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Na faculdade eu me considerava um socialista. Lia revistas como a The Nation e matérias antigas da
The New Masses. Sonhava em ser o próximo Clifford Odets, dramaturgo de esquerda que sempre
tentou despertar a consciência da classe proletária. Se você for ao YouTube e buscar “David Brooks
Milton Friedman”, vai me ver, um jovem socialista de 22 anos debatendo com o grande economista.
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A melhor versão do socialismo foi definida por Michael Walter: “o que afeta a todos tem de ser
resolvido por todos”. Os grandes empreendimentos econômicos devem ser propriedade de todos. As
decisões devem ter base naquilo que beneficia a todos, não ter como objetivo a maximização do lucro.
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David Brooks discute formas de capitalismo no mundo Foto: AP
Não é o que “socialistas democratas” como Bernie Sanders falam, mas sei qual a razão de algumas
das suas preocupações socialistas serem populares. Por que temos de conviver com essa pobreza e
desigualdade? Por que não colocamos as pessoas acima dos lucros? O que é viver o melhor da vida nas
sociedades mais justas? O socialismo é a mais persuasiva religião secular de todos os tempos, lhe dá
um ideal igualitário pelo qual você se sacrifica e dedica sua vida.
Minhas simpatias socialistas não sobreviveram muito tempo depois que me tornei jornalista.
Rapidamente notei que as autoridades de governo que eu estava cobrindo não eram capazes de
planejar a sociedade que pretendiam criar. Não porque eram ruins ou estúpidas. O mundo é
simplesmente muito complicado.
E então compreendi que o capitalismo é realmente bom na obtenção de algo que o socialismo é
realmente ruim: criar um processo de aprendizado que auxilia as pessoas a encontrarem a resposta
para alguma coisa. Se você quer montar uma empresa de aluguel de carros o capitalismo tem um
conjunto de sinalizações de preço e mercado e uma capacidade de resposta que vai lhe dizer que tipo
de carros as pessoas querem alugar, onde colocar sua empresa, quantos veículos deve encomendar. E
tem um processo competitivo impulsionado pelo lucro para incentivá-lo a aprender e inovar.
Se você tem alguma vivência já observou que o capitalismo produziu a maior redução da pobreza na
história humana. Em 1981, 42% do mundo vivia na pobreza extrema. Hoje a porcentagem está em
torno de 10%.
E viu que nações que instituíram reformas de mercado, como Coreia do Sul e a China de Deng
Xiaoping, ficaram mais ricas e orgulhosas. Aquelas que se voltaram para o socialismo, como a Grã-
Bretanha na década de 1970, a Venezuela mais recentemente – tendem a ter mais pobres e miseráveis.
E se deu conta de que o meio ambiente é muito melhor em países capitalistas do que nas economias
planificadas.
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O Produto Interno Bruto (PIB) americano mais do que dobrou desde 1970 e o consumo de energia
aumentou. As emissões de carbono per capita dos EUA registraram sua maior queda em 67 anos, em
2017. As maiores degradações ambientais se verificam nos sistemas planificados, como a antiga União
Soviética e a China comunista.
O Fraser Institute, um grupo de estudos direcionado para o livre mercado, realiza um ranking de
países segundo dados como menos regulamentação, livre comércio, garantia de direitos de
propriedade. As economias mais livres do mundo são de países como Hong Kong, EUA, Canadá,
Irlanda, Letônia, Dinamarca. Ilhas Mauricio, Malta e Finlândia. Nações que estão nos quatro
primeiros lugares em termos de liberdade econômica têm em média um PIB per capital de US$
36.770. No caso dos que ocupam os quatro últimos lugares o PIB per capita é de US$ 6.140. As pessoas
nas economias livres têm expectativa de vida de 79,4 anos. Nas economias planificadas, é de 65,2 anos.
Durante o século passado, as economias estatizadas produziram muita pobreza e escassez. E é ainda
pior quando as elites políticas sabem o que você pode fazer com essa escassez. Elas a transformam em
corrupção. Quando as coisas são escassas você precisa subornar agentes do governo para consegui-las.
Em breve todos estão subornando. Os cidadãos percebem que o sistema inteiro é uma fraude. Um
sistema que começa com um grande idealismo acaba em corrupção, desonestidade, opressão e
desconfiança.
Meu outro herói é Abraham Lincoln. Proferiu mais discursos sobre bancos e projetos de infraestrutura
do que sobre escravidão porque desejava propagar o capital e azeitar as rodas do comércio para que
rapazes e moças como ele pudessem ascender na vida.
Outra grande figura americana é Theodore Roosevelt. Ele amava o dinamismo que o capitalismo
desperta e sabia que às vezes é preciso limitar as corporações gigantes de modo que capitalistas menos
estabelecidos consigam competir. Todos esses líderes compreenderam que a resposta para os
problemas do capitalismo é um capitalismo mais amplo e mais equitativo.
Mas o capitalismo, como todos os sistemas, sempre fica desequilibrado. Na última geração, ele
produziu a maior redução da desigualdade de renda global na história. O inconveniente é que
trabalhadores sem especialização nos EUA hoje competem com aqueles no Vietnã, Índia e Malásia. A
redução da desigualdade entre as nações levou ao aumento da desigualdade nas nações ricas.
Além disto, os níveis educacionais não acompanharam a tecnologia. Esses problemas não são
indicativos de que o capitalismo faliu. São sinais de que precisamos de um capitalismo melhor.
Necessitamos de uma injeção maciça de dinheiro e reformas nos nossos sistemas de ensino.
Precisamos de programas sociais que não só subsidiem o consumo das pessoas pobres, mas sua
capacidade de produzir.
Um grande erro dos conservadores foi achar que tudo o que torna o governo mais intervencionista
também torna os mercados menos dinâmicos. Não conseguimos distinguir entre o Estado que oferece
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suporte e o Estado regulador.
Não sei se o modelo escandinavo funcionaria em países grandes e diversificados. Mas seu sucesso
aponta para algumas verdades: o Estado cria prosperidade quando seus cidadãos se tornam
capitalistas e gera níveis incríveis de miséria quando interfere demais. Hoje o debate real não é entre
capitalismo e socialismo. Durante cem anos fizemos esses experimentos sociais e o capitalismo venceu.
A discussão é entre uma versão de capitalismo democrático, como nos EUA, Canadá e Dinamarca e
formas de capitalismo autoritário, como na China e na Rússia. Nossa tarefa é lograr a versão mais
ampla e justa de capitalismo. / TRADUÇÃO DE TEREZINHA MARTINO
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