TEATRO

O solvente
da montanha
(Como dizia o mestre Benito di Paula)

Rogério Viana

Curitiba – Paraná
Fevereiro de 2010

(todos os direitos reservados)

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O solvente da montanha

Personagens

Homem - o que escala, inspira, exala e perde a noção da realidade

Montanha - a que desafia, desafina, canta e transforma a realidade

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O solvente da montanha
Espaço vazio de fundo azul com projeção de
sombras de um emaranhado de coisas, objetos,
chaminés, edifícios, construções, aves, animais,
flores, pessoas, árvores, cipós, montanhas...
São duas escadas de alumínio de tamanhos
diferentes e degraus crescentes. Uma bem
pequena, a outra, maior. As escadas estão
presas entre si. Elas simulam o perfil de uma
montanha, de uma cordilheira, contra o fundo
azul e com as sombras. A luz da cena é azul.
Algumas vezes uma outra cor aparece mas
retorna para o tom azul. Azul de várias
tonalidades.
O homem veste bermuda de surfista, pés de
pato, um colete salva-vida de cor laranja, sob
a cabeça, uma máscara de snorkel. É uma
figura quase estática, gestos arratados, assim
como sua voz, arrastada, lenta, pastosa.
A montanha pode vestir uma malha preta de
balé, depois calça jeans e camiseta, depois,
pode por um avental de dona de casa, um
jaleco de médico. Usa uma peruca diferente,
amarela, azul, vermelha ou roxa. É uma figura
esguia e ágil. Movimenta-se com desenvoltura.
1 – Prólogo ao pé da escada – Um
degrau abaixo do primeiro degrau
Homem
(Homem está sentado no primeiro degrau de
uma das escadas)
Homem – Inspiro, exalo. Subir, subir, subir.
Parar para respirar. Olhar a paisagem. O
ar parece rarefeito. Não enxergo mais
direito, a névoa toma todo o horizonte.
Inspiro, exalo. Inspiro, exalo. Subir, subir,
subir. Parar novamente para respirar.
Respiração ofegante. O coração acelera, o
rosto fica quente, enrubescido. Respirar
bem fundo, o máximo que puder. Subir,
subir, subir. O que vim fazer aqui? Já não é
alto o suficiente para eu me considerar um
vencedor? O desafio a que me propus não
foi vencido? Eu já não me superei? Meu
recorde não foi batido? É preciso superar-
me mais? Olho para a paisagem. A névoa
é mais intensa. O frio também. A montanha
branca e azul domina toda a paisagem.
Parece que entrei dentro daquele cartão
postal, mas me vejo nele como um
pontinho imperceptível, não mais que uma
sujeira, uma sujeirinha imperceptível. É um
cocozinho de mosquito? Sou uma
sujeirinha, um sujeitinho imperceptível.
Tenho que me sujeitar a continuar nessa
subida? Sujeitando-me eu serei melhor?
No quê? Inspiro, exalo. Subir, subir, subir.
Parar para respirar. Olhar a paisagem. O
fôlego... quase estou sem fôlego. Meus
pulmões parecem que são tão grandes,
tão grandes, mas tão grandes, que eu
precisaria de dez narizes maiores, bem
maiores que os meus para conseguir
enchê-los. Cada vez que eu respiro, cada
vez sinto que meus pulmões aumentam e
que minha capacidade de enchê-los
diminui. Mas eu não trouxe minha garrafa
de oxigênio. O peso seria tanto que eu não
teria conseguido subir nem uns míseros
milímetros dentro desse cartão postal. Ah,
o frio. Um intenso e penetrante frio. Mas o
que foi que eu vim fazer aqui? O que foi?
Agora, aqui, nesse instante quando eu
contemplo o vazio, o silêncio e sinto em
mim todo o frio cortante nessa montanha
interminável, vejo que não há o mínimo
sentido de ter me desafiado de novo.
Aquele nível de 934 metros já não era
suficiente? Lá, no primeiro planalto
paranaense. Mas, não. Eu queria ganhar
altura. Deixar o nível do mar e subir. Nasci
no nível do mar, sou praiano. Lá distante
eu poderia enxergar o oceano azul. Mas o
azul daqui é diferente. É imóvel. Fixo meu
olhar e só vejo a névoa em movimento. O
azul é fixo, nas suas ondulações rochosas.
Distante do mar. E agora querer alçar
alturas inimagináveis não me parece algo
racional, com sentido. Mas o que foi
mesmo que eu vim fazer aqui? Inspiro,
exalo. Subir, subir, subir... parar... parar de
respirar. A visão está ficando turva. O frio
intenso. Frio, muito frio. A névoa invadiu
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meus olhos. Inspiro, exalo. Antes, entrou
pelo meu nariz, ressecou minha boca.
Tapou-me os ouvidos. Estou com todos os
poros entumescidos pela força da
montanha. Não há oxigênio suficiente para
alimentar as células fundamentais em mim.
É preciso oxigenar o cérebro. Não perder a
noção da altura, nem a noção de direção,
nem a noção de que a aventura era
mesmo desafiar-me a ir além. Mas ir até
onde? Inspiro, exalo. Inspiro, exalo. Falta-
me oxigênio. Frio, frio intenso. As células
parecem não responder. Estarão entrando
em colapso? Uma célula quer roubar o
oxigênio, o alimento da outra. Parece que
brigam entre si. Aqui, dentro de mim. No
meu cérebro. Nos meus pulmões. O
coração, que sempre sentiu um vazio,
mostra-se forte, não quer desistir. Procura
forças onde não tem. Inspiro, exalo.
Inspiro, exalo. Tenho mesmo que subir
mais? Ou aqui é meu limite? Vou descer
por onde subi ou posso optar pelo outro
caminho? Por onde eu vou? Para descer
por lá, terei que subir um pouco mais? E
se eu for por aqui, terei que ultrapassar
aquele outro obstáculo coberto de gelo e
incertezas?
2 – Um pouco acima ouve-se uma voz e
ela se faz presente
Homem - Montanha
Montanha – Seria muita pretensão de sua
parte desafiar-me.
Homem – Quem está falando?
Montanha – Seria muita ousadia ir além.
Homem – É o sinal do caos em mim...
Montanha – Você não veio até aqui para
suplantar-me?
Homem – Estou delirando... Quem está
falando com essa voz tão alta e clara? De
onde vem essa voz?
Montanha – Olhe ao seu redor.
Homem – Não vejo nada além dessa
névoa.
Montanha – Abra os olhos. Tire esses
óculos ridículos.
Homem – Meus olhos precisam de
proteção. A luz branca é muito forte. Cega-
me.
Montanha – Abra os olhos. Você sempre
esteve cego. Abra os olhos.
Homem – Estão abertos. Não vejo nada
além desse azul congelante. Que luz forte!
Montanha – Abra a boca. Responda em
voz alta. Abra a boca para falar.
Homem – Mas eu já não estou tão alto o
suficiente para fazer-me ouvir?
Montanha – A voz tem que sair com força.
Não balbucie, fale com força. Projete a
voz. Abra a boca! Fale!
Homem – Você não me ouve? Eu ouço
sua palavras perfeitamente. Estou falando.
Você não me ouve? Mas quem é você?
Montanha – Você sabe. Você reconhece
quem sou. Você sente minha presença.
Homem – A névoa começa a dissipar-se.
O calor ficou mais fraco em meu rosto.
Começo a sentir um frio suave na minha
face. Meu nariz sente o ar entrando e se
aquece em mim.
Montanha – Está mais calmo?
Homem – Calmo?
Montanha – Sim. Calmo.
Homem – Não sei o que aconteceu...
Montanha – Você parecia desejar jogar-se
pelo lado mais íngreme.
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Homem – Jogar-me? Como?
Montanha – Abandonar seu corpo no
vazio das escarpas azuis cobertas de gelo.
Homem – Jogar-me? Jogar-me, mesmo?
Num tipo de mergulho insano? Num
suicídio?
Montanha – Não, num tipo de fuga. Você
queria fugir e parecia que a única saída
era mergulhar em direção ao nada.
Homem – Ao nada? Mas abaixo desses
3.455 metros tem uma massa rochosa azul
coberta de gelo. Não me parece ter nada
abaixo dos meus pés.
Montanha – O nada é tudo que deixa de
ser real. Sólido, líquido ou gasoso. O nada
é tudo o que já foi, que já era, que ficou,
que não é mais. O nada é o não mais. Não
mais, entendeu?
Homem – Não mais poderia pensar? É
isso?
Montanha – Não poder. Só. Não poder
ser. Só. Não ser. Não ter. Só.
Homem – Estou confuso. A névoa dissipou
de vez. Minha voz dissipa-se no vazio do
azul sem fim. Vejo nitidamente o branco e
o azul. Só. Lá bem longe, uma luz
amarelada. Seria o sol que começa a
aparecer?
Montanha – Sim, aquela luz é que revela
meus contornos e minha dimensão.
Homem – Foi por lá que eu vim? Tudo
aquilo lá é o caminho que percorri?
Montanha – Não... Você não tem a
dimensão de quanto é aquilo...
Homem – Foi tanto assim?
Montanha – Acha que foi tanto?
Homem – Mas estou aqui. E aqui eu
vislumbro o caminho percorrido. A trilha é a
que observo abaixo dos meus pés e do
meu olhar.
Montanha – Não se sinta tão poderoso
assim. Você não saiu nem do primeiro
degrau. Não se dê tanta importância
assim. Você não saiu do primeiro degrau
abaixo do primeiro degrau.
Homem – Houve um momento em que
deixei de sentir o frio cortando meu rosto.
O rosto se aqueceu. Ficou suave mesmo
uma brisa em minha face.
Montanha – Seu rosto, todo cortado, tem
outro perfil. Ainda não dá para saber se é
de um vencedor ou um derrotado.
Homem – Se estou aqui, me considero
vencedor. Sou mesmo um vencedor ao
atingir esse ponto.
Montanha – Que ponto? Que ponto? Você
imagina mesmo que foi tão longe? Que
atingiu um ponto tão desafiador assim?
Não me faça rir. Não...
Homem – Eu me considero um vencedor.
E não importa o que a aventura fez com
meu rosto. Se eu virar de lado poderei
sentir um perfil de vencedor.
Montanha – Você tem uma mínima ideia
de quantos pseudos vencedores estão
soterrados por aí?
Homem – Quantos eu não sei. Só sei que
sou um deles. O quê? Pseudo? Pseudo
vencedores? Assim... Como?... Eu... Mas
estou aqui, podendo refletir sobre minha
caminhada. Já consigo, no presente
instante, rever toda minha trajetória. Sei
bem onde parei, onde caí, onde levantei,
onde tive que retornar, onde errei o
caminho, onde acertei por pura sorte.
Agora posso entender cada milímetro do
meu caminho. Será que você não entende
que sou um vencedor? Se não entende,
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pelo menos pode aceitar isso? Que coisa é
essa de pseudo... de pseudo vencedor?
Montanha – Quanta arrogância!
Homem – Não me classifique assim. Não
sou arrogante. Nunca fui. Nem
aparentemente.
Montanha – Além de arrogante, teimoso.
Homem – Não sou teimoso. Sou
persistente. Tenho metas. Sei estabelecer
metas em minha vida. Não pode dizer que
quem tem metas é teimoso.
Montanha – Arrogante, teimoso e ingênuo.
Ingênuo, não, burro!
Homem – Como assim? Agora passou a
me ofender. E isso não posso permitir!
Montanha – Quem age como você, é
mesmo arrogante, teimoso e burro!
Homem – Não me faça perder a paciência.
Estou equilibrado. Não me faça baixar o
nível.
Montanha – Seu nível é muito baixo para
você bradar pelo que não é, pois
desconhece o que sempre foi.
Homem – Está querendo me dizer que …
Montanha – Você sabe.
Homem – Mas isso é inconcebível ouvir,
muito mais ainda, aceitar sem ter que
reagir com firmeza.
Montanha – Firmeza? Você está de
brincadeira, percebe-se...
Homem – Não, não estou. Estou falando
muito seriamente.
Montanha – Seriamente? Veja... não há
nada de sério nessa sua manifestação.
Homem – Você está pegando pesado nas
suas observações. Por favor, reveja o que
me disse. Não aceito e refuto qualquer
insinuação ou comentário seu.
Montanha – Refutar? Você se vê em
condições de refutar alguma coisa? Se vê
em equilíbrio para não aceitar o que é e
não o que pensa ser? Não refute nada.
Aceite, simplesmente. É, só é. Ponto.
Homem – Acho que estou podendo refletir
melhor sobre o que tenho que por para
fora. Minha cabeça está em equilíbrio, sim.
Estou em pleno gozo de minhas
faculdades mentais, físicas e emocionais.
Diria até, espirituais. Se você pode
entender o que digo.
Montanha – De espírito você nada
conhece. É alguma coisa que vai muito
além do seu indulgente conhecimento.
Homem – Vim para cá para elevar-me.
Não para atingir essa altura onde já estou.
Vim para elevar-me. Para crescer
espiritualmente. Ir muito além...
Montanha – O crescimento espiritual se
dá além da vida. A elevação é superar
esse corpo, esse mundo, as coisas, os
bens materiais. Nada físico. Puro espírito!
Homem – Você me julga incapaz de não
ter plena capacidade de elevar-me
espiritualmente?
Montanha – Não, não o julgo capaz de
nada que possa ser colocado num plano
elevado de crescimento. Eu já afirmei:
você está um degrau abaixo do primeiro
degrau.
Homem – A paz que estou sentindo agora
já não evidencia que cresci?
Montanha – Paz? Você está aí arrotando
arrogância. Vomitando estultices.
Regurgitando sua ignorância e burrice
ancestral.
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Homem – Mas eu me sinto em paz. E não
vou perder o autocontrole, nem vou deixar
que minha autoestima se abata.
Montanha – Não é porque pensa estar
num nível elevado, imaginando-se estar na
altura que não está, que vai poder afirmar
estar em paz e ciente de todos os seus
atos. Viu só, como é arrogante!
Homem – Estou me sentindo menos
pesado.
Montanha – Como, como assim, menos
pesado? Sua consciência pesa muito mais
do que você imagina. Pesa muito mais que
seu corpo. Você pesa muito. Tudo é
pesado em você. Somando-se a ela, sua
consciência inchada, seus erros, seus
pecados, suas omissões, sua interminável
insegurança, o peso de tudo isso é
incalculável. Veja... você mal consegue
erguer o seu queixo!
Homem – Estou me sentindo livre.
Montanha – É mesmo um perfeito idiota.
Como pode atribuir-se um tamanho grau
de pretensa liberdade?
Homem – Estou inteiro.
Montanha – É mesmo? E os pedaços que
foi largando pelo caminho? Acha que ficou
impune a tantos pedaços que permitiu que
lhe roubassem?
Homem – Estou.
Montanha – Não. Você pensa que está.
Mas não está e nem pensa. Sua reação é
sintomática de um desequilíbrio, de um
estado de desintegração, de dissolução
que vem aos poucos se acentuando e vai
ganhar dimensões não imaginadas. Será o
caos. Logo perceberá isso definitivamente.
Homem – Sei.
Montanha – Não, não mesmo.
Homem – Tenho certeza.
Montanha – Se se desse conta de...
Homem – Não deixarei de acreditar.
Montanha – Mesmo ainda já se vendo
morto?
Homem – Estou vivo.
Montanha – Não é o que parece.
Homem – Consciente.
Montanha – Nisso você está
completamente equivocado.
Homem – Pleno.
Montanha – Só se for de incertezas.
Homem – Verdadeiro.
Montanha – Ah! Só faltava mesmo isso,
agora!
Homem – E é com a verdade que me
libertarei.
Montanha – Quantas besteiras falam em
nome da verdade!
Homem – Ela se apossou de mim.
Montanha – Se você disser que a verdade
o libertará, prometo que moverei o curso
do universo para provar-lhe o contrário.
Homem – Se estou livre, a verdade me
libertou mesmo.
Montanha – Ah, é assim? Então coloque a
mão no bolso superior de seu colete salva-
vida e me diga o que tem nele?
(homem se mostra surpreso ao tirar de dentro
do bolso do colete um pequeno frasco com um
conta gotas)
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3– Um vidrinho com um líquido pleno
de mistérios e perigos
Homem - Montanha
Homem – Mas quem foi que colocou isso
aqui? O que é isso? Algum colírio para
proteger meus olhos durante minha
escalada ao topo do mundo?
Montanha – Cuidado! Não o abra!
Homem – O que tem aqui?
Montanha – Tenha muito cuidado! Não
abra, não abra! É uma determinação final.
Homem – Mas o que tem aqui? Não me
lembro de ter trazido nenhum tipo de
colírio. Ainda mais com um conta gotas...
Montanha – Você pensa que por estar
aqui um conta gotas não iria funcionar?
Homem – Não quero nem pensar, pois
seria muita burrice se eu trouxesse algum
remédio líquido. Ainda mais com conta
gotas. Mas o que é isso? Como foi que
colocou isso no meu bolso?
Montanha – Isso está com você há muito
tempo.
Homem – Isso é o que? Significa o que
isso?
Montanha – Isso é muito perigoso, isso
tem que ter muito cuidado com sua
manipulação.
Homem – Mas estou segurando esse
vidrinho. Não manipulei nada.
Montanha – Tenha cuidado, não abra em
hipótese nenhuma!
Homem – Mas então porque razão
colocaram aqui nas minhas coisas. Aqui,
como deixaram aqui no meu bolso?
Montanha – Isso o tem acompanhado pela
vida toda, mas somente aqui, é que você
poderia ter contato e conhecimento sobre
seu conteúdo. Sobre sua importância e
perigo.
Homem – Perigo! Isso aqui é perigoso?
Mas, então, como foi que colocaram uma
coisa perigosa no meu bolso. Logo no meu
bolso, no meu salva-vida.
Montanha – Cuidado, é muito frágil!
Homem – Mas se é perigoso, como foram
colocar numa embalagem assim tão frágil?
Montanha – Não poderia ser
acondicionado num outro tipo de
embalagem. Além do mais, tenho que
esclarecer, o que tem nessa embalagem
frágil, é uma solução que foi diluída em
uma bilionésima fração, de uma
bilionésima fração de um bilionésimo
micrograma da molécula original diluída
em quatro bilhões de micropartículas a
partir do menor átomo que se conhece.
Homem – É mesmo? Tão potente assim?
Tão forte assim?
Montanha – Sim, é muito mais potente do
que você imagina.
Homem – E se tem todo esse poder, por
que cargas d´água veio parar aqui no meu
bolso?
Montanha – Você foi o escolhido para
desvendar esse mistério...
Homem – Mistério... Eu sempre detestei
mistérios, enigmas... Sempre fui muito
prático e nunca voltei meus olhos para
seitas ou poções misteriosas... Não vejo
razão, então, disso estar aqui em minhãs
mãos, agora.
Montanha – Mas não se discute o que
veio por determinação do Tempo!
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Homem – Do Tempo?
Montanha – Sim, do Tempo, o senhor de
todos os destinos.
Homem – Isso é algo que vai além do meu
entendimento e não gosto de me apegar a
coisas com uma carga esotérica como
essa. Logo do Tempo?
Montanha – Tenha cuidado com a
embalagem e principalmente com seu
conteúdo, aparentemente inofensivo e com
aparência de água. Será que você pode
voltar a embalagem dentro do seu bolso?
Com cuidado... Já sabe que é perigoso o
seu conteúdo.
Homem – Mas você disse que é perigoso,
que isso foi colocado aqui por
determinação do Tempo, e se eu entendi
bem é uma poção muito diluída, portanto,
não deve ter essa força toda, nem
representar todo o perigo que, afinal de
contas, é perigo para quem?
Montanha – Por favor, guarde. Vai estar
muito segura no seu bolso, que em sua
mão. De lá ela não poderá sair, nem cair,
nem quebrar. No seu bolso ela estará
muito segura e protegida de tudo. É o mais
seguro de todos os lugares... Lá a
segurança é total!
Homem – Sim, ficará guardada. Sou
cuidar... Mas que substância é essa tão
perigosa?
Montanha – Você tem visto, ultimamente,
o noticiário de televisão?
Homem – Sim, vejo sempre o noticiário.
Não só pela televisão, mas pela internet
também. A última vez foi...
Montanha – Não tem importância. Você
tem mesmo visto o noticiário e sabe o que
tem acontecido com nosso mundo? Tem
visto o que de estranho acontece por aí,
em vários lugares, em latitudes e
longitudes distintas? Sinais que são
deflagrados em várias partes do nosso
mundo. Que acontecem lá, um pouco mais
além... aqui, ao nosso lado, na
extremidade do nosso continente... Por
aí... Você tem notado algo estranho e já se
deu conta de quanto é estranho o que tem
acontecido?
Homem – Sim, eu me mantenho
atualizado. Mas estranho... estranho
mesmo não tenho notado nada... Mas
quanto as notícias... Ah, as notícias... sim...
As notícias importantes devem ser
analisadas sempre. Um homem bem
informado é um homem com mais valor...
Montanha – Você tem notado algo
extraordinário no noticiário? Algo que
chame sua atenção e que você ainda não
conseguiu entender suas razões?
Homem – O noticiário sempre traz coisas
estranhas... Se não fosse assim, não seria
noticiário, não é? Mas algo extraordinário!
Bem... não tenho percebido coisas
extraordinárias acontecendo não! Não,
mesmo!
Montanha – Mas, algo, algo em particular,
que você tenha notado e que, de alguma
maneira, tenha uma ligação com alguma
coisa que possa ser julgada sem
importância?
Homem – Como assim? Eu não me ligo a
coisas sem importância. A mim não me
ocorre nada desimportante vinculado a
algo muito importante. Não percebi nada,
ultimamente. Não mesmo!
Montanha – Você gosta de música?
Homem – Eu me amarro... Mas só em
música boa...
Montanha – Música boa é sempre uma
questão relativa.
Homem – E o que tem a música a ver com
9
essa substância misteriosa e tão forte
assim? É essa relação que você pretende
estabelecer? Música com o que está no
vidrinho?
Montanha – Sim... é essa relação sim,
aparentemente sem vínculo entre si. Mas...
mas tem tudo a ver. E é um sinal. Espero
que você já o tenha captado em algum
momento. Quando eu revelar, quando você
ficar sabendo, vai associar uma coisa a
outra. Espere e saberá. Você ainda não
sabe, não reconhece, ainda não sabe
como isso tem ligação entre si. A música e
o vidrinho.
Homem – Novamente sinto-me em uma
posição de desconforto. Não sou afeito a
mistérios. Nem de vidrinhos, nem de
canções. Coisa mais sem sentido! Será
que estão fazendo música líquida? Algo
que já vai além do MP4? Do meu I-phone?
Montanha – A música não é algo em si
mesmo. Mas a música aparece como um
aviso, um sinal... Sim, foi um sinal. Uma
sinalização muito grave, muito importante
e que estava ligada a algo terrível em sua
dimensão no tempo e no espaço.
Homem – Mas uma simples música... Um
tipo de canção? A um simples vidrinho com
um conta-gotas desses? Agora me veio à
lembrança aquele som do filme “Contatos
imediatos...” Sabe qual... Pim... pam...
pum... pum... pum... Pim... pam... pum...
pum... pum... Sacou?
Montanha – Não... Não tem a ver com
seres de outros mundos... de outras
galáxias... Mas é uma simples canção que
é reveladora. É um tema profético. Uma
revelação... É um... Um samba...!!!
Homem – Brincadeira! O quê? Samba?
Logo um samba? Que credibilidade teria
um samba? Ainda mais com uma
revelação, um mistério... Mistério não
combina com batucada... Você deve estar
ciente disso... Um samba... que viagem!
Montanha – Ouvidos afinados com o
tempo captam mensagens em todo tipo de
música. Você não é do país do samba?
Teria que ser uma valsa, por um acaso,
para que a mensagem chegasse até você
e promovesse o que será necessário? Ou
você ia preferir uma música mais
sincopada... um “standard” de jazz? Um
rap?
Homem – Não, não, não... se é samba,
está bem, está bem, mas é um samba do
Noel Rosa? Ou do Paulinho da Viola... Ah,
claro, do Cartola? Da dona Ivone Lara?
Desse time da pesada... Eu me amarro até
no Zeca Pagodinho... O cara é hilário! E
tem um balanço...! Ligadaço!!!
Montanha – Não, não... não são esses
autores... Mas é um samba profético.
Todos os citados são excelentes
compositores, mensageiros iluminados do
seu tempo, mas o samba em questão é um
samba profético pois foi composto e
gravado por um grande profeta. Embora
ele fosse, naquela época, um homem
franzino, magrinho... naquela época... ah...
naquela época... suas barbas e cabelos
longos já assinalavam o poder de suas
proféticas palavras. Um ser iluminado, um
profeta mesmo! Um profeta e seu profético
samba! Uma profecia com ritmo,
cadência... Ah, quanta cadência!
Homem – Poxa! Não consigo associar a
imagem de um compositor magrinho,
franzino e de barbas e cabelos de profeta!
Raul Seixas? Raul... bem... não, seria o
Raul. Ele, poderia ser um profeta, mas do
velho e bom rock´n´roll!
Montanha – Será que se eu cantar um
pedaço do profético samba você vai
reconhecê-lo? Será que terei o poder de
fazê-lo compreender? Ah... será? Mas... eu
não sou boa cantora. Nunca fui. No
máximo, reproduzo, de vez em quando, o
som dos ventos. Ou as vozes de quem se
perde entre os terríveis despenhadeiros de
minhas encostas. No máximo... Samba,
10
bem... vou tentar.
Homem – Sinta-se à vontade para cantar.
Se eu me lembrar da música, talvez eu
consiga ajudá-la com o tal samba
profético... Mas nada me ocorre de
profético agora... ainda mais num samba!
Montanha – Preste atenção... sintonize-se
com o samba... preste atenção no que as
palavras transmitem como importante
mensagem... Quando eu falar qual é o
nome do samba você vai logo associar a
mensagem com a importância que tal
samba tem.
Homem – Você havia me deixado
aborrecido e bravo no começo de nossa
conversa. Agora, veja só, estou curioso. E
já nem sinto mais aquele desconfortante
frio e falta de ar.
Pois bem, cante...
Montanha – Ham, ham... ham, ham...
Tenho direito de limpar a garganta, já que
não pude fazer um bom aquecimento vocal
para cantar, assim, à capela... Então...
então vai...
Homem – Comece... Vou prestar atenção,
não se preocupe com a afinação ou o
ritmo... Quer que eu faça uma batida, um
batuque, uma marcação com as palmas
das minhas mãos?
Montanha – Não, não precisa... Mas sinta-
se à vontade de me acompanhar, cantando
ou batendo as mãos, caso o samba lhe
seja conhecido... Então vai...
(as primeiras notas e o ritmo são dados como
se fosse num karaokê. Sim, num karaokê bem
modesto e simples)
4– Um samba profético: Como dizia o Mestre
Benito di Paula
Montanha - Homem
(começa meio desafinada, afirma a voz.
Recomeça com toda a força e emoção. Os dois
cantam juntos, no ritmo e bem afinados)
http://letras.terra.com.br/benito-di-
paula/174981/
Como Dizia O Mestre
(Benito di Paula)
É, acaba a valentia de um homem
Quando a mulher que ele ama vai embora
É, tanta coisa muda nessa hora
Que o mais valente dos homens chora
É, acaba a valentia de um homem
Quando a mulher que ele ama vai embora
É, tanta coisa muda nessa hora
Que o mais valente dos homens chora
Diz que faz e acontece
Que não tem medo de nada
Levanta a voz, fala alto
Maltrata a mulher amada
E quando ela cisma e vai embora
A montanha se desmancha
E o mais valente dos homens
Chora como criança
É, acaba a valentia de um homem
Quando a mulher que ele ama vai embora
É, tanta coisa muda nessa hora
Que o mais valente dos homens chora
É, acaba a valentia de um homem
Quando a mulher que ele ama vai embora
É, tanta coisa muda nessa hora
Que o mais valente dos homens chora
Diz que faz e acontece
Que não tem medo de nada
Levanta a voz, fala alto
Maltrata a mulher amada
E quando ela cisma e vai embora
A montanha se desmancha
E o mais valente dos homens
Chora como criança
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Homem – Que parada! Que lance! Que
barato! Liguei-me no lance! Mas, me
conte... Onde você foi achar esse samba?
Benito di Paula! Meu amigo Charlie
Brown... quanta saudade! Por onde anda o
Benito di Paula?
Montanha – Foi difícil lembrar-se do
samba?
Homem – Não, não foi difícil... Tem certas
músicas que ficam guardadas no nosso
subconsciente e aparecem quando a gente
menos espera. É um samba gostoso...
Montanha – Gostoso?
Homem – Sim, gostoso, pelo ritmo. E um
balanço legal esse do grande Benito di
Paula!
Montanha – Então você se identifica com
ele?
Homem – Eu sempre me identifiquei com
o Benito di Paula. Infelizmente ele anda
tão sumido das rádios... Mas... mas hoje
não é muito minha praia...
Montanha – Eu não falei em identificação
com o Benito di Paula, mas sim com sua
mensagem... com a importante mensagem
que o samba dele trás.
Homem – Mensagem, que mensagem! É
um samba, ora...!
Montanha – Sim, um samba profético com
uma mensagem importante que terei que
revelar para você... Traduzi-la dentro de
uma linguagem mais acessível. Linguagem
acessível a você... e a tantos outros seres
do planeta.
Homem – É mesmo... mas o samba...
bem... vou tentar me lembrar da letra... Dá
para cantar de novo?
Montanha – No bolso do lado esquerdo,
na parte inferior do seu salva-vida tem uma
cópia da letra...
Homem – O quê? A letra do samba está
no meu bolso? Que viagem! Será que eu
bebi? Fumei ou cheirei?
Montanha – Sim, está...
Homem – Que coisa incrível... quem
colocou a letra aqui? Além do mais, está
plastificada, bem feita...Que viagem!
Fiquei amarradão na parada!
Montanha – O que tem de profético você
poderá descobrir ao ler com atenção...
preste atenção nas entrelinhas e no que o
mestre, o profeta Benito d i Paula quer
dizer... É uma mensagem importante para
toda a humanidade.
Homem – Olha, não quero ser chato, mas
eu não vejo nada de profético nessa letra.
Mas, o que me surpreende, é como a letra
foi parar aqui no meu bolso?
Montanha – O que lhe parece a letra?
Homem – Bem, deixa eu ver (cantarola
enquanto lê)... O cara batia na mulher... era
metido a besta, valentão... e ela cansou de
apanhar e se mandou... Saltou fora!
Montanha – É isso que você está
entendendo da mensagem profética?
Homem – Profética, que profética coisa
nenhuma. Você viaja, hein? Profética? Que
viagem! Bem... vou me ligar... É mesmo...
um cara se lamentando da mulher que ele
perdeu por a tratar mal... A mulher cismou
e se mandou... é essa a mensagem
profética? Não vejo nada profético aí. É
tudo muito claro... Mulher não gosta de
apanhar e ser mal tratada... é isso. Ela se
mandou e o cara está chorando,
arrependido. Se ferrou, está sabendo?
Montanha – Você não percebe as ligações
simbólicas, metafóricas, das palavras que
o mestre diz? Percebe as ligações
12
simbólicas da profética mensagem?
Homem - Pirou? Que nóia, meu!
Metafóricas porra nenhuma. É tudo muito
direto! O cara batia, tratava mal, a mulher
encheu o saco e se mandou! Saltou fora. É
isso!
Montanha – A mensagem é uma metáfora
para o mundo de hoje. O homem valente
você sabe quem é? Não dá para perceber
o simbolismo do homem valente? Meu
Deus... Meu Deus! Abra seu coração e
entenda a mensagem do mestre, do
profeta Benito di Paula... A mensagem...
perceba a mensagem. Quem é o homem
valente? Não percebe quem é o tal homem
valente?
Homem – Eu não sou esse tal homem...
Comigo é tudo na base da paz, do amor e
do carinho. Tem outros lance, claro! Mas
na boa... estou sozinho... Eu já vivo
sozinho mesmo sabendo dar e fazer
carinho, já imaginou se eu fosse desse tipo
valentão?
Montanha – Preste atenção! Se ligue,
rapaz! A valentia de um homem é um
símbolo! É um símbolo! Simbolizam os
países que tratam mal a natureza. Leia o
texto com outros olhos. Esse seu óculos
ridículo o deixou cego e burro? Abra seu
coração para a mensagem que é muito
clara. Não há força, não há valentia dos
países que maltratam a mulher – a
natureza – quando ela o abandona? Deu
para perceber agora? Quando ela
abandona quem a maltrata, ela não
apenas vai embora. Ela deixa de trazer o
bem. A mulher que se manda é a mulher, a
mãe, a natureza... Sem ela... os desastres
terríveis da natureza começam a aparecer,
aqui, ali, lá mais adiante. Chuvas fortes,
inundações, deslizamentos de terra,
montanhas vindo abaixo, fogo nas
florestas, geleiras derretendo, terremotos,
maremotos, tsunamis... O mestre cantou
simbolicamente tudo isso. Preste atenção.
Homem – Será? Que viagem! Que barato!
Logo um samba! Mas profético! Será?
Montanha – Abra seu coração para
perceber a dimensão da profecia do
grande mestre...
Homem – O que tanta coisa muda nessa
hora? O que o mestre, então, quis dizer
com isso?
Montanha – Está aí, no que acabei de
explicar. Tanta coisa muda nessa hora... O
que é tanta coisa? Lá no Haiti morreram
mais de 400 mil pessoas, muitas delas
desapareceram misturadas na poeira, no
concreto, na madeira que não resistiu ao
forte abalo. Tanta coisa muda nessa hora,
percebe? Estava tudo em pé... as pessoas
estavam vivendo, caminhando... e tanta
coisa muda assim... A terra sacudiu tudo...
E tudo mudou a partir de então... Tanta
coisa muda nessa hora... Arrebenta...
mata... soterra... Gente boa, gente fina...
gente importante, gente que nem
importância se dá... Ou gente que não
conseguiu que dessem importância para
ela... É o lance, entendeu?
Homem – Não pode ser, nem
Nostradamus foi assim interpretado... Nem
Nostradamus... Mas logo Benito di Paula?
Num samba?
Montanha – O profeta Benito di Paula tem
que ser visto com outros olhos... Ouvido
com uma respeitosa atenção. Um
verdadeiro profeta não se manifesta com
clareza... Tem que usar de artifícios para
chamar a atenção. E nem é assim, no seu
tempo que ele passa a ser entendido. Tem
que haver uma acomodação das palavras
para que elas possam revelar seus
verdadeiros significados. Tudo na hora
exata. Ainda mais quando se trata, como é
nesse caso, da profecia vir através de um
samba. Samba... música do terceiro
mundo. Ritmo feito com os pés... com a
bunda... Ninguém daria importância para
um samba, você vai dizer... E profecia em
13
samba, muito menos... E a letra do tal
samba... aparentemente um caso de amor
e de violência doméstica. Mas não é. A
casa do homem valente – quem é o
homem valente? - é seu território. E o
território do homem valente, com armas
pesadas, invadindo tudo a pretexto de
estar defendendo os mais fracos... O
homem valente é o símbolo que o profeta
quis dar para os Estados Unidos. Sim, não
faça cara de espanto... Apocalipse Now!
Nada da “Cavalgada das Walquírias”, nem
Coppola... Nem Marlon Brando e seu
exército de excluídos e loucos...! Nada de
Vietnam... As bombas de napalm... o
agente laranja... desfolhantes...
queimaduras... mortes... Os soldados dos
Estados Unidos morrem. Vietcongs
explodem junto com afegãos, iraquianos...
As explosões aumentam, a reação dos
países invadidos é de provocar mais
morte. Então, o homem valente chora. O
mais valente dos homens chora. Percebe a
profundidade da profecia? E não adianta
fugir... o homem chora diante das duas
torres que viraram pó... Assim... pum...
pum... Tudo ruiu e veio abaixo! Entende a
profundidade da profecia?
Homem – Mas será? Não pode ser
assim... é uma livre associação o que você
está fazendo... Não pode ser assim... Não
estou ficando maluco, estou? Que viagem!
Doidera, braba!
Montanha – Quem é que diz que faz e
acontece? Algum país sem importância
teria coragem de dizer que faz e acontece?
Bem... até pode ser... Tem cada político
morrendo de vontade de arrebentar com
todas as instituições, calar a imprensa... e
assumir-se poderoso para dizer que faz e
acontece... Ah... veja bem... Preste
atenção... Os discursos... não dos países
pobres... Veja... preste atenção... Os
discursos dos países que agridem e que
querem agredir a mulher, a mãe, a
natureza não é sempre assim? Violenta,
arrebenta tudo, afronta... diz que faz e
acontece. Diz que faz mal e faz mal. Diz
que não quer diminuir sua emissão de
gases nocivos ao meio ambiente. E o que
acontece? Chuvas ácidas, terremotos,
águas contaminadas, explosões,
enchentes... E o dinheiro para compensar
as tragédias? Onde está? Nos cofres
suíços e nos paraísos fiscais... Lá,
esquentando sob o sol do Caribe... Aquele
dinheiro que precisa ser lavado...Tudo isso
o que a gente está vendo no noticiário. Viu
só o que aconteceu no Chile... Então,
nosso vizinho... ao sul da América do Sul...
O Chile sofreu um dos mais fortes
terremotos que se tem registro na história
da humanidade. E qual a razão disso? O
Chile está na mesma camada tectônica
que os Estados Unidos, no tal anel de
fogo... O que os Estados Unidos estão
fazendo de mal contra a mãe, a mulher, a
natureza, veio refletir diretamente no Chile.
Logo eles, tão mais pobres. Depois, nas
imagens da TV, o homem chorando. Sem
saber o que fazer... É fácil perceber agora?
Homem – Que nóia! Doidera, mano!
Doidera! Que coisa mais das braba! Mas
isso não pode ter uma relação direta, de
causa e efeito. As coisas não são assim...
Não são... Isso não é profecia... O samba
não diz isso... Não venha por minhocas em
minha cabeça!
Montanha – Percebeu que há muita
clareza quando o profeta diz que o tal
homem valente, que não tem medo de
nada, que faz e acontece... aquele que
levanta a voz, fala alto, maltrata a mulher
amada. Quem tem levantado a voz? Você
não vê na televisão isso todos os dias?
Quem é que levanta a voz, não
respeitando a opinião de mais ninguém,
como se a voz dele fosse única e
exclusivamente a voz da verdade? De um
lado, tem os Estados Unidos, que usa de
sua força e valentia para defender os
outros – que diz defender -, com uma
violência tão absurda... Com o uso de
tanta e desmedida força! E do outro, tem a
reação... Não ainda da natureza em sua
forma mais exuberante e terrível. Mas a
14
voz de certos países beligerantes quanto
os Estados Unidos não mais querem
armas convencionais. Não é isso que se
vê nos jornais, na TV? A eles não cabem
armas que matam pouca gente. Querem
armas terríveis. O poder nuclear. Bombas
atômicas. Mísseis de longo alcance. Ter a
bomba nuclear como forma de dizer que é
para se defender. No fundo é ter uma arma
sempre apontada para o suposto inimigo.
Os contrários querem acabar com Israel,
por exemplo... Quem quer acabar com
Israel? Não é esse o discurso do Irã? É a
força contrária ao homem valente. É o
homem valente falando outra língua. Uma
língua tão temível quanto a dos yankees...
A dos mísseis, do poder nuclear, das
explosões... das mortes sem significado...
Há mais poder de destruição que a
omissão? Há mais poder que o controle
das safras, do dinheiro que nasce de
tantas negociatas, que nasce de lavouras
sujas pela corrupção e que dá tanto poder
a gente tão sem alma, tão sem caráter, tão
sem ética, tão desprovido de valores
morais e de dignidade?
Homem – Você está me deixando em
dúvida... Que viagem, mano! Não sei se
isso tem respaldo – acho até que não –
mas você explicando isso, tudo começa a
parecer que há mesmo uma relação. Mas
profeta, o Benito di Paula? E fazendo sua
profecia com um samba antigo? Que
barato! Doidera, mano!
Montanha – A voz do profeta vem mesmo
de tempos muito antigos. O que pode
parecer ultrapassado, hoje em dia se
reveste de características tão
espetaculares que é preciso respeitar e dar
ouvidos, sim. O homem valente agride a
mulher natureza e ela cisma e vai embora.
Quando a mulher natureza vai embora,
deixa o campo aberto para grandes
tragédias e desastres naturais
acontecerem. A mulher que parecia ser
amada pelo filho gentil e carinhoso, deixa
de ser bem tratada pelo filho e pelo pai,
pelo homem valente. Ela deixa sua casa –
a natureza vai embora – e, chove um
pouco mais forte e a montanha se
desmancha... A montanha se desmancha e
leva tudo, soterra tudo, mata milhares de
pessoas. E nem é preciso chover tão forte.
Mas a força da natureza que se foi e que
deixou o espaço vazio para o caos reinar é
assim. Tragédias, tremores, tremendos
desastres na água, na terra, nas sólidas
montanhas como eu...
Homem – Como assim? … nas sólidas
montanhas como eu...?
Montanha – Eu sou uma das filhas da
mulher, da mãe Natureza... Eu sou uma
das partes exuberantes da família... Eu
sou uma montanha. Eu sou uma
cordilheira. Eu sou um maciço. Eu sou
uma serra, um monte, uma elevação. Eu
sou a irmã exuberante da planície. Eu sou
a irmã portentosa da coitada da minha
irmã depressão. Sou prima do vale, da
savana, do alagadiço, do deserto. Sou a
montanha, a exuberante montanha onde
você veio se aconselhar e receber a
mensagem do grande profeta. Quando eu
falo outras línguas, sou irmã dos fiordes,
dos canyons, das pradarias, das estepes
russas, dos maciços alpinos. Sou o monte
Everest! Sou a lavoura arcaica, sou a
caatinga, sou o Pantanal, sou as florestas
com pinheiros. Quando venho para o sul,
no continente sul americano, sou os
Andes. Tenho primos muito bravos
espalhados por aí. Os vulcões que nunca
adormecem. Sou prima do Vesúvio. Sou o
Aconcágua. Sou o Mont Blanc! Você já me
viu no Dedo de Deus. Sou a Sierra
Nevada. Sou o que minha mãe quer que
eu seja. Apontando para o alto, com meus
seios rochosos e minhas curvas femininas
e perigosas. Eu sou as curvas do rio
Amazonas, as curvas intermináveis dos
pequenos cursos de água doce. O doce
das águas do Paraná, do rio da Prata, do
Mississipi, do Gânges, do Sena, do
Tâmisa, do Pó, do Tibre, do Eufrates. Ah...
do Nilo... As curvas perigosas de uma
mulher... Molhando-me sempre a cada
15
sensação mais forte, derretendo-me,
assustando os homens pouco habituados
a isso que é vida em nós.
Homem – Doidera, geral! Pegou! Você é
uma montanha mesmo? Tudo isso? Você,
a montanha que me acolheu em minha
fuga, meu desafio insano? É você que
demonstra paz, quando parece dormir,
mas que está com tudo pronto para deixar
rolar ladeira abaixo, se perder nos
penhascos, nas fissuras da terra... até as
profundezas do inferno?
Montanha – Sim, sou eu. A montanha que
o acolhe agora, sou eu. E não foi por um
simples acaso que você veio até mim. Não
foi. Eu tinha que me confrontar com você
no seu desafio sem propósito. No fundo
haveria de ter uma explicação para que
você pudesse traduzir para outras pessoas
as minhas palavras e as palavras agora
reveladas do grande mestre Benito di
Paula, o profeta da mulher que vai embora.
A mulher natureza.
5– Umas gotas de MDM – Molécula
Desintegradora de Montanhas
Homem – Eu sairei ileso dessa aventura?
Doidera! Braba!
Montanha – Ileso ninguém sai quando se
defronta com uma força tão imensa.
Ninguém sai ileso dessa aventura, desse
confronto. Mas você pode sair fortalecido
com o que vai aprender. Terá que
apreender, também o que não é
meramente um aprendizado, mas um
ganho que você apreende por outros
meios que os traduzidos em palavras, em
discursos. Não há regras para aprender.
Há ensinamentos definitivos para
apreender. Comece a sentir pela pele...
Sinta-o pelo nariz... entrando agora pela
boca... os olhos, sim, os olhos... abertos,
abertos... Os ouvidos sensíveis... Ah... Sou
irmã dos ventos... do Mistral... dos ventos
escondidos... dos furacões.... sou um
tufão... Uma tromba d´água quando sou
homem e mulher ao mesmo tempo...
Homem – Você me deixou com medo...
Doidera! Fiquei com medo!
Montanha – Abra seu coração e apreenda,
definitivamente, o seguinte...
Homem – Mas estou com medo. A
temperatura começou a baixar em mim.
Sinto muito frio. Tenho fome... Uma fome
muito grande. Que vontade de comer um
doce... O que não daria para uma barra de
chocolate...! Que fome! E essa luz, está
ficando mais forte... Tenho que usar o
óculos que você considera ridículo... Os
meus, escuros, ideais deixei por cair ao
longo do caminho até aqui... Quanta falta
me faz meu óculos escuro!
Montanha – Preste atenção para o que
vou lhe ensinar. É uma lição única.
Homem – Estou com mais frio... O que
tenho que fazer? O sol, o sol não aquece e
todo esse imenso bloco azul e branco me
abraça. Parece que entrei num freezer...
Que frio! Que fome! Doidera! Braba!
Montanha – Sabe o vidrinho com o conta
gotas que eu pedi para você ter cuidado
com ele? Esse que sempre esteve com
você... Que está no bolso do seu colete
salva vidas?
Homem – Sim, está aqui... no vidrinho que
eu nem imaginava estar comigo...
Montanha – Retire o vidrinho do seu bolso
com muito cuidado e o pegue com carinho
com as duas mãos... Segure-o com
delicadeza... Olhe para ele... Preste
atenção na força que ele emana... No
perigo que ele armazena...
Homem – Nossa! Que medo me dá dele
cair...
Montanha – Não tema, agora... Mesmo
16
com as mãos trêmulas... Não tema, agora.
Concentre-se e abra seus ouvidos, seus
olhos e seu coração...
Homem – O que faço?
Montanha – Segure o vidrinho e ouça com
atenção.
Homem – Está bem, está bem...
Montanha – Relaxe... Ouça agora o que
vou lhe dizer e que é definitivo para seu
aprendizado e para que você retransmita
eternamente para toda a humanidade:
esse vidrinho contém MDM. MDM, sim um
importante MDM... Sim, três letras... M...
D... M... Sim, o importante M... D... M...
Sim... MDM... O mais poderoso solvente
de todo o universo. MDM... sim MDM, o
solvente da montanha. MDM... Guarde
bem essa sigla. Guarde bem essas três
letrinhas... M... D... M...
Homem – MDM, um solvente? Solvente da
montanha? Mas o que é MDM? O que é?
Montanha – MDM, sim... MDM... Uma
sigla importante... MDM é a sigla de
Molécula Desintegradora de Montanhas. M
de molécula... D... de desintegradora... M...
de montanha... Molécula Desintegradora
de Montanha.
Homem – Doidera, mano! Mas que porra
de MDM? MDM... o que faz essa molécula,
essa molécula aqui no vidrinho que você
disse ser perigosa e muito forte, mesmo
estando tão diluída...
Montanha – A MDM que você está
segurando agora tem um elevadíssimo
poder que se mede pelo FDM – Fator
Desintegrador de Montanhas. É ele que
mede a força que provoca o EDM...
Homem – Pare, pare! Não me confunda
mais... Estou zonzo... São tantas siglas...
Letrinhas... sim... Quantas siglas... Estou
confuso...!!!
Montanha – Preste atenção... Você tem
nas mãos o mais poderoso de todos os
solventes... MDM é o que está no seu
vidrinho. É a molécula das moléculas... Viu
só... MDM. Molécula das Moléculas... Mas
essa MDM é a Molécula Desintegradora de
Montanhas, pois uma pequena gota dessa
molécula faz uma montanha desmanchar
em uma fração de segundo. Uma pequena
gota pode derreter o Everest, pode
desmanchar o Mont Blanc, pode por para
baixo toda a Cordilheira dos Antes. O Pão
de Açúcar, então iria para o chão junto com
o Corcovado e toda a Serra do Mar.
Homem – Mas o que é FDM? Que merda
é essa, porra!?
Montanha – É o fator, o que determina sua
força, sua potência, a amplitude de sua
ação solvente... é o que mede o poder de
destruição que tem, que carrega.
Homem – Doidera! Mano, que doidera! E,
afinal... o que é EDM?
Montanha – É o efeito provocado pela
MDM... Quanto maior for o FDM do MDM
maior será o efeito da dissolução, da
desintegração da montanha. Está
percebendo o poder que tem agora em
suas mãos? Tem noção desse poder com
você no frágil vidrinho?
Homem – Então... se eu deixar o vidro
quebrar posso destruir todas as
montanhas do mundo? Posso ser
responsável pelo maior desastre de todo o
universo? Posso acabar com a vida na
terra?
Montanha – Pode... Pode, sim... E você é
o guardião dessa terrível e temível poção
de efeito devastador.
Homem – Mas porque eu fui o escolhido
para essa missão tão importante? O que
fiz para ser castigado com essa
responsabilidade que não tenho e que não
me sinto capaz?
17
Montanha – Você percebe a força da
profecia, da mensagem do mestre Benito
di Paula? Percebe a força do solvente da
montanha? E percebe que papel você tem
para desvendar para o mundo a profecia?
Homem – Eu, aqui, no alto dessa
montanha, passando o maior frio, com
essa luz forte me cegando, morrendo de
fome e de sede... Preciso comer um doce!
Uma barra de chocolate! Derretendo em
minha boca!
Montanha – O MDM foi confiado a você. E
é você quem vai poder usá-lo a partir de
agora com a responsabilidade que precisa
assumir e com o risco de usá-la para o
bem ou para o mal?
Homem – Eu não me acho capaz de
tamanha responsabilidade... Cadê aquele
chocolate?
Montanha – Você pode, com uma simples
gotinha, derreter essa montanha a seus
pés!
Homem – Quero que derreta na minha
boca...
Montanha – Uma simples gota... Uma só
gotinha de MDM... Derrete tudo!
Homem – Uma barra de chocolate
derretendo em minha boca... aquele
docinho...
Montanha – Uma só gotinha...
Homem – Derretendo tudo... docinho...
Montanha – Dissolvendo...
Homem – Dissolvendo em minha boca...
bem doce... saciando meu desejo.
Montanha – Dissolvendo...
Homem – Ah! Vou pingar uma gota dela
nos meus olhos...
Montanha – Não faça isso! Uma gota de
MDM nos seus olhos fará você enxergar
todas as riquezas minerais que existe na
natureza... Mas você nunca poderá ter
acesso a elas... Nem poderá indicar essas
riquezas para ninguém... Não faça isso!
Nunca!
Homem – Vou pingar, então, no meu
ouvido... Deve me ajudar...
Montanha – No ouvido, não! Se pingar no
ouvido você vai ouvir tantas vozes, mas
tantas vozes... que enlouquecerá... Pois
você ouvirá, até a voz dos mortos e a voz
dos que ainda não nasceram... Ouvirá,
muito mais sua voz interna... Será uma
revolução de vozes, de lamentos, de
gozos, de alegrias, de choros e de
tristezas...Vozes terríveis, de dor e de
abandono... Vozes jamais ouvidas. Suas
vozes, vozes de você, vozes de vocês.
Sim, vozes...Vozes, sim vozes... vozes
assustadoras. Vozes da infância, vozes do
além... do mais além que você possa
imaginar...
Homem – Ah... Não me custa tentar...
então vou pingar em meu nariz... Uma só
gotinha!
Montanha – Não, definitivamente, não!
Nunca no nariz... Nunca! Não faça mal uso
do que é tão poderoso e está em sua
mão... Se pingar no nariz, você ganhará
um tal poder com seu olfato que não
haverá nada no mundo que você não
identifique mesmo muito longe... Você vai
poder afirmar que aquela mulher, lá na
esquina não tomou banho hoje e que, há
10 dias ela usou um perfume barato. Ah...
o bafo daquele bêbado... Sim, é um bafo
que ele adquiriu por ter sido maltratado na
escola... sim, aquela última merenda
escolar dele... Não... Não pingue no nariz...
Ah... você terá tamanho poder de olfato
que não sentirá os efeitos de nada mais
que tenha que pingar no nariz. Apenas vai
18
sentir cheiros, aromas... sutis notas
aromáticas... E nenhum outro efeito vai lhe
causar... Vai sentir o cheiro de uma paella,
mas não terá na lembrança o gosto dela. O
ácido vai se perder. O doce, não mais
perceberá... Só terá lembranças...
Homem – Não tenho alternativas... quero
derreter uma montanha de chocolate em
minha boca... Essa gotinha vai me ajudar a
derreter a imaginada barra de chocolate...
Uma gotinha só...
Montanha – Você terá que abrir sua voz e
esparramar por todos os cantos do
Universo o perigo que existe no vidrinho
com o potente MDM...
Homem – Não me sinto capaz de tamanha
responsabilidade. Quero descer dessa
montanha. Já cumpri minha missão de
chegar até aqui... Vou descer por onde?
Qual o caminho mais seguro? Será que
posso deixar esse vidrinho escondido aqui
na neve perpétua da montanha azul?

Montanha – Pare! Pare! Não se atreva a Montanha – Não... Não... Não...

abrir o vidrinho e a pingar uma só gota em
sua boca! Pare... é definitivo! Se assim o Homem – Não tenho alternativa?
fizer, todos os sabores que você já
experimentou e todos os sabores que Montanha – Não!
ainda lhe são desconhecidos vão estar
aguçados em você... Na sua língua... nos Homem – Nenhuma?
seus lábios... Serão tão fortes os sabores
que você se perderá pois ficará sem saber Montanha – Não!
a diferença entre o gosto de uma água
com gás e uma água sem gás... O vinho (uma luz bem forte acende, como um flash. A
poderá ter o gosto de desodorante... A luz que era azulada ganha um tom bem
saliva da mulher amada terá o gosto da branco)
baba de um cão sarnento... Não... não
pode deixar que isso aconteça por um ato Homem – Não... Não... agora, não!
de completa imbecilidade... Não seja
imbecil fazendo isso... Tenha Montanha – Você de novo! Cheirando
responsabilidade com o MDM! meu vidrinho de acetona?

Homem – Onde mais poderei pingar uma (Escuridão)

gotinha em mim? Vou pingar nos meus
pulsos... Como um perfume. Curitiba (PR) 18 de março de 2010.

Montanha – Não pode fazer isso, nunca! Rogério Viana ©

Se pingar nos pulsos, eles se abrirão como
se tivessem sido cortados por uma navalha Todos os direitos reservados
ou um caco de espelho quebrado... Não...
Seu sangue, então, se esvairá e em
milésimos de segundos você estará aí,
morto e consumido pelo pó... Não faça
isso!

Homem – Que utilidade, então, terá esse

vidrinho com um líquido tão potente? E
que merda foi aquela da tal canção
profética? Cadê a música profética do
Benito di Paula?

19
Como dizia o Mestre
Benito Di Paula
Composição: Benito Di Paula

É, acaba a valentia de um homem

Quando a mulher que ele ama vai embora
É, tanta coisa muda nessa hora
Que o mais valente dos homens chora
É, acaba a valentia de um homem
Quando a mulher que ele ama vai embora
É, tanta coisa muda nessa hora
Que o mais valente dos homens chora
Diz que faz e acontece
Que não tem medo de nada
Levanta a voz, fala alto
Maltrata a mulher amada
E quando ela cisma e vai embora
A montanha se desmancha
E o mais valente dos homens
Chora como criança
É, acaba a valentia de um homem
Quando a mulher que ele ama vai embora
É, tanta coisa muda nessa hora
Que o mais valente dos homens chora
É, acaba a valentia de um homem
Quando a mulher que ele ama vai embora
É, tanta coisa muda nessa hora
Que o mais valente dos homens chora
Diz que faz e acontece
Que não tem medo de nada
Levanta a voz, fala alto
Maltrata a mulher amada
E quando ela cisma e vai embora
A montanha se desmancha
E o mais valente dos homens
Chora como criança

http://letras.terra.com.br/benito-di-paula/174981/

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