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tupi que conviviam com eles chamavam-nos de Tikuna, e assim foram registra-
dos e divulgados por missionários nos séculos XVII e XVIII, bem como ainda são
conhecidos até os dias de hoje.
Mas isso quer dizer que, se queremos apropriar-nos de uma visão mais crítica
e atualizada sobre tais populações, não devemos utilizar os termos índios e indí-
genas? Só devemos referir-nos a cada etnia no singular?
Não necessariamente. De modo distinto ao ocorrido em outros países da
América Latina, principalmente Bolívia, Venezuela e Argentina, onde se rejeitam
as categorias índios e indígenas, reivindicando-se a denominação povos originá-
rios ou nações originárias, no Brasil não se verificou esse processo. Houve uma
reapropriação ou ressignificação dos nomes genéricos que, ao longo da história
do país, tiveram sentido pejorativo e foram associados a modos de vida pouco
“civilizados”.
O movimento indígena, surgido na década de 1970, decidiu que era impor-
tante manter, aceitar e promover as denominações genéricas como forma de
fortalecimento da identidade conjunta e de união na luta por direitos comuns.
As mais de 305 etnias existentes hoje no Brasil, apesar de todas as diferenças e
especificidades verificadas entre elas, também têm muitas características em
comum, entre as quais se destaca a vinculação com o território, que é, como se
verá, muito complexa e diferente daquela própria ao sistema capitalista. Não por
acaso, a principal luta pela qual se constituiu o movimento indígena brasileiro foi
a reivindicação junto ao Estado do reconhecimento das terras tradicionalmente
ocupadas por eles.
Desse modo, consideramos importante que o professor fale com seus alunos
a respeito das lutas e reivindicações do movimento indígena, sem perder de vista
as inúmeras diferenças existentes entre as etnias em suas formas de organização,
na economia, no sistema de crenças e religiosidade, nos rituais e festas, e nos
conhecimentos, entre outros aspectos.
E o termo tribo? Este, sim, está errado, quando utilizado como sinônimo de
povo ou etnia indígena. Em antropologia, o conceito de tribo designa um tipo
de organização social associado ao nomadismo e a um tipo de chefia que possui
prestígio e consegue mobilizar pessoas principalmente a partir da guerra ou com
finalidades específicas, mas não possui poder permanente (Fausto, 2000). Estu-
dos arqueológicos comprovam que, antes da colonização europeia, nem todos
O nome próprio dessa etnia é Magüta, que quer dizer, em sua língua, “povo pescado por Yoi”, o que
remete ao seu mito de criação, no qual um dos heróis culturais (Yoi) pesca num igarapé, utilizando
uma isca de macaxeira, os Magüta. Deles descenderam os atuais integrantes da etnia. Em língua
tupi, o nome Tikuna significa “nariz preto” e alude ao fato de eles pintarem o rosto com jenipapo.
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senvolver e a transmitir às gerações futuras seus territórios ancestrais e sua
identidade étnica, com base de sua existência continuada como povos, em
conformidade com seus próprios padrões culturais, as instituições sociais e os
sistemas jurídicos (citado em Baniwa, 2006: 27).
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