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14/04/2020 Artigo | Os latifundiários da | Uma visão popular do Brasil e do mundo

INÍCIO  INTERNACIONAL

AGRONEGÓCIO

Artigo | Os latifundiários da pandemia, por Silvia


Ribeiro
Para a autora, neste momento de crise é necessário questionar orofundamente todo
o sistema alimentar do agronegócio

Silvia Ribeiro
Tradução: Luiza Mançano

Brasil de Fato | São Paulo (SP) | 01 de Abril de 2020 às 17:38

No Brasil, a expansão fronteira agropecuária é responsável por 80% do desmatamento - AFP

A declaração de pandemia da covid-19 colocou tudo de cabeça pra baixo. Mas nem
tanto para que os governos questionem as causas reais que levaram ao surgimento do
vírus e ao fato de que, enquanto supostamente trabalham para contê-lo, outros vírus e
pandemias continuem surgindo.
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14/04/2020 Artigo | Os latifundiários da | Uma visão popular do Brasil e do mundo

Existem três causas, concomitantes e complementares, que produziram todos os vírus


infecciosos que se propagaram mundialmente nas últimas décadas, como a gripe
aviária, a gripe suína, as cepas de coronavírus, entre outras. A principal é criação
industrial e extensiva de animais, principalmente frangos, perus, porcos e vacas. A isto
soma-se o contexto geral da agricultura industrial, na qual 75% da terra agrícola de
todo o planeta é utilizada para a criação de animais em massa, principalmente para
criação de pastos com essa nalidade. A terceira é o crescimento descontrolado da
mancha urbana e das indústrias que a alimentam e que por ela subsistem.

As três juntas são a causa do desmatamento e da destruição de habitats naturais em


todo o mundo, fato que também implica a expulsão das comunidades indígenas e
camponesas que vivem nessas áreas. Segundo a Organização das Nações Unidas para a
Alimentação e a Agricultura (FAO), mundialmente, a expansão da fronteira
agropecuária é responsável por 70% do desmatamento, mas em países como o Brasil,
esta expansão é responsável por 80% do desmatamento.

No México, vimos como se originou a gripe suína em 2009, à qual colocaram o nome
asséptico de gripe H1N1 para desvinculá-la do porco, sua origem. O vírus se originou na
fábrica de porcos Granjas Carroll, em Veracruz, então co-propriedade da maior
produtora de carne a nível global, a Smith eld. Esta empresa foi comprada em 2013 por
uma lial da megaempresa chinesa WH Group, atualmente a maior produtora de carne
suína do mundo, ocupando o primeiro lugar neste ramo na China, nos Estados Unidos
e diversos países europeus.

Ainda que o vírus da gripe suína não fosse um coronavírus, a forma se converteu em
uma epidemia/pandemia é semelhante a outras doenças zoonóticas (isto é, de origem
animal). Enormes quantidades de animais de criação con nados, vacinados e
imunodeprimidos fazem com que o vírus tenha mutações de forma mais rápida. Esses
animais consomem antibióticos e antivirais continuamente, além de estarem
expostos  – no ambiente e na alimentação  – a diversos pesticidas desde o nascimento
até o matadouro, para que engordem mais rápido e não adoeçam, em condições
absolutamente insalubres para qualquer ser vivo.

Como explica Rob Wallace, biólogo evolutivo e logéografo do Instituto de Estudos


Globais da Universidade de Minnesota, que estudou por mais de 15 anos o tema das
epidemias do último século, os criadouros animais são o local perfeito para a mutação
e reprodução dos vírus. 

Os vírus podem passar de uma espécie a outra e embora possam se originar em


espécies silvestres de aves, morcegos e outras, é a destruição dos habitats naturais que
os empurra para fora de suas áreas, onde as cepas dos vírus estavam controladas
dentro de sua própria população. Dali passam às áreas rurais e depois às cidades. Mas é
nos imensos criadouros animais onde há maiores chances de mutação dos vírus, que
logo afetarão os seres humanos pela contínua interação entre milhares ou milhões de

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animais, diversos tipos de cepas de vírus e contato com humanos que entram e saem
dessas instalações. O aumento da interconexão dos transportes globais, tanto de
pessoas como de mercadorias, inclusive de animais, faz com que os vírus mutantes se
desloquem rapidamente a muitos pontos do planeta.

Um aspecto complementar: como demonstrou Grain, o sistema alimentar do


agronegócio é responsável por quase metade dos gases de efeito estufa que produzem
a mudança climática, mudança que também leva à migração das espécies, inclusive de
mosquitos que podem transmitir alguns vírus. A criação intensiva de animais,
especialmente, é responsável pela maior parte destas emissões (Grain, 2017)

Claro que ainda que possamos conhecer o que originou o vírus, isto não muda o fato de
que ele existe e tem consequências agora, e que é importante cuidar das pessoas,
sobretudo dos mais vulneráveis, por uma série de fatores.  Ainda assim, não custa
recordar que, segundo os dados da Organização Mundial da Saúde, 72% das mortes no
mundo são causadas por doenças não transmissíveis, várias delas diretamente
relacionadas diretamente ao sistema alimentar do agronegócio, como doenças
cardíacas, hipertensão, diabetes, obesidade, câncer do aparelho digestivo, má nutrição.

Mas o enfoque na ação emergencial e a busca de supostas vacinas como se a pandemia


pudesse ser controlada por meios técnicos, esconde suas causas e promove a
perpetuação do problema, porque virão outras epidemias ou pandemias enquanto as
causam continuarem intactas. Em alguns países, as indústrias agroalimentares,
principais produtoras dos vírus, são bene ciadas pelas epidemias, inclusive, por serem
consideradas pelos governos como “indústrias básicas para a sobrevivência”. Isto é
uma falácia, já que é a produção camponesa, indígena e de pequena escala, inclusive a
urbana, que alimenta 70% da humanidade. É o agronegócio quem nos dá comida lixo e
cheia de agrotóxicos, que nos adoece e enfraquece frente às pandemias, ao mesmo
tempo em que continua expropriando terras camponesas e áreas naturais (ETC, 2017).

Na emergência, surgem outros negócios lucrativos, tanto para as empresas como para
os bancos. Algumas, como as empresas farmacêuticas, empresas de materiais para
proteção sanitária, de vendas online e de produção de entretenimento, enriquecem de
forma ridícula com a pandemia. Outras empresas tem perdas -- que transferem às e
aos trabalhadores e à sociedade de muitos modos, inclusive no aumento dos preços --,
mas serão as primeiras a se bene ciar com os subsídios governamentais. Sob o
discurso de que há que resgatar “a economia”, a maioria dos governos não vacila em
favorecê-las antes dos sistemas de saúde pública devastados pelo neoliberalismo, ou de
milhões de pessoas que sofrem com a pandemia, não só por causa do vírus, mas
porque não tem casa, ou água, ou alimentos, ou perderam seu trabalho, ou trabalham
irregularmente e sem previdência social, não tem acesso a diagnósticos ou médicos, ou
estão em caravana de imigrantes ou refugiados em algum acampamento, amontoados
em albergues ou na rua.

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Neste contexto, também surgem formas de solidariedade a partir de baixo. Junto com
ela, é necessário enraizar um questionamento profundo de todo o sistema alimentar do
agronegócio, e uma valorização profunda e solidária de todas e todos que a partir de
suas hortas e comunidades nos alimentam e previnem as epidemias.  

*Silvia Ribeiro é integrante do Grupo de Ação sobre Erosão, Tecnologia e Concentração


(ETC)

Edição: Luiza Mançano

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