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SARAU VOZES NEGRAS

Seleção Jeff Santana

1 - Prefiro a guerra - Jenyffer Nascimento

Telefone toca.
Sinto a navalha na carne
E o sangue esguichando.
Rapidamente os rumos mudam.

Rua de cima
Rua de baixo
É a porta direita do carro que se abre
Sem pausas e sem sorriso.

Aquela boca morta.


A mesma que te beija
É a boca que te corta.
É a fala que sai da boca
Que de fato me apavora.

2 - Abro o portão – Cristiane Sobral

Subo as escadas.
Fogo morto
Tropecei na realidade.

A navalha era afiada


O sangue vai demorar a estancar.

O que você está esperando


O próximo episódio?
A próxima tragédia?

Se o amor é isso
Uma hemorragia interna
Eu prefiro a guerra.

(Terra fértil, p. 118)

3 – Chuva - Cidinha da Silva


Ontem chovi
Era chumbo
A nuvem que me matava
Chovi mágoa
Contrita
Ebó despachado na praça
Na encruza do tempo perdido
Chovi no pântano dos afogados
Mangue de dor
Sem flor que nasça
Chovi o amor guardado
Tudo é morte
Tudo é renovação
Só por chover
Amor
Vivo

Seleção - Feibreis Cassilhas

1 - Eu mulher em luta - Miriam Alves

enluto-me e o poema sai assim


meio mágoa
meio lágrima
meio torto
todo lança

enluto-me por aquelas vindas no arrastão atlântico


enluto-me ao ver dilacerar pele, corpo e mente

eu mulher em luta
combato o ócio de quem não vê
no silêncio das casas os estupros-menina
cotidianamente

eu enluto
toda mágoa
toda dor
enrijeço-me sob o toque domador

marcando o desejo
sou toda combate toda força
eu mulher em toques no teclado
faço das luzes da tela meu alento
alimento em palavras
o meu desejo pleno de ser
e tiquetaqueando retirando das vogais sons palavras
e imagens
tamborilando mensagem vou

2 – Beleza Minha - Raquel Garcia

Àrvores de ideias
Templo de memórias
Coroadas riquezas
Minha estética
Possui história
Cabelo-resistência
Torna-me contemplada
Ao encarar no espelho
Minha forma encrespada
Cabeleira crespa
Carapinha macia
Textura d'Àfrica
Beleza minha

3 - Preservando as heranças
Dedicado a Andréia Lisboa - Elisandra Souza

As argolas em volta do pescoço


São para sustentar a exuberância do meu sorriso
Os turbantes que uso na cabeça
Demonstram a sabedoria da minha ancestralidade
Os vestidos que moldam meu corpo
Dignificam o meu instrumento de existir
As argolas, os turbantes e os vestidos
Mais do que acessórios
São heranças que me ajudam a persistir

Seleção Nana Martins

1 - Eu-Mulher – Conceição Evaristo

Uma gota de leite


me escorre entre os seios.
Uma mancha de sangue
me enfeita entre as pernas
Meia palavra mordida
me foge da boca.
Vagos desejos insinuam esperanças.
Eu-mulher em rios vermelhos
inauguro a vida.
Em baixa voz
violento os tímpanos do mundo.
Antevejo.
Antecipo.
Antes-vivo
Antes – agora – o que há de vir.
Eu fêmea-matriz.
Eu força-motriz.
Eu-mulher
abrigo da semente
moto-contínuo
do mundo.

2 - Nunca mais - Nana Martins

Já fui violentada tantas vezes


com palavras, ofensas e agressões verbais.

Já fui violentada tantas vezes


com pentes quentes, chapinhas, alisantes
e xingamentos

Já fui violentada tantas vezes


Com dietas, jejuns e com o espelho
Que parecia dizer: Ainda não está bom!

Já fui violentada tantas vezes


Por querer ter opinião
Por querer falar
Por querer trabalhar e estudar
Por querer ser apenas uma mulher independente

Já fui violentada tantas vezes


Obrigada a ser mãe, mulher, dona de casa,
Amigável, agradável e calada.
Já fui violentada tantas vezes
Por causa de minhas roupas
Curtas ou apertadas demais,
Por causa de minhas curvas
Avantajadas demais.

Já fui violentada demais


Já apanhei na cara,
Já levei chute e pontapé
Porque quis ser de mim
E estava cansada de me calar
De dizer sempre sim.

Já fui violentada tantas vezes


Na fila do Sus, sem atendimento,
Sem direito a atestado médico,
Sem diagnóstico certo
Deixada a morrer ou sarar a própria sorte.

Já fui violentada tantas vezes


Nós somos violentadas cotidianamente
Temos que ser fortes, mulheres potentes

Eu morri mil vezes,


Eu já chorei desesperadamente
Mas eu aguentei firme e forte
E prometi a mim mesma
Nunca mais, nunca mais,
Nunca mais ninguém vai me violentar novamente.

3 - Eu queria falar de amor - Nana Martins

Foi entre lágrimas que entendi,


Que força nada tinha a ver com doçura,
E que o líquido vermelho escorrendo entre minhas mãos
é meu próprio sangue,
Jorrando pela vida daquelas, que assim como eu,
Ousaram dizer não.

A voz ficou presa, sufocando o peito.


Eu queria falar de amor , mas não tive tempo.
Uma mãe perdeu seu o filho,
A outra teve a cabeça esmagada,
a perna quebrada,
e a vida dilacerada
Desacato!

A voz ficou presa, sufocando a alma


Eu queria falar de amor , mas não tive tempo.
Desacato, a vida quebrou ,
Eu não me curvei.
Mas cai ao chão para segurar sua mão.
A violência tem cor
Tem sim senhor
A violência tem cor,
Tem sim senhor,
A violência tem cor, tem sim senhor,
Foi violência eu sei,
A vida quebrou,
O turbante caiu, meu colar se desmanchou
contas perdidas para todo lado
Eu queria falar de amor , mas não tive tempo.
O coração despedaçou e o som da rua me desesperou
Eu não me calei, a violência ter cor, tem sim senhor,
Ouvi ao longe alguém gritar.
Eu me levantei, minha saia rasgou,
Eu corri, me curvei, eu apenas gritei
Eu queria falar de amor, mas não tive tempo.

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