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Por cultura alemã não entendemos aqui apenas a presença de pensadores fundamentais
como Kant e Hegel, mas as correntes do século XIX que valorizam a erudição reconhecem a
importância dos conoisseurs e experts e pressupõem a exigente coleta de dados para
estudo e análise de fenómenos culturais. Referimo-nos particularmente ao método
filológico da história, que floresceu na Alemanha desse período, e que consiste na
verificação de documentos em suas origens, posterior decomposição em minúcia dos
detalhes, seleção e agrupamento de elementos, pesquisas de autenticidade etc. Foi esse
método que permitiu que importantes fontes literárias viessem à tona, que documentos de
arquivo fossem avaliados, e que medidas, datas e técnicas de obras fossem conferidas.
Coube a historiadores desse período o comentado crítico e a publicação de documentos
inéditos. O livro mais conhecido de Vasari, Vida dos mais Excelentes Arquitetos, Pintores e
Escultores Italianos, inclusive de Cimabue, até Nosso Tempo, foi revisto e tomou-se
referência para o estudo da arte no renascimento italiano. Para o historiador da arte, os
principais núcleos de análise filológica foram as próprias obras de arte, estudadas segundo
sua. iconografia (conteúdo expressivo), técnica (no sentido tradicional: construtiva,
escultórica e pictórica) e estilo (convenção figurativa). Para Wölfflin, a convivência com
esses procedimentos trouxe o rigor e a disciplina, evidentes desde os seus primeiros
escritos, sem, contudo, transformá-lo num limitado especialista. Tal enfoque metodológico
lhe era familiar, não apenas pela experiência da vida universitária, mas porque seu próprio
pai era um filólogo, professor de Iíngua e cultura latinas, que havia fundado e dmgido o
Thesaurus Linguae Latinae.
De Dilthey, com quem havia feito cursos em Berlim, Wölfflin extraiu a ideia da autonomia
artfstica, baseado na independência da metodologia das ciências históricas com relação às
ciências naturais. Em Conceitos Fundamentais da História da Arte está amadurecida a ideia
de uma história da arte de evolução imanente, uma disciplina autónoma, com regras e
quesitos que independem de determinações externas. Caberia lembrar aqui a importância
das ideias de Comte, e como elas podem ter influenciado o historiador: a busca de regras
estritas e de validez geral para a ciência pode ser transposta para o campo das artes,
resultando na existência de leis que regem a evolução interna, inviolável dos processos
artísticos.
O contato com Fiedler, Hildebrandt e Riegl trouxe para a teoria de Wölfflin a influência da
pura visualidade, a atenção concentrada nos símbolos visíveis. A linha, a cor, a estrutura de
composição, os materiais empregados nas formas de expressão consütuem, não apenas a
essência concreta da obra de arte, mas podem ser entendidos como a essência mesma dos
estilos artísticos, constituídos de grupos de obras de arte afins.
Fiedler afirmava que o campo da arte é o campo das percepções objetivas e que a arte
podia se reduzir ao conhecimento da forma. Visão e representação, intuição e expressão
estão identificadas na obra de arte. O artista exerce a função de conhecedor da realidade,
através da visão, e a história da arte é a história desse conhecimento do real, captado pela
atividade artística. Para Fiedler a arte plástica é a forma da pura visualidade, assim como a
literatura é a arte do idioma. Em função do seu pensamento, foi considerado o fundador da
ciência artística, diferente da estética da arte.
Alois Riegl possufa um vasto conhecünento da arte e valorizou as chamadas artes menores
ou decorativas, assim como os perfodos antes vistos como decadentes. Embora sem o
mesmo rigor kantiano do pensamento de Fiedler, imaginou a história da arte como história
universal. Baseou se no princfpio da atividade artfstica autónoma e de natureza espiritual, e
acreditava na evolução dos caracteres essenciais da arte dentro de uma dinâmica própria.
Acreditava que a arte, se destacada do seu processo espiritual criaüvo, tenderia a morrer. O
conceito que sustenta essa dinâmica é o da "vontade artfstica", ou seja, a tendência ou
impulso identificados num dado período, responsável pelas transfonnações que sofre a
expressão plástica. A obra de arte deixa de ser um produto mecânico, de exigências práticas,
técnicas ou funcionais, para tomar-se o reflexo de algo transcendente, a Kunstwollen que se
manifestará numa mesma época, de fonna equivalente em todas as artes.
(…)