinhos,
café com
3. leite, sucos, ovos, queijo etc, etc, etc, tem de tudo sortido.
4. Mesmo nos hotéis aqui no Brasil, você chega lá fora é um café
magro,
5. café com leite e um suco e mais nada e uma manteiga e mais nada
6. e mal servido que você tem que servir e frio, achei horrível.
7. Aí saímos e fomos tomar um na rua.
ENTREVISTA no 9 RELATO 3 ACI

1. E. É passeando alí por Pigale aquele bairro ali do Moulin Rouge,


você
2. observou... o que te chamou atenção? o que te chocou ?
3. F. Bem foi aquelas exposições nas vitrines né! Esses métodos que
eles usam
4. né, no sex shopping, Muito exposto!
5. E. E precisava entrar na loja pra ver os objetos as coisas assim e tal?
6. F: Não , não precisava, estava exposto na vitrine. Passando na rua
você
7. pára e olha. Aí se quiser ver outra coisa, você entra, se não,
8. já tem bastante na vitrine (risos).
9. E. Ok. E isso no Brasil você acha que isso seria meio chocante
ainda?
10. F. Olha eu ainda não vi no Brasil nenhuma rua só disso com tudo
exposto
11. na vitrine, ainda não vi. Eu sei que tem assim uma coisa mais
reservada.
12. E. E como é que foi a sua leitura em relação a isso? Como é que
você
13. interpreta isso?
14. F. Essa diferença?
15. E. É. Ou essa postura dos franceses. Você como brasileira, qual é a
tua
16. opinião? Você acha que é excessiva ou considera normal?
17. F. Acho que pra eles isso é normal, todo mundo chega olha é
normal, pra
18. mim é assim, pra pessoas adultas ainda mais se tiver com uma
criança, a
19. criança vai ficar assim alerta, vai chamar atenção, o que que é isso
pra que
20. que serve isso né, vai chamar atenção pra uma coisa que ainda não
tá na
21. hora não está amadurecido.
22. E. Então de uma certa forma você como uma brasileira a coisa ainda
está
23. muito vanguardista lá, né assim? Está ainda não! É! A proposta é
muito,
24. muito avançada, não é?
25. F: Muito pra frente, pra frentex! (risos)
26. E: Está jóia merci beaucoup
27. F: il n’y a pas de quoi.

ENTREVISTA nº 10 ACI
R047
o
N total Nacionalidade Faixa etária Sexo Escolaridade Competência
de Lingüística
relatos

2 Brasileira 45 a 50 Fem. Superior Básico

ENTREVISTA no 10 RELATO 1 ACI

1. E. Me conta...Faz a sua primeira apreciação contrastiva cultural.


2. F. Eu estava chegando em Paris, aí eu estava com uma enorme
3. vontade de ir ao banheiro e na recepção do banheiro um homem
4. muito grande que me perguntava: - Dinheiro! Dinheiro!
5. Pra pagar o banheiro e ao entrar eu percebi que o banheiro era misto.
6. Eu fiquei muito constrangida e saí, me retirei do banheiro, mas a
vontade era
7. muito grande. Eu acabei entrando, aí uma pessoa do banheiro
percebeu
8. o meu constrangimento e me ajudou a fazer uma paredinha pra que
9. eu não visse os homens urinando e que eu pudesse ir ao banheiro
(risos).
10. E. Ok, e aqui no Brasil você acha que isso seria possível? Você
11. consegue enxergar uma cena assim de um banheiro misto?
12. F. Que eu conheça não não, aqui no Brasil, eu acho que não existe
13. banheiro misto.
14. E. E o comentário sobre a cena?
15. F. Ah! o primeiro constrangimento é ver um homem na entrada de
16. um banheiro feminino, que a gente não está habituada pelo menos
17. aqui no Brasil ou na cidade do Rio de Janeiro. É a pessoa deduzir
que
18. eu era estrangeira e só saberia falar inglês, porque ele disse _Money!
19. Money!, Money! que eu teria que pagar, ele tava querendo se
20. comunicar comigo que ao entrar ao banheiro eu teria que pagar e o
21. meu constrangimento era de ver um homem lá, e perceber que
outros
22. homens estavam no banheiro.
23. E. E em nenhum momento passou pela cabeça que você podia estar
24. entrando em um banheiro masculino ?
25. F. Sim, aí eu saí do banheiro e vi que o desenho indicava que era
26. banheiro feminino e entrei. Na verdade, o banheiro masculino, a
27. entrada do banheiro masculino era separada, em separado e essa
28. recepção, você via que tanto atendia um ao outro, mas atrás era
aberto
29. e o banheiro era misto, atrás dessa recepção.
30. E. Então um via o outro livremente?
31. F. Após a entrada sim.
ENTREVISTA no 10 RELATO 2 ACI

10. E. E a segunda observação do metrô que você comentou né?


11. F. Eu estava no inverno é...dentro do metrô dentro de um vagão de
12. metrô e observando um casaco de pele muito bonito, houve um
13. desequilíbrio no metrô, a gente se ajeitou e aí ela se segurou, essa
14. pessoa levantou e levantaram essa senhora e essa senhora levantou o
15. braço e um odor muito forte de suor (risos). Aí eu me lembrei da
16. época que eu trabalhava saindo da zona sul e ia pra zona norte do meu
17. trabalho.
18. E: isso já no Brasil?
19. F: No Brasil, dentro de um ônibus e aí no
20. horário que as pessoas estão saindo dos seus trabalhos e todas elas
21. tinham tomado banho e eu, apesar do calor do Rio de Janeiro, nenhum
22. momento eu senti um cheiro tão forte de suor como naquela vez em
23. Paris que ficou muito registrado.

ENTREVISTA nº 11 ACI
R048
o
N total Nacionalidade Faixa etária Sexo Escolaridade Competência
de Lingüística
relatos

1 Brasileira 25 a 30 Masc. Superior Básico

ENTREVISTA no 11 RELATO 1 ACI

1. F. Uma coisa que me chamou atenção que você vai na padaria comprar
2. uma bisnaga de pão e eles te entregam o pão sem embrulhar
diretamente
3. na sua mão. Você leva pra casa com o pão na mão.
4. E. Mas nenhum papelzinho pra...?
5. F. Nenhum papelzinho. É o pão direto e você pega o pão e leva pra casa
6. segurando o pão.
7. E. E isso também em Paris ou em Lourdes?
8. F. Não isso foi em Paris também.
9. E. Tá ok !

ENTREVISTA nº 12 ACI
R049
o
N total Nacionalidade Faixa etária Sexo Escolaridade Competência
de Lingüística
relatos

1 Brasileira 50 a 55 Masc. Superior Básico

ENTREVISTA no 12 RELATO 1 ACI


1. É... as regiões por ali de Montmatre, Pigale e tudo mais, as
regiões por
2. lá de exploração do comércio erótico é muito agressiva!
Tremendamente
3. agressiva! Os teatros as zonas de prostituição, e de streep tease e
tudo
4. mais ficavam praticamente empurrando os turistas pra dentro de
uma
5. forma muito agressiva. Eu nunca vi em nenhum lugar do mundo,
tanta
6. agressividade da exploração de, de turistas.
7. E. Você fala de agressividade da maneira que eles abordavam?
8. F. Sim, sim. As abordagens seria muito árabe etc e tal te pegando
pô, te
9. pegando pelo braço mesmo, te empurrando pra dentro,
empurrando!
10. Porque que a polícia deixava aquilo? Eu não sei porque?
11. Eu me lembro que na Bélgica, eles não permitiam nos
restaurantes,
12. abordagens em restaurante. A pessoa chegava com o cardápio
pra você
13. na rua, um policial passava chamava atenção do pessoal, né, que
não
14. abordassem os turistas na rua. Meu Deus pô! Em Paris pô, o cara
quase
15. que dá um pontapé em você pra você entrar é bordel lá dentro é
casa de
16. espetáculo, lá dentro, só que é muito agressivo chocante mesmo.
17. E. Você acha que tem haver com a postura de um empregado ter
outra
18. nacionalidade?
19. F. Não. Os donos dos lugares são franceses, os árabes são donos
de
20. pequenos comércios nas cidades e etc.. os donos dessa região
são
21. franceses, quem tá trabalhando etc e tal podem ser árabes,
argelinos
22. portanto, mas os donos interessados no comércio são franceses.
23. E. Ah Sim , até por que ali tem o Moulin Rouge né?
24. F. Sim é a mesma coisa tá, passar em frente ao Moulin Rouge
hoje em
25. dia é uma pornografia. Não há nenhuma elegância de Moulin
Rouge
26. nenhum hoje em dia.
27. E. E aqui no Brasil você consegue presenciar uma zona similar
a essa?
28. Assim, no Rio de Janeiro, a coisa é explícita assim?
29. F. Em lugar nenhum do Rio de Janeiro. Há homosexuais,
travestis, que
30. ficam na Glória, na Lapa e na Glória etc e tal na praia de
Copacabana né
31. mas lugar nenhum de turismo, porque na praia de Copacabana
ficam
32. oferecendo jóias e tal, mas intenção pra te empurrar pra dentro
de algum
33. lugar, Lugar nenhum. O Rio de Janeiro não chega a esse nível!
34. E. Mas a gente vê em reportagens que há um assédio, mas assim
35. noturno extremamente na madrugada também, né?
36. F. É, e lá é normalmente três horas da tarde turistas passando na
rua que
37. muitos deles não podem nem estar atentos, interessados por
aquele tipo
38. de comércio. Tanto é que quando nós voltamos, não tava afim
de nada
39. disso e mesmo assim não tamos, não tamos, e quando fui na
Holanda no
40. bairro na luz vermelha e que também parece um tremendo(
)
41. não é, vai , vai pra um bairro de prostituição ou pro um bairro de
42. comercio erótico conhecido né, perfeitamente comportados.

ENTREVISTA nº 13 ACI
R050
o
N total Nacionalidade Faixa etária Sexo Escolaridade Competência
de Lingüística
relatos

2 Brasileira 35 a 40 Fem. Pós-Grad. Básico


ENTREVISTA no 13 RELATO 1 ACI

36. F. Uma coisa cultural assim bem de banho mesmo né?(risos). A


primeira foi
37. assim eu trabalhava na IBM na época e o projeto que eu trabalhava
era um
38. projeto mundial da IBM e o sistema era francês. Então eu tinha um
contato
39. muito grande com o pessoal da França, aliás o pessoal do mundo
40. inteiro, mais da França porque foi desenvolvido lá.
41. Aí veio uma época, um cara pra ficar
42. uns 3 meses aqui no Brasil e ele veio bem nessa época de verão.
43. Chegou aqui, primeiro que o cara continuou com o hábito dele de
não tomar
44. banho, então passou um, dois, três dias e a gente não agüentava mais
o cara
45. da IBM e ele ia todo dia com o mesmo casado, o casaco azulzinho da
Adidas
46. ( risos), todo dia também de casaco na IBM com esse calor, era
engraçado
47. (risos) porque a gente entrava nas salas da IBM de reunião e as salas
48. não tinham janelas(risos) Sentava todo mundo num canto da sala de
um lado
49. da mesa e ele do outro lado da mesa (risos), a gente não podia fechar
a porta
50. por causa do cheiro e todo mundo ficava assim constrangido por
causa do
51. cara, não dá pra falar pro cara (risos).
52. E. E ele não percebia em nenhum momento esse afastamento?
53. F. ...Ele era um cara assim que eu acho que a personalidade dele ele
era um
54. cara assim mei tímido, caladão, não era de conversar muito só falava
de
55. trabalho né ia almoçar com a gente no campo de refeitório da IBM,
aí lá
56. pelas tantas foi engraçado, porque tinha um cara que trabalhava com
a gente
57. que era mais cara-de-pau e aí ele fazia natação no clube do
botafogo. Aí
58. (risos) ele foi chamou o francês pra ver se queria fazer natação com
ele
59. (risos) pra ver se pelo menos ele ia entrar na água e melhorar o
cheiro né, ah
60. Eu tô fazendo natação de manhã é super agradável e tal, mas ele não
foi
61. mesmo assim (risos).
62. E. Foi uma alternativa então né?
63. F. Ah foi (risos) pra ver se pelo menos ele ia se molhar e tirava o
cheiro
64. né?(risos).
65. E continuando assim no mesmo sujeito (risos) eu estava em Paris
66. novamente aí fui passear e visitar a Torre Eiffel, fui pegar aquele
67. elevadorzinho que leva lá pros andares da Torre né, aí lotado né, aí
eu entrei
68. fui uma das últimas a entrar, aí entrou um francês grudado em mim
aí o cara
69. fedia tanto, tanto, tanto, que eu tive que prender a respiração pra não
ficar
70. sufocada sentindo o cheiro dele né. Aí fui poxa né segurando a
respiração
71. até chegar lá no andar, pra tentar me livrar um pouquinho, mas foi
forte!
72. (risos).

ENTREVISTA no 13 RELATO 2 ACI


1. F. Esse foi a mulher entrando com uma baguette dessas grandes
de pão
2. com um papelzinho, no metrô, e tinha aquele bagageiro em cima,

3. segurando a baguette, aí quando ela entrou no trem, ela
simplesmente
4. pegou dobrou a baguete ao meio e enfiou sem papel, sem nada no
5. bagageiro (risos).
6. E. Você consegue ver uma cena dessa no Brasil?
7. F. Nunca, nenhum a gente sai aqui da padaria com qualquer pão,
8. mesmo a baguette grande tem aquele saco cumprido né.
9. E. Agora interpretando a cena como uma coisa cultural deles mas
como
10. uma leitura de mal-entendido nossa, esse processo, como é que
você
11. interpreta isso?
12. F. Ah eu acho que é uma situação, é um hábito deles de não ter
13. embalagens pra carregar os pães e tal, pra eles acho que tudo isso
é
14. normal é cultura mesmo. Só que eu acho que nesse caso não é só
cultura.
15. É meio que falta de higiene mesmo, porque você vai comer
aquele pão
16. depois né e circulando no bagageiro onde todo mundo bota
qualquer
17. coisa, né?
ENTREVISTA nº 14 ACI
R059
o
N total Nacionalidade Faixa etária Sexo Escolaridade Competência
de Lingüística
relatos

7 Brasileira 35 a 40 Fem. Pós- Grad. Avançado

ENTREVISTA no 14 RELATO 1 ACI

1. Nesse mesmo curso de férias na França, nós costumavam fazer as


refeições
2. ao ar livre no pátio. Era bem provençal mesmo é... no estilo
bandejão. Então
3. ficava aquele grupo almoçando e a regra era que no final cada um
devolvia a
4. sua bandeja na cozinha éee.. e subia correndo pro curso porque
falávamos,
5. conversávamos tanto, que às vezes atrasávamos no horário. Então
uma vez
6. que as meninas terminaram antes de mim, é... eu fui devolver minha
7. bandeja e olhei pra trás e disse assim para o grupo:
8. _Vous pouvez vous en aller.
9. Aí uma amiga francesa gritou: _ Vous permettez Madame?
10. Eu percebi a ironia e respondi imediatamente:
11. _ Oui je vous permets! E então todas riram. Acho que não é bem um
mal-
12. entendido. Na verdade a mesma cena no Brasil é comum. A gente
fala
13. _Vocês podem ir. Sem nenhuma pretensão de dizer que é a mandona.
Ao
14. contrário, o ‘Vocês podem ir’ quer dizer que ninguém tem obrigação
de me
15. esperar, que eu ‘modestamente’ não pretendo fazer ninguém esperar
por
16. mim.

ENTREVISTA no 14 RELATO 2 ACI


1. Eu percebi que em alguns prédios na França, em Paris onde fiquei,
havia
2. uma plaquinha de identificação em alguns apartamentos com a
referência à
3. profissão da pessoa. Exatamente como no Brasil acontece nos
prédios
4. comerciais onde são alugadas salas para fins diversos, tipo dentista,
5. advogados, profissionais médicos, profissionais liberais de uma
forma geral.
6. Mas não é comum aqui, de forma alguma haver salas comerciais em
prédios
7. residenciais. Então como eu tinha certeza de que tratava-se de um
prédio
8. residencial, eu perguntei se aquilo significava apenas que o morador
era
9. médico e que em um caso de urgência poderia ser contactado, ou se
ele
10. exercia a profissão em um prédio residencial.
11. Ela me respondeu que se havia a plaquinha com a menção da
especialidade
12. médica era porque tratava-se de seu gabinete e que ele exercia a
profissão
13. ali. Então eu perguntei se o fato de um médico ter um consultório no
prédio
14. residencial isso dava uma conotação de prédio mais popular, meio
15. bagunçado por misturar moradias com consultórios. Ela me garantiu
que
16. não, ao contrário isso dava status ao prédio, ter profissionais atuando
no
17. prédio. É uma realidade muito diferente da nossa.

ENTREVISTA no 14 RELATO 3 ACI

1. Eu entrei numa farmácia pra comprar um remédio pra minha


garganta e
2. aconteceu mais uma vez aquilo que eu já tinha vivido em outros
3. estabelecimentos com o bonjour. Vou passar a cena que foi mais ou
menos
4. assim:
5. _ Madame, s´il vous plaît, est-ce que vous/
6. _ Bonjour Madame!
7. _ Bonjour Madame! S´il vous plaît, est-ce que vous avez le
médicament
8. Oropivalone ?
9. Quando ela disse _ Bonjour Madame. eu me senti repreendida como
uma
10. criança que é chamada a atenção pela mãe: Como é que se fala
mocinha?
11. Antes de qualquer coisa BONJOUR! Repreendida foi assim que me
senti,
12. repreendida. Foi uma espécie de alerta, já tinha acontecido antes,
mas dessa
13. vez ela foi tão incisiva que me marcou mais e eu certamente tomei
mais
14. cuidados nas outras situações.

ENTREVISTA no 14 RELATO 4 ACI


1. No teatro municipal de Avignon o banheiro é misto. Eu já tinha
ouvido
2. falar que isso não era raro na França, mas ainda não tinha vivido a
3. experiência de entrar em um banheiro misto e confesso que tinha
4. até curiosidade de ver, porque aqui no Brasil isso é inimaginável.
Mas o
5. engraçado foi a minha reação porque quando entrei, só tinha mulher
e estava
6. até bem cheio, antes de começar o espetáculo. Pois é, não tinha
nenhum
7. homem lá dentro, mas havia vasos sanitários masculinos. Então eu
percebi
8. logo, nossa é um banheiro misto! E ao mesmo tempo que eu queria
que
9. entrasse uma figura masculina pra realmente vivenciar a cena, eu já
me
10. sentia constrangida só de pensar que isso poderia acontecer. Enfim,
eu fui
11. na cabine fiz meu xixi lá e lavei as mãos, e percebi que já estava
correndo
12. pra sair do banheiro. É um hábito muito diferente, não agüentei
esperar pra
13. matar a curiosidade porque o constrangimento era um preço muito
alto a
14. pagar.
ENTREVISTA no 14 RELATO 5 ACI

1. A primeira vez que fui à Paris, eu fui com duas colegas de faculdade.
2. Éramos recém formadas e queríamos ver tudo, conhecer tudo.
Aquela sede
3. de conhecimento. Lembro que planejávamos juntas a viagem desde o
Brasil
4. para curtirmos ao máximo lá. Então na agência de viagem ainda no
Brasil,
5. nós fizemos questão de escolher um hotel com café da manhã buffet.
6. Porque no meio do turismo, eles fazem diferença do café da manhã
7. ‘continental’ que é o clássico petit-déjeuner, bem comedido mesmo
e o tal
8. buffet que é café da manhã pra turista, bem farto, com bastante
variedade,
9. mais no nosso estilo do Brasil. Nossa intensão era de bater perna o
dia todo
10. por isso era muito importante um café reforçado sobretudo porque
um
11. sandwiche poderia virar almoço. Enfim todo esse preâmbulo é para
explicar
12. que pela manhã fomos com aquela fúria para experimentar a maior
13. variedade possível de queijos no café da manhã. Afinal de contas
tinha
14. chegado o momento de conhecer o país dos quase 400 tipos de
queijos que
15. havíamos aprendido na Faculdade. Quando chegamos no salão e
vimos
16. aquela mesa de buffet farta mas sem nenhum nenhum queijozinho,
nem
17. presunto, que decepção! Nosso primeiro pensamento é tínhamos sido
18. enganadas no Brasil e comprado gato por lebre. Pensamos mesmo
que o
19. problema era com o hotel que devia ter estrelas bem a menos. Até
que não
20. agüentamos e perguntamos depois de alguns dias hospedadas e
todos eles
21. sem queijo no café da manhã. Nós acabamos perguntando ao
recepcionista
22. que era bem simpático e ele disse que os franceses não tinham
hábito de
23. comer queijo no café da manhã.
ENTREVISTA no 14 RELATO 6 ACI

1. Um fato curioso durante o café da manhã quando eu estava


hospedada na
2. casa de amigos franceses e disse que eles tocassem o dia a dia deles
3. normalmente e que eu fazia questão de ficar em imersão total.
4. Experimentando os hábitos franceses. Aí meu amigo me
interrompeu na
5. hora dizendo para que eu tirasse o pão de dentro do prato e deixasse
ali
6. mesmo sobre a mesa. Acho interessante que eles metem literalmente
a mão
7. na massa. Pegam no pão sem a menor cerimônia. Depois ele me
passou o
8. ‘bol’ para me servir de café. Só que pra mim aquela tigelinha
9. era pra sopa, caldo verde, como tomamos no Brasil.
10. Nunca tinha bebido café naquilo, era como beber café numa enorme
xícara
11. sem sem asa. Gostei, achei bem diferente de nossos hábitos. Naquela
época
12. eu desconhecia que os franceses tomavam café no bol, pensava que
fosse
13. coisa de oriental tomando chá ou sopa como a gente.
ENTREVISTA no 14 RELATO 7 ACI

1. Quando eu fiquei hospedada na casa desses amigos franceses. Eu achei


o
2. máximo aquela idéia de separar a salle de bain que é o banheiro para
tomar
3. banho, do banheiro com o aparelho sanitário les toilettes né. Eu achei
bem
4. legal mesmo, bem legal porque se alguém estiver tomando banho, quem
5. quiser usar o banheiro não precisa esperar a pessoa terminar o banho.
Até
6. que eu percebi que a pia pra lavar as mãos ficava na sala de bain e não
havia
7. pia no banheiro com os vasos sanitários. Anos depois visitando uma
amiga
8. que morava em um apartamento em Paris a mesma coisa. O banheirinho
9. num canto sem pia e a salle de bain com uma banheira legal
10. e lá estava a pia. Quando eu perguntei pra um francês de mais
intimidade,
11. ele explicou que não tinha sentido escovar os dentes, nem fazer a
limpeza do
12. rosto fora da salle de bain. Aí a gente vê bem que cada cultura tem sua
13. maneira de pensar e de organizar seu espaço.
ENTREVISTA nº 15 ACI
R061
o
N total Nacionalidade Faixa etária Sexo Escolaridade Competência
de Lingüística
relatos

2 Brasileira 50 a 60 Fem. Superior Avançado

ENTREVISTA no 15 RELATO 1 ACI

1. Uma amiga francesa que acabara de ter contato com o Brasil me disse
muito
2. séria: _Joana aqui no Rio as pessoas são muito religiosas, não é?
3. É que quando estão nos ônibus sempre vejo se benzerem em
determinados
4. pontos do caminho...
5. Pensei bastante e, rindo, lhe expliquei que se benzem quando passam
em frente
6. a uma igreja ou a um cemitério... !!!!!!

ENTREVISTA no 15 RELATO 2 ACI

1. F: Me lembrei de outra muito engraçada!


2. Aconteceu com uma super minha amiga. Eu estava na casa dela.
Toda vez
3. que eu ia ao banheiro ela me dava bronca, porque eu deixava a porta
da
4. chiotte aberta. ela ficava furiosa. eu ficava intrigada. Depois vim a
saber
5. que é falta grave de educação deixar a porta do banheiro aberta. Pra
eles é
6. quase igual a fazer xixi na tábua do vaso... isso eu vi no Franche
Comte´
7. não sei se é assim em todo o país, acho que sim...vou averiguar para
você.
8. E:_Merci

ENTREVISTA nº 16 ACI
R002
o
N total Nacionalidade Faixa etária Sexo Escolaridade Competência
de Lingüística
relatos

1 Brasileira 50 Fem. Pós-grad. Intermediária

ENTREVISTA no 16 RELATO 1 ACI

17. F: Tem uma situação cultural também que é muito interessante na


18. França. Você pra iniciar uma conversação seja pra pedir uma
19. informação na rua é... não importa qual, você tem que começar pelo
20. bonjour. Aconteceu comigo várias vezes deu tá na rua assim querer
21. perguntar o itinerário Aí eu falava
22. _Pardon Madame, pardon. Ela
23. _Pardon, Bonjour Madame!
24. E aí o bonjour já vinha com aquela carga de quem diz Você não
sabe que o
25. código aqui né cultural você tem que primeiro dizer o bonjour pra
depois
26. você vir com a sua pergunta, então isso depois aconteceu comigo
várias
27. vezes lá.
28. E: Certo.
29. F: Pra você fazer uma pergunta você não pode pular uma etapa você
30. não pode ficar sem falar primeiro o bonjour, depois o pardon depois
31. você fazer a sua pergunta.
32. Ok. Merci.

ENTREVISTA nº 17 ACI
R001
o
N total Nacionalidade Faixa etária Sexo Escolaridade Competência
de Lingüística
relatos

1 Brasileira 20 a 25 Masc. Pós-grad. Intermediária

ENTREVISTA no 17 RELATO 1 ACI

1. E: Então vamos lá ao terceiro exemplo


2. F: _O terceiro foi no hotel em que a gente tava discutindo assim na
3. verdade entre nós na verdade o conceito do que era frio, o que que
4. não era gelado, por causa desse negócio da cerveja ficar esquentando
5. do lado de fora. Isso foi até um interesse bem engraçado que a gente
6. chegou no café da manhã e tinha o leite naquelas máquinas que
7. esquentam sabe que
8. E: Aí isso foi no hotel? Ah, isso me interessa.
9. F: Aí tinha aquelas caldeiras que esquentam o leite, sabe aquele...
né?
10. E aí a gente queria tomar leite frio que tava assim muito calor em
11. Paris nesse dia. E aí ficava uma moça que era assim cozinheira,
12. faxineira é... tudo do hotel, que o hotel era pequenininho e tal e aí ela
13. tava na cozinha e era interessante assim, ela, ela ela não atendia
14. ninguém nas mesas então, às vezes, a gente via que outras pessoas
15. entravam na cozinha do hotel e saiam de lá com coisas que elas
16. queriam, o que pra mim é bizarro, mas de qualquer forma né você
17. entrar na cozinha do hotel é uma coisa assim meio tosca, mas aí de
18. qualquer forma eu cheguei na porta da cozinha do hotel é e perguntei
19. _ Est-ce que vous pouvez me donner... é.. lait froid ?
20. _ Oui. Aí ela foi e abriu o armário, não era geladeira, tirou uma
caixa,
21. cortou o bico da caixa, e entregou na minha mão. E aí assim que dá
pra ver
22. u... u...
23. E: O armário e não de uma geladeira?
24. F: É, que pra gente o frio, né.. Se eu fosse pedir o leite frio é porque
25. ele é gelado mesmo. E aí depois tentei até outras formas assim, sabe
26. de falar mais frio, sabe sei lá très froid. Alguma coisa assim e ela
27. sempre me entregava o leite da caixa e foram vários dias assim.
28. Os cinco dias que eu fiquei em Paris eu pedia leite frio e falava mais
29. assim né... é... é... que eu queria mesmo frio, muito frio e ela me
30. entregava
31. _Oui!
32. Nem fazia uma cara de não tem, desculpa. Não, era
33. sempre um oui. Super sorridente e dava o leite
34. E: Tome-lhe leite quente.
35. F: É, dava o leite quente, porque na verdade
36. E: pra gente é natural, a gente
37. fala natural.
38. F: Isso, isso aí. Porque no caso dela assim, o, o froid significava não
39. quente. Não fervente, assim.
40. E: Ah rum.
41. F: Qualquer outro desse, desse tipo.
42. E: E você tentou mudar alguma vez o adjetivo, não?
43. F: Eu falei glacé uma vez, eu acho.
44. E: E aí? (expectativa)
45. F: E aí ela não entendeu nada.
46. (risos)
47. F: Mas esse negócio do leite eu descobri depois, mas aí conversando
48. em inglês com um cara da França e conversando em italiano com um
49. sujeito em Roma também, que esse negócio de gelo é mania de
brasileiro.

ENTREVISTA nº 18 ACI
R014
o
N total Nacionalidade Faixa etária Sexo Escolaridade Competência
de Lingüística
relatos

1 Brasileira 31a Fem. Pós-grad. Intermediária

ENTREVISTA no 18 RELATO 1 ACI

1. F: É... Eu fui eu estudei lá na Aliança e fui descer pra comer alguma


2. coisa e tinha um frigobar Um refrigerateur com várias comidas
3. croissant Aí eu vi uma pizza aí eu perguntei pra pessoa que
4. trabalhava lá. Um senhor que ficava lá embaixo. Perguntei se aquela
5. pizza ia pro microondas alguma coisa se ela ia ser aquecida e ele
6. falou que não. As pessoas comiam fria mesmo. Eu não acreditei
naqui-
7. lo. Enfim eu tava morrendo de fome. Acabei saí pra comer um
8. sandwich que pizza fria realmente não dava.
9. E: Mas tinha alguma coisa haver com aquelas máquinas de botar
10. moeda não?
11. F: Ah ram! (positivamente com a cabeça)
12. E: Tinha!?
13. F: Era uma máquina de botar moeda.
14. E: Estranhíssimo
15. F: Estranhíssimo
16. E: Alors la reconstruction du dialogue.
17. F: Ahhh.. J´ai vu un pizza dans le refrigerateur et j´ai demandé
18. l´homme _Qu´est-ce que c´est ça ? Elle n´est pas chaufée ? _Il y a un
19. lieu pour chauffer la pizza ? Il m´a dit
20. _Non, non la pizza est froide même est froide même Eu ..
21. _Comment ?
22. _La pizza est froide ?
23. _Oui mais c´est normal ici
24. _Non mais dans mon pays c´est pas normal La pizza est chauffée
25. _Ah non mais ici la pizza est froide
26. E : Ok, Et tu n´as pas essayé de
27. F : Non, non bien sûr que non
E : De la de l´acheter ?
ENTREVISTA nº 19 ACI
R065
o
N total Nacionalidade Faixa etária Sexo Escolaridade Competência
de Lingüística
relatos

1 Brasileira 20 a 30 Fem. Superior Básico

ENTREVISTA no 19 RELATO 1 ACI

1. Uma coisa que achei muito diferente do Brasil foi a noção de civilidade
de
2. organização mesmo dos franceses que infelizmente é um ponto que a
gente
3. ainda precisa trabalhar muito. Quando comprei um bilhete de trem
naquelas
4. máquinas usei uma opção de desconto porque tinha uma carteira de
5. estudante na época. Só depois de viajar e me beneficiar do desconto é
que
6. fiquei sabendo que minha carteira não dava direito à redução de preço.
Não
7. houve má fé da minha parte, quando pedi a opção para estudante mais
8. barata, realmente achei que estava correto e até comemorei porque
9. finalmente ia usar a tal carteirinha internacional que não tinha me
servido
10. pra nada até então.. Bem isso tudo é só pra mostrar que não há uma
11. fiscalização ostensiva, pois primeiro acredita-se na conduta correta. É
claro
12. que tem fiscais no trem, mas é diferente eles aparecem pedem os
bilhetes às
13. vezes de todos e às vezes de alguns. Mas no momento da compra
naquelas
14. máquinas não há fiscalização. Alguém pode agir de má fé, arriscando
não
15. ser pego pela fiscalização. No Brasil não damos espaço para a
credibilidade,
16. não há como, o jeitinho brasileiro não permite.

ENTREVISTA nº 20 ACI
R004
o
N total Nacionalidade Faixa etária Sexo Escolaridade Competência
de Lingüística
relatos
Superior
1 Brasileira 20 a 25 Masc. incompleto Básico

ENTREVISTA no 20 RELATO 1 ACI

1. F: Bom uma vez às 03h30 da manhã um grupo de francês andando


2. aqui na orla e eu saindo do trabalho eles me perguntaram me
3. abordaram na rua e me perguntaram.
4. Francês : _ Comment je fais pour aller à un petit marché?
5. F :_ Je dis : _ Maintenant?
6. Francês : _ Ah oui, maintenant!
7. F : _ Ah je pense que ce n’est pas possible parce que il est 3h30
8. Et c’est trop tard.
9. Il est dit _ Ah non en France _il y a des petits marché en toute moment.
10._Il y a ici aussi mais ce n’est pas ici c’est là. Tu vas marcher jusque
àdeuxième rue et… prenez la première à gauche ah oui ah je suis resté
fatigué.

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