Академический Документы
Профессиональный Документы
Культура Документы
SOCIAS
Dácio José do Nascimento
Mestrando em Filosofia pela Universidade Federal da Paraíba – UFPB
dacionascimento12@gmail.com
RESUMO
1
Cf. https://www.pucsp.br/pos/cesima/schenberg/alunos/paulosergio/politica.html
muito bem em que consistiu o entendimento do juiz que motivou sua infeliz decisão:
Umbanda e candomblé não são religiões, diz juiz federal2. Em outra decisão, revendo
seus critérios, Eugênio Rosa vai reconhecer Umbanda e Candomblé como religiões, mas
mantém a negativa dada na ação movida pelo Ministério Público Federal do Rio de
Janeiro que pedia retirada do YouTube de 15 vídeos considerados ofensivos à umbanda
e ao candomblé.
Trazemos este exemplo para acentuar o uso democrático das redes socais feito
de forma pejorativa. O que está por traz destas publicações? Quem as fez? Qual o
objetivo? Por certo não são os melhores. Assim a ideia de Platão faz ressoar, quando em
nome da democracia qualquer um pode manifestar suas opiniões, mas não é visto o bem
comum. Neste caso ela é um perigo.
Em contraponto, juntamente com Aristóteles, tiramos a busca do bem comum.
Daí a democracia nas redes socais devem favorecer este fim, não impondo o ponto de
vista de alguns para obter seus interesses, mas corroborando com ideias nos quais o
diferente também tenha voz e espaço. Qual é a intencionalidade de uma publicação?
Quais fins querem ser alcançados? O que é privilegiado?
Na outra margem do exemplo citado acima, os mesmos meios que foram usados
para denegrir a Umbanda e o Candomblé, também serviram para pressionar o Juiz da
17ª Vara Federal do Rio rever seu julgamento, como lembra Patrício na sua obra:
“...esse caso provocou polêmica em todo o país e mobilizou diferentes
setores da sociedade brasileira em defesa das populações ligadas às
religiões afro-brasileiras. Essas mobilizações, somadas à pressão feita
pelas mídias e pela imprensa, forçaram uma revisão da decisão do juiz
que, mesmo reconsiderando seu parecer sobre as religiões afro-
brasileiras, não recuou na decisão quanto à retirada dos vídeos
ofensivos em questão” (ARAÚJO, 2017, p. 241).
Assim chegamos a um questionamento. É possível uma democracia nas redes
sociais que favoreçam o anseio do bem comum? É possível criar um mecanismo que
favoreça uma rede comunitária solidária, na qual a liberdade de expressão seja
defendida sem que esta fira a dignidade individual seja de pessoas, culturas, religiões,
opiniões políticas etc.? Oxalá que exista.
Deste ponto, propomos com este artigo, um meio, entre tantos, que salvaguarde
um espaço democrático das mídias sociais e favoreçam lugar de debate, encontro,
2
Disponível em http://www1.folha.uol.com.br/poder/2014/05/1455758-umbanda-e-
candomble-nao-saoreligioes-diz-juiz-federal.shtml.
construção de ideais que favoreçam o crescimento de uma sociedade mais justa e
fraterna.
Como perceber em meio ao mundo cibernético, sem fios, no sentido literal, essa
nuance sócio-política nas relações virtuais? O Doutor em Filosofia Ronaldo Miguel da
Silva, desenvolvendo o tema de Democracia e Redes Socais apresenta a seguinte
opinião.
“A estrutura normativa da fraternidade em redes se define a partir de
um esquema de atividades que conduz os agentes conectados a agirem
juntos, a fim de produzir um total de benefícios e atribuir a cada um
certo reconhecimento pela parte dos ganhos. A relação criada e
conservada depende dos acordos mantidos e renegociados, os quais
incidem sobre direitos e obrigações. As redes se encaminham para se
tornar uma referência à liberdade como causa e justificação racional
de um espaço político criativo e aberto, de tal modo que cada pessoa
tenha condições de ordenar autonomamente suas expressões de vida
individual e social, mediante uma interação de iguais oportunidades e
reconhecimento recíproco da dignidade”. (SILVA, p. 61)
Ele apela para o princípio da fraternidade. De fato, é próprio da raça humana
esse princípio. Diferente dos outros animais, que geneticamente carregam o programa
base que define sua relação com os outros animais de sua espécie, o homem constrói por
laços de fraternidade o erguimento de suas ideias e princípios sociais e políticos. Eles
mesmos dão sentido, por troca de experiências, aos acontecimentos que estabelecem em
meio as suas relações sócio-políticas. E é a agregação de todas as experiências que
favorecerão no final das contas o conceito, argumentação, defesa, estabelecimento de
determinada ideologia, ou manifestação sócio-política.
Parafraseando a autora Arendt no livro a Condição Humana essa ação do homem
no mundo corresponde a sua pluralidade, ao fato que ele mesmo habita no mundo. Seus
aspectos, nesta habitação, têm alguma relação sócio-política, mas é na sua pluralidade
que está não só a sua condição sem a qual não pode ser, mas a condição para que e em
que aconteça e exista tal relação.3 No seu pensamento então, não há como o homem
escapar desta posição no mundo. Todas as suas ações, reais ou virtuais, se estabelecem
por influência de sua pluralidade. Daí não só um conceito, não só um modo de
experiência humana, prova disto são as mais diversas manifestações sócio-político-
culturais existentes ao longo da história.
Também as redes socais estão impregnadas dessa condição do homem. E se,
mesmos por dados virtuais, ou IP´s de computador, todos carregam uma identidade
humana, como tal também devem ser interpretadas as relações sócio-políticas.
“A par da constatação da pluralidade moral e da particularidade de
interesses pessoais, crenças religiosas, posturas morais, posições
econômicas e categorias sociais, cujo pluralismo caracteriza a
sociedade atual de intuições livres, a estrutura das redes parece
resgatar a dimensão fraterna política como busca da intermediação.
Pode parecer carente de poder institucional, mas é justamente na sua
força de fluxo que acontecem os acordos sobre princípios que
3
CF. ARENDT, Hannah. A condição humana. Rio de Janeiro: Forense Universitária,
2007, p. 15
“As redes não estão, fundamental e primeiramente, revestidas de
papeis morais rigorosos, mas guardam a concepção de justiça e de
bem, valores capazes de articular os princípios aplicáveis às estruturas
básicas de sociedades diversas, observando a igualdade, respeitando as
diferenças e preservando a liberdade de associações, no intuito de
antecipar e assegurar condições efetivas de cooperação social em
torno de determinados valores”. (SILVA, p. 22)
O campo das redes socais, como mais acima foi dito, deve ser um meio de
intermediação. Elas carregam, sem dúvida, o modo de pensar e agir do homem, mas de
longe podem ser incorporadas como um fim para as decisivas ações regedoras da vida
humana, principalmente no que tange a formação de uma consciência crítica, ética,
política da conivência da humanidade. Mas há de se exaltar o seu papel primordial para
um tipo de fraternidade, cuja dinâmica é própria da condição do fenômeno
comunicativo humano, capaz de corresponder às formas normativas e necessárias à
organização da convivência global.
Assim, as redes socais como meios de formação de opinião e intermediação
entre as ideologias e o senso comum dos homens, encontram-se no princípio do ser
político. É notória sua capacidade de defesa, refutação, aceitação dos mais variados
temas levantados pela convivência social. Mas também é visível a mão ideologizante
que se impõe às escuras sobre a formação daquele mesmo senso comum. Dessa forma
cabe ao homem moderno e às ciências humanas uma orientação crítica a este meio de
convivência, que como foi atestado acima, garantem uma liberdade-autonomia do
indivíduo humano nas suas relações sócio-políticas. Daí que deve-se ressaltar a
Fraternidade como caminho para este alcance.
Pensar as relações sobre o aspecto do fraterno, é introduzir um antídoto contra o
perigo do individualismo. Levados por aquele sentimento aquele que se encontra por
trás de uam tela de computador, celular, tablete etc. tem um vínculo humano com outro
indivíduo que também se encontra na sua mesma condição, mas que presencialmente
não o vê. A fraternidade exerce uma força crítica sobre os atos, palavras, discursos
escolhidos para se publicar, compartilhar, curtir. Ela é carregada do sentimento de
corresponsabilidade.
Chegamos, assim, ao entendimento que o ser humano não pode ser pensado de
forma isolada de sua rede de relações estabelecidas, sejam elas físicas ou virtuais.
Também é oportuno apontar que tais relações devem favorecer a autonomia do ser
humano, sem ser aprisionado num determinado víeis ideológico e ser manipulado por
ele.
A Democracia nas redes socais, quando associada à busca do bem comum,
torna-se um meio por demais importante para a criação de laços humanitários. Deve-se,
contudo, sempre estar atento, com um olhar crítico para as variadas manifestações que
fervilham os meios sociais: quais as que favorecem a boa convivência? Quais os que
salvaguardam a autonomia e a liberdade do homem? O contrário também se faz
necessário: Quais pensamentos são duvidosos? Quais são a representação de um
pensamento autoritário que não veem o bem comum, mas a satisfação dos desejos de
um determinado grupo? Quais são libertários e quais não são? Tendo esses
questionamentos em mente, fazendo aliança com iniciativas que pensam no bem estar
de todo um conjunto social, pode-se criar uma rede de fraternidade e solidariedade, no
qual todos tenham um espaço e se sintam agentes da própria vida e sociedade.
BIBLIOGRAFIA
ARAÚJO, Patrício Carneiro. Entre Ataques e Atabaques: Intolerância Religiosa e
Racismo nas Escolas, 1ª Ed. Arché Editora, São Paulo, 2017.