ARS VETERINARIA, Jaboticabal, SP, Vol. 22, nº3, 179-183, 2006.

ISSN 0102-6380

EFEITO DO EXERCÍCIO SOBRE VARIÁVEIS

HEMATOLÓGICAS DE EQÜINOS ANTES E APÓS
PARTICIPAÇÃO EM PROVA DE ENDURO DE 40 KM
(EFFECT OF EXERCISE ON EQUINE BLOOD VARIATIONS BEFORE AND
AFTER 40 KM ENDURANCE COMPETITION)

(EFECTO DEL EJERCÍCIO SOBRE LAS VARIABLES HEMATOLÓGICAS EN EQUINOS ANTES Y

DESPUÉS DE LA PARTICIPACIÓN EN PRUEBAS DE ENDURO DE 40 km)

C. A. G. OROZCO1, C. B. MARTINS2, F. H. F. D’ANGELIS2, E. V. V. FREITAS2,

F. G. CHRISTOVÃO2, A. QUEIROZ NETO3; J. C. LACERDA NETO4

RESUMO

As avaliações hematimétricas têm sido utilizadas para determinar mudanças clinicopatologicas em cavalos submetidos
a exercício físico de diferentes intensidades. Partindo dessa base, utilizaram-se doze fêmeas eqüinas das raças Mangalarga
e Árabe para realizar um Exercício Teste (ET), no qual se percorreu uma distância de 40 km, dividida em dois segmentos de
20 km. Avaliações das variáveis hematimétricas eritrócitos, hematócrito (Hto), Hemoglobina (Hb), volume globular médio
(VGM), hemoglobina globular média (HGM), concentração de hemoglobina globular média (CHGM) e células brancas,
foram realizadas antes de iniciar-se o ET, imediatamente após a chegada e 0,5, 6, 24 e 48 horas após esta. Encontrou-se
elevação do hematócrito ao final do percurso.

PALAVRAS-CHAVE: Hematologia. Éguas. Exercício. Mangalarga. Árabe.

SUMMARY

Hematologic evaluations have been used to determine clinic and pathologic changes in horses undergoing variable
intensity exercise. Therefore, twelve Mangalarga and Arabian mares were used to Exercise test (ET), consisting of 40 km
distance divided in two segments of 20 km each. Erythrocyte count, hematocrit, hemoglobin, mean corpuscular volume,
mean corpuscular hemoglobin, mean corpuscular hemoglobin concentration, and white blood cells count were analyzed
before the ET, immediately after the ending of the distance and at 0, 5, 6, 24, and 48 hours after this. Hematocrit was elevated
at the end of the course.

KEY WORDS: Hematology. Mares. Exercise. Mangalarga breed. Arabian breed.

RESUMEN

Las evaluaciones de hematimetría fueron utilizadas para determinar cambios clinicopatológicos en caballos sometidos
a ejercicio físico de diferente intensidad. Partiendo de esta base, fueron utilizadas doce hembras equinas de las razas
1
Pós-graduando da FCAV-UNESP - Campus de Jaboticabal. Professor Universidad de La Salle, Bogotá. Colômbia.
2
Pós-graduandos da FCAV-UNESP - Campus de Jaboticabal.
3
Prof. Adjunto do Departamento de Morfologia e Fisiologia Animal da FCAV-UNESP - Campus de Jaboticabal.
4
Prof. Assistente Doutor do Departamento de Clínica e Cirurgia Veterinária da FCAV-UNESP - Campus de Jaboticabal - SP.
Via de Acesso Prof. Paulo Donato Castellane, s/n° Jaboticabal – SP. 14884-900.

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Mangalarga y Árabe para realizar un Ejercicio Teste (ET), en el cual se recorrió una distancia de 40 km, dividida en dos
segmentos de 20 km. Evaluaciones de las variables de hematimetría, eritrocitos, hematocrito (Hto), hemoglobina (Hb),
volume globular medio (VGM), hemoglobina globular media (HGM), concentración de hemoglobina globular media (CHGM)
y células blancas, fueron realizadas antes de iniciar el ET, inmediatamente después de la llegada y 0,5, 6, 24 y 48 horas
después de esta. Se encontró elevación del hematocrito al final de recorrido.

PALABRAS-CLAVE: Hematología. Yeguas. Ejercício. Mangalarga. Árabe.

INTRODUÇÃO rotina para a competição de enduro eqüestre.

Recentemente, visando atingir melhoras nos
programas de treinamento e obter maior rendimento e
condicionamento dos animais, vem-se aprimorando as
pesquisas na área de hematologia veterinária. Informações
específicas das variáveis hematológicas são de grande
valia, porém, quando são analisados, deve-se levar em
consideração o momento da colheita das amostras, bem
como a presença de fatores endógenos e exógenos que
possam modificar os constituintes hematológicos.
O treinamento físico nos cavalos é responsável por
algumas modificações no organismo, que se apresentam
com o objetivo de atender o aumento da demanda
metabólica. Uma dessas adaptações, observada em cavalos
Puro Sangue Inglês submetidos a exercícios de alta
intensidade, é o aumento, em repouso, do número de
eritrócitos que melhora a capacidade de transporte de
oxigênio. Por outro lado, nos eqüinos de enduro, foi
relatada uma expansão da volemia, na tentativa de atender
às maiores necessidades hídricas e na tentativa de se
prevenir a ocorrência de perdas hidroeletrolíticas durante
provas de longa duração. Nesse tipo de provas, os cavalos
apresentam aumento na produção do calor que leva à
ativação de mecanismos fisiológicos que permitem sua
eliminação, seja através de hiperventilação pulmonar e/ou
por sudorese profusa, provocando, assim, desidratação
decorrente da perda de eletrólitos (SNOW et al., 1982,
CARLSON, 1983, HODGSON et al., 1994). Todavia, ocorre
aumento da viscosidade sangüínea e diminuição do volume
plasmático estimulando e comprometendo o funcionamento
cardíaco e a perfusão muscular, levando, inevitavelmente,
à fadiga (PHYSICK-SHEARD, 1982, ASTRAND e
RODAHL, 1991).
Foi demonstrado que o treinamento acarreta
aumento moderado nos valores de hematócrito,
concentração de hemoglobina e contagem de hemácias
quando comparados aos valores de repouso (ALLEN e
POWELL, 1983). Segundo Rose e Allen (1985), os cavalos
de enduro, em repouso, freqüentemente apresentam valores
inferiores para o hematócrito e outras variáveis
hematológicas. Esse fato pode ser justificado pelo aumento
no volume plasmático decorrente do processo de
treinamento (McKEEVER, 1987). Entretanto, Rose e
Hodgson (1982) não observaram alterações nas variáveis
hematológicas em eqüinos submetidos ao treinamento de
A resposta dos leucócitos frente às provas de
enduro difere daquela observada sob condições de
exercício de máxima intensidade (ROSE, 1982). Assim,
Carlson et al. (1976) e Snow et al. (1982) associaram as
provas de enduro com leucocitose devida à neutrofilia,
sendo esta última, possivelmente, decorrente do estresse
associado com o incremento dos níveis plasmáticos de
cortisol (DYBAL et al., 1980, SNOW e ROSE, 1981), além
de existir provável correlação com as concentrações de
noradrenalina, com a velocidade do fluxo sangüíneo e com
a freqüência cardíaca (ROSE et al., 1983).
Embora tenham sido realizados inúmeros estudos
sobre as respostas metabólicas e hematológicas de eqüinos
realizando exercício prolongado, poucas informações foram
reunidas sob condições de treinamento físico homogêneo
quanto à intensidade e duração. Sendo assim, com este
trabalho objetivou-se avaliar as possíveis alterações
hematológicas de eqüinos antes e após participação em
prova de enduro de 40 km.
MATERIAL E MÉTODOS
Doze fêmeas eqüinas, entre quatro e doze anos de
idade, das raças Mangalarga e Árabe, utilizadas
anteriormente para reprodução, foram introduzidas em
programa de treinamento físico para participação em provas
de enduro.
Após um período de quinze dias de adaptação ao
alimento, exclusivamente peletizado, iniciou-se o protocolo
de treinamento. Durante seis semanas, em dias alternados,
percorreram trilhas de 9.600 e 12.400 metros em velocidade
de 7,5 e 13,5 km/h, respectivamente. Ao final desse período,
foi realizado um Exercício Teste (ET), no qual se percorreu
uma distância de 40 km, dividida em dois segmentos de 20
km.
As amostras de sangue, colhidas em tubos com
anticoagulante EDTA, foram coletadas antes de iniciar-se
o ET, imediatamente após a chegada e 0,5, 6, 24 e 48 horas
após esta, para determinações hematológicas, tais como
contagem de eritrócitos, hematócrito (Hto), hemoglobina
(Hb), volume globular médio (VGM), hemoglobina globular
média (HGM), concentração de hemoglobina globular
média (CHGM) e contagem global e diferencial de
leucócitos. Os valores de VGM, da HGM e da CHGM foram

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calculados de acordo com as indicações de SCHALM et
al. (1975). Os valores obtidos foram submetidos à análise
de variância (ANOVA) utilizando-se o procedimento GLM
(General Linears Models) do programa computacional SAS
(Statistical Analysis Systems). As comparações das médias
foram feitas utilizando o teste Tukey. Para todas as análises
realizadas estabeleceu-se nível de significância p≤0,05
(STEEL e TORRIE, 1980).
RESULTADOS
Na Tabela 1 estão relacionados os valores obtidos
no hemograma, assim como os índices hematimétricos.
Dentre os diferentes parâmetros hematológicos analisados,
apenas o hematócrito demonstrou aleração digna de nota,
ocorrendo elevação das concentrações sangüíneas ao final
do percurso. As demais alterações permaneceram dentro
dos limites fisiológicos.
DISCUSSÃO E CONCLUSÃO
No cavalo, é sabido que o exercício induz
mobilização dos eritrócitos do baço para a circulação
(PELLEGRINI MASINI et al., 2000). Esse fato que pode
estar relacionado ao nível de estresse gerado durante o
exercício, responsável pela liberação de adrenalina, que
atua sobre os depósitos de eritrócitos no baço induzindo-
lhes à sua liberação (PERSSON et al., 1973, SNOW et al.,
1983). Sendo assim, o fato de os valores de eritrócitos,
neste trabalho, não terem apresentado alterações
significativas antes e após a prova, poderia indicar que o
grau de estresse sofrido pelos animais não teve a
Tabela 1 - Média ± EPM de valores hematimétricos determinados em eqüinos submetidos à prova de resistência de 40 km
de extensão, em repouso, na chegada e após 0,5, 6, 24 e 48 horas. SP: Jaboticabal, 2003.
VGM: volume globular médio; HGM: hemoglobina globular média; CHGM: concentração de hemoglobina globular média.
181
intensidade suficiente para induzir mudanças drásticas dos
eritrócitos, o que pode ser corroborado pela tendência à
diminuição dos valores após o início do repouso.
Boucher et al. (1987) relataram que as células
liberadas pelo baço são velhas e de menor tamanho, quando
comparadas às circulantes, além disso, reportaram que as
características de acidose e hipóxia do ambiente
esplâncnico possivelmente são responsáveis pela
formação de equinócitos, os quais têm sido observados
em cavalos após provas de enduro (BOUCHER et al., 1981),
em cavalos portadores de doenças sistêmicas (GEOR et
al., 1992) ou com alterações eletrolíticas (WEISS et al., 1992),
porém não foram detectados após exercícios em esteira
(ROSE e HODGSON, 1994). Dessa forma, e pela não
observação de alterações morfológicas nas células
vermelhas do sangue neste estudo, é possível afirmar que
condicionamento físico dos animais foi adequado à
intensidade do teste realizado.
O único achado digno de nota evidenciado após o
término do percurso de 40 km foi o aumento do hematócrito.
Já Teixeira Neto (2002), observou elevação do hematócrito,
concentração de hemoglobina e número total de hemácias
ao final do percurso de 60 km, atribuído à
hemoconcentração decorrente das volumosas perdas de
líquidos através da sudação (CARLSON, 1985, LACERDA
NETO e MARQUES, 1999), às perdas de água por
hiperventilação e à passagem da água do leito vascular
dilatado para o músculo hiperosmótico em ação
(MARTINEZ et al., 2000). Entretanto, 30 minutos após a
finalização do percurso, tendo os animais livre acesso à
fonte de água para bebida, o hematócrito retornou aos
valores basais.
O leucograma tem sido amplamente utilizado como
indicador de quadros de estresse em cavalos. Um
leucograma de estresse caracteriza-se por elevação nos
valores de leucócitos totais, acompanhado de neutrofilia,
linfopenia e eosinopenia (TYLER-McGOWAN et al., 1999).
O enduro é associado com leucocitose resultante de
neutrofilia (CARLSON et al., 1976, SNOW et al., 1982), o
que provavelmente se deve ao incremento dos corticóides
esteroidais circulantes (DYBAL et al., 1980, SNOW e ROSE,
1981). No presente trabalho os animais foram submetidos
a esforço de intensidade mediana e se observaram
alterações significativas em células da linhagem branca,
não ultrapassando os valores fisiológicos para a espécie
eqüina.
Finalmente, foi possível concluir que a prova de
enduro de 40 km, sob as condições previamente descritas,
determinou uma demanda metabólica significativa nos
animais que gerou uma leve desidratação, verificada pelo
aumento significativo nos valores do hematócrito e um
grau leve de estresse pelas mudanças significativas da
contagem de leucócitos.
ARTIGO RECEBIDO: Setembro/2004
APROVADO: Setembro/2005
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