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3º Unidade
Capítulo XI
A Arte Literária___________________________________________________________________3

Capítulo XII
Os Estilos de Época da Literatura Brasileira I____________________________________________12

Capítulo XIII
Os Estilos de Época da Literatura Brasileira II___________________________________________21

Capítulo XIV
Os Estilos de Época da Literatura Brasileira III___________________________________________34

Organização: Apoio:

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Capítulo XI

“Literatura é a arte literária. Somente o escrito com o propósito ou a instituição


dessa arte, isto é, com os artifícios de invenção e de composição que a constituem,
é, a meu ver, literatura. (José Veríssimo). A Literatura é uma das várias
manifestações artísticas. Dentre elas (escultura, pintura, música, fotografia) há
pontos comuns e pontos diferentes. Porém, o fator que mais diferencia uma das
outras é a matéria-prima com que cada artista trabalha.
O crítico Alceu Amoroso Lima nos diz: “De que se serve o
homem de letras para realizar seu gênio inventivo? Não é, por
natureza, nem do movimento como o dançarino, nem da linha como
o escultor, ou o arquiteto, nem do som como o músico, nem da cor
como o pintor. E, sim, da palavra.
A palavra é, pois, o elemento material intrínseco do homem de
letras para realizar sua natureza e alcançar seu objetivo artístico.”
(LIMA, Alceu Amoroso. A Estética Literária e o Crítico. 2. ed. Rio de Janeiro, Agir, 1954.

Entretanto, precisamos atentar para o fato que não basta usar a palavra para produzir
literatura. Só produzimos literatura, quando nossa intenção (a intenção do autor) vai além da
mera informação ou reflexão. Portanto, a intenção do autor precisa centralizar-se na
mensagem, selecionando e combinando palavras de uma forma especial.
Alguns autores clássicos afirmavam que a arte literária é a realização do belo literário,
ou seja, se trabalhamos com a palavra, teremos uma expressão escritga com estilo, forma,
ritmo e figuras de linguagem, que nos proporcionará o prazer estético.
Lembramos que o poeta também é um artista, criador de fantasias, mas como ser
humano, sobrevive no mundo e por isso, exerce influência através de sua arte escrita. Assim
afirma o poeta americano Ezra Pound: “A literatura não existe no vácuo. Os escritores, como
tais, têm uma função social definida, exatamente proporcional à sua competência como
escritores. Essa é a sua principal utilidade.”
(POUND, Ezra. ABC da Literatura. São Paulo, Cultrix, s.d.)
Resumindo:

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Capítulo XI

• A Literatura é uma manifestação


artística;
• A palavra, a linguagem é a matéria
prima da literatura;
• As obras literárias carregam uma
ideologia, uma posição do autor diante da realidade.
Figuras de Linguagem

As Multiplas Funções da Literatura

Cultura, Interação e Comunicação


Como vimos anteriormente, a literatura é a arte da palavra e a palavra é a unidade
primordial da língua. Por isso, podemos inferir que a literatura é uma ferramenta de
comunicação e interação social, que também executa o papel social de ser a expressão da
cultura de uma comunidade. Confira, abaixo, um exemplo dessa função social da literatura,
expresso no poema “Naturalidade” do poeta moçambicano Rui Knoplfi:

Naturalidade

Europeu, me dizem.
Eivam-me de literatura e doutrina
européias
e europeu me chamam.

Não sei se o que escrevo tem raiz a raiz de Observe que o poeta
algum escreve o poema em língua
pensamento europeu. portuguesa, expressando seu
É provável ... Não. É certo, sentimento africano.
mas africano sou. Os elementos da paisagem
Pulsa-me o coração ao ritmo dolente africana, como as micaias e
desta luz e deste quebranto. as savanas, opõem-se aos da
Trago no sangue uma amplidão paisagem européia (como as
de coordenadas geográficas e mar Índico. rosas), e confirmam a busca
por uma legítima identidade
Rosas não me dizem nada, africana.
caso-me mais à agrura das micaias
e ao silêncio longo e roxo das tardes
com gritos de aves estranhas.
Chamais-me europeu? Pronto, calo-me.
Mas dentro de mim há savanas de aridez
e planuras sem fim
com longos rios langues e sinuosos,
uma fita de fumo vertical,
um negro e uma viola estalando.

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Capítulo XI

Imaginação
Uma das características mais fascinantes da literatura é a capacidade de levar o leitor
a viajar, imaginar, sonhar... Quando um autor escreve um texto, ele utiliza a imaginação para
recriar a realidade e consequentemente, o leitor também a utilizará para recriar livremente o
que leu.
Atualmente, muitos críticos literários e escritores tem defendido a abertura da obra
literária, ou seja, a aceitação de que existem várias possibilidades de leitura em um único texto
literário. Aos poucos, a postura do leitor é alterada: ao invés de desempenhar um papel
passivo (que só recebe o texto) ele é visto como um participante ativo, que também usa a
imaginação para ler e entender o texto, recriando-o da forma que o convier.

Inferir - Tirar por conclusão; deduzir pelo raciocínio.


Cultura - O processo ou estado de desenvolvimento social de um grupo, um povo,
uma nação, que resulta do aprimoramento de seus valores, instituições, criações etc;
civilização, progresso.

Os Gêneros Literários
Como vimos anteriormente, a Literatura é um instrumento de comunicação e de
interação social, ela transmite os conhecimentos e a cultura de um povo.
Quanto à forma, o texto literário pode ser dividido em verso ou prosa:
• Textos em verso - são os poemas, formados por versos;
• Textos em prosa - são construídos em linha reta, organizados em frases,
parágrafos, capítulos, partes etc.
Quanto à estrutura e ao conteúdo, podemos, inicialmente, separar as obras literárias
em três gêneros, segundo a classificação aristotélica: lírico, dramático e épico.

Gênero Lírico
Seu nome vem de lira, instrumento musical que acompanhava os
cantos dos gregos. Até o final da Idade Média, as poesias eram cantadas.
No gênero lírico há a manifestação de um eu lírico, que expressa
suas emoções, ideias, mundo interior ante o mundo exterior. São textos

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subjetivos e normalmente os pronomes e verbos estão em primeira pessoa e a musicalidade
das palavras é explorada.
Os poemas pertencem a estes gêneros, destacando-se:
• elegia - é a poesia de “um canto lírico de tom triste”. Mostra a morte de alguém
ou acontecimentos tristes. O Cântico do Calvário, de Fagundes Varela, é, sem dúvida, a
elegia mais famosa elegia da literatura brasileira, inspirada na morte prematura de seu
filho.
• ode e hino - nomes gregos que significam canto. Ode é a poesia mais
entusiástica, de exaltação. Hino é a poesia destinada a exaltar a pátria ou louvar às
divindades.
• epitalâmio - poesia feita em homenagem ao casamento de alguém.
• sátira - é uma poesia que se propõe corrigir os defeitos humanos, expondo o
ridículo de determinada situação.
• idílio e écloga - são poesias bucólicas e pastorias. A única diferença entre as
duas é que a écloga apresenta diálogo.
Quanto ao aspecto formal, as poesias podem apresentar forma livre ou fixa. O soneto
(significa som) é a forma fixa de poesias que resistiu no decorrer do tempo e sobrevive até os
dias atuais. Ele é uma composição poética de catorze versos distribuídos em dois quartetos e
dois tercetos. Sempre apresenta rima e métrica (mais usualmente versos decassílabos ou
alexandrinos).
Como exemplo, transcrevemos um famoso soneto do escritor português Camões,
escrito em versos decassílabos:

Amor é fogo que arde sem se ver ...


Luís Vaz de Camões
Amor é fogo que arde sem se ver, é servir a quem vence, o
é ferida que dói, e não se sente; vencedor;
é um contentamento descontente, é ter com quem nos mata,
é dor que desatina sem doer. lealdade.

É um não querer mais que bem querer; Mas como causar pode seu favor
é um andar solitário entre a gente; nos corações humanos amizade,
é nunca contentar-se de contente; se tão contrário a si é o mesmo
é um cuidar que ganha em se perder. Amor?
É querer estar preso por vontade;
Fonte: http://www.suapesquisa.com/biografias/amor_e_fogo.htm

Gênero Dramático
A palavra drama, em grego, significa “ação”. Por isso, ao gênero dramático pertencem
os textos, em prosa ou poesia, feitos para serem representados com os conflito dos homens e
seu mundo e as manifestações da miséria humana. São divididos nas seguintes modalidades:

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Capítulo XI

• comédia - é a representação de um acontecimento inspirado na vida e no


sentimento comum, em geral criticando os costumes e que gera riso fácil.
• tragédia - é a representação de um fato trágico, compadecido que sucita terror e
compaixão.
• farsa - peça teatral pequena, de caráter caricatural e ridículo, que critica a
sociedade com seus valores e costumes. Ela baseia-se no lema latino Ridendo castigat
mores (rindo, castigam-se os costumes).
• tragicomédia - é a união do trágico com o cômico. Originalmente, significava a
mistura do real com o imaginário.

Gênero Épico
A epopéia é a narração poética de um grande acontecimento que interessa a toda uma
sociedade. É uma poesia impessoal, objetiva e baseia-se na história de uma nação, com suas
aventuras, viagens, guerras, gestos heróicos, valorizando e exaltando heróis e seus feitos. Por
esse motivo, há um certo distanciamento entre o narrador e o assunto tratado, o que não
ocorre no gênero lírico. Normalmente, na poesia épica, os pronomes estão na terceira pessoa,
pois a história contada trata “dele” ou “deles”.
Os poemas épicos intitulam-se epopéias (epos “verso” e poieô “faço”). As principais
epopéias da cultura ocidental são a Ilíada e a Odisséia, de Homero; Os lusíadas de Camões;
Paraíso perdido, de Mílton; Eneida de Virgílio; Orlando Furioso, de Ariosto.
Aqui, no Brasil, Caramuru, de Santa Rita
Durão é um dos maiores destaques na classificação
Já no batel entrou do Capitão
de poemas épicos. Atualmente, alguns filmes cujo O rei, que nos seus braços o levava;
tema são guerras ou aventuras que definem a Ele, co´a cortesia que a razão
história de um povo são denominados de épicos, (Por sei rei) requeria, lhe falava.
como por exemplo: Gandhi, de Richard Cumas mostras de espanto e admiração,
Attenborough e Quilombo, de Carlos Diegues. O Mouro o gesto e o modo lhe notava,
Como quem em mui grande estima tinha
Confira um trecho do poema épico Os lusíadas que Gente que de tão longe à Índia vinha.
4engradece os navegadores portugueses. Camões
utiliza a narração em terceira pessoa e um Vocabulário
vocabulário culto: batel: barco cumas: com umas
co´a: com a mouro: árabe

Os Lusíadas
Atualmente existem sites que disponibilizam a obra integral de Os
Lusíadas. Vale a pena conferir o vocabulário culto e as aventuras de
portugueses, ao descobrirem novos mares nunca dantes navegados.

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Capítulo XI

Gêneros Narrativos Modernos


No final da Idade Média, surgiram alguns gênmeros narrativos em prosa, como por
exemplo a novela e o romance, que passaram a ganhar prestígio após o declínio da epopéia.
De uma forma geral, podemiz dizer que todos os gêneros narrativos modernos (a novela, o
conto, o romance, a crônica, o roteiro de cinema etc) pertencem a família do gênero épico,
pois, como este, contam uma história ficcional.

A Metalinguagem
A metalinguagem é uma das principais marcas dos gêneros literários atuais.
Dizemos que ela ocorre quando um texto destaca seu próprio código. Por exemplo, há
metalinguagem num programa de tevê quando ele discute o papel da tevê e assim por
diante... Confira, por exemplo, o artista Larte tratando sobre a metalinguagem nas histórias
em quadrinhos:

(Folha de S. Paulo, 17/10/2004).

Estilos de Época da Literatura Brasileira


Nós, seres humanos nos modifica com o passar do tempo. Nossa aparência, modo de
vestir, forma de pensar, sentir e ver o mundo. Consequentemente, essas modificações também
afetam as ideologias, religiões e valores na sociedade em que vivemos e também
influenciamos. Por isso, é normal que as obras literárias reflitam as características próprias do
momento histórico em que são produzidas.
Ao conjunto de textos que apresentam certas marcas ou características comuns em um
momento histórico específico, chamamos estilo de época ou movimento literário. Leia os
dois exemplos abaixo com atenção:

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O “adeus” de Teresa Teresa
A vez primeira que eu fitei Teresa, A primeira vez que vi Teresa
Como as plantas que arrasta a Capítulo
Achei que ela tinha pernas estúpidas XI
corresteza, Achei também que a cara parecia uma
A valsa nos levou nos giros seus... perna
E amamos juntos... E depois na sala
“Adeus” eu disse-lha a tremer co´a Quando vi Teresa de novo
fala... Achei que os olhos eram muito mais
Ela, corando, murmurou-me “adeus”. velhos
[..] que o resto do corpo
(In: Eliane Zagury. Castro Alves: tempo, vida e Os olhos nasceram e ficaram dez anos
obra. Rio de Janeiro: Bruguera, 1971. p. 79-80.) esperando que o resto do corpo
]
nascesse.

Da terceira vez não vi mais nada


Os céus se misturaram com a terra
E o espírito de Deus voltou a se mover
sobre a face das águas.

(Estrela da Vida Inteira. 2. ed. Rio de


Janeiro: José Olympio, 1970. p. 117-8).

Apontamos algumas diferenças interessantes ressaltadas na comparação dos poemas:


• O poema “O adeus de Teresa” foi escrito pelo poeta romântico Castro Alves
que viveu no século XIX e o “Teresa” foi produzido pelo poeta Manuel bandeira, que viveu
no século XX.
• O poema de Bandeira estabelece um diálogo com o poema de Castro Alves
e opõe-se a visão da mulher amada à do poeta romântico.
• Castro Alves utiliza a linguagem elevanda, que idealiza a mulher e o amor.
• Manuel Bandeira faz uso de uma linguagem cotidiana e irônica, bem
aproximada da fala coloquial.
• O primeiro texto é ligado ao Romantismo - movimento literário do século XIX
- que (entre outras caraterísticas) caracterizou-se pela idealização do amor e da mulher e
pela utilização de uma linguagem elevada, rica em comparações, imagens etc.
• O segundo texto é ligado ao Modernismo – movimento literário do século XX
– que (entre outras coisas) tinha uma visão irônica, crítica e até pessimista da realidade,
inclusive do amor. Sua linguagem deixa de ser elevada e aproxima-se da fala coloquial.
Além das variações de época, existem também as variações pessoais que influenciam
a escrita do autor. Cada um desenvolve um estilo pessoal, que é a marca individual do autor
expressar seus pensamentos e sentimentos no papel. Também existem obras e escritores que
apresentam semelhanças entre si, com relação aos temas, à linguagem e a maneira de
enxergar e entender o mundo. Estas obras e escritores compõem o que denominamos estilo
de época.

9
Capítulo XI

Tradição Literária
Manuel Bandeira no poema “Teresa” opõe-se à visão romântica e idealizada que
Castro Alves tem do amor. Mas, apesar das visões diferentes que os textos apresentam, eles
se “falam” porque fazem parte da mesma tradição literária.
Com certeza, Bandeira leu o poema de Castro Alves, mas não se limitou à leitura. Ele
foi além e respondeu ao poeta romântico, revelando uma nova ideia de amor, ou seja, sua
marca pessoal e consequentemente, de sua época. A esse tipo de movimento que ocorre
dentro da própria história da literatura chamamos tradição literária.
O escritor não precisa estar cronologicamente ligado às tendências
vigentes em sua época, pois ocorrerão situações em que ele estará muito à
frente de seu tempo e por isso, não será compreendido como mereceria.
Um grande exemplo é o poeta Gregório de Matos, que viveu no século XVII
e ficou muito conhecido por seus poemas satíricos. Naquela época ele já
explorava as possibilidades visuais e gráficas do verso e também as muitas
formas de leitura, o que seria compreendido por poetas do século XX:

[...]
(Gregório de Matos. Poesias Selecionadas. São Paulo: FTD, 1993. p. 56)
O elemento lúdico (= de jogo) do Barroco é a
marca predominante do texto. Cada par de versos tem em
comum as terminações das palavras (ex.: 1ª palavra do 1º
verso: douTO; 1ª palavra do 2ª verso: reTO), o que explica
o estranho arranjo espacial do texto. A leitura deve ser feita
como se se tratasse de versos comuns; assim sendo, os
dois primeiros versos lêem-se: Douto, prudente, nobre,
humano, afável, reto, ciente, benigno e aprazível.
Gregório de Matos
Extraído do site:
http://www.passeiweb.com/na_ponta_lingua/sala_de_aula/portugues/literatura_brasileira/autores/lirica

Porque Estudar Literatura?


A literatura, bem como as outras manifestações artísticas, não depende da escola para
sobreviver. Apesar disso, dada sua importância para a língua e a cultura de um país, assim
como para a formação de leitores, a literatura transformou-se em disciplina escolar.

10
Capítulo XI

Poderíamos gastar páginas e mais páginas com tentando convencê-lo a estudar


literatura e o mais importante, apaixonar-se por literatura. Dentre as centenas que
conhecemos, destacamos alguns extremamente importantes:
A Literatura:
• aperfeiçoa nossa linguagem;
• amplia nosso conhecimento cultural;
• nos ajuda “crescer” intelectualmente;
• nos leva a viajar no tempo e no espaço sem sair de casa, nem gastar dinheiro;
• desenvolve nossa capacidade crítica;
• nos ajuda a entender nossos antepassados;
• nos auxilia na busca pelo sentido da vida e qual o papel desempenhamos na
sociedade em que vivemos;
• "A literatura é a expressão da sociedade, assim como a palavra é a expressão
do homem." (Louis Bonald);
• "A literatura é um assunto sério para um país, pois é afinal de contas o seu
rosto." (Louis Aragon)
• "A literatura é uma defesa contra as ofensas da vida." (Cesare Pavese)
• "A tarefa da literatura é ajudar o homem a compreender-se a ele mesmo."
(Máximo Gorky)
• "O declínio da literatura indica o declínio de uma nação." (Goethe)
• "Literatura é a imortalidade da fala." (August Schlegel)

Resumindo todos estes pensamentos, transcrevemos uma linda oração dos autores
William Roberto Cereja e Thereza Cochar Magalhães – Livro Literatura Brasileira - , que
expressa nosso maior objetivo nesta apostila:

“Estudar literatura é aprimorar nossa capacidade de ler, refletir, pensar,


mas é também sentir, emocionar-se, apurar a sensibilidade, sonhar”.

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Capítulo XII

Fonte: http://commons.wikimedia.org/wiki/File:Timeline_of_Brazilian_Literature.png

QUINHENTISMO
(1501 – 1601)
“Não fazem o menor caso de encobrir ou mostrar suas
vergonhas; e nisso têm tanta inocência como em mostrar o rosto.
Ambos traziam os beiços de baixo furados e metidos neles seus
ossos brancos e verdadeiros, do comprimento de uma mão
travessa, da grossura dum fuso de algodão, agudo nas pontas
como furador (...)”.
(Carta de Pero Vaz de Caminha)

Desde suas origens (com a Carta de Pero Vaz de Caminha) e até meados do século
XVIII, a literatura brasileira refletiu o pensamento português, já que as precárias condições da
colônia impediam que houvesse um avanço literário autônomo. Por este motivo, alguns
historiadores classificam as manifestações literárias dessa época como “ecos” da literatura
portuguesa.
Até a primeira metade do século XVIII, não houve no Brasil um panorama com
condições favoráveis para o surgimento da literatura. Esse quadro perdurou até o momento em
que, em virtude do ciclo da mineração começaram a surgir escritores com o desejo de
independência e aliançados com a Inconfidência Mineira. Entretanto, nossa literatura só
adquiriu plena autonomia e nitidez no século XIX, quando o Brasil deixou de ser colônia.

12
Capítulo XII

A Literatura Informativa
Cabral “descobriu” o Brasil em 1500 e Pero Vaz de Caminha
(cronista da armada) escreveu a famosa Carta a EL-Rei Dom Manuel sobre
o achamento do Brasil. Esta carta assinala o início da literatura brasileira e
ela e outros muitos textos, diários de navegação e tratados descritivos
compõem a chamada literatura informativa ou de expansão, cultivada por
Portugal à época das grandes navegações.
O maior objetivo desses escritos em prosa, era descrever e narrar
as viagens e primeiros contatos com os moradores da terra, informando o
máximo de detalhes para os governantes portugueses.

Carta a EL-Rei Dom


Manuel

Os cronistas portugueses e estrangeiros


escreviam textos que desmontravam sua
fascinação frente à terra recém descoberta, com
seus mistérios, exotismos e povo desconhecido.
Embora tenham pouco valor literário, esses
escritos têm um grande valor documentável para a
história brasileira e já carrega um sentimento
nativista que aparecerá com grande força no
Romantismo.

Principais produções e autores da Literatura Informativa:

Obra Autor

Carta Pero Vaz de Caminha

Diário de Navegação Pero Lopes de Sousa

Tratado da terra do Brasil e História da Pero de Magalhães Gândavo


Província de Santa Cruz a que
vulgarmente chamamos Brasil

Tratado descritivo do Brasil Gabriel Soares de Sousa

História do Brasil Frei Vicente do Salvador

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Duas viagens ao Brasil Hans Staden

Viagem à terra do Brasil Jean de Léry Capítulo XII

A Literatura dos Jesuítas (ou de Catequese)


Os jesuítas que chegaram no Brasil com o propósito de
catequizar os índios escreveram muitas cartas, crônicas
históricas, poemas e tratados descritivos. Os padres Manuel da
Nóbrega, Fernão Cardim e principalmente, José de Anchieta
destacaram-se nesse tipo de literatura. Pedagógico - Relativo
Em 1553 o padre Anchieta (1534-1597) chegava em ou conforme à
terras brasileiras e com o padre Manuel da Nóbrega, no ano pedagogia (arte de
seguinte, fundou um colégio no planalto de Piratininga. José de instruir, ensinar ou
educar as crianças).
Anchieta escreveu muitos tipos de texto com objetivo
pedagógico , como hinos, canções, poemas e autos (gênero
teatral surgido na Idade Média), além de correspondências que
noticiavam sobre a evolução da catequese brasileira e da
possível gramática da língua tupi.
Anchieta também produzia poemas e sermões em latim, satisfazendo um interesse
literário extritamente pessoal. Nessas obras ele expressava suas preocupações com as ideias
e influências daquele momento histórico, em várias esferas (religiosa, histórica, social etc).
Confira um pequeno trecho do poema “A Santa Inês”:
Cordeirinha linda,
Como folga o povo
Porque vossa vinda
Lhe dá lume novo!

Virginal cabeça
Pela fé cortada,
Com vossa chegada
Já ninguém pereça.
[...]
(In: Eduardo Portela, org. José de Anchieta – Poesia. Rio de Janeiro: Agir, 1959. p. 28-9.)
Anchieta tinha soldados, colonos, indígenas, marujos e comerciantes como público de
uma de suas maiores paixões: o teatro (apesar do seu alvo prioritário concentrar-se no índio).
Ele utilizava a linguagem artística do teatro para comemorar datas religiosas e inculcar
mandamentos religiosos, de forma leve bem diferente dos cansativos sermões...

14
Capítulo XII

Filme “Desmundo”
Sugerimos que você assista o filme “Desmundo” de 2003 que narra uma história de
amor e violência no Brasil do século XVI. Com uma excelente reconstituição de época, o filme
também apresenta uma rara pesquisa sobre o português falado na época.

Revisando: QUINHENTISMO (século XVI)

Momento histórico: a) na Europa b) no Brasil

• invenções • 1500: descobrimento do


Brasil

• Reforma Protestante • 1530: exploração e


povoamento

• Grandes Navegações • 1534: início das capitanias


hereditárias

• ascensão da burguesia • 1549: chegada dos jesuítas

Características: - literatura informativa sobre o Brasil escrita sobre os


portugueses e viajantes estrangeiros;

- literatura pedagógica dos jesuítas com o propósito de


catequisar os índios e orientar

os colonos espiritualmente e moralmente.

BARROCO
(1601 – 1768)
“Porém, se acaba o Sol, por que nascia?
Se é tão formosa a Luz, por que não dura?”
(Gregório de Matos)

O Renascimento, no século XVI, representou o


retorno à cultura clássica greco-latina e o olhar para o
antropocentrismo. Já no século XVII,surge o Barroco
como um movimento artístico que ainda apresentava
ligações com a cultura clássica, mas também procurava - Renascimento
caminhos próprios, de acordo com as necessidades - Antropocentrismo
daquele momento.

15
Capítulo XII

Não há um consenso quanto à primeira manifestação de uma literatura realmente


brasileira. Alguns consideram o Barroco como essa primeira manifestação de uma literatura
realmente brasileira. Outros estudiosos preferem falar em literatura brasileira somente a partir
do Romantismo, ou seja, a partir do século XVIII. Mas num aspecto todos concordam, é no
Barroco que encontramos não só um o primeiro, mas um dos mais talentosos poetas
brasileiros – Gregório de Matos.
O movimento Barroco compreende um longo período que se estende de 1601, com a
publicação do poema Prosopopéia, de Bento Teixeira até meados do século XVIII (1768), com
a fundação da Arcádia Ultramarina, em Vila Rica, Minas Gerais e a publicação do livro Obras
Poéticas de Cláudio Manuel da Costa.
O Barroco no Brasil compreende duas grandes manifestações: o Barroco Literário e
Arquitetônico do século XVII (principalmente na Bahia), e o Barroco mineiro do século XVIII,
contemporâneo do Arcadismo. Nesta apostila, nos interessa o Barroco Literário.

Leia “Os sermões” do Padre Antônio


Vieira (Editora Cultrix)

As manifestações brasileiras desse período mostram a visão de mundo e a estrutura de


um país-colônia, marcado pelo ciclo econômico da açúcar. Salvador e Recife concentravam as
poucas atividades culturais deste momento.
A produção barroca no Brasil foi muito influenciada pelo Barroco europeu. Na Europa, o
Barroco foi o movimento estético literário do conflito, dos impulsos contraditórios, do contraste
entre claro/escuro, alma/corpo, céu/inferno, bom/mau. É a arte do jogo de palavras e de ideias,
que visavam surpreender o leitor não só através da construção cuidadosa do texto, marcado
várias vezes por uma linguagem excessivamente rebuscada, mas também através de um alto
poder de raciocínio lógico. Esse jogo nos faz lembrar das duas faces barrocas:

Barroco

Cultismo Conceptismo

Cultismo (ou Gongorismo) - É o jogo de palavras e imagens que utiliza o


rebuscamento da forma do texto, à ornamentação e ao vocabulário rebuscado. Nessa
linha barroca é comum o uso exagerado das figuras de linguagem (como metáforas,
antíteses, hipérboles entre outras). O cultismo também é chamado de Gongorismo, por ter
sido muito influenciado pelo poeta espanhol Luís de Gôngora.

16
Capítulo XII

Conceptivismo (ou Quevedismo) - Corresponde ao jogo de ideias e conceitos,


baseado no raciocínio lógico, visando ao convencimento e à argumentação. O
conceptismo também é chamado de Quevedismo, por ter sido muito influenciado pelo
também espanhol Francisco Quevedo.

Uma excelente opção de passeio nas férias são


as cidedades mineiras, que possuem igrejas e
museus com obras dos séculos XVII e XVIII, como
Mariana, Ouro Preto, São João del Rei, Tiradentes,
Sabará e Diamantina.

Principais produções e autores do Barroco

Autor Produção

Gregório de Matos Guerra, o “Boca do Sua obra não foi publicada na época e só no final
Inferno” do século XIX, Gregório de Matos foi redescoberto.
Seguindo modelos barrocos europeus, o poeta
escreveu uma lírica que engloba poesias amorosas,
religiosas, satíricas e filosóficas. Em suas poesias
satíricas, responsáveis por sua expulsão de Portugal
e do Brasil, encontram-se palavrões, gírias e termos
africanos e indígenas.

Padre Antônio Vieira (1608-1697) Homem ativo, visionário, missionário, político e


mestre no uso da palavra, Padre Vieira espalhava
suas ideias através da fala. Sua obra é dividida em:
- obras de profecia (História do Futuro, Esperanças
de Portugal e Clavis Prophetarum);
- cartas (que tratam sobre a colônio e sua atuação
no Brasil);
- sermões: cerca de 200 ( Os principais: Sermçao
pelo bom sucesso das armas de Portugal contra as
de Holanda, Sermão do Mandato, Sermão de Santo
Antonio aos Peixes, Sermão da Sexagésima).

Manuel Botelho de Oliveira Publicou uma coletânea de poemas escritos em


português, castelhano, italiano e latim “Música do
Parnaso”. Foi o primeiro poeta brasileiro a editar seus
poemas.

Capítulo XII
Revisando: BARROCO (séculos XVII e XVIII)

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Capítulo XII

Momento histórico: a) na Europa b) no Brasil

• Contra-Reforma • ciclo da cana-de-açúcar

• Domínio espanhol sobre • as bandeiras


Portugal

• invasões

Características: - rebuscamento da forma (gongorismo);

- rebuscamento do conteúdo (conceptismo).

ARCADISMO
(1768 – 1836)
“Cada século tem um espírito que o caracteriza: o espírito do nosso
parece ser o da liberdade.”
(Diderot, pensador iluminista do século XVIII)

O Arcadismo brasileiro tem como marco inicial a publicação das Obras Poéticas de
Cláudio Manuel da Costa, em 1768, e se estende até 1836 com a publicação de Suspiros
poéticos e Saudades, de Gonçalves de Magalhães, obra que instaura o Romantismo brasileiro.
Com o passar do tempo Portugal perdeu grande parte de suas colônias no Oriente,
passando a depender cada vez mais da exploração do Brasil. A decadência da economia
canavieira e a descoberta de ouro em Minas Gerais provocaram o deslocamento do eixo
econômico, político e cultural para o Sudeste do país. Os aumentos frequentes dos impostos
pagos pelos brasileiros sobre os minérios e as mercadorias em geral, provocaram uma
insatisfação generalizada e fizeram com que os brasileiros começassem a manifestar os
primeiros desejos de emancipação, que culminaram com a Inconfidência Mineira, da qual
muitos do poetas árcades participaram.
Esses fatos foram responsáveis por um grande sentimento nativista, o índio aparece
pela primeira vez como herói literário. O Arcadismo brasileiro assinala o início da busca de uma
identidade nacional para a nossa literatura, o que só será alcançado, segundo alguns
estudiosos no movimento posterior, ou seja, no Romantismo.

Autor “... DestesProdução


penhascos fez a natureza
O berço, em que nasci! oh quem cuidara
Que entre penhas tão duras se criara
Uma alma terna, um peito sem dureza!”
(Cláudio Manuel da Costa)

18
Cláudio Manuel da Costa: a Seu pseudônimo árcade era Glauceste Satúrnio.
conciência Na lírica: seu tema era a desilusão amorosa e sua
musa inspiradora era Nise.
Na épica: escreveu o poema Vila Rica, inspirado nas
epopéias clássicas, tratando sobre os bandeirantes, as
minas e as revoltas locais.
Tomás Antônio Gonzaga: a Seu pseudônimo árcade era Dirceu e sua musa
renovação inspiradora era Marília. Entre suas principais obras estão
Cartas Chilenas e Marília de Dirceu.
Cartas Chilenas são poemas satíricos escritos em
decassílabos, mas com uma estrutura epistolar, ou seja,
em formato de cartas.
Basílio da Gama: o Outro grande árcade foi Basílio da Gama. Sua obra
nativismo indianista mais importante é sem dúvida o poema épico, O Uraguai,
que narra as lutas dos índios de Sete Povos das Missões,
no Uruguai contra o exército luso- espanhol. Basílio da
Gama não fica preso ao modelo camoniano, o poema
apresenta apenas cinco cantos e os versos são brancos,
ou seja, sem rimas e não estão divididos em estrofes.
Santa Rita Durão: o apego Caramuru, poema épico que narra a descobrimento
ao clássico da Bahia, é a sua obra mais importante desse autor, mas
segundo histórias, Caramuru não foi bem aceito na época,
o que fez Santa Rita Durão rasgar todos os outros
poemas que já havia escrito.
O poema, escrito nos moldes da épica camoniana,
caracteriza-se pela exaltação da paisagem brasileira.

Dos quatro, apenas Tomás Antônio Gonzaga não era brasileiro. Além de apresentarem
semelhanças quanto à produção árcade, todos tiveram envolvimento com a Inconfidência
Mineira. Eles escreveram nos mais variados gêneros literários.
Vejamos as principais vertentes do Arcadismo brasileiro:

ARCADISMO BRASILEIRO

POESIA LÍRICA POESIA SATÍRICA POESIA ÉPICA

Cláudio Manuel da Costa Tomás Antônio Gonzaga Cláudio Manuel da Costa


Tomás Antônio Gonzaga Basílio da Gama
Santa Rita Durão

19
Capítulo XII

O Arcadismo brasileiro foi o movimento que marcou o início da


busca de uma identidade nacional para a nossa literatura.

Revisando: ARCADISMO (século XVII)

Momento histórico: a) na Europa b) no Brasil

• Ascenção política da • Ciclo da Mineração


burguesia

• Primeira Revolução Industrial • Inconfidência Mineira

• Revolução Francesa • Mudança do eixo econômico


para MG e RJ

Características: - novo interesse pelos clássicos;

- simplicidade;

- fugere urbem (fuga da cidade para o campo);

- equilíbrio.

20
Capítulo XIII

ROMANTISMO
(1836 - 1881)
“Adeus! assim de ti afastado,
Cada laço estreito a perder,
O coração só é murcho e seco,
Mais que isto mal posso morrer.
(Lord Byron)

Características Marcantes do Romantismo


A ascensão da burguesia, da chamada classe média, provoca uma alteração, um
deslocamento do público consumidor da literatura, que até então era o nobre. No Romantismo
quem lia era o burguês. A literatura tornou-se mais popular, com um caráter mais nacional.
Surgem os primeiros folhetins, espécie de precursores das nossas telenovelas. O leitor
buscava na literatura uma forma de entretenimento. O Romantismo é considerado, por
excelência, o movimento literário da burguesia. “Liberdade, Igualdade e Fraternidade” tornam-
se palavras de ordem na época, quer no campo político, econômico ou social. E como não
podia deixar de ser, liberdade é a palavra de ordem também no plano literário.
As principais características do Romantismo são:
• Individualismo - o “eu” é a figura principal. Nunca em nenhum movimento a
imposição do “eu” foi tão forte. Temos um predomínio da primeira pessoa. Para o
Romantismo uma das questões centrais é aquilo que cada pessoa tem de particular, de
exclusivo.
• Subjetvismo - há o predomínio da emoção, sendo o indivíduo a figura principal,
toda a produção se fundamenta na emoção, na imaginação. Ao contrário da disciplina das
escolas anteriores, o poeta romântico é livre, livre para sentir e expressar seus
sentimentos e desejos. Só através da emoção o artista romântico consegue expressar o
seu interior, o seu eu.

21
Capítulo XIII

• Escapismo ou evasão - na ânsia de sentir e de imaginar o autor romântico se


depara com a realidade, com uma realidade que nem sempre é a desejada, o que lhe
provoca atitudes diversas: ou a atitude revolucionária, principalmente dos poetas da
terceira geração, dos quais falaremos nas próximas aulas, ou a frustração, a insatisfação
e o desejo de fuga (até pela morte). Confira:

Esse escapismo se manifestou de formas diversas entre os românticos: na natureza,


vista como um refúgio, um lugar ainda não corrompido; nos sonhos, substituindo as dores da
vida real; na morte vista como algo positivo e constantemente invocada. Há ainda outras
formas de fuga que a essas se unem: a vida boêmia, o culto da solidão, o gosto pelo passado,
por lugares exóticos e mórbidos. Veja o seguinte fragmento em que o autor deseja a morte:
“Por isso, é morte, eu amo-te e não temo.
Por isso, é morte, eu quero-te comigo.
Leva-me à região da paz horrenda,
Leva-me ao nada, leva-me contigo.”
(Junqueira Freire)
• Liberdade de criação - os românticos abandonaram as formas fixas dos
modelos clássicos {ode, soneto, decassílabos, etc}; abandonaram as rimas e valorizaram
o verso branco, ou seja, o verso não rimado; promoveram uma mistura de gêneros;
enriqueceram a língua incorporando neologismos (palavras novas) e aproximando a
linguagem literária da coloquial. Veja o que diz um romântico sobre a idéia da liberdade
de criação:
“Quanto à forma ... nenhuma ordem seguimos; exprimindo as ideias como
elas se apresentam, para não destruir o acento da inspiração ...”
(Gonçalves de Magalhães)
Para o autor romântico o importante era a expressão dos seus sentimentos, do seu
mundo interior, independentemente de qualquer forma preestabelecida. Todas essas
características se refletem em vários temas. Confira os principais:
No nacionalismo ocorre a valorização da pátria, dos heróis nacionais e do passado
histórico. No caso de Portugal, retomam-se os mitos dos grandes cavaleiros e heróis
medievais. No Brasil, como não tivemos Idade Média, nos moldes do colonizador, cria-se o
“mito do bom selvagem”. O índio aparece idealizado nos textos românticos, é sempre bom,
forte e bonito, passando a representar o nosso cavaleiro medieval.
• Religiosidade - em oposição ao paganismo da escola anterior, redescobrem-se
as fontes bíblicas, principalmente as derivadas do cristianismo.
• Idealização do amor e da mulher - o amor é tido como a essência da vida,
como o sentido de tudo e consequentemente, a mulher, objeto do amor romântico, é
divinizada, cultuada. Ela era misteriosa, pura – a virgindade era muito valorizada, quase

22
Capítulo XIII

toda heroína romântica era virgem. Mas apesar desse caráter angelical, alguns textos
românticos apresentam muito sensualismo.
O Romantismo brasileiro é a estética literária que dá início à chamada Era Nacional da
nossa Literatura. Veja quais os movimentos que fazem parte dessa era:

Para efeitos didáticos, o Romantismo brasileiro tem início em 1836, com a publicação
de Suspiros Poéticos e Saudades de Gonçalves de Magalhães e da Revista Niterói, em Paris
e permanecendo no cenário literário até 1881, quando ocorre a publicação de Memórias
Póstumas de Brás Cubas, romance realista de Machado de Assis e a publicação de O
Mulato, romance naturalista de Aluísio Azevedo.
Ao contrário de Portugal que teve três momentos distintos em todos os gêneros, no
Brasil, o fenômeno das gerações só ocorreu na poesia. Confira essas gerações:

Poesia No Romantismo

Geração Nacionalista/Indianista
Na PrimeiraGeração, como o próprio nome já sugere, encontramos um forte
nacionalismo e uma grande aversão à influência portuguesa (ou seja, lusofobia).
Como já vimos, o nacionalismo foi uma das principais características românticas,
através dele há uma valorização da pátria, dos heróis nacionais e do passado histórico. Veja os
principais autores dessa primeira geração:
PRIMEIRA GERAÇÃO

Gonçalves de Magalhães Gonçalves Dias

23
Capítulo XIII

Introdutor do Romantismo Brasileiro Consolidador do Romantismo Brasileiro

“Não, oh! Brasil! No meio do geral merecimento tu Canção do Exílio


não deves ficar imóvel e tranquilo, como o colono sem Minha terra tem palmeiras,
ambição e sem esperança. O germe da civilização, Onde canta o Sabiá,
depositado em teu seio pela Europa, não tem dado As aves que aqui gorjeiam,
ainda todos os frutos que deveria dar, vícios radicais Não gorjeiam como lá.
têm tolhido o seu desenvolvimento. Tu afastaste do Nosso céu tem mais estrelas,
teu colo a mão estranha que te sufocava, respira Nossas várzeas têm mais flores,
livremente, respira e cultiva as ciências, as artes, as Nossos bosques têm mais vida,
letras, as indústrias, e combate tudo o que entrevá-las Nossa vida mais amores.
pode.” Em cismar, sozinho, à noite,
Fragmento do “Ensaio sobre a história da literatura Mais prazer encontro eu lá,
brasileira” Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o Sabiá...
Geração Ultra- romântica/ “Mal-do-século”
A Segunda Geração é também conhecida como ultra-romântica. Nela, as
características românticas são levadas às últimas conseqüências. A angústia, a dor, o
escapismo, a infância e a morte tornam-se a temática central. Daí a expressão “Mal-do-século”.
Veja os principais autores dessa segunda geração:

SEGUNDA GERAÇÃO

Álvares de Azevedo Casimiro de Abreu Outros:

Maior representante Saudosismo da infância Fagundes Varela


do “Mal-do-século” e da terra natal e Junqueira Freire

Se eu morresse amanhã Meus oito anos


Se eu morresse amanhã, viria Oh! Que saudades que
ao menos tenho
Fechar meus olhos minha Da aurora da minha vida,
triste irmã; Da minha infância querida
Minha mãe de saudades Que os anos não trazem
morreria mais!
Se eu morresse amanhã! Que amor, que sonhos,
Quanta glória pressinto em que flores,
meu futuro, Naquelas tardes fagueiras
Que aurora de porvir e que À sombra das bananeiras,
manhã! Debaixo dos laranjais! (...)
Eu perdera chorando essas
coroas
Se eu morresse amanhã! (...)
24
Capítulo XIII

Geração Social e Libertária “Condoreira”


É marcada pelo aprofundamento do espírito nacionalista, do liberalismo e da poesia
social e libertária. Esse período era também chamado de condoreiro. E de onde vem essa
palavra? O condor é uma ave que consegue voar acima da Cordilheira dos Andes, assim como
eram os ideais dessa geração. Os poetas condoreiros tinham ideais tão elevados que,
semelhantes ao vôo da ave, podiam alcançar grandes alturas.
Um dos nomes da poesia condoreira foi Sousândrade, mas, sem dúvida, o grande
poeta desse período é Castro Alves, que tinha como temas principais: a escravidão, a
república e o amor erótico. Por sua poesia abolicionista, de denúncia das injustiças e repudio
pela escravatura, Castro Alves até hoje é conhecido como o poeta dos escravos. Conheça um
fragmento de um de seus textos mais famosos:
O Navio Negreiro
‘Stamos em pleno mar...Do firmamento
Os astros saltam como espumas de ouro...
O mar em troca acende as ardentias
Constelações do líquido tesouro (...)
Era um sonho dantesco...O tombadilho
Que das luzernas avermelha o brilho,
Em sangue a se banhar.
Tinir de ferros...estalar do açoite...
Legiões de homens negros como a noite,
Horrendos a dançar...
Negras mulheres, suspendendo às tetas
Magras crianças, cujas bocas pretas
Rega o sangue das mães:
Outras, moças...nuas e espantadas,
No turbilhão de espectros arrastadas,
Em ânsia e mágoa vãs(...)
Levantai-vos, heróis do Novo Mundo...
Andrada! arranca este pendão dos ares!
Colombo! fecha a porta de teus mares!

O Romantismo, no Brasil, foi o movimento responsável pela


manifestação de uma literatura genuinamente brasileira.

25
Abaixo, estudaremos as manifestações românticas na prosa brasileira.
Tipos de Romance
ambientação tipo de romance (temática)
corte urbano
província regionalista
histórico
indianista
Romance Urbano - retratava a vida social da época sem grande aprofundamento
psicológico. Tinha como cenário a cidade grande, na época a corte. Esse romance falava
da vida social do Rio de Janeiro, de suas festas (os famosos saraus), passeios no campo
ou no litoral. Principais autores: Joaquim Manuel de Macedo, José de Alencar e
Manuel Antônio de Almeida.
Romance Regionalista - mostrava o relacionamento do homem com o ambiente
físico, descrevendo várias partes da paisagem brasileira. Alguns escritores românticos
procuraram, a partir do forte sentimento nacionalista do período, retratar os lugares do
Brasil que ainda não tinham sofrido a influência do contato com o colonizador. Esses
escritores buscavam retratar a natureza e os traços peculiares da nossa cultura e da
nossa gente. Principais autores: José de Alencar, Bernardo Guimarães, Visconde de
Taunay e Franklin Távora.
Romance Histórico - predominava mais a imaginação do autor do que
propriamente os fatos reais. Os autores que se dedicaram a essa temática propunham
uma retomada do passado, uma volta ao período da conquista definitiva das terras
brasileiras e da ambição do colonizador. Principais autores: José de Alencar e Visconde
de Taunay.
Romance Indianista ou Indianismo - foi um
grande tema dos romances românticos no Brasil,
trazia a preocupação de valorizar as nossas
origens, transformando as personagens em
grandes heróis. O índio era visto como o “bom
selvagem”, sempre amável, bom, bonito e muito
forte. Durante a leitura dos quadros você deve ter Pesquise sobre as obras de
reparado que há um nome que apareceu em todos José de Alencar
os tipos de romance. Principal autor: José de
Alencar.

Revisando: ROMANTISMO (século XIX)

Momento histórico: a) na Europa b) no Brasil

• Triunfo da burguesia o Independência

• Liberalismo econômico o Primeiro e Segundo


Reinados
Capítulo XIII

26
o Proclamação da República

Características: - individualismo;

- subjetvismo;

- fuga da realidade através do sonho, da natureza, da morte e do


tempo.

Manifestações: Poesia, Prosa e Teatro

REALISMO/ NATURALISMO/ PARNASIANISMO


(1881 – 1893)
“Tudo nela era atenuado e passivo. O próprio rosto era
mediano, nem bonito nem feio. Era o que chamamos de uma
pessoa simpática. Não dizia mal de ninguém, perdoava tudo...”
(Machado de Assis em Missa do Galo)

Realismo e Naturalismo
O Realismo brasileiro tem início em 1881, com a publicação de Memórias Póstumas de
Brás Cubas, romance realista de Machado de Assis e com a publicação de O Mulato, romance
naturalista de Aluísio Azevedo.
A partir da segunda metade do século XIX, a sociedade brasileira sofreu grandes
transformações. De sociedade agrária, latifundiária, escravocrata e aristocrática passou a ser
uma civilização burguesa e urbana. A mão-de-obra escrava aos poucos foi substituída pelos
imigrantes europeus assalariados que vinham trabalhar na lavoura cafeeira.
A década de 80 corresponde ao período de intensificação da campanha abolicionista
que culminou com a Lei Áurea de 1888; ao período da Guerra do Paraguai e ao período da
decadência da monarquia e estabelecimento da República.
Foi em plena época realista que ocorreu a Fundação da Academia Brasileira de Letras,
em 1897, e um processo que pode ser chamado de oficialização da literatura. O escritor que
antes era meio discriminado, marginalizado, começou a ter prestígio e a participar mais
ativamente da vida social.
O Realismo brasileiro apresentou basicamente as mesmas características do Realismo
europeu, apenas com alguns aspectos locais, principalmente na poesia. Ao contrário do que
ocorreu em Portugal, no Brasil, não tivemos uma poesia realista significativa. A poesia desse
período apresentou características muito específicas, constituindo um novo movimento que
estudaremos em outra aula. Veja os principais autores do Realismo-Naturalismo no Brasil:

27
Capítulo XIII

Aluísio Azevedo foi o grande representante do Naturalismo brasileiro. Para esse autor o
homem era fruto dos elementos biológicos (raça) e das circunstâncias do tempo e do meio em
que vivia. Casa de pensão conta a história de Amâncio Vasconcelos, um jovem maranhense
que parte para o Rio de Janeiro para cursar medicina e acaba metido numa série de
confusões, principalmente depois que vai morar na pensão de João Coqueiro.
Mas seus livros mais importantes são O mulato e O cortiço, neles encontramos suas
principais características: a forte ligação com o determinismo e o romance social, preocupado
em retratar as camadas marginalizadas:
“... Uma só palavra boiava à superfície dos seus
pensamentos: “Mulato”. E crescia, crescia, transformando-
se em tenebrosa nuvem, que escondia todo o seu
passado. Ideia parasita, que estrangulava todas as outras
ideias.
- Mulato!
Esta só palavra explica-lhe agora todos os
mesquinhos escrúpulos, que a sociedade do Maranhão Determinismo de
usara para com ele”. Taine
(O Mulato)

Raul Pompéia é outro importante autor desse período, entretanto, sua classificação
como um autor naturalista é muito complicada e reducionista. Em seu romance O Ateneu, há
uma superposição de características de vários movimentos literários e não é possível dizer que
há um estilo que predomina.
Durante a leitura encontramos elementos impressionistas, parnasianos, simbolistas,
expressionistas e elementos naturalistas, principalmente ao tratar do homossexualismo
masculino e da influência do meio na conduta das pessoas.
Em O Ateneu, Raul Pompéia ao contar uma história de um garoto que entra num
colégio interno chamado O Ateneu, soma autobiografia e ficção. Não há um enredo linear, o
livro, narrado em primeira pessoa, está construído a partir das recordações da personagem
Sérgio, já adulto:
“Vais encontrar o mundo, disse-me meu pai à porta do Ateneu. Coragem para a luta”.
Bastante experimentei depois a verdade deste aviso, que me despia, num gesto, das ilusões
de criança educadaexoticamente na estufa de carinho que é o regime do amor doméstico,
diferente do que se encontra fora, tão diferente (...)”
Adolfo Caminha, embora com o brilho ofuscado pelos naturalistas Aluísio Azevedo e
Raul Pompéia, também escreve nesse período, apresentando uma tendência mais regionalista;
seu principal livro é O Bom Crioulo, em que retrata com grande maturidade o
homossexualismo entre os marinheiros.

28
Capítulo XIII

Uma História à Parte: O Grande Mestre Machado de Assis


A grande figura do final do século XIX, e talvez a figura literária mais importante do
Brasil, foi o inigualável Machado de Assisestá acima de qualquer classificação, tamnha a
grandiosidade de sua obra. Ele é considerado o escritor mais ousado da literatura brasileira
antes dos escritores modernistas.
Machado de Assis teve uma origem pobre, mulato, gago, feio e
epilético. Mas graças ao seu esforço pessoal e seu poder autodidata,
soube vencer esses obstáculos e tornar-se um dos nossos maiores
escritores. Machado foi um dos principais responsáveis pela fundação
da Academia Brasileira de Letras, sendo o seu primeiro presidente.
Considerado o mais carioca de nossos autores, buscou na
sociedade do Rio de Janeiro de seu tempo a inspiração para a sua
vasta produção.
Sua poesia apresenta uma aproximação com os valores
parnasianos. Veja o lindo soneto A Carolina que ele escreveu no
prefácio de Relíquias de Casa Velha e dedicou à sua esposa e grande
amor:

A Carolina
Querida, ao pé do leito derradeiro E num recanto pôs um mundo inteiro.
Em que descansas dessa longa vida, Trago-te flores, — restos arrancados
Aqui venho e virei, pobre querida, Da terra que nos viu passar unidos
Trazer-te o coração do companheiro. E ora morto nos deixa separados.
Pulsa-lhe aquele afeto verdadeiro Que eu, se tenho nos olhos malferidos
Que, a despeito de toda a humana lida, Pensamentos de vida formulados,
Fez a nossa existência apetecida São pensamentos idos e vividos.

Sua Obra
A produção literária de Machado é muito grande, e abrange quase todos os gêneros
literários:
Romance Poesia Contos Teatro
Ressurreição, 1872 Crisálidas, 1864 Contos Fluminenses, Hoje avental, amanhã
1870 luva, 1860
A mão e a luva, Falenas, 1870 Histórias da Meia- Queda que as
1874 Noite, 1873 mulheres têm para os
tolos, 1861
Helena, 1876 Americanas, 1875 Papéis Avulsos, 1882 Desencantos, 1861

29
Iaiá Garcia, 1878 Ocidentais, 1880 Histórias sem Data, O caminho da porta,
1884 1863
Capítulo XIII
Memórias Póstumas Poesias completas, Várias Histórias, 1896 O protocolo, 1863
de Brás Cubas, 1901
1881
Casa Velha, 1885 Páginas Recolhidas, Teatro, 1863
1899
Quincas Borba, Relíquias da Casa Quase ministro, 1864
1891 Velha, 1906
Dom Casmurro, Os deuses de casaca,
1899 1866
Esaú e Jacó, 1904 Tu, só tu, puro amor,
1880
Memorial de Aires, Não consultes médico,
1908 1896
Lição de botânica, 1906

Dedicou-se aos mais variados gêneros, chegando até a escrever uma crítica sobre o
livro O Primo Basílio de Eça de Queirós, mas acima de tudo, Machado foi um grande crítico de
sua própria obra.
Também escreveu poesias, mas nesse gênero não obteve grande destaque. O melhor
de sua produção realmente se encontra nos contos e nos romances realistas. Alguns autores
falam que os seus romances podem ser divididos em duas fases: uma mais romântica e outra
realista. Mas na realidade o mais correto é afirmarmos que seus primeiros romances são
“convencionais”, pois não se enquadram perfeitamente nos moldes nos romances românticos,
principalmente por não apresentarem uma idealização esteriotipada das personagens.

Principais Características da Obra Machadiana


• Análise Psicológica
• Ironia
• Discurso Metalinguístico
• Narrativa Não Linear
• Pessimismo
• Concisão Vocabular
• Universalismo

30
Capítulo XIII

Frequentemente os romances de Machado de Assis: Memórias


Póstumas de Brás Cubas, Dom Casmurro e Quincas Borba fazem
parte da lista de livros dos grandes vestibulares do Brasil.
Sugerimos que você faça o download gratuito destas obras, na
Internet, e providencie a leitura dessas três grandes obras, com a máxima
urgência!

Parnasianismo
O Parnasianismo foi um movimento literário essencialmente poético, contemporâneo
do Realismo Naturalismo. É interessante destacar, que ao contrário de outros movimentos que
ocorreram em Portugal e no Brasil, o Parnasianismo apresentou características significativas
somente no Brasil e na própria França, onde teve origem.
A palavra parnasianismo vem de Parnaso, nome
de um monte grego, que segundo a mitologia era a
morada de Apolo, deus das artes. Contemporâneo do
Realismo- Naturalismo, o Parnasianismo não pode ser
entendido apenas como a manifestação em poesia das
características realistas e naturalistas presentes na prosa.
Embora existam alguns aspectos comuns, há uma grande Guerra do
diferença: o Parnasianismo não se preocupava com a Parnaso
temática do cotidiano, com a descrição dos costumes da
época e com o cientificismo, características marcantes do
Realismo.
Entre as principais características parnasianas estão:
• Esteticismo - A poesia parnasiana estava preocupada com o belo, com a parte
estética, daí a palavra esteticismo. Era uma poesia descompromissada com os problemas
sociais. Sua única preocupação era a arte pela arte, ou seja, a arte deveria existir em
função dela mesma.
• Impassibilidade - A impassibilidade é a negação do sentimentalismo exagerado
presente no Romantismo. Os parnasianos negavam qualquer expressão de subjetividade
em favor da objetividade temática.
• Poesia descritiva - A poesia parnasiana é marcadamente descritiva,
frequentemente aparecem descrições pormenorizadas de objetos e cenas da natureza.
• Retomada dos modelos clássicos - O Parnasianismo, assim como fez o
Classicismo, também se voltou para a Antigüidade greco-romana, tida como modelo de
perfeição e beleza.
• Perfeição formal - A maior preocupação dos poetas parnasianos era a forma, o
conteúdo ficava num segundo plano. O importante era a palavra, a aparência e a

31
sonoridade.Tamanha era a preocupação formal que os parnasianos ficaram conhecidos
como “poetas de dicionário”. Ao contrário da liberdade romântica, em que apareciam os
versos livres e brancos, ou seja não rimados, os parnasianos valorizaram a utilização das
rimas, buscando principalmente as rimas ricas e raras:

Rimas pobres, ricas e


Ao lado da utilização das rimas, os poetas parnasianos raras
retomaram as formas fixas, principalmente o soneto e elegeram
o verso alexandrino (verso composto por 12 sílabas poéticas)
como modelo de métrica.
Confira os três maiores representantes do Parnasianismo brasileiro:
Vaso Grego Plena Nudez Profissão de Fé
(Alberto de Oliveira) (Raimundo Correia) (Olavo Bilac)
Esta de áureos relevos, trabalhada Eu amo os gregos tipos de (...)
De divas mãos, brilhante copa, um escultura; Invejo o ourives quando escrevo:
dia, Pagãs nuas no mármore Imito o amor
Já de aos deuses servir como entalhadas; Com ele, em ouro, o alto-relevo
cansada, Não essas produções que a estufa Faz de uma flor.
Vinda do Olimpo, a um novo deus escura Imito-o. E, pois, nem de Carrara
servia. Das modas cria, tortas e A pedra firo:
Era o poeta de Teos que a enfezadas. O alvo cristal, a pedra rara,
suspendia Quero em pleno esplendor, viço e O ônix prefiro.
Então, e, ora repleta ora esvazada, frescura Por isso, corre, por servir-me,
A taça amiga aos dedos seus tinia, Os corpos nus; as linhas Sobre o papel
Toda de roxas pétalas colmada. onduladas A pena, como em prata firme
Depois ... Mais o lavor da taça Livres: da carne exuberante e pura Corre o cinzel.
admira, Todas as saliências destacadas ... Corre; desenha, enfeita a
Toca-a, e do ouvido aproximando-a, Não quero, a Vênus opulenta e imagem,
à bordas bela A idéia veste:
Finas hás de lhe ouvir, canora e De luxuriantes formas, entrevê-la Cinge-lhe ao corpo a ampla
doce. Da transparente túnica através: roupagem
Ignota voz, qual se da antiga lira Quero vê-la, sem pejo, sem Azul-celeste.
Fosse a encantada música das receios, Torce, aprimora, alteia, lima
cordas, Os braços nus, o dorso nu, os A frase; e, enfim,
Qual se essa voz de Anacreonte seios No verso de ouro engasta a
fosse. Nus ... toda nua, da cabeça os pés! rima,
Como um rubim.
Quero a estrofe cristalina,
Dobrada ao jeito
Do ourives, saia da oficina
Sem um defeito.
(...)
Assim, procedo. Minha pena
Segue esta norma,
Por te servir, Deusa serena,
Serena Forma!”

32
Capítulo XIII

Revisando: REALISMO/NATURALISMO/PARNASIANISMO (século XIX)

Momento histórico: a) na Europa b) no Brasil

• Segunda Revolução • Abolição da escravatura


Industrial

• Cientificismo e • Fim da Monarquia


Determinismo

• Evolucionismo • Imigração

Características: - objetividade;

- predomínio da razão;

- criação do romance de análise (Realismo);

- aceitação de determinismos científicos (Naturalismo).

33
Capítulo XIV

SIMBOLISMO
(1893 - 1922)
“Ó meu Amor, que já morreste,
Ó meu Amor, que morta estás!
Lá nessa cova a que desceste
Ó meu Amor, que já morreste,
Ah! nunca mais florescerás?”
(Cruz e Sousa em Poesias Completas)

No Simbolismo, ao contrário do Realismo, não há uma preocupação com a


representação fiel da realidade, a arte preocupa-se com a sugestão. O Simbolismo é
justamente isso, sugestão e intuição. É também a reação ao
Realismo/Naturalismo/Parnasianismo, é o resgate da subjetividade, dos valores espirituais e
afetivos. Percebe-se no Simbolismo uma aproximação com os ideais românticos, entretanto,
com uma profundidade maior, os simbolistas preocupavam-se em retratar em seus textos o
inconsciente, o irracional, com sensações e atitudes que a lógica não conseguia explicar. O
leitor não deveria tentar entender os textos, mas se deixar levar pelas sensações.
Entre as principais características parnasianas estão:
• Espiritualismo e Misticismo - Para os simbolistas a arte era uma forma de
religião. Os textos simbolistas apresentam muitas vezes uma visão cristã. Era comum a
distinção entre corpo e alma e o desejo de purificação, de sublimação: anulação da
matéria para a libertação da alma. Era também comum a utilização de vocábulos ligados
ao místico e ao religioso, como missal, breviário, hinos, salmos, entre outros.
• Sugestão - Para a arte simbolista mais importante que nomear as coisas era
sugeri-las. Segundo os simbolistas os leitores é que deveriam adivinhar o enigma de cada
poema.
• Imprecisão - Atrelada à característica anterior, a realidade deveria ser expressa
de maneira vaga e imprecisa. O Simbolismo buscava a essência do ser humano, os
estados da alma, o inconsciente.

34
Capítulo XIV

• Sinestesias - Na poesia simbolista era comum a presença de sinestesias. A


sinestesia é uma figura de linguagem que consiste na fusão de várias sensações, sem
que necessariamente haja lógica:
“Nasce a manhã, a luz tem cheiro ... Ei-la que assoma
Pelo ar sutil ... Tem cheiro a luz, a manhã nasce ...
Oh sonora audição colorida do aroma!”
(Alphonsus de Guimaraens)
• Musicalidade - A poesia deveria se aproximar da música. Para conseguirem
essa aproximação os simbolistas usaram em grande escala as figuras de linguagem
associadas à sonoridade, como as rima, o eco, a aliteração, entre outras. Daí a expressão
simbolista: “A música antes de qualquer coisa”. Veja um exemplo de aliteração. Lembre-
se de que a aliteração é a repetição de sons consonantais:
“E as cantinelas de serenos sons amenos
fogem fluidas fluindo à fina flor dos fenos”.
(Eugênio de Castro)
 Maiúsculas alegorizantes - Correspondem à utilização de letras maiúsculas no
meio do texto sem que haja alguma razão gramatical para o seu uso. Elas são usadas para
enfatizar as palavras:
“Indefiníveis músicas supremas,
Harmonias da Cor e do Perfume ...
Horas do Ocaso, trêmulas, extremas,
Réquiem do Sol que a Dor da Luz resume ...”
(Cruz e Souza)
No Brasil, o Simbolismo tem início em 1893, com a publicação de Missal (textos em
prosa) e Broquéis (poesias), de Cruz e Souza. Didaticamente, permaneceu no cenário
literário até 1902 quando ocorre a publicação do livro Os Sertões, de Euclides da Cunha,
considerado o texto introdutor do Pré-Modernismo.
Missal é o nome de um livro que contém orações utilizadas nas missas e broquéis vem
de broquel, tipo de um escudo espartano, numa clara aproximação com o parnasianismo e seu
gosto por objetos antigos.
O Simbolismo no Brasil não teve muita aceitação por parte do público leitor. A maior
parte dos leitores preferia os textos parnasianos. Os parnasianos tinham a imprensa como
aliada, pois seus poemas vendiam muito mais. É por isso que se costuma dizer que o Brasil
não teve um momento tipicamente simbolista, ele ficou meio à margem da literatura oficial da
época.
Veja os maiores representantes do Simbolismo brasileiro:
• Cruz e Sousa - é considerado não só o maior poeta do Simbolismo brasileiro,
mas também um dos maiores representantes do Simbolismo mundial. Era chamado de
“O cisne negro” ou “Dante negro”. Por ser negro foi vítima de muitos preconceitos.
Partindo de seus sofrimentos enquanto homem negro, alcançou a dor e o sofrimento do
ser humano. Suas poesias eram marcadas por um forte misticismo e religiosidade, na busca de
um mundo mais espiritualizado. Outra característica interessante de sua obra é a recorrência

35
Capítulo XIV

direta e indireta à cor branca, vista na maioria das vezes como símbolo da pureza. Cruz e
Sousa escrevia muito sobre “véus brancos”, “neve”, “luar”, “virginais brancores”, entre outras
sugestões. Veja um fragmento de um de seus textos mais conhecidos:
(...)
Vozes veladas, veludosas vozes,
Volúpias dos violões, vozes veladas,
Vagam nos velhos vórtices velozes
Dos ventos, vivas, vãs, vulcanizadas (...)”
• Alphonsuns de Guimaraens - é o outro representante do Simbolismo
brasileiro. Seus textos apresentavam uma temática variada: a fuga da realidade, a
natureza, a religiosidade, o amor espiritualizado, a mulher, muitas vezes comparada à
Virgem Maria.

Revisando: SIMBOLISMO (século XIX)

Momento histórico: no Brasil

• Primeira República:

- Revolta da Armada;

- Guerra de Canudos.

Características: - sugestão;

- musicalidade;

- mistério.

MODERNISMO
(1922 até 1930)
“Estou farto do lirismo comedido
Do lirismo bem-comportado
Do lirismo funcionário público com [livro de ponto expediente
[protocolo e manifestações de apreço ao sr. Diretor.

(Manuel Bandeira no Poema Poética)

Na década de 20 do século passado, São Paulo era considerada a cidade mais


moderna de todo o Brasil. Moderna em todos os sentidos, tanto nos aspectos positivos, quanto
nos aspectos negativos da modernidade. Já nessa época mostrava uma grande desigualdade:
de um lado os grandes proprietários de indústrias, a alta sociedade cafeeira, símbolos da
riqueza, e de outro os operários, os imigrantes, símbolos da miséria e da exploração.
Foi neste cenário, que o Modernismo brasileiro teve como evento marcante e propulsor
a “Semana de Arte Moderna de 1922”, ocorrida nos dias 13, 15 e 17 de fevereiro de 1922, no

36
Teatro Municipal de São Paulo. Entretanto, é importante observamos que o Modernismo
brasileiro não começou somente a partir desse evento. Vários fatos e trabalhos foram
responsáveis pelo o que ocorreu na Semana. Entre os principais antecedentes da semana de
22 estão:
• a volta de Oswald de Andrade da Europa, onde entrou em contato com as
inovações propostas pela Vanguarda Européia, principalmente com o Futurismo de
Marinetti;
• a primeira exposição dos quadros expressionistas de Lasar Segall, chocando-se
com a pintura acadêmica da época;
• a fundação da Revista Orpheu, símbolo do Modernismo em Portugal;
• a publicação de vários livros dos autores que participariam mais tarde da
Semana de 22 e o grande estopim e a grande mola propulsora do Modernismo;
• segundo muitos estudiosos, a exposição da pintora Anita Malfatti, que recebeu
uma forte crítica de Monteiro Lobato, no artigo intitulado Paranóia ou Mistificação?.
Principais participantes da Semana de Arte Moderna Brasileira:
Literatura: Pintura: Música:
Mário de Andrade Anita Malfatti Heitor Villa-
Oswald de Andrade Tarsila do Amaral Lobos

Ronald de Carvalho Di Cavalcanti


A Semana foi patrocinada pelas pessoas da elite paulistana e contou até com a
presença de um autor já consagrado, membro da Academia Brasileira de Letras. Graça
Aranha, pré-modernista e autor do livro Canaã, foi o responsável pela cerimônia de abertura. O
evento não foi apenas literário, pois vários artistas da música, da pintura, da escultura e de
outras áreas puderam mostrar seus trabalhos.
Mas qual foi a reação da sociedade da época? Confira um comentário de um dos
principais jornais da época: “É preciso que se saiba que nos manicômios se produzem
poemas, partituras, quadros e estátuas, e que essa arte de doidos tem o mesmo característico
da arte dos futuristas e cubistas que andam soltos por aí”. (Jornal do Comércio fevereiro de
1922.)
Esse evento modernista foi verdadeiramente um choque, uma afronta direta aos
autores e à sociedade da época. Em outras palavras: a Semana foi um escândalo público. Mas
o que será que aconteceu de tão diferente nessa semana? Logo no primeiro dia, depois da
abertura de Graça Aranha, o músico Villa-Lobos tem sua apresentação interrompida por vários
assobios e vaias da platéia. No segundo dia, a confusão foi ainda maior. Ronald de Carvalho
ao declamar o poema “Os Sapos”, de Manuel Bandeira, leva o público à loucura, repetindo
bravamente o refrão do texto que se assemelha ao coaxar dos sapos. Mário de Andrade,
quebrando todas as formalidades, recita, entre vaias, um poema nas escadarias do teatro e,
para fechar a noite com chave de ouro, Villa- Lobos entra no palco de casaca, chinelos e
guarda-chuva. A plateia escandalizada quase parte para a agressão física. Dizem as más
línguas que entre “famílias direitas” não se comentavam os acontecimentos da Semana na
presença de crianças e mulheres, devido as “barbaridades” ocorridas no evento. Mais tarde,
Villa-Lobos justificou-se dizendo que sua atitude, na realidade, não era uma afronta, mas um
calo que o impedia de calçar sapato. Diante do acontecido, os organizadores ficaram

37
Capítulo XIV

felicíssimos, pois conseguiram o que queriam, ou seja, chocar a sociedade, destruir as


estéticas tradicionais e conservadoras.

Veja um fragmento do poema _ “Não foi! _ “Foi!” _ “Não Frumento sem


considerado uma espécie de hino foi!” joio.
do Modernismo: O sapo-tanoeiro, Faço rimas com
Os sapos Parnasiano aguado, Consoantes de
Enfunando os papos, Diz: _ “Meu cancioneiro apoio.
Saem da penumbra, É bem martelado. (...)
Aos pulos, os sapos. Vede como primo Que soluças tu,
A luz os deslumbra. Em comer os hiatos! Transido de frio,
Em ronco que aterra, Que arte! E nunca rimo Sapo-cururu
Berra o sapo-boi: Os termos cognatos. Da beira do rio ...
_ “Meu pai foi à guerra!” O meu verso é bom (Manuel Bandeira)

Os Sapos, de Manuel Bandeira é uma paródia do conhecido poema Profissão de Fé,


do parnasiano Olavo Bilac. É um poema-piada, satirizando a extrema preocupação parnasiana
com a forma, ou seja, com as rimas com a seleção vocabular. É crítica uma aos parnasianos. A
expressão sapo tanoeiro é uma referência direta a Bilac, pois tanoeiro é um artesão. Lembre-
se de que Bilac comparava a tarefa do poeta à do artesão. E o sapo-cururu é o poeta moderno,
autêntico, simples, sem artificialismos.

Consequências da Semana de Arte Moderna


Os acontecimentos da Semana ganharam expressão nacional. As idéias modernistas,
aos poucos, foram ganhando adeptos por todo o país. No período de 1922 a 1930, conhecido
como a primeira fase modernista, que foi o período heroico, que provocava uma ruptura e
consequentemente a inovação, vários grupos, manifestos e revistas difundiram-se no cenário
cultural brasileiro. Entre as revistas destacaram-se:
Revistas
Klaxon (São Paulo)
Estética (Rio de Janeiro)
Festa (Rio de Janeiro)
A Revista (Minas Gerais)
Revista Antropofagia (São Paulo)

38
Capítulo XIV

A mais polêmica de todas foi sem dúvida a Revista Antropofagia, que segundo seus
criadores apresentou duas “dentições”, ou seja, duas fases. A primeira com publicações
mensais e a segunda com publicações semanais. Juntamente com as revistas, vários
manifestos foram escritos, de acordo com a ideologia adotada pelos grupos.

Principais Movimentos Modernistas Brasileiros


• Movimento Pau-Brasil
• Movimento Verde-Amarelo
• Movimento Antropofágico
• Movimento Espiritualista
O movimento Pau-Brasil, criado por Oswald de Andrade, tinha como objetivo a
redescoberta e revalorização da cultura primitiva brasileira. Oswald queria uma poesia de
exportação, daí o nome Pau-Brasil, nome do primeiro produto exportado pelo Brasil.
O movimento Verde-Amarelo foi um movimento de reação ao movimento Pau-Brasil,
pois ao contrário do primeiro, sonhava com uma arte livre das influências europeias, buscando
uma identidade realmente nacional. Para seus adeptos, o nacionalismo de Oswald era um
nacionalismo importado.
O movimento Antropofágico origina-se no trabalho da pintora Tarsila do Amaral.
Veja uns de seus quadros:

Urutu, 1928 Antropofagia, 1929 Abaporu, 1928

Abaporu é um termo indígena que significa aquele que come gente,“antropófago”.


Segundo uma crença indígena, comer o inimigo significava assimilar suas qualidades. Esses
quadros fazem parte da chamada galeria antropofágica de Tarsila. E é com o quadro Abaporu,
que tem início o movimento. Segundo a própria pintora, a idéia do movimento surgiu quando
ela resolveu dar esse quadro de presente ao então marido Oswald de Andrade. O movimento
antropofágico queria justamente isso, “devorar” a cultura estrangeira, para reelaborá-la com
autonomia.
O movimento Espiritualista, como o próprio nome já sugere, voltou-se para o interior do
ser humano, para o misticismo e a religião, mostrando-se um pouco distante da irreverência
dos outros movimentos. Buscava uma conciliação entre o passado e o futuro.

Ciclos Modernistas

39
Capítulo XIV

Costuma-se dividir o Modernismo brasileiro em três grandes fases ou ciclos:

1ª Fase (1922-1930) 2ª Fase (1930-1945) 3ª Fase (1945 em


HEROICA CONSOLIDAÇÃO diante)

• Oswald de Andrade Poesia: Prosa: REFLEXÃO

• Mário de Andrade • Carlos Drummond de • José Lins do Rego • Guimarães Rosa

• Manuel Bandeira Andrade • Graciliano Ramos • Clarice Lispector

• Alcântara Machado • Cecília Meireles • Jorge Amado • João Cabral de


• Vinícius de Moraes Melo Neto

• A primeira fase apresenta o desejo de liberdade, de ruptura e de destruição do


passado como características marcantes.
• A segunda é conhecida como a fase da consolidação das conquistas anteriores
• A terceira fase é o período de reflexão e da universalidade temática.

Revisando: MODERNISMO (século XX)

Momento histórico: a) na Europa b) no Brasil

• Fim da Primeira Guerra Mundial • Industrialização

• Revolução Russa • Crescimento das cidades

• Futurismo, Cubismo, • Surgimento da pequena


Impressionismo e Surrealismo burguesia e proletariado
aparecem na Europa.

Características: - ruptura com modelos tradicionais;

- nacionalismo;

- utilização de humor, coexistência do verso livre e do metrificado;

- surgimento da linguagem social, do povo.

PRODUÇÃO CONTEMPORÂNEA
(1945 até ...)
“Estou farto do lirismo comedido
Do lirismo bem-comportado
Do lirismo funcionário público com [livro de ponto
expediente
[protocolo e manifestações de apreço ao sr. Diretor.
(Manuel Bandeira no Poema Poética)
40
Capítulo XIV

A Poesia Brasileira Atualmente


• Concretismo
• Poesia-Práxis
• Poesia Social
• Poesia Marginal
A poesia concreta, acreditando que o verso tradicional já estava ultrapassado, propôs
uma poesia voltada para os aspectos materiais da palavra, ou seja, para seus recursos
gráficos. Nessa concepção a palavra é tida como objeto, como coisa concreta. Os três
representantes dessa poesia são Décio Pignatari, Haroldo de Campos e Augusto de Campos.
Suas idéias começaram a circular a partir da revista Noigandres (palavra de origem provençal
que significa “antídoto contra o tédio”). Mas essa poesia só foi lançada oficialmente em 1956,
por ocasião da Exposição Nacional de Arte Concreta, realizada no Museu de Arte Moderna de
São Paulo.
O poema Beba Coca-Cola é um dos símbolos da poesia concretista:

O poema de Décio Pignatari


transforma, a partir do jogo de palavras e
significados, uma das mais conhecidas
propagandas do mundo numa anti
propaganda.

A poesia-práxis surgiu em consequência de alguns desentendimentos entre os


concretistas. Alguns poetas abandonaram o grupo e voltaram-se para a força energética da
palavra. Segundo eles, a palavra era capaz de gerar outras palavras e significados. Nessa
concepção a palavra é tida como energia, como um corpo vivo. O termo práxis vem do grego e
significa ação.
Mário “Chami” foi o principal representante da poesia- práxis, confira um de seus
poemas:
Agiotagem dez nada
um cem tudo
dois mil a quebra: a sobra
três o lucro: o dízimo a monta/ o pé/ o cento/
a quota
o juro: o prazo o ágio/ a moral/ a monta em
péssimo haja nota
o pôr / o cento/ o mês/ o ágio
empréstimo. agiota.
porcentágio.
muito

41
Capítulo XIV

Os poetas que se dedicaram à poesia social, contrários aos exageros formais do


concretismo, buscaram um retorno ao verso mais tradicional, à linguagem simples e às
questões sociais da época.
Veja o excelente poema Não há vagas, de Ferreira Gullar.
Não há vagas da carne o operário o homem sem
estômago
O preço do feijão do açúcar que esmerila seu dia de
aço a mulher de
não cabe no poema. do pão.
nuvens
e carvão
O preço do arroz O funcionário público
a fruta sem
nas oficinas escuras
não cabe no poema. não cabe no poema preço
- porque o poema,
Não cabem no poema com seu salário de fome O poema,
senhores,
o gás senhores,
sua vida fechada
está fechado:
a luz o telefone não fede
em arquivos.
“não há vagas”
a sonegação nem cheira.
Como não cabe no poema
Só cabe no poema
do leite Ferreira Gullar

A poesia marginal recebe essa denominação porque não era publicada pelas grandes
editoras, ou seja, estava à margem delas. Na maioria das vezes os próprios poetas produziam
as cópias para serem distribuídas em locais públicos. Com o passar do tempo muitos dos
chamados poetas marginais tiveram suas obras aceitas pelas mesmas editoras que no
passado recusavam-nas. Confira o poema O assassino era o escriba, de Paulo Leminski, um
ex-marginal:
O Assassino Era o Escriba
Meu professor de análise sintática era do tipo sujeito inexistente.
Um pleonasmo, o principal predicado da sua vida, regular com paradigma da 1ª conjugação.
Entre uma oração subordinada e um adjunto adverbial, ele não tinha dívidas: sempre
achava um jeito assindético de nos torturar com um aposto.
Casou com a regência.
Foi infeliz.
Era possessivo como um pronome.
E ela era bitransitiva.
Tentou ir para os EUA.
Não deu.
Acharam um artigo indefinido em sua bagagem.
A interjeição do bigode declinava partículas expletivas, conectivos e agentes da passiva, o
tempo todo.
Um dia, matei-o com um objeto direto na cabeça.
Paulo Leminski

42
Capítulo XIV

Tendências atuais
É um pouco complicado analisar um cenário teórico fazendo parte dele, sem um
distanciamento mínimo de tempo e espaço. Mas podemos apontar algumas tendências
contemporâneas da literatura brasileira – e contemporâneas consideramos o que se tem
produzido nos últimos vinte ou trinta anos, pós-ditadura.
• Poesia - torna-se, ainda, por um lado mais cotidiana quanto a temática (Adélia
Prado, Mário Quintana), e por outro instrumento de pressão contra as ditaduras (Glauco
Mattoso, tropicalistas)..
• Prosa - o que vemos no romance é o surgimento do que chama-se Geração 90.
No Brasil, o grande marco é o romance Subúrbio, de Fernando Bonassi, que deflagaria
em 1994 um processo de renovação da prosa urbana (ou, no caso, suburbana), com seu
realismo brutal, que trouxe novamente para o centro da cena literária os personagens dos
arrabaldes das cidades brasileiras. Cidade de Deus, de Paulo Lins, ficaria célebre pela
sua realização cinematográfica.
• Outra corrente contemporânea é a “análise” da condição pós-moderna - a
identidade em crise, um extremo de intimismo, que se projeta sobre a estrutura narrativa,
cancelando os limites entre o real e o fantasmático, entre o mundo descrito e as
distorções interiores de quem o descreve. É o caso de Cristóvão Tezza, João Gilberto
Noll, Bernardo Carvalho e Chico Buarque.
• “Revisão histórica” a partir da ficção - com Luiz Antonio de Assis Brasil
aparecem narrativas de formato convencional e que se passam inteiramente no passado,
mas não resgatando o passado como forma de contemplação. Atualmente vivemos um
momentos barroco, de confusão e crise existencial, um tipo de literatura que está em alta .
• Outros nomes atuais da Literatura Brasileira - Paulo Coelho, Alfredo Bosi
(teórico da Literatura Brasileira), Ana Maria Machado (Literatura infanto-juvenil), Ariano
Suassuna, Arnaldo Niskier (trata sobre Educação e Língua Portuguesa), Carlos Heitor
Cony (romancista), João Ubaldo Ribeiro (romancista), Lygia Fagundes Telles
(romancista), Moacyr Scliar, Nélida Pinõn (romancista) e muitos mais...

Paulo Coelho Nélida Pinõn Moacyr Scliar Lygia F. Telles João Ubaldo Carlos Heitor Cony
Nesse capítulo, terminamos nossa rápida viagem pela literatura brasileira. Não se
preocupe em memorizar datas, nem tão pouco obras e autores que deram início a certos
movimentos literários, pois dificilmente as questões exigirão tais conhecimentos. Muitas vezes
o próprio enunciado da questão traz as informações temporais.
Você não precisa ser um grande especialista em Literatura Brasileira para entendê-la!
O importante é saber as características de cada movimento e dos principais autores e
identificá-las nos textos.
E a dica mais importante: apaixonar-se pelas obras
brasileiras e ler no mínimo, uma obra de cada período
literário. Entenda que adquirir um livro não é um gasto ou
prejuízo! Comprar um livro é um INVESTIMENTO no seu

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conhecimento, na sua cultura, em momentos de prazer e emoção ao viajar pelas páginas
do nosso insubstituível amigo, o livro. Ler não é obrigação... É necessidade! Ou seja:
leia, leia e leia!

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