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Ano 04, no 03

R$ 0,00
Equinócio de Primavera
21 Setembro, 2013 e.v.
A in f, B in a, Dies G
Revista da Loja Quetzalcoatl, Ordo Templi Orientis Anno IV:xxi

ALQUIMIA NA
MISSA GNÓSTICA
Uma análise de como os processos de transformação da
Alquimia estão contemplados no rito central da O.T.O.:
a Missa Gnóstica. pág. 8
Índice
Editorial
pág. 3
Notícias
Expediente pág. 3
Ano 04, Num 03, Ed nº 13, 21 de Setembro de 2013 e.v.

Quem são os Alquimistas


Ordo Templi Orientis Internacional pág. 4
Frater Superior.................. Fra. Hymenaeus Beta
Grande Secretário Geral......................... Fra. Aion Armas Alquímicas
Grande Tesoureiro Geral..........................Fra. SQL pág. 6
O.T.O. Brasil
Repr. do Fra. Superior..... Sor. Tara Shambhala

8
Alquimia na
Loja Quetzalcoatl Missa Gnóstica
Maestria................................. Fra. Apollôn Lycaeus
Secretaria...........................................................Fra. Eros
Tesouraria.....................................................Fra. Kin Fo

Editoria
Editor.......................................Fra. Apollôn Hekatos
Jornalista............................................................Fra. Eros
Design Editorial.................Fra. Apollôn Hekatos
Ilustrações................................... Loja Quetzalcoatl
Estudos
Assinaturas Poder Mágico
Assinatura anual (4 ed./ano)...................R$ ??,00 pág. 13
Edição atrasada...............................................R$ ??,00
Pedidos......estrelarubi@quetzalcoatl-oto.org Biblioteca Thelêmica
O Chamado do 24º Aethyr
pág. 17
Estrela Rubi é uma publicação trimestral da
Loja Quetzalcoatl, Corpo Local Oficial da Ordo Hooráculo
Templi Orientis internacional para a cidade do
Rio de Janeiro, Brasil.
pág. 20

Todos os direitos reservados. Proibida cópia,


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© 2013, Loja Quetzalcoatl, Ordo Templi Orientis


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Brasil e Ordo Templi Orientis Internacional estrelarubi@quetzalcoatl-oto.org
3
Editorial Notícias

E, assim como a comida e a bebida são diariamente transmu- Celebração da primeira noite do Profeta e sua Noiva
tados em nós em substância espiritual, eu creio no Milagre da
Missa.” No dia 12 de agosto foi celebrada a Primeira noite do Profeta e sua
Noiva: a celebração das núpcias de Crowley com Ouarda, a Vidente.
É à transubstanciação da matéria em Energia Divina a qual nos re- Um brinde a Aleister Crowley e a Rose Edith Kelly, que, unidos, oca-
ferimos. Transmutação esta que também ocorre dentro dos comu- sionaram na revelação do Livro da Lei!
nicantes durante a comunhão na celebração de Liber XV - A Missa
Gnóstica. Equinócio de Primavera

Mas como um homem entre os homens se torna digno de conferir Neste dia 21 de setembro estamos celebrando o Equinócio de Pri-
as virtudes aos irmãos? Como pode o Sacerdote se propor a trans- mavera, marcando o momento em que o Sol cruza o plano da Linha
mutar o Bolo de Luz no Corpo de Deus e cometer o mais blasfemo do Equador, iluminando a terra em sua exata metade, tendo dia e
ato ao se proclamar Deus? noite a mesma duração.

O mesmo indivíduo que preguiçosamente desperdiça horas vendo Assim como no Liber Resh Rá a cada manhã ascende à hora do le-
televisão ou comete variados ‘pecados’ do dia-a-dia, dificilmente se vante do Sol, a vida volta a se manifestar com o raiar da Primavera.
enquadra na imagem que a grande massa tem de Deus. No entanto Que esta seja uma estação de força e renascimento para todos!
o Sacerdote dos Mistérios assim o é.
Novos Minervais
O Novo Aeon nos trouxe a realização que o Homem pode ser ele-
vado e se reconhecer como Deus, no entanto isso não significa que No dia 21 de setembro de 2013 e.v. foram iniciados, na Loja Quet-
Deus será reduzido ao estado humano. zalcoatl, os Novos Minervais da Ordo Templi Orientis. Sejam bem-
-vindos! Que esse seja o início de uma caminhada de Sucesso.

Estrela Rubi

Frater Apollôn Lycaeus


Mestre da Loja Quetzalcoatl - Rio de Janeiro
QUEM
4

Frater Thoth
Artigo

SÃO OS
ALQUIMISTAS
Um panorama histórico sobre os mente não se deteriorar. Assim, imaginava-se que, se fosse

personagens da A lquimia e sua


possível reproduzir esta característica de resistência e dura-
bilidade, seria possível curar doenças e prolongar a vida. Mas,
busca como todos os assuntos alquímicos, este também deve levar
em consideração o lado espiritual, mental, onde esta metá-
fora simboliza a transformação do bruto no puro, do feio no

A
alquimia é assunto que intriga muitas pessoas des- belo, do ruim no bom, do ódio no amor e etc. Esta é uma das
de os tempos mais remotos. Já é uma prática antiga, práticas do alquimista. Isto nos lembra o romance A Obra em
de origem incerta, mais provavelmente proveniente Negro, de Marguerite Yourcenar, onde o protagonista Zênon,
do Antigo Egito, assim como muitas outras práticas herdadas alquimista, médico e filósofo no século XVI, busca a Grande
desse povo. A alquimia é certamente má interpretada pelos Obra, a posse da Pedra Filosofal. A investigação alquímica
leigos, talvez em grande parte por culpa de suas metáforas do personagem confunde-se com a busca de si mesmo, em
baseadas em arquétipos de um tempo distante, uma lingua- meio ao obscurantismo, pestes, guerras, heresias e execu-
gem diferente. Os alquimistas, os praticantes da alquimia, ções.
buscam conhecimento e foram os pioneiros na busca cien-
tífica. A alquimia teve seu auge na Idade Média e contou com mui-
tos praticantes conhecidos até hoje. Até o século XVIII, a al-
A alquimia é uma prática que combina elementos de quí- quimia era considerada uma ciência séria na Europa e po-
mica, física, astrologia, arte, semiótica, metalurgia, medicina, demos citar como exemplos de alquimistas o grande Isaac
misticismo e religião. Dois objetivos buscados pelos alqui- Newton, que devotava grande parte do seu tempo ao estudo
mistas eram a Pedra Filosofal, uma substância mítica que desta arte, entre outros. Grandes nomes deste tempo são Ro-
permitira a transmutação dos metais comuns em ouro; e o ger Bacon, Thomas Aquinas, Thomas Browne e Tycho Brahe.
Elixir da Longa Vida, um remédio capaz de curar todas as do- O declínio da alquimia se deu com o surgimento da química
enças imagináveis e de prolongar a vida indefinidamente. A moderna, ainda no século XVIII, pois esta trazia resultados
Ordo Templi Orientis — Loja Quetzalcoatl

alquimia pode ser considerada a precursora da química mo- mais precisos e uma área de trabalho mais confiável para a
derna, antes da formulação do método científico. A palavra medicina e transmutações de matéria, dentro de uma nova
alquimia vem do árabe al-kimiya ou al-khimiya (‫ ءايميكلا‬ou perspectiva baseada no racionalismo material.
‫)ءايميخلا‬, que provavelmente é formada pelo artigo AL e a
palavra grega khumeia (χυμεία), que significa “colocar junto”, Apesar disso, a alquimia não foi totalmente abandonada.
“derramar junto”, “ligar”. Grandes estudiosos modernos ainda estudam este assunto.
Carl Jung começou a perceber o significado do trabalho al-
O alquimista tenta transformar chumbo em ouro. Uma das químico como um caminho espiritual, ao reexaminar a sim-
características mais notáveis deste metal precioso é justa- bologia e teoria alquímica.
5
Artigo
Roger Bacon (1214-1294) pode ser chumbo em ouro, e por isso foram contribuições do mundo islâmico, que
considerado o primeiro alquimista da chamados de bruxos e magos, perse- até tem registros históricos mais bem
Idade Média ocidental. Franciscano de guidos e executados. conservados e em maior quantidade.
Oxford, estudioso de ótica e lingua- Como exemplo de alquimista islâmico,
gens, além de alquimia, trouxe gran- Outro notável alquimista do século XVI podemos citar Abu Bakr Mohammad
des contribuições para o estudo deste era Heinrich Cornelius Agrippa, que Ibn Zakariya al-Razi que contribuiu
assunto. Bacon trouxe o pensamento dizia ser um mago capaz de invocar com descobertas muito importantes
Franciscano da experimentação, que espíritos. Ele se esforçou para que a para a química, como a técnica de
seria a melhor forma de adquirir co- alquimia fosse vista não mais como destilação, o muriático, o sulfúrico, os
nhecimento, a mais satisfatória para uma filosofia mística, mas como ma- ácidos nítricos, soda e alcalina. Não só
o intelecto. Muitos outros alquimistas gia ocultista. Seus escritos também in- no campo da química temos destaque
dos séculos posteriores basearam seus fluenciaram alquimistas das gerações dos alquimistas islâmicos, mas tam-
trabalhos nos preceitos estabelecidos posteriores. Ele manteve viva a filosofia bém no campo da filosofia com Jabir
por Bacon. É verdade que muitos al- dos alquimistas anteriores a ele, como Ibn Hayyan, que relacionou cada ele-
quimistas eram também clérigos, ou a experimentação e a numerologia, mento com uma qualidade, a saber, ca-
seja, faziam parte da igreja. Isso por- mas ele adicionou a teoria mágica, o lor, frio, secura e umidade. A partir disto,
que poucas pessoas na época tinham que fez com que se passasse a ter uma ele destacou que cada metal tem to-
a educação necessária para entender visão diferente da alquimia. das essas qualidades, duas interiores
os textos estrangeiros, principalmente e duas exteriores. Então, ele teorizou
os escritos em árabe, que são os me- Talvez o nome mais importante des- que se fosse possível reorganizar as
lhores registros que se tem até hoje. ta época tenha sido Paracelso (Theo- essas qualidades de um metal, um me-
Também a igreja apoiava a alquimia phrastus Bombastus von Hohenheim, tal diferente surgiria. Desta forma seria
como ferramenta de desenvolvimento 1493–1541), que não se via como mago, possível transformar chumbo em ouro.
da teologia, pois oferece uma visão ra- abdicando das teorias mágicas na al-
cionalista do universo. Eles praticavam quimia que foram trazidas por Flamel Assim podemos ver como toda a teoria
a arte: experimentavam com química e e Agrippa. Ele promovia o uso de ob- alquímica é abrangente, multidiscipli-
faziam observações e teorias de como servações e experimentos para apren- nar. Esta enorme variedade de temas e
o universo funciona. der sobre o corpo humano. Foi o pio- áreas inspiradas pela alquimia, nos re-
neiro no uso de químicas e minerais mete à Teoria da Complexidade de au-
Durante os séculos tortuosos da Pes- na medicina. Suas ideias baseavam-se tores recentes como Edgar Morin, que
te Negra, a alquimia foi deixada de no princípio hermético de que toda defende a análise científica levando
lado e até mesmo banida da igreja por doença é causada por uma desarmo- em consideração os mais diversos as-
meio de uma ordem do Papa João XXII. nia entre o homem, o microcosmo, e pectos, envolvendo disciplinas e áreas
Nestes tempos atribulados, poucos se a natureza, o macrocosmo. Ele tinha de conhecimento que poderiam pare-
dedicavam ao estudo desta arte, en- uma abordagem diferente daqueles cer não estar relacionadas. A alquimia
tre eles Nicholas Flamel (1330-1417). que o precederam, não pensando na foi a mãe da química e medicina mo-
Diferentemente de seus antecessores, alquimia como purificadora da alma, dernas, levantando as primeiras con-
Flamel não era clérigo. Apenas se in- mas como um estudo medicinal, onde siderações e métodos de averiguação
teressava pela busca da Pedra Filosofal o corpo humano tem um balanço de de hipóteses. Os alquimistas foram os
– que dizem ter achado – e seu traba- minerais e certas doenças poderiam primeiros cientistas a tentar entender,
lho é um grande compêndio de descri- ser curadas com remédios químicos. explicar e documentar o universo, uma
ções de processos e reações, mas que busca muito importante para a huma-
nunca realmente dá a fórmula para as Na Inglaterra do século XVI, Doutor nidade.
transmutações. Muito de seu trabalho John Dee (1527-1608) era o alquimista
foi reunir o conhecimento que existia de confiança de sua majestade Rainha
anteriormente a ele, principalmente no Elizabeth I para consultas científicas.
tocante à Pedra Filosofal. Era referência no assunto e conhecia
tanto sobre Roger Bacon que chegou
No período da Alta Idade Média, os a escrever um livro chamado “Monas
alquimistas eram muito como Flamel: Hieroglyphica”, de 1564, influenciado
não eram clérigos e buscavam a Pedra pela Qabbalah.
Filosofal e o Elixir da Vida, que acredi-
Estrela Rubi

tavam serem coisas diferentes. Viam a A alquimia não ficou restrita ao mun-
purificação da alma como transformar do ocidental. Também teve grandes
ARMAS
6
Frater Kin-Fo
Artigo

ALQUÍMICAS
Como os elementos da A lquimia te ocorreu no século XVII com o lançamento de “O Químico Cético” de

estão presentes nas A rmas da


Robert Boyle, que trouxe à tona o primeiro modelo de átomo, dando um
pontapé para uma nova visão de mundo diferente à de Paracelso e de
magia cerimonial outros alquimistas do passado.

A Alquimia europeia se desenvolveu com base no pensamento aristotéli-


Faze o que tu queres será o todo da Lei co de que os corpos existentes eram formados por diversas quantidades
de elementos arquetípicos chamados terra, ar, fogo, água e aether. Assim,

M
ensalmente, a Loja Quetzalcoatl promove palestras abertas o percentual de um elemento na formação do corpo seria responsável
para seus membros e convidados. O tema da palestra de pela energia que ele sofreria. Um corpo com maior quantidade de ar so-
junho foram as Armas Mágickas. Na ocasião, tivemos a opor- freria menos ação da gravidade que um outro corpo com maior formação
tunidade de conversar sobre o que são e para o que servem, além de de terra. A exceção seria o aether, cuja função seria preencher os espaços
conversarmos sobre alguns casos específicos. Caso você tenha perdido não ocupados pelos outros quatro elementos.
a oportunidade da palestra, recomendo uma leitura do estudo publicado
na edição 4 da Revista Estrela Rubi. Algumas armas mágickas possuem certas características que permitem
a sua análise associada a outras armas. Um exemplo é açoite, a adaga e a
Nesse artigo, vamos falar um pouco sobre uma interessante correlação corrente, que juntos representam os três elementos alquímicos, ou seja, o
entre magia cerimonial e alquimia que podemos fazer com as armas má- enxofre, o mercúrio e o sal. Mas por que dessa associação e qual a função
gicas. Esse estudo é baseado na obra de Aleister Crowley, em especial o desses três elementos?
seu Liber ABA – Book Four.
Antes de mais nada, é preciso termos em mente que quando falamos de
Falemos um pouco sobre Alquimia. A Alquimia é uma das correntes de enxofre, sal e mercúrio nós não nos referimos aos elementos como conce-
pensamento esotérico mais antigas da qual temos conhecimento. Embo- bidos pela química hoje, e sim a certos princípios místicos que são ilustra-
ra no imaginário popular a palavra alquimista traga à mente a figura de dos através das características desses.
um sujeito com roupas da idade média trabalhando em um laboratório
de química rústico, é difícil dizer que ela seja um produto europeu ou Assim, o enxofre está associado ao calor, ao fogo, a ação, pois o elemento
medieval. Em si, a alquimia carrega elementos gregos, egípcios, islâmicos, químico enxofre tem como característica ser um excelente combustível.
babilônicos e até do extremo oriente asiático. No caso da alquimia esse fogo é o ímpeto humano, a libido. A arma má-
gica associada a esse elemento é o açoite cuja aplicação atinge a alma
Embora não seja possível falar em uma corrente única e concisa do pensa- animal do indivíduo, sempre em busca de novos estímulos. O açoite não
mento alquímico, podemos identificar alguns elementos comuns e rele- funciona como ferramenta de punição, mas disciplina do indivíduo.
vantes aos diferentes grupos que se utilizam dessa denominação. A trans-
Ordo Templi Orientis — Loja Quetzalcoatl

mutação de corpos e a criação de elementos universais são os grandes O mercúrio representa o princípio volátil. O elemento químico é brilho-
objetivos da alquimia, seja da mera transmutação do chumbo em ouro so, e ao ser aquecido é capaz de brilhar e adaptar sua forma ao meio em
até a do espírito grosseiro à mente esclarecida. que se encontra. Você se lembra daquele velho termômetro guardado no
banheiro da sua casa? Pense que basta a mudança de poucos graus na
Na história da ciência, a Alquimia foi responsável pela sistematização do temperatura para que ele adote nova forma e dimensão. A adaga é asso-
pensamento da Química moderna. Os alquimistas europeus buscavam ciada ao elemento mercúrio. Sua grande característica é a calma. Através
a precisão de suas experiências e a capacidade da reprodução de seus da adaga o adepto direciona a sua vontade para o fim da Grande Obra.
resultados. Não à toa a Alquimia era chamada de Arte da Balança pelos
seus críticos renascentistas. A separação entre Química e Alquimia somen- O sal por sua vez representa a união do mercúrio com o enxofre, pois é
7
Artigo
uma característica química que o mesmo se
origine através do trabalho com os elementos.
Sua característica é a união, no sentido de nos
permitir agregar nossos pensamentos disper-
sos em torno de um propósito comum. Assim
a corrente passa a ser associada ao sal, e seu
uso ao redor do pescoço permite unir os pen-
samentos para o grande fim.

É possível pensar na relação entre enxofre,


mercúrio e sal através de polaridades elétricas.
O enxofre é positivo, mercúrio é negativo e o
sal é neutro. Podemos também pensar nesses
elementos como o enxofre sendo masculino,
mercúrio feminino e o sal como a união destes.
Também é interessante notar como cada ele-
mento desses traduz características do espírito
humano, e como a arma mágica associada a
esse elemento nos permite trabalhar com a
característica envolvida.

Tal como o trabalho de mistura do enxofre, do


mercúrio e do sal deve ocorrer por um tempo
que o permita ser banhado com o orvalho
da noite, o trabalho com a adaga, o açoite e a
corrente deve ser coroado com a utilização do
óleo sagrado pelo magista. Esse óleo, ou orva-
lho, representa a aspiração do magista, consa-
grando-o em sua missão na Grande Obra.

Muitas lições podem ser aprendidas a partir


de cada uma das armas mágicas, e de sua uti-
lização com as demais. Espero que esse breve
texto tenha permitido a vocês vislumbrar um
pouco mais esse potencial.

Amor é a lei, amor sob vontade

Um fraterno abraço a todos,


Estrela Rubi
Ordo Templi Orientis — Loja Quetzalcoatl 8
Frater Eros

Artigo
9
ALQUIMIA
Frater Eros

Matéria de Capa
NA MISSA
´
GNOSTICA Uma análise de como os
processos de transformação da
A lquimia estão contemplados
no rito central da O.T.O.: a
Missa Gnóstica

A
Alquimia até hoje é objeto de muita especulação. A
tentativa de análise de sua literatura clássica levou
diversos pesquisadores a diversas interpretações
possíveis sobre o que, de fato, tratava-se essa proto-ciência:
se era uma pesquisa química, um modelo espiritual, um mé-
todo de investigação da natureza etc. Desenvolvido como
método empírico, com variações de linguagem e de símbo-
los entre os grimórios de seus autores, os objetos do inte-
resse central da Alquimia eram, no entanto, os mesmos: a
imortalidade, o elixir da vida, a medicina dos metais, o ouro
alquímico – todos esses sendo emblemas da completude da
Grande Obra. Como consta na Tábua de Esmeralda, atribuída
a Hermes Trimegistos: “(...) assim como todas as coisas vie-
ram do Um, assim todas as coisas são únicas, por adaptação”.
A obra dos Alquimistas residia, assim, em encontrar este Um,
esta matéria-prima fundamental da existência, cujo símbo-
lo mais destacado é a pedra filosofal. A descoberta dessa
Unidade equivalia à consecução de Deus e a realização do
homem como Criador. Esse Criador, afinal, seria capaz de
transmutar o chumbo em ouro – isto é, redimir e transformar
a matéria, recriando-se a si mesmo ou criando o mundo em
sincronia com sua Obra.

Em Magick essa dinâmica é fundamental. Nós identificamos


que o ser humano é o cientista e artista que muda a reali-
dade de acordo com sua Vontade. A indagação do Magista
Estrela Rubi

sobre o que é realidade – e qual é a sua substância – é de in-


teresse primário. Para nos consumarmos como criadores efi-
10Matéria de Capa

cientes, é necessário aprendermos a identificá-la. Em 1659, o que até então era a alma adormecida.
o lendário alquimista Basil Valentine ilustrou essa substân-
cia como o “Azoth dos Filósofos”, sendo este Azoth o “Alfa e Purificações e Consagrações
o Ômega”, tanto a prima materia caótica do início da Obra,
como o aperfeiçoado lapis philosophorum, a Pedra dos Fi- Podemos perceber alguns processos da Alquimia diluídos
lósofos. Isto se torna especialmente importante para nosso em toda a Missa – por vezes repetidamente e de forma dinâ-
contexto quando no manifesto da O.T.O. (Liber LII) consta mica, mas em escalas diferentes – e selecionaremos alguns
que a Ordem “possui o segredo da Pedra Filosofal, do Elixir desses momentos para ilustrar como essas fórmulas são tan-
de Imortalidade e da Medicina Universal”. Sim – clamamos to importantes para a Magia no geral, como essenciais para
possuir o segredo da substância fundamental da Magia, cujo o caminho do Espírito na produção do seu Sacramento: o
manuseio iguala o homem a Deus. que já identificamos como sendo o norte da fórmula con-
tida no Ritual da Missa. Aprendendo a ler essas operações,
No Liber ABA (Book 4), Parte III, cap. XX (“Da Eucaristia: e teremos adquirido uma nova linguagem e nos aberto a uma
da Arte da Alquimia”) está escrito sobre esta operação: “Isto nova riqueza de interpretações.
consiste em tomar coisas comuns, transmutá-las em coisas
divinas e então consumi-las”. Essa prática, no entanto, não As primeiras fórmulas estão nas preparações que a Sacerdo-
pode ser explicada por algumas palavras numa instrução, tisa imprime sobre o Sacerdote, associadas aos elementos.
mas só pode ser consumada por cada Iniciado através da “Que o sal da terra exorte a Água a carregar a virtude do Grande
experiência própria, geralmente facilitada por um curso de Mar”, diz a Sacerdotisa, em seguida da rogativa: “Mãe, sê tu
treinamento. E esse método está contemplado na jornada adorada!” As águas amnióticas do Grande Mar estão intima-
iniciática da O.T.O. e, como não poderia ser diferente, sua mente associadas a Babalon, de modo que o louvor à Mãe
fórmula está aplicada no seu rito central, a Missa Gnóstica. É se torna claro. A fase da Dissolução (Solutio) na Alquimia
com base no seu enredo que faremos uma breve análise dos muitas vezes é representada pelo Rei e a Rainha banhan-
processos de transformação da Alquimia dentro da O.T.O. do-se juntos numa banheira, ou mesmo por imagens de
inundação. O Grande Mar é a Aqua Regia que os alquimistas
Ainda no começo do Ritual, o Sacerdote é desperto de sua consideravam ser capaz de dissolver mesmo o ouro alquí-
Tumba – que podemos também ler como uma forma da ni- mico. Dialogando com a psicologia – especialmente com a
gredo, a noite da alma e a mortificação da matéria – pela psicologia analítica de Carl G. Jung, que se aventurou nas
força maior do amor da Sacerdotisa, que atua como sua Ini- obras alquímicas clássicas – isso representaria uma imersão
ciadora. Diante disso, a primeira pergunta dele é da maior dos conteúdos psíquicos no Grande Inconsciente. Realizada
importância: “Eu sou um homem entre os homens. Como pode- com eficiência iniciática – isto é, sendo bem sucedida em
rei eu ser digno de conferir as virtudes aos irmãos?” A sua pre- produzir uma iluminação –, essa imersão nas águas, que são
ocupação ao despertar é, portanto, a de ser um veículo das o próprio sangue da vida, é uma forma de Batismo. Por sua
virtudes. Inicialmente, ele é essencialmente individual (“um vez, o sal da terra (ou Sal Salis) é a matriz que mais tarde
homem”), mas identifica sua condição como semelhante a concretiza a Pedra Filosofal, isto é, a base material ou sólida
da humanidade em geral (“entre o homens”). A purificação do Espírito. Devemos lembrar a Tábua de Esmeralda, quando
(com água e sal) e a consagração (com ar e fogo) represen- ela nos diz sobre a substância das substâncias: “a Terra é sua
tam marcas de distinção e culminam no Sacerdote trajado nutriz”. O sal então, na Alquimia, não aparece só como base
como realeza e, enfim, coroado com a Serpente (o Uraeus material, mas como nutrição do Espírito. Ora, o “sal da terra”
dos Faraós, ou a Kundalini desperta). A estimulação que se está associado ao suor do rosto derramado pelo trabalho e
segue da Lança – seu phallus, ou poder criador – resulta na também a nossas experiências e sensações sobre a terra. As-
injunção, proclamada pela Sacerdotisa: “Esteja o Senhor pre- sim, as marcas da labuta e do prazer que levamos na pele são
sente entre nós!” Este Senhor – identificado no Credo da Mis- veículo e também alimento do Espírito.
sa como “Senhor secreto e inefável” – é o próprio Espírito,
cuja Alquimia pretendia encarnar (ou coagular) na matéria, O sal está também ligado ao processo que a Alquimia cha-
Ordo Templi Orientis — Loja Quetzalcoatl

preparando-o para a manifestação através das etapas de mou de Calcinação, ou a redução das impurezas a cinzas. A
sua obra. As virtudes são fruto da aparição deste Espírito no calcinação se refere ao cálcio, que remete a calcário e a osso,
mundo – aparição que é como o Sol, cuja expressão visível e o fundamental da nossa própria estrutura material. O sal, o
doação de luz e vida são o símbolo mais próximo dos atribu- fundamental de nossos ossos e de nossa estrutura material,
tos que concebemos serem os de Deus. Aqui vemos como o e também o suor de nossa ação, é derramado nas águas do
Liber XV também identifica neste Senhor, o Espírito, aquele Grande do Mar e, graças a isso, exorta-a a transmitir suas vir-
capaz de ministrar as virtudes, isto é, produzir e conferir o tudes. O sal permite a formulação do mar infinito em expe-
Sacramento. O Espírito é aquele que transforma a matéria, riências concretas. Temos aqui uma importante lição sobre
tornando sagrado aquilo que era ordinário, tornando divina nossas experiências práticas serem aquilo que nos sustenta
11
Matéria de Capa
e também a pedra angular da Iniciação. mento, pode estar “presente entre nós” quando os quatro
elementos estão equilibrados. Nesse primeiro momento foi
Após essas operações, a Sacerdotisa asperge o Sacerdote e trabalhada a fórmula do Pentagrama, ou do Microcosmo. O
conclui: “Seja o Sacerdote puro de corpo e alma!” Essas são, diagrama de Eliphas Levi (que pode ser encontrado em seu
para que recordemos, as condições primárias para que ele “Dogma e Ritual da Alta Magia”) detalha as forças implicadas
“possa ministrar as virtudes aos irmãos”. A pureza do Sacer- no Pentagrama, e o Alfa e Ômega ali contidos – assim como
dote é sua Castidade. Nas notas editoriais do Book 4, encon- outros opostos complementares, como o Sol e Lua, Mercúrio
tramos o comentário de Frater Hymenaeus Beta: “A Palavra e Vênus – sinalizam a produção do Azoth, ou da Pedra Filo-
Castidade é usada por iniciados para significar um certo estado sofal. Quando o Sacerdote foi bem-sucedido em trabalhar os
de alma e da mente determinante de um certo hábito do corpo mistérios menores – do Microcosmo – ele se torna hábil para
que não é de nenhum modo idêntico ao que é vulgarmente en- veicular sua Vontade no Macrocosmo. Estando pronto, ele
tendido. Castidade em seu verdadeiro sentido mágico é incon- pode realmente começar a Criar.
cebível para aqueles que não estejam completamente emanci-
pados da obsessão pelo sexo”. Coniunctio

Em seguida, a Sacerdotisa mistura incenso ao turíbulo, que “Eu, Sacerdote e Rei te tomo, Virgem pura e sem mácula; Eu te
arde. Sua rogativa é que “o Fogo e o Ar façam doce o mundo!” ergo; Eu te conduzo para o Leste; Eu te coloco sobre o ápice da
e, por fim, clama: “Pai, sê tu adorado!” Conciliando este mo- Terra.” Dessa vez, é ele quem conduz a Sacerdotisa ao Leste,
mento ao de anterior adoração à Mãe, já vemos a estrutura ao “ápice da Terra”, onde gradualmente irão realizar o Casa-
da união dos opostos (Coniunctio), ou do Casamento Alquí- mento Alquímico. O Leste é tanto o lugar do amanhecer – o
mico do Pai e Mãe, ou Rei e Rainha fundamentais, que estão nascer da lumen novum (nova luz) alquímica, ou de uma nova
expressos nos próprios Sacerdote e Sacerdotisa. consciência – como o lugar onde, no Éden, “o Senhor Deus
tinha plantado um jardim” (Gênesis 2:8-9). Nesse jardim, en-
O elemento Ar pode ser lido como a propriedade do Ruach contram-se as conhecidas Árvores mitológicas da Vida e do
de soprar em todas as direções e a tudo penetrar – faculda- Conhecimento. Não é exagerada a analogia de o Sacramento
de íntima ao Prana hindu e associada também à nossa pró- produzido pelo Casamento da Missa ser o fruto dessas Árvo-
pria atividade mental. Dessa forma, o Ar tem imbuído em si res, que igualam o humano aos deuses (““Agora o homem se
a capacidade analítica da Razão. A análise opera pela discri- tornou como um de nós”,
minação, de modo que podemos tecer analogia com a ope-
ração alquímica da Separação, ou Separatio. “Nesse degrau Gênesis 3:22) e que também propiciam a qualidade da vida
da Escada dos Sábios”, diz Daniel Mylius em seu Philosophia eterna. No Liber ABA, cap. XX, encontramos essa alusão:
Reformata (1622), “os elementos em guerra (...) e distintos “Pois esse Sacramento é a própria Árvore da Vida, e aqueles
um do outro são separados por uma destilação retifican- que partilharem do fruto dela jamais morrerão”.
te. Portanto, o terceiro passo é chamado Nossa Separação”.
Mais uma vez remetemos à Tábua de Esmeralda: “Separarás Podemos também ver alguns emblemas dessa Coniunctio no
a Terra do Fogo, o sutil do denso, suavemente e com grande Tarô de Thoth, no Atu VI (“Os Amantes”), onde está demons-
perícia”. Junto do Fogo, esses processos também podem ser trado o Casamento entre Sacerdote e Sacerdotisa. A dinâmi-
lidos à luz da Sublimação (Sublimatio), isto é, a volatização ca da operação está ilustrada nos detalhes da carta e suas
do denso. funções alquímicas estão representadas pelo Leão Vermelho
e pela Águia Branca. No Livro de Thoth, a descrição do Arca-
A importância do Fogo é tal que o alquimista moderno Ful- no menciona: “Estes são símbolos dos princípios masculino
canelli menciona: “Todas nossas purificações são feitas no e feminino na Natureza; eles são, portanto, iguais em vários
fogo, pelo fogo, e com fogo”. O Fogo que arde no turíbulo estados de manifestação, Sol e Lua, Fogo e Água, Ar e Terra”.
do Ritual é análogo ao que alimenta o Athanor (o forno) do Sua união produz o ovo órfico na base da carta: o Sacramen-
Alquimista. “Inflama-te em oração e invoca constantemen- to que é a criança mágica produzida por ambos.
te”, dizia Crowley, amparado por Abramelin, o Mago. O fogo
é a devoção que nos compele à ação entusiasmada, isto é, Se esta carta discrimina os pares opostos (homem e mu-
repleta de sentido divino. Além disso, as injunções da Sa- lher, yang e yin, ego e não-ego) envolvidos no Casamento,
cerdotisa são: “Seja o Sacerdote ardente de corpo e de alma!” o Atu XIV (“Arte”) revela como combiná-los no caldeirão – o
Puro – ou seja, reto espiritualmente – e com a sua libido – ou Athanor que queima com a união dos elementos. Crowley
seja, energia criativa – ardente: essas são as condições que continua explicando: “apenas duas operações são, em última
definem o Sacerdote. instância, possíveis – análise e síntese”. E mais: “A primeira
Estrela Rubi

questão indagada pela ciência é: ‘Do que as coisas são com-


Naturalmente, o Senhor (o Espírito), que é o quinto ele- postas?’ Sendo isto respondido, a próxima questão é: ‘Como
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Matéria de Capa

podemos recombiná-las para nossa máxima vantagem?” Isso dade o Templo do Espírito Santo. Dia pós dia matéria é substitu-
expressa com precisão o método da Alquimia e também a ída pelo Espírito, o humano pelo divino; finalmente a mudança
estrutura da Missa Gnóstica. será completa: Deus manifestado na carne será o seu nome”.

A história de amor entre Sacerdote e Sacerdotisa são as eta- Além disso, a luz que se “cristaliza em nosso sangue, preen-
pas até que consumem a união dos opostos. Em termos dos chendo-nos de Ressurreição” descreve a operação alquímica
elementos primordiais da Alquimia, o Sacerdote representa da Coagulação (Coagulatio). Ela reflete a união do espírito
o enxofre – o aspecto instável e dinâmico da realidade – e a e da matéria ou, pondo de outro modo, a encarnação ou
Sacerdotisa o Sal – o aspecto sólido e estável, unidos através manifestação desta Luz. Com o Véu aberto e com a Sacerdo-
da conjunção mercurial, que tem a habilidade de “recombi- tisa novamente revelada sobre o altar – desnuda, num novo
ná-los para a nossa máxima vantagem”. momento de sua fórmula –, temos a exaltação do Espírito.

No Leste, agora é o Sacerdote quem consagra a Sacerdotisa Em seguida, teremos a transubstanciação dos elementos
com os elementos, alçando toda a operação a um novo ní- que servirão como veículo para este Espírito. O Sacerdote
vel. Após isso, separa-se dela temporariamente para vagar declara: “Pela virtude da Baqueta, seja este pão o Corpo de
no mundo: apesar da peregrinação, o foco dele é sempre Deus!” Em seguida, ele profere: “TOUTO ESTI TO SÔMA MOU”
a ponta de sua Lança, a sua própria Vontade direcionada. que, em grego, significa: “Este é meu corpo”. Este Corpo, que
Então, as invocações realizadas introduzem a Coniunctio: o é de Deus, é também o meu: a transmutação não é só da
Sacerdote, identificado como Hadit, clama por Nuit, identifi- hóstia, mas também realiza a identidade humana como di-
cada na Sacerdotisa do outro lado do Véu. E ela, como Nuit, vina. Em seguida, ele toma a Taça: “Pela virtude da Baqueta,
invoca Hadit no Sacerdote, como é instruído no Livro da Lei: seja este Vinho o Sangue de Deus!” e então: “TOUTO ESTI TO PO-
“Em todos os meus encontros convosco deverá a sacerdotisa di- TÊRION TOU HAIMATOS MOU” ou “Esta é a Taça do meu San-
zer — e seus olhos arderão de desejo enquanto ela se mantém gue”. Ademais, o Pão é descrito como “fruto do trabalho e
nua e regozijante em meu templo secreto — A mim! A mim! cha- sustento do esforço”, enquanto o Sangue é “conforto do tra-
mando para fora a chama dos corações de todos em seu cântico balho e inspiração do esforço”. Podemos identificar nestes
de amor” (AL I:62). elementos um ciclo perfeito: a inspiração, o trabalho, o fruto
e a saciedade. No cap. XX do Book 4, ainda lemos: “Isto é
O Sacramento mais importante que qualquer outra cerimônia mágica, pois
é um círculo completo. A totalidade da força despendida é
O produto da Eucaristia – que é Hórus, fruto de Nuit e Ha- completamente reabsorvida”. O esforço é, assim, inteiramen-
dit – é descrito no terceira invocação, quando o Sacerdote te saciado. No cap. 69 do Liber 333 (O Livro das Mentiras),
atesta: “Tu que és Um, nosso Senhor no Universo, o Sol, nosso está escrito sobre o Hexagrama, que é o emblema gráfico da
Senhor em nós mesmos cujo nome é Mistério do Mistério, supre- união dos opostos, ou Coniunctio: “Esta Obra também devo-
mo ser cujo esplendor iluminando os mundos é também o alen- ra a si mesma, alcança seu próprio fim, alimenta o obreiro,
to que faz todo Deus e até mesmo a morte tremerem diante de não larga sementes, é perfeita em si mesma”. Devemos lem-
Ti”. Em seguida, ele determina as injunções: “Abre o caminho brar que um dos emblemas da obra alquímica é o ouroboros,
da criação e da inteligência entre nós e nossas mentes. Ilumina a serpente que devora a si mesma.
nosso entendimento. Encoraja nossos corações. Que Tua luz se
cristalize em nosso sangue, preenchendo–nos de Ressurreição”. Em termos alquímicos, encontramos referência à transubs-
tanciação dos elementos nas notas editoriais ainda do Book
Essa é uma fórmula cuja análise tem diversas camadas. Ten- 4: “A Lança e o Graal são primeiramente dedicados ao Espí-
taremos abordar algumas delas. Primeiramente, vale notar rito Santo da Vida, em Silêncio. O Pão e o Vinho são então
que o Sol e a Pedra dos Filósofos são análogos, ambos sendo fermentados e manifestados pela vibração e recebidos pela
símbolos da Unidade. Estamos, portanto, elencando e invo- Mãe Virgem”. Estamos falando do processo alquímico da
cando os atributos desta Pedra que, como já vimos, é a subs- Fermentação (Fermentatio). A Fermentação introduz nova
Ordo Templi Orientis — Loja Quetzalcoatl

tância das substâncias e também o Elixir da Vida. Pensemos vida aos elementos da Conjunção. Do mesmo modo que o
nela como uma espécie de célula-tronco de todo processo trigo se converte em pão e, o pão, em corpo de Deus; e a
da Natureza. Em segundo lugar, ainda no cap. XX do Book 4, uva se converte em vinho e, o vinho, em sangue de Deus,
Crowley nos diz sobre o propósito deste Sacramento: há um processo de transformação, ou morte-renascimento
contemplado na Fermentação. Esse momento contém, por-
“O magista se torna preenchido de Deus, alimentado de Deus, tanto uma Putrefação, ou a Putrefactio alquímica. Uma das
intoxicado de Deus. Pouco a pouco seu corpo se tornará purifi- diferenças do Novo Aeon para o Aeon passado é que esse
cado pela lustração interna de Deus; dia pós dia sua estrutura processo, para nós, é mais uma etapa e uma ferramenta de
mortal, mudando seus elementos terrestres, se tornará em ver- trabalho do que a apoteose de nosso enredo. Vemos essa
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Matéria de Capa
constatação na fala do Sacerdote: “Aceita, Ó Senhor, este sacri- gem” que recebe os elementos) é essencial para a operação.
fício de vida [aponta a pátena] e alegria [aponta a taça], verda- O modo que a “Mãe Virgem” recebe os elementos está re-
deiras garantias da Promessa Divina de Ressurreição”. presentado no Arcano de Tarô “A Arte”, onde a deusa virgem
Diana – que também é a mãe da fertilidade – mistura os
Em seu Chemisches Lustgaertlein (1625), o alquimista Daniel elementos da Coniunctio em seu caldeirão. O caldeirão da
Stolcius diz: “A destruição traz a Morte do material. Mas o Arte, o espaço onde a opus se realiza, é a própria Sacerdotisa,
espírito renova, como antes, a Vida. Providencie que a se- onde jaz inscrita a fórmula alquímica de máxima importân-
mente seja putrificada no solo correto – de outra forma todo cia V.I.T.R.I.O.L (Visita Interiora Terrae Rectificando Invenies Oc-
esforço, trabalho e arte serão em vão”. Isso é sinal de como cultum Lapidem), ou “Visita o interior da terra: por retificação
a sintonia entre o Sacerdote (que consagra a semente) e a encontrarás a pedra oculta”. Outro modo de ler a fórmula é
Sacerdotisa (“o solo correto”, como Mãe Terra ou “Mãe Vir- apresentado na experiência descrita no Liber 418 (A Visão e

Estrela Rubi
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Matéria de Capa

a Voz), no aethyr NIA: Vir introit tumulum regis, invenit oleum tílico, a linguagem mágica que consta no 2º Aethyr do Liber
lucis, que significa “O homem que entra no túmulo do rei en- 418 – é a derradeira união de Hadit e Nuit, ou da partícula
contra o óleo da luz”. A consciência, atribuída como masculi- com o vinho. O Sacramento foi produzido: Hórus nasceu. Ao
na, morre e renasce no inconsciente uterino, atribuído como consumi-lo, o magista vai ser, como vimos antes, “alimentado
feminino. A Sacerdotisa torna possível o elo entre o divino e de Deus, intoxicado de Deus”. Essa assimilação da divindade
o mortal. Entronada no altar, ela é o Portal dos Deuses. No pela ingestão – tema que vemos desde a antiguidade em
Arcano “O Hierofante” do Tarô de Thoth, está ilustrado como diversos ritos, inclusive os canibais – é um processo de Coa-
a Sacerdotisa preenche uma das pontas do Hexagrama (ou gulatio, a coagulação daquela energia no corpo. E essa ener-
Macrocosmo), operando em harmonia com o grande Hiero- gia é identificada também com o Leão-Serpente gnóstico:
fante, que é uma expressão do Sagrado Anjo Guardião. “Ó Leão e Ó Serpente que destrói o destruidor, sê poderoso en-
tre nós”. Abraxas é o nome deste Leão-Serpente que rompe
A Comunhão todos os limites (“destrói o destruidor” ) e que é também um
glifo alquímico. Carl G. Jung escreveu, em seu “Sete sermões
A bênção dos elementos é então realizada pelo Sacerdote: aos mortos”: “Se o Pleroma tivesse uma essência, Abraxas seria
“Senhor mais secreto, abençoa este alimento espiritual em nos- a sua manifestação”. Estamos falando, então, da aparição do
sos corpos, outorgando–nos saúde e riqueza, força e alegria, indizível, do infinito se formulando em finito. Sua manifes-
paz e a realização da vontade e do amor sob vontade que tação é paradoxal exatamente porque ele reuniu em si os
é perpétua felicidade.” As qualidades destacadas caracte- opostos, como Jung prossegue nos descrevendo: “Por isso
rizam a Eucaristia de sete elementos (que, como vemos no Abraxas é temível. É soberbo como o leão no instante em que
cap. XX do Book 4, é misticamente idêntica àquela mais ele- vence a sua vítima. É belo como um dia de primavera. É o cheio
vada, de Um elemento). Temos aqui as qualidades dos sete quando se une ao vazio. É a cópula sagrada, é o amor e seu ho-
planetas: respectivamente Mercúrio, Júpiter, Marte, Vênus, micídio, é o santo e seu traidor. É a mais clara luz do dia e a mais
Saturno, Sol e Lua, todos materializados na “perpétua feli- profunda noite do absurdo”. O Um da totalidade precisa reunir
cidade” da Terra. Na Alquimia, os planetas representam a em si todo antagonismo, tornando-se para além do bem e
escada espiritual até a verdade. A união de suas tendências do mal e abrindo caminho para a compreensão do Universo
resulta na realização da Obra. além da parcialidade de seus pares duais.

Por fim, o Sacerdote quebra uma partícula da Hóstia e decla- A “vida do Sol” e a “alegria da terra” é o que está na boca do
ma: “TOUTO ESTI TO SPERMA MOU. HO PATÊR ESTIN HO HUIOS Sacerdote quando ele comunga, realizando não só a encar-
DIA TO PNEUMA HAGION” ou “Esta é minha Semente. O Pai é o nação deste Deus mais elevado, mas também a identidade
Filho através do Espírito Santo”. comum entre aquele que semeia (o Sol) e aquilo que é se-
meado (a Terra) – ou, também, a identidade entre Sacerdote
O Pai, ou o Rei, se renova no Filho, o Príncipe. O que está e Sacerdotisa, alquimista e sua opus. Após toda essa jornada,
ocorrendo é que o poder do rejuvenescimento – ou o Eli- a Congregação também se tornou apta a desfrutar do Sa-
xir da Vida – está sendo produzido diante de nossos olhos. cramento e se embriagar de Deus. Um a um, todos se enca-
Esse rejuvenescimento também é do mundo, sendo esta a minham para o Altar para partilhar da Eucaristia. A virtude
fórmula do Novo Aeon tanto em nossos corpos como em pode ser distribuída graças ao processo da Multiplicatio
escala global. A dinâmica dessa operação pode ser entendi- (Multiplicação). O alimento espiritual pode ser repartido en-
da na união da partícula com o vinho, ou de Hadit com Nuit. tre todos os membros, pois a inspiração da jornada propicia
“Por um beijo tu então estarás querendo dar tudo, mas aquele uma cadeia de despertares em cada um presente.
que der uma partícula de pó perderá tudo nessa hora” (Liber AL
I:61). O Sacerdote está, sim, a um passo de perder tudo na sua O Sacerdote pôde, finalmente, “ministrar as virtudes aos ir-
entrega ao infinito. Essa dissolução é também o entregar da mãos”. A iluminação pessoal assume uma função ecológica,
última gota na Taça de Babalon. Como também está escrito como fonte de inspiração de toda a humanidade. A realiza-
no Liber 418, 12º aethyr: “Pois meu Pai está esgotado do esforço ção da Obra possibilita a fraternidade universal das consci-
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do passado, e não foi à cama dela. Que seja esse vinho perfeito ências despertas e a renovação do mundo através da reno-
a quintessência, e o elixir, e assim pelo sorver poderá ele renovar vação de si mesmo, que é o marco da contínua revitalização
sua juventude; e assim será eternamente (...)”. O velho Rei do e realização de Deus. Essa era a opus da Alquimia, quando
Graal é renovado e, com ele, todo seu Reino: essa alegoria seus autores clássicos pretendiam trabalhar a matéria para
monarca revela como Deus renova constantemente a Si Mes- redimir dela a alma do mundo adormecida. Essa é a opus da
mo e o Universo. Usufruir do sumo desta força criativa é o O.T.O., quando pretendemos despertar no homem a nature-
objetivo da Missa Gnóstica. za divina que sempre foi, é e será, e permitir que ela realize
a sua Vontade, criando e se regozijando na sua Criação do
O momento do Hriliu – que é a palavra para orgasmo em Ba- mundo.
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Estudos
PODER MÁGICO
O que significa, para Thelema, poder e eficiência dentro de Magia?

Q
uando discutimos sobre eficiência em Magia, em algum mensagem a estas pessoas”.
momento seremos remetidos à ideia de um “Poder” que,
especialmente neste campo, não raro é revestida de mis- Extraímos, com isso, a Magia do campo do improvável e do nebu-
tificação e superstição. É urgente debatermos não só a natureza de loso, e a situamos como toda ação consciente que tenha um ob-
poderes – dons ou talentos, no plural – que podem ser obtidos atra- jetivo e conhecimento (ciência) das ferramentas utilizadas e como
vés do método mágicko, mas o que representa de fato este “Poder” combiná-las (arte) de modo a obter o seu melhor resultado. Uma
para o indivíduo. refeição consciente, com a intenção de fortalecermos os nossos
corpos, seja para os trabalhos daquele dia ou para a Grande Obra
Primeiramente, é preciso relembrar o conceito que temos de Ma- como um todo, é mágicka como um Rito de invocação a um deus.
gia, ou, mais especificamente, Magick: “Magia é a Ciência e a Arte de “Afinal de contas, qual é a diferença moral ou mágicka que existe
causar mudanças de acordo com a Vontade” (Liber ABA, Introdução). entre o poder de alguém dirigir sua comida e aquele de transformar
Esse conceito nos abre um extenso leque de apreciação e ao mes- a si mesmo num falcão?” (ibid).
mo tempo nos situa, evitando divagação. Crowley frisa para nós, no
capítulo “Poder mágico” do livro “Magick without tears (Magia sem Magick é, portanto, uma posição consciente na Vida. Essa posição
lágrimas”): “Lembre-se que Magia é Ciência, que as Leis da Natureza consciente acarreta numa série de transformações (alquímicas) da
permanecem as mesmas, não importa quão sutil seja o material com substância da própria Vida em nós.
o qual a pessoa está trabalhando”. Posto de outro modo, ele ainda
nos diz: “É minha Vontade informar o Mundo de certos fatos do meu Posto isto, nos deparamos com a questão do Poder, sobre a qual
conhecimento. Eu então tomo minhas “armas mágickas”, caneta, tin- outros autores, além de Crowley, se debruçaram. Michel Foucault
ta e papel; eu escrevo “encantamentos” – aquelas sentenças – numa analisou que não podemos falar de um “poder em si”, absoluto, mas
“linguagem mágicka” ie, aquilo que é compreendido pelas pessoas sempre em relações de poder. Se o poder está numa relação, até
Estrela Rubi

que eu desejo instruir; eu convoco “espíritos”, tais como gráficos, edi- que ponto nós podemos falar de meu poder? Podemos, em vez
tores, vendedores e assim por diante e os compilo a transmitir minha disso, pensar em poder como um posicionamento de indivíduos
16Estudos

dentro de um sistema, ou seja, como um processo acontecendo profunda e mais abrangente que qualquer aquisição técnica”.
de modo contínuo. A noção do poder como um posicionamento
diante do Universo nos ajuda inclusive a compreender as diversas Tais fenômenos, ou técnicas, ou “poderes”, procedem naturalmente
aquisições mágicas de cunho prático como produtos de um modo quando estamos posicionados no mundo mágico – que podemos
de enxergarmos ou nos comportarmos diante de nossa própria sub- designar pelo abrangente termo “Universo”. Devíamos, no entanto,
jetividade e do Universo. perguntar-nos se o movimento de avidez em conquistar um fenô-
meno específico não resulta na nossa identificação com este fenô-
Existe algo importante nesse cenário: nós só mudamos o Universo meno que devia ser ferramenta. No momento que a ferramenta se
quando entendemos como nos relacionamos com ele, como nos torna obsessão, a Ciência (a consciência, que é um dos critérios de
posicionamos diante dele. Então essa relação com o “Poder” é, em Magick) se esgota. No entanto, que isto não sirva de apologia a um
nível básico, uma relação conosco mesmo. Todo o resto, inclusive os “purismo” de não nos relacionarmos com instrumentos que podem
fatos objetivos e mensuráveis, são fenômenos do posicionamento nos servir como poderes. Eles podem e devem ser utilizados, à me-
que assumimos a partir daí. Nunca é demais falar: todo progresso dida que o magista os compreenda como úteis à sua Obra, seja ela
sólido em Magia resulta do autoconhecimento. qual for. Conquistá-los depende de um treino específico e da ex-
periência com determinados símbolos – que podemos entender
Ainda em “Magick without Tears”, Crowley nos dá um exemplo polê- didaticamente como “partes” do Universo. O Liber 777, por exemplo,
mico: Hitler. Como ele nos descreve: sugere os caminhos da Árvore da Vida onde certas aquisições seriam
obtidas, tais como clarividência, consagrar talismãs, o poder de reali-
“Ele se tornou mestre da Alemanha, e, por um tempo, de quase toda zar evocações, transmutações alquímicas etc.
a Europa, tocando em instrumentos existentes da paixão humana,
a vingança, a luxúria da Europa Central, o pânico dos dirigíveis e Ao contrário dos hindus, que entendiam as siddhi (tais poderes)
junkers, o descontentamento das classes carentes, o orgulho e am- como tentações que nos deviam do fim último, isto é, o moksha, ou
bição da camarilha militar prussiana, e assim por diante (...) Mas não libertação, nós não entendemos a Natureza como um cárcere, mas
se enganem! O poder mágico por trás de todas as suas ações esta- como uma aliada. Podemos usar tais possibilidades como recursos
va em si mesmo. Ele tinha conseguido fazer-se um profeta, como de encontro com nós mesmos. Um magista com mais ferramentas
Mohammed, até mesmo um símbolo, como a Cruz de Malta. A sua desenvolvidas é capaz de se adaptar a situações e a se veicular no
técnica mágica era indescritivelmente admirável, ele adotou a su- mundo de maneira mais eficiente. Ele se torna mais potente à medi-
ástica, o Martelo de Thor, o vestido distintivo, o slogan, os gestos, da que explora suas possibilidades. Temos, no entanto, que recordar
a saudação , ele mesmo impôs um Livro Sagrado sobre o povo. Se que eficiência implica num uso econômico de energia, isto é, aplicar
esse livro tivesse sido apenas mais místico e incompreensível, em ao alvo a quantidade precisa de força, no momento preciso, da for-
vez de racional, difuso e insuportavelmente chato, ele poderia ter ma precisa. Se desejo cortar um tronco de madeira, um machado é
feito melhor.” preferível à sutileza de um bisturi. Se desejo atuar como neurocirur-
gião, o machado seria de uma grosseria catastrófica. Para ilustrar tal
O estilo irônico de Crowley nos confirma algumas questões sobre situação, Crowley dá ainda outra instrução:
Magia: que sua substância é o próprio Universo, composto de pro-
babilidades e também de nossas paixões, e que não há finalidade “Aqui vai mais uma destas histórias orientais para você! Um certo
“boa” ou “ruim” em sua natureza, apenas o manejo dessa substân- Yogi pensou que seria um feito admirável andar através do Gan-
cia. Embora Thelema nos infunda com um questionamento ético ges. Após quarenta anos ele foi bem-sucedido e foi até seu Guru
constante, o fato de nos assombramos com o fantasma das tiranias demonstrar seu poder e receber sua devida recompensa de louvor.
passadas só confirma que elas se enraizaram em símbolos vivos e Acontece que este Guru era um pouco como eu mesmo, ao menos
paixões atemporais – não são, portanto, tão antigas assim. Enten- no que toca seu temperamento desagradável; e quando o discípulo
der isso é, mais uma vez, entender como o poder do magista opera veio alegremente caminhando para o outro lado do Córrego Sagra-
através de sua relação com as circunstâncias e do entendimento de do, esperando elogios, ele foi recebido com: ‘Bem, eu acho que você
como se colocar nelas. foi um completo tolo todos estes anos, seus vizinhos têm ido e vin-
do numa jangada por um par de moedas!” (ibid).
Ordo Templi Orientis — Loja Quetzalcoatl

Ainda nas instruções relacionadas ao Poder, Crowley prossegue, es-


crevendo para sua discípula: “Eu suspeito que sua questão não con- A apreciação da Magia enquanto relações conscientes com o Uni-
temple tanto o Poder, mas poderes: coisas como curar os doentes, verso torna a vida cotidiana mágica, e isso redimensiona o nosso
ficar invisível, acender uma chama sem combustível, enfeitiçar as va- olhar, nossa posição no mundo, tudo. O modo que fazemos uma
cas do vizinho, licantropia, estragar a lua de mel de seu amigo, fasci- reunião se torna profundamente significante. O modo como traba-
nações de todos os tipos, levitação, licantropia, necromancia, todas lhamos, como amamos. É o primeiro passo para apreciarmos como
as coisas comuns das lendas e fábulas (...) A moral, querida criança, a Magia opera em níveis sutis, através de sincronicidades e sinais.
é que tais poderes nunca devem ser considerados como objetivo Tudo se origina da apreciação que o verdadeiro ritual é a vida. Tudo
central; deveria ser óbvio que a Verdadeira Vontade precisa ser mais é potencialmente mágico enquanto campo de ação nela.
17
nia

Biblioteca Thelêmica
morrerás, como tu deves morrer. Pois tudo que tu tens, tu
não tens; tudo que tu és, tu não és!

NENNI OFEKUFA ANANAEL LAIADA I MAELPEREJI NONUKA


AFAFA ADAREPEHETA PEREGI ALADI NIISA NIISA LAPE OL ZO-
DIR IDOIAN.

E eu disse: ODO KIKALE QAA. Por que tu estás escondido de

o chamado
mim, tu, que eu escuto?

24º Æthyr
E a voz respondeu e disse para mim: A audição é do espírito

do só. Tu és um participante do mistério quíntuplo. Tu deves


enrolar os divinos dez como um pergaminho e moldar dali
uma estrela. Ainda que tu devas apagar a estrela no coração
O qual é denominado NIA de Hadit.

Pois o sangue do meu coração é como um banho quente


Um anjo toma a dianteira dentro da pedra como um guerrei- de mirra e âmbar; banhai a si mesmo nele. O sangue do
ro vestido em cota de malha. Sobre sua cabeça estão plumas meu coração está todo reunido em meus lábios caso eu o
cinzas espalhadas como a cauda de um pavão. Aos seus pés beije, queima na ponta dos meus dedos caso eu o acaricie,
um grande exército de escorpiões e cachorros, leões, elefan- queima no meu ventre quando tu és apanhado na minha
tes e muitas outras bestas selvagens. Ele estica seus braços cama. Poderosas são as estrelas; poderoso é o Sol; poderosa
para o céu e clama; No crepitar do relâmpago, no rolar do é a lua; poderosa é a voz daquele sempre-vivente e os ecos
trovão, no colidir de espadas e no lançar de flechas: seja teu de seu sussurro são os trovões da dissolução dos mundos.
nome exaltado! Mas o meu silêncio é mais poderoso do que eles. Fechais os
mundos semelhantes a uma casa cansada; fechai o livro do
Córregos de fogo saem dos céus, um pálido azul brilhante, arquivista e permiti que o véu engula o santuário, pois eu
como plumas. E eles se unem uns aos outros e se assentam estou erguida, Ó, meu querido, e não há mais a necessidade
em seus lábios. Seus lábios são mais vermelhos que rosas, e destas coisas.
as plumas azuis se unem numa rosa azul e debaixo das péta-
las de rosa vêm beija-flores coloridos, e orvalho cai da rosa Se uma vez eu te separei de mim, foi pelo prazer do jogo.
cor-de-mel. Eu estou sob seu chuveiro. Não é a vazante e o fluxo da maré a música do mar? Venha,
vamos nos elevar em Nuit, nossa mãe, e nos perdermos! Que
E uma voz sai da rosa: Venha! Nossa carruagem é levada por o ser seja esvaziado no abismo infinito! Pois apenas por mim
pombas. De madrepérola e marfim é nossa carruagem e suas tu deverás se elevar; tu não tens outras asas que não as mi-
rédeas são as cordas do coração dos homens. Cada momen- nhas.
to em que nós voamos deverá cobrir um aeon. E todo lu-
gar onde nós descansamos deverá ser um universo jovem Tudo isto enquanto a Rosa esteve disparando chamas azuis,
regozijando-se em sua força; os prados devem ser cobertos coruscantes como serpentes, através de todo o Ar. E as ser-
com flores. Ali nós descansaremos apenas uma noite e pela pentes tomaram a forma de sentenças. Uma delas é: Sub um-
manhã nós voaremos, descansados. bra alarum tuarum Adonai quis et felicitas. E outra: Summun
bonum, vera sapientia, magnanima vita, sub noctis nocte sunt.
Agora, para mim mesmo, eu imaginei a carruagem da qual a E outra é: Vera medicina est vinum mortis. E outra é: Libertas
voz falou, e eu olhei para ver quem estava comigo na carru- evangelii per jugum legis ob gloriam dei intactam ad vacum ne-
agem. Era um Anjo de cabelo dourado e pele dourada, cujos quaquam tendit. E outra é: Sub aqua lex terrarum. E outra é:
olhos eram mais azuis que o mar, cuja boca era mais verme- Mens edax rerum, cor umbra rerum; intelligentia via summa. E
lha que o fogo, cujo hálito era ar ambrosíaco. Mais finos que outra é: Summa via lucis: per Hephaestum undas regas. E outra
uma teia de aranha eram os robes dela. E eles eram das sete é: Vir introit tumulum regis, invenit oleum lucis.
cores.
E todo o conjunto destas coisas são as letras TARO; mas a luz
Tudo isto eu vi; e então a voz secreta falou em tom baixo e é tão terrível que eu não posso ler as palavras. Eu irei ten-
doce: Venha! O preço da jornada é pequeno, embora seu tar novamente. Todas estas serpentes estão reunidas juntas
Estrela Rubi

nome seja morte. Tu deverás morrer para tudo que temeste muito espessamente nas bordas da rosa, pois há um número
e ansiaste e odiaste e amaste e pensaste que tu eras. Sim! Tu incalculável de sentenças. Uma é: tres annos regimen oraculi.
18

E outra é: terribilis ardet rex ‫עליון‬. E outra é: Ter amb (amp?)


Biblioteca Thelêmica

púrpuras. E no meio está um pequeno vale verde de musgo,


(não consigo ver) Rosam oleo (?). E outra é: Tribus annulis reg- que está todo cintilante com o orvalho que pinga da rosa. E
na olisbon. E a maravilha é que, com essas quatro letras, você eu estou jazendo neste musgo com minha face para cima,
obtém um conjunto completo de regras para fazer tudo, tan- bebendo, bebendo, bebendo, bebendo, bebendo do orva-
to magia branca como negra. lho.

E agora eu vejo o coração da rosa novamente. Eu vejo a face Eu não posso descrever para você a alegria e a exaustão de
dele que é o coração de rosa, e na glória daquela face eu es- tudo que foi e a energia de tudo que é, pois tudo é apenas
tou terminado. Meus olhos estão fixos sobre seus olhos; meu um corpo que jaz no musgo. Eu sou a alma do Aethyr.
ser é sugado através dos meus olhos para dentro daqueles
olhos. E eu vejo através daqueles olhos, e olhe! o universo, Agora isto reverbera como as espadas dos arcanjos, chocan-
como rodopiantes centelhas de ouro, soprados como uma do-se nas armaduras dos condenados; e parecem ser os fer-
tempestade. Eu pareço crescer novamente dentro dele. Mi- reiros do céu batendo o aço dos mundos nas bigornas do
nha consciência preenche todo o Aethyr. Eu ouço o chama- inferno, para fazer um teto para o Aethyr.
do de NIA, tocando várias e várias vezes dentro de mim. Soa
como música infinita, e atrás do som está o significado do Pois se a grande obra fosse concluída e todos os Aethyrs
Aethyr. Novamente não há palavras. fossem reunidos em um, então a visão falharia; então a voz
ficaria quieta.
Todo este tempo as centelhas rodopiantes de ouro pros-
seguiram, e elas são como o céu azul, com uma grande Agora tudo se foi da pedra.
quantidade de finas nuvens brancas lá fora. E agora eu vejo
montanhas em volta, distantes montanhas azuis, montanhas Ain el Hajel. 26 de Novembro, 1909. 2-3:25 p.m.
Ordo Templi Orientis — Loja Quetzalcoatl
19
Tábua de

Biblioteca Thelêmica
Esmeralda
(de Hermes Trismegistos)

(01) É verdade, certo e muito verdadeiro:

(02) O que está embaixo é como o que está em cima e o


que está em cima é como o que está embaixo, para realizar os
milagres de uma única coisa.

(03) E assim como todas as coisas vieram do Um, assim todas


as coisas são únicas, por adaptação.

(04) O Sol é o pai, a Lua é a mãe, o vento o embalou em seu


ventre, a Terra é sua nutriz;

(05) O Pai de toda Telesma do mundo está nisto.

(06) Seu poder é pleno, se é convertido em Terra.

(07) Separarás a Terra do Fogo, o sutil do denso, suavemente


e com grande perícia.

(08) Sobe da terra para o Céu e desce novamente à Terra e


recolhe a força das coisas superiores e inferiores.

(09) Deste modo obterás a glória do mundo.

(10) E se afastarão de ti todas as trevas.

(11) Nisso consiste o poder poderoso de todo poder: vencerás


todas as coisas sutis e penetrarás em tudo o que é sólido.

(12) Assim o mundo foi criado.

(13) Esta é a fonte das admiráveis adaptações aqui indicadas.

(14) Por esta razão fui chamado de Hermes Trismegistos, pois


possuo as três partes da filosofia universal.

(15) O que eu disse da Obra Solar está completo.


Estrela Rubi
20

HOOR
HOORÁCULO
Biblioteca Thelêmica

Há rosas brancas, vermelhas, amarelas, rosadas, rubras, laranja, e ou-


tras nuances da natureza. E no interior do ser humano? Qual a cor da
tua rosa?

A tua rosa és tu próprio, e a sua cor será, então, a tua cor como ser
espiritual. A tua rosa é o centro do teu ser, o coração da tua alma. [...]

Se a Rosa principal é a do coração, a do Amor, quem saberá o que se


passa e se deve realizar em cada ser a cada momento do seu cami-
nho? [...]

Rosa, Rosa, és um mistério. E uma beleza.

Foste-o desde sempre. Imortalizada em Isis e Nefertiti, ou, como os


lírios de Salomão, rosa do vale, Rosa de Sharom.

A Rosacruz não é um conceito do misticis- Os árabes te cuidaram pelas mãos doces dos Sufis de Isfaham e te
mo cristão? Como isto é aproveitado para cantaram em Rumi ou Hafiz; os zelosos gnósticos te tingiram de
Thelema? púrpura em Alexandria. Os templários e os cátaros trouxeram-te do
Oriente e os trovadores cantaram-te oculta, enquanto Dante, fiel do
Amor, te viu aberta no sidéreo céu da divindade. Por fim, enlaçada na
A grande inovação não é de Thelema, mas da Consciência Humana, Cruz, qual serpente erguida, brilhas como o símbolo da Rosa Cruz.
da qual Thelema é um dos frutos.
Pétala da Tradição, pétala da Iniciação, pétala da Fraternidade, pétala
A Rosacruz é um símbolo hermético complexo que inclui em sua do Espírito, pétala do Amor, sê em nós, ó Rosa Divina, ó Rosea Cruz. “
simbologia elementos alquímicos, cabalísticos, mágicos e espirituais
de várias origens, elaborado com a finalidade de exemplificar a Gran- O Hooráculo é a resposta a uma pergunta. A cada edição, a pergunta de
de Obra, alcançada através da união dos opostos. Ela é um símbolo um leitor da Estrela Rubi será selecionada e a resposta a ela será dada
universal e não pode ser confinada a um sistema religioso específico. por um ou mais membros da Loja Quetzalcoatl. Caso queira submeter
Como símbolo iniciático representa o anseio humano pela superação sua pergunta de cunho mágicko ou thelêmico ao Hooráculo, a envie
de sua própria natureza, pelo desvelar de seu fator divino. Sua sim- para estrelarubi@quetzalcoatl-oto.org. Nossa equipe editorial vai ava-
bologia exemplifica o núcleo místico e mágico da filosofia Telêmica. liar a pergunta mais inteligente e instigante e, se selecionada, vamos
estudá-la, respondê-la e publicá-la na próxima edição. O Hooráculo só
Compartilho aqui um texto de Fernando Pessoa que em seus estudos terá olhos – ou melhor, Olho – às perguntas mais desafiadoras e que
sobre a Rosea Cruz compreendeu de modo profundo a sua simbo- possam ser de interesse geral.
logia:

“A Rosa tem quantas pétalas, de que cor ou cores, onde está no corpo
e na alma? Cresce, diminui, abre-se e fecha-se, roda?

A Rosa que é o espírito manifestado como beleza e sutileza, o orvalho


materializado, tem um caule rugoso e espinhoso, sinal da força com
que se apoia no corpo e na terra, e dos espinhos da dor e da luta.
Erguendo-se das raízes minerais, ela pode desabrochar então em bo-
tão, e surgir como a flor da perfeição. As folhas e a seiva alimentam-
Ordo Templi Orientis — Loja Quetzalcoatl

-na. A luz a que aspira e recebe, bem como o calor ambiental, físico e
psíquico, fazem-na crescer e abrir-se. Tudo na Rosa é símbolo e acção.

As pétalas abrem-se e manifestam a vida divina que brota do apa-


rente vazio central onde, da obscuridade, ressalta um luz ultima em
forma de estrela de cinco pontas. Di-se-ão então que a rosa é a alma,
que o centro do círculo da rosa é o Espírito e que a rosa de várias cores
é sinal das várias qualidades que o Espírito assume como alma, como
consciência activa e operante no mundo.
21
Saiba M ais Sobre...

A Ordo Templi Orientis A Loja Quetzalcoatl

A A
Ordo Templi Orientis foi fundada Loja Quetzalcoatl é um corpo ofi-
em 1904, na Alemanha, por Karl cial da Ordo Templi Orientis Inter- Ordo Templi Orientis Internacional
Kellner e Theodore Reuss — seu nacional, fundado em 23 de maio
primeiro líder —, que buscavam estabelecer Frater Superior: Hymenaeus Beta
um Academia para maçons de altos Graus de 2000 e.v. na cidade do Rio de Janeiro. JAF Box 7666
onde estes pudessem ter contato com as New York, NY 10116 USA
revelações iniciáticas descobertas por Kell- Somos uma comunidade de homens e mu- Grande Secretário Geral: Frater Aion
ner em suas viagens ao Oriente. A entrada lheres livres que se dedicam ao processo PO Box 33 20 12
de Aleister Crowley, em 1912, veio a alterar do auto-conhecimento e sua consequente D-14180 Berlin, Germany
profundamente a Ordem, até que, naquele expansão de consciência através dos prin- Grande Tesoureiro Geral: Frater S.L.Q.
mesmo ano, a O.T.O. rompe seus laços com cípios de Vida, Luz, Amor e Liberdade, pila- 24881 Alicia Parkway #E-529
a Maçonaria e assume–se como uma orga- res essenciais da Lei de Thelema. Laguna Hills, CA 92653 USA
nização independente e soberana. Secret. Internac. Iniciações: Frater D.S.W.
Temos como um de nossos principais ob- P.O. Box 4188
A principal mudança trazida por Crowley jetivos auxiliar no desenvolvimento de Sunnyside, NY 11104 USA
para a ordem foi a implantação da Lei de uma sociedade verdadeiramente livre da
Thelema, conforme definida no Livro da superstição, tirania e opressão onde o ser
Lei – Liber AL vel Legis, e o alinhamento da humano possa expressar a sua Verdadeira Ordo Templi Orientis Brasil
O.T.O. com as energias no Novo Eon, tor- Vontade em plena harmonia com a essên-
nando esta Ordem a primeira nascida no cia divina que nele habita. Site: www.otobr.com
Velho Eon a migrar para o novo. Rep. Fra. Superior: Sor. Tara Shambhala
Acreditamos que cada ser humano é uma contatos@otobr.com
Em 1922 Crowley, com a morte de Reuss, estrela individual e eterna que possui sua
assumiu a liderança da O.T.O.. Seu suces- própria órbita e que o objetivo primordial de
sor indicado foi o alemão Karl Germer, que sua encarnação não é outro senão descobrir
governou a Ordem de 1947 a 1962. Como as coordenadas dessa órbita e cumprir a sua
Germer não indicou um sucessor, após sua Verdadeira Vontade, realizando a Grande
morte vários membros e não membros Obra e alcançando a Felicidade Perfeita.
da Ordem tentaram assumir o controle da
O.T.O. o que colocou a Ordem em sério Nossos objetivos são alcançados através de
risco de extinção. Assim, Grady McMurtry um conjunto de Ritos Iniciáticos que visam
lançou mão de um documento expedido despertar e ativar os chakras, propiciando a Loja Quetzalcoatl
por Crowley que o autorizava a tomar o po- ascenção da kundalini e o acesso a estados
der da O.T.O. caso esta se visse ameaçada. mais elevados de consciência. Realizamos Site: www.quetzalcoatl-oto.org
Assim, McMurtry tornou-se líder da Ordem também o estudo teórico e prático da Filo- Maestria: Fra. Apollôn Hekatos
em 1969, posição onde permaneceu até sofia de Thelema, Magia, Alquimia, Cabala, maestria@quetzalcoatl-oto.org
sua morte, em 1985. Após isso, por meio de Tarot, Tantra, e demais ciências herméticas Secretaria: Fra. Eros
um processo eleitoral levado a cabo pelos que possam colaborar com o caminho de secretaria@quetzalcoatl-oto.org
altos Graus da Ordem, foi empossado o auto-iluminação dos nossos iniciados. Tesouraria: Fra. Kin-Fo
atual Frater Superior, Hymenaeus Beta. tesouraria@quetzalcoatl-oto.org
Caso deseje informações sobre nossas ativi- Correios:
Atualmente a O.T.O. está presente em mais dades ou sobre a afiliação à O.T.O., consulte Caixa Postal 55525 — CEP 22790–970
de 70 países. No Brasil, a O.T.O. encontra–se nosso site no endereço www.quetzalcoatl- Avenida das Américas
desde 1995, com o antigo Acampamento oto.org ou entre em contato conosco. Recreio dos Bandeirantes
Sol no Sul, substituído em 2000 pelo Oásis Rio de Janeiro, RJ — Brasil
Quetzalcoatl, atual Loja Quetzalcoatl. Dan-
do continuidade ao trabalho, em fevereiso
Estrela Rubi

de 2010 ev foi aberto em Minas Gerais o


Acampamento Opus Solis.
Ordo Templi Orientis — Brasil
Loja Quetzalcoatl — Rio de Janeiro
Caixa Postal 55.525 – CEP 27790-970
Rio de Janeiro – RJ, Brasil

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