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PSICOTERAPIA INFANTIL:
UM SEGMENTO DA PSICANÁLISE
SERRA/ES
2008
JEANE KÁTIA DOS SANTOS SILVA
IZAURA MORAES SANTOS
PSICOTERAPIA INFANTIL:
UM SEGMENTO DA PSICANÁLISE
SERRA/ES
2008
JEANE KÁTIA DOS SANTOS SILVA
IZAURA MORAES SANTOS
PSICOTERAPIA INFANTIL:
UM SEGMENTO DA PSICANÁLISE
ORIENTADOR
______________________________________ _____
Álvaro Oliveira Lima, Psicanalista Clínico e Professor da FATUS nota
AVALIADORES
______________________________________ _____
William Vicente Borges, Psicanalista Clínico e Professor da FATUS nota
______________________________________ _____
Izanete Chácaras e Rochas, Psicanalista clínico e professora da FATUS nota
Jesus
RESUMO
INTRODUÇÃO ......................................................................................................... 11
1 PANORAMA HISTÓRICO DA PSICANÁLISE INFANTIL ................................... 11
2 O APARELHO PSÍQUICO .................................................................................... 13
2.1 O ID .................................................................................................................... 13
2.2 O EGO ................................................................................................................ 13
2.3 O SUPEREGO ................................................................................................... 15
2.3.1 O ideal do Ego ............................................................................................... 16
3 AS FASES DO DESENVOLVIMENTO PSÍQUICO ..................................................... 17
3.1 FASE ORAL - 0 A 18 MESES ..................................................................................... 17
3.2 FASE ANAL – 18 MESES AOS 03 ANOS ................................................................ 18
3.3 FASE FÁLICA – 03 AOS 06 ANOS ........................................................................... 18
3.3.1 Características da fase fálica ................................................................................ 19
3.3.2 Problemas associados à fase fálica .....................................................................
19
3.4 FASE DA LATÊNCIA – 06 AOS 12 ANOS ................................................................. 20
3.4.1 Sexualidade Infantil ................................................................................................ 21
3.4.1.1 Teoria da repressão ............................................................................................... 21
3.4.1.2 O desenvolvimento Libinal segundo Anna Freud ......................................... 22
3.5 FASE GENITAL – A PARTIR DOS 12 ANOS ........................................................... 22
4 O PENSAMENTO WINNICOTTIANO ........................................................................... 24
5 NEUROSE INFANTIL ................................................................................................... 27
5.1 AVALIAÇÃO DAS NEUROSES INFANTIS, SEGUNDO ANNA FREUD ............ 27
5.2 A CRIANÇA E SEU LUGAR EQUIVOCADO NO SEIO FAMILIAR .................... 28
5.2.1 Prazer no desprazer e a necessidade da intervenção paterna ................. 28
5.2.2 O sintoma da criança como revelador da estrutura familiar ..................... 28
5.3 A IMPORTÂNCIA DA PARTICIPAÇÃO DOS PAIS NO PROCESSO
TERAPÊUTICO DA CRIANÇA ........................................................................ 29
6 LUDOTERAPIA: O JOGO E O BRINCAR NA RELAÇÃO TERAPÊUTICA COM
A CRIANÇA ..................................................................................................... 31
6.1 HISTÓRICO DA LUDOTERAPIA ....................................................................... 31
6.2 A IMPORTÂNCIA DA LUDOTERAPIA NO TRATAMENTO DE CRIANÇAS
VÍTIMAS DA VIOLÊNCIA ......................................................................................... 32
6.3 A CRIANÇA E O BRINCAR SEGUNDO VERA BARROS DE OLIVEIRA .......... 33
6.3.1 O brincar do bebê com o próprio corpo ...................................................... 34
6.3.2 A brincadeira simbólica ................................................................................ 34
trabalhos sobre o tema, partindo do caminho por ele aberto, embora, resultando em
teorias diversas e até mesmo opostas em relação à posição da criança como sujeito
inconsciente.
A primeira análise realizada com uma criança foi a do Pequeno Hans (Sigmund
2
2.1 O ID
2.2 O EGO 5
modificada, por influência direta do mundo exterior, por meio dos sentidos, e, em
3 O poder do Id expressa o verdadeiro propósito da vida do organismo do indivíduo. Isto consiste na satisfação de suas
necessidades inatas. Nenhum intuito tal como o de manter-se vivo ou de proteger-se dos perigos por meio da ansiedade pode
ser atribuído ao Id. Essa é a tarefa do Ego, cuja missão é também descobrir o método mais favorável e menos perigoso de
obter a satisfação, levando em conta o mundo externo. O Superego pode colocar novas necessidades em evidência, mas sua
função principal permanece sendo a limitação das satisfações.
4 Não é possível indicar o ponto exato onde o Id acaba e o Ego começa ou onde termina o Ego e inicia o Superego.
5 O SELF E O Ego (WINNICOTT X FREUD) - Somente a partir de 1923, Freud concebeu ao vocábulo Ego um sentido próprio,
ao lado dos termos Id e Superego (para serem assim utilizados como facilitadores do seu viés teórico). E, em outros
momentos, como no trabalho "A dissociação do self no processo de defesa", ele utilizou este último termo. Winnicott divulgou o
uso preferencial do termo self e, escreveu muito sobre o assunto, mas por vezes usa o termo Ego. Intimamente ligada à
constituição do self, a teoria do desenvolvimento constitui uma contribuição original de Winnicott. Segundo ele, é o ambiente o
responsável, em grande parte, pelo surgimento e vicissitudes do self. A teoria e a clínica winnicottianas conferem um peso
muito maior ao fator ambiente do que os psicanalistas clássicos (EDITORA MEDITODISTA, REVISTA PSICO).
6 O Ego deve a sua origem, bem como as suas características adquiridas mais importantes, aos seus contatos com a
realidade, com o mundo externo. Daí os estados patológicos do Ego — nos quais se reaproxima do Id — resultarem da
cessação ou afrouxamento com o mundo externo (...). O Ego pode tornar-se o seu próprio objeto, dispensando a si mesmo o
tratamento que dispensaria aos demais... (KARL WEISSMANN).
conseqüência, tornada consciente, tem por funções a comprovação da realidade e a
aceitação, mediante seleção e controle, de parte dos desejos e exigências
procedentes dos impulsos que emanam do Id”.
... o Ego saiu do id. É um Id diferenciado. É a sua parte organizada (civilizada). É a
sua fachada;... (a ele) compete a tarefa da autopreservaçâo. Em relação aos
fatores externos, o Ego cumpre essa função registrando, reagindo aos
estímulos que lhe vem de fora, acumulando experiência em relação aos
mesmos [pela memória], evitando excessos de estímulos [pela fuga],
lidando com os estímulos moderadamente [via adaptação], e, finalmente,
operando mudanças apropriadas no mundo externo em seu benefício [via
atividade] (WEISSMANN, 1976) . 7
Freud compara o Ego, entre outras coisas, à razão, assim como o Id à paixão.
Contudo, a inteligência é apenas um dos aspetos do Ego, assim como a lógica.
A ordem evolutiva do Ego se processa, segundo Freud, em termos de gradativa
transformação de Id em Ego. E, define a adaptação evolutiva do Ego como "um
protótipo ideal daquele estado para o qual tendem todos os esforços conciliatórios
(não unicamente do Ego, senão também os do Id e do Superego) e que constituem
todas as suas múltiplas obediências".
2.3 SUPEREGO
10 Daí as suas "indigestões" psíquicas, as suas perturbações égicas, com as suas crises e cisões patológicas. Não é de
estranhar que, em tais casos, o Ideal de Ego não resulta na formação daquiIo que se poderia considerar um Ego Ideal (KARL
WEISSMANN).
2.3.1 O Ideal do Ego
Segundo Karl Weissman, o Ideal de Ego foi rebatizado com o nome de Superego,
mas a denominação original não foi descartada. Passando a designar mais o
aspecto positivo de nossa consciência moral, ou seja, os nossos ideais conscientes,
os modelos que inspiraram as nossas melhores esperanças — como acentua
Ernest Jones; enquanto por Superego se entendia mais os aspetos negativos: a
função de criticar, advertir, punir, etc.
3 AS FASES DO DESENVOLVIMENTO PSÍQUICO
Nessa fase o bebê é egocêntrico e narcisista e, a noção que tem de sua mãe, é
dela com sendo uma extensão sua - a isso denominado de dependência primária.
Vale dizer, que o parto, é para a criança o seu primeiro trauma, visto sair do
conforto uterino para um mundo totalmente novo e desconhecido.
Um segundo trauma ocorre por ocasião do desmame, momento em que a partir de
então o bebê passa a experimentar a cisão do seio bom e do seio mau e, começa a ter a
noção de si mesmo como um ser distinto da mãe.
O seio bom é experimentado pela criança, como sendo a mãe que se faz presente
e, o seio mau como sendo a mãe que se encontra ausente, ou ainda que presente, não
esteja disponível para dar-lhe a devida atenção. E, em virtude dessa indisponibilidade, a
criança pode passar a experimentar sentimentos de rejeição e até a apresentar sintomas
de neurose de abandono.
O excesso de gratificação ou privação oral pode resultar em fixações libidinais,
que contribuem para a formação de traços patológicos. Esses traços podem incluir
otimismo excessivo, narcisismo, pessimismo (visto com freqüência nos estados
depressivos) e o hábito de reclamar.
Porém, uma boa resolução da fase oral proporciona uma base para a
estruturação do caráter e, para a capacidade de dar e receber sem dependência
excessiva ou inveja; e, ainda uma capacidade de confiar no outro.
Essa fase que envolve o ato de reter e soltar as fezes é de acordo com Freud, o
segundo estágio do desenvolvimento psíquico e, visto que já se tem a maturação do
controle neuromuscular, dará à criança as primeiras noções acerca de limites.
Este período... é acentuado por visível intensificação de impulsos agressivos
mesclados a componentes individuais em impulsos sádicos. A obtenção do
controle voluntário do esfíncter está associado com crescente mudança da
passividade para a atividade. Os conflitos a respeito do controle anal e a luta
sobre a retenção ou expulsão das fezes no treinamento de toalete despertam
crescente ambivalência, ao lado de um conflito sobre a separação, a
individuação e a independência. O erotismo anal refere-se ao prazer sexual
no funcionamento anal, tanto na retenção das fezes como apresentando-as
como um presente aos pais. O sadismo anal refere-se a manifestações de
desejos agressivos ligados à descarga das fezes como armas poderosas e
destrutivas. Esses desejos são muitas vezes manifestados nas fantasias das
crianças, de bombardeio e explosões. O período anal é essencialmente um
período de esforços por independência e separação da dependência e do
controle dos pais. O objetivo do controle de esfíncter, sem controle excessivo
(retenção fecal) ou perda de controle (sujando-se), está unido às tentativas
de autonomia e independência da criança sem medo ou vergonha da perda
de controle (KAPLAN & SADOCK) . 12
Nela, se a criança não tem certeza de ser amada, passa a confrontar os pais
como forma de testá-los em sua coerência no que tange à autoridade destes e,
como já foi dito, isso se da em razão dessa incerteza de ser amada.
Uma má resolução dessa fase, em que as defesas contra os traços anais não
foram eficazes, pode ocasionar traços patológicos, como: elevada ambivalência,
desordem, desafio, cólera e tendências sado-masoquistas. E, além disso, as
características e defesas anais são vistas mais comumente nas neuroses obsessivo-
compulsivas, em razão de uma fixação nesta fase.
Por outro lado, uma boa resolução da fase anal proporciona a base para o
desenvolvimento da autonomia pessoal, capacidade de independência e iniciativa
pessoal, capacidade de auto determinação e capacidade de cooperação sem
excessiva teimosia nem sentimento de depreciação própria ou derrota, ou seja,
possibilita um pessoa mais centrada.
Nessa fase as meninas ainda não conseguem fazer distinção entre a vagina e o
clitóris, gerando uma enorme dificuldade de identificação, isso por que, elas não têm
a vantagem da “mangueirinha do irmãozinho” e, em razão disso, muitas meninas,
principalmente na puberdade, passam a ter complexos de inferioridade, motivando
nelas, a inveja do pênis e, nos meninos, o medo da castração.
É uma fase em que a criança torna-se cônscia de si mesma e de sua genitália
e, por conseqüência disso, ocorrem as primeiras manifestações de masturbação e
exibicionismo; de forma que, para o menino, o pênis se torna como uma espécie de
muleta psíquica.
“A fase fálica está associada com um incremento da masturbação genital
acompanhado de fantasias predominantemente inconscientes de envolvimento
sexual com o genitor do sexo oposto” , caracterizando assim, o complexo de édipo ,
13 14
Weissmann prossegue dizendo que “nas neuroses de adultos não nos deparamos
necessariamente com as repressões primitivas, senão com as repressões
subseqüentes”. E, aponta como causa das neuroses humanas a longa infância e a
fixação erótica aos progenitores do sexo oposto.
18 Idem, 1976.
19 Sublimação é a transformação de energias psíquicas infantis em produtos socialmente aprovados e culturalmente
aproveitáveis. A formação reativa segundo Weissmann, percorrre o caminho inverso da sublimação, pois, ao invés de canalizar
as forças instintivas para vias socialmente aprovadas ou aceitáveis, a pessoa se limita a levantar barreiras contra elas. Um
exemplo de formação reativa é o caso do exibicionismo sexual, em que o indivíduo ao invés de aspirar a um posto de destaque
físico ou intelectual, torna-se reativamente modesto e acanhado.
20 Idem, 1976.
3.4.1.2 O desenvolvimento Libinal, segundo Anna Freud
freudiana. Nota-se, que ele preservava a tradição de uma maneira um tanto curiosa,
isso por que, em grande parte, ele a distorce; vindo a desenvolver idéias muito
pessoais sobre a natureza humana.
Na clínica winnicottiana, as questões de relacionamento do bebê com seus
cuidadores, foi enfatizada pelo autor não sob o ponto de vista de vicissitudes
pulsionais, mas em conceitos como os de dependência absoluta, dependência
relativa e independência, conforme são observados em diversos trabalhos e teórico-
clínicos.
Segundo ele, o bebê cria o que lá está para ser criado, significando criar não só
a sua mãe, mas também a situação psíquica transgeracional encontrada por ele no
momento de seu nascimento. E, pode encontrar três diferentes situações no início
de sua vida: missão, enigma e questão. Procura-se descrever as conseqüências
para a constituição do self em cada uma dessas situações.
Winnicott trouxe idéias, derivadas principalmente de sua vivência clínica e,
privilegiou o modelo de cuidado materno, transpondo-o para o setting clínico, visto
como o lugar que propicia o desenvolvimento, no qual cada um está sendo criado e
descoberto pelo outro, é uma experiência de mutualidade. Ele dirigiu sua atenção à
pacientes que tiveram falhas ambientais precoces, preocupando-se em auxiliar na
busca e no encontro do self verdadeiro.
Winnicott em suas pesquisas, chegou à conclusão de que “é impossível falar
do indivíduo sem falar da mãe, por que, usando os termos da fase madura da sua
teorização, a mãe é um objeto subjetivo [...] e, portanto, seu comportamento faz
realmente parte do bebê”; e, concluiu ainda, que o relacionamento inicial da mãe-
bebê não é uma relação dual-externa (não-mental) e, o descreve da seguinte
maneira:
21 Especulação de caráter filosófico sobre a origem, estrutura e função do espírito, bem como sobre as relações entre o
espírito e a realidade.
“Qualquer tentativa de descrever o complexo de Édipo em termos de duas
pessoas está fadada ao fracasso. No entanto, os relacionamentos do tipo
dois corpos realmente existem, e pertencem aos estágios relativamente
mais primitivos da história do indivíduo. O relacionamento original do tipo
dois corpos é o que acontece entre o bebê e a mãe ou o substituto da mãe,
antes que qualquer propriedade da mãe tenha sido identificada e
transformada na idéia de um pai”.
No início, o pai pode ou não ser uma mãe substituta. Se ele o é, sua presença
é de alguém dotado de propriedades e funções iguais as da mãe, ou seja, tudo o
que a mãe representa, o pai, enquanto substituto da mãe, passa a representar.
Mas, chegará o momento em que o pai passará a ser visto num papel
diferente da mãe. E, é aí que o indivíduo passa a se tornar uma nova unidade, a
partir de um novo modelo de identificação. Não havendo a presença paterna esse
processo irá acontecer, porém, de um modo mais lento e mais trabalhoso, ou então
utilizará um outro relacionamento suficientemente estável.
Para ele, o relacionamento mãe-bebê, na qual, a comunicação é não-verbal,
transformou-se num paradigma do processo analítico e, há quem defenda que isso
mudou a função da interpretação no tratamento psicanalítico. Guiado por tal
paradigma, Winnicott foi conduzido a novas questões e, por conseqüências a novos
resultados. Questões do tipo: (1) “do que precisamos para nos sentirmos vivos ou
reais?” (2) “de onde vem o sentimento, quando o temos, de que nossas vidas valem
a pena?”.
A fim de responder a tais questões, Winnicott as abordou, vinculando a
observação de mães e bebês aos insights derivados das sessões psicanalíticas e,
além disso, ele enriqueceu a psicanálise com novos insights fundamentais, que,
porém, se mostraram incompatíveis com os de Freud, isso por que, ele raramente
os remetia ao lugar erótico da vida adulta.
Para Winnicott, o ponto crucial da psicanálise era a vulnerabilidade inicial do
bebê dependente, dentro da relação dual com a mãe, e não, o complexo de édipo
como defendido por Freud. Ele concluiu que as perturbações que pertenciam ao
suposto campo de aplicação do paradigma edípico, simplesmente não se
encaixavam nele; concluiu ainda que, o paradigma edípico não estava inteiramente
errado, mas que não era suficiente.
Enquanto Freud estava interessado na luta dos adultos com desejos
incompatíveis e inaceitáveis, que colocariam em risco suas possibilidades de
satisfação, Winnicott, partindo do relacionamento caracterizado pela dependência
(quase) total, tratava essas possibilidades como parte de um problema mais amplo
das possiblidades do indivíduo ter autenticidade pessoal, que ele viria a chamar de
“sentir-se real”. Trabalhando dessa maneira, Winnicott desconsiderou a
metapsicologia de Freud, vindo a desenvolver, durante a década de 40, uma teoria
do desenvolvimento que seria um poderoso rival para as teorias tanto de Freud
quanto de Melanie Klein.
Pareceu-lhe claro que a psicologia da criança e do bebê recém-nascido fosse
algo bem mais complexo, em razão de sua estrutura mental também complexa. Em
sua tentativa de ter um paradigma que o guiasse chegou a considerar a idéia de que
bebês emocionalmente doentes, precisavam ser reconciliados de algum modo com
a teoria edípica, enquanto ponto de origem dos conflitos individuais, mas, acabou
por rejeitar tal idéia.
Tendo conhecido Melanie Klein que também estava tentando aplicar a
psicanálise à crianças pequenas, Winnicott de pioneiro, veio a se tornar aluno desta
professora pioneira, mas concluiu que a psicologia do bebê recém-nascido por ele
buscada não poderia ser do tipo kleniano; entre outras coisas, Winnicott discordava
da idéia dos distúrbios precoces serem tratados por Melanie Klem como sendo
problemas mentais internos, e não, como problemas do relacionamento entre o bebê
e a mãe. Na sua busca por um paradigma chegou a analisar outros estudiosos da
área, contudo, não se deu por satisfeito.
5 NEUROSE INFANTIL
22 as crianças que urinam na cama são levadas mais regularmente ás clinicas do qualquer outra categoria de casos
Em virtude disso, Anna Freud sugere que o analista avalie a seriedade de uma
neurose infantil, não em virtude da criança de uma forma especial qualquer, ou em
um dado momento, mas em virtude do grau em que não permita à criança o seu
desenvolvimento posterior.
Ocorre que muitas mães não se desvincularam de seu papel de filha e ainda
não assimilaram sua condição materna; por conseqüência, o filho acaba por não ter
espaço para ser filho. Essa situação traz um desconforto e também um certo prazer,
visto que o filho passa a desempenhar uma função de companheiro. Prazer porque
lhe é agradável tal posição e, desprazer, justamente por não lhe ser dado o direito
de desempenhar sua condição de filho.
Com isso o filho acaba por se tornar objeto da mãe, um vínculo que para ser
quebrado depende da atuação paterna, desempenhando seu papel de pai e marido.
23 Porém, caso tais comportamentos estejam associados à falta de habilidade para lidar com situações adversas
difíceis,comoa separação dos pais ou mudança de escola, a terapia, valendo-se de uma metodologia adequada, irá auxilia-la
na aquisiçãode novos comportamentos eficientes para lidar com as situações geradoras do estresse emocional.
É importante que o analista observe por meio de uma atenção flutuante os
sintomas apresentados pela criança, o que significa dizer que deve procurar captar
24
tudo que o analisando quer dizer sem se focar num único tema.
Ainda na hora de analisar os sintomas apresentados pela criança, o analista
deverá abster-se de pré-julgamentos, a fim de, seja possível uma interpretação
condizente ao caso e, deverá ter o cuidado de nunca ver seu paciente como a um
filho, além é claro, de atentar para o fato de que as crianças possuem grande
sensibilidade para assumirem os sintomas e a angústia específica de seu grupo
familiar e, os confrontará juntamente com seus próprios conflitos.
dessa transferência que surge nos pais a confiança de entregar sua criança aos
cuidados desse profissional.
É, portanto, de fundamental importância que os pais estejam incluídos no
processo terapêutico da criança, visto que possibilitará ao terapeuta perceber os
sentimentos destes em relação à criança. Se assim não for, o tratamento da criança
torna-se praticamente inviável.
Ao envolvimento dos pais no processo terapêutico da criança através de
sessões de orientações, dá-se o nome de modelo triádico. Dentre outros motivos,
destacamos as seguintes razões, pelas quais, a participação efetiva dos pais é
importante:
24 O sintoma é a expressão de um desejo que foi reprimido, por outro lado, pode demonstrar algo que ficou bloqueado no
desenvolvimento da relação inconsciente da criança com seus pais. E,durante o processo terapêutico, o terapeuta deve
permitir que sobrevenha tudo o que o sujeito em formação não teve no curso do seu desenvolvimento.
25 O analista pode se tornar um objeto transferencial dos próprios pais de seu paciente, isto se deve ao fato de que para
muitos pais, procurar um tratamento psicológico para seus filhos significa que eles falharam em sua paternidade e
maternidade. Eles passam a atacar suas próprias falhas que criticaram em seus pais e suas mães. O fato é que as
transferências dos pais em relação ao analista podem ser facilitadora do trabalho analítico ou pode vir a dificultá-la, ocorrendo
até mesmo uma retirada inesperada da criança da análise, caso o analista não Identifique e considere a transferência dos pais
do paciente, estabelecendo uma escuta do que esses pais trazem e do que lhe é tão difícil de ser elaborado. Por outro lado, a
transferência dos pais pode ser utilizada na reorganização dos lugares na dinâmica familiar.
Possibilita ao analista detectar o por quê do sintomas apresentados pela
criança;
Os pais aprendem formas alternativas de ajudar o filho, visto que passam a
entender melhor o que ocorre no contexto familiar;
Os pais ouvindo-se narrar os fatos, terão condições de se conscientizarem
que também precisam da ajuda de um analista.
Analise quais tipos de tentativas foram feitas para solucioná-lo e, por quais
pessoas e, em quais situações;
terapêutico do paciente infantil. E, pode ser comum aos pais expressarem ansiedade
sobre análise de seus filhos, e que, sentimentos de competição, possessividade e de
culpabilidade surjam durante o processo, o que denotará o que a criança presencia
na vida de seus pais e, que está sendo exibido por meio dos sintomas que
apresenta. Por esta razão, faz-se necessário ao terapêuta identificar, esclarecer e
elaborar as transferências que forem surgindo, a fim de levar os pais a se
conscientizarem de suas próprias dificuldades, o que por sua vez, irá ajudar no êxito
do tratamento.
26 No decorrer do tratamento, a criança pode passar a ter comportamentos tidos como inconvenientes por seus pais, por
estarem se libertando de sua dependência emocional, ou mesmo, fazendo com seus pais vejam que suas próprias dificuldades
alimentavam-lhe o sintoma. E, os pais poderão ter dificuldades de lidar com esse tipo de situação, passando então, a negar o
que está ocorrendo, transferindo para a figura do analista sua hostilidade, por não ter o profissional transformado seu filho
naquilo que convinha às suas expectativas pessoais. Quando os pais tentam manipular e controlar seus filhos através do
analista, solicitando essa “ajuda”, este pode ser um dado importante sobre a dinâmica dessa família e das necessidades
inconscientes dos pais que estão procurando se realizar através de seus filhos. Esse fator que pode parecer, por um lado, um
obstáculo ao tratamento, por outro pode ser usado como material a ser trabalhado, fornecendo ao terapeuta uma oportunidade
de denunciar esse tipo de conduta dos pais e fazer com que reflitam a respeito.
6. LUDOTERAPIA: O JOGO E O BRINCAR NA RELAÇÃO TERAPÊUTICA COM A
CRIANÇA
A análise infantil funda-se no princípio da catarse, uma vez que tenta explorar o
mundo de sentimentos e impulsos inconscientes como origem efetiva de todas as
ações e reações observadas nos pequenos pacientes.
E, embora a livre associação seja uma técnica aplicável na psicoterapia infantil,
nem sempre será possível fazer com que a criança venha a falar. Em razão disso, o
analista deverá fazer uso de jogos , brincadeiras, desenhos e análise de sonhos dos
27
29 Desde o método clínico de Klein e seus seguidores, que acentuava a importância do trabalho exaustivo de interpretação
em análise de crianças, visando à decodificação do significado da brincadeira desenvolvida na sessão analítica, encontramos,
atualmente, modelos teóricos que ampliam ou alteram essas concepções originais.
30 Dentre as técnicas mais utilizadas estão o teatro espontâneo (desempenho de papéis sem texto previamente definido), o
monólogo (pensar alto enquanto desempenha um papel), o duplo (atribuir fala a um outro personagem), entre outras.
transformando o brincar da criança em tratamento. O psicodrama auxilia as crianças
na superação de obstáculos a seu desenvolvimento emocional, através daquilo que
ninguém lhes pode tirar – sua imaginação.
O fato é que por trás de toda agressão física há sempre um abuso psicológico,
que inibe a denúncia. Com a ludoterapia, a vítima é induzida a falar brincando,
esquecendo das ameaças que normalmente sofre e isso é muito bom para o
profissional e para a própria criança - alegam os especialistas.
“É somente a presença mental de alguém mais que brinque com a criança que
permite que o jogo seja plenamente transformador de angústias” (FERRO, 1995, p.
80).
Através do “brincar” a criança tem a possibilidade de vencer medos, angústias,
traumas e tudo aquilo que atinge sua sensibilidade. Porém, para se fazer
psicoterapia, é necessário que o brincar seja espontâneo.
E, além disso, a brincadeira além de refletir a forma de pensar e sentir da
criança, onde ela demonstra sua história vivida, favorece:
O desenvolvimento intelectual:
O equilíbrio emocional:
A comunicação:
A criatividade:
A independência.
31 Vera Barros de Oliveira é psicóloga infantil, tendo feito sua pós-graduação na USP, com doutorado em Psicologia da
Aprendizagem e livre-docência em Psicologia Social. É professora titular da UMESP, onde coordena o Laboratório de Ciências
da Cognição. Prestou já inúmeras assessorias a órgãos públicos, relacionados à Saúde Mental e à Educação. Possui inúmeras
publicações.
Dessa forma, o brincar se constitui na ferramenta por excelência que a criança
32
Segundo Vera, são as brincadeiras do bebê com seu próprio corpo, quando
rola, engatinha, tira e põe, vezes sem conta, objetos uns dentro dos outros, numa
cadência rítmica, que alterna movimentos opostos, como os de abaixar e levantar,
puxar e empurrar, abrir e fechar, esconder e achar, que dão condição à passagem
da vida ainda muito próxima dos instintos, alicerçadas nos reflexos, ao lento, gradual
e batalhado ingresso no universo humano propriamente dito, o simbólico.
32 Mediante isso, o bebê tem condições de desenvolver seu potencial já adquirido geneticamente.
Exemplos: 1) uma criança brincando com pedaço de pau, imaginando que o
mesmo é um cavalo; 2) começa a falar, a imitar na ausência do modelo, a se lembrar
de algo sem precisar vê-lo; desenha, pinta, modela, expressa aquilo que tem
significado para ela.
Segundo Vera, a brincadeira simbólica, ao representar a realidade do jeito que
a criança a vê e sente, não é uma negação da mesma,... mas uma situação
privilegiada de aprender a lidar com as funções e relações sociais.
E, explica que o brincar, por ser uma atividade livre que não inibe a fantasia,
favorece o fortalecimento da autonomia da criança e contribui para a não formação e
até quebra de estruturas defensivas.
Assim, “ao brincar de que é a mãe da boneca, por exemplo, a menina não
apenas imita e se identifica com a figura materna, mas realmente vive intensamente
a situação de poder gerar filhos, e de ser uma boa mãe, forte e confiável” –
esclarece Vera e, prossegue dizendo que “dramatizar o vivido, representando-o,
ajuda a criança a afirmar-se como pessoa e a externalizar sentimentos e
pensamentos, inclusive os de hostilidade para com os outros, principalmente para
com as pessoas mais íntimas, como os pais e irmãos, e dar vazão à possível
necessidade de auto-punição, pela culpa gerada por senti-los”.
Vera explica que no faz-de-conta, já se faz presente a necessidade de respeitar
o outro, pelo menos parcialmente e, diz que paralelamente a essa descoberta, a
criança experimenta o prazer de aprender a brincar com outras crianças em
situações imaginárias.
Vera cita o exemplo da criança, que hostiliza seu irmão menor, por se sentir
rejeitada pela mãe e, procura compensá-lo manifestando extremo carinho em
relação a ele, ou, que tenta manipular a atenção da mãe, hostilizando-a através de
uma recusa em receber alimento.
Embora seja difícil para a própria criança e para as pessoas que a rodeiam
admitir a agressividade latente ou evidente na criança, para esta, é essencial que a
mãe não a idealize e que aceite suas limitações. Pois, só assim, a criança poderá se
enxergar como é e se aceitar, para então aprender a se controlar para viver no
No jogo de regras o prazer está em cumprir as regras. Ex: para uma criança de
2 ou 3 anos, o simples fato de subir os degraus de uma escada já é uma satisfação.
Ao passo que para uma criança de 6 anos, por exemplo, esta atividade só será
atraente se envolver algumas regras determinando o procedimento: subir com um pé
só, de dois em dois, pulando, etc.
Vera esclarece que, ao contrário do faz-de-conta coletivo, no jogo de regras há
colaboração e/ou competição. Além disso, o jogo de regras prepara a criança para
as questões de regra morais, sociais com as quais, terá que lidar em sociedade,
quando na idade adulta.
Melanie Klein, discípula fiel de Sigmund Freud, acabou por criar sua própria
linha de psicanálise.
(...) conjecturava a possibilidade do lúdico não apenas com o propósito de
resgatar a relação de amor que a criança pode não ter tido, mas uma
possibilidade de se trabalhar mais enfaticamente com o sujeito infantil. A
referida autora observou que existem outras emoções em jogo nessa
relação, como o ódio, a inveja, a sexualidade etc. Verificou, então, que a
criança havia perdido a inocência e suas brincadeiras e jogos apresentavam
conteúdos sexuais... Para ela, os brinquedos e jogos infantis, tornaram-se
processos simbólicos, com sentidos e significações especiais e únicos para
cada criança.
para satisfazerem seus instintos e, que após alguns meses passam a usar algum
objeto especial para substituir este meio de estimulação, já tendo a capacidade de
reconhecer este objeto como “não-eu”. Adquirem também, a capacidade de criar,
imaginar, inventar, produzir um objeto e estabelecer uma relação afetuosa com este
objeto.
Segundo ele, fenômenos transicionais é justamente a transferência que ocorre
na troca do uso do dedo ou polegar para a utilização de um objeto como o “não-eu”
a que ele chama de objeto transicional. Ou seja, quando pensamos no brincar como
um instrumento valioso para o trabalho analítico, sabemos que estamos tratando de
uma atividade que ocorre na área que foi denominada por Winnicott de transicional.
Ele afirma que quando o simbolismo é empregado, o bebê já está claramente
distinguindo entre fantasia e fato, entre objeto externo e interno, entre criatividade
primária e percepção.
E, diz que o brincar tem um lugar e um tempo, acontecendo primeiro entre mãe
e bebê, segundo as experiências de vida. Ele explica que o brincar facilita o
crescimento e, portanto, a saúde - além de conduzir aos relacionamentos grupais,
até por que, “brincar é fazer.”.
Segundo ele, no brincar a criança manipula fenômenos externos a serviço do
sonho e veste fenômenos externos, escolhidos com significado e sentimentos
oníricos.
E, prossegue dizendo que há uma evolução direta dos fenômenos transicionais
para o brincar, do brincar para o brincar compartilhado, e deste para as experiências
culturais.
Winnicott esclarece ainda, que o brincar envolve o corpo devido à manipulação
de objetos. Assim sendo, a criatividade é fundamental e é através dela que o
indivíduo sente que a vida é digna de ser vivida.
36 Winnicott, pediatra e psicanalista inglês, dedicou sua carreira á compreenção das crianças, olhando-as como seres
formados pela integração do orgânico e do emocional. Ele enfatiza uma visão relacional da criança com seu cuidador. É dele a
teoria da “mãe suficiente boa”, que seria aquela que efetua um adaptação ativa ás necessidades da criança, adaptação esta,
que depende muito mais da devoção do que do esclarecimento intelectual.
Ele explica que em todas as fases da vida, o mediador é fundamental para o
sucesso no desenvolvimento do bebê, criança, adolescente, adulto ou velho. E, que
tudo acontece com um mediador, com interação: o segurar, o manejar, a
apresentação de objetos, a destruição do objeto, a sobrevivência à destruição.
Assim, quando essa interação é feita com confiança, se a tarefa da mãe é
cumprida na sua integralidade o desenvolvimento emocional e mental do bebê e da
criança é conseguido sem conseqüências negativas. E, de acordo com Winnicott o
simples fato de estar ao lado da criança, amando-a e repeitando seu ritmo natural, é
o suficiente para proporcionar condições para seu desenvolvimento.
Ele afirma que quando a criança experimenta angústia medo e desamparo, o
“objeto transacional” serve como suporte - um apoio para criança.
Segundo Winnicott, este objeto é reconhecido pelos pais e é carregado para
todos os lugares, pois ele representa conforto e segurança para o bebê. Um objeto
que não é imposto à criança, antes é por ela escolhido pela criança. Ás vezes uma
fralda velha, um pedaço de roupa dos pais, um cobertor, possui características muito
particulares, como, por exemplo, o cheiro e, por isso não pode ser lavado.
Ele esclarece que esse objeto não é auto-erótico, como por exemplo, chupar o
dedo ou enrolar o cabelo; ou seja, não é auto-erótico porque é externo ao corpo da
criança. Esclarece ainda, que para cada criança, esse objeto tem um sentido, e é
sentido como algo seu que lhe passa segurança e, visto que lhe é familiar, pode
experimentar um sentimento de posse e controle, pois, sabe que pode levá-lo para
onde quer.
E, nos fala enfaticamente que “é no brincar que o individuo criança ou adulto
pode ser criativo e utilizar sua personalidade integral: e é somente sendo criativo
que o individuo descobre o eu (self)”.
Ainda segundo Bédard, as cores também fornecem pistas sobre o que vai pela
37
37 A cromoterapia – cujas origens remontam às antigas civilizações – é hoje uma prática terapêutica consagrada na qual cada
cor do espectro está relacionada a um efeito sobre o meio ambiente ou a uma reação daqueles que o habitam. “Existe toda
uma herança sociocultural por trás desses simbolismos; aquilo que o psiquiatra Carl Gustav Jung chamava de inconsciente
coletivo” – diz o psicólogo Fabiano Murgia coordenador clínico do Centro de Vivência Evolução, entidade de São Paulo que
trabalha com crianças com necessidades especiais.
38 Extraído no dia 15.05.2007 às 19:05 hs http://www.fabianomurgia.psc.br/entr_pais.html
Bédard esclarece ainda, que as figuras humanas, tão freqüentes nos desenhos
infantis, são excelentes pistas para se desvendar o que vai por dentro das cabeças
das crianças. Pois, na maioria das vezes, ao desenhá-las, as crianças estão
retratando a si próprias ou as pessoas com quem elas convivem cotidianamente,
principalmente os pais e parentes. E, chama a atenção para a necessidade de se
atentar nessas figuras humanas, para o rosto, a posição dos braços e os pés.
“À luz da pedagogia, o auto-retrato infantil pode ser analisado por outros
ângulos. Quando a criança desenha a si própria, está mostrando exatamente como
ela está, como se sente” , aponta a educadora infantil Luciane Isabel de Freitas.
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“Quando ela se retrata num cantinho da folha de papel, não está tendo o
reconhecimento corporal dela própria, ainda não percebeu seu corpo no espaço, e
também por isso pode esquecer de desenhar os olhos ou os braços – isso é normal
até os 7 anos”, completa.
Outro tema recorrente nos desenhos infantis, e que pode ser bastante
esclarecedor para os pais, é a casa . Quem acha que as casinhas coloridas
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que:
A criança costuma colocar perto de si, no papel, as pessoas com quem ela
mantém os laços mais fortes, mas se a mãe dela, naquele dia, a proibiu de
comer um chocolate, poder ser retratada de forma menos afetuosa, o que é
eventual e não corresponde à realidade de seus sentimentos.
O conselho que fica aos pais é que jamais interfiram nos desenhos das
crianças, alegando que não existem árvores com peixes nos galhos ou casas
suspensas no céu. Até por que, a criança provavelmente irá responder que sua
árvore é diferente das outras porque vem de Marte e que a casa pertence a um
super-herói capaz de voar. Isso, ao contrário de revelar uma criança distante da
realidade, apenas mostra sua originalidade e, demonstra que está desenvolvendo a
capacidade de afirmar as próprias opiniões e de desbravar seus caminhos. O que
certamente é o que se espera dela.
Sonho 1
Um menininho de vinte e dois meses teve um sonho semelhante com uma
regalia que lhe fora negada. Na véspera, fora obrigado a presentear seu tio
com um cesto de cerejas frescas, das quais ele próprio, naturalmente, só
pudera provar uma unidade. Acordou com esta alegre notícia: “Hermann
comeu todas as celejas!”
Sonho 2
Um menino de cinco anos e três meses deu sinais de insatisfação durante
uma caminhada pelas imediações do Dachstein. Cada vez que se divisava
uma nova montanha, ele queria saber se era o Dachstein, e por fim se
recusou a visitar uma cachoeira com o resto do grupo. Seu comportamento
foi atribuído à fadiga, mas encontrou uma explicação melhor quando, na
manhã seguinte, ele contou ter sonhado que havia escalado o Dachstein. É
evidente que tivera a idéia de que a excursão terminaria numa escalada do
Dachstein e ficou deprimido ao ver que a montanha prometida nunca
aparecia. Compensou, no sonho, aquilo que o dia anterior não lhe pudera
dar.
Sonho 3
Uma menina de seis anos teve um sonho exatamente igual. Durante um
passeio, seu pai teve de parar antes de se atingir o objetivo pretendido
porque estava ficando tarde. No caminho de volta, ela reparou num poste de
sinalização que indicava o nome de outro local de excursão e o pai prometeu
levá-la lá também em outra oportunidade. Na manhã seguinte, ela recebeu o
pai com a notícia de que sonhara que ele estivera com ela em ambos os
lugares.
Freud chama a atenção para o fato de que a maioria dos sonhos infantis são
simples e indisfarçadas realizações de desejo. E, visam proporcionar uma satisfação
direta e indisfarçada, desse desejo.
Porém, Freud alerta para o fato de que não se deve supor que todos os sonhos
de crianças sejam desse tipo. A deformação onírica já inicia bem no início da
infância, e têm sido relatados sonhos sonhados por crianças entre 5 e 8 anos que
possuem todas as características de sonhos de idade maior. Entretanto, se o
analista se limitar à faixa etária entre o início da atividade mental observável e o
quarto ou quinto ano, encontrará numerosos sonhos portadores das características
que se podem descrever como ‘infantis’, e alguns outros do mesmo tipo em anos
posteriores da infância. Na verdade, sob certas condições, os próprios adultos têm
sonhos que em muito se assemelham aos sonhos tipicamente infantis.
Ele, prossegue fazendo a seguinte narração:
Eis aqui outro sonho infantil que, embora à primeira vista não seja muito fácil
de entender, também não passa de uma realização de desejo. Uma
menininha de quatro anos incompletos fora trazida do campo para a cidade
por estar sofrendo de uma crise de poliomielite. Passou a noite com uma tia
que não tinha filhos e puseram-na para dormir numa cama grande — grande
demais para ela, é claro. Na manhã seguinte, contou ter sonhado que a cama
era pequena demais para ela, tão pequena que ela não cabia. É fácil
reconhecer esse sonho como um sonho de desejo, se nos recordarmos que
as crianças expressam com muita freqüência o desejo de “serem grandes”. O
tamanho da cama foi um lembrete desagradável da pequenez da menina
ainda não crescida; assim, ela corrigiu a proporção indesejada no sonho e
cresceu tanto que até a cama grande ficou pequena demais para ela.
E, explica que nada que seja sem importância ou indiferente, ou que assim se
afigure à criança, consegue penetrar no conteúdo de seus sonhos. E, diz que
“é-nos plenamente lícito esperar que a explicação dos processos psíquicos das
crianças, em que é bem possível que eles sejam muito simplificados, venha a se
revelar um prelúdio indispensável à investigação da psicologia dos adultos”.
Freud defende que sem o auxílio do sonho não poderíamos dormir. E, que é
devido a isso que dormimos bem ou mal.
8 DIFERENÇAS DO TRATAMENTO ANALÍTICO (ADULTO / CRIANÇA),
SEGUNDO ANA FREUD