Академический Документы
Профессиональный Документы
Культура Документы
INÍCIO INTERNACIONAL
AGRONEGÓCIO
Silvia Ribeiro
Tradução: Luiza Mançano
A declaração de pandemia da covid-19 colocou tudo de cabeça pra baixo. Mas nem
tanto para que os governos questionem as causas reais que levaram ao surgimento do
vírus e ao fato de que, enquanto supostamente trabalham para contê-lo, outros vírus e
pandemias continuem surgindo.
https://www.brasildefato.com.br/2020/04/01/artigo-os-latifundiarios-da-pandemia-por-silvia-ribeiro 1/4
14/04/2020 Artigo | Os latifundiários da | Uma visão popular do Brasil e do mundo
No México, vimos como se originou a gripe suína em 2009, à qual colocaram o nome
asséptico de gripe H1N1 para desvinculá-la do porco, sua origem. O vírus se originou na
fábrica de porcos Granjas Carroll, em Veracruz, então co-propriedade da maior
produtora de carne a nível global, a Smith eld. Esta empresa foi comprada em 2013 por
uma lial da megaempresa chinesa WH Group, atualmente a maior produtora de carne
suína do mundo, ocupando o primeiro lugar neste ramo na China, nos Estados Unidos
e diversos países europeus.
Ainda que o vírus da gripe suína não fosse um coronavírus, a forma se converteu em
uma epidemia/pandemia é semelhante a outras doenças zoonóticas (isto é, de origem
animal). Enormes quantidades de animais de criação con nados, vacinados e
imunodeprimidos fazem com que o vírus tenha mutações de forma mais rápida. Esses
animais consomem antibióticos e antivirais continuamente, além de estarem
expostos – no ambiente e na alimentação – a diversos pesticidas desde o nascimento
até o matadouro, para que engordem mais rápido e não adoeçam, em condições
absolutamente insalubres para qualquer ser vivo.
https://www.brasildefato.com.br/2020/04/01/artigo-os-latifundiarios-da-pandemia-por-silvia-ribeiro 2/4
14/04/2020 Artigo | Os latifundiários da | Uma visão popular do Brasil e do mundo
animais, diversos tipos de cepas de vírus e contato com humanos que entram e saem
dessas instalações. O aumento da interconexão dos transportes globais, tanto de
pessoas como de mercadorias, inclusive de animais, faz com que os vírus mutantes se
desloquem rapidamente a muitos pontos do planeta.
Claro que ainda que possamos conhecer o que originou o vírus, isto não muda o fato de
que ele existe e tem consequências agora, e que é importante cuidar das pessoas,
sobretudo dos mais vulneráveis, por uma série de fatores. Ainda assim, não custa
recordar que, segundo os dados da Organização Mundial da Saúde, 72% das mortes no
mundo são causadas por doenças não transmissíveis, várias delas diretamente
relacionadas diretamente ao sistema alimentar do agronegócio, como doenças
cardíacas, hipertensão, diabetes, obesidade, câncer do aparelho digestivo, má nutrição.
Na emergência, surgem outros negócios lucrativos, tanto para as empresas como para
os bancos. Algumas, como as empresas farmacêuticas, empresas de materiais para
proteção sanitária, de vendas online e de produção de entretenimento, enriquecem de
forma ridícula com a pandemia. Outras empresas tem perdas -- que transferem às e
aos trabalhadores e à sociedade de muitos modos, inclusive no aumento dos preços --,
mas serão as primeiras a se bene ciar com os subsídios governamentais. Sob o
discurso de que há que resgatar “a economia”, a maioria dos governos não vacila em
favorecê-las antes dos sistemas de saúde pública devastados pelo neoliberalismo, ou de
milhões de pessoas que sofrem com a pandemia, não só por causa do vírus, mas
porque não tem casa, ou água, ou alimentos, ou perderam seu trabalho, ou trabalham
irregularmente e sem previdência social, não tem acesso a diagnósticos ou médicos, ou
estão em caravana de imigrantes ou refugiados em algum acampamento, amontoados
em albergues ou na rua.
https://www.brasildefato.com.br/2020/04/01/artigo-os-latifundiarios-da-pandemia-por-silvia-ribeiro 3/4
14/04/2020 Artigo | Os latifundiários da | Uma visão popular do Brasil e do mundo
Neste contexto, também surgem formas de solidariedade a partir de baixo. Junto com
ela, é necessário enraizar um questionamento profundo de todo o sistema alimentar do
agronegócio, e uma valorização profunda e solidária de todas e todos que a partir de
suas hortas e comunidades nos alimentam e previnem as epidemias.
96
RELACIONADAS
O uso da pandemia para precarizar a educação pública através de
plataformas digitais
Todos os conteúdos do Brasil de Fato podem ser reproduzidos, desde que não sejam alterados
e que se dêem os devidos créditos.
https://www.brasildefato.com.br/2020/04/01/artigo-os-latifundiarios-da-pandemia-por-silvia-ribeiro 4/4