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Rio de Janeiro
Julho de 2008
Vol. I
Mal-entendidos sobre o mal-entendido:
Interpretações divergentes nas interações entre brasileiros e franceses.
Examinada por:
________________________________________________
Presidente, Profa. Doutora Angela Maria da Silva Corrêa
_________________________________________________
Prof. Doutor Fernando Afonso de Almeida – UFF
_________________________________________________
Profa. Doutora Kátia Ferreira Fraga – UERJ
_________________________________________________
Profa. Doutora Maria Aurora Consuelo Alfaro Lagorio - UFRJ
_________________________________________________
Profa. Doutora Victoria Wilson da Costa Coelho – UERJ
_________________________________________________
Profa. Doutora Aurora Maria Soares Neiva – PPG Lingüística Aplicada – UFRJ,
Suplente
_________________________________________________
Profa. Doutora Márcia Atálla Pietroluongo – PPG Letras Neolatinas – UFRJ,
Suplente
Rio de Janeiro
Julho de 2008
Dedico:
À minha Biografia:
Agradeço infinitamente:
A DEUS pela minha família, pelos meus amigos, pela minha História de VIDA.
Agradecimentos:
Rio de Janeiro
Julho de 2008
ABSTRACT
Rio de Janeiro
July 2008
À Nerita Maria do Nascimento
I – INTRODUÇÃO...................................................................................................10
2. O MAL-ENTENDIDO E A POLIDEZ...........................................................40
III – ANÁLISES.......................................................................................................105
2. ANÁLISES CONCLUSIVAS...................................................................171
IV- CONCLUSÃO..................................................................................................179
V – REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS....................................................184
VI - ANEXOS...........................................................................................................192
"Le monde ne marche que par le malentendu.
C´est par le malentendu universel que tout le monde s´accorde.
Car si, par malheur, on se comprenait on ne pourrait jamais s´accorder."
(Charles Baudelaire, Mon coeur mis à nu, XLII)
SUMÁRIO
VI - ANEXOS...........................................................................................................192
1. AMOSTRA CLD.............................................................................................192
2. AMOSTRA CPH.............................................................................................272
leve aceno positivo de cabeça durante a escuta. Mathieu abre, então, sua colaboração
sobriedade daquela interação. Ainda confusa por ter esquecido que nem sempre o que se
aos trilhos, em uma outra via, sem dar chance aos passageiros de perceberem o que
seja, sua aparição involuntária e sua presença observada nas mais diversas situações
desacordo com a mensagem emitida, entre muitos outros fatores, podem promover um
mal-entendido.
1
Com esta metáfora, Laforest abre o artigo introdutório Accidents, ratés, pièges et leurres de
l´interprétation: quelques remarques sur le malentendu do livro Le malentendu: dire, mésentendre,
mésinterpréter. Uma importante seleção de textos oriundos de um Colóquio ocorrido na Universidade
Laval no Quebec em março de 2000, que abordou o tema do mal-entendido conversacional. O livro
também reedita dois artigos já pulblicados no Journal of Pragmatics de número 31, 1999, que representou
um marco na publicação de novas pesquisas sobre esta temática.
Dascal (2006) comenta que a relação da compreensão com o significado já foi
amplamente discutida por lingüísticas e filósofos, mas pouca ou nenhuma atenção teria
Drescher (2003) não corrobora, por completo, essa afirmação, pois destaca que o mal-
entendido interpretado como uma das possíveis disfunções da comunicação, vem sendo
explorado tanto pela sociolingüística quanto pela análise do discurso há uns vinte anos.
indivíduo. Essa postura faz parte de uma nova abordagem dada ao mal-entendido, que
interpretado de forma similar pelos falantes. A autora chama a atenção para essa
2
Ver Bazzanella e Damiano (1999); Dascal (2006); Traverso (2003); Trognon (2003); Laforest (2003);
Weigand (1999) entre outros.
inverdade afirmando que: “A intercompreensão parece estar, ao contrário, sendo
interacionais e dos freqüentes tropeços entre aquilo que queremos dizer e o efetivamente
dito? Todas essas questões estão envolvidas na tessitura das trocas conversacionais e
3
Drescher (2003, p. 119). As traduções das citações retiradas de obras em língua estrangeira são de nossa
responsabilidade, exceto aquelas já publicadas em língua portuguesa assinaladas na bibliografia.
4
Dentro da Análise do Discurso existem duas concepções para o termo ‘Conversação’; e
conseqüentemente duas abordagens para a Análise da Conversação: a primeira permite um emprego mais
restrito e a segunda permite seu uso com um sentido mais ampliado, privilegiando análises
conversacionais de diferentes tipos. Para a fundamentação teórica do presente trabalho, assim como para
o desenvolvimento de nossas análises nos valeremos do emprego mais abrangente desse termo.
profissional hoteleiro. Dado o grau de especificidade do perfil constitutivo do corpus a
usado nas interações terá status diferenciado entre os interagentes, sendo para os
franceses a língua materna (LM), enquanto que para os falantes brasileiros representará
comunicação sensivelmente mais ‘difícil’ pelo caráter assimétrico dos diferentes níveis
5
Empregaremos o termo segundo a definição prototípica, utilizada por de Prieto (1988; In: Chauraudeau
e Maingueneau, 2006): situação em que se encontram face a face um locutor nativo e um locutor não
nativo em uma dada língua.
(1984), Varonis e Gass (1985), Giacomi e de Hérédia (1986) e de Hérédia (1986) como
desenvolve uma crítica às contribuições acima citadas, pois elas acabaram mascarando a
mesma cultura e isso colaborou bastante para que erroneamente o mal-entendido tenha
confirmação, já que é impossível se ter a certeza de que tudo o que é dito no momento
em conta todos os esforços nele envolvidos, faz com que as interações sejam espaço
passível de divergências interpretativas. Acreditamos, desta forma, que o mal-entendido
(1974, 1987, 2002), Brown e Levinson (1978, 1987); e numa abordagem mais
analisada.
Goffman (1974) como a interpretação do que está sendo encenado no dado momento da
feito (Goffman, 2002, p.107).” Se numa dada interação um dos falantes não enquadrar a
ganhar, para esse determinado falante, uma conotação ofensiva por exemplo, gerando
um mal-entendido.
Durante o processo interativo, estamos a todo momento fazendo enquadres, ou
princípio organizador na interpretação dos eventos. Ele realça o caráter dinâmico dos
limitam a interpretação. Reitera que essas pistas podem destacar alguns aspectos do
significados latentes, que não estão em destaque, mas estão presentes. Caberá aos
1982a).”
por Brown e Levinson (1987), sobre a polidez; Goffman (1974), em seu trabalho de
ameaçador das faces (FTA) 6, e em caso positivo, responder a questões do tipo: em quais
6
A definação para os atos ameaçadores da face do inglês Face Traitening acts (FTAs) foi introduzida por
Brown e Levinson após minucioso trabalho de elaboração de uma tipologia para os atos de fala que
representassem ameaças às faces dos interlocutores.
circunstâncias ele pode representar um FTA? De quais estratégias valem-se os falantes
às influências mútuas que os interactantes exercem uns sobre os outros, enquanto co-
construtores do discurso.
indivíduos reafirmam seu comprometimento social e estabelecem relações entre si, por
princípios gerais da polidez pretendam-se universais, até que ponto pode-se observar a
que elas margeiam o mal-entendido, sendo muitas vezes tomadas por ele.
O enquadramento da cena;
trazendo contribuições aos mais diversos campos disciplinares. Na obra L´analyse des
conversations, Traverso (1999) orienta com precisão didascálica sobre as três correntes
escola de Palo Alto 7 (fonte multiplicadora dos trabalhos de Bateson, 1972, 2002). Nesta
corrente os trabalhos possuem fins terapêuticos; mas já aqui, vemos surgir uma
indivíduos como personagens atuantes desta encenação. Sacks e Shegloff (1977, 1978)
7
Esta corrente de abordagem psicológica e psiquiátrica dedicou-se ao estudo da comunicação das
disfuncões da relação conjugal e de crianças esquizofrênicas. A dita Comunicação “normal” se beneficiou
de importantes conceitos oriundos desta corrente teórica: a oposição entre comunicação simétrica vs
complementar; a distinção dos níveis do conteúdo vs da relação; e a noção herdada de Bateson “double
bind” (duplo vínculo) (KERBRAT-ORECCHIONI,1990 t1, p.58).
construção do discurso. Desta forma, o estudo da seqüencialização discursiva é posto
autora destaca três aspectos importantes na análise pragmática das interações sob a ótica
encontro social como metáfora de uma encenação teatral. Veremos, mais tarde, que os
trabalhos desse autor agregaram valores às demais correntes disciplinares que exploram
por Traverso. A corrente lingüística inspirada inicialmente por uma veia pragmática de
maneira pela qual os agentes sociais agem uns sobre os outros através da utilização que
ação que se exerce mutuamente entre duas ou mais coisas, ou duas ou mais pessoas;
diversas definições para interação verbal, que pode ser expressa, porém, de diferentes
modos. Para Vion (1992, apud Cosnier In: Charaudeau e Maingueneau, 2006, p.281)
recíproca que os participantes exercem sobre suas ações respectivas quando estão em
presença física imediata uns dos outros. Kerbrat-Orecchioni (1990) sintetiza a definição,
todo emissor ao ouvir sua própria emissão coloca-se de forma involuntária, mas
automaticamente no papel de receptor. Por sua vez, o receptor pode, apenas valendo-se
Entendemos melhor, desta forma, porque Philips (2002, p.21) atesta em seus estudos
construção do discurso. Diz ela: “toda mensagem, pelo menos dentro de um contexto
uma noção passiva. Além do trabalho interpretativo e regulador que lhe cabe, nas
todo o conjunto semiótico, onde a expressão mimo-gestual tem atuação contínua e co-
desta teoria:
interpretação divergente entre os interlocutores, e por essa razão, sua ocorrência pode ou
não suscitar negociações; mas não concordamos, que ele se traduza no resultado de
falantes, os mesmos podem assumir estratégias que venham atenuar ou anular o mal-
Na França, a lingüística interacionista teve sua origem como uma natural conseqüência
estudo cada vez maiores pela Análise do Discurso. A teórica lingüística dos Atos de
autores ampliam a noção de valor performativo, em que o ato proferido realiza a ação
por ele denominada, ou seja dizer “eu prometo” implica prometer. Eles admitem que
todo ato possui um valor ilocutório que pode representar uma pergunta, ou uma ordem,
acreditamos que a não percepção do valor ilocutório por um dos falantes colabore na
discursiva:
ações realizadas, decorrentes das trocas discursivas. Se entendemos interagir como agir
como um tapete bordado a duas mãos, ou até mais, dependendo efetivamente do número
cadeira, se o mesmo está tolerando bem os efeitos da medicação, pode ter como resposta
um sim ou um não verbalizados; ou pode ainda ter que interpretar o balanço vertical ou
mesma língua e cultura, o exemplo não parece nos apresentar grandes problemas
realizada entre um brasileiro e um grego, por exemplo, a opção pela resposta através do
com um sim por um brasileiro, ele carrega a simbologia de um não para um grego.
pois se naquele país temos a expressão de uma negação, nesse último teremos a
corriqueira entre falantes da mesma cultura, muitas vezes poderá dar margem à
entre falantes brasileiros e gregos, e tantos outros trabalhos atestados pelas pesquisas de
Kerbrat-Orecchioni (1994) 8.
8
“A sinonímia e a polissemia encontram-se em abundância no universo dos gestos. Nós somos mais
‘ligados’ a nossos gestos do que a nossas palavras – sem dúvida porque nós o fazemos de forma mais
inconsciente. Tomemos o exemplo da negação: que turista mesmo que advertido não se sente
desestabilizado por esses estranhos movimentos de cabeça que têm a reputação de expressar, na Grécia e
na Turquia, uma reação positiva (movimento horizontal) ou negativa (movimento de baixo para cima).
(Kerbrat-Orecchioni, Les Interactions Verbales, T3, p. 22, nossa tradução)
1.3.1. As interações verbais
natureza diversa como a familiar, entre amigos de muita ou pouca proximidade, assim
restrito e a segunda permite seu uso com um sentido mais ampliado, privilegiando
Nosso corpus foi dividido em três amostras: CLD, CPH e ACI, e apenas as duas
culturas brasileiras e francesas, julgadas pelos relatores como fontes potenciais para a
conversacionais: “as interações entre pelo menos dois falantes; a ocorrência de pelo
A seqüência mínima de dois turnos de fala foi denominada por Schegloff (1972)
de par adjacente. Marcuschi (2003) cita alguns exemplos de pares adjacentes ou pares
exatamente no terceiro turno, por uma auto-reparação, ou ainda no quarto turno, através
QUADRO 1
Auto-reparação Heteroreparação
A: turno que deu origem ao mal-entendido.Sua A: turno que deu origem ao mal-entendido.
fonte. Sua fonte.
B: encadeamento inadequado que deflagra a B: turno que pede ratificação da informação.
ocorrência de um mal-entendido. A: turno explicativo.
(percepção da divergência pelo menos p/ A.) B: turno de reparação do mal-entendido
A: auto-reparação do turno que deu origem ao percebido.
mal-entendido.
Em ambos os casos, a reparação é interpretada como inerente ao tratamento
fenômeno a uma única linha de encadeamento de ações, já que apesar das reparações
ocorrerem com freqüência no terceiro ou quarto turnos, as mesmas podem dar-se muito
mais tardiamente, ou ainda não ocorrer. Por isso, Traverso (2003) defende que a
Corroboramos a colocação da autora, tendo em vista que em nossas amostras nem todos
sociais, sendo muitas vezes impossível dissociá-las do material semiótico envolvido nas
através dos quais os agentes sociais podem interagir são extremamente diversos”. Tal
comunicativo e as regras de ‘cada um na sua vez’ dos jogos lúdicos; do mesmo modo,
nos cruzamentos, não passamos todos ao mesmo tempo, não ignoramos a ordenação
para andar nas calçadas ou a nossa vez nas filas de atendimento dos estabelecimentos
comerciais. Há interação por toda parte, verbalizada ou não, e quando focamos um olhar
mensagem em transmissão.
que podem ser estendidos tanto para as interações verbais quanto para as interações não
substituir um ato de linguagem de pedido, significando “venha até minha mesa, por
favor”, quando realizado, por exemplo, pelo cliente para o garçom. Assim como
campainha sobre o balcão. O que seria uma exemplificação do item de número 2 com a
exemplo para o primeiro caso a ação solícita do garçom ao puxar a cadeira para os
justificar a falta de lugar em um restaurante lotado ou, num hotel a justificativa do não
cumprimento de uma reserva, tendo que recusar estadia a um cliente. Finalmente para o
item 4, reconhecemos que um olhar de crítica para a iminente realização de um ato
considerado impróprio pode inibir o exercício dessa ação, provando que o olhar de
presente trabalho, essa temática, que exigiria por si só, uma pesquisa à parte. Sob o risco
de sermos negligentes, não pudemos, da mesma forma, ignorar por completo a atuação
de algumas interações não verbais, ou ainda, de alguns componentes não verbais que se
analisados. Tais considerações nos impuseram uma revisão do estado da arte sobre as
definições deste fenômeno, buscando um conceito mais amplo para melhor adequação
dos casos coletados em nossas amostras. Recorremos, assim, à definição empregada por
Hérédia (1986, p.50) que situa o fenômeno do mal-entendido no meio do caminho entre
seguinte forma:
9
Entende-se, aqui, interação mista como aquela interação que apresenta a alternância entre ações verbais
e não verbais.
a. Em complemento aos sinais vocais e acústicos, que são representados por materiais
b. Sinais corporais e visuais: de natureza não verbal como a aparência física, composta
falantes são fortes potenciais de comunicação, até o silêncio como resposta pode ser
que pode sucedê-lo. Logo, a interação somente poderia ser entendida em contexto
específico.
ter motivos para supor que o destinatário irá utilizar o contexto que conduzirá à
constroem e manipulam alguns aspectos contextuais, sendo tais ações constitutivas das
atividades nas quais estes falantes estão engajados. Explica Martins (2002, p.94): “Na
dos enunciados, mas também na interpretação dos mesmos. Por isso pretendemos
qual atividade está sendo encenada, de qual sentido os falantes dão àquilo que dizem. O
enquadre que está sendo conferido à ação representada. O autor reitera: "Os enquadres
conhecimento como "as expectativas dos participantes acerca de pessoas, objetos, eventos
por isso, às vezes, entendidas como estruturas de expectativa. É certo que, como um
esquemas de conhecimento, quando diz que “todo enunciado carrega, além de seu
organização conversacional:
(Kerbrat-Orecchioni, 2005).
construção de uma moldura para este ‘quadro’ que significa ‘ir ao restaurante’. Somos
maior que abarca o enquadre ‘restaurante’. Somos capazes de realizar esta tarefa
estão intrinsecamente ligadas a esta ação, as quais já foram por nós concebidas e
mesmos falantes sobre o significado que eles atribuem a ‘menu’, veríamos que ele não
poder ser enquadrado na composição de uma mesma cena por interagentes de culturas
cardápio, para um francês esse mesmo termo tem a concepção de prato feito, como uma
construíram para ‘menu’ são divergentes. Tais divergências podem suscitar, por vezes,
construir este enquadramento com o auxílio dos esquemas de conhecimento dos quais
dispõem em suas culturas. Por isso, Rodrigues Junior (2005) diz que a leitura do
figuração, definido por Goffman (1967) como todo o trabalho realizado pelos falantes
com o intuito de proteger suas faces durante a interação. Representado pelas posturas
justifica seu estudo na presente pesquisa. Concordamos, desta forma, com Gumperz
Parece-nos que todos estes fatores tornam-se ainda mais particularmente latentes
falantes. Olhares voltados para esse problema não são uma preocupação de pesquisas
recentes; Sapir (1925 apud Ribeiro & Garcez, 2002, p. 21) postulou que em diferentes
culturas “não são os meios comunicativos que diferem; é a forma de sua organização
Gumperz (1982) chega a ser taxativo quando afirma serem críticas e quase
pouco mais este ponto de vista, porém não chega a discordar totalmente quando diz que
“para produzir e sustentar uma conversação, duas pessoas devem partilhar um mínimo
Nosso trabalho não caminha para o lado contrário deste raciocínio, pois
dar nos mais diversos tipos de interação, não somente em comunicação intercultural.
2. O MAL-ENTENDIDO E A POLIDEZ
mútuas que os falantes exercem uns sobre os outros. É, sobretudo, avaliar o contexto
comunicativo mais amplo em que esses falantes encontram-se inseridos. Sendo assim,
Tais regras têm como principal função preservar o caráter harmonioso da relação
Não há como apresentar teorias da polidez sem dar a ênfase devida ao trabalho
diferentes percepções teóricas (Lakoff, 1973; Leech, 1983; Brown e Levinson 1978,
princípio é de que toda comunicação é regida por um processo cooperativo dos falantes,
conversacionais griceanas: seja polido. Esse princípio é constituído por três regras:
a)formalidade (não se imponha); b)hesitação (deixe seu interlocutor decidir) e
Outra importante contribuição sobre o tema foi dada por Leech (1983) que
e)acordo e f) simpatia.
Tanto Lakoff quanto Leech mostraram que suas máximas de polidez são
prioritárias. Por isso acreditamos que alguns mal-entendidos também possam ser
falante. Por isso, uma grande diversidade de máximas conversacionais admite uma
pode ser impolido para ‘uns’ não o será, necessariamente, para ‘outros’.
distintas.
10
As obras Les interactions verbales desenvolvidas em três tomos, cuja referência bibliográfica encontra-
se na presente tese.
chamados atos ameaçadores da face de Brown e Levinson (1987), que por sua vez
face como a auto-imagem pública, a linha de conduta do indivíduo julgada por ele e os
teorias da polidez. Para Brown e Levinson interagir é lançar-se num estado constante de
ameaças, ora ameaçamos, ora somos ameaçados através dos FTAs. Dessa visão
apresentação de um modelo analítico que mescla a atuação dos FTAs com outros atos
aduladores à face, batizados pela autora de FFAs. Os FFAs atenuam as ameaças dos
negatividade ao qual ele está atrelado, já que sua ocorrência sugere ‘desvios’ na
averiguar o quão produtiva pode ser sua interferência, tendo em vista a possibilidade de
conceito de elaboração das faces goffmaniano, assim como aos FFAs e FTAs definidos,
de forma cooperativa, Grice (1975) cria o Princípio da cooperação, no qual postula que
a) Máxima de qualidade: que sua contribuição seja verdadeira, não afirme o que você
b) Máxima de quantidade: seja informativo como requerido, que sua informação não
implicatura se traduz, então, como uma inferência sobre a intenção do falante. Segundo
Grice, para que a presença de uma implicatura conversacional seja percebida pelos
falantes, alguns itens devem lhes ser acessíveis e esses falantes acreditam que tais itens
são, em geral, burladas durante a conversa; se esta burla ocorre, produz-se uma
máximas não são tidas por Grice como violações reais, mas consideradas como uma
implicatura. Por isso, Oliveira (2002) diz que cabe às implicaturas recuperar a força
quantidade, por acreditar que seu interlocutor inferirá uma informação não explicitada
na mensagem. O que este falante desconsiderou foi o fato de que seu interlocutor não
tinha acesso à informação ‘inferida’ por não partilhar uma determinada competência
que haja a inobservância, por parte do emissor, da 4a exigência descrita por Goffman
sua ‘imagem’ própria; buscando ainda o respeito e reconhecimento do(s) outro(s) numa
interativo o indivíduo assume uma linha de conduta, através de atos verbais e não
verbais, que expressam seu ponto de vista sobre a situação em questão, o seu
[...] o valor social positivo que cada indivíduo requisita para si,
através da linha de ação que os outros supõem que ele adotou no
decorrer de um determinado contato. A face é uma imagem de ‘si
mesmo’ delineada por certos atributos sociais aprovados, embora
possa ser partilhada com os demais, quando por exemplo, podemos
transmitir uma boa imagem de nossa profissão ou de nossa devoção
dando uma boa imagem de si. (GOFFMAN, p. 9, 1974, trad. nossa)
de face, já que todo indivíduo apresenta uma resposta emocional imediata no contato
com o outro. Expressões como ‘ele foi desmascarado’, ‘ficou com a cara no chão’, ou
‘provou que não tem duas caras’ ilustram o quanto o conceito de face está envolvido
afetiva à face.
Há que se admitir que o julgamento dos outros, assim como o nosso próprio
suas faces, cuja realização torna-se uma condição para toda interação. O sociólogo
lembra, ainda, que são as regras do grupo e a definição da situação que determinam o
grau do sentimento ligado a cada face e a concordância desse sentimento por todos.
envolvidos com as faces. Enquanto para os brasileiros Madame Laura não recebe
ou ainda de Madame Laura como falam os cariocas 11, para os franceses seu uso pode
ser constrangedor e até ofensivo, já que Madame seguido do primeiro nome refere-se
para estes à dona de um bordel, a senhora que não é casada, que não recebeu o
lingüísticas individuais nas ações interativas. Isto se deve ao fato de que mesmo não
Faz-se, então, a pergunta: Como os falantes usam a linguagem para mudar a situação de
11
Pronome de tratamento comumente utilizado pelos porteiros e pelos feirantes, no Estado do Rio de
Janeiro, para dirigir-se à mulher na condição de ‘patroa’. A forma de tratamento é nesses casos marca de
status privilegiado, faz referência ao prestígio do poder econômico-social na relação interpessoal em jogo.
restrição em que eles se encontram sem transgredir regras de polidez, e preservar, ao
Brown e Levinson (1978, 1987) parecem, de alguma forma, ter refletido sobre
1 . O indivíduo adota uma linha de conduta, que corresponde a uma imagem pública,
que ele acredita estar em conformidade com as expectativas dos outros indivíduos em
2. No decorrer da interação, o indivíduo tenta manter essa linha de conduta, para que
não venha a sofrer uma perda simbólica: ‘perder a face’ perante si mesmo e os outros.
3. Para Brown e Levinson (1978) cada indivíduo possui duas faces: a face positiva e a
4. Em toda interação que conjugue atos verbais e/ou não verbais, em que estejam
envolvidos pelo menos dois falantes, temos em potencial uma situação ameaçadora para
as quatro faces presentes. Daí a noção de Goffman para ‘face want’: os indivíduos
desejo. Tanto Goffman quanto Brown e Levinson trataram desta contradição. Goffman
expressão original inglesa face-work. O trabalho de figuração representa tudo o que uma
pessoa possa fazer para não levar ninguém a perder a face, nem ela mesma. Também, é
face’. Ele constitui todos os mecanismos dos quais se valem os falantes para não
ligado às regras de polidez, que regem muitas de nossas ações no meio sócio-
interacional.
veio a ser conhecido como o modelo “B-L” da polidez, cuja definição é um compêndio
Acts, os FTAs. A partir daí, Brown e Levinson fazem um inventário dos diferentes atos
processo interativo:
QUADRO 2
Devemos levar em consideração, que alguns atos ameaçam mais fortemente aqueles que
os realizam, assim como outros acabam sendo mais perversos sobre aqueles que sofrem
a ação. Aquele que ‘promete’ algo se põe em situação delicada, ameaçando sua face
negativa, pois terá que empreender um esforço para cumprir a promessa feita. Já no caso
de uma ‘crítica’, será o criticado a pessoa posta em evidência na interação, o que terá a
ameaçador à face positiva do outro. Sua ocorrência deflagra a não realização pelo
categoria. A pergunta, por exemplo, ao mesmo tempo representa uma ameaça à face
que tenha de decidir entre a realização de um FTA que ameace a face de seu interlocutor
e o desejo de preservação de sua própria face. Caso o falante decida-se por realizá-lo,
peso que um FTA possui na interação em jogo. Para se dimensionar esse peso devem-se
Wx = D (F1,F2) + P (F1,F2) + Rx
a distância social (D) entre os falantes envolvidos, a relação de poder (P) estabelecida
concierge como uma forma de obtenção de comissão, o que não correspondeu ao que
de uma situação profissional que o mesmo interpretava como uma tarefa cotidiana de
trabalho. Interpretamos que o resultado do peso (W) obtido na realização deste FTA foi
alto, tendo em vista a distância significativa das variáveis P e D e o peso atribuído para
No caso das interações interculturais, duas variáveis (R) estão em questão, pois
um FTA não receberá, necessariamente, a mesma atribuição para seu grau de ameaça
empregada na preservação das faces numa dada sociedade. Ou seja, caberia nesses casos
cultura, pois como vimos são outros fatores que as determinam. Para a especificação, no
por exemplo, as que estudamos entre brasileiros e franceses, deverá haver uma variável
(R) para representar o teor de risco atribuído ao FTA em cada cultura (CF1 e CF2)
envolvida.
cultura de seu interagente. Esse desconhecimento ou essa inobservância pode gerar mal-
entendidos, já que cabe ao falante escolher a estratégia mais apropriada para a situação,
seja através do uso de reparações, de implicaturas ou ainda da não realização do FTA
em questão.
vulnerabilidade é justificada pelo risco mútuo de ameaça às faces e por sua conseqüente
relação com dimensões afetivas envolvidas numa dada interação. Por isso, Brown e
culturas dentro de uma mesma sociedade, podem ser evidenciadas através de seu ethos,
sociedade.
simbólica das mesmas. A autora afirma que a perda das faces é tão fortemente marcada
das faces, nem tão pouco condicioná-lo a sentimentos como o embaraço, a vergonha, a
No entanto, tal fato pode ocorrer como nos permitem admitir alguns exemplos do
polidez.
representar uma ameaça às faces dos interagentes. Seriam alguns casos conseqüentes de
análises estão comprometidas com o desenvolvimento dessas questões e para que isso
Kerbrat-Orecchioni (1996).
Orecchioni (1992) ratifica sua produtividade na análise discursiva, mas critica o caráter
aos FTAs. Nessa perspectiva os falantes produzem atos para abrandar a força de um
no quadro 3 a seguir:
QUADRO 3
ambos os casos estes atos funcionam como uma tentativa de abrandar a ação de um
A polidez positiva realiza ações valorizadoras tanto para a face negativa quanto
pelo ato de presentear e no segundo caso pela ação de elogiar. Por essa razão, Kerbrat-
produtiva.
polidez positiva podem dar margem a interpretações divergentes entre os falantes. Isto
deve-se ao fato de que até uma ação tida como lisonjeira numa dada cultura não terá
necessariamente a mesma percepção em outros meios culturais diferentes. Trazemos à
baila, mais uma vez, a discussão sobre o ethos, cuja definição empregada por Kerbrat-
Orecchioni (2006) difere um pouco daquela empregada por Brown e Levinson (1978).
assumir um ‘perfil comunicativo’ mais caloroso ou mais frio, mais suscetível ou mais
indiferente às ofensas 13. Por isso, entendemos que mesmo um enunciado ou gesto
utilizado com o intuito de lisonjear a face do interlocutor pode nem sempre surtir um
efeito desejado, caso o tratamento para a modéstia seja muito discrepante nas culturas
13
Kerbrat-Orecchioni(1994) desenvolve um trabalho consistente sobre o estudo do ethos diferente nas
sociedades, comparando perfis comunicativos de povos comunicativos vs povos debilmente
comunicativos, ethos de proximidade vs ethos de distância, ethos hierárquico vs ethos igualitário, ethos
consensual vs conflitual etc...
3. PARA ENTENDER O MAL-ENTENDIDO
visto que defendemos, aqui, sua natureza intrínseca ao discurso. No entanto, nem
sempre essa assertiva foi, ou é, consensual nas pesquisas dedicadas ao tema. Em dois
mil e três Laforest publicou que apenas há uns doze anos começou-se a rever a
entendidos. Porém, faz-se necessário esclarecer, que nossa opção pela análise do mal-
considerando sua característica de transversalidade, que ratifica sua presença nos mais
terreno pantanoso, já que não há como caminhar com segurança sobre o relevo da
cada nova peça agregada. Por isso, é tão apropriada a metáfora empregada por Lodge
(1991, p.46) que compara a conversação a um jogo de tênis com uma bola de massa de
modelar que ganha uma nova forma a cada travessia da rede. O falante da vez deixa
impressa sua contribuição e ao final do jogo, a forma modelada será resultante das
mal-entendido costuma ser inserido exatamente em uma posição mediana, assim como
mishearing, mispronounce, etc. Eles parecem apontar para algum desvio, não
atuais sobre o mal-entendido procuram explorar diversos fatores sobre o tema: suas
causas, sua tipologia, o tratamento dado pelo falante, suas influências sobre o discurso
em construção, e ainda seu parentesco com outros fenômenos conversacionais etc. Até
mesmo sua definição mereceu diferentes abordagens, como será exposto na seção
seguinte.
14
Trata sobre essas correntes lingüísticas: Kess e Hoppe, 1985; Berthoud, 1988; Trognon, 1988.
linguagem em uso numa dada cultura e/ou em situações interculturais. Destacamos as
fonético, sintático, lexical, semântico e pragmático (estando este último envolvido com
seguinte forma:
Vejamos a figura 1:
Figura 1: Ciclo de Negociação do mal-entendido adaptado de Bazzanella e Damiano (p.827,
1999).
SIM
SIM
TURNO DA REPARAÇÃO
NÃO
3b. A RECUSA
3.REAÇÃO DOS RECUSA FOI
INTERLOCUTORES COMPLETA?
SIM
ACEITAÇÃO COMUNICAÇÃO
FRACASSADA
SIM
“NOVO COMEÇO”
Não haverá reparação, caso o mal-entendido não seja detectado, porém se ao
contrário, ele for percebido pelo falante ou pelo interlocutor, um turno de reparação um
turno de reparação poderá ou não ser gerado. A reação dos interlocutores pode
promover uma aceitação ou recusa do reparo (passo 3). No primeiro caso, se a aceitação
não for considerada completa, ela poderá requerer um novo turno de reparação até que
certa flexibilidade, permitindo novas tentativas de reparos, ou ainda a recusa pode ser
• Edda Weigand
casos mais importantes, apresentamos a listagem que adaptamos da autora (1999, p.764-
766):
má-comunicação’.
expostos, justificando seu interesse pelo que chama de ‘uma definição padrão’ para o
concebido.
reconhecimento do propósito para o qual a língua foi utilizada. A autora afirma que é a
necessidade dos seres humanos de viverem e trabalharem juntos (por nós interpretada
ações dialógicas.
É por intermédio desse jogo de ações dialógicas que os participantes fazem uso
15
“[...] the key notion is not understanding, but coming to an understanding on an interactive level. Our
model of coming to an understanding in dialogic action games, therefore, has to accept or tolerate to a
certain degree cases of misunderstanding which are somehow inherent in the systematics of language
use.”
Weigand sustenta a definição para o mal-entendido padrão, considerando que o
tudo é dito’.
• Marcelo Dascal
Para dar início à análise de um mal-entendido, Dascal (2006) considera que todo
uma camada intermediária que dá conta das forças ilocucionárias sobre as quais não há
determinado mal-entendido. Alguns exemplos, analisados por ele, mostram que não são
raros os casos em que mais de uma camada é atingida. Nas palavras do autor:
por Fillmore (1976) em que a resposta errada dada a qualquer uma delas poderia resultar
enfim sua posição ao longo da conversação e o contexto comunicativo. Diz, ainda, que a
mal-entendido poderá surgir. Dascal afirma que é possível detectar a(s) camada(s)
cabíveis.
entendido por parte de B parece uma pré-condição para responder a qualquer uma das
e compreensão das implicaturas griceanas, visto que elas demandam um maior esforço
dos interlocutores para averiguar se realmente houve uma violação intencional de uma
das máximas.
“Verifique se há um mal-entendido”.
fala, ou ainda reforçar o trabalho de prevenção, são atitudes sugeridas por Dascal e pelas
medidas são tomadas em grande escala nas interações acadêmicas com o intuito de
falante.
mal-entendidos discursivos.
• Veronique Traverso
A autora (2003) faz uma minuciosa exposição daquilo que considera como
fenômeno.
quanto maior o tempo entre o turno que contém o mal-entendido e aquele que dá início
como pretexto para justificar uma ‘falta’ cometida de forma voluntária, a autora aponta
evitar uma interação conflitante; ou ainda reconduzir a interação à sua via quando o
primeira possibilidade temos o que a autora chama de ‘quase mal-entendido’ pois ele
abaixo, nossa adaptação para a listagem proposta por Lüsebrink (2003, p.140) das
O autor nos chama a atenção para o fato de que algumas vezes a defasagem entre
que esses ‘incidentes críticos’ são seguidos com freqüência de formas de reparação. Na
intercultural’/‘embrouillage interculturel’.
discurso.
com colocações da autora de que quanto maiores forem as diferenças entre as culturas
dos interlocutores, maiores serão as chances de ocorrer má-comunicação. Por sua vez,
mensagem não é percebida pelo falante-receptor da mesma forma que ela foi tencionada
diferentes.
Frustração; stresse
Atribuições falsas
(categorizações do problema comunicacional)
Utilização de estereótipos
como uma experiência estressante ao ponto de surgirem atitudes mais castradoras como
autor:
• Catherine Kerbrat-Orecchioni
define o mal-entendido como “uma defasagem entre o sentido codificado pelo locutor
(sentido intencional, que o emissor deseja transmitir ao destinatário) e o sentido
sentença, ignorando deliberadamente uma outra acepção para o enunciado, que pode
• Conhecer as regras gramaticais que estruturam uma língua, mas, sobretudo, ser
lingüística à competência comunicativa, esta última definida por Hymes (1984) como “a
entendidos. Isto se deve em parte ao fato de que os falantes têm interiorizadas suas
seus interlocutores como imprópria. A autora (1994, p.135) advoga que “os membros
de uma dada cultura são geralmente inconscientes das variações que afetam as
convenções comunicativas, por acreditarem que elas são universais [...]” Sendo assim,
4. Falhas na decodificação: é o mal-entendido que ameaça por dois lados; pode até
mesmo ocorrer mal-entendido sobre mal-entendido quando o problema comunicativo é
imputado a um domínio deficiente da língua ou interpretado negativamente em termos
psicológicos (má vontade, hostilidade, grosseria, obsequiosidade etc.);
única. Optar por trabalhar com o conceito de sua manifestação “padrão” (Weigand,
1999) ou com definições mais abrangentes (Trognon, 2003) não nos exime da árdua
Não foram raros os relatos do nosso corpus que ilustraram experiências de ‘enganos’ ou
falantes, às vezes, tomam as causas geradoras do fenômeno pelo próprio, como no caso
outros diversos ‘acidentes’ da comunicação, devido ao fato de todos eles não receberem
desenvolve uma pesquisa sobre a ironia como uma dessas associações equivocadas.
o fenômeno estudado.
3.2.1. O mal-entendido deliberado
entendido pode promover ou sustentar alguns conflitos nas interações, o que estimula
sua ocorrência deliberada por falantes que têm a intenção de inflamar a comunicação.
análise.
Expressão do latim quid pro quo 'uma coisa pela outra', o verbete qüiproquó
recebe três entradas no dicionário HOUAISS em sua versão on-line. A primeira acepção
expressão “Livre-nos Deus de um Quid pro quo; porque às vezes há erro nas drogas, e
segundo caso, temos a noção de ‘confusão’ criada por esse engano. O dicionário destaca
como exemplo: “o fato de eles serem gêmeos gerou um enorme qüiproquó.” A terceira e
resultante de se tomar uma idéia por outra e que dá lugar uma combinação casual das
este engano, formando-se uma confusão, sem que necessariamente tenha ocorrido
Claudia? -Não, eu sou a Telma. O que houve neste caso foi um engano e não um mal-
que inibe nossos instintos inconscientes é representada pelo superego e o ato falho
instintos. Realiza um ato falho o marido que troca o nome da mulher pelo da amante ou
sair: -Deixe o telefone da festa pra pedir vitamina C, não! Deixe o telefone da
farmácia... Sendo o primeiro exemplo bem favorável ao surgimento de qüiproquós na
3.2.4. O ruído
efeito acústico de articulação que não dependa dos órgãos ressonadores e não apresente,
por isto, vibrações harmônicas. 2. na produção dos sons lingüísticos, o som produzido
das consoantes, por oposição às vogais formadas de sons laríngeos modulados segundo
a forma da cavidade bucal.” Os casos aqui listados como ruídos não se tratam portanto
3.2.5. O estereótipo
(Amossy, 1991, 1997). Para Stangor e Schaller (1996) o estereótipo é definido como
uma crença sobre atributos típicos de um grupo e sobre o grau com que tais atributos
são compartilhados.
indica que os membros do ingroup (mesma cultura) tendem a ver-se e tratar-se de forma
mais favorecida em detrimento dos membros do outgroup (outra cultura), cujas
apreciações recebidas são sempre mais homogêneas. Os autores (2003, p.125) dizem
que “um aspecto bastante significativo das relações entre os grupos é a denominada
quais nutrem as vicissitudes das relações intergrupais. Por isso não é difícil entender
franceses e vice versa através da exposição de algumas apreciações feitas e até mesmo
Orecchioni (1994) e para Lüsebrink (2003) os estereótipos são muito mais uma
mesmos. Por isso, pretendemos verificar mais cuidadosamente sua atuação em nossas
amostras.
3.2.6. A ironia
pode ser esclarecida diretamente pelo conteúdo proposicional, mas através da tomada de
autoriza diferentes opções interpretativas que podem em alguns casos de não apreensão
Ela é o que Dascal (2006) define como “fenômeno através do qual, aquilo que
3.2.7. A gafe
A gafe se produz quando um falante diz algo que não deveria ter dito, seja por
que isto representa uma ameaça a sua face ou nos casos mais freqüentes porque ameaça
mal-entendido, por sua vez, pode representar uma ameaça às faces dos interlocutores,
de algo que não deveria ter sido verbalizado, mas foi, enquanto que o mal-entendido
pode se dar de forma potencial, nos casos em que o locutor impede sua realização ao
Parece-nos mais apropriado afirmar que as gafes estão muito mais ligadas ao fator
entendido, por sua vez, em alguns casos os mal-entendidos podem levar a gafes e
3.2.8. A impolidez
tomar o devido cuidado para não atribuir todos os casos ao mal-entendido. Entendemos
que a impolidez pode ser consensual, sem carregar desta forma qualquer traço de
divergências interpretativas. Quando, por exemplo, uma gerente de hotel francesa tratou
funcionário apreendeu a referência como alta ofensa. Sem entrar no mérito da dimensão
que tanto na França como no Brasil trata-se aqui de um caso de impolidez. Outro
do hotel para uma cliente francesa. A atitude do empregado foi interpretada pela cliente
impolida. Entendemos que este último exemplo ilustre uma discrepância do tratamento
da polidez nas culturas em contato, gerando interpretações dos atos verbais e não
verbais realizados de forma divergente. Ou seja, o que é polido numa dada leitura
cultural não será necessariamente numa outra, justificando a possibilidade de mal-
entendidos surgirem.
culturais próprios.
ocorrência de mal-entendidos.
incompreensão. A autora nos oferece uma definição mais abrangente em que o mal-
enunciado, ou a uma situação um sentido que lhe é próprio, mas que diverge do sentido
proporcionar.
Por essa razão, optamos pela formação de duas amostras: uma que reunisse
situações.
destaque dado a uma contextualização profissional específica dá-se tão somente por
privilegiada nas análises, ela será sempre um modelo para aplicação em outros diversos
CLD e CPH, mas um fato não programado surgiu no decorrer das gravações das
encontravam num contexto discursivo interativo face a face com outros falantes e nem
amostra CLD e nem na CPH. Em função da pertinência dessas apreciações, que também
necessariamente com a forma pela qual aquela sociedade descrita realmente é ou se vê.
identitária do ‘outro’.
ajudou a optar por trabalhar com um conceito mais abrangente para o mal-entendido
intercultural, privilegiando análises não somente das interações verbais, como das
brasileiros.
franceses em todo o corpus, pois as amostras vão privilegiar o contato desses falantes.
profissional, como também nos casos de contextualização livre, já que seria difícil ou
impossível estabelecer situações e ficar quase que à espreita de possíveis ocorrências.
Essa limitação tem suas conseqüências atenuadas pela revisão do conceito de mal-
entendido como elemento inerente à linguagem, já que desta forma, qualquer situação
no Brasil.
língua francesa e uma outra parte é diversificada, reunindo um grupo de pessoas que
competência lingüística variada, teremos desde aqueles que têm apenas noções do
idioma, que nos relataram com minúcias as interações alternadas pelo idioma e por
recorrência ao gestual, até aqueles que possuem um domínio bilíngüe. Para todos,
Os falantes franceses são minoria na amostra CLD, mas agregaram aos relatos
contato. As trocas interativas por eles relatadas são frutos de experiências vividas no
Brasil.
quadro 4 otimizarão o controle dos resultados obtidos nessa amostra. São elas: o sexo, a
vista nosso objeto de estudo estar focado sobre a produção da oralidade através da
conversação. Externamos ainda que seria impreciso, em tão curto tempo, graduar com
competência oral dentro de apenas três grandes grupos: o básico para os que possuíam
domínios mínimos em francês para o estabelecimento da comunicação e os demais
foram enquadrados nos níveis intermediário ou avançado (este último incluindo até os
realização dos atos em tempo real, ganhamos por não abdicar do contexto específico,
privacidade indireta, por tratar-se de gravações que preservam o anonimato tanto dos
às faces dos falantes envolvidos, mas não há como categorizar que toda ocorrência do
interpretam como uma situação desestabilizadora, que ameaça suas próprias faces e a
entanto, uma segunda ressalva a fazer: alguns funcionários, mesmo com autorização da
assertivas: ‘-Teve alguma coisa, mas não me lembro’; ‘- Não, tive mal-entendido com
hóspedes no hotel’; e ainda ‘- Não me recordo de nenhum mal-entendido’. Por mais que
16
A primeira solicitação por e-mail a uma Rede francesa de hotéis, localizada no Estado do Rio de
Janeiro, com a especificação de nossos interesses acadêmicos e com o pedido de autorização para as
gravações não obteve resposta. Após novas tentativas frustradas, decidimos nos hospedar no hotel para
viabilizar as negociações e a realização das entrevistas, que foram concedidas sob condição de manter o
anonimato da empresa e dos funcionários.
persistiram. Percebemos, então, nesses casos, a atuação de uma estratégia de
ambiente de trabalho envolve a exposição da face, por isso, muitos deixaram evidente,
reticente ao justificar-se com pouca convicção, que não estavam dispostos a encarar os
Nome: (facultativo)
Numeração da entrevista: (obrigatório)
Sexo F M
Nacionalidade Brasileira Francesa
Formação Fundamental ( )
Ensino médio ( )
Curso superior ( )
Pós-graduação ( )
Faixa etária: (20 a 25) (26 a 31)
(32 a 37) (38 a 43)
(44 a 49) (50 a 55)
(56 a 61) acima de 61( )
Competência lingüística: Básica ( )
Intermediária ( )
Avançada (até bilíngüe) ( )
LM( )
QUADRO 6
CARGO NO HOTEL:
o status profissional assumido pelo falante (no caso dos funcionários) na interação, pois,
sob a ótica do funcionário brasileiro. Tal solicitação reflete uma tentativa de construção
interações aqui são de natureza diversa. Há casos de interações verbais e de trocas mais
porém que esse nível precede o da verbalização e por isso seja extremamente importante
evidente quando percebemos que, durante o processo interativo, todo indivíduo faz uso
feitos por franceses que expuseram suas apreciações equivocadas da cultura brasileira
pelas experiências contrastivas ocorridas no Brasil. Não criamos para essa amostra uma
teremos a seguinte situação: todos os exemplos enquadram-se em apenas uma das três
características.
franceses nos forneceu uma diversidade de exemplos nas três amostras: CLD, CPH e
ACI.
pesquisados para que nos concedessem os exemplos da amostra CLD. Os exemplos que
diversidade das apreciações dos relatos coletados na amostra ACI nos impôs a criação
nas quais os fatos ocorreram e que descrevessem com a maior fidelidade possível as
QUADRO 8
ainda algumas convenções de sinais sugeridas por Marcuschi (2003) expostas abaixo,
uso de cores para sanar nossas restrições. Eles respeitam, então, as indicações seguintes:
nas duas amostras. Por isso estabelecemos um controle individual para cada
entrevista 20 que tem cinco mal-entendidos relatados, receberá para o primeiro relato a
marcação de 1º, para o segundo teremos 2º e assim sucessivamente 3º, 4º e 5º. Em todas
QUADRO 9
ENTREVISTA nº 20 ACI
R005
o
N total Nacionalidade Faixa etária Sexo Escolaridade Competência
de Lingüística
relatos
O início dos demais relatos feitos durante uma mesma entrevista será sempre
marcado por uma tarja que controla a sua ordenação na segunda coluna.
contextualização diferente.
Em cada novo relato do mesmo falante, a tarja marcará o número da entrevista,
o número do relato e uma sigla representando em que amostra ele foi classificado.
Apenas duas entrevistas foram passadas por escrito (entrev.2 e entrev.23 da CLD); , e
uma entrevista (entrev. 22 da CLD) foi retirada de um relato concedido à revista Boa
empregada.
A autora apresenta o fenômeno como uma ilusão temporária ou permanente (nos casos
palavras, aos enunciados e ainda às situações interativas um sentido que lhe é próprio,
mas que divergente daquele empregado por seu interlocutor. Nas palavras da autora « o
fenômeno está sendo manifestado nos exemplos postos em evidência. Será importante a
ocorrência com o mal-entendido, ou ainda nos casos em que eles promovam ou sejam
Para dar andamento à análise, tão logo tenhamos separado os casos de mal-
ESQUEMA 1
Mal-entendido Intercultural
constatamos que às vezes elas recebem tratamento teórico diferenciado por alguns
pesquisadores. Alguns autores definem a fonte de um mal-entendido, separadamente, de
suas causas, dando à primeira a tradução dos objetos sobre os quais um mal-entendido
tempo e finalidade) e à segunda a definição dos fatores que favorecem sua aparição
(Traverso, 2003). Outros autores parecem ter unificado os conceitos de fonte e causa:
‘gatilhos’.
Orecchioni (1994, 2006), tendo em vista que esses autores priorizaram os casos de mal-
indícios de ameaça às faces dos falantes e quais são seus efeitos sobre a interação. Para
Traverso (2003).
ESQUEMA 2:
No
ethos
Apesar de Kerbrat-Orecchioni (1994, 2006) e Lüsebrink (2003) conferirem aos
2, entre suas causas promotoras. Acreditamos que quando os falantes realizam seus
sociedade A a uma dada sociedade B, na maioria das vezes, não correspondem à visão
inverso for proposto. Por isso, acreditamos que, enquanto o falante não reavaliar a visão
estereotipada que ele construiu do outro, tentando realmente enxergar que existem
(2003), nós cremos que a interiorização desses estereótipos pelos falantes e sua
manifestação nas interações possam atuar como causas promotoras de novos mal-
exemplos do corpus.
III – ANÁLISES
artesanal. O falante ambientou a situação chamando a atenção para a forma gentil com
em exposição para ele e seu irmão que o acompanhava na viagem pela Europa. A
interação. O falante nos relata que o pão que ele escolheu era enorme e ele pretendia
colocá-lo em sua mochila para lanchar mais tarde durante uma viagem de trem. Seu
irmão pediu então ao padeiro que cortasse o pão para facilitar sua arrumação na
18
tipologia lexical, já que é o uso do verbo ‘partir’ que parece promover o mal-entendido.
Trata-se de um falso cognato, pois partir em português pode ser empregado para
representar a ação de ir embora ou a ação de cortar, enquanto que em francês seu uso
está restrito ao ato de ir embora, de deixar um local, ausentar-se por um período mais
influenciado pelo uso do mesmo verbo em sua língua materna. A partir desta
como uma pausa como resposta inicial não verbalizada funcionaram como uma
é possível, tava super simpático e de repente ele fez uma cara de mal-entendido.”
verbo partir por F2. A interpretação de fatores extraverbais foi decisiva tanto para
entendido, ao mesmo tempo em que esclarece para F1 a atribuição que F2 deu ao verbo
partir em francês, com o auxílio do gestual. A cena foi enquadrada da mesma forma por
venda para um e compra para os outros. A pausa expressa na linha 4 representa a dúvida
por F2. Se considerarmos que todos enquadraram a cena da mesma forma e levarmos
entretanto, que a representação das expectativas dos falantes acerca das trocas
interativas é feita por linhas pontilhadas para que fique caracterizada a impossibilidade
linha de ‘ações possíveis’ para simbolizar o processo interativo que objetiva vender o
_ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _
_ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _
efetiva conclusão da interação com a partida do cliente, nós acreditamos que em sua
interpretação o interlocutor F2 teria pulado pelo menos dois passos (3º e 4º) da
seqüência interativa hipotética sugerida no quadro 10, indo diretamente para o efetivo
desfecho (5º passo) da encenação. Qualquer verbalização que sugerisse ir embora com o
desconforto, interpretado, aqui, como uma potencial ameaça à face negativa desse
vendedor. Quando o F2 utilizou o verbo partir, ele não tinha consciência alguma de
compreender de imediato qual a interpretação dada ao mesmo verbo por seu interlocutor
F1. No entanto F2 percebeu sem dificuldades que seu cálculo interpretativo diferia
tinha ficado explícita para ambas as partes. Neste exemplo analisado, após a reparação
Há casos em que o mal-entendido não chega a tornar-se tão evidente para todas
as partes envolvidas, principalmente quando o tempo entre sua realização e sua tomada
falante brasileira relata um fato ocorrido em uma loja da Galeria Lafayette em Paris. A
cena se passou quando ela se dirigia a uma vendedora para pedir uma ficha que lhe daria
uma pergunta direta fez com que F1 desenvolvesse uma interpretação de negação. A
19
que minha primeira interpretação do absolument foi como uma negativa. Mesmo muito
pouco à vontade eu peguei o papel pra preencher porque o gesto afirmativo que ela fez
interpretação, não tenho como afirmar categoricamente se ela percebeu tudo, mas com
por uma das partes. Ao mesmo tempo, notamos também que a reorganização da
pergunta por F1: ‘Je peux prendre la fiche avec vous?’ no 5º turno de fala, assim como
uma leve pausa antes de pronunciá-la, pode ter chamado a atenção de F2 para a
como uma dúvida restrita ao fato de F1 estar se dirigindo ou não à interlocutora correta.
Nesse caso o gestual foi fundamental para a elucidação da mensagem durante a troca
discursiva, ou seja, sua reparação para F1. Não houve divergência quanto ao
enquadramento da cena, para ambas as partes ela representava um ato de fala de uma
pergunta, onde caberiam basicamente uma afirmativa ou uma negativa como resposta.
Uma possível imprecisão na competência lingüística de F1 aponta para uma das causas
dimensão dos efeitos causados por este mal-entendido na interação. Ou seja, a autora
acredita que “quanto mais tempo tiver passado entre o turno que contém o elemento
exatamente esse árduo trabalho exercido pelo falante para a reparação de um mal-
entendido que teve a percepção mais tardia de sua ocorrência. Trata-se de um rapaz que
nessa República todos os moradores dividiam a execução das tarefas domésticas e que
fazia parte das regras do local a responsabilidade individual de lavar a louça que
sujasse. A cena se passa no momento em que o falante brasileiro estava na cozinha com
uma panela que havia sujado e fazia parte do cenário uma pia cheia de pratos e panelas
sujas, quando entra a falante francesa a procura de uma panela para fazer pipoca e inicia
a conversação. Vejamos:
20
“Plus le temps aura passé entre le tour contenant l’élément source et l’ouverture d´une réparation, plus
la tâche risque d’être ardue’’. (TRAVERSO, 2003, p. 100)
21
Caçarola: (do fr. Casserole) S. f. Panela de metal com bordas altas, cabo e tampa.
Casserole: (nom féminin) Récipient de cuisine à hauts bords et muni d'une queue, destiné à faire
22
chauffer la nourriture.
eles concebem no dia a dia como uma caçarola(casserole), nós veremos que as imagens
construídas para esses objetos não se restringem às descrições de suas entradas nos
22
Recipiente de cozinha com bordas altas e munido de um cabo, destinado a cozinhar alimentos.
ter assumido uma flexibilidade maior de formatos através de seu uso contextualizado.
Por exemplo em ambas as culturas em questão as panelas com alças também são
concebidas como casserole, no entanto percebemos que são os falantes, através do uso
no Brasil e na França:
QUADRO 11:
“Procurei a caçarola e a vi, sim, suja, mas não por minhas mãos. Eu só conhecia poucas
palavras de cozinha em francês (...) e abrangência de casserole não era uma delas.
Até o falante perceber que o que ele concebia como casserole não coincidia com
consultado o dicionário e, literalmente, morri de vergonha. Logo eu, que tento sempre
A ocorrência deste caso de mal-entendido mostra que F1 teve sua face negativa
através do 12º relato. No primeiro exemplo temos um grupo de brasileiros que estavam
ao supermercado e levaram para casa o vinho que lhes pareceu conveniente. Ao abrirem
e beberem o vinho, todos acharam o gosto horrível e nesse momento chega um amigo
o relato de uma brasileira e uma francesa que conversavam durante uma dinâmica de
cenas:
Reconstrução da cena. 23
1. F1: _Mais qu´est-ce que c´est ça ? Qu´est-ce que vous buvez ?
2. mais ça c´est du vin de table !
3. F2 : _Mais c´est... c´est le vin On veut boire un vin doux sucré
4. c´est pour ça mais c´est terrible on ne sait pas pourquoi.
5. F3: C´est, c´est ce n´est pas bon.
6. F1: Bien sûr. Vous buvez un vin de table. Le vin de table c´est
7. pour faire la cuisine ce n´est pas pour boire.
8. F2: Mais Au Brésil les vins de table c´est pour boire.
9. F1: Mais c´est pas possible et...Mais je ne crois pas vous buvez
10. du vin de table ! Ça c´est pour faire la cuisine.
11. C´est pas possible.
23
Reconstrução da cena. 24
1. F1: _ Tu as dit que tu habites à Lyon ?
2. F2 : _ Oui c´est ça. Et toi tu viens d´où ?
3. F1 : _ Je suis du Brésil.
4. F2 : _Brésilienne ? Superbe. _Combien d´heures de vol ?
5. F1 : _ Dix, onze heures à peu près.
6. F2 :_ Qu´est-ce que tu attends de ce cours de théâtre ?
7. F1 : _ J´aime le théâtre, mais tout ça c´est très nouveau, Je
8. suis un peu anxieuse pour commencer.(visage content)
9. F2 : _ Anxieuse ?... Non, non. tu veux pas dire anxieuse.
10. F1 : _Oui, tu sais il y a beaucoup d´expectatives sur ce cours.
11. F2 : _ Oui je comprends mais je pense que tu veux dire que
12. tu as hâte de commencer. L´anxiété est très forte, très négative.
Tu dois dire que tu as hâte de commencer le cours.
24
semântico no segundo. O fator principal para distinção dos dois fenômenos é que no
outro: vin de table por vinho suave, como no Brasil. Já na entrevista 19, vimos que a
condizia com a conotação da palavra anxieuse para os franceses. Neste último caso, o
pronunciar anxieuse e por isso ele dá iniciou, nesse mesmo turno, ao processo de
reparação, e por sua vez, F1 ainda tenta replicar, no 9º turno, mostrando-se submersa em
tenham promovido esses fenômenos conversacionais. Não pareceu ter havido neste caso
Reconstrução da cena 25
Reconstrução da cena 26
1. F1 :_Qui veut acheter des billets pour Richard III ? (fala brincando para as
2. pessoas da fila).
3. F2 :_J’ai une idée superbe, au lieu de vendre les billets, on peut faire la pièce
4. nous même. _On va faire la pièce de la queue !
5. F1, F3, F4: _ Nonnn!(elas gritam e riem)
25
1.F1:_Eu te desejo uma boa viagem.
3.F1: _Bom então, eu te desejo uma boa viagem.
4.F2:_Não, espera ah... Tenha uma boa viagem(usa o souhaiter) porque desejar em francês tem
uma conotação sexual.
6.F1:_Bom tudo bem, porque em português não é assim, a gente pode desejar uma boa viagem.
26
1.F1:_Quem quer comprar as entradas para RicardoIII?
3.F2:_Tive uma ótima idéia, ao invés de vender as entradas, nós podemos fazer a peça nós
mesmas._Vamos fazer a peça da fila! (conotação de pênis).
5.F1, F3, F4: _Nãaaao!
6.F2: Sim, a gente vai fazer a peça da fila!
7.F1: Não, Joana!
8.F3: Isso pode ter uma outra interpretação.
9.F2: O rabo do animal?
10.F3: _Não, o do homem.
12.F2: _Ah não, eu não sou culpada se vocês franceses mudam o lugar das coisas, o rabo fica atrás, não
na frente.
6. F2: _Oui on va faire la pièce de la queue!
7. F1 : _Non, Joana!
8. F3 : _Ça peut donner une autre interpretation..
9. F2 : _La queue de l´animal?
10. F3 : _Non, de l´homme. (Ela fez um gesto apontando para a posição do
11. órgão sexual masculino)
12. F2 : _Ah non ! Mais je ne suis pas coupable si vous les français modifient le
13. placement des choses, la queue c´est derrière, pas avant. (risos)
Reconstrução da cena 27
1. F1 : _Et alors, Jean a été un bon guide ? Tu as aimé la promenade ?
2.F2 : _ Ah adorei !! _Jean m´a donné beaucoup de plaisir!! {{Jean ri muito}}
3.F1 : _Como?!!! Eu saio de casa e você vai dormir com meu marido? Assim
4. não dá!! {{tom de brincadeira}}
5.F2: {{Corei de vergonha}}
Os três exemplos acima expostos parecem ter tido uma causa comum que é a
denuncia que F1 também ignorava o emprego do vocábulo queue para o órgão sexual
donner plaisir no lugar de faire plaisir. Os três casos sofreram heteroreparação com a
fenômeno manifestado.
capaz de ter compreendido a lógica de raciocínio empregada por F1. Por isso, atestamos
curto do que no primeiro exemplo. Pois não houve demonstração, pelo menos através
reação de F1, F3 e F4 no terceiro turno: nada impede que, em meio à negação e ao riso
dessas interlocutoras, alguma delas tenha pensado que F2 usou a palavra queue sabendo
de sua possível referência ao órgão sexual masculino. Se esse foi o caso, então houve
propicia. Optamos pela primeira hipótese, visto que o grau de informalidade entre as
amigas e o mesmo enquadramento das cenas pelos interactantes: “brincadeira numa fila
de espera para o teatro” dão margem à F1, F3 e F4 pensarem que F2 empregou queue
ciente da abrangência do seu campo semântico. Esses fatores são provas contextuais que
na língua francesa. Sendo assim, este último caso não ilustra um mal-entendido, pois
que parece ter ocorrido neste caso foi uma gafe cometida por F2, que externa no 4º
turno o comprometimento de sua face e o seu envolvimento emocional após sua tomada
assustadíssimo pra falar a verdade e ele explicou a ela que o désirer implicava uma
F2 a dar explicações que ele não estaria necessariamente disposto a fazer, mas se viu
pode ter sido mal-interpretada e ainda de que cometeu uma gafe: “numa tentativa de
esconder o vexame, eu lembro que falei alguma coisa parecida com...” F2 ironiza a
cena, no 9º turno de fala, numa tentativa de reestruturar sua imagem ameaçada pelo
mal-entendido.
que ilustra uma cena ocorrida dentro de um trem bastante cheio, no fim de tarde, no
vago na janela ao seu lado, quando uma francesa aproxima-se e dá inicio a interação.
interessante por ilustrar trocas interativas com dois pares adjacentes formados por
componente verbal e não verbal. O exemplo parece reunir duas importantes causas para
sua promoção. A primeira revela variações na regra de polidez entre as duas culturas em
pedido, através de um ato de fala indireto ao solicitar a passagem para ocupar o lugar
vago ao lado de F2. Ao pronunciar _Ça vous dérange Madame? ou _Je vous dérange
28
1.F1:_ Incomodo Senhora? (forma polida de pedir: _Poderia passar por gentileza, Senhora?)
3.F1: _Estou incomodando Senhora?
Madame? F1 pedia passagem de forma polida e F2 teve dificuldade para entender o ato
de linguagem como um pedido, levando algum tempo em seu cálculo interpretativo para
atribuir sentido ao que compreendia como uma pergunta. Essa reflexão marca a
Alguns trechos da entrevista concedida por F2 ratificam nossa análise: “Aí eu fiquei
assim tão estatelada [...] ela falou dessa forma tão educada que eu não esperei. [...] Eu
acho que deve ter um momento do cérebro que você dá conta daquilo, né. [...] mas o
meu cérebro deve ter tido o momento de entender que ela não ia me tirar do lugar. Que
ela não queria me empurrar pra janela. Mas o je vous dérange Madame é é eu vou te
mal-entendido quanto para sua elucidação. Por isso Hérédia (1986, p.50) afirma que o
mal-entendido contém, por vezes, em sua origem os elementos para sua resolução.
interpretação passa a representar uma ameaça a sua face negativa. Com a percepção e
faces.
Entrevista nº 8 , relato 2.
F1: falante brasileira. (compradora)
F2: falante francês (vendedor da feira).
Reconstrução da cena 29:
1.F1: - Je veux des kilos de pommes de terres.
2.F2 : - Combien ?
3.F1 : _Je veux des kilos de pommes de terres.
4.F2 : _Combien ?
A segunda cena é presenciada por uma colega de viagem, no momento da compra
Entrevista nº 8 , relato 3.
F1: falante brasileira.
F2: falante francês (vendedor).
F3: falante brasileira. (a entrevistada)
Reconstrução da cena 30
1. F1 : _Je veux savoir les [OrEy] du train ?
2. F2: _Oreilles ? (aí ele apontou pra orelha né)
3. F1 : _Non, les [OrEy].
4. F2 : _ Non, oreilles c´est ça. (apontou pra orelha)
5. F3 : _ NON ! les horaires.
6. F1: _ Ahhhh c´est bon.
29
Percebemos que nos três últimos exemplos expostos houve uma falha na
que F1 pronuncia [de] no lugar de [dØ] e [OrEy] ao invés de [ORER], o que caracteriza a
31
1. F1:_Custa quanto?
2. F2: _Cento e dezenove euros.
3. F1: _Pode abaixar o preço, por favor?
4. F2: _Não posso. Não é possível.
5. F1: _Reduza, por favor!
6. F2: _Setenta!
7. F1:_Só cem, por favor!
maiores conseqüências na interação, visto que a compra objetivada parece não ter
efeitos causados por este mal-entendido. Percebemos mais uma vez que quanto maior
for este espaçamento de tempo entre o turno que contém o elemento promotor do mal-
entendido e a abertura de uma reparação maior poderá ser o risco de ameaça às faces
6º turno, F1 interpreta o _Soixante dix ! (70) de F2 como cent-dix (110). Ainda achando
o preço caro, F1 torna a pechinchar pedindo para que F2 abaixe o valor para cem (100).
F1 mistura sua língua materna (o português) com o francês, pedindo a seu interlocutor
que o preço fique só cent (apenas cem euros, só cem). Por sua vez, F2 não percebe que
fechado por sessenta euros. O mal-entendido só é percebido tardiamente por uma das
partes, no caso, por F1 que é também a relatora da entrevista: “Andei, então, até o caixa,
tentando ficar feliz. Afinal, 100 euros não era o melhor preço do mundo, mas era o que
eu havia pedido. Porém, ao conferir a nota, não acreditei: 60 euros. [...] O meu “só cent”
e o “soixante” (60) deles só poderiam significar a mesma coisa.” Neste caso, não houve
negativa ameaçada.
Vejamos agora o 1º relato da entrevista 20. A cena se passa no mercado durante
a compra de um presunto.
por F1 em sua tentativa de pronunciar o número dois em francês. Quando F2 realiza seu
cálculo interpretativo, ele testa sua hipótese, gesticulando com os dedos o que para ele é
32
1. F1:_ [do] gramas de presunto, por favor?
2. F2: _Como ?
3. F1 : _ [do] gramas de presunto, por favor?
4. F2: _Como ?
7. F2: _ Duzentos gramas?
8. F1: _Ah sim! Duzentos gramas !
falantes brasileiros e franceses não possuem o mesmo esquema de conhecimento para o
gestual de contar, utilizado por F2. A entrevistadora tece o seguinte comentário: “[...] os
franceses pelo relato da entrevistada eles fazem a partir do polegar. Então quer dizer
dava uma noção diferente do que a gente faz ao gesticular. Uma impressão de estar
apontando e não contando.” Em função dos fatores destacados, temos duas causas
e a diferença na comunicação não verbal. Mais uma vez constatamos que um fator
interpretativo: “Aí eu fiquei preocupada, confusa com aquilo né. Como é que o presunto
tá lá embaixo se ele tá aqui na minha frente. Era evidente que o presunto estava na
minha frente, mas ao mesmo tempo ela apontava pra lá, e... depois de muita insistência,
tanto da minha parte quanto da parte dela, eu vim compreender que o que ela tava
fazendo com aquele gesto era pra representar um dois... né...” F2 faz duas reparações do
diretamente - Deux cent grames? Não parece haver neste exemplo ameaça às faces dos
falantes.
11ª entrevista, o 1º relato da 15ª entrevista, 3º relato da 19ª entrevista e o 3º relato da 20ª
leitura na íntegra das entrevistas acima citadas. Não havia como transcrevê-las com
fidelidade, visto que elas representam interações em que o código não verbal é
predominante. Podemos comparar esses exemplos em vários aspectos, primeiramente
corretamente a cena interativa como sendo uma parada de pedágio, seu esquema de
cultura brasileira é interpretado como medo na cultura francesa. Assim como o 3º relato
da 20ª entrevista demonstra que gesticular com o braço esticado para que o ônibus pare
no ponto é uma prática brasileira, o emprego do mesmo gestual por uma brasileira na
França provocou um mal-entendido pragmático. O mesmo relato ilustra ainda uma outra
faceta desta prática brasileira de fazer parar os ônibus, quando revela que um francês
teve dificuldades para pegar ônibus por desconhecer o uso ‘código não verbal’. Tanto
auto-reparação. Em ambos os casos, não parece ter havido comprometimento das faces.
a cena por ela vivida. Para os franceses que compartilhavam com ela o vagão do metrô
parecia óbvio tratar-se de uma transferência rápida de metrô, para a brasileira todo o
sentimento envolvido na ameaça à sua face negativa: “Eu fiquei super assustada, morri
de medo. A impressão que eu tive naquela hora é que tava rolando um assalto e eu
distraída não tinha percebido. Eu fiquei gelada, eu tinha certeza que estava sendo
assaltada, uma espécie de arrastão no metrô, só que quando eu consegui ter alguma
reação de pegar minha bolsa e levantar o vagão já tava vazio. Só eu estava lá dentro.
Todos tinham corrido para a linha ao lado, para pegar um metrô que parou ao lado. Não
sei bem e o trem já tinha ido embora e eu fiquei sozinha no vagão, aí eu tive uma
mistura de relaxamento e vergonha. assim... por não ter entendido antes o que estava
acontecendo.”
receberam a mesma leitura para suas causas promotoras e seus efeitos na interação.
Entrevista nº 1, relato 1
F1: falante brasileiro.
F2: falante francês (garçom).
Reconstrução da cena 33
1. F1 : _ Je voudrais un coca et... deux bières.
2. F2 : _Et pour manger ?
3. F1 : _Rien.
4. F2 : _C’est un restaurant! _Vous devez manger, si vous voulez seulement boire
5. vous devez aller à ce bar lá!...(aponta para os bares ao lado)
Entrevista nº 6, relato 3
F1: falante francesa (vendedora).
F2: falante brasileira (cliente).
Reconstrução da cena 34
1. F1 : _C´est pour emporter Madame?
2. F2 : _Bon c´est pour emporter. (a vendedora entrega o doce, F2 abre o saquinho
3. não resiste e começa a comer o doce)
4. F1: _Non ! c´est pour emporter! Pardon, c´est pour emporter Madame.
5. F2 :_Non, mais... je veux manger maintenant.
6. F1: _Non vous avez demandé c´est pour emporter.
33
1. F1 : _ Eu quero uma coca e... duas cervejas.
2. F2 : _E pra comer ?
3. F1 : _ Nada.
4. F2 : _ Aqui é um restaurante ! _Vocês têm que comer, se vocês querem somente beber então
5. devem ir para esse bar ali...(aponta para os bares ao lado)
34
restaurante condiciona os clientes não somente a beber mas sobretudo a comer, para F1,
ângulo profissional, ele está ali a trabalho, para servir. Há diferenças também na
restaurante. Através dos seguintes trechos comentados por F1 percebemos que também
tem é que era pressuposto pra ele sabe. Se a pessoa entrou numa pizzaria ela tem que
que eu tenha que explicar o que é um restaurante, né! [...]é aquela questão você pode, eu
acho no Brasil, perfeitamente sentar na pizzaria, beber alguma coisa e aí lá pelas tantas
você decide que você vai comer alguma coisa [...]”. Os comentários seguintes
demonstram que elementos do contexto reforçam para F1 a idéia de que não estava
fazendo nada de errado, em não pedir nada para comer, parecia-lhe óbvio poder
escolher entre comer ou não, naquela circunstância: “[...] ainda mais assim que eram sei
lá cinco horas da tarde, sabe, sol do cão né?” Logo em seguida, ele declara-nos o
um processo de auto-reparação: “[...] E assim você via de fato depois que você vai
reparar você vê que todo mundo, que tava sentado tava lá com uma pizza, tava comendo
sabe então assim era um, uma outra prática diferente da nossa.”
defensiva (de preservação de sua face negativa) para o que interpretou como um afronte
de F1 dizer que não iria pedir nada. As estratégias de preservação das faces de um
entrevistadora pergunta a F1: - Como era o tom dele nesse momento? - Ele foi ríspido?
compreensão, em que o outro é visto como o jogador que quebra as regras do jogo
mesma leitura analítica. Para a falante F1 optar por comprar e comer no local ou
comprar para levar para casa é uma opção a critério do cliente, mas irredutível, pelo
menos deve-se notificar ao vendedor caso queira mudar de decisão, ou seja mudar as
comprar para levar (emporter) é mais rígida do que aquela construída por F2, na cultura
ferindo sua face positiva e sua liberdade de ação foi cerceada, atingindo sua face
comprador. Optar por levar e decidir comer no local sem que a compradora solicite
nosso corpus outros casos (entrev. 1, rel.2; entrev. 2, rel.1; entrev. 6, rel.2; entrev. 17,
rel.1 e entrev. 18, rel.1 ) que parecem apresentar comportamentos similares a esses dois
envolvimento afetivo que cada caso promove nos falantes envolvidos. Sugerimos, então
a leitura na íntegra dos exemplos acima citados, destacaremos dentre eles o seguinte
exemplo:
Entrevista nº 2, relato 1
F1: falante brasileira (cliente).
F2: falante francesa (vendedora).
Reconstrução da cena 35
6. F1 : _Pardon, Madame, est-ce que vous...?(é interrrompida por F2)
7. F2 : _ Madame faites attention la queue c´est là-bas.
8. F1 : _Mais Madame ! mais Madame !
9. F2:_Madame, c´est là-bas! (aponta para o fim da fila)
A cliente brasileira (F1) foi julgada como oportunista pela vendedora francesa
(F2), por querer uma informação sem ter que entrar na fila. No Brasil é conduta
rotineira ser mais tolerante com os que ‘furam a fila’ para fazer um breve
desejado, como no caso do exemplo. Na França para pedir uma informação deve-se
aguardar sua vez na fila. Iniciaríamos, aqui, uma discussão infindável, se tentássemos
julgar quais das condutas favorece à polidez na interação em pauta. Para os franceses
35
procedimento julgado como socialmente mais justo. Para os brasileiros parece mais
lógico, que aquele que deseja apenas tirar uma dúvida não seja penalizado a enfrentar
uma fila, não tenha sua face negativa ameaçada por uma espera em vão. Compreender
comportamental do outro.
interculturais. Vejamos o primeiro caso em que F1 representa uma falante brasileira que
36
Entrevista nº 3, relato 1
F1: falante francesa.
F2: falante brasileiro.
Reconstrução da cena 37
1. F1 : _ João, pourquoi tu es étonné ? parce que... au Brésil ça c’est commun,
2. n’est-ce pas?
3. F2 : _Pas du tout! Au Brésil on ne fait pas ça parce que au Brésil c’est même
4. interdit aux femmes de faire au topless. Si on fait ça à la plage par exemple
5. on est pris un eh c’est pas c’est pas ( ) en fait c’est pas permis de faire
6. le topless au Brésil.
7. F1 : _C’est étonnant ça !
leitura equivocada da francesa: “...à cause que je suis simplement matte avec les
37
1.F1 : _ João porque você está assustado? Por que no Brasil isso é comum, não é?
2.F2 : _De jeito nenhum, no Brasil não se faz top less. É proibido às mulheres de fazer top less. Se
3. por exemplo fizerem isso na praia podem ser presas, ( ) na verdade não é permitido o top less
4. no Brasil.
5.F1: _Nossa surpreendente!
conhecimento que possuí para as muçulmanas, conduzindo-a um mal-entendido. Não
houve, neste exemplo, chance para que F1 pudesse expressar sua ‘identidade’ de mulher
brasileira. Vemos, então, como pode ser danoso para o processo interativo valer-se de
representou uma ameaça à sua face positiva: “Ça m´a derangé, oui un peu, c’est le
racisme, pas pensé, naturel quoi, enfin je pense.” 38 F2 percebe que mesmo que
tentando redimir-se de sua atitude toma uma estratégia de polidez que vai contra sua
O segundo exemplo parece não ter causado comprometimento das faces dos
estereotipadas. F1 indaga F2 sobre sua reação de espanto ao ver mulheres fazendo top-
less quase como uma cobrança: _ João, pourquoi tu es étonné ? parce que... au Brésil
não condiz com a reação de espanto de F2 ao ver mulheres fazendo top-less tão
livremente. Ele reforça seu estranhamento: _C’est étonnant ça ! Neste exemplo o mal-
dissipada.
38
Isso me incomodou, sim um pouco, é racismo, não premeditado, natural, eu penso que é.
(2006) como o perfil comunicativo de uma dada comunidade. O 4º e o 5º relatos da
tendência a ser mais objetivo, mais direto do que o brasileiro ao dar informações
relevante àquilo que lhes foi pedido. Para os brasileiros, no entanto, o julgamento de
diretos ao extremo no jeito de dar uma informação[...] A questão é que para nós
brasileiras não fazia o menor sentido a francesa da bilheteria não ter nos explicado que
não adiantava ficar calculando a melhor opção de compra, nós não poderíamos mesmo
comprar a carte orange naquele dia. Parece óbvio pra gente que a primeira informação
deveria ser que naquele dia não poderíamos mais comprar a carte. No 5º relato da
mesma entrevistada: “eu perguntei pra ela então porque ela não me disse isso antes e ela
me respondeu na maior simplicidade que eu não havia perguntado aquilo.” Nos dois
gente pergunta um itinerário na rua pra uma pessoa, às vezes a outra que tá passando ao
lado se mete para dar maiores detalhes na explicação. Há sem dúvida um engajamento
entrevistada revela que a forma direta como que o francês tece o comentário sobre seu
referentes ao outro. Essa observação foi reincidente como vimos nos dois últimos
interação. A maneira direta como o comentário foi feito pelo falante francês recebeu
griceana, para a brasileira o falante francês burlou não somente a máxima de relevância,
como a de quantidade. Nas palavras da entrevistada: “Eles (os brasileiros) atenuam mais
os comentários. Os franceses não, eles são bem curtos e grossos, literalmente.” Vemos
comentários, franceses são mais diretos. Segundo Pereira et alli (2003) os membros do
ingroup (mesma cultura) tendem a atribuir-se valores mais positivos em detrimento dos
membros do outgroup (outra cultura). Esses autores atentam para a existência de uma
‘alusão depreciativa aos estrangeiros’ nas interações interculturais, que acreditamos ter
ocorrido neste caso, assim como nos exemplos 4 e 5 da 19ª entrevista analisada. Desta
da brasileira de ter sofrido a ação de um FTA, produzido pelo falante francês: “Aí me
assustou a maneira grosseira dele falar, porque brasileiro nunca fala de uma maneira
dessa. Fazem até um comentário tipo: teu vestido tá curtindo, senta de uma outra
maneira, seria uma coisa mais... mas ele não, ele virou pro lado e falou e continuou
comendo. [...] Eu fiquei muda, olhando pra ele meia assustada é meio indelicado pra
gente assim, pra ele foi super natural.” Percebemos mais uma vez, que a entrevistada
desenvolve uma apreciação mais favorável para os falantes de sua cultura. Não nos
parece precoce observar, mediante a análise corpus, que nas interações interculturais há
uma tendência muito mais forte em atribuir uma conceituação positiva ou negativa à
informativo ou apreciativo.
um hóspede telefonou para seu setor reclamando da demora do café que já havia sido
Entrevista nº 3, relato 1
F1: falante francês. (cliente)
F2: falante brasileira. (responsável pelo guess service).
Reconstrução da cena. 39
1. F1 : _Où est-ce qu’il est mon café?
2. F2 : _ Le café c’est déjà monté.
39
francês como o nosso café da manhã e por isso mandou que subissem com um serviço
de café completo para o quarto. O cliente desejava, no entanto, apenas uma xícara de
café. Ironicamente, no café da manhã servido no quarto do cliente não havia o café
tradicional, ou pelo menos não do jeito que o mesmo almejava, já que continuou
apenas ‘café’. Dizemos muitas vezes, vou tomar meu café, significando tudo que
pois não havia na perspectiva do hóspede uma justificativa plausível para o mal-
entendido, provavelmente, interpretando a não realização de seu pedido como má-
falantes foi um dos fatores promotores do mal-entendido agregado ao fato dos falantes
que se hospedou em um hotel no Rio de Janeiro por um curto período de tempo para
relativa competência oral e escrita nessa língua. Como o relato não privilegiou a
anexos. Achamos importante analisar este exemplo para compará-lo com o relato
interpretado por ela como uma xícara de café que o hotel serviria pela manhã. Seu
cálculo interpretativo foi influenciado pelo esquema de conhecimento que possuía para
equivocada, já que em Portugal café da manhã é ‘pequeno almoço’, uma tradução literal
da língua francesa. Ela esperava que o café da manhã tivesse a mesma denominação ou
algo bem similar no português do Brasil. Destacamos seu comentário quando toma
conhecimento do preço: « et moi j´ai pensé que ce café de manhã c´était une tasse de
café qu´on me donnait le matin et que le prix correspondait à ce café (...)et j´ai pensé
donc que le café était très très cher au Brésil. » 40 A interpretação errônea da
‘ilusão de compreensão’ fora de um processo interativo. Neste caso parece ter havido
exemplo anterior.
imagens:
QUADRO 12
Com o auxílio da ilustração, sugerimos que pode ocorrer entre falantes brasileiros que
café para uma área inexistente (como mostra o quadro 12), gerando possíveis mal-
40
“E eu pensei que esse café da manhã fosse uma xícara de café que me serviriam de manhã e que seu
preço era muito muito caro no Brasil.”
língua portuguesa de interpretar a contendo o vocábulo café empregado como café da
manhã. Por isso havíamos mencionado que os 1ºs relatos das entrevistas 3 e 7
apresentam percursos opostos nos cálculos interpretativos realizados pelos falantes. Nos
dois casos, o enquadramento das cenas no contexto hoteleiro não contribuiu para a
ao exemplo:
Entrevista nº 2, relato 1
F1: falante brasileiro. (garçom)
F2: falante francês. (cliente)
Reconstrução da cena. 41
1. F1 : _ Nous avons aujourd’hui un tournedos avec un purê de
2. pommes de terre brésilien, un type de pommes de terre un peu ( )
3. un peu de sauce de vin rouge .
4. F2 :_ Oui je voudrais le (plat) du jour .
5. F1 :_ Ah oui je vais demander _Comment vous voulez le ( la ) de viande,
6. Monsieur?
7. F2 : _ Ah oui je voudrais la viande bien [kry]. (Na verdade F2 teria falado cuit)
8. (O maître faz o pedido. Depois de algum tempo, chega o prato à mesa)
9. F2: _Ah non, ce n’est pas bien cru c’est bien cuit.
41
1. F1 : - Nós temos hoje um bife a tournedos com purê de batatas da terra brasileira, um tipo de
2. batata da terra um pouco ( ) um pouco de molho com vinho tinto.
4. F2: - Vou querer o (prato) do dia.
5. F1: - Ah sim eu vou pedir - Como o senhor deseja o (a) carne?
7. F2: - Ah sim, eu gostaria da carne bem [kry]. (Na verdade F2 teria falado cuit)
6. F2: - Ah não, não queria crua queria bem passada.
Este mal-entendido de base fonética tem como causa promotora uma falha na
Com a chegada do prato, que não correspondia ao pedido feito, F2 realiza uma
mantida durante quase toda a interação. Podemos afirmar que houve ameaça à face
negativa de F2, já que seu direito a não perturbação não foi resguardado. A ocorrência
coincidirem as noções de ‘carne bem passada’ (bien cuit), ‘ao ponto’ (à point) entre
281. R037: Pois é, mas assim uma coisa que ainda me causa estranheza assim
282. que eu não me acostumo é a forma de comer carne. Eles comem carne
283. praticamente crua.
284. R036: E aí eles pedem “saignant e blue”, e aí quando eles não entendem é
285. tsc tsc fazem um sinal.
286. E: Muitos garçons me relataram, por exemplo quando eles falam
287. ‘cuit’ cozida né, “bien cuit” essa noção não bate muito com a nossa?
288. R036: Não, bem diferente o nosso ao ponto e bem passado pra eles
289. totalmente diferente, pra eles é bem crua mesmo.
290. E: Pois é de forma prática o cuit nosso e o cuit deles/
291. R036: O nosso ao ponto pra eles já é bem passado. O deles bem passado pra
292. nós tá crua, e o bleu pra eles pra nós já é sushi (risos).
293. E: (risos) Já aconteceu assim ...vocês virem com alguma coisa que pra
294. vocês já estivesse no ponto e pra eles... eles pedirem pra trocar?
295. R036: Acontece muito à la carte no Restaurant à noite, que a carne vem
296. muito passada, aí eles não gostam e pedem pra trazerem uma mal passada.
297. E. Sim, mas na verdade eles tinham pedido cuit né?
298. R036: É, e aí a pessoa que às vezes não está acostumada a anotar o pedido,
299. aí anota ao ponto e não fala que é pra ‘francês’, aí eles fazem ao ponto como
300. se fosse pra brasileiro e aí vem pra francês e eles não conseguem comer.
301. E: Ah, mas tem essa observação pra dar uma ajuda pro pessoal aí dentro?
302. R036: Isso! tem que observar, se não colocarem eles não conseguem fazer a
303. carne do jeito do francês.
304. E: Olha só que coisa interessante, quer então que vocês já dão uma dica pro
305. próprio cozinheiro não é? Quando é um brasileiro ou um francês?
306. R036: É sim porque se não avisar eles não comem, o prato vai vir como se
307. fosse de um brasileiro e quando alguns comem porque eles são muito
308. educados [...]
contento. O fato de o garçom ter competência lingüística para entender que em francês
bien cuit e mal cuit são, respectivamente, em português bem passada e mal passada não
será suficiente sem que tenha competência comunicativa para saber que aquilo que é
carne mal passada para o brasileiro não é para o paladar do francês, influenciando
consequentemente nas outras noções de ‘ao ponto’, ‘bem passada’ etc. como explica o
falante (lin. 291). Sendo assim, percebemos que há uma discrepância entre os esquemas
garçom nos relata que eles especificam para o chefe de cozinha em suas comandas
dizem sem efetivamente dizer: atenção se é cliente francês esse bem passado não é tão
Entrevista no 4, relato 1
F1: guia brasileiro.
F2: hóspede francesa.
F3: O concierge (entrevistado)
E: Entrevistadora
Reconstrução da cena.
1. F1: {{Recepciona de forma calorosa a hóspede francesa,
2. abraçando-a e dando dois beijinhos, um em cada face do rosto.}}
3. F2: {{Ruboriza por completo as faces}}
Na entrevista:
8. E: - E ela externou alguma coisa, não?
9. F3: - Não, mas foi visível que ela se sentiu incomodada
10. com aquele tipo de atitude do guia. A gente depois falou
11. com ele. Independente de ser francesa ou não, um certo
12. distanciamento do cliente nesse aspecto é é é uma coisa que é
13. desejável enfim.
Dentro da amostra CPH esta questão torna-se mais latente, pois o contexto profissional
A passagem ilustra a reação de uma hóspede que teve sua face negativa
involuntário de ruborizar-se denunciou seu incômodo. O relato é dado com uma carga
de emoção muito forte no momento da descrição da reação da hóspede: “[...] ela ficou
assim ruborizada da cabeça aos pés. Foi uma coisa instantânea.” Também é muito
interessante a gradação estabelecida pelo concierge daquilo que ele considerou como
invasão de terreno do outro: 1ª ‘infração’ pela quebra de uma regra de ‘contrato social
‘infração’ por tratar-se de uma francesa (outra nacionalidade considerada mais formal) e
3ª ‘infração’ por ter sido o primeiro contato com a interagente, o que inegavelmente
fatores: “É uma coisa muito que denota uma intimidade muito grande né mas até que
enfim nós entre nós brasileiros né de repente uma forma mais informal com um grupo
de amigos pessoas novas que você conhece poderia ser perfeitamente cabível, mas em
se tratando ser o nosso tipo de negócio o nosso tipo de trabalho e especialmente sendo
Levinson (1978, 1987) para dimensionar o peso de um FTA nas interações. Para os
distância social (D) dos interlocutores mais a relação de poder (P) estabelecida entre os
W = D (F1,F2) + P(F1+F2) +R
superior da turista como cliente a ser servida pelo profissional guia determina o peso da
da existência de uma variável (R) responsável por dimensionar o FTA nas diferentes
culturas: “se fosse um brasileiro poderia até causar algum impacto assim, mas com
certeza ela não ficaria ruborizada, então sem dúvida que eles são muito formais.
contextualização profissional.
hierárquicos diferentes. A leitura desses dois casos, constantes nos anexos, nos
influenciados pelo valor simbólico afetivo através do qual suas respectivas culturas
por falhas no trabalho, fazendo um decalque da palavra stupide da língua francesa para
burro ou quoi? A leitura da cena pareceu ter recebido interpretações diferentes dos
interlocutores envolvidos. É provável que para a francesa sua expressão reflita apenas o
calor da discussão, mas para o brasileiro que teve suas faces positiva e negativa mais
fortemente afetadas foi uma catástrofe. Mesmo se considerarmos, que nas culturas
observadas, a dimensão ofensiva para a expressão utilizada não seja equivalente e que a
funcionária francesa não dominava o peso (R) dado ao FTA realizado na cultura
brasileira, é inegável que houve impolidez e intenção de agredir. Desta forma, não
houve uma advertência, que se difere no peso da variável (R) nas culturas envolvidas
ainda, que mesmo na cultura francesa também teria um potencial de impolidez ainda
pede para sentar-se à mesa de um cliente e recebe um não como resposta. É importante
citarmos que é uma prática deste Hotel estimular o convívio entre hóspedes e
funcionários adequadamente capacitados para exercer tais papéis. Nas boas vindas ao
Hotel, os clientes são cientificados do perfil do estabelecimento. Nosso preâmbulo é
para assegurar que é prática local, conhecida pelos freqüentadores, que estes
profissionais sentam-se à mesa nos almoços e jantares, desde que os clientes julguem
conveniente. As negativas para sentar-se à mesa são raras, mas por vezes ocorrem como
interpreta o pedido do funcionário como uma ameaça à sua face negativa, por isso como
recusa como uma ofensa, declarando o ressentimento pela ameaça à sua face positiva. A
entrevistadora pergunta: _ Nós leríamos o gesto como uma indelicadeza d´une certaine
considerando que o falante que recebe a solicitação poderá aceitá-la ou negá-la, esse
falante enquanto receptor acaba sofrendo uma pressão que representa uma ameaçada
para sua face também. O funcionário que relatou a cena está ambientado com clientes
um maior cuidado principalmente no primeiro contato. Mesmo assim ele não lê o gesto
como uma reserva e sim como uma humilhação. Nessa batalha interativa de ameaça das
faces, ele se saiu mais fortemente atingido. Há uma relação de assimetria a ser
(D) e (P) será potencializado. Neste caso, o contexto profissional inibe a reparação do
com naturalidade, como se não tivesse sido atingido. A ilusão de compreensão não é
dissipada e o exemplo parece aproximar-se das ‘situações interculturais
foi construída pelo falante francês parece destoar da forma adornada de atenuações com
que ‘grande parte’ dos brasileiros formularia um ‘não’ como resposta. Desta forma, esse
sociedade S2, mas pode-se atribuir à S1 uma característica inversa caso seja comparada a
cabeleireiro do hotel para a cliente foi interpretada como oportunista, como um meio de
pedir comissão. O entrevistado relata que no momento da interação não percebe que a
hóspede teria realizado essa interpretação, não tendo a dimensão do que seu gesto teria
Acreditamos que o fato de estar em contato com um meio cultural diferente tenha
concierge. O cálculo interpretativo realizado pela cliente fez com que ela traduzisse
como ameaça à sua face negativa a atitude do funcionário. Houve neste caso, a
instalação de uma conhecida rede hoteleira francesa no Brasil. O fato interessante foi a
que o modelo aplicado pela Rede hoteleira de ter o banheiro no corredor foi julgado
inadequado dentro dos moldes culturais brasileiros, exigindo uma adaptação de suítes
no quarto. Os 1ºs relatos da 16ª, 20ª e da 26ª assim como o 2º relato da 17ª entrevista
descrevem alguns hábitos dos franceses à mesa sob a ótica dos brasileiros também
identitária que o falante brasileiro idealiza de seu interagente francês e vice-versa. Não
houve imposição de um tema específico a ser relatado, porém alguns temas mostraram-
interculturais vão além de uma voz isolada, com percepções individualizadas. Por vezes
grupo social, que chamou a atenção do relator exatamente por diferir dos hábitos, dos
interacional que representa a manipulação do pão para a venda. Uma brasileira que vai
morar e trabalhar com sua irmã, proprietária de uma padaria na França relata seu
estranhamento ao ver que era um hábito para os franceses, manipular o pão com as
mãos para entregar aos clientes no balcão de vendas. A descrição da brasileira revela-
nos o quanto o gesto pareceu-lhe ameaçador à sua face positiva, enquanto vendedora, e
à sua face negativa, pondo-se no lugar do cliente: “_Ah franchement c’est sale, c’est
avec la main ! ce n’est pas acceptable quoi ! Mais oui, lá bas ils servent avec la
main.” 42
42
_Ah francamente, isso é sujo! Pegam com a mão, isso não é aceitável! Mas sim, lá eles servem com as
mãos.
Logo em seguida a entrevistada justifica sua decepção : “Oui oui ça m’a choqué
beaucoup, parce que on imagine la France..., tout le monde poli, très classique, etc...” 43
com a prática de pegar o pão diretamente com as mãos, sem o auxílio de pinças, sem
papéis para embrulhar. Por ser um hábito diferente do empregado na cultura brasileira,
generalizada, torna-se mais fácil respeitar o modo do outro ‘agir’: c’est différent car
j’étais de l’autre côté, avec la vendeuse qui c’est ma soeur d’ailleurs et en voyant
comme ça donner le pain avec la main directement je lui ai demandé si c’était normal,
elle m’a dit qu’au début elle a trouvé bizarre aussi mais c’est comme ça partout en
Ainda sobre o pão, mas falando de sua importância para os franceses nas três
por Brown e Levinson (1978) como atos ameaçadores à face negativa daqueles que
43
_Sim, sim, isso me chocou um pouco, porque a gente imagina a França..., todo mundo educado, muito
clássico, etc...
sofrem a ação. Na amostra ACI, as menções aos odores corporais descritas por
negativa ressentida por aqueles. Outras entrevistas, que exploram a mesma temática
Entrevista nº 1, relato 6
1. F: Au Brésil les gens n’aiment pas sentir leur odeur personnel et imposer
2. aux autres l’odeur de la sueur c’est très mal vu. Les gens se
3. douchent beaucoup et par exemple parfois même deux fois par jours,
4. trois fois par jours s’il fait très chaud au Brésil. j’ai vu des familles
5. ( ) chez les enfants de prendre des douches sans arrêt
6. parce que les enfants avaient couru ops ! ils allaient prendre une
7. douche sans arrêt et moi, en France, je connais des enfants qu’il
8. faut obliger à se laver, ils veulent pas se laver les enfants français ils
9. ont pas envie de se déshabiller il fait froid ils grelottent même les
10. bébés des fois ils n’aiment pas le bain parce qu’ils ont froid et au
11. Brésil j’ai trouvé que c’était le contraire même les enfants ils adorent
12. prendre des douches parce qu’il fait tellement chaud alors ça soulage
13. ça fait du bien. Ils posent que des odeurs eh... Au Brésil il faut faire
14. très attention de ne pas imposer son odeur personnelle. il faut utiliser
15. des déodorants ou des parfums. J’étais surprise de voir que les
16. brésiliens adoraient le parfum (elle rit). En Europe ça dépend de gens
17. mais il y a beaucoup de gens qui pensent aussi que le parfum c’est du
18. luxe, c’est de l’argent jeté par les fenêtres. Par exemple ma mère elle
19. n’a jamais utilisé un parfum dans sa vie toute entière. Jamais. Et pour
20. elle c’est presque un principe, elle n’utilise pas de parfum. Elle n’est
21. pas superficielle. Elle ne passe pas sa vie à se pomponner à se
22. maquiller à s’habiller et au Brésil j’ai l’impression que presque tout
23. les Brésiliens aiment les parfums que pour eux presque tous les
24. Brésiliens c’est très important et même peut-être dans l’Amérique
25. Latine en générale. Peut-être pas seulement au Brésil eh... bon il faut
26. faire attention dans cette différence de culture au dans le couple
27. parce que si on a une odeur de sueur alors là c’est une catastrophe
28. pour le partenaire quand il est Brésilien.
29. F e E: (beaucoup rire)
Entrevista nº 3, relato 1
1. As mulheres bem maquiadas e tudo mais O problema
2. era o cheiro que disseminam pelas ruas pelo metrô. Eu senti assim,
3. muita dificuldade porque eu fiz alguns pequenos trajetos em metrô
4. e em ônibus e assim haviam muitas pessoas que exalavam um cheiro
5. muito desagradável mesmo com um perfume se notava aquele cheiro muito forte[...]
8. Os franceses assim vários vários, muitas vezes não foi uma vez um dia, foram dez
9. dias em que eu ficava alucinada desesperada porque eu tinha a sensação de
10. quem ninguém tomava banho naquela cidade, alguns eram uma exceção
11. mas eu sinceramente eu senti como se fosse a maioria. [...] Né então pra gente
12. isso era algo que completamente destoava da nossa realidade Por exemplo uma
13. brasileira que tava morando lá comentou sobre o uso de toalhinhas pra
14. limpeza do corpo em lugar de tomar banho né [...]
Entrevista nº 6, relato 1
1. F: É então, então assim essa coisa de que o...francês não toma banho Isso
2. não é real. Algum tempo atrás há muito tempo atrás não existia água quente
3. Então o banho, ele era um banho na semana, mas assim o banho na semana
4. não é que a pessoa ficaria sem tomar banho. Eles têm umas toalhinhas de
5. mão, tipo uma luva de...de pegar panela.
6. E: É!
7. F: feito do suporte de toalha. Do pano de toalha. Eles tomavam banho com
8. aquilo.Eles lavavam as partes é é é
9. E: mais reservadas
10. F:que suavam mais, mais reservadas. De baixo do braço né, perna, cabelo
11. eles lavavam o cabelo. O fato de não banho é aquela coisa de jogar a água
12. em cima do corpo inteiro, assim ensaboar. Isso realmente não existia, era
13. uma vez na semana isso. É... então assim, uma vez na semana isso é...uma
14. vez na semana eles tomavam um banho inteiro, mas todos os dias eles se
15. banhavam, se molhavam, se lavavam com essas toalhinha. Então assim, não
16. é que eles era não eram higiênicos e a e assim lugar frio, você não precisa
17. tomar banho todos os dias, realmente porque você não sua. É claro que tem
18. as células mortas, disseram que a gente tem que remover mas, na época
19. chuveiro na França é uma coisa recente não é uma coisa antiga. Sem contar
20. que a água quente lá.. a eletricidade é muitooo muito cara. A água quente é
21. um ba eles pegam um de sistema de balão de água. Então quanto mais você
22. demora na água, mais gelada a água chega dentro desse balão e pra esquen-
23. tar demora bastante, então o consumo é muito alto. O pessoal de de francês
24. não tomar banho é é o fato é exatamente esse.Não jogavam água no corpo
25. inteiro. Tomavam banho sim. Eu eu morei na França. Eu utilizava uma rou-
26. pa branca poooor dois três dias. Aqui a gente usa uma roupa branca em um
27. dia né por da umidade da poeira. Lá não, lá não suja. Lá roupa branca não
28. suja, que a gente não sua, o clima é frio, é seco.
29. E: _Mas a leitura que os brasileiros fazem é outra né? Que o europeu não
30. tem o mesmo asseio que o brasileiro.
31. F: É é sem dúvida, mas assim. É aquela história de quem conta um pon..
32. quem conta um conto aumenta um ponto né. Então a coisa foi se propa-
33. gando e dizendo tudo isso. É óbvio que essa coisa de asseio existe por
34. uma questão cultural e de necessidade. A gente realmente precisa tomar
35. três banhos por dia ou mais, a gente precisa tá sempre com roupas
36. limpas porque suja realmente o suor suja a poeira suja a umidade suja
37. então isso acaba fic se você fizer uma coisa contínua isso vai deixar de
38. ser uma rotina pra virá uma coisa cultural isso passa de geração em geração
39. e se transforma em cultura. É como a criação européia a criação francesa
40. mais ou menos isso.
1. F. Uma coisa cultural assim bem de banho mesmo né?, a primeira foi
2. assim eu trabalhava na IBM na época e o projeto que eu trabalhava era um
3. projeto mundial da IBM e o sistema era francês. Então eu tinha um contato
4. muito grande como pessoal da França, aliás o pessoal do mundo inteiro mais
5. da França porque foi desenvolvido lá. Aí veio uma época, um cara pra ficar
6. uns 3 meses aqui no Brasil e ele veio bem nessa época de verão.
7. Chegou aqui, primeiro que o cara continuou com o hábito dele de não tomar
8. banho, então passou um, dois, três dias e a gente não agüentava mais o cara
9. da IBM e ele ia todo dia com o mesmo casaco, o casaco azulzinho da Adidas,
10. todo dia também de casaco na IBM com esse calor, era engraçado
11. (riu) porque a gente entrava nas salas da IBM de reunião e as salas
12. não tinham janelas sentava todo mundo num canto da sala de um lado
13. da mesa e ele do outro lado da mesa, a gente não podia fechar a porta
14. por causa do cheiro e todo mundo ficava assim constrangido por causa do
15. cara, não dá pra falar pro cara.
16. E. E ele não percebia em nenhum momento esse afastamento?
17. F. ...Ele era um cara assim que eu acho que a personalidade dele ele era um
18. cara assim meio tímido, caladão, não era de conversar muito só falava de
19. trabalho né ia almoçar com a gente no campo de refeitório da IBM, aí lá
20. pelas tantas foi engraçado, porque tinha um cara que trabalhava com a gente
21. que era mais cara-de-pau e aí ele fazia natação no clube do botafogo. Aí
22. (risos) ele foi chamou o francês pra ver se queria fazer natação com ele
23. pra ver se pelo menos ele ia entrar na água e melhorar o cheiro né, ah
24. Eu tô fazendo natação de manhã é super agradável e tal, mas ele não foi
25. mesmo assim.
26. E. Foi uma alternativa então né?
27. F. Ah foi pra ver se pelo menos ele ia se molhar e tirava o cheiro
28. né?
29. E continuando assim no mesmo sujeito eu estava em Paris
30. novamente aí fui passear e visitar a Torre Eiffel, fui pegar aquele
31. elevadorzinho que leva lá pros andares da Torre né, aí lotado né, aí eu entrei
32. fui uma das últimas a entrar, aí entrou um francês grudado em mim aí o cara
33. fedia tanto, tanto, tanto, que eu tive que prender a respiração pra não ficar
34. sufocada sentindo o cheiro dele né. Aí fui poxa né segurando a respiração
35. até chegar lá no andar, pra tentar me livrar um pouquinho, mas foi forte! (risos).
O 6º relato da 1ª entrevista foi feito por uma francesa, que ilustra sua percepção
corporais. A entrevistada inicia o relato dizendo que no Brasil as pessoas não gostam de
sentir seus próprios odores e que impor os odores pessoais aos outros é muito mal visto.
No fim do trecho que selecionamos, ela declara que é preciso tomar cuidado com essa
diferença cultural entre casais formados por brasileiros e franceses, pois o odor do suor
é visto como uma catástrofe para o(a) parceiro(a) brasileiro(a). Os 1os relatos das
entrevistas 3 e 13, assim como o 2º relato da 10ª entrevista concedidas por brasileiros
comparada desses depoimentos é a constatação de que aquilo que parece óbvio aos
comunidade. Por essas razões, na fórmula sugerida por Brown e Levinson (1978) para
afetivo dos falantes como expressão do grau ameaçador daquelas interações para suas
faces. Divergências dessa natureza tornam-se pontos vulneráveis para promoção de mal-
falante: ‘É óbvio que essa coisa de asseio existe por uma questão cultural e de
necessidade. A gente realmente precisa tomar três banhos por dia ou mais[...]” Esta
laver les enfants français ils ont pas envie de se déshabiller il fait froid ils (grellotent)
même les bébés, des fois ils n’aiment pas le bain parce qu’ils ont froid et au Brésil j’ai
trouvé que c’était le contraire même les enfants ils adorent prendre des douches parce
qu’il fait tellement chaud alors ça soulage ça fait du bien.’’ Há evidências nos trechos
homem com o meio social, reveladas nas interações interculturais. Na interação face a
intercultural não é suficiente para que os falantes as aceitem de imediato e muito menos
que erradiquem por completo todos os preconceitos éticos que elas resguardam.
modo de ver e aceitar esse ‘outro diferente’ demande de um tempo relativo, é necessário
que ilustra percepções táteis e ou gustativas divergentes para definir e graduar noções
44
cultura francesa, a expressão parece fazer parte de um ritual de abertura das interações e
o seu não cumprimento pode ser interpretado como uma invasão territorial, como
atestam os exemplos. A 16ª entrevistada comenta: “Você pra iniciar uma conversação,
seja pra pedir uma informação na rua é... não importa qual, você tem que começar pelo
bonjour. [...] E aí o bonjour já vinha com aquela carga de quem diz: _ Você não sabe
que o código aqui né cultural você tem que primeiro dizer o bonjour pra depois você vir
aberturas interativas como uma ameaça à face negativa, a maneira sistemática com que
eles cobram o uso da saudação de seus interlocutores é traduzida por esses como
“Quando ela disse _ Bonjour Madame, eu me senti repreendida como uma criança que é
chamada a atenção pela mãe: Como é que se fala mocinha? Antes de qualquer coisa
BONJOUR! Repreendida foi assim que me senti, repreendida. Foi uma espécie de
alerta, já tinha acontecido antes, mas desta vez ela foi tão incisiva que me marcou mais
O 2º relato da 18ª entrevista mostra modo grosseiro com que um falante requisita
deixar de ser interpretado como impolidez. A ironia deste caso encontra-se no fato de
que a arrogância do locutor francês sobre seu interlocutor brasileiro para a utilização da
formulação ‘incompleta’ lhe soara como grande ofensa, ou seja, ameaça significativa à
sua face negativa. Trata-se então de uma defesa territorial com o uso de um FTA sobre
constrangedora.
por exemplo omitir a saudação final, caso a interação termine com um agradecimento.
uso do bonjour como elemento de abertura de trocas interativas. Entretanto, ela nos
enquadramentos que antes não o exigiam, como por exemplo a cena do pedido de
informação em plena rua, por ela relatada. A lingüista revela que a interpelação de seu
repreensão.
delimitações mais expressivas de suas características próprias, para que não venham a
ser tomados uns pelos outros, nem por uma ocorrência de mal-entendido.
isolada. Na tentativa de melhor ilustrar esses conceitos, que parecem funcionar de modo
seguinte:
ESQUEMA 3:
enga-
no
gafe
Ironia
Mal-
entendido
impolidez
ato falho
ruído mal-
ent.
delibe
rado
A representação gráfica em forma de margarida tem o intuito de ilustrar a
essas características comuns, recorremos, mais uma vez, à definição de Hérédia (1987)
embasados nos resultados obtidos em nossas análises, que essas áreas sinalizadas como
‘ilusória’ daquilo que foi expressado ou compreendido: como por exemplo, nos casos da
Hérédia (1987, p.50) diz ainda que nos casos de mal-entendidos cada falante dá
a uma palavra, a um enunciado ou a uma situação um sentido que lhe é próprio, mas que
diverge daquele empregado por seu interlocutor. De uma forma menos evidente, a
Hoteleiro (CPH). Sendo assim, a interpretação do gráfico deve ter início na pétala mais
horário, ilustrado pela diminuição gradativa do tom azul, que expressa de forma
CLD e CPH. A representação do ato falho dá início aos tons mais claros que refletem a
esquema seguinte onde há interseção entre as pétalas adjacentes e não apenas destas
ESQUEMA 4:
ato
falho
gafe
impolidez Mal-
entendido
A co-ocorrência de gafes com casos de impolidez proporcionaria a construção de
ato falho que provocasse uma gafe promoveria uma área em comum. Esta reflexão
pertinência das relações estabelecidas dos fenômenos discursivos expostos entre eles
analisados em nosso corpus. Para a análise dos resultados os quatro primeiros tipos
entendido.
e pragmáticos, havendo ainda uma terceira fatia de relatos, na mesma proporção que os
GRÁFICO 1
30
25
Mal-entendidos
20 pragmáticos
15 Mal-entendidos
lingüísticos
10
Perfil identitário do
5 hóspede francês
0
CLD CPH
esse dado como uma conseqüente resposta à maior ‘limitação’ e repetição dos
ambiente de trabalho. Da mesma forma que uma ‘relativa’ recorrência aos mesmos
como elemento referencial nas trocas comunicativas. Não esqueçamos, no entanto, que
durante uma interação intercultural, o locutor estará sujeito a desenvolver seu cálculo
GRÁFICO2
100
80
60
Hóspede francês
40 Hóspede brasileiro
20
0
Formalidade Objetividade Exigência Polidez
48% das respostas para os hóspedes franceses e 52% para os hóspedes brasileiros. Esta
foi a variável mais marcada para os hóspedes brasileiros e a única que apresentou leve
hóspede brasileiro.
conferida aos hóspedes franceses na amostra CPH sugerem um ethos mais objetivo
as que versam sobre: a ‘inclusão dos idosos na família’ (1ºrel., 9º rel._1ª entrev.); ‘o
4ºrel._14ª entrev.) e ‘o riso’ (1º rel._1ª entrev.). Os olhares da cultura brasileira sobre a
esses incidentes são interpretados como ameaçadores por esta mesma sociedade.
IV- CONCLUSÃO
analisados uma única fonte, representada pela situação que lhes foi condicionada: as
deste fenômeno discursivo com a ajuda dos modelos propostos por Kerbrat-Orecchioni
haver ameaça às faces dos falantes envolvidos na interação. Por isso, muitos destes
grau de ameaça à face negativa. Observamos duas estratégias realizadas pelos falantes
quando a ocorrência de um mal-entendido é assimilada como ameaça às faces: às vezes
das faces é muito mais ressentido pelos falantes, exatamente pelo caráter ameaçador
significativa de exemplos que denunciaram ameaça seja à face positiva ou negativa dos
face’.
Foi comprovada nossa hipótese do papel de causalidade que pode ser exercido
análises demonstraram que a percepção estereotipada sobre uma outra cultura alimenta
um auxílio para sua resolução. Por isso Hérédia (1986) afirmou tratar-se de um
fenômeno dúbio que contém em sua gêneses indicadores para sua resolução.
Atestamos através de alguns relatos que o mal-entendido pode passar
despercebido, pode ser detectado, mas não resolvido ou na melhor das possibilidades,
observado e solucionado na interação. Nos casos em que não é percebido por uma ou
divergente que permanece submersa em uma ‘ilusão de compreensão’. Porém, nos casos
entendido quando sua aparição permitir que os falantes revisem seus esquemas e tomem
percepção de que as noções para os pontos de preparo da carne não coincidem entre
nacionalidade do cliente.
As amostras CLD e ACI também estão repletas de exemplos que comprovam a
nas experiências relatadas por falantes que percebem o uso obrigatório do ‘bonjour’ nas
ou como o falante que usou o verbo ‘partir’ em francês querendo expressar recortar,
experiências com mal-entendidos gerados por gestuais não coincidentes entre brasileiros
exemplo do braço esticado para parar o ônibus no Brasil que inexiste na França, ou no
caso do mesmo gestual que indica ‘medo’ para os franceses e ‘muito’ para os
brasileiros. Esta nos parece ser uma propriedade da função iluminadora do mal-
Estes relatos nos fazem refletir sobre a produtividade destas vivências quando
trazidas para sala de aula de FLE (Francês Língua Estrangeira) ou de FOS (Francês com
houver mais lugares vazios no ônibus. Para eles, não há justificativa lógica em manter-
passageiros. Não há como conceber a lógica dos contrastes socioculturais sem que
atuem como vendas sobre nossos olhos, não seremos capazes de enxergar a existência
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ENTREVISTA nº 3 CLD
R003
o
N total Nacionalidade Faixa etária Sexo Escolaridade Competência
de Lingüística
relatos
1 Brasileira 34 Masc. Pós-grad. Avançado
ENTREVISTA nº 6 CLD
R012
o
N total Nacionalidade Faixa etária Sexo Escolaridade Competência
de Lingüística
relatos
ENTREVISTA nº 9 CLD
R015
o
N total Nacionalidade Faixa etária Sexo Escolaridade Competência
de Lingüística
relatos
Curso
1 Brasileira 24a Fem. Superior Intermediária
ENTREVISTA no 9 RELATO 1 CLD
ENTREVISTA nº 10 CLD
R016
o
N total Nacionalidade Faixa etária Sexo Escolaridade Competência
de Lingüística
relatos
Curso
1 Brasileira 26a Fem. Superior Intermediária
ENTREVISTA nº 12 CLD
R018
o
N total Nacionalidade Faixa etária Sexo Escolaridade Competência
de Lingüística
relatos
Curso
1 Brasileira 40 a 50 Masc. Superior Avançada
ENTREVISTA nº 13 CLD
R020
o
N total Nacionalidade Faixa etária Sexo Escolaridade Competência
de Lingüística
relatos
Curso
1 Francesa 30 Fem. Superior LM
ENTREVISTA no 13 RELATO 1 CLD
ENTREVISTA nº 14 CLD
R022
o
N total Nacionalidade Faixa etária Sexo Escolaridade Competência
de Lingüística
relatos
Pós-
4 Brasileira 47a Fem. grad. Intermediário
1. E: Nunca nunca nem pensar. Então eu tava assim andando era meio dia.
2. Horário de corre corre também ( ) o tram ( ) o tram
3. E: O que eles chamam de Tramway não?
4. F: Ele é o tram ele é o trem que você vai daqui pra pra Paris. De lá pra
5. Paris. Daqui olha só?
6. E: É rá rá rá (risos)
7. Eu tava assim andando sei lá Aí um rapaz tipo uns 40 anos seriamente
8. parou e falou
9. - Quel soin!
10. E: Como é que é? Quel soin?
11. F: Soin. S O I N (ela soletrou)
12. E: Ah rum. Cuidado.é
13. F: Exatamente.
14. E: Gente
15. F: Aí ele ficou olhando pra mim perplexo. Aí eu fiquei assim meio
16. assustada ( ) você está habituada né. Quer dizer uma paquera tão
17. educada.
18. (risos)
19. E: -Comment monsieur?! (brinca)
20. F: E aí ele ficou parado olhando como se eu fosse devesse como se
fosse
21. naturel da uma resposta de volta. E eu jamais saberia qual seria né.
22. E: É..
23. F: Oui, Monsieur, nous allons sortir ce soir ?
24. (risos)
25. F : E ele ficou esperando uma resposta.
26. E: Mas você entendeu de imediato que era uma paquera ou não?
27. F: entendi de imediato que era uma paquera porque eu já vinha quando
28. eu saí do trem Eu já tava olhando em frente. Eu vi um homem também
me
29. atraindo né. Tudo bem até aí. Ele passava direto ou eu passava direto.
Ou
30. então como um Brasileiro, olharia e diria - gostosa.
31. E: (riu)
32. F: né? E sei lá o que. Aí ele foi e falou
33. - Quel soin.
34. Agora eu entendi que cútis, que pele. - Você entendeu como cuidado?
35. E: É não sei. Agora você me deixou na dúvida. Eu ficaria na dúvida que
36. era uma paquera, pra começo de estória né.Assim mas eu acho que os
37. outros elementos iam colaborar os olhares enfim né.
38. E: Eu olhei. Aquela coisa assim de você bater o olho. Bateu a química.
39. Aí tudo bem tô passando. Quando ele passou por mim, ele parou e falou
40. - quel soin. E ficou parado esperando. E eu interpretei que esse soin que
41. ele tava dizendo era assim que pele, que pele bonita. Mas aí o soin...
42. E: É eu pensei eu pensei assim como algumas paqueras mais cuidadas
43. brasileiras né, não tem aquela coisa assim meio que puxando pro lado
44. romântico né? Que coisa divina né que Deus me deu. Ou alguma coisa
45. assim Mas aí a gente ouve frases mais cuidadosas de alguém que a gente
46. já tem um contato e não de uma paquera inicial. Eu acho que aí né aí tá
47. a diferença Você é é ainda existem poucos românticos ainda que que
que
48. as vezes saem com uma sacada bem inteligente, mas delicada e tudo
mais
49. Mas é é eu acho que dentro da nossa cultura ta mais ligada a uma
relação
50. que você já está desenvolvendo, não é ? É isso
51. (inaudível)
1. F:O que eu pude ver assim também É que como a cidade ela tem
uma
2. grande incidência de Árabes o francês ele tá ficando assim..O R ele
tá
3. muito arranhado ( ) as palavras fossem ter uma uma A freqüência
4. fosse muito ééé até sibilante e arranhada È o caso do [J] pas.
Muitas
5. vezes em lojas árabes né eles falam também E até Alemães e
Árabes. A
6. cidade é bem Alemã E eles não falam je ne sais pas Eles falam [S]pas
7. [S]pas E eu passei uma semana pra entender o que que a pessoa tava
me
8. dizendo Porque eu não consegui nem no contexto dá conta né. Aí
depois
9. de uma semana eu passei a dar conta do [S]pas.
10. E: Ok, merci.
ENTREVISTA nº 15 CLD
R043
o
N total Nacionalidade Faixa etária Sexo Escolaridade Competência
de Lingüística
relatos
1. E. Et à propôs du gestuel?
2. F. Ouais, le fait ici au Brésil de présenter le beaucoup on fait comme
ça avec
3. la main et les doigts...(a entrevistada faz o gesto de muito com os
dedos)
4. E. Quando a gente pega as mãos assim e junta abre e fecha os
dedinhos.
5. né, aí faz assim , muito , muito.
6. F. Voilà et ça en France ça ne veut pas du tout dire beaucoup, ça veut
dire
7. peur, donc j’ai fais une gaffe j’étais en train de dire que j’étais
beaucoup
8. pressée et ils ont compris que j’avais beaucoup peur. Alors que
j’étais pres-
9. sée donc j’ai pas trop trop compris et après pour moi je croyais que
j’étais en
10. train de montrer une chose, et finalement pas du tout ils ont cru que
j’avais
11. peur (risos). Pour m’expliquer et comprendre après j’ai eu du mal,
mais
12. enfin on est arrivé.
13. après directement je me suis excuser, non non j’ai pas peur de vous
juste un
14. malentendu.
15. E. Ouais, Super alors le malentendu s’est résolu à partir d’une
explication
16. directe ?
17. F. Oui, exactement.
ENTREVISTA no 15 RELATO 2 CLD
ENTREVISTA nº 17 CLD
R048
o
N total Nacionalidade Faixa etária Sexo Escolaridade Competência
de Lingüística
relatos
14. F. Nós estávamos numa fila né, pra assistir a uma peça de teatro
quando uma
15. pessoa da bilheteria avisou que iria atrasar uma meia hora. Então nós
16. começamos a brincar entre a gente e... depois dos trinta minutos o ra-
17. paz voltou à fila dizendo que iria demorar, que iria atrasar mais vinte
18. minutos quando uma amiga falou que iria vender os bilhetes
também
19. brincando. Aí ela começou a dizer : - Qui veut acheter des billets
pour
20. Richard III ? Não lembro bem se ela disse se era une promo ou une
remise,
21. quando eu a interrompi dizendo - J’ai une idée superbe, au lieu de
vendre les
22. billets, on peut faire la pièce nous même. Je leur ai dit : - On va faire
la pièce
23. de la queue ! E elas gritaram - Nonnn !(risos) Como eu sabia que la
queue
24. também podia significar o rabo do cavalo eu pensei que elas estavam
rindo
25. por isso. E eu insistia - Oui on va faire la pièce de la queue! - Non,
Joana!
26. E elas continuavam rindo. Uma outra colega falou - ça peut donner
une
27. autre interpretação. - La queue de l´animal? - Non la queue de
l´homme. (Ela
28. fez um gesto apontando para a posição do órgão sexual masculino) e
como
29. numa tentativa de esconder o vexame eu lembro que falei alguma
coisa
30. parecida com - Ah non ! Mais je ne suis pas coupable si vous les
français
31. modifient le placement des choses, la queue c´est derrière pas avant.
E todo
32. mundo levou na brincadeira e continuou rindo.
1. Eu tenho bem nítido esse exemplo vou tentar descrever a cena como se
2. passou. Foi na Galeria Laffayete, quando eu tentava ver com uma
atendente
3. o desconto da détaxe. Eu cheguei e disse:
4. - Bonjour.
5. - Bonjour Madame.
6. - C´est ici qu´on prend la fiche pour avoir la détaxe ?
7. - Absolument. (avec un geste affirmatif et léger de tête)
8. - (+) Je peux prendre la fiche avec vous?
9. - Oui Madame, parfaitement.
10. - Ah oui?!, merci. (j´ai pris le papier et je me suis assise
11. pour le remplir)
12. F: Eu me lembro bem que minha primeira interpretação do absolument
foi
13. como uma negativa. Mesmo muito pouco à vontade eu peguei o papel
pra
14. preencher porque o gesto afirmativo que ela fez com a cabeça me dava
15. licença para que eu interpretasse o absolument corretamente, como uma
16. afirmativa. Aí eu percebi que havia um mal-entendido na minha
17. interpretação, não tenho como afirmar categoricamente se ela percebeu
tudo,
18. mas com certeza ela sentiu minha insegurança no ar.
1. Acho que esse exemplo foi uma gafe mesmo, mas vale a pena contar
2. porque acho muito engraçado. Eu estava fazendo turismo com umas
3. amigas brasileiras pela primeira vez em Paris. E estávamos em frente a
4. Notre Dame, quando eu vi que havia fincado na praça uma espécie de
5. binóclo por onde pode se observar os detalhes da arquitetura. Corri para
6. ver de perto, mas quando cheguei um homem já estava usando, olhando
7. né pelo binóclo. Na verdade é como um telescópio fincado no chão e a
8. impressão é de olhar por uma luneta. Mas então ele estava usando e logo
9. depois entrou um adolescente que parecia ser o filho, parecia uma família
10. pois tinham a mesma cara. E outro jovem, um hipotético irmão com uma
11. mulher adulta que parecia a mãe também se aproximavam para olhar.
12. Como eu me pus logo atrás do adolescente, assim que ele saiu da luneta
13. eu entrei e comecei a usar, pois na minha cabeça era a próxima da fila.
14. Adorei ver todos aqueles detalhes bem de perto e na empolgação do
15. momento chamei minhas amigas que estavam sentadas do outro lado. Eu
16. chamava - Venham ver! É lindo! Muito legal a gente ver os mínimos
17. detalhes! Aquela hipotética família agora estava toda me cercando e eu
18. queria que minhas colegas vissem logo antes que eles pedissem para
19. passar a frente, mas como observei que elas me acenavam como se me
20. chamassem pedindo para sair dali, eu resolvi sair. Nenhum membro
21. daquela família sisuda falou nada, mas pelos olhares estavam achando
22. alguma coisa ruim. Cheguei perto das minhas colegas e elas riam
23. muito... de mim. Elas viram que o homem tinha colocado uma moeda
24. para usar a luneta e que havia um tempo pra usá-la e eu estava gastando o
25. tempo dos outros. Meu Deus que vergonha! e ainda por cima chamando
26. as colegas para gastar também. Nossa que vergonha!
ENTREVISTA nº 20 CLD
R060
o
N total Nacionalidade Faixa etária Sexo Escolaridade Competência
de Lingüística
relatos
1. Um amigo nosso francês, o Jean, veio passar uma temporada no Rio e ele
2. pediu pra gente uma ajuda com o português dele, pra que ele pudesse se
3. virar um pouco nas ruas. Nós emprestamos um daqueles guias de
viagem. E
4. numa visita a nossa casa depois de alguns dias no Rio, ele quis mostrar o
que
5. havia aprendido. O jean era solteiro, então andou treinando como
paquerar
6. as cariocas e a primeira coisa que quis nos mostrar foi uma frase que
havia
7. decorado pra dizer a uma bela carioca. Com aquele sotaque francês ele
8. esbanjou seu português: - Como vai bela rapariga!
9. Eu e João caímos na gargalhada e claro explicamos o porquê para o Jean.
Aí
10. o João teve idéia de olhar a editora do guia e viu que era uma editora
11. portuguesa.
ENTREVISTA nº 21 CLD
R061
o
N total Nacionalidade Faixa etária Sexo Escolaridade Competência
de Lingüística
relatos
1. Eu estava no sul da França na casa de uma amiga e passeava com sua filha.
2. Então vi uma loja com belíssimas flores de porcelana. Disse que iria
3. comprá-las para minha amiga colocar em cima da mesa da sala. Ficaria um
4. belo enfeite! A moça me disse rindo que não achava conveniente..
5. Então eu surpresa perguntei: - Por quê ? Ela não gosta de flores? Essas são
6. tão, tão bonitas!!!
7. E ela respondeu: - Ah, acho que dessas ela não vai gostar... (disse, rindo
8. muito)
9. Eu, um pouco surpresa, felizmente, não as comprei.
10. Ao chegar à casa, a menina disse: - Mãe, Joana queria comprar flores de
11. porcelana para enfeitar a sua mesa!
12. Minha amiga sabendo que eu desconhecia alguns costumes me disse,
13. rindo, que flores de porcelana são adorno de sepulturas e me levou a um
14. cemitério para que eu aprendesse que na França se adornam sepulturas não
15. com flores de plástico, mas, de porcelana!!!!
1. Ainda no sul da França, estava na casa de uma amiga e, então, como ela ia
2. trabalhar me disse que seu marido ia me levar para visitar a cidade. Assim
foi
3. feito, foi um belo passeio.
4. À noite, quando ela chegou, perguntou:
5. Então, o fulano cumpriu bem a missão? você gostou?
6. - Et alors, Jean a été un bon guide ? Tu as aimé la promenade ?
7. - Ah adorei !! - Jean m´a donné beaucoup de plaisir!!
8. Ele às gargalhadas e ela com ar malicioso, já sabendo que eu me enganara:
9. - Como?!!! Eu saio de casa e você vai dormir com meu marido? Assim
não dá!!
10. É que em francês donner plaisir e faire plaisir são coisas diferentes. E
me
11. explicou o meu grave erro.!!!
12. Corei de vergonha! donner plaisir é similar ao prazer físico, para eles
coucher
13. avec e o faire plaisir é o prazer de sentimento, de dar prazer em
português, que,
14. afinal, era o que eu queria ter dito!!!
ENTREVISTA nº 22 CLD
R062
o
N total Nacionalidade Faixa etária Sexo Escolaridade Competência
de Lingüística
relatos
1. [...] finalmente fomos guiados até uma loja de rendas. Só que estava
2. fechando, passava das 5 horas da tarde e eles tinham pressa. O vendedor
3. anunciou o valor do metro: “Cent dix neuf euros” (119 euros),
caríssimo.
4. Pechinchei. Usei como pude o meu reles francês e... nada. Ele cedeu
alguns
5. milímetros: “Cent dix” (110). Eu suplicava: “Réduction, s´il vous plaît”,
6. gesticulando. Parecia irredutível. Seguimos no estica-e-puxa. O
vendedor
7. soltou : « Soixante dix », o que, em meu parco entendimento da língua,
8. continuava 110! Estava pronta para desistir, mas ainda pedia, de todas
as
9. maneiras, para baixar o preço para 100 euros. “Só cent”, dizia eu. Ele
ficou
10. louco. Deu um pulo e foi chamar o gerente. Sabe como são os
franceses...A
11. loja fechando e a comunicação esgotada deixavam tudo mais difícil. O
12. gerente chegou e perdeu a paciência. Entregou os pontos e fechou o
negócio.
13. Andei, então, até o caixa, tentando ficar feliz. Afinal, 100 euros não era
o
14. melhor preço do mundo, mas era o que eu havia pedido. Porém, ao
conferir
15. a nota, não acreditei: 60 euros. Festa! Não escondia o sorriso ao
entender o
16. que se passava. O meu “só cent” e o “soixante” (60) deles só poderiam
17. significar a mesma coisa. Voltei ao hotel com a renda dos sonhos e 40
euros
18. de “lucro”. Se soubesse, comprava mais metros. Pechicha como essa
nem
19. em português.
ENTREVISTA nº 23 CLD
R063
o
N total Nacionalidade Faixa etária Sexo Escolaridade Competência
de Lingüística
relatos
*******
********
É uma função extremamente importante de muita responsabilidade
porque é você tem um contato direto com o cliente, com o hóspede. Então
você pode fazer de forma maravilhosa a estadia dele, a permanência dele na
cidade. Como você também pode destruir né dependendo de como você o
atenda pros lugares onde você o encaminha o indique. Então é uma coisa
de muita responsabilidade, né? Eu diria assim que nós, somos assim
verdadeiros secretários particulares do cliente. A gente tem a orientação de
atender toda e qualquer tipo de solicitação desde que não seja focada pra
questão de drogas nem de sexo, garota de programa, coisas do tipo, mas
fora isso. As solicitações mais absurdas que você possa imaginar a gente já
se deparou, já se deu conta e atendeu super bem, entendeu. É exatamente
isso que a empresa espera da gente. É exatamente o que a gente faz né.
Então a gente faz uma gama de funções assim enorme. Eu acho que essa
é... é o grande plus da profissão. É que cada dia é diferente porque você
sempre tá eh na frente de uma pessoa diferente com expectativas diferentes
a serem atendidas, então a gente não tem absolutamente rotina dentro do
nosso trabalho.
ENTREVISTA nº 5 CPH
R010
o
N total Nacionalidade Faixa etária Sexo Escolaridade Competência
de Lingüística
relatos
ENTREVISTA nº 8 CPH
R021
No total Nacionalidade Faixa etária Sexo Escolaridade Competência
de Lingüística
relatos
Ens.
1 Brasileira 40 Masc. Médio Intermediário
ENTREVISTA nº 10 CPH
R024
No total Nacionalidade Faixa etária Sexo Escolaridade Competência
de Lingüística
relatos
Curso
4 Brasileira 26 a 31 Masc. Superior Básico
1. F: O francês ele não participa dos jogos. Ele é bem discreto, ele não
gosta de
2. chamar a atenção. Sabe eles estão sempre lendo o livro, do lado da
piscina. A
3. maioria raramente eu vejo tomar um banho de mar. Realmente eles vão
mesmo
4. na piscina o dia inteiro.
5. E: Hum rum. São mais reservados.
6. F: São bem reservados exatamente. Eles ficam..não não incomodam.
Ficam no
7. lado deles reservadinhos lá. Ninguém incomoda.
8. E: Então você classificaria ele como mais é.. formal ou menos formal?
9. F: Mais formal
10. E: Faz mais pedidos ou menos?
11. F: Faz mais pedidos.
12. E: Faz mais pedidos do que os brasileiros?
13. F: Faz mais pedidos, mais pedidos. Depende do do ok tipo tipo assim.
Isso é
14. um pouco relativo. Mas eles faz pedido de que? Depende se o francês
gosta de
15. velejar. E eles vêm aqui e ele vai ser exigente, porque até porque eles
sempre
16. comparam com outros Hoteis. Na minha atividade eles são mais
exigentes
17. que os brasileiros, porque porque eles estão acostumados lá a ter um
18. equipamento novo, um equipamento de ponta, um equipamento
lançamento.
19. E aqui ele não vai encontrar isso. Ele vai encontrar equipamentos não
danifica
20. dos mas equipamentos, não modernos. Equipamentos normais. Certo
então
21. isso é um pouco no meu ponto de vista eu acho que é um pouco relativo,
em re
22. lação ao pedido deles. Certo, em termos de comida por exemplo, eu
nunca vi
23. nenhum francês se queixar da comida. A comida pra eles é a melhor pra
eles.
24. Eles sempre falam. Isso eu to me referindo ao Hotel Itaparica Bahia, foi
25. onde eu passei três anos como experiência passei. Tive um chefe Hotel
francês
26. Tive responsável de vela francês. Então eu tô passando um pouquinho
do
27. que realmente eu vivi.
28. E: Très bien. Ok.
29. E Quem agradece mais? O brasileiro ou o francês? Ou é igual?
30. F: O francês.
31. F: O francês ele agradece mais por tudo.
32. E: Para ser mais gentil.
33. F: Exatamente.
34. F: Assim eu hoje entendo o francês. O francês ele é meio, ele é fechado
35. tudo bem. Ele espera que você faça o primeiro contato. Ele sempre
espera
36. isso. Se você é simpático e você faz esse primeiro contato você vai
ganhar ele
37. Em qualquer palavra, em qualquer ajuda que você que seja em direção a
um
38. francês. Ele vai dar um merci. Ele vai apertar sua mão. Ele lembra seu
nome.
39. Eles são pessoas que personalizam. Você fala teu nome hoje ele vem te
per
40. guntar. Eu canso de jantar e convidar eles pra minha atividade. Eles
chegam
41. aqui e perguntam. Cadê João? e eu só tive um contato com ele, certo.
42. Então eles. Essa parte tem haver um.. bem é um conjunto. É formal.
Eles
43. gostam que chamem pelo nome, quer dizer isso eu eu observo sabe.
Tem
44. até um curso agora de percepção. A forma que você trata
45. o hóspede, Cada um tem que ser tratado da forma que ele é.
46. Certo , se ele é fechado, tem que ser mais formal.
47. Se é um cara mais aberto. Epa como é que tá beleza. Então essa é
48. minha forma de reagir.
49. E: Senão isso acaba gerando o mal-entendido.
50. F: Exatamente.
51. E: Primeiro relato vamos dizer assim.
52. F: Ele na maioria das vezes ele.. ele fica fora do sério por muito pouco.
53. E: (risada)
54. F: Sabe, tipo assim. Se alguém ou alguma pessoa fala pra ele assim , eu
acho
55. que não é grave. Não isso não é um exemplo, não é uma coisa grave pra
você
56. ficar ou até fechado por um dia que ele fica de cara fechada. Pó ele é
assim,
57. ele tá de folga hoje. Se ele não vier falar pro Jean que ele tá de folga,
que ele
58. não vai fazer o show. Ele fica zangado com ele. Fica até sem falar, fica
de
59. cara feia. Fala oh porque? Mas não fala assim Oh porque você não
apareceu?
60. É outro tom. A cara fechada, sabe eu não acho que pelo fato de eu não
ter
61. avisado a ele que eu tô de folga e não vou fazer show, ele tem que se
compor-
62. tar dessa forma. Hoje eu entendo. É a cultura deles. Eles são fechados.
Tem
63. dias que ele acorda e não me dá um bom dia, beleza. Também eu não
fico.
64. Antigamente eu reagia diferente, eu também fechava a minha cara e no
final
65. do dia a gente começava de boa. Eu vinha beleza eu vinha fazia
conversava.
66. E: Então você acha que essa reserva dos franceses pode ser lida pelos
brasi-
67. leiros como as vezes até uma arrogância, quando a pessoa não conhece
muito
68. bem? Pode ser interpretada de forma diferente?
69. F: Num num sei arrogância porque eu morro com ele, sabe. Eu acho
que é um
70. pouco a intimidade não sei se é a intimidade, não sei se a característica
pessoal
71. dele, mas O que eu quero falar resumindo tudo.
72. E: Mas aí o que eu falo que não especificamente ele. Os franceses
assim, os
73. franceses de uma forma geral, você tá caracterizando como mais
reservados.
74. Você acha que essa reserva pode ser interpretada de forma diferente
pelos
75. brasileiros.
76. F: Eu acho que a depender da situação, a depender do momento. A
depender
77. do que se foi feito. A depender da ação que foi o que passou. Acho que
pode
78. ser interpretada comooo realmente uma...
79. E: Uma pessoa mais arrogante?
80. F: Mais arrogante.
1. F: Ela ela tava é de biquíni né, então eu pedi que ela colocasse tipo
assim
2. alguma canga, alguma blusa por causa do restaurante que tem fritura
essas
3. coisas perigosas. Talvez assim pra ela sentiu como se tivesse que
colocar
4. E:
e
5. você falou em francês ou em português?
6. F: Não não eu não falei
7. E: Você gesticulou mais?
8. F: eu gesticulei pra ela, aí ela levou
na
9. brincadeira e entendeu ela entendeu. Na verdade ela entendeu que
era uma
10. blusa, mas ela na brincadeira ela fez como fosse pra tirar pra tirar.
(faz gesto
11. imitando o que a francesa realizou, como se perguntasse para tirar a
parte
12. superior do biquíni) (risos) eu falei assim não, não.
13. E: E como é que foi o gesto que você fez? Se fez como se fosse pra
colocar.
14. F: Eu fiz assim pra ela né. (demonstra fazendo o gesto de por algo
por cima
15. do biquíni superior) Então ela pegou aí ela pensou assim ela. Aí ela
pegou,
16. ah pra tirar e tal.
17. E: Fez o gesto contrário.
18. F: É ao contrário. Ela foi acho que meio irônica comigo, entendeu.
19. E: É entendi, na interpretação do gesto. Merci monsieur.
ENTREVISTA nº 17 CPH
R031
o
N total Nacionalidade Faixa etária Sexo Escolaridade Competência
de Lingüística
relatos
Ens.
2 Brasileira 24 a Fem. Médio Básico
ENTREVISTA nº 18 CPH
R032
o
N total Nacionalidade Faixa etária Sexo Escolaridade Competência
de Lingüística
relatos
Ens.
2 Francesa 32 a 37 Masc. Médio LM
ENTREVISTA nº 19 CPH
R033
o
N total Nacionalidade Faixa etária Sexo Escolaridade Competência
de Lingüística
relatos
Ens.
1 Brasileira 41a Fem. Médio Básico
ENTREVISTA nº 20 CPH
R034 a R039
o
N total Competência Vários participantes
de Nacionalidade Lingüística R034- Mulher 1
relatos de todos de todos R035- Mulher 2
R036- Homem 1
1 Brasileira Básico R037- Homem 2
R038- Homem 3
R039- Homem 4
ENTREVISTA nº 22 CPH
R041
o
N total Nacionalidade Faixa etária Sexo Escolaridade Competência
de Lingüística
relatos
Ens.
1 Brasileira 35 a 40 Fem. Médio Básico
PERFIL IDENTITÁRIO DO HÓSPEDE FRANCÊS
AMOSTRA CPH
ENTREVISTA nº 26 CPH
R053
o
N total Nacionalidade Faixa etária Sexo Escolaridade Competência
de Lingüística
relatos
1. F: Alors déjà.. ça fait assez longtemps et puis c’est pas tous les
2. Brésiliens et... toutes les classes sociales du Brésil. C’est seulement
3. certaines personnes et moi j’ai réagi selon la réalité des choses donc
4. c’est pas ça ne concerne peut-être pas tout le monde au Brésil.
5. E: D’accord.
6. F: Alors, par exemple le rire moi, les gens que j’ai connu riaient
7. beaucoup plus que les Français et encore plus que les Allemands.
8. Parce que quand j’ai connu mon ami brésilien j’habitais en
9. Allemagne et le contraste il est encore plus grand entre l’Allemagne
10. et le Brésil que entre la France et le Brésil. Et... effectivement mon
11. ami était toujours un peu étonné que même les jeunes ne riaient pas
12. tellement et... quand on... il reprochait aux européens de pas être
13. assez rigolos de pas raconter des plaisanteries de pas rigoler de
toutes
14. sorte de choses et... pour un Brésilien on était un peu (coincé)
15. (risos)
16. Et par exemple au cinéma quand il est vénu au cinéma en Allemagne
17. il a trouvé que les gens étaient beaucoup trop sérieux, trop
18. silencieux, plus respectueux ne disaient rien le silence était
19. obligatoire. Personne n’avait le droit de rien dire de rien faire au
20. cinéma, ça cela l’a beaucoup choqué parce qu’il m’a dit _ Au Brésil
21. si on va voir un film on va avec des copains, avec des amis il y a
22. plein de gens, tout le monde rigole, tout le monde crie tout le monde
23. donne son avis sur le film c’est beaucoup plus gai qu’ici et le public
24. participe beaucoup il était très choqué il a même remarqué ça c’est
25. lui qui a remarqué ça _ Mais vous vous êtes trop sérieux ah...
26. vous dites rien vous êtes sages la [cope] des images et au Brésil
c’est
27. pas du tout comme ça (rire)
28. E:Très bon.
ENTREVISTA no 1 RELATO 2 ACI
ENTREVISTA nº 2 ACI
R006
o
N total Nacionalidade Faixa etária Sexo Escolaridade Competência
de Lingüística
relatos
Pós-
2 Brasileira 32 a 37 Fem. Graduação Intermediário
ENTREVISTA nº 4 ACI
R018
o
N total Nacionalidade Faixa etária Sexo Escolaridade Competência
de Lingüística
relatos
Curso
1 Brasileira 40 a 50 Masc. Superior Avançada
ENTREVISTA no 4 RELATO 1 ACI
11. F:Levei uns dias para entender por que para eles é tão importante
dizer "au
12. revoir" ao final da comunicação. Quando eu agradecia, simplesmente
e ia
13. embora, diziam-me, um tanto indignados
mim, o
16. simples "merci" já dizia tudo. Dias depois, entendi que "au revoir"
1. F : J´ai vu que les Brésiliens ils disent beaucoup ‘se Deus quiser’.
Ça c´est
2. vraiment partout et ça je ne vois pas chez les Français, pas comme ça
3. C´est plutôt chez les arabes comme ‘Ich Alah’. À la fin de la phrase
les
4. Brésiliens disent Je veux faire tel ou tel chose, se Deus quiser. C´est
partout
5. E: Même à la télé, c´est fréquent d´écouter aux émissions. Bonsoir
et à
6. demain si Deus quiser. Il y a un présentateur qui a créé son slogan:
7. À demain, “Se Deus quiser e ele há de querer”.
ENTREVISTA nº 6 ACI
R027
o
N total Nacionalidade Faixa etária Sexo Escolaridade Competência
de Lingüística
relatos
Curso
4 Brasileira 27 Masc. Superior Intermediário
1. F. Donc les faits rigolos sont les habitudes françaises. Eux lá-bas on
va dire,
2. ils sonts tous carrément carrés comme ça (a entrevistada gesticula
fazendo
3. um quadrado). Ici (no Brasil) on s’amuse beaucoup plus, si jamais
4. il y a un malentendu on dit Ah ! c’est pa grave, tandis que lá-bas (na
5. França) eux, non, quand il y a de petits trucs, de petites gaffes, c’est
déjà
6. énormement vu.
7. Donc alors pour nous avec les habitudes et les traditions
brésiliennes,on
8. arrive lá-bas c’est marrant de voir la... l´assitance quoi ! On va dans
une
9. boulangerie par exemple et puis on voit la vendeuse, elle sert du pain
avec la
10. main, elle prend normalement avec, sans gants, sans rien. Alors
11. pour nous (brasileiros) ici c’est étonnant, on se dit _Ah franchement
c’est
12. sale, c’est avec la main ! ce n’est pas acceptable quoi ! Mais oui, lá
bas ils
13. servent avec la main.
14. E. La première fois que tu as vu ça , c’était bizarre.. un peu.. ?
15. F. Oui oui ça m’a choqué beaucoup , parce que on imagine la France,
tout le
16. monde poli, très classique, etc...
17. E. C’était quand même un peu délicat pour lui dire ça ?
18. F. Oui exactement ! je lui ai demandé même pas, mais dans mon cas
19. c’est différent car j’étais de l’autre côté, avec la vendeuse qui c’est
ma soeur
20. d’ailleurs et en voyant comme ça donner le pain avec la main
directment je
21. lui ai demandé si c’était normal, elle m’a dit qu’ au début elle a
trouvé
22. bizarre aussi mais... c’est comme ça partout en France, et après j’ai
vu que
23. c’était vrai.
ENTREVISTA nº 8 ACI
R044
o
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de Lingüística
relatos
1. F. Bem, assim por minha filha ter uma boulangerie eu pude presenciar o
2. contador ir até a casa dela. Fazerem toda a parte de contabilidade do dia
e
3. ele sair com a mala normalmente com o dinheiro da féria do dia
4. normalmente, assim sem ninguém incomodá-lo. Eu achei assim incrível,
5. porque você ir até à casa de um comércio e trazer uma maleta com
6. dinheiro e todos em volta sabendo que aquilo ali é o dinheiro que os
7. contadores agem assim... é realmente incrível.
8. E. Você como brasileira acha isso impossível aqui?
9. F.Ahhh Muito impossível (muitos risos), com certeza.
ENTREVISTA nº 9 ACI
R045
No total Nacionalidade Faixa etária Sexo Escolaridade Competência
de Lingüística
relatos
ENTREVISTA nº 10 ACI
R047
o
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de Lingüística
relatos
ENTREVISTA nº 11 ACI
R048
o
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de Lingüística
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1. F. Uma coisa que me chamou atenção que você vai na padaria comprar
2. uma bisnaga de pão e eles te entregam o pão sem embrulhar
diretamente
3. na sua mão. Você leva pra casa com o pão na mão.
4. E. Mas nenhum papelzinho pra...?
5. F. Nenhum papelzinho. É o pão direto e você pega o pão e leva pra casa
6. segurando o pão.
7. E. E isso também em Paris ou em Lourdes?
8. F. Não isso foi em Paris também.
9. E. Tá ok !
ENTREVISTA nº 12 ACI
R049
o
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ENTREVISTA nº 13 ACI
R050
o
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1. A primeira vez que fui à Paris, eu fui com duas colegas de faculdade.
2. Éramos recém formadas e queríamos ver tudo, conhecer tudo.
Aquela sede
3. de conhecimento. Lembro que planejávamos juntas a viagem desde o
Brasil
4. para curtirmos ao máximo lá. Então na agência de viagem ainda no
Brasil,
5. nós fizemos questão de escolher um hotel com café da manhã buffet.
6. Porque no meio do turismo, eles fazem diferença do café da manhã
7. ‘continental’ que é o clássico petit-déjeuner, bem comedido mesmo
e o tal
8. buffet que é café da manhã pra turista, bem farto, com bastante
variedade,
9. mais no nosso estilo do Brasil. Nossa intensão era de bater perna o
dia todo
10. por isso era muito importante um café reforçado sobretudo porque
um
11. sandwiche poderia virar almoço. Enfim todo esse preâmbulo é para
explicar
12. que pela manhã fomos com aquela fúria para experimentar a maior
13. variedade possível de queijos no café da manhã. Afinal de contas
tinha
14. chegado o momento de conhecer o país dos quase 400 tipos de
queijos que
15. havíamos aprendido na Faculdade. Quando chegamos no salão e
vimos
16. aquela mesa de buffet farta mas sem nenhum nenhum queijozinho,
nem
17. presunto, que decepção! Nosso primeiro pensamento é tínhamos sido
18. enganadas no Brasil e comprado gato por lebre. Pensamos mesmo
que o
19. problema era com o hotel que devia ter estrelas bem a menos. Até
que não
20. agüentamos e perguntamos depois de alguns dias hospedadas e
todos eles
21. sem queijo no café da manhã. Nós acabamos perguntando ao
recepcionista
22. que era bem simpático e ele disse que os franceses não tinham
hábito de
23. comer queijo no café da manhã.
ENTREVISTA no 14 RELATO 6 ACI
1. Uma amiga francesa que acabara de ter contato com o Brasil me disse
muito
2. séria: _Joana aqui no Rio as pessoas são muito religiosas, não é?
3. É que quando estão nos ônibus sempre vejo se benzerem em
determinados
4. pontos do caminho...
5. Pensei bastante e, rindo, lhe expliquei que se benzem quando passam
em frente
6. a uma igreja ou a um cemitério... !!!!!!
ENTREVISTA nº 16 ACI
R002
o
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de Lingüística
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ENTREVISTA nº 17 ACI
R001
o
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de Lingüística
relatos
ENTREVISTA nº 18 ACI
R014
o
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de Lingüística
relatos
1. Uma coisa que achei muito diferente do Brasil foi a noção de civilidade
de
2. organização mesmo dos franceses que infelizmente é um ponto que a
gente
3. ainda precisa trabalhar muito. Quando comprei um bilhete de trem
naquelas
4. máquinas usei uma opção de desconto porque tinha uma carteira de
5. estudante na época. Só depois de viajar e me beneficiar do desconto é
que
6. fiquei sabendo que minha carteira não dava direito à redução de preço.
Não
7. houve má fé da minha parte, quando pedi a opção para estudante mais
8. barata, realmente achei que estava correto e até comemorei porque
9. finalmente ia usar a tal carteirinha internacional que não tinha me
servido
10. pra nada até então.. Bem isso tudo é só pra mostrar que não há uma
11. fiscalização ostensiva, pois primeiro acredita-se na conduta correta. É
claro
12. que tem fiscais no trem, mas é diferente eles aparecem pedem os
bilhetes às
13. vezes de todos e às vezes de alguns. Mas no momento da compra
naquelas
14. máquinas não há fiscalização. Alguém pode agir de má fé, arriscando
não
15. ser pego pela fiscalização. No Brasil não damos espaço para a
credibilidade,
16. não há como, o jeitinho brasileiro não permite.
ENTREVISTA nº 20 ACI
R004
o
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de Lingüística
relatos
Superior
1 Brasileira 20 a 25 Masc. incompleto Básico