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O trabalho1

Toni Negri2

Há trabalho em excesso, porque todos trabalham e todos contribuem


para a construção da riqueza social. Esta riqueza nasce da comunicação, da
circulação e da capacidade de coordenar os esforços de cada um. Como diz
Christian Marazzi (La place des chaussettes, Éditions de l'Éclat, Paris, 1997)3,
a produção da riqueza é assegurada hoje por uma comunidade biopolítica (o
trabalho daqueles que têm um emprego, mas também o trabalho dos
estudantes, das mulheres, de todos os que contribuem para a produção da
afetividade, a sensibilidade, dos modos de semiotização da subjetividade),
produção da riqueza que os capitalistas comandam e organizam através da
“deflação”, ou seja, a compressão de todos os custos que a cooperação
produtiva e as condições sociais de sua reprodução exigem. A passagem da
"inflação" (de desejos e necessidades) dos anos que se seguiram a 68 à
deflação dos custos representa a transição capitalista do moderno ao pós-
moderno, do fordismo ao pós-fordismo. É uma transição política no seio da
qual o trabalho assalariado foi exaltado como matriz fundamental da
produção das riquezas. Mas o trabalho ficou separado da sua potência
política. Esta potência política vinha dos trabalhadores agrupados nas
fábricas, organizados dentro de estruturas sindicais e políticas fortes. A
destruição destas estruturas deixou atrás de si uma massa informe - em um
olhar de fora - de proletários que se movimentam no território: um verdadeiro
formigamento que produz riquezas por meio da colaboração e cooperação
contínuas. De fato, se olhamos o mundo debaixo, o mundo das formigas, aí
onde se desenrola nossa vida, percebemos a incrível capacidade produtiva que
estes trabalhadores doravante adquiriram. Eis o inacreditável paradoxo face
ao qual nos encontramos. O trabalho ainda é considerado como emprego,
como trabalho "empregado" pelo capital, nas estruturas que o submetem,
diretamente, à organização capitalista da produção.

A legitimidade social e produtiva da atividade está sempre submetida à


"empregabilidade" - neologismo bárbaro, mas que exprime bem a nova
natureza da subordinação - pela empresa ou pelo Estado. Passou-se
progressivamente do "trabalho" ao "emprego", mas o que valida a atividade
não é tanto a participação efetiva na produção da riqueza - quantos empregos
são "improdutivos" deste ponto de vista - mas a subordinação às formas de
controle da empresa ou do Estado. O que determina um consenso de fundo
sobre o "trabalho" entre esquerda e direita, entre patrões e sindicatos.

No entanto, hoje, este vínculo entre produção da riqueza e trabalho


assalariado que é um antigo vínculo marxiano, mas que, antes de ser
marxiano, foi um laço estabelecido pela economia política clássica, foi
rompido. O trabalhador, hoje, não tem mais necessidade de instrumentos de
trabalho (ou seja, de capital fixo) que sejam postos à sua disposição pelo
capital. O capital fixo mais importante, o que determina os diferenciais de
produtividade, doravante, encontra-se no cérebro das pessoas que trabalham,
é a máquina-ferramenta que cada um de nós é portador. É essa a novidade
absolutamente essencial da vida produtiva, atualmente. É um fenômeno
completamente essencial, porque precisamente o capital, através da sua
renovação, sua mudança interna, através da revolução neo-liberal, através da
redefinição do Estado-providência "devora" esta força de trabalho. Mas como
ele a devora? Ele o faz em uma situação que é estruturalmente ambígua,
contraditória e antagônica. A atividade produtora de riquezas não se reduz ao
emprego. Os desempregados trabalham, o trabalho negro é mais produtor de
riquezas do que o dos empregados. E, inversamente, o emprego é tão
assistido quanto o desemprego. A flexibilidade e a mobilidade da mão-de-obra
não foram impostas nem pelo capital, nem pelo fracasso dos acordos sobre o
salário e sobre a redistribuição da renda entre patrões, sindicatos e Estado,
acordos que praticamente dominaram a vida social e política nos últimos
cinqüenta anos. Hoje, encontramo-nos em uma situação na qual,
precisamente, o trabalho é "livre". Naturalmente, o capital ganhou e
antecipou as possibilidades de organizar politicamente as novas formas de
cooperação produtiva e o "poder" político dessas. No entanto, se olhamos um
pouco para trás e, sem por isso, pecar por otimismo, é necessário também
dizer que a força de trabalho que se conheceu, ou seja, a classe operária,
lutou para recusar a disciplina da fábrica. E de novo se é confrontado com o
problema da avaliação de uma transição política que é, historicamente, tão
importante como aquela que passou do Antigo Regime à Revolução. Pode-se
justificadamente dizer que se viveu, na segunda metade século XX, uma
transição no seio da qual o trabalho se emancipou. E emancipou-se pela sua
capacidade de se tornar intelectual, imaterial; ele se emancipou da disciplina
da fábrica. E é precisamente isto que determina a possibilidade de uma
revolução global, fundamental e radical da sociedade contemporânea
capitalista. O capitalista é doravante um parasita: não tanto como capitalista
financeiro, nos termos marxistas clássicos, mas porque ele não tem mais a
capacidade de dominar unilateralmente a estrutura do processo do trabalho,
por meio da divisão entre trabalho manual e trabalho intelectual. As novas
formas da subjetividade quebraram e tornaram reversível esta separação,
produzindo um meio de expressão da sua própria força e um terreno de luta e
de negociação.

O salário garantido

Há concepções redutoras do salário garantido como as que conhecemos


na França, por exemplo, com o RMI4, que é uma forma de remuneração da
miséria. Essas são formas de remuneração da exclusão, das novas leis sobre os
pobres. Para uma massa de pobres, para as pessoas que não se inserem de
maneira constante no circuito do salário, concede-se um pouco de dinheiro
para que possam reproduzir-se e não provoquem escândalo social. Existe,
então, níveis mínimos de salário garantido, de subsistência, que
correspondem à necessidade de uma sociedade em evitar a criação do
escândalo da mortalidade, o escândalo da "pestilência", pois a exclusão pode
transformar-se em pestilência. As leis sobre os pobres nasceram precisamente
diante desse perigo, na Inglaterra dos séculos XVII e XVIII. Há, por
conseguinte, formas de salário garantido desse tipo.
Mas o problema do salário garantido é totalmente diferente. Trata-se
de compreender que a base da produtividade não é o investimento capitalista,
mas o investimento do cérebro humano socializado. Em outras palavras: o
máximo de liberdade do trabalho torna-se o fundamento absoluto da produção
de riqueza. O salário garantido significa a distribuição de uma grande parte da
renda, deixando aos sujeitos produtivos a capacidade de gastar esta renda
para sua própria reprodução produtiva. Ele torna-se o elemento fundamental.
O salário garantido é a condição de reprodução de uma sociedade na qual os
homens, por meio da sua liberdade, tornam-se produtivos.

Obviamente, neste momento, os problemas de produção e de


organização política tornam-se idênticos. Se conduzimos o raciocínio até o
fim, somos levados a unificar a economia política e a ciência da política, a
ciência do governo. Só as formas da democracia - uma democracia radical e
absoluta, mas não sei se o termo democracia pode ainda ser utilizado aqui -
são suscetíveis de ser as formas que determinam a produtividade: uma
democracia substancial, real e na qual a igualdade de rendas asseguradas
tornar-se-ia sempre maior, sempre mais fundamental.

Poder-se-á sempre debater, em seguida, com realismo as medidas


incitativas, mas esses são problemas que não nos interessam
verdadeiramente. Hoje, o verdadeiro problema é a necessidade de reverter o
ponto de vista segundo o qual a crítica da economia política se desenvolveria
por si mesma[?], isto é, pela necessidade de investimento capitalista. Isto não
é novo, discutiu-se durante os anos da reinvenção fundamental da cooperação
produtiva pela vida, seja ela lingüística, afetiva, ou aquela que pertence aos
sujeitos.

O salário garantido, como condição de reprodução destes sujeitos na


sua riqueza, torna-se, então, hoje essencial. Não há mais necessidade de
nenhuma alavanca de poder, não há mais necessidade de nenhum
transcendental, nem de nenhum investimento cuja função não é, como se diz,
"de antecipar os empregos de amanhã", mas de antecipar e comandar as
divisões no interior do proletariado entre desempregados e ativos, entre
assistidos e produtivos, entre "protegidos" e "desprotegidos".
Trata-se de uma utopia, deste tipo de utopia que se torna uma
máquina de transformação do real unicamente com a condição que ela se
ponha em ação. Uma das coisas mais belas hoje é precisamente o fato de que
este espaço público de liberdade e de produção começa a se definir, portando
verdadeiramente nele a destruição do que existe como organização do poder
produtivo e, então, como organização do poder político.

_______________________

Notas da tradução

1. Fonte: << http://perso.wanadoo.fr/marxiens/politic/revenus/saga.htm >>

2. Traduzido por: Cecília Pires e Celso Candido, professores de Filosofia UNISINOS.

3. Ver: << http://www.lyber-eclat.net/lyber/marazzi/place_des_chaussettes.html >>

4. RMI - Revenu minimum d'insertion: Renda Mínima de Inserção.


Le travail
Toni Négri

Du travail il y en a trop, parce que tout le monde travaille, et que tout


le monde contribue à la construction de la richesse sociale. Cette
richesse naît de la communication de la circulation et de la capacité à
coordonner les efforts de chacun. Comme le dit Christian Marazzi (La
place des chaussettes, Éditions de l'Éclat, Paris, 1997), la production de
la richesse est assurée aujourd'hui par une communauté bio-politique
(le travail de ceux qui ont un emploi. mais aussi le travail des
étudiants, des femmes, de tous ceux qui contribuent à la production de
l'affectivité, de la sensibilité, des modes de sémiotisation de la
subjectivité), production de la richesse que les capitalistes
commandent et organisent à travers la "désinflation", c'est-à-dire la
compression de tous les coûts que la coopération productive et les
conditions sociales de sa reproduction exigent. Le passage de
"l'inflation" (de désirs et de besoins) des années suivant 68 à la
désinflation des coûts représente la transition capitaliste du moderne
au post-moderne, du fordisme au post-fordisme. C'est une transition
politique au sein de laquelle le travail salarié a été exalté comme
matrice fondamentale de la production des richesses. Mais le travail a
été séparé de sa puissance politique. Cette puissance politique venait
de travailleurs regroupés au sein des usines, organisés à l'intérieur de
structures syndicales et politiques fortes. La destruction de ces
structures a laissé derrière elle une masse informe - pour un regard
extérieur - de prolétaires qui s'agitent sur le territoire : un véritable
fourmillement. qui produit des richesses à travers une collaboration et
une coopération continues. En fait, si on regarde le monde d'en bas, le
monde des fourmis, là où se déroule notre vie, on s'aperçoit de
l'incroyable capacité productive que ces travailleurs ont désormais
acquise. C'est cela l'incroyable paradoxe face auquel nous nous
trouvons. C'est que le travail est encore considéré comme emploi,
comme travail "employé" par le capital, dans des structures qui
l'assujettissent directement à l'organisation capitaliste de la
production.
La légitimité sociale et productive de l'activité est toujours soumise à l'
"employabilité" - néologisme barbare, mais qui exprime bien la nouvelle
nature de la subordination - par l'entreprise ou par l'État. On a glissé
progressivement du "travail" à l'"emploi", mais ce qui valide l'activité
n'est pas tellement la participation effective à la production de la
richesse - combien d'emplois sont "improductifs" de ce point de vue -
mais la subordination à des formes de contrôle de l'entreprise ou de
l'État. Ce qui détermine un consensus de fond sur le "travail" entre
gauche et droite, entre patrons et syndicats.
Pourtant aujourd'hui, ce lien entre production de la richesse et travail
salarié qui est un vieux lien marxien, mais qui, avant d'être marxien, a
été un lien établi par l'économie politique classique, a été rompu. Le
travailleur, aujourd'hui n'a plus besoin d'instruments de travail (c'est-à-
dire de capital fixe) qui soient mis à sa disposition par le capital. Le
capital fixe le plus important, celui qui détermine les différentiels de
productivité, désormais se trouve dans le cerveau des gens qui
travaillent, c'est la machine-outil que chacun d'entre nous porte en lui.
C'est cela la nouveauté absolument essentielle de la vie productive,
aujourd'hui. C'est un phénomène complètement essentiel, parce que
précisément le capital, à travers son renouvellement, son changement
interne, à travers la révolution néo-libèrale, à travers la redéfinition de
l'État-providence "dévore" cette force de travail. Mais comment la
dévore-t-il ? Il le fait dans une situation qui est structurellement
ambiguë, contradictoire et antagoniste. L'activité productrice de
richesses n'est pas réductible à l'emploi. Les chômeurs travaillent, le
travail au noir est plus producteur de richesses que celui des employés.
Et, inversement, l'emploi est aussi assisté que le chômage. La flexibilité
et la mobilité de la main-d'oeuvre n'ont été imposées ni par le capital,
ni par l'échec des accords sur le salaire et sur la redistribution du
revenu entre patrons, syndicats et État, accords qui ont pratiquement
dominé la vie sociale et politique dans les cinquante dernières années.
Aujourd'hui, on se trouve dans une situation où, précisément, le travail
est "libre". Bien entendu, le capital a gagné, il a anticipé les possibilités
d'organiser politiquement les nouvelles formes de coopération
productive et la "puissance" politique de celle-ci. Pourtant, si on prend
un peu de recul, et sans pécher pour cela par optimisme, il faut aussi
dire que la force de travail que l'on a connue, c'est-à-dire la classe
ouvrière, a lutté pour refuser la discipline d'usine. Et l'on est à nouveau
confronté au problème de l'évaluation d'une transition politique qui est,
historiquement, aussi importante que celle qui fait passer de l'Ancien
Régime à la Révolution. On peut à bon droit dire qu'on a vécu, dans la
seconde moitié du XXe siècle, une transition au sein de laquelle le
travail s'est émancipé. Il s'est émancipé par sa capacité à devenir
intellectuel, immatériel ; il s'est émancipé de la discipline d'usine. Et
c'est précisément cela qui détermine la possibilité d'une révolution
globale, fondamentale et radicale de la société contemporaine
capitaliste. Le capitaliste est désormais un parasite : non pas en tant
que capitaliste financier, dans les termes marxistes classiques, mais
parce qu'il n'a plus la capacité de maîtriser unilatéralement la structure
du processus du travail, à travers la division entre travail manuel et
travail intellectuel. Les nouvelles formes de subjectivité ont cassé et
rendu réversible cette séparation, en produisant un moyen d'expression
de leur propre puissance et un terrain de lutte et de négociation.

Le salaire garanti
Il y a des conceptions réductrices du salaire garanti comme celles que
nous avons connues en France, par exemple avec le RMI, qui est une
forme de salarisation de la misère. Ce sont des formes de salarisation
de l'exclusion, des nouvelles lois sur les pauvres. A une masse de
pauvres, à des gens qui ne réussissent pas à s'insérer de manière
constante dans le circuit du salaire, on attribue un peu d'argent afin
qu'ils puissent se reproduire et qu'ils ne provoquent pas de scandale
social. Il existe donc des niveaux minimums de salaire garanti, de
subsistance, qui correspondent à la nécessité qu'une société a d'éviter
de créer le scandale de la mortalité, le scandale de la "pestilence"
puisque l'exclusion peut se transformer en pestilence. Les lois sur les
pauvres sont précisément nées face à ce danger, dans l'angleterre des
XVII et XVIII siècle. Il y a donc des formes de salaire garanti de ce type.
Mais le problème du salaire garanti est tout autre. Il s'agit de
comprendre que la base de la productivité n'est pas l'investissement
capitaliste mais l'investissement du cerveau humain socialisé. En
d'autres termes : le maximum de liberté du travail, devient le
fondement absolu de la production de richesse. Le salaire garanti
signifie la distribution d'une grande partie du revenu, tout en laissant
aux sujets productifs la capacité de dépenser ce revenu pour leur
propre reproduction productive. Il devient l'élément fondamental. Le
salaire garanti est la condition de reproduction d'une société dans
laquelle les hommes, à travers leur liberté, deviennent productifs.
Bien évidemment, à ce moment là, les problèmes de production et
d'organisation politique deviennent identiques. Si l'on tient le
raisonnement jusqu'au bout, on est amené à unifier l'économie
politique et la science de la politique, la science du gouvernement.
Seules les formes de la démocratie - une démocratie radicale et
absolue, mais je ne sais si le terme de démocratie peut encore être
utilisé ici - sont susceptibles d'être les formes qui déterminent la
productivité : une démocratie substantielle, réelle et dans laquelle
l'égalité des revenus garantis deviendrait toujours plus grande, toujours
plus fondamentale.
On pourra toujours débattre par la suite, avec réalisme des mesures
incitatives, mais ce sont des problèmes qui ne nous intéressent pas
vraiment. Aujourd'hui, le vrai problème, c'est la nécessité de renverser
le point de vue selon lequel la critique de l'économie politique se
développerait elle-même[?], c'est à dire la nécessité de l'investissement
capitaliste. Ce n'est pas nouveau, on a discuté pendant des années de
la réinvention fondamentale de la coopération productive à travers la
vie, quelle soit linguistique, affective, ou qu'elle appartienne aux
sujets.
Le salaire garanti, en tant que condition de reproduction de ces sujets
dans leur richesse devient donc aujourd'hui essentiel. Il n'y a plus
besoin d'aucun levier de pouvoir, il n'y a plus besoin d'aucun
transcendantal, ni d'aucun investissement dont la fonction n'est pas,
comme on dit, "d'anticiper les emplois de demain", mais d'anticiper et
commander les divisions à l'intérieur du prolétariat entre chômeurs et
actifs, entre assistés et productifs, entre "affiliés" et "désaffiliés".
Il s'agit d'une utopie, de ce type d'utopie qui devient une machine de
transformation du réel à la seule condition qu'on la mette en action.
Une des choses les plus belles aujourd'hui, c'est précisément le fait que
cet espace public de liberté et de production commence à se définir,
portant vraiment en lui la destruction de ce qui existe comme
organisation du pouvoir productif, et donc comme organisation du
pouvoir politique.
[o segmento abaixo não foi traduzido]

LA RÉDUCTION DU TEMPS DE TRAVAIL


Quand la réduction du temps de travail devient un mythe selon lequel on peut maintenir
l’emploi industriel tout en réduisant le temps de travail des ouvriers qui travaillent, il
n’y a rien à ajouter : c’est un mythe. Les rythmes de l’informatisation et de l’automation
du travail productif fordiste évoluent si rapidement qu’il n’y a pas de réduction du
temps de travail qui tienne. Aujourd’hui, pour reprendre ce que disent Gorz d’une part,
Fitoussi, Caillé ou Rifkin de l’autre, il suffirait, pour garantir le niveau de
développement et d’augmentation des rythmes d’automation et d’informatisation qui
ont assuré le plein emploi, de travailler deux heures par jour. Ce qui représente deux
jours, au maximum deux jours et demi par semaine. Si la ligne politique d’une certaine
gauche pour la réduction du temps de travail est une ligne politique qui entend maintenir
l’emploi de la force de travail garantie, il s’agit d’une mystification pure et simple.
Plaçons-nous maintenant sur l’autre terrain, c’est-à-dire en considérant que la
production ne passe pas tant par les ouvriers garantis que par la mobilité et par la
flexibilité, par la formation et par la requalification continue de la force de travail social.
Et que cette production passe aussi bien à travers les activités qui s’appliquent
immédiatement au tra-vail qu’à travers la production scientifique et ses langages, ou à
travers la construction d’une communauté d’affects. Si l’on assume cette conception
dynamique, flexible, mobile, fluide, arborescente de la productivité, il faut la garantir.
Et la garantir, qu’est-ce que cela signifie ? Cela signifie donner le salaire garanti à tout
le monde. Avec trois caractéristiques fondamentales : non seulement le salaire pour
tous, mais également selon une règle d’égalité à l’intérieur de la société. Le salaire
garanti ne doit pas être seulement une règle qui permette à tous de subsister à l’intérieur
de ce processus, il doit être aussi une règle qui permet, à ce haut niveau de besoins et de
capacités productives, les capacités d’appropriation monétaire du plus grand nombre
possible de citoyens. De ce point de vue, se poser le problème du salaire garanti - et
c’est là le troisième élément -, ce n’est pas simplement un problème d’aménagement du
travail et de la productivité. C’est un problème qui touche immédiatement à la fiscalité
et à la comptabilité de l’État, qui concerne les éléments fondamentaux de
l’organisation : c’est effectivement un processus révolutionnaire. Et ce que je ne
comprends pas, c’est comment on peut résister à cela.

VACARME 9 (Exil, Mille et une nuits).

Texto original em http://www.vacarme.eu.org/article1064.html,


acessado em 22.04.2008

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