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UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS

FACULDADE DE DIREITO E CIÊNCIAS DO ESTADO


PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM DIREITO

O DIREITO À EDUCAÇÃO: UMA GENEALOGIA DA DISCUSSÃO SOBRE A


"IDEOLOGIA DE GÊNERO" EM BELO HORIZONTE

Igor Campos Viana

BELO HORIZONTE
2017
Igor Campos Viana

O DIREITO À EDUCAÇÃO: UMA GENEALOGIA DA DISCUSSÃO SOBRE A


"IDEOLOGIA DE GÊNERO" EM BELO HORIZONTE





Projeto de dissertação elaborado no âmbito do Programa
de Pós-Graduação em Direito da Faculdade de Direito e
Ciências do Estado da Universidade Federal de Minas
Gerais.
Pesquisador Responsável e Orientador: Marcelo
Andrade Cattoni de Oliveira
Coorientador: Marco Aurélio Máximo Prado
Pesquisador Assistente e Orientando: Igor Campos
Viana
Linha de pesquisa: História, Poder e Liberdade
Área de estudo: História, reconhecimento e novos
saberes jurídicos




BELO HORIZONTE
2017

























Precisamos do poder das teorias
críticas modernas sobre como
significados e corpos são construídos,
não para negar significados e corpos,
mas para viver em significados e corpos
que tenham a possibilidade de um futuro.

(Donna Haraway)
SUMÁRIO

1 APRESENTAÇÃO DO TEMA-PROBLEMA ............................................................................... 5

2 JUSTIFICATIVA ......................................................................................................................... 10

3 HIPÓTESE .................................................................................................................................... 11

4 OBJETIVO ................................................................................................................................... 11

5 APROXIMAÇÃO TEÓRICO-METODOLÓGICA ..................................................................... 12

6 CRONOGRAMA DE ATIVIDADES .......................................................................................... 16

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS E BIBLIOGRAFIA BÁSICA PRELIMINAR .................... 17

ANEXOS ......................................................................................................................................... 21

1 APRESENTAÇÃO DO TEMA-PROBLEMA

A apresentação do tema-problema da presente pesquisa só pode ser realizada a


partir dos seus próprios pressupostos teóricos. Afinal, é justamente através desses
pressupostos que enxergo o problema a ser: analisado, enfrentado e desconstruído.
Desconstruído aqui no sentido de ser desvelado, ou seja, de apresentar através de um
processo genealógico as próprias condições de emergência do debate acerca da “ideologia
de gênero”. Não há como começar a falar deste tema, portanto, sem expor minha própria
perspectiva parcial que se relaciona intimamente com a escolha desta questão de
investigação. Enquanto um pesquisador que se entende1 - mas também é entendido –
homem, cisgênero e gay, as questões sobre sexualidade e gênero sempre permearam de
forma muita intensa a minha própria construção subjetiva. A escola foi um dos palcos
centrais na invisibilização da percepção da minha própria sexualidade. Durante toda minha
infância e adolescência a homossexualidade não era algo do campo do possível, tratava-se
do esotérico, do vexatório e do doentio, portanto, pensava não poder dizer respeito as
minhas vivências. A correspondência “biológico-genital" do "ser menino" e do "ser
menina" era tão naturalizada para mim naquela época que tornava-se um destino
inescapável assim como a atração sexual entre esses corpos "biologicamente"
diferenciados por suas genitálias. Na tentativa de corresponder às expectativas normativas
a mim dirigidas fui aos poucos sendo exposto ao caráter idealizado da norma que não se
apresentava tão naturalizada em minhas experiências reais. Havia algo da ordem do desejo,
também normativamente compreendido, constantemente apagado por algumas das faces
das normas sociais hegemônicas. Interpelá-las tornou-se uma própria forma de existência.


1
Esse “se entende” guarda nuances muito mais profundas. Me refiro aqui a um processo paradoxal de
subjetivação no qual o sujeito ocupa um lugar de ambivalência em relação ao poder que o sujeita ao mesmo
tempo que o constitui. Tratar de subjetivação é tratar de um retorno, uma volta sobre si mesmo como no
sentido da figura grega do tropo, mas uma volta sempre em aberto e incompleta de um sujeito enquanto
devir. Esse “devir” se realiza dentro de um conjunto de normas que são condições de existência ao mesmo
tempo que restrições do campo da inteligibilidade. Normas não possuem um valor negativo per se. A norma
é possibilidade e simultaneamente restrição. Os processos de subjetivação, nesse sentido, demandam uma
negociação em termos de reconhecimento com o campo da normatividade, essa negociação pode rearticular o
próprio campo normativo, mas não há existência social possível para além da norma. Sobre esse tema,
conferir: BUTLER, Judith. A vida psíquica do poder: teorias da sujeição. Trad.: Rogério Bettoni. Belo
Horizonte: Autêntica Editora, 2017. Em especial, destaco o seguinte trecho: O paradoxo temporal do sujeito é
de tal natureza que para explicar nosso próprio devir devemos necessariamente perder a perspectiva de
sujeito já formado. Esse “devir” não é algo simples ou contínuo, mas uma prática incômoda de repetição e
cheia de riscos, obrigatória, mas incompleta, que tremula no horizonte do ser social” (p.38).
5

Assim, o presente tema de pesquisa também se apresenta a este pesquisador de certa forma
paradoxal: contingente e inescapável.
Adotar essa perspectiva parcial é entender que a própria produção científica não
transcende as estruturas de poder sobre as quais se assenta. Aprendi com Donna Haraway2
e com alguns anos ocupando o banco das salas de aula de um curso de Direito no Brasil
que a única objetividade possível é a parcial3. O conhecimento científico não marcado é
fantasioso e irresponsável, pura expressão de estruturas de poder que apagam sua própria
existência através de um discurso da neutralidade, do não-lugar e da transcendência. De
maneira radicalmente contrária, apresento ao meu leitor uma perspectiva científica que
presta contas, pois é marcada por uma corporificação do saber que possui sexualidade,
gênero e localidade, questionando o próprio processo social e cultural de produção dessas
identidades. Não estamos imediatamente presentes para nós mesmos, por isso é necessário
questionar as próprias lentes com as quais significamos um “eu” nunca plenamente
apreensível4. É nesse sentido que o discurso sobre a “ideologia de gênero" ao naturalizar
uma correspondência necessária “sexo-gênero” apresenta-se enquanto aparato semiótico de
reiteração de um mundo tomado enquanto auto-evidente, entretanto, a auto-evidência só é
possível "do ponto de vista do senhor, do Homem, do deus único, cujo Olho produz,
apropria e ordena toda a diferença”5. Digo, portanto, de um saber localizado e só assim
crítico.
A discussão sobre a denominada "ideologia de gênero" remonta à década de 1990
com o início da articulação de setores da Igreja Católica contrários à ascensão do debate


2
HARAWAY, Donna. Saberes Localizados: a questão da ciência para o feminismo e o privilégio da
perspectiva parcial. Caderno Pagu (5), 1995: pp 07-41.
3
Quando me refiro ao curso de Direito, trato do aprendizado da perspectiva parcial justamente por sua
constante negação. Durante minha graduação, sempre me incomodou o não-lugar ocupado pelo
conhecimento que os professores, em sua grande maioria, nos apresentava. Tive a oportunidade de organizar
junto a um coletivo de alunos o Encontro Nacional de Estudantes de Direito de 2015, ocasião em que
debatíamos a necessidade de repensarmos o ensino jurídico no país. Pude constatar através das experiências
partilhadas que as pretensões universalistas e transcendentais marcam as nossas faculdades de Direito.
Ensina-se um conhecimento supostamente neutro e não reflexivo sobre as próprias estruturas de poder sobre
as quais se assenta. Assim, se naturaliza a própria reprodução das estruturas normativas do poder que passam
a ser assimiladas enquanto autoevidentes.
4
Sobre essa ideia conferir: BUTLER, Judith. Relatar a si mesmo: crítica da violência ética. Trad.: Rogério
Bettoni. Belo Horizonte: Autêntica Editora, 2017. Em especial, o seguinte trecho: “Quando o “eu" busca
fazer um relato de si mesmo, pode começar consigo, mas descobrirá que esse “si mesmo” já está implicado
numa temporalidade social que excede suas próprias capacidades de narração; na verdade quando o "eu"
busca fazer um relato de si mesmo sem deixar de incluir as condições de seu próprio surgimento, deve, por
necessidade, tornar-se um teórico social” (p.18).
5
HARAWAY, Donna. Saberes Localizados: a questão da ciência para o feminismo e o privilégio da
perspectiva parcial. Caderno Pagu (5), 1995: p. 27.
6

feminista e pós-feminista sobre as questões e estudos de gênero6. A Conferência


Internacional sobre População, no Cairo, em 1994, e a Conferência Mundial sobre as
Mulheres, em Pequim, em 1995, promovidas pela Organização das Nações Unidas (ONU),
constituem um marco na afirmação do debate de gênero. Esse debate contrariava grande
parte da Cúria Romana que o interpretava como um ataque à naturalização da ordem
sexual. Em 1997 o monsenhor Michel Schooyans publicou o livro L’Évangile face au
désordre mondial7, prefaciado pelo então cardeal Joseph Ratzinger, acusando os
organismos internacionais de estarem submetidos a uma minoria subversiva que
promoveria uma cultura antifamília, um "colonialismo sexual" e uma "ideologia da morte”.
Um ano depois, em abril de 1998, o termo “ideologia de gênero” aparece pela primeira vez
em um documento eclesiástico, uma nota da Conferência Episcopal do Peru produzida pelo
monsenhor Oscar Alzamora Revoredo, intitulada La ideologia de género: sus peligros y
alcances8, afirmando os perigos existentes por detrás da palavra "gênero". A partir dessas
primeiras manifestações, diversos serão os documentos oficiais da Igreja Católica
contrários à “ideologia de gênero”: Família, Matrimônio e “uniões de fato”9; Lexicon:
termos ambíguos e discutidos sobre família, vida e questões éticas10; Carta aos Bispos da
Igreja Católica sobre a Colaboração do Homem e da Mulher na Igreja e no Mundo11, etc.
Recentemente, como nos lembram Sarah Bracke e David Paternotte12, o Papa
Francisco chegou a declarar em um encontro com bispos da Polônia que “existem formas
genuínas de colonização ideológica. Uma delas - eu vou chamar claramente pelo seu nome
- é a [ideologia] de gênero. Hoje crianças - crianças! São ensinadas na escola que todos


6
Sobre a gênese do sintagma “ideologia de gênero”, conferir: JUNQUEIRA, Rogério. “Ideologia de
gênero”: a gênese de uma categoria política reacionária – ou: a promoção dos direitos humanos se tornou
uma “ameaça à família natural”? In: Debates contemporâneos sobre Educação para a sexualidade /
[organizadoras] Paula Regina Costa Ribeiro, Joanalira Corpes Magalhães - Rio Grande: Ed. da FURG, 2017.
7
SCHOOYANS, Michel. El Evangelio frente al desorden mundial. Colonia del Valle: Diana, 2000. [orig.:
Fayard, 1997].
8
REVOREDO, Oscar Alzamora. La ideologia de género: sus peligros y alcances. Lima: Comisión Ad Hoc
de la Mujer; Comisión Episcopal de Apostolado Laical, Conferencia Episcopal Peruana, 1998.
9
PONTIFÍCIO Conselho para a Família. Família, matrimônio e “uniões de fato”. Cidade do Vaticano, 26 de
julho de 2000.
10
PONTIFÍCIO Conselho para a Família. Lexicon: termini ambigui e discussi su famiglia, vita e questioni
etiche. 2. ed. Bologna: Edizioni Dehoniane, 2006. [1. ed.: 2003].
11
CONGREGAÇÃO para a Doutrina da Fé. Carta aos Bispos da Igreja Católica sobre a Colaboração do
Homem e da Mulher na Igreja e no Mundo. Roma, 31 de maio de 2004.
12 BRACKE, Sarah; PATERNOTTE, David. Unpacking the Sin of Gender. Religion & Gender, Vol. 6, no. 2
(2016), pp. 143-154.
7

podem escolher seu sexo”13. Os autores destacam que apesar da Igreja Católica possuir um
papel crucial no debate contrário à "ideologia de gênero", ela não detém o seu monopólio,
nesse debate também participariam diversas matrizes religiosas, movimentos neoliberais,
positivistas, algumas perspectivas marxistas e alguns movimentos feministas,
possibilitando, inclusive, o que Sarah Garbagnoli chamará de "alianças profanas”14.
Rogério Junqueira15, por sua vez, destaca o papel de Christina Hoff Sommers, professora
de Filosofia da Clark University, e de Dale O’Leary, jornalista e escritora norte-americana,
na difusão do combate à “ideologia de gênero” na sociedade. Sommers é autora do livro
Who Stole Feminism? How Women Have Betrayed Women16 e O’Leary do livro The
Gender-Agenda: redefining equality17, ambos de ampla circulação e debate no cenário
internacional de refutação às ideias de gênero. No contexto latino-americano também se
destaca a obra do advogado argentino Jorge Scala intitulada no Brasil como Ideologia de
Gênero: o neototalitarismo e a morte da família18. Assim, é necessário pensarmos as
complexas articulações políticas e sociais que se formam ao redor desse debate para situá-
lo e compreender suas próprias condições de emergência.
No Brasil esse debate apresenta contornos próprios e está intimamente
relacionado à discussão acerca da educação. O episódio de 2011 a respeito da distribuição
do material “Escola sem Homofobia” do Ministério da Educação foi o prelúdio do que
estava por vir. Um material destinado à formação sobre questões de gênero e sexualidade
foi alvo de críticas dos setores conservadores da sociedade que o acusavam de ser
pornográfico e estimular a homossexualidade, rotulando-o de “kit-gay". Diante do pânico
moral19 estabelecido por acusações não fundamentadas, a presidente Dilma Rousseff,


13 Tradução livre para: "there are genuine forms of ideological colonization taking place. And one of these –
I will call it clearly by its name – is [the ideology of] gender’. "Today children – children! – are taught in
school that everyone can choose his or her sex”.
14
GARBAGNOLI, Sarah. Against the Heresy of Immanence: Vatican’s ‘Gender’ as a New Rhetorical
Device Against the Denaturalization of the Sexual Order. Religion & Gender, Vol. 6, no. 2 (2016), pp. 187-
204.
15
JUNQUEIRA, Rogério. “Ideologia de gênero”: a gênese de uma categoria política reacionária – ou: a
promoção dos direitos humanos se tornou uma “ameaça à família natural”? In: Debates contemporâneos
sobre Educação para a sexualidade / [organizadoras] Paula Regina Costa Ribeiro, Joanalira Corpes
Magalhães - Rio Grande: Ed. da FURG, 2017.
16
SOMMERS, Christina Hoff. Who Stole Feminism? How Women Have Betrayed Women. New York:
Publisher: Simon & Schuster, 1994.
17
O’LEARY, Dale. The Gender-Agenda: redefining equality. Lafayette: Vital Issues, 1997.
18
SCALA, Jorge. Ideologia de Gênero: o neototalitarismo e a morte da família. São Paulo: Katechesis,
2011.
19
Para uma discussão sobre a ideia de "pânico moral” conferir: RUBIN, Gayle. Pensando o Sexo: Notas para
uma Teoria Radical das Políticas da Sexualidade. Tradução de Felipe Bruno Martins Fernandes Revisão de
Miriam Pillar Grossi. Repositório Institucional da Universidade Federal de Santa Catarina, 2012.
8

acatando a pressão conservadora, suspendeu a distribuição do material nas escolas


brasileiras. O cenário se abria ao conservadorismo. Durante a discussão do Plano Nacional
da Educação, o Plenário do Senado aprovou um substitutivo ao Projeto de Lei, retirando
toda e qualquer menção à palavra “gênero”. A cruzada brasileira contra a “ideologia de
gênero” ganhava corpo. O conteúdo era semelhante ao discurso internacional, mas os
protagonistas eram distintos. Os mais fervorosos cruzados contra a “ideologia de gênero”
eram políticos evangélico-pentecostais20 de expressão nacional e os ditos defensores do
liberalismo, organizados em movimentos como o Escola Sem Partido. Isso não significa
que a Igreja Católica não tenha participado, a nota oficial da Conferência Nacional dos
Bispos do Brasil (CNBB) em 2015 reprovando os Planos Municipais e Estaduais da
Educação que pretendiam incluir as noções de gênero e sexualidade é um registro claro
dessa participação. Mas no caso brasileiro não podemos dizer que ela assuma o
protagonismo.
Em Belo Horizonte o debate ganha força com a discussão e a tramitação em 2015
do Plano Municipal de Educação (Lei no 10.917/16) que em sua redação final não faz
qualquer menção ao gênero e à sexualidade. O Plano vai além da retirada de termos e
chega a afirmar no parágrafo único do seu artigo 2º que a “promoção da cidadania e dos
princípios do respeito aos direitos humanos e à diversidade não poderá se sobrepor ao
direito dos pais à formação moral de seus filhos nem interferir nos princípios e valores
adotados no ambiente familiar”. Esse debate não termina em 2015 e se acirra ao longo dos
anos com a propositura do Projeto de Lei 274/2017 que insistiu no âmbito do sistema
municipal de ensino o “Programa Escola Sem Partido”. Expressão desse acirramento é a
polêmica gerada em torno da exposição "Faça você mesmo sua Capela Sistina” de Pedro
Moraleida e promovida pela Fundação Clóvis Salgado na Grande Galeria do Palácio das
Artes. A exposição polarizou atos de apoio simbolizados com as rosas e os atos contrários
simbolizados com as velas. Grupos religiosos cristãos, organizados por pastores-
vereadores, protagonizam atos de vigília pedindo o encerramento da exposição por
estimular atos de pedofilia, zoofilia e atentar contra seus valores religiosos. Nesse mesma
frente, o arcebispo metropolitano da Igreja Católica, dom Walmor Oliveira de Azevedo, se
posiciona de forma contrária à exposição. O prefeito Alexandre Kalil vai à exposição –

20
Ao usar o termos pentecostal, me refiro, junto a Ronaldo de Almeida à "classificação do Censo
Demográfico que estabeleceu dois grandes grupos nos quais as diferentes denominações são alinhadas:
evangélicos pentecostais e evangélicos não pentecostais”. Conferir: ALMEIDA, Ronaldo de. A onda
quebrada - evangélicos e conservadorismo. Cadernos Pagu (50), 2017.
9

curiosamente no mesmo momento em que este pesquisador também estava no Palácio das
Artes - e afirma que ela não possui nada demais para o século XXI, para ele o lugar para
essas discussões seria ali em uma galeria de arte e não nas escolas. A polêmica e os
enfartamentos envolvendo a exposição continuam durante a escrita do presente projeto.
Justamente no calor desses acontecimentos que proponho uma reflexão sobre
quais são as condições de emergência do discurso da ideologia de gênero no âmbito da
educação em Belo Horizonte? Para tanto precisamos perguntar sobre como esse discurso
se articula? Quais são seus atores? E quais são os principais fatores que o influenciam?
Questões que pretendemos desenvolver através de uma genealogia da performatividade
desse discurso no espaço público belohorizontino.

2 JUSTIFICATIVA

O presente trabalho se justifica na medida em que visa pensar o direito à educação


a partir de uma compreensão democrática em direção à criação de condições sociais
necessárias para vidas que mereçam serem vividas21. Para tanto é necessário compreender
a complexidade da articulação do discurso da "ideologia de gênero” e como ele contribui
performativamente para constituição de corpos que possam ser precarizados e dispostos
socialmente. O discurso da “ideologia de gênero” é um claro ataque ao direito a uma
educação democrática, pois submete a compreensão da educação a um único modelo de
vida considerada correta. Negar a possibilidade de pensar o gênero nas escolas é legitimar
toda uma máquina de guerra social implantada para sua normatização. A escola não escapa
a esse contexto normalizador, difunde ideais binários, contribuindo para um sistema
heteronormativo de silenciamento e ajustamento que inscreve nos corpos e memórias dos
sujeitos as marcas da opressão22. Na contramão, ao pensar e discutir sobre gênero, instaura-
se um processo de exposição da historicidade do sistema normativo, regulador dos sujeitos
e de seus afetos, denunciando sua performatividade sociocultural e rompendo com o
discurso metafísico que idealiza de forma excludente padrões de gênero e de sexualidade.


21
BUTLER, Judith. Gender Politics and the Right to Appear. In: Notes toward a Performative Theory of
Assembly. Cambridge, Mass: Harvard University Press, 2015.
22
LOURO, Guacira Lopes. Gênero, sexualidade e educação. 7. ed. Petrópolis: Vozes, 2004.
10

Assim, o tema de pesquisa justifica-se ao propor desvelar um discurso potencializador de


vidas precárias, vidas simplesmente passíveis de disposição, vidas não passíveis de luto23.

3 HIPÓTESE

A hipótese traçada para a presente investigação é a de que o discurso de ataque à


denominada “ideologia de gênero” fundamenta-se em uma naturalização "biológico-
criacionista" determinadora dos desígnios dos corpos. Esse discurso seria viabilizado por
três fatores: religioso-determinista, científico-ideológico, e político-econômico. O fator
religioso-determinista é caracterizado por uma compreensão de mundo intimamente
marcada por desígnios religiosos que determinam os regimes de verdade, autorizando
determinados discursos e inviabilizando outros. O fator científico-ideológico é
caracterizado pela utilização de determinadas construções científicas como regimes de
verdade absolutos que vedariam qualquer forma de questionamento, constituindo uma
forma de análise do mundo ideológica, mas que nega esse próprio caráter. Por fim, o fator
político-econômico seria aquele caracterizado por posições conservadoras em relação à
sociedade e intimamente ligadas à ratificação do sistema capitalista de produção e de uma
sociedade concorrencial, inviabilizando e naturalizando hierarquias sociais de opressão.

4 OBJETIVO

4.1 OBJETIVO GERAL


Construir uma genealogia dos discursos sobre a "ideologia de gênero" em Belo


Horizonte no âmbito da educação. Desconstruir esses mesmos discursos e revelar suas
condições de emergência, suas articulações de regimes de verdade e suas relações de
poder. Trata-se de uma desconstrução pensada a partir da compreensão da democracia
enquanto criação de condições sociais necessárias para vidas passíveis de luto, vidas que
possam e mereçam serem vividas. Afirmando, por fim, uma compreensão
democraticamente comprometida do direito à educação.


23
BUTLER, Judith. Precarious Life. New York: Verso, 2004.
11

4.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS

a) Produzir uma cartografia da articulação da performatividade dos discursos


sobre a “ideologia de gênero” e suas relações de poder no âmbito da educação
em Belo Horizonte.
b) Identificar os fluxos financeiros de apoio ao discurso sobre a “ideologia de
gênero” e os atores envolvidos.
c) Identificar os grupos políticos de apoio ao discurso sobre a “ideologia de
gênero” e suas correntes de pensamento.
d) Identificar os grupos religiosos que protagonizam a cruzada contra a
“ideologia de gênero” e os argumentos performados.
e) Expor o caráter ideológico do discurso sobre a “ideologia de gênero”.
f) Afirmar uma compreensão do direito à educação democraticamente
comprometida com vidas que mereçam serem vividas.

5 APROXIMAÇÃO TEÓRICO-METODOLÓGICA24

Inspirado pelas investigações genealógico-políticas das ontologias de gênero


realizada por Judith Butler em Gender Trouble25 e pela genealogia da construção discursiva
dos corpos em Bodies That Matter26, aliada à compreensão das vidas precárias27 e da


24
Optamos por um desenvolvimento conjunto do que comumente se denomina nos projetos de pesquisa de
metodologia e de marco teórico em razão das imbricações da construção de um conhecimento parcial e
crítico trabalhadas na apresentação do tema problema do presente projeto. A genealogia não se trata apenas
de um instrumental teórico de análise, mas de uma própria forma de percepção da realidade investigada.
Afirmar o caráter performativo da política é ao mesmo tempo perceber que minha metodologia de análise é
corporificada, que o discurso é encarnado e que não são apenas as palavras que estão sendo investigadas.
Portanto, entendemos na presente pesquisa, que separar tudo isso não contribuiria para os objetivos da
investigação proposta.
25
BUTLER, Judith. Gender Trouble: Feminism and the Subversion of Identity, New York: Routledge, 1999.
Cf.: "gender is the repeated stylization of the body, a set of repeated acts within a highly rigid regulatory
frame that congeal over time to produce the appearance of substance, of a natural sort of being. A political
genealogy of gender ontologies, if it is successful, will deconstruct the substantive appearance of gender into
its constitutive acts and locate and account for those acts within the compulsory frames set by the various
forces that police the social appearance of gender.” (pp. 63-64).
26
BUTLER, Judith. Bodies That Matter: On the Discursive Limits of ‘Sex’, New York: Routledge, 1993.
Cf.: "the category of "sex" is, from the start, normative; it is what Foucault has called a "regulatory ideal." In
this sense, then, "sex" not only functions as a norm, but is part of a regulatory practice that produces the
bodies it governs, that is, whose regulatory force is made clear as a kind of productive power, the power to
produce—demarcate, circulate, differentiate—the bodies it controls. Thus, "sex" is a regulatory ideal whose
materialization is compelled, and this materialization takes place (or fails to take place) through certain
12

performatividade política28, propomos construir uma genealogia da performatividade


discursiva do uso da “ideologia de gênero” em Belo Horizonte. Como nos diz a autora:
“'genealogy' is not the history of events, but the inquiry into the conditions of emergence
(entstehung) of what is called history, a moment of emergence that is not finally
distingushable from fabrication”29. Em diálogo com Friedrich Nietzsche30 e Michel
Foucault31, Judith Butler constrói suas práticas genealógicas das performatividades, não
preocupada com as origens eventuais das verdades ou dos conhecimentos, mas como esses
próprios termos encontram-se situados em estruturas de poder que muitas vezes os
invisibilizam enquanto constructos socioculturais. Essa invisibilização participa do
processo de formação de vidas menos passíveis de luto, afinal quão “enlutável" é a vida de
uma travesti que não vê na escola um espaço possível de existência? Quão "enlutável" é a
vida de um gay que se mata por não suportar os desígnios da sua família sobre o seu
próprio corpo? O que determina que uma vida seja mais humana do que outra? Talvez
sejam processos políticos e performativos de existência e de inexistência, de inclusão e de
exclusão, que estruturam relações de poder intimamente imbricadas com a discussão sobre
a “ideologia de gênero". Isso nos leva a pensar em espaços escolares que realmente
mereçam serem vividos por corpos diversos de uma heteronorma unidimensionadora de
suas múltiplas experiências. Um espaço habitável pelas diferentes masculinidades,
diferentes feminilidades, por relações de igualdade entre os gêneros e pelos corpos queers,
trans, travestis, lésbicos, bissexuais, gays, mulheres e homens.
Compreender a precariedade enquanto uma condição compartilhada do ser
humano é também compreender que a manutenção da vida depende de condições sociais e
políticas e não somente de uma vontade individual para viver32. Isso pressupõe a apreensão


highly regulated practices. In other words, "sex" is an ideal construct which is forcibly materialized through
time.” (p. 2)
27
Id. Precarious Life. New York: Verso, 2004. Cf.: “some lives are grievable, and others, are not; the
differential allocation of grievability that decides what kind of subject is and must be grieved, and wish kind
of subject must not, pirates to produce and maintain certain exclusionary conceptions of who is normatively
human: what counts as livable life and a grievable death?” (pp. xiv-xv).
28
Id. Notes toward a Performative Theory of Assembly. Cambridge, Mass: Harvard University Press, 2015.
Cf.: when we say that inequality is “effectively" reproduced when ‘the people’ are only partially
recognizable, or even ‘fully' recognizable within restrictively national terms, then we are claiming the the
positing of ‘the people’ does more than simply name who the people are. The act of delimitation operates
according to a performative form of power that establishes a fundamental problem of democracy even as - or
precisely when - it furnishes its key term, ‘the people’ (p. 6).
29
Id. Revisiting Bodies and Pleasures. London: Theory, Culture and Society v. 16 (2), 1999, p. 15.
30
NIETZSCHE, Friedrich. On the Genealogy of Morals. Oxford: Oxford University Press, 1996.
31
FOUCAULT, Michel. The History of Sexuality. Vol. 1. London: Penguin, 1990.
32
BUTLER, Judith. Frames of war: When is Life Grievable. New York: Verso, 2009, pp. 15-23.
13

de uma vida, ou seja, para que uma vida seja considerada precária ela antes deve ser
considerada inteligível, pois vidas não apreendidas, por si só, já foram descartadas33. O que
nos leva a pensar como o discurso da “ideologia de gênero” pode simplesmente não
apreender determinadas formas de vida. A concepção da vida corporal considerada finita e
precária pressupõe a interdependência de formas de sociabilidade que podem protegê-la,
colocando em questão a própria ontologia do individualismo. Assim, temos em um
importante excerto de Butler: "precarity cuts across identity categories as well as
multicultural maps, thus forming the basis for an alliance focused on opposition to state
violence and its capacity to produce, exploit, and distribute precarity"34. Pensar através da
ótica da precariedade é possibilitar uma luta política gregária que supere os dilemas de uma
compreensão liberal da política e os dilemas de uma suposta necessidade de concordância
em relação a todas as questões de desejo, crença ou auto identificação típicas de uma
política centrada em questões identitárias. Precisamente sob esta ótica que propormos
construir nossa genealogia da performatividade discursiva do uso da “ideologia de gênero”,
ou seja, como os fatores religioso-determinista, científico-ideológico, e político-econômico
contribuem para distribuições desiguais da condição precária através da materialização de
um discurso hierarquizador de corpos e possibilidades de vida.
Uma proposta genealógica dessa monta deve necessariamente enfrentar o
problema da ideologia. Como nos afirma Judith Butler, em geral “uma ideologia é
entendida como um ponto de vista que é tanto ilusório quanto dogmático, algo que tomou
conta do pensamento das pessoas de uma maneira acrítica”35. Nesse sentido, torna-se
imperioso assumir o caráter ideológico não dos estudos de gênero, mas das práticas dos
cruzados contrários à “ideologia de gênero” que naturalizam ideias, práticas e hábitos na
construção unidimensional de uma suposta natureza humana. Surge daí a importância da
crítica enquanto uma prática contingente que assuma a radicalidade de sua abertura ao
colocar em questão os limites dos nossos modos de conhecimento mais certos36. A crítica,
dessa forma, visa a ampliar a possibilidade de existência através do questionamento dos
elementos forcluídos na própria ordem normativa. A presente pesquisa apresenta-se,
portanto, enquanto uma prática crítico-ideológica que busca afirmar a expressão de gênero

33
Ibid., p. 1.
34
Ibid., p. 32.
35
Id. Judith. Judith Butler escreve sobre sua teoria de gênero e o ataque sofrido no Brasil. Trad.: Clara
Allain. Folha de São Paulo - Ilustríssima: novembro de 2017.
36
Id. What is critique? An essay on Focault’s virtue. In David Ingram, ed., The Political: Readings in
Continental Philosophy, London: Basil Blackwell, 2002.
14

e de sexualidade enquanto liberdades fundamentais na criação de um mundo mais


coabitável e de uma tecitura social rearticulada.
Assim, a realização da investigação proposta envolve uma presença ativa no
campo de pesquisa. Tomando como partida o locus institucional-político da Câmara de
Vereadores de Belo Horizonte37, pretendemos cartografar as lógicas de poder e os atores
participantes do debate sobre a “ideologia de gênero” na educação para compreendermos
as condições de emergência desse mesmo debate. Partimos dos signatários do Projeto de
Lei 274/2017 que visa instituir o “Programa Escola Sem Partido” no município de Belo
Horizonte para identificarmos, inicialmente, esses atores e realizarmos as primeiras
entrevistas semiestruturadas. Essa fase inicial também envolve a observação e a análise das
reuniões plenárias da Câmara Municipal de Belo Horizonte que debatam o tema da
“ideologia de gênero”. A partir e durante essa cartografia inicial, propomos alargar o locus
da investigação para o debate público da cidade, incluindo os atores que não ocupam um
cargo na lógica representativa da política, mas performam importantes discursos no debate,
assim como membros do Escola Sem Partido, do Movimento Brasil Livre e dos coletivos
de pais e professores favoráveis ao movimento Escola Sem Partido. Também será
observado e analisado a performatividade política dos atos e protestos relacionados ao
tema da “ideologia de gênero” em Belo Horizonte.
O instrumental metodológico38 utilizado a partir da perspectiva genealógica
apresentada constituirá de uma observação-participante, entrevistas semiestruturadas39,
análise de performances-discursos, documentos e vídeos. A complexidade da genealogia
proposta envolve o reconhecimento do caráter ativo dos sujeitos da pesquisa e o emprego
de um aparato metodológico múltiplo e aberto à leitura da atribuição de sentidos que
podem aparecer de formas nada expressas no campo analisado. É necessário uma abertura,
portanto, do próprio pesquisador à escuta, pois investigamos fatores que são a todo
momento invisibilizados através das performances analisadas.

37
Escolhemos o locus institucional da Câmara dos Vereadores como ponto de partida em razão de uma maior
praticidade de identificação dos atores envolvidos em um primeiro momento, mas essa escolha não reflete
nenhuma primazia de um locus em relação aos demais. Pelo contrário, entendemos que os fluxos
articulatórios dos discursos sobre a ideologia de gênero são complexos, interligados e se retroalimentam a
todo momento. Aliás, a cartografia desses fluxos é justamente um dos objetivos da presente pesquisa.
38
MAY, Tim. Pesquisa Social: questões, métodos e processos. Porto Alegre: Artmed, 2004.
39
O roteiro das entrevistas semiestruturadas consta no anexo do presente projeto de pesquisa. Ele é o roteiro
base para as entrevistas semiestruturadas com os diversos sujeitos da pesquisa. Todos são devidamente
informados do escopo da presente investigação e assinam um Termo de Consentimento Livre e Esclarecido
para a participação através da concessão de entrevistas. Todo o material foi submetido à Plataforma Brasil
para a análise do Comitê de Ética responsável.
15

6 CRONOGRAMA DE ATIVIDADES

2017 2018

Abr/ Jul/ Out/ Jan/ Abr/ Jul/ Out/


ATIVIDADES Mar
Jun Set Dez Mar Jun Set Dez
Revisão do Projeto junto ao ● ●
orientador
Cumprimento de disciplinas ● ● ● ●
obrigatórias do Mestrado
Leitura, documentação e estudo e ● ● ● ● ● ● ●
da bibliografia primária
Levantamento, exame e
documentação da bibliografia ● ● ● ● ● ● ●
complementar
Acompanhar o processo
legislativo dos Projetos de Lei
● ● ● ● ● ● ●
pertinentes ao tema de estudo
Mapeamento do trabalho de
campo e elaboração da entrevista
● ●
semiestruturada
Realização das entrevistas
semiestruturadas e compilação do
● ●
material coletado
Redação/apresentação do projeto ●
definitivo

Redação e revisão da Dissertação ● ● ●

Redação de paper sobre a ●


pesquisa para publicação

Defesa da Dissertação

16

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS E BIBLIOGRAFIA BÁSICA PRELIMINAR


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necessidade de um constitucionalismo para além da modernidade. Revista do Centro
Acadêmico Afonso Pena, v. 21, no1 de 2015.

20

ANEXOS

ROTEIRO DA ENTREVISTA SEMIESTRUTURADA

Legenda

o Perguntas Obrigatórias

§ Perguntas Decorrentes Possíveis

ü Ideias a serem exploradas no bloco da pergunta obrigatória

• Identificação

o Nome

o Idade

o Profissão

o Religião

o Filiação Partidária

• Perguntas

o O que você entende por direito à educação? Qual é sua abrangência e qual
sua função?

§ Qual é o lugar da família nesse processo?

§ O que fazer quando os entendimentos morais e religiosos de uma


família entram em conflito como os ensinamentos da escola?

§ O que seria uma educação voltada para o pleno desenvolvimento da


pessoa?

21

§ O que seria uma educação que prepare para o exercício da


cidadania?

§ Como pensar uma educação que qualifique para o trabalho?

Ø Ideias chaves a serem exploradas: abordar o discurso constitucional:


"direito de todos e dever do Estado e da família"; "promovida e
incentivada com a colaboração da sociedade"; "pleno
desenvolvimento da pessoa"; "preparo para o exercício da
cidadania"; "qualificação para o trabalho".

o O que o termo “ideologia de gênero” significa para você?

§ Quando foi o seu primeiro contato com o termo?

§ Quem te introduziu a esse debate? Qual o nome dessas pessoas?

§ Quem é uma grande influência para você neste tema?

§ Esse entendimento possui alguma relação com suas compreensões


religiosas?

§ O que é ideologia para você?

§ O que é ciência para você?

§ Como sua perspectiva sobre a “ideologia de gênero” se relaciona


com o seu espectro político?

§ O seu partido já tomou posição sobre o assunto?

§ O seu movimento recebe financiamento para difusão desse debate?


De onde vem esse financiamento?

§ Quais são os movimentos parceiros ao seu neste debate?

Ø Ideias chaves a serem exploradas: concepção de ideologia;


introdução ao debate; cartografia do debate; influência religiosa;
mapeamentos dos atores; espectro político; concepção de sociedade;
financiamento.

o Como pensar a existência de homens não “masculinos”, mulheres não


“femininas”, gays, lésbicas, bissexuais e travestis na escola? Hoje as escolas
de Belo Horizonte apresentam um espaço acolhedor para sua existência?

§ Qual é sua visão sobre a diversidade sexual e de gênero?

§ Qual é sua visão sobre a igualdade de gênero?


22

§ Qual é sua compreensão de democracia?

§ Qual é sua compreensão de uma escola democrática?

§ A escola hoje é um espaço violento para sujeitos que desviam a uma


ordem sexual tida como dominante?

§ Qual é o nosso dever ético em relação a sujeitos precarizados?

Ø Ideias chaves a serem exploradas: compreensão das questões de


sexualidade e gênero; como o discurso sobre a “ideologia de gênero”
se articula diante a práticas concretas de violações; qual é a ética
compartilhada por esse sujeitos; o que eles entendem por
democracia.

23

TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO


Projeto de Pesquisa: O direito à educação: uma genealogia da discussão sobre a ideologia de
gênero em Belo Horizonte.
Prezado(a), você está sendo convidado(a) a participar de uma pesquisa que tem por objetivos
analisar as condições de emergência do debate sobre a “ideologia de gênero” na esfera pública de
Belo Horizonte. Para participar deste estudo solicita-se sua especial colaboração por meio de uma
entrevista, que será gravada e transcrita se assim você permitir e ficará armazenada com os
pesquisadores por 5 (cinco) anos. A entrevista terá duração aproximada de 30 (trinta) minutos.
Você pode se recusar a participar ou retirar seu consentimento em qualquer fase da pesquisa sem
qualquer penalização ou prejuízo. Esclarece que se espera mapear a articulação desse discurso com
os resultados deste estudo.
Com relação aos riscos de participação na pesquisa pode-se mencionar possíveis desconforto,
insegurança e/ou ansiedade ao responder às perguntas da entrevista e ao ter seus próprios
pressupostos de pensamento questionados. No entanto, esclarecemos que sua participação poderá
ser interrompida a qualquer momento. Não adotamos o anonimato nas entrevistas nem na sua
divulgação, tendo em vista que trata-se de um debate público e de atores que assumem suas
posições nesse mesmo espaço.
Os resultados da pesquisa, serão utilizados em trabalhos científicos a serem publicados e/ou
apresentados oralmente em congressos e palestras, serão sempre apresentados como retrato de um
grupo e não de uma pessoa. Você não terá nenhum gasto com a participação no estudo e também
não receberá pagamento pelo mesmo. Caso ocorram danos que sejam decorrentes especificamente
da pesquisa você terá direito a ser indenizado. O pesquisador responsável e o pesquisador assistente
poderão fornecer qualquer esclarecimento sobre o estudo, assim como tirar dúvidas, bastando
entrar em contato pelos telefones e/ou emails:

• PESQUISADOR RESPONSÁVEL: Prof. Dr. Marcelo Andrade Cattoni de Oliveira -


Email: mcattoni@gmail.com - Telefone: (31) 97566-4444

• PESQUISADOR ASSISTENTE: Mestrando Igor Campos Viana Email:


iacamposviana@gmail.com - Telefone: (31) 99814-3433

No caso de dúvidas éticas, o Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Federal de Minas


Gerais, localizado na Avenida Antônio Carlos, 6627, Unidade Administrativa II, 2º andar, Sala
2005, Campus Pampulha, Belo Horizonte/MG, poderá ser contatado pelo telefone (31) 3409-4592
ou pelo email: coep@prpg.ufmg.br.
Li as informações contidas neste documento antes de assinar este termo de consentimento. Declaro
que toda a linguagem técnica utilizada na descrição deste estudo de pesquisa foi satisfatoriamente
explicada e que recebi respostas para todas as minhas dúvidas. Confirmo que também recebi uma
via deste Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. Compreendo que sou livre para me negar a
participar da pesquisa, sem qualquer penalidade. Dou meu consentimento de livre e espontânea
vontade para participar desta pesquisa, respondendo ao questionário. Belo Horizonte, ___/___/___.
Participante (Nome Legível e Assinatura ao lado)
Pesquisador (Nome Legível e Assinatura ao lado)

24

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