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EXCELENTÍSSIMO (A) SENHOR (A) PROCURADOR (A)

PRESIDENTE DO CONSELHO NACIONAL DO


MINISTÉRIO PÚBLICO – CNMP

LUIS CARLOS BARRETO DE OLIVEIRA


ALCOFORADO apresenta

REPRESENTAÇÃO

em face dos Promotores de Justiça, EDUARDO GAZZINELLI VELOSO, SÉRGIO


BRUNO CABRAL FERNANDES, LENA NUNES DAHER E ALEXANDRE SALES DE
PAULA E SOUZA, que subscreveram a inicial da Ação Civil Pública por
Improbidade Administrativa nº 0712540-52.2019.8.07.0018 (doc. 02), em
trâmite na 7ª Vara de Fazenda Pública do Distrito Federal, oriunda da Ação
Penal nº 1016326-71.2019.4.01.3400 (doc. 01), deflagrada pela “Operação
Panatenaico”, em tramite na 12ª Vara da Seção Judiciária do Distrito Federal,
segundo as razões de fato e de direito adiante aduzidas.

I – PRELIMINARMENTE

1. A presente Representação disciplinar se destina à apuração de


faltas funcionais perpetradas pelos REPRESENTADOS no âmbito da Ação Civil
Pública de Improbidade Administrativa nº 0712540-52.2019.8.07.0018, em
trâmite na 7ª Vara da Fazenda Pública do Distrito Federal, oriunda da Ação
Penal nº 1016326-71.2019.4.01.3400 (12ª Vara Federal de Brasília),
decorrente do Inquérito Policial nº 1095/2016, instaurado para apurar supostas
fraudes licitatórias e atos de corrupção envolvendo as empreiteiras ANDRADE
GUTIERREZ, VIA ENGENHARIA e agentes públicos do Distrito Federal.

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2. O expediente ora ajuizado se centra, ademais, na indicação de
infrações que se revelam incompatíveis com mister tão relevante exercido por
membro do Parquet, cuja disfunção – se confirmada – descamba para a
responsabilização administrativa e correcional dos Promotores de Justiça
envolvidos.

II – BREVE EXPOSIÇÃO DOS FATOS


3. Em síntese, tratam-se aqueles autos de ação civil pública por
atos de improbidade administrativa que visa ao ressarcimento do erário em
função de supostas fraudes licitatórias e atos de corrupção que teriam sido
praticados pelas construtoras ANDRADE GUTIERREZ e VIA ENGENHARIA, em
conluio com agentes públicos, empresários e o advogado ora REPRESENTANTE,
na obra de construção do Estádio Nacional Mané Garrincha, em Brasília/DF,
que tinha por finalidade albergar jogos para a Copa do Mundo de 2014.

4. Na ação penal, o Parquet federal acusa o REPRESENTANTE de,


na qualidade de advogado do denunciado AGNELO QUEIROZ e da Construtora
ANDRADE GUTIERREZ, ter supostamente intermediado o recebimento de
vantagens indevidas em favor do então governador, conduta que, segundo a
denúncia – calcada exclusivamente em declarações prestadas pelos lenientes
CARLOS JOSÉ DE SOUZA (doc. 03) e RODRIGO LEITE VIEIRA (doc. 04), ambos da
AG –, teria sido materializada por meio da formalização de contrato de
prestação de serviços de advocacia fictícios, firmado entre o REPRESENTANTE
e aquela empreiteira, bem como por meio de recebimentos em espécie, a
pedido e em favor de AGNELO, conforme TERMO DE LENIÊNCIA firmado com
o Ministério Público Federal.

5. Convém aqui replicar os termos utilizados pelo leniente


CARLOS JOSÉ DE SOUZA, in verbis:

“QUE também foi formalizado um contrato de LUIZ


CARLOS ALCOFORADO, sem prestação efetiva de serviço, apenas
para realizar pagamento de valores que haviam sido solicitados pelo
governador.” (destacamos).

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6. A empresa leniente corroborou a mentira perpetrada pelos
lenientes, quando em 9/5/2017, apresentou petição em que mantinha a
afirmação de ter sido celebrado um contrato e que não houve qualquer
prestação de serviços (doc. 6 – “b”), utilizando-se dos seguintes termos:

“Documento 28 – Contrato de Prestação de Serviços


com Alcoforado e Barreto, Consultores Jurídicos Associados, no valor
de R$ 50.000,00 mensais. Trata-se de contrato de prestação de
serviço fictício.” (destacamos).

7. Ocorre que, após a demonstração cabal, pelo REPRESENTANTE,


com provas acerca da efetiva prestação dos serviços, e, pois, flagrada a
inverdade insculpida no bojo das tratativas, a ANDRADE GUTIERREZ
apresentou, em nova manifestação datada de 4/7/2017 (doc. 6 – “c”),
documentação e esclarecimentos adicionais corroborando a efetiva
contratação do escritório ALCOFORADO, cuja formalização se dera por meio de
contrato de prestação de serviços reais (doc. 05), mas que também seria
utilizado para depósito das vantagens indevidas solicitadas por AGNELO.

8. Convém ressaltar as afirmativas feitas pela AG na petição que


se cita acima:

“Documentos 13 – Contrato de Prestação de Serviços


com Alcoforado e Barreto, Consultores Jurídicos Associados, no valor
de R$ 50.000,00 mensais. Trata-se de contrato de prestação de
serviços reais, porém utilizado também para a transferência de
recursos, especificamente nas notas anexadas. Circunstâncias do
pedido: entre os meses de julho e agosto do ano de 2012, na residência
oficial, o governador AGNELO solicitou que fosse repassado ao sr.
Luis Carlos Alcoforado o montante de R$ 800.000,00. Tendo em vista
a dificuldade da AG em atender à esta demanda por meio de
disponibilização do valor em espécie, a AG operacionalizou o repasse
solicitado utilizando-se de um contrato de consultoria firmado com o
Escritório Alcoforado e Barreto. Assim, em depósitos mensais, com
emissão de notas fiscais superiores ao valor mensal contratado (R$
50.000,00) conseguiu-se atender o repasse.”

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9. Ora, percebe-se a brusca alteração na versão da própria
empreiteira leniente, que contradiz as declarações do Sr. CARLOS JOSÉ.

10. Importa salientar, outrossim, a título de comprovação da


falsidade das declarações do leniente, e também dos esclarecimentos da
ANDRADE GUTIERREZ, que o contrato de prestação de serviços foi celebrado
em 20 de outubro de 2011, muito antes da data em que os lenientes alegam ter
havido a suposta reunião ocorrida na residência oficial, na qual o governador
teria solicitado os repasses (entre os meses de julho e agosto de 2012).

11. Não bastasse, a efetiva prestação de serviços, a pedido do


próprio CARLOS JOSÉ (doc. 07), iniciou-se em 1/6/2011, datas em muito
anteriores às supostas tratativas ou solicitações.

12. Há exaustivas provas de que o REPRESENTANTE atuou como


consultor e advogado, analisando editais de licitação, elaborando pareceres e
representando os interesses da ANDRADE GUTIERREZ na PPP da Saúde e nas
tratativas de implementação do Centro Financeiro Internacional em Brasília
(doc. 08).

13. No curso de suas atividades profissionais, o REPRESENTANTE


participara de viagens ao exterior, conferências e eventos também no interesse
da AG (doc. 09), tudo quanto se mostrou necessário ao fiel cumprimento dos
serviços que prestara àquela empreiteira, de tal sorte que as provas
apresentadas fragilizaram sobremaneira o cenário persecutório.

14. Ante as incongruências contidas nas declarações dos lenientes,


a própria delegada federal que presidiu as investigações solicitou que fossem
revisados os benefícios penais concedidos aos executivos da AG, segundo
trecho extraído de seu Relatório Final, cuja conclusão restou assim assentada:

“[...] 73. Dito isso, cumpre alertar que não houve, em


nenhum momento, reconhecimento – pela AG e/ou lenientes – de fatos
vinculados ao SUPERFATURAMENTO averiguado unilateralmente
por meio dos Laudos Periciais produzidos no presente Inquérito Policial.
[...]

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Logo, e diante do valor alcançado, segundo o Instituto
Nacional de Criminalística, não é factível supor o desconhecimento desse
crime por aqueles que – na condição de Gerentes de Contrato, Gerentes
Comerciais, Gerentes Administrativos do Consórcio Brasília 2014, ora
lenientes – trataram direta e exclusivamente dos assuntos vinculados ao
Contrato nº 523/2010 – NOVACAP, ao longo de 04 anos (2010 a 2014).
[...]
77. Caso o superfaturamento total tivesse sido admitido
pela AG, haveria, evidentemente, o compromisso legal de restituicão dos
valores pagos a maior, o que, s.m.j, não ocorreu por parte da
COLABORADORA, tão pouco dos aderentes do Acordo de Leniência,
ocasionado enriquecimento ilícito da Construtora e seus sócios.
78. Ademais, as confissões descritas nestes autos limitam-
se a um cenário sistêmico de corrupção envolvendo agentes públicos
(corruptos) e empresas privadas (corruptores). Entretanto, o
superfaturamento verificado foi além dos pagamentos de propinas,
englobando o lucro do Consórcio Brasília 2014, pois não se supõe a
transferência de mais de 500 milhões de reais de vantagens indevidas.
“79. Assim, rogo a Vossa Excelência e ao Ministério
Público Federal verificar se não seria o caso de REVER os benefícios
aos nominados em referência (ao menos no que tange ao crime de
superfaturamento), uma vez que, ao sonegarem a verdade sobre esse
relevante fato, violaram frontalmente as cláusulas previstas nos
Acordos firmados. [...]” (grifos no original). (Doc. 15).

15. Instauradas as sindicâncias, também a pedido do ora


REPRESENTANTE (Doc. 16), restaram estas tombadas sob os nºs PGR-
00058930/2018 e PGR-00676605/2018, cujas investigações estão sendo
realizadas no âmbito da PROCURADORIA GERAL DA REPÚBLICA – PGR.

16. Assim, mesmo após a juntada de robusto acervo probatório


desmascarando as inverdades dos lenientes no âmbito criminal, o Ministério
Público do Distrito Federal, através dos Promotores de Justiça EDUARDO
GAZZINELLI VELOSO, SÉRGIO BRUNO CABRAL FERNANDES, LENA NUNES
DAHER E ALEXANDRE SALES DE PAULA E SOUZA, apresentaram ação civil

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pública por atos de improbidade administrativa, na justiça do Distrito Federal,
mas utilizando-se de premissas distintas daquelas em relação às quais se
consubstanciou o arcabouço persecutório instaurado em desfavor do
REPRESENTANTE, com o objetivo, desta vez, de canalizar as inverdades
lançadas, governando a acusação com o ardil falseio das informações
originariamente instrumentalizadas.

17. Ao obter acesso à íntegra do inquérito e da ação penal, os


REPRESENTADOS ignoraram a demonstração cabal do REPRESENTANTE e
reputaram como verdadeiras as declarações dos lenientes, dissociadas entre si,
abstraindo-se dos seus deveres de serem leais, éticos, imparciais e justos, como
fiscais da lei, afastando-se de suas funções constitucionais ao abastardar fatos
jurídicos e acusações, ainda que divorciados da realidade.

18. Ora, o próprio MP reconhece que houve a prestação de serviços


pelo REPRESENTANTE à ANDRADE GUTIERREZ, ao veicular em sua inicial que:

“A análise de documentos permitiu identificar a


elaboração de 1 Parecer de 10 laudas, datado de dezembro de
2011, além da posse de documentos relacionados a um projeto de
Centro Financeiro Internacional e a uma parceria públicoprivada
na área de saúde (Arquivo eletrônico Apenso I, Volumes I e II do
IPL 1095/2016 da Polícia Federal).” (destacamos). (Pág. 20 Inicial)

19. As prestações de serviços de advocacia à VIA ENGENHARIA e à


ANDRADE GUTIERREZ tratavam-se de relações negociais privadas, sem
qualquer vínculo com as obras do Estádio Nacional de Brasília,
entabuladas antes mesmo da constituição do Consórcio Brasília 2014, e cujos
pagamentos eram efetuados individualmente, por cada uma delas, mediante a
emissão de notas fiscais e recolhimento dos impostos devidos, na forma da lei.

20. Nada obstante, e, em que pese as clarividentes incongruências


emanadas nas declarações de CARLOS JOSÉ DE SOUZA, RODRIGO LEITE VIEIRA
e as informações apresentadas pela ANDRADE GUTIERREZ, a inicial do Parquet
Distrital agarrou-se à narrativa ardilosa e manipuladora dos lenientes,
emprestando absoluta veracidade às assacadas elucubrações.

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IV – DA DUBIEDADE DAS ACUSAÇÕES
21. A presente Representação se destina à apuração de faltas ético-
funcionais supostamente perpetradas pelos REPRESENTADOS, no que tange à
modificação, por completo, do fato jurídico que teria originado a ação
penal proposta contra o REPRESENTANTE, com subversão da dinâmica factual
para adequá-la a um conjunto probatório casuístico, desta vez no bojo da Ação
de Improbidade Administrativa que seria posteriormente ajuizada.

22. É que, detentores da integralidade do arcabouço jurídico-


probatório contido na ação penal, em cujo bojo se atribuía ao REPRESENTANTE
a pecha de “facilitador” e/ou “intermediário” de propinas em favor de
AGNELO QUEIROZ, os promotores de justiça subscritores da Ação de
Improbidade resolveram inovar.

23. Verificou-se que, na ação penal, o Parquet federal sustentou


que ALCOFORADO serviria como intermediário de AGNELO QUEIROZ, a fim de
receber as supostas vantagens indevidas e repassá-las ao então mandatário
distrital, cuja propina teria sido solicitada pelo próprio AGNELO à ANDRADE
GUTIERREZ.

24. Na ação de improbidade administrativa, os REPRESENTADOS


alteraram o fato jurídico originário e a acusação, sob a alegação de que
AGNELO QUEIROZ teria sido beneficiado pela prestação de serviços de
advocacia a ele outorgadas por ALCOFORADO, mas cujos honorários teriam
sido pagos pela ANDRADE GUTIERREZ.

25. Ocorre que a ação de improbidade administrativa ajuizada pelos


REPRESENTADOS empregou como alicerce todo o acervo constante no
inquérito e na ação penal, partindo de premissas, todavia, completamente
antagônicas e desvinculadas do contexto probatório.

26. O mesmo fato jurídico não pode ser segregado ou cindido pelo
uso de um caleidoscópio casuístico e tendencioso, apenas para corrigir os
rumos da investigação ou para impulsionar o poder persecutório do MP.

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27. Na ação civil, repita-se, os REPRESENTADOS, talvez imbuídos
pelo ímpeto punitivista enraizado em setores importantes da instituição MP –
porque sabedores da fragilidade dos elementos probatórios hauridos em
desfavor do REPRESENTANTE, cuja fidedignidade é objeto de investigação pela
PGR –, aduziram que o pagamento da suposta propina a AGNELO era
formalizada por meio do pagamento de honorários advocatícios contemplados
pelos serviços de advocacia a ele prestados pelo REPRESENTANTE.

28. Ora, como é possível que os REPRESENTADOS, explorando os


mesmos elementos probatórios, oriundos do mesmo fato jurídico,
envolvendo as mesmas personagens, tenham a ousadia de transmutar
completamente o contexto e posicionamento persecutório, ainda que a
despeito da independência entre as instâncias, cível e criminal?

29. Ambas as lides versam sobre o mesmo fato jurídico, com o


mesmo arcabouço probatório, e cujas informações são idênticas.

30. É crível aduzir em uma ação que o REPRESENTANTE é o


intermediário/facilitador no recebimento das vantagens indevidas solicitadas
por AGNELO e na outra dizer que aquele recebera valores da ANDRADE como
pagamento dos honorários a ele devidos e solicitados pelo ex-Governador?

31. É evidente a dubiedade entre as acusações formuladas pelo


Ministério Público do DF e pelo Ministério Público Federal, uma vez que os
REPRESENTADOS discorrem de modo diverso ao demonstrar a conduta do
REPRESENTANTE, alterando, casuisticamente, todo o contexto dos fatos, nada
obstante as provas sejam calcadas no mesmo calhamaço probatório.

32. Os REPRESENTADOS, assim como a Procuradora MELINA


CASTRO MONTOYA FLORES, que subscreveu a ação penal, compõem e são
membros do Ministério Público, uma instituição permanente, una, indivisível,
e que tem a sua função estabelecida e resguardada pela Constituição Federal.

33. Contudo, no caso em tela, vislumbra-se que seus membros


apresentam desígnios autônomos, distintos e comunhão de esforços
absolutamente desvinculadas, no desempenho de suas funções institucionais.

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34. Verifica-se uma antinomia nas acusações, uma vez que mesmo
diante da robustez das provas acostadas à ação penal, a qual orienta a ação de
improbidade administrativa, os REPRESENTADOS optaram por alterar as
acusações, dada a fragilidade das teses construídas no âmbito criminal,
levando à ação civil interpretações elucubradas de acusações mentirosas.

35. A mudança interpretativa do MP decorre, claramente, da


comprovação cabal de que existiu contrato de prestação de serviços firmado
entre o REPRESENTANTE e a ANDRADE GUTIERREZ, e de que os serviços foram
efetivamente prestados e remunerados, na forma da lei.

36. Aos REPRESENTADOS caberia filtrar as impropriedades


lançadas no inquérito policial e na ação penal, bem como examinar a vasta e
inequívoca prova quanto à complexidade, extensão e tempo dos serviços
prestados em favor da ANDRADE GUTIERREZ, e não tentar reconstruir a
acusação no afã meramente persecutório, dessa vez na seara civil.

37. Ao que se revela, os REPRESENTADOS deram de ombros às


lições de moralidade e de impessoalidade, escolhendo a via obscura da
manipulação de fatos e da falsificação de argumentos, traindo a confiança
depositada pelo Constituinte de 1988 na instituição do Ministério Público.

38. Assim procedendo, os REPRESENTADOS, fiadores da tese


malograda, ao encamparem uma narrativa nitidamente especulativa, mas
subvertendo a premissa persecutória, incorrem em faltas funcionais,
porque abstraem-se de suas funções institucionais como fiscal da lei.

V – DA VIOLAÇÃO AOS PRINCÍPIOS


CONSTITUCIONAIS QUE REGEM A ATUAÇÃO DO MP
39. Ao tratar dos princípios insertos no art. 127 da CF: a) unidade;
b) indivisibilidade; e c) independência funcional, a Constituição os erigiu à
condição principiológica de expressa aplicabilidade, a qual deve permear
incondicionalmente a atuação dos membros do Ministério Público, corolário
inafastável para o exercício de tão importante e prestigiosa função
institucional.

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40. Todavia, parece que, por incultura jurídica ou alienação
constituinte, pouco ou nada se estuda acerca do princípio da unidade, tão
valioso quanto aos demais postulados que regem a atuação do MP.

41. Pela escassez de texto e desprezos acadêmicos, o princípio da


unidade parece viver adormecido, como se o seu estado de ausência mental
justificasse o silêncio sobre postulado constitucional que deve,
inarredavelmente, balizar a atuação do Ministério Público.

42. Fato é que muito esforço deve ser feito para descortinar esse
importante princípio, o qual vem sendo constantemente malferido e
vilipendiado pelo próprio órgão de classe a cujo cumprimento caberia zelar,
demonstrando postura ética e legal por parte de seus membros.

43. Nesse diapasão, o princípio da unidade significa o predicativo


de ser uno e indivisível, como identidade ôntica, que exige do órgão,
obrigatoriamente, harmonia e coerência, em nome da homogeneidade,
igualdade e uniformidade, reclamando, por isso mesmo, a prudência,
perseverança e a persecução da mesma condição no exercício da função
pública, sem tolerar desvio ou alteração da narrativa com descrição
distinta sobre o mesmo fato jurídico.

44. O princípio da unidade comanda toda a conduta do Ministério


Público, comissiva ou omissiva, as quais convergem para o mesmo núcleo
conceitual e filosofal da atuação de membro do parquet.

45. Ainda que haja pluralidade de compreensões sobre o mesmo


fato jurídico, o princípio da unidade exige a unitariedade na exploração
do evento, sob a coerência que se finaliza num resultado único.

46. Em campo algum do direito, um fato jurídico suporta a


diversidade das causas ou dos efeitos pelo simples imaginário do poder de
acusar.

47. O colapso da unitariedade se concretiza quando o princípio da


independência funcional mutila a base nuclear do fato jurídico, com

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característica uniforme, governado por uma mesma lógica cognitiva, que é
firmada na objetividade da verdade, incapaz de contorcionismos para
agradar as ignominiosas fórmulas de acusação, ainda que legitimadas por
prévias atuações, ímprobas ou delituosas.

48. Por força do princípio da unidade, a cognição sobre fato


jurídico, com repercussão no campo de atuação e competência do Ministério
Público, germina em ambiente livre, mas se efetiva com juízo unitário, quando
da dedução de pretensão punitiva, de natureza penal, civil ou administrativa,
se já ofertada a defesa do acusado ou do réu, sob pena de violação ao
contraditório, corolário inafastável da boa justiça.

49. Fere o princípio da unidade o comportamento de,


convenientemente, se dissecar o fato jurídico, em flagrante divergência, de tal
sorte a permitir aos membros do MP delirantes e engenhosas fórmulas para
alvejar o investigado.

50. A unidade desautoriza que o fato jurídico seja observado por


um caleidoscópio conformado à visão autoritária e manipuladora do MP,
como percepção traquina para descrever a suposta conduta de agentes na ação
ou omissão delituosa.

51. A tipificação de conduta, no âmbito penal, civil ou


administrativo, se sujeita ao princípio da unidade, razão por que é defeso que
membros do MP, em ações distintas, mas inauguradas sob a égide do
mesmo fato jurídico, alicercem o poder persecutório com base em
premissas que corrompam a tesa da singularidade da circunstância que
supostamente o originou.

52. Esse fato é a composição de uma só realidade, porque não existe


fato jurídico com versões antagônicas, com dissenso, ainda que meramente
narrativo, sob o risco de se transformar em apenas versões, de acordo com o
limite de cada sujeito em conhecer a verdade real, que não suporta dubiedades,
ainda que por erro de percepção do agente.

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53. Ao atentar contra os princípios da unidade, da indivisibilidade
e da autonomia funcional, por meio do ajuizamento de ação de
improbidade fundada em teses distintas daquelas que fundamentaram o
pedido de instauração de ação penal, o Ministério Público, inegavelmente,
litiga de má-fé.

54. Se há apenas uma única realidade conferida ao fato jurídico, o


princípio da unidade do Ministério Público cobra-lhe ética, honestidade e
coerência quando da formulação de denúncias penais ou ações de improbidade
administrativa, sob pena de desvirtuamento anômalo dos postulados
constitucionais que lhe são inerentes, a reclamar os reparos necessários à
manutenção da higidez e credibilidade de tão importante instituição.

55. Impera, portanto, a necessidade de se apurar a conduta dos


REPRESENTADOS, à luz da exaustiva demonstração de que o MP,
sorrateiramente, manipulou os documentos constantes do inquérito que
embasa a ação de improbidade, para, mediante alteração da acusação
inicial, formular novas teses acusatórias contra o REPRESENTANTE.

56. Assim procedendo, os REPRESENTADOS agiram em


desconformidade com a lei na articulação das engendradas acusações,
“deixando de desempenhar com zelo e probidade as suas funções” (art. 236,
IX da Lei Complementar 75), razão por que as condutas por eles perpetradas
devem ser objeto de apuração, processamento e julgamento.

VI –Ausência de Gravação Audiovisual das Declarações dos


Lenientes:

57. É de sabença pública que a construtora ANDRADE GUTIERREZ


promoveu acordo de leniência relativamente aos supostos delitos perpetrados
contra a administração pública, pela empreiteira e por seus executivos.

58. Nesse diapasão, imperioso ressaltar que a denúncia em face do


REPRESENTANTE se baseou exclusivamente nos acordos de leniência firmados
pelos executivos da ANDRADE GUTIERREZ.

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59. A ausência da integralidade das colaborações (termos escritos e
registros audiovisuais) inviabiliza o cotejo de versões apresentadas pelos
lenientes, sendo certo que a aferição de sua idoneidade e coerência como
possível elemento corroborativo de prova é um direito essencial do réu, para
que possa se defender de forma eficaz durante todo o transcurso do processo.

60. É evidente que declarações importantes para a defesa técnica


podem ter sido omitidas ou mal transcritas pelo MPF, o que prejudica o
controle da lisura da delação.

61. É de suma importância trazer à lume, no bojo da presente


representação, a não realização dos audiovisuais referentes às declarações
prestadas pelos lenientes, porque o REPRESENTADO SÉRGIO BRUNO CABRAL
FERNANDES foi um dos signatários do suspeitíssimo TERMO DE LENIÊNCIA
entabulado com a empreiteira ANDRADE GUTIERREZ S/A.

62. Sugere-se, portanto, certa nebulosidade e/ou direcionamento


com que as declarações foram firmadas, sem qualquer controle prévio da
defesa do REPRESENTANTE ou dos demais investigados.

63. As declarações prestadas pelos delatores foram todas


registradas em áudio e vídeo, ao tempo em que no concernente às alegações
dos lenientes não se observou a lei (§ 13º do art. 4º da Lei nº 12.850/2013),
porque não há registros de quaisquer gravações, como confessado pela
procuradora que atua na ação penal.

64. Posto isso, tudo concorre para a fixação da premissa indelével


segundo a qual o REPRESENTADO SÉRGIO BRUNO CABRAL FERNANDES,
subscritor dos acordos de leniência, descarreou a verdade e desprestigiou a
eticidade, ao deixar de cumprir ou observar o comando legal.

65. Algo de muito estranho ou proibido, sob o ponto de vista legal


e ético, teria ferido a lisura e a fidedignidade do procedimento, porque os
áudios e vídeos, corolário da legislação aplicável à espécie, foram
simplesmente ignorados, para não dizer escamoteados.

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66. Desserviço inimaginável se faz exsurgir que os membros do
Parquet que formalizaram a leniência não detinham, à época, recursos
disponíveis ou maquinário para a realização das gravações.

67. Trata-se de conduta censurável, reprovável e imprópria,


porque oriunda de agente público, fiscal da lei, que tem o dever legal e
ético de cumprir e zelar pelo cumprimento do ordenamento jurídico.

68. A falta de gravação, seja de áudio ou de vídeo, inviabiliza a


análise das condições psicoemocionais dos lenientes, diante de um MPF
sedento por informações para castigar terceiros, independentemente da
qualidade ética e moral dos investigados, ante os borbotoantes recursos e
meios utilizados para se alcançar tal finalidade.

69. O REPRESENTANTE, só deseja que a lei seja cumprida para


todos, sem privilégios ou contorcionismos, corolário da boa justiça.

70. O MP que se põe em projeção midiática como zeloso e


intransigente com as regras que norteiam o interesse público, mostrou-se, no
caso, negligente e desidioso, para não dizer maquiavélico.

71. Desconhece-se as razões pelas quais os membros do MP


subscritores da leniência se descuidaram de consolidar suas obrigações à luz
do princípio da transparência, publicidade e legalidade, como se estivessem
agindo na escuridão dos porões, com o objetivo de subtrair da cognição do
juízo o comportamento ilegal e a dinâmica delituosa perpetrada pelos
lenientes.

72. Esta proteção oferecida aos criminosos lenientes da AG se


estende inexplicavelmente, de forma inédita, já que em relação aos delatores
das demais empreiteiras que firmaram acordos de colaboração premiada, a
mão do Estado lhes impôs pesadas reprimendas penais.

73. Já aí era a vez de o MPF, se honesto, requerer, imediatamente,


o desfazimento do acordo de leniência fraudulentos dos senhores CARLOS
JOSÉ e RODRIGO LEITE, executivos da empreiteira ANDRADE GUTIERREZ.

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74. Assim, denota-se temerária, desleal e, em tese, criminosa a ação
dos REPRESENTADOS, ao deturparem as premissas fáticas que permearam o
inquérito e a ação penal, modificando a acusação e, portanto, “deixando de
desempenhar com zelo e probidade as suas funções” (art. 236, IX da Lei
Complementar 75), em flagrante transgressão aos princípios que lhe regem,
notadamente o da unidade (§ 1º do art. 127 da CF).

75. Outrossim, ao tomarem conhecimento das fraudes perpetradas


no acordo de leniência, consubstanciadas nas omissões e no falseio das
declarações nele prestadas, os Representados não adotaram “as providências
cabíveis em face de irregularidades de que tomou conhecimento e que
ocorreram nos serviços a seu cargo” (art. 236, VII da Lei Complementar 75).

76. Urge, pois, sejam reprimidas a condutas dos REPRESENTADOS,


porque desprezaram o dever de cautela, de lealdade e de cuidado objetivo que
deve permear as relações processuais, calcadas na boa-fé, havendo,
conseguintemente, justa causa para a deflagração de processo
administrativo disciplinar em seus desfavores.

77. Por tais razões, os REPRESENTADOS incorreram nas vedações


contidas no Estatuto maior do MPF (art. 236, VII e IX), razão pela qual a
presente Representação deve ser recebida em sua integralidade, a merecer a
reprimenda necessária – a ser estabelecida pelo Egrégio Colegiado deste
insigne Conselho – em caráter pedagógico, a fim de obstaculizar condutas que
venham causar novos gravames dessa natureza à administração da Justiça.

Termos em que pede deferimento.


Brasília/DF, em 14 de outubro de 2020.

LUIS CARLOS ALCOFORADO


OAB/DF n. 7.202

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