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Quando o francês Jean Anthelme Brillat-Savarin cunhou, em 1825, a expressão "diga-me o que comes e eu
te direi o que és", referia-se, sobretudo, aos prazeres de uma boa refeição. Em seu tratado de gastronomia
A Fisiologia do Gosto, a primeira obra sobre a relação do homem com a comida, ele dizia que a elaboração
de um novo prato causava mais felicidade à espécie humana do que a descoberta de uma estrela. Pouco
mais de um século depois, na década de 1950, o sabor de uma boa refeição ganhou um tempero de culpa
com a descoberta de que a gordura, em excesso, trazia malefícios à saúde. De lá para cá, uma série de
estudos vem contribuindo para medicalizar o pão (e a carne, e a massa, e o doce) nosso de cada dia. Para o
bem e para o mal. Alguns alimentos passaram a ser vistos como venenos e outros, como remédios. Entre os
dois extremos, está você, fazendo a conta de quantas calorias vai ingerir no almoço, imaginando se suas
artérias entupirão de vez com a feijoada programada para o sábado e pensando se, afinal de contas, não
seria melhor evitar beber o quinto copo de vinho tinto da semana. É claro que as descobertas de médicos
nutrólogos e nutricionistas são para ser levadas a sério. Mas não é igualmente evidente que elas não devem
servir para criar neuroses. Você é, sim, o que você come – desde que entenda que, quando nos sentamos à
mesa, o fazemos por motivos que vão além da nutrição pura e simples. Entre eles, degustar iguarias,
compartilhar um grande momento com os amigos, participar de rituais e cerimônias familiares e até explorar
novas culturas (mesmo que isso signifique não ultrapassar os limites de um frango xadrez). Tudo isso se
perde quando você começa a encarar uma refeição como uma ida à farmácia. Qual a saída? Ter uma dieta
equilibrada – em qualidade e quantidade. Tão equilibrada que lhe dê a chance de, vez por outra, cometer
alguns "crimes" nutricionais. "A manutenção da saúde deve ser uma conseqüência, e não o único objetivo do
ato de comer bem", diz o americano Michael Pollan, autor do livro In Defense of Food (Em Defesa da
Comida), que está na lista dos mais vendidos do jornal The New York Times.
Pollan está certo, mas é um radical, digamos, livre demais. Ele chega a afirmar que "a nutrição está na
mesma posição que a cirurgia no século XVII: é uma ciência jovem e promissora, da qual você não quer ser
a cobaia". Menos, Pollan. Repita-se que não se trata de jogar no lixo as descobertas feitas ao longo do
último meio século. Já está provado que, das dez doenças que mais matam no mundo, cinco estão
diretamente associadas a uma dieta de má qualidade: obesidade, infarto, derrame, diabetes e câncer –
sobretudo o de mama, o de próstata e o de intestino. "Quem quer que seja o pai de uma doença, a mãe foi
uma dieta deficiente", diz o nutrólogo Durval Ribas Filho, presidente da Associação Brasileira de Nutrologia
(Abran). Não é preciso ser um freqüentador compulsivo de spas de emagrecimento para perceber que basta
uma semana de alimentação regrada, frugal e saudável para o organismo funcionar melhor. O hálito
melhora, o cabelo fica mais sedoso, a pele mais viçosa. Surge o ânimo para acordar mais cedo e, por que
não, fazer inclusive uma caminhada. "A boa alimentação favorece o metabolismo, o sono e a regularidade do
intestino e controla os radicais livres, as moléculas responsáveis pelo envelhecimento celular", diz a
nutricionista Cristina Menna Barreto, de São Paulo. Até o nosso humor pode ser modulado pela alimentação.
Certos nutrientes têm efeito direto sobre a produção ou a inibição de determinados neurotransmissores,
responsáveis pelas oscilações do estado de espírito. "Uma pessoa que acorda, toma uma xícara de café e
não come nada até a hora do almoço tem maior probabilidade de ficar com o humor azedo", diz o nutrólogo
Daniel Magnoni, do Hospital do Coração, de São Paulo. Existem, ainda, estudos que mostram a relação entre
deficiência de ácido fólico e depressão. E uma pesquisa publicada recentemente no British Journal of
Psychiatry indica que o uso de determinados suplementos nutricionais reduz a ocorrência de problemas de
comportamento – entre eles a agressividade.
Muitos dos alimentos hoje demonizados foram essenciais para a evolução do homem. O consumo de carnes
vermelhas garantiu a sobrevivência de nossos ancestrais em tempos de escassez de comida. Estocada sob a
forma de tecido adiposo, a gordura animal representava a principal fonte de energia do pessoal das
cavernas. Também se devem à dieta carnívora as proteínas que permitiram ao homem, entre outras coisas,
criar o alfabeto, fabricar papel, inventar a tipografia e escrever livros que condenam... a carne. No século
XVI, a inclusão da batata, tubérculo oriundo da América, no cardápio europeu possibilitou o ganho calórico
que resultaria na Revolução Industrial. Mas nossos antepassados obtinham do mel e das frutas a quase
totalidade do açúcar que constava de sua dieta. O doce vilão, que está na origem dos distúrbios metabólicos
mais nocivos, não era onipresente como hoje. No entender de pesquisadores da história da alimentação, o
gatilho para a epidemia de obesidade dos Estados Unidos, que se alastrou pelo mundo, foi justamente um
açúcar: o amido de milho. "A adoção do milho é o fenômeno alimentar mais importante – e preocupante –
da modernidade", diz o historiador Henrique Carneiro, autor do livro Comida e Sociedade. Dessa substância
são fabricados os adoçantes e xaropes presentes em boa parte dos produtos industrializados, como os
refrigerantes.
Ah, os refrigerantes, as batatas fritas, os hambúrgueres... Se eles não fossem tão gostosos, não teriam
ganhado o planeta. Já as frutas, as verduras, os legumes... Bem, a verdade nua e crua (ou cozida, como
queira) é que são alimentos difíceis de engolir para oito em cada dez pessoas (e para dez em cada dez
crianças). Pesquisadores da Universidade de Oxford, na Inglaterra, desvendaram os mecanismos cerebrais
que tornam uma fritura mais apetitosa do que um rabanete. Eles descobriram que as comidas gordurosas
ativam uma região cerebral conhecida como córtex cingulado, a mesma que se acende quando recebemos
um carinho ou sentimos o cheiro de um perfume.
A educação dos sentidos, no entanto, não é tão difícil como parece. Há uma máxima antiga segundo a qual
"as doenças não afetam quem sabe o que comer, o que não comer, quando comer e como comer". Isso está
ao seu alcance. A chave, aqui, é cultural. Gostar de vegetais implica educar o paladar – e antes dele, óbvio,
o cérebro. Na verdade, trata-se de uma reeducação. Foi comprovada a existência de um instinto natural de
seleção da comida. Um estudo realizado nos Estados Unidos é particularmente interessante. Os
pesquisadores entregaram a crianças de péssimos hábitos à mesa dez tipos de alimentos naturais. Ao longo
de uma semana, privadas de sua dieta habitual, elas conseguiram combinar tais ingredientes de forma a
construir uma dieta variada e saudável. Não se recusaram a comer nada, nem repetiram sempre o mesmo
prato. A capacidade de adestrarmos nosso paladar de modo a extrair prazer de comidas antes intragáveis
também ficou evidente graças ao inglês Jamie Oliver, aquele chatinho dos programas de televisão. Há três
anos, ele realizou uma campanha para banir as porcarias dos lanches e refeições servidos às crianças nas
escolas públicas inglesas. Oliver ajudou a promover mudanças drásticas nesse cardápio – a merenda
"junkie" à base de nuggets e salsichas cedeu lugar a saladas, frutas e receitas italianas. Tudo isso
acompanhado do desafio de agradar aos estudantes. Deu certo. Em poucas semanas, o paladar da moçada,
"mascarado" pelo consumo abusivo de gorduras artificiais, ficou, como dizer, menos inglês.
Se ainda não veio à sua cabeça a expressão, aqui está ela: bom senso. Pois é, nesse caso não dá para
variar. E bom senso significa não exagerar nem no consumo nem na privação. Quer um exemplo? A exclusão
de carne vermelha da dieta é responsável por carências de ferro e vitamina B12, nutrientes fundamentais
para o organismo. Mais: de nada adianta seguir cegamente dietas como a japonesa e a mediterrânea, tidas
como as mais saudáveis, sem levar em conta que você não vive no Japão ou às margens do Mediterrâneo.
Uma dieta para ser equilibrada e prazerosa tem de se combinar ao ambiente em que se vive e à genética de
cada um. Coma de tudo um pouco e tente transformar o ato de comer numa experiência mais agradável do
que se restringir a uma porção de brócolis ou se entupir de frituras. De vez em quando, dá vontade de
comer um hambúrguer? Não se prive desse prazer. Coma com calma, sem tanta gordura pingando no prato.
Esforce-se para que pelo menos uma de suas refeições diárias seja uma experiência estética e, com o
perdão da palavra, sinestésica. Tente melhorar a apresentação dos pratos, capriche na combinação dos
alimentos e no seu colorido. Você dificilmente (e põe difícil nisso) se tornará um Marcel Proust, que escreveu
o primeiro romance do monumental Em Busca do Tempo Perdido a partir das evocações proporcionadas por
uma madeleine – mas, decerto, será alguém mais saudável e feliz.
VEJA Edição 2058 30 de abril de 2008
A ciência de viver bem
Pequenas mudanças de atitude podem melhorar sua saúde física, mental e material. Conheça 7 hábitos
comprovados cientificamente que você deve adotar para ganhar qualidade de vida - e uma coisa
que você não deve fazer
Texto Mariana Sgarioni
Use filtro solar. Coma frutas e verduras. Lembre-se do fio dental. Pratique pelo menos uma hora de
exercícios físicos por dia. Passe longe do torresminho de bar. Aliás, falando em bar, trate de parar de encher
a cara. Aproveite também para largar o cigarro. Beba dois litros de água filtrada por dia. E durma 8 horas
por noite. Leia mais e sempre. Endireite as costas. Aprenda a meditar. Vá ao dentista regularmente. Se
beber, não dirija. Faça um check-up por ano. Verifique se suas vacinas estão em dia. Não fique com o rosto
colado na tela do computador. Trabalhe menos, divirta-se mais. Encha o prato com verduras, grãos e brotos.
Esvazie-o de doces e gorduras. Limpe os ouvidos, mas cuidado com o cotonete. Sexo só com camisinha
(aliás, este deveria ser seu mantra). Não dê pipocas aos macacos. Muito menos coma pipocas de
desconhecidos.
Seguindo à risca essa lista de cuidados, é bem possível que você tenha uma vida mais saudável. E nem
precisamos encher estas páginas com estudos que comprovem tudo o que está dito aí em cima – até
porque, convenhamos, você já está cansado de saber. É bem possível, inclusive, que muita coisa daí esteja
entre suas promessas para o início do ano. Então, resolvemos engordar seus planos para 2006. Pinçamos 7
outras coisas importantíssimas (mas bem menos óbvias) que você pode fazer – e uma que você NÃO deve
fazer – para melhorar consideravelmente seu dia-a-dia. Fora tudo isso que está aí em cima, lógico. O que
1. Ouça música
Não se culpe se você é daqueles que passam o dia todo com um fone de ouvido cantarolando por aí. A
música tem efeitos muito benéficos para a saúde física e mental. Já não é de hoje que os cientistas vêm
estudando o fenômeno. Entre outras coisas, a música pode acalmar, estimular a criatividade e a
concentração, além de ajudar na cura de uma porção de doenças.
Em 1999, uma pesquisa feita no Instituto de Psicologia da USP mostrou que crianças hiperativas conseguem
atingir um grau de concentração muito maior se estiverem ouvindo música – e não estamos falando de jazz
ou bossa-nova, mas de rock pesado. A trilha sonora da pesquisa, que acompanhou crianças entre 9 e 10
anos, era composta pelo guitarrista sueco Yngwie Malmsteen. Embora muitos roqueiros torçam o nariz para
seu heavy metal melódico, é inegável que o cara faz um tanto de barulho.
Pois essa é uma bela resposta aos pais que implicam quando o filho estuda curtindo um som. Que o digam
aqueles que aprenderam música desde pequenos. Pesquisas canadenses provaram que crianças que
estudam música precocemente têm desenvolvimento intelectual melhor do que as que não tiveram nenhum
contato com ela.
“A música é capaz de mudar a freqüência das ondas cerebrais. Já foi provado, por exemplo, que clássicos de
compositores como Bach, Beethoven e Mozart deixam as ondas cerebrais com o mesmo comportamento, ou
seja, com o mesmo potencial elétrico, de um indivíduo em repouso”, afirma Luiz Celso Vilanova, médico
neurologista, professor da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo). “Esse estado é chamado ritmo alfa e
ocorre quando a pessoa está muito relaxada ou não está pensando em nada, como em algumas
meditações.”
Entre os clássicos citados, o austríaco Wolfgang Amadeus Mozart merece um destaque na sua discografia. O
poder do compositor vem sendo alvo de diversas pesquisas. A Universidade da Califórnia em Los Angeles
mostrou, no início da década de 1990, que a execução da Sonata para Dois Pianos em Ré Maior aumenta o
número de conexões dos neurônios e melhora o raciocínio matemático em estudantes.
Uma vez que nosso organismo também tem um ritmo interno, ao entrar por nossos ouvidos, a música faz
contato com este ritmo, interagindo com as atividades biológicas do nosso corpo. É assim que trabalha a
musicoterapia, muito aplicada – e com bons resultados – no tratamento de pacientes com mal de Alzheimer,
epilepsia, esquizofrenia e depressão, entre outras doenças. “Não existem indicações que comprovem que a
música tenha o poder de curar alguém. Mas podemos dizer que ela está diretamente associada à promoção
da saúde”, afirma Luiz Celso. Isso significa que ainda não é possível prescrever um Mozart em jejum ou duas
doses de Beethoven após as refeições. Feita essa ressalva, é certo que eles podem, sim, trabalhar na
prevenção de uma doença que virou epidemia nos dias de hoje: estresse. Até porque está mais do que
provado que música relaxa – e muito.
2. Prepare-se para envelhecer
Ninguém gosta muito da idéia de vir a ser velho, mas isso é a melhor coisa que pode acontecer a uma
pessoa (pense na outra possibilidade). É bom reservar um tempo desde já para planejar como você
pretende que seja sua velhice. Inclusive porque é bem possível que essa fase da sua vida dure bastante
tempo. Graças aos avanços no saneamento básico, à descoberta de novas drogas e a fatores ambientais e
de prevenção, estamos vivendo cada vez mais. Em 1900, a expectativa média de vida no Brasil ao nascer
era de 33 anos. Hoje, já estamos na marca dos 67. Estudos demográficos apontam que, em 2025, o
brasileiro viverá em média 75,3 anos e, por volta do ano 2050, 2 bilhões de pessoas no mundo terão mais
de 60 anos. E, graças a esses mesmos motivos, os velhos estão ficando cada vez mais velhos.
Sendo assim, duas coisas precisam ser preparadas desde já: saúde e finanças. Afinal, ninguém quer viver
até os 120 anos vegetando numa cama, sem grana e dando um trabalho danado para o filho de 96 anos.
Para começar, os cuidados para ter um envelhecimento saudável. Valem todos aqueles que falamos lá no
início da reportagem – e que certamente você já ouviu milhões de vezes. É preciso dar ouvidos à máxima
dos médicos, não há muita saída. “Os sinais de envelhecimento são conseqüência de desgastes físicos e
emocionais que sofremos durante a vida. Os principais são o estresse, doenças, fumo, bebida em excesso,
consumo de drogas, pouco sono e descuido com o descanso. Os desgastes são cumulativos, por isso, para
envelhecer de forma saudável, é preciso tomar atitudes ainda jovem”, diz a médica geriatra Mariana Jacob,
do Rio de Janeiro. Portanto, arregace as mangas e comece desde já.
Agora, também é importante pensar como estará sua conta bancária. Se você é daqueles que confiam no
INSS, é bom abrir os olhos. O envelhecimento em larga escala da população preocupa as finanças públicas
do mundo todo. No Brasil, o déficit da Previdência Social ultrapassará R$ 40 bilhões em 2005 e vem sendo
um dos maiores pepinos para os governos. Vá saber como será a aposentadoria daqui a algumas décadas...
Portanto, é melhor tomar outras atitudes, além de, claro, continuar colaborando para o INSS. “O ideal é a
estratégia da formiga: guardar uma quantia todo mês e, quando parar de trabalhar, viver desse valor
acumulado”, afirma o administrador Ricardo Humberto Rocha. Pegue o lápis e anote a lição que ele ensina:
se você começar a guardar dinheiro aos 30 anos, deve pensar em se aposentar 40 anos depois, ou seja, aos
70. Durante esse tempo, deve separar 300 reais todo mês. Aos 70, terá acumulado 300 mil reais (valores de
hoje, sem projetar a correção monetária). Na pior das hipóteses, isso renderá 0,5% ao mês, ou seja, 1,5 mil
reais. Juntando isso a uma aposentadoria do INSS de 3,6 mil reais (o casal), dará uma renda mensal de 5,1
mil reais. “Com 5 mil reais por mês, um casal de idosos deve viver bem: vai gastar 1,5 mil reais entre plano
de saúde e remédios e o resto paga o condomínio, a alimentação e o lazer.”
3. Tenha fé
Costuma ser mais feliz quem consegue encontrar um significado para a vida. Esse significado pode estar em
qualquer coisa – da filatelia à filantropia. Mas é na religiosidade que a maior parte da população vai buscar
essa razão de viver. E encontra. Pesquisas mostram que as pessoas religiosas consideram-se, em média,
mais felizes do que as não religiosas. Elas também têm menos depressão, menos ansiedade e índices
menores de suicídio.
“A fé nos conecta com outras pessoas, dá sentido e propósito para nossa existência, ajuda também na auto-
aceitação e sustenta a esperança de que, no final, tudo ficará bem”, diz o relatório de um estudo sobre o
assunto do Centro Nacional de Pesquisas de Opinião dos EUA.
O poder da crença pode ir além do conforto espiritual, ajudando a curar doenças e aumentando a
longevidade. Uma das razões para tanto passa longe do sobrenatural: a fé traz a reboque uma rotina mais
regrada e vínculos mais sólidos com a família e a comunidade. Quem professa uma crença raramente faz
bobagens como se embebedar e sair dirigindo a 160 quilômetros por hora.
“Existem evidências de que pessoas com atitude positiva e fé têm saúde melhor”, afirma o psiquiatra
Frederico Camelo Leão, que defendeu tese de mestrado sobre o assunto no Hospital das Clínicas de São
Paulo. “Isso vale tanto para a espiritualidade intrínseca, quando a pessoa é voltada a seus valores internos,
quanto a extrínseca, quando a pessoa se associa a grupos e cerimônias. Nos dois casos, há trabalhos que
mostram que essas pessoas tendem a pontuar mais em qualidade de vida e na evolução do tratamento de
doenças.”
A fé propriamente dita pode ter efeitos benéficos no corpo humano. Já foi comprovado, por exemplo, por
meio de uma pesquisa da Universidade Duke, na Carolina do Norte (EUA), que pessoas com fé religiosa
conseguem melhorar o funcionamento de seu sistema imunológico. “Ter uma fé ativa é tão fortemente
associado à longevidade quanto ao hábito de não fumar”, afirma David Myers, professor de psicologia da
Faculdade Hope, em Michigan (EUA).
Mas se você não se sente preparado para ligar-se a algum grupo religioso, não tem problema. A religião não
é exatamente a única forma de explorar a fé, muito menos de dar significado à vida. Quem não se identifica
com nenhum grupo religioso pode procurar outras crenças. E crer em algo não significa necessariamente ser
em Deus. Um ateu convicto pode ter fé em seu próprio papel na história da humanidade, na justiça social,
no desenvolvimento sustentável do planeta, na democracia. Ou ainda buscar o significado da vida em algum
desafio diferente, como aprender a escalar uma montanha, cozinhar, tocar bateria, fazer mountain bike.
Acreditar faz bem. Outro caminho é a prática do altruísmo. Isso, inclusive, já foi testado em laboratório: está
comprovado que aumenta os índices de felicidade e bem-estar. Vale visitar uma creche, colaborar com uma
ong, inscrever-se em um trabalho voluntário – enfim, fazer qualquer coisa que ajude alguém.
4. Ande mais a pé
Gastar sola de sapato é um dos melhores exercícios que existem, seja para a saúde física, mental, do meio
ambiente ou do seu bolso mesmo. Sim, porque para fazer caminhadas você não precisa gastar rios de
dinheiro com academias elaboradas, muito menos com personal trainer. Um par de tênis basta. E quando
falamos de caminhada, não estamos nos referindo a nada profissional, que exija pista adequada e
treinamento. Pode ser no seu bairro, no quarteirão da sua casa, ou até mesmo na escadaria do prédio, na
pior das hipóteses.
Os benefícios físicos vão desde a melhora do sistema imunológico, a perda de peso e a oxigenação do corpo
a até mesmo o aumento da nossa inteligência, acredite. Segundo artigo publicado na revista científica
americana Trends in Neurosciences (“Tendências em Neurociências”), a caminhada aumenta a resistência
cerebral e melhora o desempenho de leitura e aprendizado. E mais: beneficia a plasticidade do cérebro – a
capacidade que ele tem de se adaptar a novas situações e realizar funções diferentes. Sem contar o efeito
no humor. “Andar diminui o estresse e ajuda muito no combate à depressão”, afirma o médico ortopedista
Victor Matsudo, consultor da OMS (Organização Mundial da Saúde).
No corpo, a caminhada ajuda a diminuir a gordura intra-abdominal, aquela que se acumula entre as
vísceras. É a famosa barriguinha de chope. Ela é considerada a forma mais perigosa de depósito de gordura.
Estudos associam diretamente esses tecidos adiposos a vários problemas de saúde – desde ataques
cardíacos, problemas coronarianos e hipertensão até a formação de pedras na vesícula biliar.
Mas ainda está dando preguiça? Bem, não é só da forma física que estamos falando – andar a pé pode ser
algo muito mais divertido que fazer uns abdominais e uns supinos na academia, por exemplo. Se você
resolver tirar apenas uma hora do seu dia para caminhar no seu bairro, vai perceber uma enorme diferença
na sua socialização. “Caminhar permite que você observe muito mais as coisas ao seu redor, aproveite a
natureza, reflita sobre a vida, pense em histórias, lembre fatos e acontecimentos, faça cálculos, tenha
idéias, faça reflexões”, diz Victor. Você vai entrar em lojinhas que nunca percebeu, pedir e dar informações,
falar com gente desconhecida (nessas, você pode acabar até conhecendo o amor da sua vida). Às vezes
também vai tomar um pouco de chuva e pisar em cocô de cachorro, mas isso faz parte do jogo.
Deixar o carro em casa de vez em quando já pode ser um bom começo para começar a se exercitar. O
trajeto pode ser pequeno – uma caminhada de sua casa até a padaria ou à banca de revistas –, mas a
diferença já aparece. De quebra, você ainda estará contribuindo para a diminuição da poluição, do trânsito,
do consumo de combustível, entre outras coisas. Outra boa idéia é evitar o elevador e as escadas rolantes.
São atitudes mínimas, mas que vão começar a colocar seu corpo – e, por tabela, a sua mente – para
funcionar.
5. Tenha (pelo menos) um amigo
Todo mundo quer ser feliz, isso é tão verdadeiro quanto óbvio. O psicólogo Martin Seligman, da Universidade
da Pensilvânia (EUA), passou anos pesquisando o assunto e concluiu que, para chegar à tal felicidade,
precisamos ter amigos. Os amigos, segundo ele, resumem a soma das 3 coisas que resultam na alegria:
prazer, engajamento e significado. Explicando: conversar com um amigo, por exemplo, nos dá prazer. Ao
mesmo tempo, nos sentimos engajados, porque doamos muito de nós mesmos a ele. E ainda esse bom
bate-papo faz com que nossa vida adquira um significado mesmo que seja momentâneo.
O cientista social americano Ronald Inglehart analisou diversas pesquisas sobre qualidade de vida e chegou
à conclusão que os ingredientes para uma vida feliz incluem relações próximas. “Os homens têm o que os
psicólogos apelidaram de uma profunda necessidade de se sentirem incluídos. Os que são apoiados por
amizades íntimas se declararam muito felizes”, afirma.
Outro benefício decorrente de ter amigos é manter a saúde em ordem. De acordo com o psicólogo social
David Myers, professor da Faculdade Hope, nos EUA, as pessoas que têm amizades próximas ou são ligadas
à sua comunidade (seja de colegas de trabalho, de religião ou de organizações por causas comuns) têm
menos possibilidade de morrer prematuramente, se comparadas àquelas pessoas que têm poucos laços
sociais. E perder esses laços aumenta o risco de ficar doente. “A amizade libera substâncias hormonais no
cérebro que favorecem a alegria de viver e o bem-estar”, diz Roque Theophilo, presidente da Academia
Brasileira de Psicologia.
Mas será que todo mundo tem amigos? A resposta não é tão óbvia. Uma das queixas mais freqüentes no
divã de analistas é a solidão. Gente que não encontra ninguém para dividir com sinceridade suas angústias.
Ou que se sente só mesmo quando rodeada de pessoas – aquela impressão de ter mil amigos, mas na
realidade não ter nenhum. É a chamada superficialidade das relações, tão discutida nos dias de hoje.
Segundo o psicanalista Contardo Calligaris, o único jeito de ultrapassar a barreira da solidão é justamente
tendo pelo menos um amigo e um amor. Um só de cada, não precisam ser muitos. Mas isso dá um trabalhão
dos diabos, não pense você que é fácil.
Contardo propõe uma situação hipotética: “Você é meu amigo e me telefona para jantar. Você passa o
tempo todo falando de si mesmo. Quando eu começo a falar de mim, lá pelas tantas, você diz que precisa ir
embora, pois acorda cedo no dia seguinte. Tudo bem, na próxima vez não vou aceitar o convite e você se
sentirá sozinho.” Isso não é amizade verdadeira. “Não se consegue uma amizade sem generosidade”, afirma
o psiquiatra. Para termos pelo menos um amigo, diz ele, precisamos nos livrar daquilo que ele chama de
“avareza de si mesmo”. Trocando em miúdos: doar-se, estar disponível, saber trocar. E, principalmente,
olhar além do próprio umbigo.
6. Coma devagar
Parece até falatório de mãe, mas os benefícios de diminuir o ritmo das garfadas são incríveis. Para começar,
ninguém ganha tempo comendo um sanduíche na frente do computador – o máximo que você ganha são
quilos a mais, uma vez que, quanto mais rápido come, mais fome sente. “Existem dois centros que regulam
a alimentação no cérebro: o centro da fome e o centro da saciedade”, afirma Arthur Kaufman, coordenador
do Prato (Projeto de Atendimento ao Obeso), do Hospital das Clínicas da USP. “O centro da saciedade
demora até 20 minutos para mandar uma mensagem ao outro de que você está comendo e está satisfeito.
Se você comer muito rápido, vai passar da conta, sentir o estômago estufado antes que seu centro de
saciedade tenha tempo de informar seu corpo de que já está bom e você deve parar de comer.” É isso que
acontece numa churrascaria rodízio com aqueles que comem na mesma velocidade em que os garçons
trazem os espetos.
Isso quer dizer que, se você comer mais devagar, provavelmente vai comer menos sem ter que fazer
nenhuma dieta. O que será um ganho danado à sua saúde. Fora a redução do peso e do risco de doenças
aliadas à obesidade, há diversas pesquisas que apontam que devemos diminuir a quantidade de comida se
quisermos viver mais. Por exemplo, uma experiência conduzida na Universidade de Wisconsin em Madison,
nos EUA, mostrou que a redução do consumo calórico entre 30% e 40% fez aumentar a sobrevida de ratos
até os 38 anos – isso corresponderia a aproximadamente 114 anos em humanos.
Mas e o prazer de comer? Tem razão, é um dos principais prazeres da vida. Mais um motivo para você
comer devagar: vai saborear melhor a comida, apreciar o prato e o momento, e, de quebra, não vai ficar
empanturrado. “Não há nenhum problema em comer um hambúrguer e uma porção de batatas fritas, desde
que você saboreie o sanduíche, sinta o gosto do que está comendo e comer seja sua atividade principal
naquele momento”, afirma Heloísa Mader, representante do Movimento Slow Food em São Paulo.
Em oposição à moda do fast food, o slow food prega que incrementar a qualidade da comida e desfrutá-la
com calma é uma maneira simples de fazer o nosso cotidiano mais feliz – conceito, aliás aprovadíssimo pela
Associação Dietética Americana. O movimento quer que as pessoas voltem a curtir a refeição, e não comer
por compulsão ou como uma forma de compensar a ansiedade. Lembre-se disso quando for buscar um
sanduba correndo na padaria para comer entre um trabalho e outro na frente do computador. “Isso é pior
ainda. Quando está distraído, você não percebe o sinal do centro de saciedade e passa da conta. E o pior:
como não registra a saciedade, dali a 30 minutos vai ter fome de novo”, diz Arthur. E já que o convencemos
a comer mais devagar, aproveite para compartilhar as refeições com quem mais gosta – isso não inclui o
computador nem a televisão, que fique bem claro.
7. Desligue a TV
Ninguém está dizendo aqui para você nunca mais assistir à televisão. Mas que você poderia diminuir o
tempo em frente ao aparelho, isso você poderia. Até porque televisão em excesso não faz bem.
Telespectadores inveterados podem ter suas funções cognitivas alteradas, problemas de postura e
articulações, além de tornar-se dependentes da telinha: essa é a conclusão de um amplo estudo realizado
em 2003 nos EUA pelos pesquisadores Robert Kubey, diretor do Centro de Estudos de Mídia da Universidade
Rutgers, em Nova Jersey, e Mihaly Csikszentmihalyi, professor de psicologia da Universidade de Claremont,
na Califórnia.
Sim, o hábito de se largar no sofá e assistir a qualquer porcaria que esteja no ar pode deixar as pessoas
viciadas no relaxamento que a TV produz. O problema é que essa sensação gostosa vai embora assim que o
aparelho é desligado – é igualzinho ao vício em substâncias químicas. O estado de passividade e a
diminuição no grau de atenção, no entanto, continuam. Quando vista por mais de 20 horas por semana, a
televisão pode danificar as funções do lado esquerdo do cérebro, reduzindo o desenvolvimento lógico-verbal.
Faça uma continha rápida: se você assistir à televisão por cerca de 3 horas por dia, quando chegar aos 75
anos, terá passado 9 anos inteiros da sua vida vendo TV. É tempo para chuchu sem exercitar a mente nem o
corpo, o que pode acarretar sérios problemas, desde obesidade a até mesmo doenças degenerativas
cerebrais, como demência e mal de Alzheimer.
O cérebro, assim como o corpo, também precisa ser exercitado. Só que ninguém se lembra dele nas
academias de ginástica, por exemplo. A diminuição da capacidade mental associada à idade ocorre por causa
de alterações nas ligações entre as células cerebrais. Há indícios de que manter o cérebro em atividade
ajuda a aumentar as reservas de células e conexões cerebrais. “O que é bom para seu coração é bom para
seu cérebro. Tudo aquilo que você fizer para prevenir doenças coronárias também vai ajudar sua cabeça e
assim diminuir o risco de desenvolver mal de Alzheimer”, indica a Associação Alzheimer, órgão americano de
ajuda e informação aos portadores da doença.
Segundo um estudo publicado na revista científica Nature, ratos e outros roedores estimulados com
brinquedos e aparelhos para exercícios desenvolveram células novinhas em folha na região do cérebro
envolvida com aprendizado e com a memória. Portanto, mande ver nas atividades físicas. Agora, é lógico,
lembre-se de botar a cabeça para funcionar também. Ler, escrever, jogar jogos de tabuleiro, aprender coisas
novas, fazer palavras cruzadas, resolver passatempos de lógica: todas essas atividades mantêm seu cérebro
ativo e, quem sabe, criam reservas de células e conexões. Estudar sempre algo diferente pode ser um bom
jeito de obrigar sua cabeça a pensar mais. Outra idéia que também contribui para romper a inércia cerebral
é praticar atividades ao ar livre – no mínimo, elas vão arrancar você do sofá e da frente da televisão.