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3º Seminário Internacional da Academia de Escolas de Língua Portuguesa: Arquiteturas do Mar, da Terra e do Ar.

A Arquitectura como Arte no Espaço Espiritual de Tadao Ando.


Sarah Frances Dias*, Maria João Durão†
* CIAUD - Centro de Investigação em Arquitectura, Urbanismo e Design, Faculdade de
Arquitectura, Universidade de Lisboa, LabCor-Laboratório da Cor da FAUL
sarah.frances.dias@gmail.com
† CIAUD - Centro de Investigação em Arquitectura, Urbanismo e Design, Faculdade de Arquitectura,
Universidade de Lisboa, LabCor-Laboratório da Cor da FAUL mjdurao@fa.ulisboa.pt

Resumo: Introdução

O espaço poético, enquanto palco e plataforma existencial e espiritual, dotado de valores intrínsicos,
significados e significantes é observado e descrito enquanto fenómeno artístico, através da obra de Tadao
Ando. O espaço enquanto arte e veículo de conteúdo e expressão qualificada de uma sensibilidade artística,
integra qualidades específicas que permitem uma integração do ser no mundo, produto de uma experiência
multi-sensorial integrada e de outros factores que compreendem e definem a obra arquitectónica e artística de
Tadao Ando. Pretende-se com este trabalho comunicar aspectos concernentes à compreensão do espaço
arquitectónico enquanto elemento que transcende a funcionalidade e os aspectos materiais da sua existência,
numa procura de universalidade, de harmonia e de integração do ser com a sua dimensão espiritual.
O espaço de Tadao Ando é entendido como uma produção sensível e artística, que pretende evocar
no ser habitante determinadas qualidades, valores e significados, pelo que os seus espaços arquitectónicos se
assumem mais do que um produto de meras condições físicas, mas antes um espelho que completa as
necessidades psicológicas, emocionais e espirituais do ser humano. É neste enquadramento que se qualifica,
analisa e define uma experiência sensitiva espacial, simbólica, metafórica, poética e espiritual, com base em
dinâmicas que definem e integram as complexidades e os mecanismos compositivos e percepcionados.

Palavras-chave: ARTE, ARQUITECTURA, POÉTICA, ESPIRITUAL, SENSORIAL, EMOÇÃO, ESPAÇO,


SIGNIFICADO, EXPERIÊNCIA, SER, FENOMENOLOGIA.

1. Tadao Ando

Tadao Ando, nascido em 1941 em Osaka, Japão, não tendo frequentado uma Escola de Arquitectura,
foi profundamente influenciado pelas obras de Le Corbusier, Mies Van der Rohe, Alvar Aalto, Louis Kahn e
Frank Lloyd Wright. Em 1969, funda a empresa Tadao Ando Architect & Associates; em 1976, recebe o prémio
da Japanese Architectural Association com a sua Casa Azuma em Sumiyoshi, tendo ganho o prémio Pritzker em
1995. A sua arquitectura é conhecida e valorizada pelo enfoque na experiência do espaço purificado e
depurado, composto de materiais simples e pelas qualidades fenomenológicas das interacções entre a luz e o
espaço, que no seu conjunto, permitem uma maior concentração na experiência, no sentimento e na emoção
que daí emergem. Deste modo, Tadao Ando cria um ‘cosmos’ com cada obra de arquitectura que comunica e
ecoa no espírito dos visitantes, como é próprio de uma obra de criação artística.
Para isso, Ando interpreta e recombina os princípios dos seus múltiplos antecedentes, as diversas
tradições e influências da arquitectura moderna, a essência da paisagem abstracta e a tradição da cultura
japonesa, desta forma criando uma independência compositiva caracterizadora de uma expressão única e
pessoal. Kai Gutschow (2006) explica que a obra de Tadao Ando reflecte uma busca pessoal com objectivos
específicos de auto-realização que impulsionam o seu trabalho sendo contudo a ‘poesia’ que se revela como
mais significante: «Em última análise, é a poesia do seu trabalho que é o mais importante : "Raios de luz,
tocando a superfície áspera, absorvidas e cristalizadas por cada uma das unidades de bloco, criando um brilho

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cintilante infinito.". ” (Gutschow, 2006, p.6)1. A arquitectura de Tadao Ando assume-se assim como uma re-
interpretação contemporânea da estética japonesa, mas transcende-a através da modernidade (da cultura pós-
moderna), que a conduz a uma filosofia do tempo, do lugar, do estar no mundo e do viver as dimensões
espirituais que definem e sustentam o ser humano na sua complexidade.

2. Regionalismo Crítico?

‘Regionalismo Crítico’ é um termo da teoria da arquitectura que define uma abordagem única ao
universalismo e às tradições e culturas locais. Em Concrete Resistance: Ando in the context of critical
regionalism’, Gutschow (2006) ‘revela a inadequação do termo ‘regionalismo crítico’, para descrever a obra de
Tadao Ando. O termo é inicialmente definido por Tzonis e Lefaivre no artigo The Grid and the Pathway, onde os
autores se opõem à arquitectura moderna por a considerarem: “(...) impessoal e monolítica, destruindo as
qualidades humanísticas na expressão arquitectónica que seria reintegrado por uma nova forma de
regionalismo.” (Gutschow, 2006, p.3)2. O autor continua a explicar que Frampton, seguindo os passos de Tzonis
e Lefaivre, compõe o artigo Towards a Critical Regionalism onde define o Regionalismo Criítico como uma
‘arquitectura de resistência’, que pretende mediar o impacto do universalismo com as peculiaridades de um
determinado lugar; esta arquitectura de resistência, emerge-se contra os ‘padrões universais’, a
homogeneização da cultura e o modernismo ‘sem lugar’ 3. Um dos critérios definidos por Frampton, enfatiza o
autor, é o de promover um diálogo com a natureza e com o meio ambiente onde a obra arquitectónica se insere.
Frampton, deste modo, interliga com o Regionalismo Critico e com a fenomenologia, a obra de Tadao Ando.
Contudo, Gutschow (2006) explica que apesar de Tadao Ando se manifestar contra a standandização e o ‘não
particular’ do modernismo, contra uma arquitectura que está isolada da vida e da condição humana, o termo não
define completamente o seu trabalho, nem comporta todas as suas dimensões.

Que outras propriedades e considerações contemplam e integram o trabalho de Tadao Ando?

3. Arquitectura como Arte: poesia e espaço significante

No discurso de aceitação do ‘Pritzker Architecture Prize’, Tadao Ando (1995) explica que existem duas
dimensões distintas que coexistem em Arquitectura: a primeira, relaciona-se com a ‘função, segurança e
economia’, e está intimamente ligada com as questões da vida e do real. Colocando a questão: “Pode a
arquitectura ser arquitectura apenas com este principio?” (Ando, 1995, p.1)4, introduz a segunda dimensão, que
define a arquitectura enquanto arte. Pelas suas palavras: « Uma vez que a arquitectura é uma forma de
expressão humana, quando ela sai das exigências da pura construção em direcção ao domínio da estética, a
questão da arquitectura como arte surge. É neste ponto que a outra dimensão, a da imaginação, entra em
jogo.» (Ando, 1995, p.1)5. Ando, definindo esta segunda dimensão, explica que desde Vitrúvio com os seus três
princípios e categorias da arquitectura (utilitas, firmitas, e venustas), que as considerações das dimensões de
imaginação já estavam contidas na obra arquitectónica e já eram vistas como uma forma de afectar
profundamente a ‘espiritualidade humana’. Sublinha ainda que desde a sua génese que o destino da
arquitectura, é o de viver para além dos domínios da mera funcionalidade 6.
Para Tadao Ando, fazer arquitectura é uma síntese que se opera entre o ‘ideal e a realidade’ e entre o
‘fictício e o substantivo’, tendo como objectivo a procura do ‘ideal’ pela ‘sobreposição de imaginações

1 Tradução livre de: “ Ultimately, it is the poetry of his work that is the most important: ‘Rays of light, stroking past the coarse surface, are absorbed and

crystallized by each of the block units creating an infinite sparkling brilliance’.” (Gutschow, 2006, p.6).
2 Tradução livre de: “ (…) impersonal and monolithic, destroying the humanistic qualities in architectural expression which would be reinstated by a new

form of regionalism.” (Gutschow, 2006, p.3).


3 Referência a: “ In the article “Towards a Critical Regionalism,” Frampton defines critical regionalism as “an architecture of resistance,” seeking “to mediate

the impact of universal civilization with elements derived indirectly from the peculiarities of a particular place,” thus aiming “to reflect and serve the limited
constituencies in which it was grounded.” “ (Gutschow, 2006, p.4).
4 Tradução livre de: “Can architecture be architecture with this alone?” (Ando, 1995, p.1).
5 Tradução livre de: “Since architecture is a form of human expression, when it steps out of the exigencies of sheer construction toward the realm of

aesthetics, the question of architecture as art arises. It is at this point that the other dimension, imagination, comes into play.” (Ando, 1995, p.1).
6 Referência a: “That is to say that he too, posed the fictional dimension of imagination combined with the realistic dimension as that synthesis which

deeply effects human spirituality. Since the genesis of architecture, its fate has been that it cannot be constituted by functionality alone.” (Ando, 1995, p.1)

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especulativas’7. Neste sentido, o seu objectivo é o de transcender os obstáculos e os desafios físicos e


mundanos, de modo a que, na procura desses ideais, encontre uma forma de realizar o que define como uma
‘arquitectura substantiva’ (‘substantive architecture’). Substantive refere-se a substância e relaciona-se com o
que ‘exprime uma existência’. Explica ainda que esta busca relaciona-se com a alma e com o espírito humano:
“O que tenho procurado alcançar é uma espacialidade que estimula o espírito humano, desperta a sensibilidade
e comunica com a alma mais profunda.” (Ando, 1995, p.1) 8. Define este tipo de construção e objectivos como
uma ‘ficcionalidade’, que de modo a ser definida espacialmente implica uma harmonia e ligação entre razão e
intuição, e ainda uma combinação entre “(...) a ficção e o actual num espaço de uma dimensão superior.” (Ando,
1995, p.1)9. De modo a que a arquitectura se transforme neste tipo de ‘abrigo espiritual’, Ando clarifica, que o
que se assume como importância fundamental é a ‘imaginação e a ficcionalidade’ que a arquitectura contém
além do substantivo; a arquitectura alcança estes objectivos ficcionais, quando entra nos domínios ambíguos do
espirito humano e por fim: “Só depois da especulação dos mundos do real e do ficcional juntos, pode a
arquitectura vir a existir como uma expressão, e subir até ao reino da arte.” (Ando, 1995, p.1) 10.

Neste contexto salienta-se o conceito de poesia de Gaston Bachelard (2005), quando o autor clarifica
que esta existe além da simples metáfora, definindo a imagem poética e o devaneio poético, como dimensões
significantes e condições inerentes à experiência qualificada. Bachelard (2005) explica que, a poesia, apesar de
ser fugaz e menos nítida que o sonho (assumindo-se como ‘um gelo do instante’ 11), espelha e contém uma
condição metafísica implícita e um conjunto de valores ontológicos. A imagem poética, é um produto da
imaginação criadora surgindo como ‘fenómeno da liberdade’ 12, e está associada à consciência provindo de um
complexo sistema fenomenológico que contém um sujeito falante; deste modo, nela estão contidas meditações
psico-analíticas, que contêm uma felicidade própria produto de imagens ‘não-vividas’ do seu criador, tornando-
se possível “ (...) viver o não vivido e de abrir-se para uma abertura da linguagem.” (Bachelard, 2005, p.14) .
Assume-se assim um carácter de sublimação e significação contida na imagem poética, explica Bachelard
(2005), que se opõe ao ‘jogo efémero’ (por sua vez, sem significação passional, psicológica, ou outra). Neste
contexto, Bachelard define ainda o ‘devaneio’ como o princípio que unifica o sonho, a lembrança e o
pensamento, sendo através deste que se assume uma integração do ser no espaço e no mundo. É a poesia
que conduz o ser ao centro do devaneio, em cujo domínio introduzimos as nossas próprias dimensões pessoais
(memória), apoderando-nos das imagens poéticas para a vivência das imagens exigidas pela fenomenologia da
imaginação (Bachelard, 2005, p.62).
Ainda de referência neste contexto são as considerações de Martin Heidegger (1989), no que se refere
à obra de arte e à poesia nela contida, enquanto elemento que permite uma desocultação da verdade. Para
Heidegger (1989), no contacto com a obra de arte somos transportados para outro lugar, sendo através da obra
que as qualidades intrínsecas da obra vêm realmente à luz: é assim que acontece uma abertura, que pela obra
deriva um acontecer da verdade, sendo na obra que se abre o carácter e acontece o desocultar da verdade.
Assim, a obra de arte define-se como o lugar do acontecimento da verdade ‘intemporal e supratemporal’13 e,
também ela é deste modo entendida como uma ‘essência poetante’. Sendo a poesia o que permite esta
abertura desocultando a verdade, toda a arte é ‘na sua essência’ poesia14. Nas suas palavras: ”O dizer
projectante é Poesia: (...). O dizer projectante é aquele que, na preparação do dizível, faz ao mesmo tempo
advir, enquanto tal, o indizível ao mundo.” (Heidegger, 1989, p.59).
Com Gaston Bachelard (2005) e Martin Heidegger (1989), a poesia está no centro da experiência
qualificante e significante, que permite uma compreensão da ‘verdade’ e dos ‘valores ontológicos’ e por sua vez
possibilita uma integração do ser no mundo. Estabelecem-se relações com os objectivos definidos por Tadao
Ando, com a sua procura de ‘ficcionalidade’ e de uma ‘arquitectura substantiva’ que transforme o espaço numa
dimensão superior e possibilite um acontecer de dimensões existenciais e um ‘abrigo’ espiritual do ser.

7 Tradução livre de: “ (…) the ideal by overlaying speculative imaginings.” (Ando, 1995, p.1).
8 Tradução livre de: “ What I have sought to achieve is a spatiality that stimulates the human spirit, awakens the sensitivity and communicates with the
deeper soul.” (Ando, 1995, p.1).
9 Tradução livre de: “ (…) fiction and the actual into a space of a higher dimension.” (Ando, 1995, p.1).  
10 Tradução livre de: “Only after speculating the worlds of both the actual and the fictional together can architecture come into existence as an expression,

and rise into the realm of art.” (Ando, 1995, p.1).


11
Expressão usada por Gaston Bachelard no livro a Poética do Espaço, página 52.      
12
Expressão usada por Gaston Bachelard no livro a Poética do Espaço, página 59.      
13
Referência a: “A verdade, diz-se com efeito, é algo intemporal e supratemporal.” (Heidegger, 1989, p.29)      
14
Referência a: “ Toda a arte, enquanto deixar acontecer da advertência da verdade do ente como tal, é na sua essência Poesia.” (Heidegger, 1989, p.58)      

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4. Princípios Filosóficos Japoneses e Dimensões Espirituais

Tadao Ando, de modo a fazer emergir as dimensões existenciais e espirituais no espaço, concilia as
influências da arquitectura ocidental com a tradição das filosofias zen, tanto na conceptualização projectual
como num modo de vida inerente. Os princípios tradicionais japonesas (arquitectónicos, estéticos e filosóficos)
não são negligenciados, mas integradas e incorporados de uma nova forma: o uso da geometria clara, a
importância da luz, a simplicidade do espaço (como enunciação de alguns exemplos espaciais), mas mais
profundamente, a incorporação das filosofias e dos princípios Zen. A este propósito, tanto Philip Drew (1996)
como Masao Furuyama (1996), consideram que a arquitectura de Tadao Ando reflecte uma dimensão espiritual
que encontra forma através das filosofias e dos princípios Zen.
Um dos princípios explorados e incorporados nos seus espaços é o principio da ‘natureza dual da
existência’, que compreende a realidade através de duas dimensões, a material e a espiritual, que co-habitam e
interagem em sintonia. Deste modo, os espaços enunciam e reflectem estas duas condições do ser humano e
do mundo, trazendo uma consciência espiritual que emerge através da dimensão material (a consciência do
eterno através de uma forma arquitectónica). Além deste principio de dualidade, a filosofia clássica japonesa
entende a realidade como estando em constante mudança e ‘impermanência’ (expressão budista baseada na
ideia de mujō que significa impermanência); este principio é entendido como uma condição fundamental da
existência, subjacente e inerente à vida, à filosofia e à arte. Decorrente desta compreensão da transitoriedade
de todas as coisas, emerge o conceito e a expressão de 'mono no aware', que se refere a um ‘pathos’
(consciência) de ‘coisas’ (mono), e se traduz literalmente como uma ‘consciência das coisas’. O conceito implica
uma valorização da vida e uma consciência do ambiente e das coisas que definem e sustentam a nossa
existência: “Na medida em que não nos alegramos na vida deixamos de apreciar o pathos das coisas com a
qual compartilhamos nossas vidas” (Parkes, 2011, p.1) 15. Este conceito também encontra correlação directa na
obra de Tadao Ando e com a sua valorização da vida, do ambiente, da natureza e uma compreensão da
transitoriedade da existência que conduz a uma exaltação do mundo espiritual.
Outro conceito central da filosofia japonesa é o de Wabi, entendido como a simples e austera beleza
que atinge o seu pico de austeridade no vazio: uma ideia central do budismo 16. Wabi pressupõe uma
compreensão da existência simples e depurada, pelo que estruturas simples que o celebrem, podem ecoar
profundos conhecimentos filosóficos, ao contrário do que acontece quando elementos decorativos subtraem a
simplicidade e beleza do espaço puro e depurado. O conceito de Wabi encontra eco no trabalho de Tadao
Ando, sobretudo quando o vazio que ele abre, se preenche de um jogo de luz e sombra, porém, para uma
compreensão mais profunda deste conceito, torna-se fundamental clarificar o conceito do ‘nada’ como tema
central da filosofia budista e como conceito central que define o trabalho de Tadao Ando.

4.1. O Nada e o Vazio Espacial

O conceito do ‘nada’ ou do ‘vazio’ (nothingness) é um tema central e conceito essencial do pensamento


Zen. Como conceito, é visto e entendido como algo que tem de ser experimentado em vez de ser
conceptualizado, em parte, devido ao seu caracter contraditório. Reflecte-se na palavra Śūnyatā, uma palavra
budista, que se traduz em inglês por ‘vazio’ (emptiness ou voidness). Este complexo conceito budista tem
múltiplos significados e está relacionado com a 'sabedoria do vazio’, considerado como sendo o ensinamento
central do Budismo. Esta noção ou conceito também é entendida como um estado de ‘ser’, de existência. A este
respeito, Drew (1996) explica que nas filosofias Zen: “ (...) ’ser’ é considerada a auto-revelação do 'Nada', do
informe, ou de 'Deus'.” (Drew, 1996, p.8).17. O autor esclarece que este estado de nada é igual ao conceito de
ser na sua plenitude relacionando-se, por isso, com o conceito supremo de Deus. Assim, o verdadeiro vazio ou
o verdadeiro nada, não é um estado desprovido de conteúdo, mas é equivalente a ‘ser’ na sua complexidade e
plenitude, assumindo-se tanto como ‘conhecimento’ como ‘inocência’18. Neste sentido, este perfeito estado de
vazio é igualmente equivalente a um perfeito estado de plenitude, onde 'nada' é também 'tudo'. Este ‘vazio’ em

15 Tradução livre de: “ Insofar as we don't rejoice in life we fail to appreciate the pathos of the things with which we share our lives.” (Parkes, 2011, p.1).
16 Referência a: “Wabi reaches its peak of austerity in emptiness—which is a central and pervasive idea in Buddhism.” (Parkes, 2011, p.1).
17 Tradução livre de: “ (…) ‘being’ is considered to be the self-unfolding of the unformed ‘Nothing’ or ‘God’.” (Drew, 1996, p.8).
18 Referência a: « It is both knowledge and innocence.» (Drew, 1996, p.8).  

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filosofias Zen é precisamente o oposto das filosofias niilistas do oeste: assume-se como algo desejável e
alcançável espiritualmente. O papel do belo, neste contexto, é o de provocar uma ‘epifania’ deste vazio
absoluto e/ou Deus; é o de permitir que este ‘vazio’ encontre existência. Drew (1996) explica que Tadao Ando
pretende precisamente confrontar o ser com este ‘vazio’ existencial, permitindo a sua experiência através dos
seus espaços. Sintetiza:

“Ando trata o vazio como uma espécie de plenitude divina que é absolutamente uma afirmação de vida.
Ele está preocupado com uma pobreza estética que ecoa interiormente, uma qualidade da simplicidade
que está encapsulada no termo japonês Wabi.” (Drew, 1996, p.9) 19

Este ‘vazio’ nos espaços de Tadao Ando é exposto e materializado de diversas formas. Em primeiro
lugar por uma eliminação do supérfluo que podem desencaminhar e prejudicar a atenção; para isso há uma
redução contínua do espaço para as suas qualidades essenciais primordiais. Em segundo lugar, através do
enaltecer das propriedades da luz e da escuridão num equilíbrio entre os opostos, permite que se desenrole
uma experiência deste estado de ‘vazio’ espiritual. Em terceiro lugar, o espaço puro, depurado, torna-se um
espaço de silêncio absoluto, que por si também reflecte a natureza dual e contraditória do próprio conceito: ser
o tudo através do nada. Através da interacção destes diversos elementos, Ando cria a qualidade de espaço
‘vazio’, sendo que este vazio espacial profundo é visto como uma das características principais de espaços de
Ando. Drew (1996) explica que esta particularidade e qualidade exclusiva da obra de Ando, é tão acentuada que
se pode tornar perturbadora num primeiro contacto dos visitantes dos seus espaços. De facto, é através da
qualidade de ‘pobreza’ e de ‘silêncio’, que se gera um sentimento geral de 'tranquilidade' que serve como uma
ponte para a espiritualidade. Sintetiza: “Na intersecção da luz com o silêncio, tornamo-nos conscientes do
‘nada’, do ‘vazio’ no centro das coisas.” (Drew, 1996, p.8)20.
Faz-se referência neste contexto a Bachelard (2005), que explica o metafísico como aquilo que fala de
um ‘não-eu’ e que se manifesta por um aumento de intensidades dos ‘valores de intimidade’21. Para Bachelard
(2005, p. 44), a poesia metafísica integra valores de cosmicidade e de inserção cósmica, que se detém num
‘tempo suspenso’ e recorre a símbolos ‘intemporais’ para espelhar, manifestar e dar corpo a estas mensagens
cósmicas.
O conceito de ‘vazio’ de Tadao Ando, materializa-se no ‘nada espacial’, visto tratar-se de uma condição
necessária para a transferência do ser para uma dimensão espiritual. É através do vazio que o ser humano
pode encontrar o espaço necessário para a emergência das dimensões espirituais.

5. Caracterização Espacial: Os espaços do vazio e do ser

5.1. Propriedades Existenciais: a experiência e o espaço purificado

Kai Gutschow (2006) considera ser uma das propriedades mais características da obra de Tadao Ando
aquela que define por ‘espaço purificado’. Este espaço purificado, uma forma de introduzir ordem na vida, é
explicado por Tadao Ando como incorporando o conceito de ‘shintai’, que significa a união do ‘corpo e do
espírito’ numa harmonia, através da experiência da arquitectura 22 . Ando explica, ainda, que este tipo de espaço
cria um tipo especial de energia emotiva e espiritual, que ‘reclama’ e ‘nutre’ a ‘alma e o espírito’; para isso, este
espaço ideal, contemplando aspectos seculares e sagrados, assume-se como um cosmos23. O espaço ‘shintai’
de Tadao Ando, promove, segundo Gutschow (2006) um principio de ordem e a instauração de um ‘cosmos’

19
Tradução livre de: “ Ando treats emptiness as a kind of divine fullness which is absolutely life-affirming. He is concerned with an inwardly echoing
aesthetic poverty, a quality of simplicity which is encapsulated in the Japanese term Wabi.” (Drew, 1996, p.9).
20 Tradução livre de: “ At the intersection of light and silence we become aware of ‘nothingness’, a void at the heart of things.” (Drew, 1996, p.8).
21 Expressão usada por Bachelard, Pag.57 do livro Poética do espaço: “ O metafisico fala de um não-eu, (...) aumento da intensidade de todos os valores

de intimidade.” (Bachelard, 2005, p.57)


22 Referência a: “ (…) which means the union of body and spirit, and represents the harmony of the body experiencing the architecture.” (Gutschow, 2006,

p.7).
23 Referência a: “ ‘This space can provide a special point of energy ... to reclaim and nourish their spirit and soul. I see the ideal space as being both sacred

and secular, to allow the individual either possibility through the serene openness of the place ... I am talking about approaching the space of the cosmos.’ “
(Gutschow, 2006, p.10) in Ando, From Self-enclosed Modern Architecture towards Universality, page 8.

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que se afasta do caos do mundo exterior; a arquitectura cria uma ordem espiritual, que protege da envolvência.
Este conceito também é explicado por Drew (1996), explicando que ‘cosmos’ espiritual criado por Tadao Ando, é
transversal a toda a sua arquitectura, e encontra relações com as noções filosóficas do ‘habitar’; a cidade
japonesa “ (...) representa o caos, em contraste com a casa que significa a ordem centralizada do mundo
cósmico.” (Drew, 1996, p.9)24. Gutschow (2006) salienta ainda que toda a arquitectura de Ando reflecte um
sentido de tradição secular, imbuído na cultura Japonesa, que evoca uma ‘nostalgia por um passado familiar’.
Deste modo, a arquitectura de Tadao Ando por um lado está imersa em valores tradicionais japoneses, e, por
outro, representa qualidades universais e dimensões espirituais que estão além de dimensões ‘culturais’, por se
referirem ao ‘ser’ no seu sentido mais amplo e transversal.
Uma outra característica do espaço arquitectónico de Tadao Ando é a importância da experiência. De
modo a enfatizar a experiência vivencial, os aspectos funcionais e estéticos da arquitectura são dispensados e
assumem pouca ou nenhuma importância. A experiência desenvolve-se como uma experiência sensorial que é
enaltecida através da redução dos elementos supérfluos, bem como uma exaltação dos sentidos em que
elementos são adicionados ao espaço com o intuito de enaltecer a experiência, em vez de responder a critérios
funcionais ou a requisitos estéticos. Deste modo uma intensificação da experiência desenrola-se através de
uma redução dos meios.
Salienta-se neste contexto, Scruton (1979) por enfatizar a importância e a necessidade de procurar o
‘extra’ da experiência arquitectónica onde nos encontramos reflectidos, que ‘fundamenta o ser’ através da
‘experiência da arquitectura’. Para que tal se verifique, esclarece, é preciso re-definir os valores que definem o
centro do ser através da arquitectura e afastar as questões meramente funcionais 25. Pallasma (1996)
igualmente num enquadramento que procura na arquitectura um posicionamento além do meramente funcional,
defende uma visão metafisica e filosófica da compreensão do espaço arquitectónico, pois seria a partir dessa
consciência, que se tornaria possível problematizar e definir prioridades e atitudes no que respeita às
interacções espaciais, às percepções do habitante e ao seu enquadramento metafísico e ontológico no espaço
recorrendo a elementos compositivos que espelham o ser no mundo, valores de tempo, de duração, e de
espaço. Para Pallasmaa (1996), as experiências significativas da arquitectura interligam matéria, tempo e
espaço numa única dimensão, deste modo penetrando a consciência do ser que as vive. É através da
complexidade de relações entre os elementos compositivos, que se opera o posicionamento do ser no mundo,
aumentando-se a sua experiência vivencial enquanto ser pelo sentimento de pertença e de integração do ser na
sua própria existência.
Os espaços de Tadao Ando, espaços espirituais, imaginativos e emocionais, entre o ‘ficcional’ e o
‘real’, assumem-se como espaços que dão premazia à experiência que se desenrola pela emoção e pelo
sentimento, através de jogos sensoriais e de elementos que permitem que mundos emocionais e espirituais
ecoem no espectador.

5.2. Propriedades espaciais: a materialização e os elementos compositivos

A arquitectura de Tadao Ando tem uma profunda ligação com a natureza que o rodeia e com a sua
tradição. Há uma incorporação total da natureza no interior das obras arquitectónicas, e uma forte conexão
entre a arquitectura, a natureza e a paisagem que agem constantemente em sintonia. Através dos espaços, a
pessoa se torna consciente da natureza, e essa consciência permite uma compreensão e desenvolvimento da
condição de "ser" e uma compreensão da "impermanência" e "valorização" para a frugalidade da vida.
A parede de betão armado é outra das características da obra de Tadao Ando, que contribui para a
materialização desses princípios. A parede simboliza uma separação dos princípios da arquitectura modernista.
Estas paredes são feitas 'in situ' e são estruturas grossas, permanentes e tecnicamente cuidadosa na execução.
O invólucro dos seus espaços é definida por estas paredes de betão. Tadao Ando explica que a parede é um
meio de criar um espaço especial que divide e transforma, assim como cria um espaço que pode permitir o
‘enriquecimento’ do ser. As paredes são polidas, tornando-se suaves e reflexivas, que resulta numa superfície

24 Tradução livre de: “ (…) represents chaos, in contrast to the house which signifies a centered cosmic world.” (Drew, 1996, p.9).  
25 Referência a: “ We must then search for that core of experience, for that ‘surplus’ in which we find ourselves reflected, not as creatures
of the moment, consumed in the present activity, but as rational beings, with a past, a present and a future, We must try to recapture what
is central in the experience of architecture. Like Alberti, Serlio, and their followers, we will find that we can do that, only if we reinstate
aesthetic values at the heart of the builder’s enterprise, and allow no question of function to be answered independently of the question of
the appropriateness of a building, not just to its function, but to a style of life. “ (Scruton, 1979, p.36)

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como o vidro, que reflecte e regista as diferentes qualidades de luz e ecoa as diferentes vibrações da água – a
parede de betão permite um eco da luz e da água e subsequente incorporação dos elementos de natureza
dentro do espaço. Sob o ponto de vista fenomenológico, os espaços reflectem os princípios subjacentes de
‘impermanência’ e valorização da vida.
O uso de elementos geométricos puros e de formas puras, reflectem a influência da arquitectura de
Louis Kahn; os espaços de Ando são organizados por relações geométricas e ligações entre essas formas
puras. A pureza formal permite um isolamento e afastamento do caos, sendo que a depuração de forma permite
a materialização do ‘nada’ e acentua o conceito de ‘ser’. A Luz é uma ferramenta central explorada por Ando na
criação destes espaços de ‘vazio’. A qualidade, a emoção e a direcção da luz é de vital importância e define a
substância, a atmosfera e o espírito do espaço. A luz assume-se como uma componente que é tanto metafórica
como física, material e espiritual, agindo permanentemente nessas duas dimensões. Tadao Ando explica e
acentua a importância da luz, quando a descreve como a ‘origem de todo o ser’26.
Luz, terra, água e ar são os principais componentes e elementos predominantes na maioria das suas
obras; evocam o sentido da natureza, da coerência e do equilíbrio entre todos os elementos naturais e o
homem, permitindo uma coerência do ser no espaço e consigo mesmo. Tadao Ando usa a água e o seu som
como um dos componentes de composição dos seus espaços, e como uma maneira de ecoar esses princípios
de "silêncio" e "nada". A Água torna-se uma condição através da qual o espaço é definida e caracterizada, mas,
mais importante é através do elemento água que ele permite que o ser transcenda visualmente e emotivamente
as condições do mundo material: ele cria uma dimensão alternativa, evocando movimento, reflexões, sons e
substâncias que funcionam como uma "ferramenta" para a experiência de "nada" no próprio ser.
Neste contexto faz-se referência aos textos fenomenológicos de Pallasmaa (1996) e de Steven Holl
(1994) que falam da integração do ser e a fenomenologia espacial através da luz, das sombras e dos sentidos.
Para Juhanni Pallasmaa (1996), toda a experiência espacial qualificada deve ser multi-sensorial, pelo que, no
seu entender, “o sentido de realidade é reforçada e articulada por essa interacção dos sentidos.” (Pallasmaa,
1996, p.28) 27, proveniente de complexas materialidades, tácteis e plásticas, que despertem todos os sentidos;
através de um envolvimento totalitário das qualidades e faculdades humanas, define-se uma experiência
apreendida pela percepção, qualificante e integrada, que utiliza os sentidos enquanto veículos perceptivos e
emocionais. A evocação do tempo permite ainda um sentido de integração existencial; para isso, Pallasmaa
refere a importância da sombra enquanto elemento místico e poético, criando ambientes potencializados por
sensações de proximidade e de intimidade; são os efeitos da luz, os tipos de sombra, os tipos de penumbra,
que conferem qualidades místicas, integrando o ser num espaço multi-sensorial. Também Steven Holl (1994)
fala sobre a importância de gerar uma experiência completa da arquitectura a partir de vários elementos:
tempo, luz, sombra, transparência, fenómenos de cor, textura, material e detalhes. Apenas uma experiência
completa pode revelar as intensidades do mundo, e ser absorvido pelos sentidos para provocar uma
consciência sensibilizadora ( expressão original ‘sensitized consciousness’ ) 28 .
Outra qualidade dos espaços de Tadao Ando é o efeito de surpresa da experiência. Ando faz o
visitante circular no interior da forma arquitectónica, através de um percurso, antes de chegar a um ponto final
de contemplação. Este é um movimento complexo de abordagem que conduz para o núcleo do edifício, reflecte-
se precisamente na configuração do espaço, que flui em direcção a um centro, para um ‘coração’ da
experiência, e também ecoa, metaforicamente, a viagem do eu para esses espaços interiores espirituais do
silêncio e do absoluto.

6. Exemplos

6.1. ‘Church of Light’

A ‘Church of Light’, também conhecida como "Church with Light", construída em 1989, é a principal
capela da Igreja de Kasugaoka Ibaraki, localizada na cidade de Ibaraki 25 km ao norte-nordeste de Osaka num
pequeno subúrbio residencial. Foi construída como um anexo de uma igreja de madeira existente e casas de

26 Referência a: “ “Light is the origin of all being. Light gives, with each moment, new form to being and new interrelationships to things, and architecture

condenses light to its most concise being.(…)” – Tadao Ando. “ (Svilar, 2012).
27 Tradução livre de: “One’s sense of reality is strengthened and articulated by this interaction of the senses.” (Pallasmaa, 1996, p.28).
28
 Expressão usada por Steven Holl in Pag. 40 of the book Questions of Perceptions. (Holl et al., 1994, p.40).  

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ministros e é uma das obras arquitectónicas de maior relevância de Tadao Ando. É uma pequena estrutura
fechada (cerca de 113 m²), percebida e sentida como um lugar de refúgio e isolamento do mundo exterior. Tem
como sistema estrutural o betão armado e é constituído por um volume rectangular (de paredes de 15 cm de
espessura) que contém três cubos de betão (5,9 m de largura x 5,9 m altura e 17.7m de comprimento)
perfurados por uma parede a 15 graus, que controla a circulação para o interior do espaço. Esta parede é
separado da cobertura, permitindo que a luz natural permeie para dentro do espaço de forma difusa, e dando a
impressão de que o telhado está a flutuar no ar. Os bancos e as tábuas do pavimento são feitos a partir da
reutilização da madeira de cofragem utilizada na construção, sendo que a madeira (utilizado nos diversos
elementos, como os bancos e o altar) é o único outro material utilizado na capela além de betão. No interior, a
luz é reduzida ao mínimo, apenas definida por um corte cruciforme no betão na parede de fundo da capela,
(estendendo-se verticalmente desde o chão até ao tecto e horizontalmente de parede a parede), atrás do altar.
Esta luz é sentida mais intensamente no período da manhã, uma vez que está orientada para o oeste. A cruz
tem por objectivo refletir a fragilidade da condição humana, a condição do ‘vazio’ e do ‘nada’ e a propriedade da
natureza dual da existência. O espaço ecoa um vazio, um silêncio e uma tranquilidade, criando a sensação de
serenidade e paz interior. Não há elementos decorativos e não existem detalhes adicionados ao espaço que
não resultem do processo de construção. O forte contraste entre claro e escuro, sombras e luz, é sentida dentro
da capela de modo a reflectir uma impressão de existência infinita. A luz é o único elemento natural que
permeia o interior do espaço, enfatizando as suas propriedades ‘divinas’, metaforicamente e fisicamente,
representando a luz divina que entra através da escuridão.

6.2. ‘Church on the Water’

A ‘Igreja na Água’, foi projectado por Tadao Ando, entre 1985 e 1988, e construído em 1988.
Localizado no Tomamu, a leste da cidade de Sapporo, entre colinas arborizadas, a igreja está isolado da
envolvente (que faz parte de um complexo de hotel) por uma parede em forma de L (cujos dois braços 39,45 m
e 75.425 m, respectivamente, a leste e a sul), deixando o mundano do caos longe do 'cosmos' sagrados
construído. O usuário, acede ao espaço, contornando a parede, através do lado norte do complexo e depois de
descer e subir alguns degraus, chega a um espaço que é definido por quatro grandes cruzes feitas de betão;
estas definem um cubo, e os seus lados estão separados um do outro apenas alguns centímetros (nunca se
tocam); e estão contidas num cubo transparente de vidro, que parece 'conter a luz' de modo a re-criar uma
experiência ao ser que o vive. A partir deste espaço, umas escadarias, fechadas num espaço circular,
conduzem até ao espaço da igreja. A igreja baseia-se numa ordem geométrica clara e é composta por dois
quadrados que se sobrepõem num dos cantos e estão alinhados no mesmo eixo longitudinal que a lagoa que se
encontra em frente. A partir do interior da capela, a sua parede frontal é substituída por uma abertura que se
abre para a lagoa, com uma cruz emergindo da água. A ampla lagoa, de forma rectangular e protegido pelas
paredes em forma de L (um rectângulo de 45 x 90 m), interliga-se com a igreja, com a natureza e com o meio
ambiente e proporciona uma vista em constante mutação, de acordo com as estações do ano, e da hora do dia.
A cruz, localizado na lagoa, permite uma extensão do espaço para fora, trazendo a natureza para dentro da
igreja ou a igreja para a natureza. O espaço interior da igreja é sóbrio, depurado e simples, enfatizando as
qualidades espirituais do espaço. A riqueza do espaço ecoa a relação harmoniosa entre a arquitectura e a
natureza, entre o homem e o meio ambiente. O espaço representa a conciliação dos opostos: interior e exterior,
a natureza e arquitectura, confinação e amplitude, a luz e escuridão, o profano e o sagrado, o material e o
espiritual.
Tal como acontece com a Capela da Luz, Tadao Ando usa uma diferença dramática e contraste entre
os corredores escuros e as pequenas aberturas de luz: que reflecte tanto uma dimensão espiritual como física,
que emerge através da experiência do espaço. Tadao Ando explica que na ‘Igreja na água’, ele teve como
objectivo criar uma experiência que acentuasse um 'encontro com o próprio espírito’ e que ecoasse a
‘experiência de Deus’: “Para experimentar Deus neste cenário natural, talvez, é experimentar o encontro com o
próprio espírito. Procurei criar um recipiente que pudesse permitir este tipo de encontro.” (Ando, 1989, p.87)29.

29
 Tradução livre de: “ To experience God in this natural setting, perhaps, is to experience the encounter with one’s own spirit. I sought to create a
container that can allow for this type of encounter.” (Ando, 1989, p.87).  

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Sobre a capela e a igreja, bem como a busca de Ando para o espaço espiritual, Drew (1996) explica:
«As duas capelas exploram a dimensão do espaço sagrado, e embora parecem diferentes, as diferenças são
mais aparentes do que reais.» (Drew, 1996 , p.7) 30. A busca do espaço "sagrado", o autor continua, é algo que
é explorado por Tadao Ando, nos seus vários projetos, incluindo os seus espaços domésticos. Isto compreende
o que o autor identifica como a ‘qualidade do sagrado', que compreende toda a busca de Tadao Ando.

6.3. Water Temple

O ‘Templo da Água’ ou o ‘Water Temple’, localizado na Ilha Awaji no Japão, é um anexo a um


santuário budista. Acima do solo, a estrutura na forma de um círculo puro é preenchido com água formando
uma lagoa. A entrada para o templo está localizada no meio da lagoa numa escadaria descendente que leva o
espectador ao espaço interior e confinado do templo; esta descida simboliza um caminho para o mundo
sagrado, longe, escondido e protegido das dimensões materiais. O interior do templo, confinado e subterrâneo
(debaixo da lagoa) é inundado com uma luz vermelha, criando uma percepção e experiencia intensificada. O
espaço celebra a experiência e a existência espiritual, onde a forma arquitectónica reflecte simbolicamente e
metaforicamente os ideais e conceitos espirituais.

6.4. ‘Space for Meditation’

O ‘Espaço para Meditação’, localizado na sede da UNESCO em Paris (perto da Torre Eiffel), construído
entre 1994 e 1995, é um projecto de Tadao Ando cuja intenção era a de criar um espaço universal, onde todas
as pessoas, de qualquer cultura ou religião, pudessem rezar e meditar pela paz - um espaço que pretendia criar
um lugar para a contemplação de um mundo sem conflitos, em harmonia e paz absoluta. Para isso, a estrutura
é constituída por um único cilindro de betão armado (com seis metros de diâmetro e altura, e com uma área
total de 33 m²) e o interior do espaço é rigoroso, depurado, puro e simples de modo a transmitir uma sensação
de paz, serenidade e tranquilidade. A luz entra no espaço através de uma pequena abertura entre as paredes e
a cobertura, difundindo-se suavemente para dentro do espaço. Para entrar no espaço, o visitante tem de
percorrer uma ‘viagem’, a partir de uma rampa estreita que conduz à entrada – elemento que funciona
metaforicamente, poeticamente e espiritualmente. Dentro do espaço há apenas duas cadeiras de ferro fundido
com costas altas, cuja a ideia subjacente era a de que o desconforto induzisse um estado de consciência,
atenção e uma dimensão contemplativa e meditativa.

7. Comentários Finais

O espaço, a partir do conceito de integração do ser, e de experiência completa, incorpora princípios


que se podem definir como ‘princípios de sabedoria’. Neste contexto, faz-se referência a Alain de Botton (2008),
quando afirma que procuramos no mundo os valores que desejamos possuir; algo ‘belo’ ou apelativo, é sempre
uma promessa de algo, uma cristalização de um valor ou uma ‘personificação’ de um ideal. Um sentido de
beleza é mais profundo e complexo do que uma simples prazer estético, sendo uma atracção para um
determinado tipo de vida: projectam-se ‘visões de felicidade’ 31 e ideias de vida. Encontramos também esta
ideia nos textos de Juhanni Pallasma (1994) que se debruça sobre ‘metáforas existenciais’ e imagens da
arquitectura que reflectem e exteriorizam ‘imagens da vida’ 32.
Deste modo, reflectem-se múltiplos sentidos de ligação do ser com o mundo. É predominante nos
espaços poéticos esta transmissão de valores, conhecimentos, propriedades e sabedorias transversais e
universais ao ser, que completam a sua existência e elevam a categoria da arquitectura ao nível da arte.

30 Tradução livre de: “ The two chapels explore the dimension of sacred space, and appear different, yet their differences are more apparent than real.”

(Drew, 1996, p.7).


31 Referência a: “ Any object of design will give off an impression of the psychological and moral attitudes it supports. (…) In essence, what works of

design and architecture talk to us about is the kind of life that most appropriately unfold within and around them. (…) They speak of visions of happiness.”
(De Botton, 2008, p.72)
32 Referência a:      “ Embodied existential metaphors that concretize and structure man’s being in the world. Images of architecture reflect and externalize

ideas and images of life; architecture materializes our images of ordinary life. “ (Holl et al., 1994, p.37)  

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Exactamente com o objectivo de criar espaços que respondam às necessidades espirituais do ser
humano, a arquitectura de Tadao Ando recorrendo a aspectos filosóficos e considerações fenomenológicas,
assume-se intemporal e universal, reflectindo a condição humana na sua complexidade e as suas aspirações
espirituais através da própria arquitectura; os espaços transcendem a dimensão material e tornam-se parte de
uma realidade dualista pertencendo tanto ao mundo material como ao mundo espiritual.
Arquitectura, para Tadao Ando, é, portanto, uma reflexão das verdades universais mais profundas, uma
arte que reúne condições ‘imaginativas’ e ‘ficcionadas’ guiada pelo objectivo de criar uma experiência de
transcendência espiritual.

8. Referências:

Ando, T. (1995) Acceptance Speech: Tadao Ando [online]. Available from:


http://www.pritzkerprize.com/1995/ceremony_speech1 (Accessed 16 July 2014).

Ando, T. (1989) Tadao Ando: The Yale Studio & Current Works. 1st edition. New York: Rizzoli.

Bachelard, G. (2005) Tradução: Antonio de Pádua Danesi. A poética do espaço. 7o Edition. São Paulo: Martins
Fontes.

De Botton, A. (2008) The architecture of happiness. Random House Digital, Inc.

Drew, P. (1996) Church on the Water, Church of the Light: Tadao Ando. Phaidon.

Heidegger, M. (1989) A origem da obra de arte. Ediçẽs 70.

Holl, S. et al. (1994) Questions of perception: phenomenology of architecture. a+ u Publishing Company.

Gutschow, K. (2006) 'Concrete Resistance: Ando in the context of critical regionalism', in 2006 [online]. Available
from: http://www.andrew.cmu.edu/user/gutschow/theory_course/Xiang%20Hua%20Ando%20Paper.pdf.

Pallasmaa, J. (1996) The Eyes of the Skin: The Architecture and the Senses. London: Academy Editions.

Parkes, G. (2011) 'Japanese Aesthetics', in Edward N. Zalta (ed.) The Stanford Encyclopedia of Philosophy.
Winter 2011 [online]. Available from: http://plato.stanford.edu/archives/win2011/entries/japanese-
aesthetics/ (Accessed 15 July 2014).

Scruton, R. (1979) The Aesthetics of Architecture. Princeton, New Jersey: Princeton University Press.

Svilar, D. (2012) Church of the Light | Tadao Ando Architect & Associates. mooponto [online]. Available from:
http://www.mooponto.com/2012/09/19/church-of-the-light-tadao-ando-architect-associates/ (Accessed
15 July 2014). [online]. Available from: http://www.mooponto.com/2012/09/19/church-of-the-light-tadao-
ando-architect-associates/ (Accessed 15 July 2014).

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