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DIREITO DAS OBRIGAÇÕES I

O termo “obrigação” é utilizado tanto na linguagem corrente, como pelo direito, em sentidos diversos:
Dever jurídico - imposição pela ordem jurídica a uma pessoa de observar determinado
comportamento
Quando a ordem jurídica confere às pessoas o interesse e o poder de disporem de meios coercivos que
o protegem, diz-se que ao dever corresponde um direito subjetivo.
Estado de sujeição - consiste na sujeição inelutável de uma pessoa ter de suportar na sua
esfera jurídica a modificação operada com o poder conferido a uma outra pessoa (direitos
potestativos).
Ónus jurídico - consiste na necessidade de observância de certo comportamento ou de
manutenção de uma vantagem para o próprio onerado.
Em sentido técnico-jurídico, “obrigação é o vínculo jurídico por virtude do qual uma pessoa fica
adstrita para com outra à realização de uma prestação” (art. 397ºCC). Ou seja, depois de
celebrado não podemos deixar de o cumprir, ficando obrigados à tal prestação.
O que cada um se obriga de cumprir para com o outro
Ex: venda de um imóvel ou uma doação (art. 940ºCC)

A B A B
(vende) (compra)
>
Bilateral (contrato) Unilateral (testamento)
Só uma das partes é obrigada a cumprir

Características da “obrigação”
 Autonomia: obrigações autónomas são aquelas que se constituem entre dois sujeitos jurídicos
sem que preexista qualquer outra relação jurídica conexa com a obrigação.
Ex: nascidas de contratos
Nascem originalmente da vontade dos sujeitos

 Disponibilidade: característica tendencial das obrigações, porém existem casos em que as


obrigações estão indisponíveis ou irrenunciáveis.
Ao dispor de todos de a realizarmos
Ex: art. 809º e 2009ºCC

 Patrimonialidade: todas as obrigações de um devedor são suscetíveis de avaliação pecuniária,


isto é, alude-se à exigência de que a prestação debitória revista necessariamente natureza
económica.

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Ex: acidente - indemnização
Todas as obrigações são avaliáveis pecuniariamente
No direito moderno, o inadimplemento (não cumprimento) confere ao credor a possibilidade
de agir contra o património do devedor e não contra a sua pessoa.
Ex: art. 601º e 807ºCC
Em caso de incumprimento o que
responde pela divida é o património do devedor
(primeira das garantias de um credor)

Elemento da Relação Jurídica Obrigacional


Sujeitos: o vínculo obrigacional estabelece-se entre pessoas em sentido jurídico: o sujeito
ativo/credor e o sujeito passivo/devedor.

Devedor Credor O credor tem o direito de exigir o


A B cumprimento da prestação e o devedor
Credor Devedor é a pessoa sobre quem recai o dever de
realizá-la.
De cada um dos lados da relação obrigacional podemos encontrar um ou mais sujeitos (pessoas
singulares e pessoas coletivas).

Objeto: é tudo aquilo sobre que incidem os poderes do seu titular ativo.
 Imediato consiste na prestação devida, isto é, na atividade ou conduta a que o
devedor se acha adstrito com vista à satisfação do credor.
Prestação em si
 Mediato consiste na coisa ou facto que deve ser prestado
Objeto imediato
Importa salientar que o credor não tem um direito sobre a coisa devida, mas apenas um direito à
respetiva prestação.
As prestações podem ser de factos ou de coisas; as prestações de facto podem ser negativas
(consistindo numa omissão ou abstenção) ou positivas (ação).

Facto Jurídico: para que uma relação obrigacional se transforme de abstrata em concreta é
indispensável a existência de um facto jurídico que lhe dê origem.
 Voluntários (com origem na vontade humana – contratos ou naturais
 Lícitos ou ilícitos (de acordo ou não com a Lei)

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Garantia: consiste no conjunto de providências coercivas que o direito predispõe para tutela
da posição do sujeito ativo.
Traduz-se na possibilidade de o sujeito ativo utilizar medidas judiciárias em caso de incumprimento
das obrigações. Se o devedor não cumpre a prestação a que se acha adstrito, o credor pode agir, por
intermédio dos tribunais, contra o seu património (art. 817º CC).
A execução tem por base a apreensão de bens do devedor: em primeiro lugar da própria coisa devida;
mas apreender-se-ão outros valores se aquela não for encontrada ou se não for suficiente para liquidar
a dívida (porque foi pedida indemnização, porque sofreu uma desvalorização, etc...).
A totalidade do património do devedor corresponde à garantia geral.
 Reais incidem sobre os bens (ex: arts. 656º, 666º, 686º, 733º, 7336º CC)
 Pessoais incidem sobre o património de terceiros (ex: 627º CC)

Ação
Declarativa: o tribunal faz reconhecer-se o direito do credor, declarando-o
Executiva: procede-se à apreensão dos bens do património do devedor (e venda, caso o devedor
continue sem pagar a dívida)

Obrigações Naturais
Fundam-se num mero dever de ordem moral ou social, cujo cumprimento não é judicialmente
exigível, mas corresponde a um dever de justiça (art. 402ºCC).
São também designadas de obrigações imperfeitas
Porque o seu incumprimento não dá lugar à coercibilidade
Têm de estar preenchidos 3 requisitos:
 Que a prestação em causa não seja judicialmente exigível
 Que a obrigação se baseie num dever moral ou social
 Que o seu cumprimento corresponda a um dever de justiça
Ex: uma aposta feita entre amigos não é judicialmente exigível, caso o devedor não cumpra a sua
obrigação, nada pode ser feito em tribunal
Estas constituem, assim, casos intermédios entre os puros deveres de ordem moral ou social e os
deveres jurídicos. Os tribunais não se manifestam quanto a obrigações naturais.
Ou seja, ao contrário da obrigação civil, a obrigação natural não detém qualquer garantia jurídica
Existe a “debitum” mas não a “obligation”, uma vez que não há a chamada proteção jurídica.
Se o devedor efetuar de livre vontade o pagamento, não goza do direito de repetição, ou seja, não
pode exigir a devolução do que pagou.
Não repetição do indevido

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A Lei limita-se a reconhecer valor jurídico à prestação realizada espontaneamente, excluindo que
quem presta possa vir a recorrer à repetição do indevido.
(art. 404º CC) A lei manda aplicar o regime das obrigações civis subsidiariamente em tudo o que não
se relacione com a realização coativa da prestação, salvas as exceções previstas na lei.
São exemplos de obrigações naturais previstas pelo legislador: as dívidas prescritas, dívidas de
alimentos que não constituam obrigações civis, dívidas provenientes de certos contratos de jogo ou
aposta não feridos de ilicitude (art. 1245º CC).
(art. 1247º CC) O legislador salvaguarda a possibilidade de existirem jogos, devidamente autorizados
pela tutela, são fontes de obrigações civis (totoloto, joker, euromilhões, etc) são juridicamente
considerados modalidades afins de jogo.

Modalidades das Obrigações


 Singulares - Há um único sujeito ativo e um único sujeito passivo (exemplo do stor)
 Plurais - Há vários sujeitos ativos ou passivos ou simultaneamente vários sujeitos ativos e
vários sujeitos passivos.
Podemos ter mais do que 1 devedor ou mais do que 1 credor
Dentro das obrigações plurais distinguem-se:

 Conjunta: quando à pluralidade de sujeitos corresponde uma igual pluralidade de vínculos.


Ex:
C B, C Cada um só responde pela parte da
obrigação a que se vincula.
No caso de vários devedores, cada um deles responde proporcionalmente. No caso de vários credores,
exigindo um deles o cumprimento da prestação por parte do devedor, o mesmo aproveita aos outros.

 Solidária: À pluralidade de sujeitos corresponde um cumprimento unitário da prestação.


Ex:
C B, C Cada um dos devedores responde
pela divida integral.
(art. 512º CC) “A obrigação é solidária, quando cada um dos devedores responde pela prestação
integral e esta a todos libera, ou quando cada um dos credores tem a faculdade de exigir, por si só, a
prestação integral e esta libera o devedor para com todos eles”.
(art. 513º CC) A solidariedade dos devedores ou credores só existe quando resulte da lei ou da
vontade das partes.

Modalidades quando ao tipo de prestações


De coisas: consiste na entrega de uma coisa (entrega do bem na compra e venda);
De facto: consiste na realização de uma determinada conduta de outra ordem (prestar trabalho,
serviço)

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Ex: ordenado
Fungíveis: podem ser cumpridas pelo próprio devedor ou por terceiro, podendo este fazer-se
substituir;
Infungíveis: o devedor não se pode fazer substituir, só ele pode realizar a prestação.
Ex: empregador contratado
Instantâneas: cumprem-se num único momento;
Duradouras: a sua execução prolonga-se no tempo.
Ex: pagamento das rendas no contrato de locação
De resultado: situações em que o devedor se obriga a um resultado, respondendo por
incumprimento se esse resultado não for alcançado;
Ex: a obrigação de entrega de uma coisa num determinado lugar pelo transportador
De meios: o devedor não está obrigado ao cumprimento de um resultado, mas apenas a atuar de
forma correta e esperada para que esse resultado fosse obtido.
Ex: o médico está apenas obrigado a diligenciar os melhores esforços para que a cura do doente
seja obtida
Determinadas: a prestação encontra-se completamente determinada no momento da constituição
da obrigação;
Indeterminadas: a determinação da prestação ainda não se encontra realizada, pelo que a
determinação terá de ocorrer no momento do cumprimento.
Ex:

Fontes das Obrigações - são os factos que lhes podem dar origem, de onde elas derivam.
No caso do CC português encontram-se autonomizados:

 Os contratos (405º a 456º)


 Os negócios unilaterais (457º a 463º)
 A gestão de negócios (464º a 472º)
 O enriquecimento sem causa (473º a 482º)
 A responsabilidade civil por factos ilícitos (483º a 498º) e pelo risco (499º a 510º)

Contratos
Diz-se contrato o acordo vinculativo assente sobre duas ou mais declarações de vontade (oferta ou
proposta, de um lado; aceitação, do outro), que visam estabelecer uma composição unitária de
interesses.
O CC não define expressamente a figura do contrato, além de admitir a constituição de obrigações
com prestação de carácter não patrimonial (art. 398º/2 CC), considera expressamente como contratos
o casamento (art. 1577º CC), bem como o pacto sucessório (art.1701º, 2026º, 2028º CC), que é fonte
de relações mortis causa.

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Podem ser:
Quanto à forma
Formais: a ordem jurídica impõe uma forma especial de celebração.
Ex: compra e venda de imóveis (art. 875º CC) e doação
Não formais: a validade da declaração negocial não depende de qualquer forma de
celebração prevista na lei.
Ex: compra de pão (pode ser celebrado oralmente, por escritura publica ou por documento
particular autenticado)

Quanto ao modo de formação


Consensuais: para produzir efeitos basta a simples declaração da vontade das partes, a
entrega é dispensada.
Reais: cuja celebração exige a tradição ou entrega da coisa.

Quanto aos efeitos


Obrigacionais: a situação jurídica apenas dá origem a direitos de crédito ou obrigações.
Ex: a própria prestação (o dever que tem para com outrem) - art. 879º b) e c)
Reais: além dos efeitos obrigacionais, também reconduz a efeitos reais (que regulam as
relações que se estabelecem entre sujeitos e coisas)
Ex: contrato de compra e venda (a efetiva “troca”) de uma coisa – passa a ser proprietário
(art.879º/ a))
Sinalagmáticos ou não sinalagmáticos: consoante originem obrigações recíprocas para
ambas as partes, ficando assim ambas na posição de credores e devedores, ou só para uma
das partes.

Onerosos ou gratuitos: consoante implique atribuições patrimoniais para ambas as partes


ou apenas para uma delas.

Nominados ou inominados: consoante a lei os reconheça como categoria através de um


nomen iuris, ou não.

Típicos: além de ser nominado, tem um regime jurídico previsto na ordem jurídica.
Atípicos: não tem uma regulamentação prevista no nosso ordenamento.

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Mistos: reúne em si regras de dois contratos total ou parcialmente típicos, assumindo-se
como um contrato atípico, por não corresponder integralmente a nenhum tipo contratual
regulado pela lei.

A ter em conta o princípio da liberdade contratual:

 Liberdade de celebração (ou vinculação) – celebrar, ou não, um contrato;


 Liberdade de criação – escolher um dos contratos previstos na lei ou uma figura nova;
 Liberdade de estipulação – fixar livremente o conteúdo dos negócios.

Negócio Jurídico Unilateral


São aqueles em que há, somente, a manifestação de uma vontade, ou havendo várias declarações de
vontade, todas elas têm o mesmo conteúdo.
Não se confundem com a simples proposta contratual prevista no art.228º e ss.
Podem ser:
Receptícios: a vontade tem de ser dirigida e comunicada a certa pessoa (promessa pública ou
a denúncia de um contrato);
Não receptícios: vale independentemente dessa exigência (testamento).

Nos negócios jurídicos unilaterais não vigora o princípio equivalente aos contratos – liberdade
negocial; vigora o princípio do numerus clausus (art.457º). No negócio jurídico unilateral não há
prestações recíprocas.

São negócios jurídicos unilaterais:

 o testamento;
 o contrato a favor de terceiro;
 a promessa pública;
 os concursos públicos;
 o pacto de preferência (apenas em determinadas situações).

 Testamento (2179º e ss)


É o negócio jurídico unilateral em que alguém, para depois da sua morte, dispõe, livremente, de parte
ou da totalidade do seu património.
É um negócio mortis causa, só produz efeitos quando o testador morre.
Havendo herdeiros legais, apenas se pode dispor livremente da quota disponível.

 Contrato a favor de terceiro (443º)


É o negócio em que uma das partes assume perante outra a obrigação de efetuar uma prestação a favor
de terceiro estranho ao negócio.
É um negócio bilateral, mas perante o terceiro beneficiário apresenta-se como um negócio unilateral.
Ex: contratos de seguros de acidentes pessoais ou de vida.

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 Promessa pública (459º)
É o negócio jurídico unilateral em que alguém, mediante anúncio público, promete efetuar uma
prestação a quem se encontre em determinada situação ou pratique certo facto.
Quem promete fica vinculado, independentemente de acordo do beneficiário. A obrigação nasce logo
que a proposta é feita.
A promessa pública pode ter, ou não, um prazo de eficácia (art.460º):

 Tem prazo: vigora por esse período, caducando no fim do prazo


 Não tem prazo: mantém-se por tempo indeterminado, ou até à sua revogação, pelo seu autor.

 Concursos públicos (463º)


Trata-se do negócio jurídico unilateral, em que alguém oferece uma prestação como prémio de um
concurso. Só é válida quando o anúncio fixar o prazo para apresentação de concorrentes.
Não se confunde com a promessa pública que é dirigida a pessoas indeterminadas; no concurso, os
sujeitos têm de se submeter a uma avaliação.

 Pacto de preferência (414º)


É a convenção pela qual alguém assume a obrigação de dar preferência a outrem na venda de
determinada coisa.
Em regra, os pactos de preferência são verdadeiros contratos, uma vez que as partes assumem
prestações recíprocas. No entanto, nas situações em que uma das partes assume a obrigação estamos
perante um verdadeiro negócio jurídico unilateral (por exemplo, nas situações em que a preferência é
atribuída por via do testamento). Não obstante, grande parte da doutrina defende que se trata de um
contrato unilateral (aquele em que apenas uma das partes assume uma obrigação, por exemplo a
adoção).
Ao pacto de preferência é possível atribuir eficácia real, nos mesmo termos em que está previsto para
o contrato promessa (art.421º):
 respeitar a bens imóveis ou móveis sujeitos a registo;
 respeitar os requisitos de forma previstos no art.413º.
Se quem concedeu a preferência quiser vender a coisa conjuntamente com outras, por um preço
global, pode o direito ser exercido em relação àquela pelo preço que proporcionalmente lhe for
atribuído (art.417º) exceto se as coisas forem inseparáveis e o cedente exija que a preferência abranja
todas as restantes.

Gestão de Negócios
Situação excecional que permite o gestor de se intrometer na esfera jurídica do dono do negócio.
Mas atuando, sempre, no interesse e por conta do dono do negócio.
Aquele que interfere no negócio chama-se gestor e o titular do negócio chama-se dono do negócio.

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O gestor não está autorizado a essa intromissão. Caso contrário, estaríamos perante a representação
(mandato). O gestor deve agir no interesse e por conta própria da pessoa a quem o assunto diz
respeito.
Justifica-se este instituto, uma vez que, com frequência, ocorrem situações em que uma pessoa se
encontra impedida de adotar as providências necessárias para acautelar os seus interesses, não
podendo agir por si, nem incumbir outro de o fazer. Daí justificar-se a solidariedade humana na
interferência de negócios de outras pessoas.
Este regime jurídico pretende garantir que o gestor não seja prejudicado pela sua intervenção
espontânea e bem-intencionada. Mas confere, também, ao dono do negócio a possibilidade de reagir
contra intromissões estranhas ou dolosas, prejudiciais aos seus interesses.
Requisitos:
 Direção de negócio alheio – deve pertencer a pessoa diferente do gestor. Tanto pode consistir
na prática de um negócio jurídico (venda de uma coisa, arrendamento, etc) como na prática de
atos puramente materiais (reparação de uma casa, colheita de frutos, etc);
 Atuação no interesse e por conta do dono do negócio – tem por objetivo proporcionar uma
vantagem ou evitar um dano a terceiro. Por conta significa ter intenção de o transferir para o
dono do negócio, logo que possível. Se uma pessoa gere um negócio alheio pensando que é
próprio, não atua para outrem, mas para si.
 Falta de autorização – só há gestão de negócios se houver falta de autorização.
Exige-se que o gestor não tenha o direito ou a obrigação de assumir a direção de negócio alheio.
A gestão de negócio pode ser:
Representativa: o gestor pratica o ato em nome do dono do negócio, como se fora seu
representante, sem ter os necessários poderes;
Não representativa: o gestor pratica o ato em nome próprio, mas no interesse e por conta do
dono do negócio.
A) Relação entre o gestor e o dono do negócio:

 O gestor deve comportar-se como o dono do negócio se comportaria (art.465º/a);


 Deve avisar o dono do negócio, logo que possível (art.465º/b);
 Deve prestar contas e entregar ao dono do negócio todas as informações relativas ao mesmo
(art.465º/c), d) e e);
 Se o gestor, por culpa sua, causar danos ao dono do negócio será responsável por esses danos
(art.466º/1 e 2 (esta questão não se coloca se o dono aprovar a gestão – art.469º).
Obrigações do dono do negócio:
Se for Regular (o dono do negócio aprovar a gestão) o dono deve indemnizar de todos os
prejuízos que este tenha sofrido, designadamente, reembolsá-lo das despesas que ele,
fundadamente, tenha considerado indispensáveis, com juros legais. Se o gestor fizer dessa
atividade sua profissão, deve também pagar-lhe uma remuneração – art.470º.
Se for Irregular, o gestor só tem a ver o que lhe couber de acordo com as regras do
enriquecimento sem causa - art.468º/2.
B) Relação entre o dono do negócio e terceiros:

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Gestão representativa: o negócio não produz efeitos em relação ao gestor e também não
produz efeitos em relação ao dono do negócio, por o gestor não ter poderes. Só se torna eficaz
se o dono do negócio o ratificar – art.471º e 268º.
Gestão não representativa: funciona como um mandato sem representação. O gestor deve
transferir os direitos adquiridos no exercício da gestão e o dono do negócio deve assumir as
obrigações contraídas nesse exercício.

Enriquecimento sem causa


Dá-se o enriquecimento sem causa quando o património de certa pessoa se valoriza ou deixa de
desvalorizar, à custa de outra pessoa, sem que para isso exista causa justificada.
A este instituto jurídico encontra-se subjacente a ideia de que a pessoa alguma deve locupletar-se
(enriquecer) injustificadamente à custa alheia.
É fonte das obrigações porque o enriquecido fica obrigado a entregar (restituir) ao outro sujeito o
valor do benefício alcançado.
Requisitos:
 O património de uma pessoa valoriza ou deixa de se desvalorizar
 Corresponde à diferença entre o valor que o património apresenta e o que apresentaria
se não tivesse ocorrido determinado facto.
 Na diferença está o enriquecimento alcançado, quer seja no aumento do ativo, quer na
diminuição do passivo.

 O enriquecimento ser obtido à custa de outrem


 Ao enriquecimento de um dos sujeitos corresponde o empobrecimento do outro.
 Entre os dois efeitos (enriquecimento e empobrecimento) existe uma correlação no
sentido de que o facto ou factos que geram um geram o outro também.

 Não existência de causa justificativa


 O enriquecimento tem, ou não, causa justificativa consoante, segundo os princípios
legais, há ou não razão de ser para que tenha ocorrido.

(art.479º/1) Obrigação de restituir:


O enriquecido deve restituir ao empobrecido o que tenha obtido à custa dele. O empobrecido não pode
exigir mais do que aquilo em que o outro sujeito enriqueceu;
Os dois valores nem sempre coincidem, por exemplo: alguém faz benfeitorias num prédio alheio
gastando 1000€, mas podendo provocar uma valorização superior (1200€) ou inferior (800€).

(art.474º) Carácter subsidiário:


Se alguém enriquecer à custa de outrem, sem causa justificativa, mas a lei facultar ao empobrecido
outro meio de ser ressarcido (compensado) será a esse meio que ele deve recorrer (art.473º).

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Várias situações da restituição do indevido:
A obrigação não existe (476/1): se a obrigação não existe deve ser restituído o que foi
indevidamente prestado;
A obrigação existe, mas é cumprida antes do vencimento (476º/3): só há lugar à restituição
daquilo com que o credor, injustamente, enriqueceu;

A obrigação existe, mas o pagamento é feito a terceiro (476º/2) deve haver restituição, exceto
se se tornar liberatória, isto é, se o credor liberar o devedor da obrigação;
A obrigação existe, mas é alheia (477º): goza do direito de repetição;
A obrigação existe, mas é alheia, mas tem-se a convicção errada de se estar perante o devedor
obrigado a satisfazê-la (478º): há direito de o credor exigir do devedor exonerado aquilo com
que injustamente se locupletou.

(art.482º) Prescrição:
O direito à restituição por enriquecimento sem causa está sujeito à prescrição de 3 anos a contar da
data em que o credor teve conhecimento do direito que lhe compete e da pessoa do responsável.

Responsabilidade Civil
É a obrigação imposta a uma pessoa de reparar um prejuízo causado a outrem. Abrange tanto os
casos em que está em causa o incumprimento de uma obrigação em sentido técnico (emergentes de
contratos, negócios unilaterais ou da própria lei), como os casos em que a responsabilidade emerge da
violação de direitos absolutos ou de disposição legal destinada a proteger interesses alheios e ainda da
prática de atos que, apesar de lícitos, causem prejuízo a outrem.

Distinção com outras figuras afins:


 Responsabilidade penal
 Responsabilidade disciplinar
 Responsabilidade contra – ordenacional

A responsabilidade civil distingue-se em:

 Contratual ou Obrigacional (798º e ss): resulta da violação de um direito de crédito ou


obrigação em sentido técnico, isto é, quando qualquer sujeito passivo de uma relação jurídica
advinda de um contrato ou da lei, não cumpre a obrigação a que está adstrito, colocando-se na
posição de ter de indemnizar o sujeito ativo.
 Extracontratual ou Extraobrigacional (483º e ss): abrange os restantes casos de ilícito civil,
isto é, sempre que alguém pratica algum ato, ainda que lícito, que cause prejuízo a outrem,
coloca-se na posição de ter de indemnizar os prejuízos daí resultantes.
Divide-se, por sua vez, em subjetiva (ou por fatos ilícitos) e objetiva (ou pelo risco). A grande
diferença entre ambas assenta na ideia de culpa.

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Responsabilidade Contratual Responsabilidade Extracontratual
A culpa presume-se (799º/1) (487º/1)
(513º) Em caso de pluralidade passiva, aplica-se o regime
da solidariedade (497º e 507º)
Possibilidade de graduação equitativa da
indemnização, quando haja mera culpa do lesante
(494º), mesmo que fundada no risco (499º)
submetida ao prazo ordinário de 20 anos (309º) prazo prescricional em 3 anos (498º)
A responsabilidade contratual por facto de terceiro O pressuposto da comissão é um requisito estabelecido
não depende do pressuposto da comissão (500º)
As regras quanto à capacidade de exercício de
direitos relativas à responsabilidade contratual (123º
e ss) divergem da capacidade de culpa, no que
respeita à responsabilidade extracontratual (488º);

regime exclusivo quanto ao momento da constituição


em mora do devedor (805º/3)
Nas obrigações pecuniárias, em caso de mora do
devedor, permite-se que o credor obtenha uma
indemnização suplementar, além dos juros de mora
previstos no 806º/1 e 2

O CC sistematiza a responsabilidade civil extracontratual da seguinte forma:

 Responsabilidade por factos ilícitos (verificação de culpa) – 483º a 498º;


 Responsabilidade pelo risco (independente de culpa) – 499º a 510;
 Obrigação e cálculo de indemnização – 562º a 572º.

O dever de reparação resultante da RC por factos ilícitos depende da verificação dos seguintes
requisitos:
 existência de um facto voluntário do agente;
 ilicitude desse facto;
 exista um nexo de imputação do facto ao agente;
 que da violação resulte um dano;
 que se verifique um nexo de causalidade entre o facto praticado pelo agente e o dano sofrido
pelo lesado.

Facto
Tem de se tratar de um facto voluntário. Os factos naturais não são geradores de RC extracontratual.
Podem, no entanto, ser geradores de RC contratual.
Quer as ações (factos positivos) quer as omissões (factos negativos) podem ocasionar danos, desde
que existista o dever jurídico da prática do ato omitido (resultante da lei ou de negócio jurídico).

Ilicitude
O facto voluntário que lesa interesses alheios só gera obrigação de indemnizar se houver ilicitude
violação de um dever jurídico

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O 483º/1 estabelece duas formas de ilicitude: a violação de um direito de outrem e a violação de um
preceito legal destinado à proteção de interesses alheios.
Casos especiais de ilicitude:

 Ofensa do crédito ou do bom nome (484º);


 Prestação de conselhos, recomendações ou informações (485º/2);
 Omissões (486º).

Causas de exclusão:
Há situações em que, por afastarem do facto a sua ilicitude, excluem a responsabilidade civil.
De uma forma geral temos:

 O regular exercício de um direito;


 O cumprimento de um dever jurídico.
Temos ainda causas especiais justificativas do facto:

 A ação direta (336º/1);


 A legítima defesa (337º/1);
 O estado de necessidade (3339º/1);
 O consentimento do lesado (340º/1 e 2).

Imputação do facto ao agente


É imprescindível que o agente tenha agido com culpa (dolo ou mera culpa).
Nos termos do art.483º/2, só existe responsabilidade independentemente de culpa nos casos
especificados na lei (responsabilidade pelo risco).
No art.488º/1 o legislador afasta a responsabilidade de quem, no momento da prática do facto, se
encontrava incapacitado do entendimento das suas condutas.
No nº 2 do mesmo artigo a ordem jurídica estabelece a presunção de que os menores de sete anos e os
interditos por anomalia psíquica não são imputáveis.
Nos termos do disposto no art.489º/1, se o dano tiver sido provocado por pessoa não imputável, pode
esta pessoa, por motivos de equidade, ser condenada a reparar os danos (total ou parcialmente) se não
for possível obter a devida reparação das pessoas a quem incumbe a sua vigilância.
As pessoas que se encontram obrigadas à vigilância de outras, em virtude da sua incapacidade natural,
são responsáveis pelos danos que elas causem a terceiros, salvo se demonstrarem que cumpriram o
seu dever de vigilância ou que os danos se teriam produzido ainda que o tivessem cumprido
(art.491º).

Culpa
Dolo – age com culpa quem tem intenção de praticar um facto causador de um dano e aceita a
consequência do mesmo;

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Mera culpa (negligência ou culpa em sentido estrito) – representa apenas imprudência ou
desleixo.
Em princípio os efeitos do dolo ou da mera culpa são equivalentes, no entanto: há situações em que a
obrigação de indemnizar pressupõe dolo (ex: art.814º, 815º e 1681º/1); é possível uma redução
equitativa da indemnização nos casos em que a responsabilidade civil tem origem na mera culpa
(art.494º).

Prova da culpa
O art.487º/1 estabelece o princípio geral constituindo o lesado na obrigação de provar a culpa do
autor. No entanto, o CC prevê algumas situações em que se estabelece uma presunção legal de culpa,
implicando uma inversão do ónus da prova. Estas presunções são ilidíveis mediante prova em
contrário.

Presunções legais de culpa:

 Danos provocados pelos incapazes (art.491º): presume-se a culpa das pessoas que estavam
obrigadas à sua vigilância;
 Danos derivados de edifícios ou outras obras que ruírem (art.492º): presunção de culpa do
proprietário ou possuidor;
 Danos causados por animais ou atividades perigosas (art.493º): presunção de culpa das
pessoas que tinham o dever de as vigiar.

Dano
Apenas se verificará a obrigação de indemnizar quando a violação causa um dano.
toda a ofensa de bens ou interesses alheios protegidos pela ordem jurídica.
As distinções que se podem fazer, quanto à espécie e natureza do dano são:

 Danos patrimoniais e danos não patrimoniais: consoante sejam ou não suscetíveis de


avaliação pecuniária;
 Danos pessoais e danos não pessoais: consoante sejam produzidos em pessoas ou sobre
coisas;
 Dano real (o prejuízo real que o lesado sofreu em sentido natural) e dano de cálculo
(consiste na expressão pecuniária do prejuízo – desvalorização patrimonial);
 Dano emergente e lucro cessante: o primeiro compreende a perda ou diminuição de valores
já existentes no património do lesado; o segundo refere-se aos benefícios que este deixo de
obter em consequência da lesão (acréscimo patrimonial frustrado);
 Danos presentes e danos futuros, consoante já se tenham verificado, ou não, no momento
considerado. Os danos futuros são indemnizáveis desde que previsíveis. Subdividem-se em
certos e eventuais: os presentes apresentam-se como infalíveis, os segundos como possíveis;
 Danos diretos (resultam imediatamente do facto) e indiretos (os demais);
 Dano positivo ou de cumprimento (corresponde aos prejuízos que decorrem do não
cumprimento definitivo, tardio ou defeituoso do contrato) e dano negativo ou de confiança
(tende a repor o lesado na situação em que se encontraria se não houvesse celebrado o
contrato).

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Nexo de causalidade
O art.483º/1 estabelece, ainda, como pressuposto uma ligação: que o facto constitua causa do dano.
Não se verifica a obrigação de reparar todos e quaisquer danos que sobrevenham ao facto ilícito, mas
apenas aqueles que o facto ilícito tenha na realidade ocasionado.
O nexo de causalidade tem uma dupla função:

 Pressuposto da responsabilidade civil;


 Medida da obrigação de indemnizar.
A propósito do nexo de causalidade encontramos como uma das mais relevantes a teoria da
causalidade adequada: a causa de determinado resultado é uma conduta. Logo, se nos abstraíssemos
da conduta, haveria, ou não, um resultado (dano). Apenas importam aqueles que resultam da conduta
(art.10º CPP).

Artigo 10º - Comissão por ação e por omissão


1 - Quando um tipo legal de crime compreender um certo resultado, o facto abrange não só a ação
adequada a produzi-lo como a omissão da ação adequada a evitá-lo, salvo se outra for a intenção da
lei.
2 - A comissão de um resultado por omissão só é punível quando sobre o omitente recair um dever
jurídico que pessoalmente o obrigue a evitar esse resultado.
3 - No caso previsto no número anterior, a pena pode ser especialmente atenuada.

Prescrição
O art.498º/1 estabelece um prazo geral de 3 anos a contar da data em que o lesado teve conhecimento
do seu direito. No entanto, o prazo geral de prescrição está dependente do prazo ordinário de
prescrição (art.309º), que é de 20 anos.
Igual prazo se verifica quanto ao direito de regresso, nas situações em que, devido a uma pluralidade
de sujeitos e ao regime da solidariedade, tal possa ocorrer (art.498º/2).

Prescrição quando o facto ilícito provenha de crime


Nos termos do art.498º/3, o prazo de prescrição será o do ilícito penal se este for mais longo.
O CPP (art.118º) estabelece os seguintes prazos de prescrição:

 15 anos para os crimes a que corresponda pena de prisão com limite máximo superior a 10
anos;
 10 anos para os crimes a que corresponda pena de prisão com limite máximo entre os 5 e os
10 anos;
 5 anos para os crimes a que corresponda pena de prisão com limite máximo entre 1 e 5 anos;
 2 anos nos restantes casos.

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Responsabilidade pelo Risco
Existem situações excecionais em que, independentemente de culpa, existe obrigação de
indemnizar (art.483º/2).
Esta modalidade de RC encontra-se alicerçada na chamada teoria do risco: se alguém exerce uma
atividade potencialmente geradora de perigos especiais deve responder pelos danos que provoque a
terceiros.
Apesar de a RC pelo risco não depender de culpa do agente, a determinação do grau de culpa pode ser
relevante não só quanto ao estabelecimento dos limites indemnizatórios (art.508º a 510º) mas também
quanto a eventuais situações de concorrência de culpa do lesado na produção ou agravamento do dano
(art.570º).

Responsabilidade do Comitente (art.500º)


Condição essencial para a verificação da responsabilidade civil do comitente é a existência de uma
relação de comissão.
traduz-se num vínculo de autoridade e subordinação respetivas – alguém encarrega
outrem, de forma onerosa ou gratuita, de uma comissão ou serviço.
Para que o comitente seja responsabilizado é necessário que tal obrigação também recaísse sobre o
comissário.
A responsabilidade é objetiva apenas quanto ao comitente, uma vez que quanto ao comissário pode ter
um qualquer fundamento.
É requisito que o dano tenha ocorrido como consequência do exercício da função atribuída ao
comissário.
A culpa do comitente resume-se:
 À escolha do comissário – culpa in eligendo;
 Às instruções ou ordens que lhe transmitiu – culpa in instruendo;
 À fiscalização da respetiva atividade – culpa in vigilando.
O art.500º/3 estabelece as seguintes regras quanto à indemnização:

 Se existe apenas culpa do comissário, o comitente que indemnize o terceiro tem direito de
exigir daquele tudo o que pagou;
 Havendo só culpa do comitente, está este obrigado ao ressarcimento integral dos danos, nos
termos da responsabilidade por facto ilícito;
 Caso se verifique culpa de ambos, comitente e comissário, ambos respondem solidariamente
para com o lesado.
A responsabilidade do Estado e das demais pessoas coletivas públicas está regulada no art.501º.
Verifica-se uma remissão para o regime deste artigo - responsabilidade do comitente. Trata-se de uma
responsabilidade destas entidades no âmbito da sua atividade de gestão privada. No CC, a
responsabilidade por atos de gestão pública está afastada.
Embora não regulada no CC, importa referir que a Lei no 67/2007 de 31 de Dezembro, com a
alteração introduzida pela Lei no 31/2008 de 17 de Julho, veio estabelecer o Regime da

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Responsabilidade Civil Extracontratual do Estado e demais entidade públicas por danos resultantes do
exercício da função legislativa, jurisdicional e administrativa.

Danos causados por animais


O art.502º estabelece o regime da responsabilidade objetiva dos que utilizam animais no seu próprio
interesse, relativamente aos danos que causarem.
A responsabilidade emerge do perigo especial que envolve a utilização de animais, variando de
acordo com a natureza destes. Exige-se que o dano se encontre numa adequada relação com o perigo
específico do animal.
A obrigação de indemnizar recai sobre aqueles que utilizarem os animais no seu próprio interesse,
sendo proprietários ou agindo como se o fossem.
Existe aqui uma diferença com o regime estabelecido no art.493º: quem está obrigado à vigilância do
animal e tenha violado o seu dever responde nos termos daquela disposição; quem o utiliza no seu
interesse responde nos termos do art.502º.

Acidentes causados por veículos (art.503º a 508º)


O legislador dedicou especial importância a este tipo de responsabilidade derivada à crescente
circulação de veículos terrestres na vida das sociedades atuais.
Quem é responsável pelo ressarcimento dos danos:

 Quem tenha o poder de facto sobre ele e o utilize em proveito próprio, mesmo através de
comissário (é o chamado detentor). Os inimputáveis apenas respondem nos termos do
art.489º;
 Os que conduzem o veículo por conta de outrem pelos danos que culposamente causarem;
Havendo responsabilidade de detentor e condutor o regime aplicável é o da responsabilidade
solidária.
Nos termos do art.504º, quem podem ser os beneficiários da responsabilidade:

 terceiros afetados na sua pessoa ou património pelo acidente;


 pessoas transportadas em virtude de um contrato;
 pessoas transportadas gratuitamente.
São nulas as cláusulas que excluam ou limitem a responsabilidade do transportador pelos acidentes
que atinjam a pessoa transportada (art.504º).
No art.505º estabelecem-se algumas situações de exclusão da responsabilidade:

 resultar o acidente de facto do próprio lesado, culposo ou não;


 resultar o acidente de terceiro, com ou sem culpa sua;
 resultar o acidente de causa de força maior estranha ao funcionamento do veículo.
No art.506º estabelece-se o regime no caso de ocorrer colisão de veículos:

 Se houver ausência de culpa de ambos os condutores, teremos de averiguar se os danos são


produzidos por um só ou por ambos de forma a identificar o detentor obrigado a reparar ou a

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responsabilidade ser repartida na proporção que o risco dos veículos tenha contribuído para a
produção do dano;
 Se houver culpa de um ou de ambos condutores, só haverá responsabilidade daquele ou
daqueles que agiram com culpa.
O art.508º estabelece limites à responsabilidade, justificando-se tal por se tratar de uma
responsabilidade independente de culpa.
A atual redação deste artigo visou aproximar o direito português dos critérios comunitários
respeitantes aos valores máximos de indemnização.

Situação especial
Uma situação especial de pluralidade de responsáveis é aquela que decorre, muitas vezes, do facto
danoso emergir, em simultâneo de um acidente de viação e de acidente de trabalho.
Nesta situação existirá mais do que um responsável, sempre que o detentor do veículo e a entidade
empregadora não forem a mesma pessoa.
O lesado poderá pedir a respetiva indemnização de qualquer um deles, mas não há lugar à cumulação
de indemnizações.
Satisfazendo um a indemnização ao lesado poderá exigir do outro a diferença se a indemnização a
suportar pelo outro fosse superior

Danos causados por instalações de energia elétrica


Encontram-se abrangidos os danos provocados por transporte ou distribuição de energia elétrica e de
gás, mas também os que decorram da sua produção ou armazenagem.
A responsabilidade destas empresas deriva não só dos danos causados pelos seus órgãos, agentes ou
representantes, mas também por aqueles ligados a deficiências do sistema.
A responsabilidade está excluída se ao tempo do acidente a instalação correspondia às normas
técnicas exigíveis e se se encontrava em perfeito estado de conservação.
Existe uma remissão para o art.508º quanto aos limites da indemnização, mas só se verificam se não
houver culpa do responsável.

Responsabilidade por factos lícitos


Há situações em que, apesar da conduta corresponder a um ato lícito, se ofende um direito ou
interesse de outrem. O CC não prevê explicitamente esta responsabilização, encontrando-se em
diversos diplomas reguladores de diferentes matérias.
De natureza extracontratual, no CC encontramos as seguintes referências:

 prejuízos que resultem do estado de necessidade (art.309º)


 prejuízos pela perseguição de enxames de abelhas (art.1322º)
 prejuízos resultantes de escavações (art.1347º)
 prejuízos resultantes da apanha de frutos (art.1367º).

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Mas, no CC, também encontramos referências à obrigação de indemnizar por factos lícitos em matéria
de natureza contratual:

 denúncia do arrendamento para habitação própria do senhorio (art.1102º);


 revogação do mandato (art.1172º);
 pedido de dissolução do casamento por um dos cônjuges com fundamento em alteração das
faculdades mentais do outro (art.1781º/b e 1792º/2).

Formação dos Contratos


O contrato é um negócio designado de bilateral ou até plurilateral, uma vez que, por vezes, regulam
interesses de mais de duas partes, como por exemplo, o contrato de sociedade.
A cada passo, os sujeitos vinculam os seus interesses através da manifestação da sua vontade –
princípio da liberdade contratual consagrado no art.405º.
Liberdade de celebração – os sujeitos só celebram os contratos que a sua vontade determinar. Em
regra, ninguém pode ser impedido ou obrigado a celebrar um contrato.
Liberdade de fixação dos conteúdos – quer quanto à escolha do tipo de contrato (negociação), quer
quanto à estipulação das cláusulas (estipulação).

A proposta
Na situação mais comum em que existem duas partes, uma demonstra à outra a sua intenção de se
vincular contratualmente. A outra parte manifestará, ou não, a sua concordância.
À manifestação da vontade do primeiro chamamos proposta e à do segundo aceitação.
A proposta e a aceitação podem ser simultâneas (contrato entre presentes) ou podem ser afastadas no
tempo (contrato entre ausentes). O art.228º diz que a proposta de contrato obriga o proponente. Tal
não significa que da proposta emerge um vínculo contratual. A proposta, por si só, não constitui fonte
de obrigação.

O que o legislador pretende significar é que, em princípio, a proposta é irrevogável, ou seja, não pode
ser retirada.
No âmbito do CC há que distinguir dois momentos:
Até ao recebimento ou conhecimento da proposta: a proposta é revogável sem qualquer
responsabilidade para o seu autor. Se a revogação for conhecida antes ou em simultâneo com
a proposta, fica esta sem efeito
Depois do recebimento ou conhecimento da proposta: é irrevogável (art.230º/3 e 228º).

Validade da proposta
Em princípio, a proposta tem um prazo de eficácia (validade) que é definido de acordo com as regras
previstas no art.228º.

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A proposta caduca, ficando automaticamente sem efeito, se decorrer o respetivo prazo fixado pelo
proponente, sem este ter recebido ou conhecido a aceitação.
Nas situações em que o proponente não fixou um prazo, teremos de distinguir duas situações:
Pediu uma resposta imediata: o prazo é o necessário para que a proposta e aceitação cheguem
aos respetivos destinatários (art.228º/1, b))
Não pediu uma resposta imediata: o prazo é o anterior acrescido de cinco dias (art.228º/1, c)).

Conteúdo da proposta
A proposta deve ser formulada com os elementos e requisitos necessários para que se enquadre no
contrato, sem necessidade de ulteriores modificações ou aperfeiçoamentos: quanto à forma, tem de
obedecer à exigida para o contrato; quanto ao conteúdo deve conter todos os elementos específicos
deste.
Se o destinatário diz que aceita a proposta, mas introduz-lhe aditamentos, alterações ou modificações,
não há aceitação, mas sim rejeição (art.233º). Neste caso vale como uma nova proposta.
A aceitação não tem de ser, necessariamente, expressa, pode ser tácita, desde que demonstre,
inequivocamente, a intenção de a aceitar (art.234º).
A aceitação, tal como a proposta, torna-se irrevogável uma vez recebida ou conhecida pelo
proponente.
Se o destinatário rejeitar a proposta, depois de aceitar a mesma, esta é válida desde que tenha chegado
ao conhecimento do proponente em simultâneo ou antes da rejeição (art. 235º).

Se o destinatário falecer ou for declarada incapaz antes da aceitação, a proposta caduca (art. 231º). Se
o proponente falecer ou se tornar incapaz antes de conhecer a aceitação, nada obsta à conclusão do
contrato, salvo vontade expressa ou presumida do autor em contrário (art. 231º/1).

Culpa na formação dos culpados


Aquele que proceder com culpa na formação dos contratos responderá perante o outro pelos danos
que assim lhe causar (culpa in contrahendo) – art.227º.
As partes devem agir de acordo com as regras da boa – fé quer durante a fase de negociação dos
contratos, quer na fase de conclusão dos mesmos.
Três situações:

 As negociações interrompem-se e, portanto, o contrato não chega a concluir-se


(responsabilidade pré-contratual): os danos a indemnizar correspondem aos danos que o
interessado sofreu por ter deixado de ver satisfeito o seu interesse, tal como ficou definido;
 O contrato conclui-se, mas sofre de invalidade ou ineficácia;
 O contrato conclui-se válida e eficazmente, mas o modo como foi celebrado gera para uma
das partes danos a indemnizar.

Efeito dos contratos

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Os contratos, uma vez celebrados, tornam-se vinculativos, produzindo os efeitos que lhe são próprios:
Por um lado, o contrato deve ser pontualmente cumprido (art.406º);
Por outro lado, uma vez que vincula as partes, não pode modificar-se ou extinguir-se senão
por novo acordo das partes (art.406º/1).
Por regra, os efeitos dos contratos limitam-se às partes. Como partes devem considerar-se os
contraentes e seus sucessores.
Os contratos só produzem efeitos em relação a terceiros nos casos especialmente previstos na lei
(art.406º/2).
Os contratos não produzem apenas efeitos obrigacionais. Produzem também efeitos reais, consistindo
na constituição, modificação ou extinção de direitos sobre as coisas.

Reserva de propriedade
A reserva de propriedade é uma alienação sob condição suspensiva (art.409º). Quando se aliena uma
coisa sob reserva de propriedade apenas se suspende o efeito translativo; os outros efeitos do negócio
produzem-se imediatamente, mas a transferência da propriedade fica dependente de evento futuro
que, em regra, será o cumprimento total ou parcial das obrigações da outra parte.

Espécies de contratos
A ampla consagração da regra da livre contratação (art.405º) faculta aos interessados o recurso a
vários arranjos contratuais:
Por um lado, podem ser celebrados contratos cujo modelo abstrato a lei descreve, definindo os seus
elementos e estatuindo os seus efeitos – contratos típicos ou nominados;
Por outro lado, as partes podem adotar outros modelos – contratos atípicos ou inominados.
Contratos mistos: Resultam da fusão de dois ou mais contratos ou partes de contratos
distintos, ou da inclusão num contrato de aspetos próprios do outro. Existe sempre uma fusão.
União de contratos: Aqui os contratos mantêm-se diferenciados, conservando a sua
individualidade: cumulam-se, não se fundem.
Quanto ao modo de formação, os contratos distinguem-se em:
Formais – aqueles em que a manifestação da vontade das partes tem de revestir certa forma,
legalmente prescrita, sob pena de nulidade – art.219º e 220º
Não formais – todos os outros.

Contrato Promessa (arts.410º a 413º; 440º a 442º e 830º)


É o contrato pelo qual ambas as partes, ou apenas uma delas, se obrigam em determinado prazo ou
verificados certos pressupostos, a celebrar determinado contrato.
Apesar de o mais comum ser o contrato promessa de compra e venda, por regra, pode-se celebrar um
contrato promessa de qualquer contrato previsto na lei ou criado pelas partes (exceto a doação). A
obrigação assumida pelas partes é a obrigação de contratar.

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O contrato promessa pode ser bilateral (ambas as partes podem obrigar-se a celebrar um outro
contrato no futuro - contrato prometido) ou unilateral (apenas uma das partes se obriga a contratar).
Aspetos relevantes:
Possibilidade de produzir efeitos em relação a terceiro – art.413º
Possibilidade da execução específica – 830º (exceto no caso da doação)
Transmissibilidade dos direitos e obrigações – art.412º

Princípio da Equiparação (art.410º)


Consiste em aplicar, como regra, aos requisitos e aos efeitos do contrato promessa as disposições
relativas ao contrato prometido.
Exceções:
1ª quanto à forma:
Se o contrato prometido exigir escritura pública ou equivalente, o contrato promessa tem de
ser celebrado por escrito e assinado pelos promitentes;
Tratando-se de contrato oneroso de transmissão de bens imóveis, o documento necessita de
ser escrito e as assinaturas reconhecidas notarialmente e deve ser exibida a licença de
construção ou habitação;
Nos restantes casos aplica-se a regra da liberdade de forma (art.219º)
2ª quanto às disposições:
Existem disposições que são próprias do contrato prometido e que, pela sua razão de ser, não
devem ser extensivas ao contrato – promessa (por exemplo: efeito da compra e venda
(art.879º), nulidade da venda de bens alheios (art.892º) ou alienação em caso de
compropriedade (art.1408º).

Eficácia real do contrato promessa (art.413º)


Pode ser atribuída eficácia real ao contrato promessa no caso de transmissão ou constituição de
direitos reais sobre bens imóveis ou móveis sujeitos a registo, produzindo efeitos em relação a
terceiros.
Tem de se verificar os seguintes pressupostos:

 Constar a promessa de escritura pública ou documento particular autenticado, salvo nos casos
em que a lei não exigir essa formalidade para o contrato prometido;
 Pretenderem as partes atribuir eficácia real;
 Serem inscritos no registo os direitos emergentes da promessa (art.413º). Na falta de registo a
promessa terá um efeito meramente obrigacional.

Transmissibilidade
Os direitos e obrigações resultantes da promessa contratual são, em princípio, transmissíveis por
morte e por negócio entre vivos (art.412º/1C):

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Em vida qualquer das partes pode ceder a sua posição nos termos do art.424º.
Por morte de qualquer das partes a sua posição transmite-se aos seus herdeiros, nos termos
gerais da sucessão.

Sinal (art.442º)
O sinal tem duas funções diferentes:

 Princípio de pagamento (antecipação de cumprimento)


 Cláusula penal (moratória ou compensatória)
A coisa entregue a título de sinal deve ser imputada na prestação devida – nº1;
Se quem constituir o sinal não cumprir a prestação, perde o sinal;
Se o incumprimento for do outro tem este o direito a exigir o dobro do sinal;
Se houver tradição da coisa, em caso de incumprimento, aplica-se a 2ª parte do nº2;
O contraente não faltoso pode requerer a execução específica – art.830º.

Execução específica (art.830º)


O pressuposto da execução específica é a mora e não o incumprimento definitivo. Esta pode ser
afastada pela vontade das partes.
A existência de sinal no contrato promessa faz presumir convenção contrária à execução específica.
Nas promessas com eficácia real (art.410º/3) o direito à execução específica não pode ser afastado
pelas partes (art.830º/3).

Cumprimento das Obrigações


As relações obrigacionais apresentam-se, em regra, como vínculos de certa duração ou transitórios,
que não são queridos em si mesmo, antes nascem para se extinguir, ao contrário das relações
familiares ou reais que são normalmente duradoiras. Daí que o cumprimento ou adimplemento – isto
é, a realização da prestação debitória (art.762º/1) represente o aspeto culminante da vida da relação
obrigacional.
Quanto ao cumprimento pode-se distinguir entre cumprimento voluntário e cumprimento coercivo. A
nossa ordem jurídica enquadra o cumprimento efetuado por um terceiro como cumprimento
voluntário.
O nosso CC utiliza, em regra, o termo cumprimento; todavia usa indiferenciadamente as palavras
cumprimento e pagamento para indicar a atividade solutória do devedor nas obrigações pecuniárias –
arts.550º a 558º.

Como deve ser feito o cumprimento


O devedor cumpre a obrigação quando realiza a prestação a que está vinculado (art.762º/1) – princípio
da pontualidade.

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Princípio da boa fé partes também no cumprimento – art.762º/2.
A prestação tem de ser efetuada por inteiro e não parcialmente, exceto se a convenção das partes,
a lei ou os usos sancionarem outro regime (art.763º/1) – princípio da integralidade do cumprimento.
Quem pode efetuar a prestação
A regra geral é de que a prestação pode ser feita tanto pelo devedor como por terceiro, interessado
ou não no cumprimento da obrigação (art.767º/1). Porém, não pode o credor ser obrigado a receber de
terceiro a prestação, desde que exista acordo expresso em contrário ou a substituição o prejudique
(art.767º/2).
Cumprimento por terceiro
Umas vezes, o terceiro fica investido na mesma posição que o credor ocupara até aí ou adquire um
novo direito contra o devedor. Outras vezes, não terá qualquer direito em relação a este.
No primeiro dos casos, o terceiro pode estar diretamente interessado (por exemplo garantir a
dívida com fiança ou hipoteca). Então o terceiro fica investido na qualidade de credor do antigo
devedor. O crédito transmite-se mediante sub-rogação legal do antigo credor para o terceiro
cumpridor (art.592º/1).
Se o terceiro não tem um interesse direto, pode também ficar com os direitos que competiam ao
credor, desde que se verifique uma cessão de créditos (art.577º) ou uma sub-rogação convencional
(art.589º). O terceiro nada poderá reclamar ao devedor exonerado se quis com o seu ato fazer-lhe uma
liberalidade.
A quem pode ser feita a prestação
Regra geral (art.769º/1), a prestação deve ser feita ao credor ou ao seu representante.
A representação pode resultar da lei (visa suprir uma incapacidade legal do credor, a prestação não
deve ser efetuada ao credor incapaz, mas sim ao seu representante legal) ou ser voluntária (o devedor
só está obrigado a efetuar a prestação ao representante se houver acordo nesse sentido (art.771º).

Lugar do cumprimento da obrigação


Na falta de estipulação ou disposição legal especial, a prestação deve ser efetuada no lugar do
domicílio do devedor (art.772º/1).
Se o devedor mudar de domicílio depois de constituída a obrigação o lugar onde a prestação deverá
ser efetuada será o do seu novo domicílio, exceto se tal mudança acarretar prejuízo para o credor
(art.772º/2).
Se por acordo se fixar o domicílio do credor como lugar para se efetuar a prestação e, entretanto, este
mudar de domicílio, então esta poderá ser efetuada no domicilio do devedor, exceto se este se
comprometer a indemnizar o devedor do prejuízo que ele sofra com a mudança (art.775º).

Há situações em que a lei se desvia do princípio geral consagrado no art.772º:

 Se a prestação tiver por objeto coisa móvel determinada deve ser cumprida no lugar onde a
coisa se encontrava ao tempo da conclusão do negócio (art.773º/1);
 As obrigações pecuniárias no domicílio que o credor tiver ao tempo do cumprimento
(art.774º).

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Quando deve ser cumprida a prestação
Em primeiro lugar vigora o princípio da liberdade contratual, portanto, a prestação deve ser
cumprida no momento que as partes livremente fixaram.
Não sendo fixado pelas partes, vigora o princípio geral previsto no art.777º/1: na falta de estipulação
ou disposição especial, o credor pode exigir o cumprimento a todo o tempo, bem como o devedor
pode a todo o tempo exonerar-se dela.
Nos termos do nº2, se se tornar necessário estabelecer um prazo e ele não foi acordado pelas partes é o
mesmo fixado pelo tribunal.
Denomina-se de interpelação o ato pelo qual o credor exige ou reclama do devedor o pagamento.
A interpelação pode ser feita pelo próprio credor – extrajudicial – ou através dos tribunais – judicial.
O devedor só fica constituído em mora após ter sido interpelado para cumprir (art.805º).
Despesas do cumprimento
No anterior CC encontrava-se expressamente estabelecido que as despesas corriam por conta do
devedor. O atual CC não se refere expressamente a essa questão, mas a solução mantém-se uma vez
que se tratam de gastos com o próprio cumprimento, logo fazem parte dele e, portanto, oneram a
pessoa responsável por efetuá-lo.
Imputação do cumprimento
Esta questão coloca-se quando entre o mesmo credor e o mesmo devedor existem várias dívidas
homogéneas, isto é, que tenham por objeto coisas do mesmo género e o devedor satisfaça ao credor
coisas do género previsto em quantidade bastante para saldar apenas alguma ou algumas e não a
totalidade das dívidas.
Na falta de acordo das partes (imputação convencional) prevalece a regra da imputação pelo devedor:
fica à escolha deste designar a dívida ou dívidas a que o cumprimento se refere (art.783º/1). No
entanto, o devedor não pode designar uma dívida que se encontre ainda por vencer (nº2). A regra do
nº1 aplica-se, apenas, a dívidas vencidas.

Prova do cumprimento
Desde logo, pode provar-se o cumprimento da obrigação através de um documento em que o credor
declare ter recebido uma prestação como satisfação do seu crédito – recibo ou quitação.
Quem cumpre a obrigação tem o direito a exigir quitação (art.787º/1). O autor do cumprimento poderá
recusar a prestação enquanto não lhe seja dada quitação, assim como a pode exigir posteriormente
(art.787º/2).
Não cumprimento das obrigações
Verifica-se o não cumprimento ou inadimplemento de uma obrigação, sempre que a respetiva
prestação debitória deixa de ser efetuada nos termos adequados.
Quanto ao não cumprimento importa distinguir se a prestação deixou de ser realizada em
consequência de facto do devedor, ou se, pelo contrário, isso derivou de facto do credor ou de
terceiro, de circunstância de força maior, ou, inclusive, da lei.
Responsabilidade do devedor

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O princípio geral é o de que o devedor que falte culposamente ao cumprimento da obrigação se torna
responsável pelos prejuízos ocasionados ao credor. Isto, quer se trate de não cumprimento definitivo,
quer de simples mora ou de cumprimento defeituoso – arts.798º, 799º, 801º e 804º.
A lei estabelece uma presunção de culpa do devedor – art.799º/1 e 2.
Não cumprimento definitivo
O inadimplemento definitivo que ocorra com culpa do devedor confere ao credor o direito à
indemnização dos danos sofridos. O art.801º equipara ao não cumprimento definitivo a
impossibilidade da prestação imputável ao devedor, pois, se a prestação se torna impossível por culpa
sua, responde como se faltasse culposamente ao cumprimento da obrigação.
Causas (art.808º):

 A perda do interesse de credor;


 A inobservância de um prazo suplementar razoável fixado pelo credor.
Mora do devedor
A simples mora do devedor obriga-o a reparar os danos causados ao credor (art.804º/1)
Verifica-se mora debitória se houve atraso culposo no cumprimento, mas subsiste a possibilidade
futura deste (art.804º/2).
O devedor só fica constituído em mora depois da respetiva interpelação – judicial ou extrajudicial
(art.805º).
Independentemente de interpelação, haverá mora nas seguintes situações:

 Se a obrigação for a prazo certo (art.805º/2, a));


 Se a obrigação provier de facto ilícito (art.805º/2, b));
 Se o próprio devedor impedir a interpelação (art.805º/2, c));
 Se o devedor declara ao credor a sua intenção de não cumprir, em definitivo.
Efeitos da mora
O principal efeito da mora reconduz-se à indemnização dos prejuízos causados ao credor
(art.804º/1). Esta determina-se nos termos gerais: o devedor responde apenas pelos danos que sejam
consequência provável do não cumprimento tempestivo da obrigação (art.563º).
Contudo, o CC estabelece alguns preceitos especiais:
Mora nas obrigações pecuniárias – art.806º
Mora do locatário – art.1041º
Mora do mutuário – art.1145º
Mora no pagamento de prestações anuais a cargo do superficiário – art.1531º/2.
O devedor moroso torna-se responsável pelo risco da deterioração da coisa devida, mesmo que esses
factos não lhe sejam imputáveis (art.807º/1), exceto se provar que o credor teria sofrido igualmente os
danos se a obrigação tivesse sido cumprida em tempo (nº2).
Cumprimento defeituoso

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O dano aqui não resulta da omissão ou do atraso do cumprimento, antes dos vícios ou defeitos da
prestação efetuada. A execução defeituosa produz tão-só os danos resultantes da falta de
cumprimento perfeito.
Se o credor recusa a prestação defeituosa, passa-se também a um problema de incumprimento
definitivo ou de mora (arts.918º e 1032º).
Realização coativa da prestação
No caso de não se verificar a satisfação voluntária da obrigação, cabe ao credor o direito de exigir
através dos tribunais o seu cumprimento e de executar o património do devedor (arts. 817º a
830º). Nestas disposições o legislador aborda a ação de cumprimento, mas também a execução
específica.
Causas legitimas de não cumprimento
Em certas hipóteses é lícito ao devedor recusar o cumprimento da obrigação a que se acha vinculado.
Ele tem o direito de não cumprir caso se verifiquem algumas situações justificativas do mesmo:
1ª exceção de não cumprimento do contrato: traduz-se no direito de qualquer uma das partes
recusar o cumprimento enquanto a outra, por seu turno, não efetue a correspondente prestação a
que se encontra obrigada (art.428º a 431º);
2ª direito de retenção: o devedor também não é responsável pelo incumprimento quando goza
deste direito. Significa que pode retardar o cumprimento da sua prestação, sem que por esse facto
fique sujeito a responsabilidade.
Causas de incumprimento não imputáveis ao devedor
Trata-se de causas que derivam de facto de terceiro ou, em termos gerais, exista caso fortuito ou de
força maior.
1ª Impossibilidade da prestação: a obrigação extingue-se quando ocorre impossibilidade
objetiva da prestação (art.790º/1). Mas só a impossibilidade absoluta.
2ª Mora do credor: o credor incorre em mora quando, sem motivo justificado, não aceita a
prestação que lhe é oferecida nos termos legais ou não pratica os atos necessários ao cumprimento
da obrigação (art.813º).

Causas de Extinção das Obrigações para além do Cumprimento


Dação em cumprimento: consiste no facto de o devedor se exonerar do vínculo a que se acha
adstrito, mediante uma prestação diversa da que era devida (art.837º a 840º).
Consignação em depósito: consiste na possibilidade de o devedor se liberar da obrigação
através do depósito judicial da coisa devida, com citação do credor (art.841º e ss).
Compensação: A compensação traduz-se na extinção de duas obrigações, sendo o credor de
uma delas devedor na outra, e o credor desta última, devedor na primeira.
Representa um encontro de contas que se justifica pela conveniência de evitar pagamentos
recíprocos. Pode ser convencional ou legal.
Requisitos:
Reciprocidade de créditos – art.847º/1;

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Validade, exigibilidade e exequibilidade do contra crédito – art.847º/1, a);
Homogeneidade das prestações – art.847º/1, b);
Existência e validade do crédito principal.
Novação: é a extinção contratual de uma obrigação, em virtude da constituição de uma
obrigação nova que vem ocupar o lugar da primeira.
Objetiva sempre que se substitui a obrigação, mantendo-se os sujeitos – art.857º;
Subjetiva quando, substituindo-se o credor ou o devedor, a obrigação passa a se outra
– art.858º.
Requisitos:
1º A intenção de novar, expressamente declarada – art.859º;
2º É necessário que a obrigação primitiva seja válida e não se encontre extinta ao
tempo em que a segunda foi contraída – art.860º/1;
3º É necessário que a nova obrigação se constitua validamente – art.860º/2.
Remissão: resulta de um contrato, oneroso ou gratuito, exigindo-se, consequentemente, a
aceitação do devedor. Nos termos do art.863º/1, o credor pode remitir a dívida por contrato
com o devedor. Nos termos do no 2, tendo a remissão carácter de liberalidade, é havida como
doação conforme art.940º e seguintes.
Confusão: quando na mesma pessoa se reúnam as qualidades de credor e devedor na mesma
obrigação, extinguem-se o crédito e a dívida (art.868º).
Prescrição: constitui uma exceção que não é exclusiva dos direitos de crédito (art.298º).
Consiste no instituto por virtude do qual a contraparte pode opor-se ao exercício de um
direito, quando este não se verifique durante certo tempo indicado na lei e que varia consoante
os casos (art.304º/1).

Aspetos Gerais
O regime é inderrogável por acordo das partes (art.300º);
A prescrição aproveita a todos os que dela possam tirar benefício, sem exclusão dos incapazes
(art.301º);
A renúncia à prescrição apenas é consentida depois de decorrido o prazo prescricional, mas só tem
legitimidade para essa renúncia quem possa dispor da vantagem por ela criada (art.302º)
O tribunal não pode suprir, oficiosamente, a prescrição. Terá de ser invocada pelos interessados
(art.303º).
Uma vez completada a prescrição, o beneficiário tem a faculdade de recusar o cumprimento da
obrigação ou de se opor ao exercício do direito prescrito (art.304º).
O início do curso da prescrição está sujeito às regras dos art.306º e 307º.

Prazos

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O prazo ordinário de prescrição é de vinte anos (art.309º).
O art.310º indica alguns direitos que prescrevem no prazo de cinco anos.
Quanto a direitos reconhecidos em sentença e títulos executivos, o art.311º impõe determinadas
particularidades.
Legislação especial pode estabelecer outros prazos prescricionais.

Garantias das Obrigações


Dividem-se em:

 Geral (Pelo cumprimento da obrigação respondem todos os bens do devedor (art. 601º)
 Especiais (Aquelas em que terceiros – outras pessoas – garantem pessoalmente ou com o seu
património o cumprimento da obrigação de outrem)
Por sua vez, as garantias especiais dividem-se em:

 Pessoais: São aquelas em que terceiras pessoas assumem pessoalmente o cumprimento da


obrigação de outrem.
 Fiança (627º):
O Fiador fica pessoalmente obrigado perante o credor – nº1
A obrigação do fiador é acessória – nº 2
Deve ser expressamente declarada – 628º/2

 Subfiança (630º):
Consiste no fenómeno em que o subfiador constitui uma fiança sobre o fiador.

 Mandato de crédito (629º):


Ocorre quando alguém encarrega outrem de dar crédito a terceiro, em nome e por conta do
encarregado.

 Benefício da excussão prévia:


Consiste na faculdade de o fiador recusar o cumprimento enquanto o credor não tiver excutido todos
os bens do devedor sem obter a satisfação do seu crédito (art.638º).
Havendo garantias reais para garantia da mesma dívida, o fiador pode exigir a execução prévia dessas
coisas sobre que recai a garantia real (art.639º). O fiador pode renunciar a este benefício.

 Reais
 Consignação de rendimentos (656º):
Garantia que permite ao credor receber os rendimentos de certos bens imóveis ou de certos bens
móveis sujeitos a registo, durante um prazo estabelecido ou até ao pagamento integral da dívida.
Tem, sempre, como duração máxima, o prazo de 15 anos – 659º/2.

 Penhor (666º):

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Consiste na garantia através da qual o devedor, ou um terceiro, entrega ao credor um bem móvel que
fica a garantir o cumprimento da obrigação.

 Hipoteca (686º):
Garantia através da qual o devedor, ou um terceiro, entrega ao credor um bem imóvel ou equiparado
que fica a garantir o cumprimento da obrigação, conferindo a este o direito de se pagar
preferencialmente sobre os demais credores.
Obrigatoriamente, a hipoteca deve ser registada (art.687º).
Podem ser:
Legais – 704º
Judiciais – 710º
Voluntárias – 712º

 Privilégios creditórios (733º)


É a faculdade consagrada na lei, em atenção à causa do crédito, que concede a certos credores,
independentemente do registo, de serem pagos com preferência a outros.
Os privilégios podem ser mobiliários ou imobiliários.

 Direito de retenção (754º)


O devedor que disponha de um crédito sobre o seu credor goza do direito de retenção se, estando
obrigado a entregar certa coisa, o seu crédito resultar de despesas feitas por causa dela ou de danos
por ela causados.

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