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Carina Pirró Alves Guimarães

QUALIDADE DE VIDA, DEPRESSÃO E ANSIEDADE EM PACIENTES


VALVOPATAS CIRÚRGICOS

São Paulo
Janeiro/ 2003
Carina Pirró Alves Guimarães

QUALIDADE DE VIDA, DEPRESSÃO E ANSIEDADE EM PACIENTES


VALVOPATAS CIRÚRGICOS

Trabalho de Conclusão do
Curso de Aprimoramento em
Psicologia Clínica - Hospitalar
aplicada à Cardiologia do
Instituto do Coração -
HCFMUSP

São Paulo
Janeiro/ 2003
SUMÁRIO

I Apresentação do tema

II Metodologia

III Discussão
INTRODUÇÃO

Segundo Braunwald1, as valvas cardíacas são estruturas anatômicas que têm

como função coordenar o fluxo sangüíneo, fazendo com que seja unidirecional,

sincronizando-o com os batimentos cardíacos (sístole e diástole).

São quatro valvas: pulmonar, tricúspide , mitral e aórtica1

De acordo com Amato2, as valvopatias são disfunções das valvas cardíacas,

decorrentes de lesões e tem causas e conseqüências variadas, dependendo da

valva acometida e do tipo e grau da lesão. O acometimento destas estruturas pode

causar dificuldade de abertura dos folhetos valvares, a estenose, ou dificuldade de

fechamento, a insuficiência.

Freqüentemente encontramos nestes pacientes sintomas de cansaço,

respiração curta, precordialgia, tontura, palpitação e arritmia.2

As causas podem ser congênitas ou adquiridas. Dentre essas últimas, a mais

comum, no Brasil, é a febre reumática3.

O tratamento para as valvopatias pode ser clínico ou cirúrgico. O primeiro

utiliza medicamentos que visam melhorar a sintomatologia do paciente, levando a

um retardo na progressão da doença e/ou à cura da mesma (no caso de

Endocardite). Além dos fármacos, também pode haver restrições, com relação à

dieta e afazeres diários, dependendo do tipo de doença e do grau de

comprometimento funcional do paciente. Esse tipo de tratamento pode ser realizado

durante a internação ou em nível ambulatorial.2

A cirurgia quando indicada, pode ser de plastia da valva ou colocação de

prótese biológica ou metálica.

As biopróteses (de origem porcina ou bovina) são praticamente

atrombogências e apresentam durabilidade em torno de dez anos em 85% dos


pacientes adultos. Em virtude disso, o valvopata comumente convive com a

possibilidade de uma nova cirurgia, às vezes havendo necessidade de uma ou mais

operações.

Apesar da prótese mecânica tem maior durabilidade, sua utilização implica a

indicação de anticoagulante oral permanente ao paciente no pós-operatório pelo

risco de fenômenos tromboembólicos, destacando-se ainda mais a necessidade de

aderência ao tratamento, além de produzir um ruído característico e audível em

situações de maior silêncio que geralmente incomodam o portador.7

Os pacientes valvopatas geralmente descobrem a doença ainda jovens e

passam a conviver com a perspectiva da cronicidade. A realização de consultas, uso

de medicamentos, hospitalização, limitações na vida diária e até mesmo

intervenções cirúrgicas passam a fazer parte da existência da pessoa.5

Portanto, o paciente valvopata convive com uma doença crônica, porém não é

necessariamente crônico no plano psicológico. Pode, no entanto, passar por fases

mais ansiogênicas e desgastantes, como a cirurgia cardíaca, por exemplo, que

facilita a evocação de temores e fantasias associados ao próprio ato cirúrgico. 5

Segundo Moffic apud Romano 1994 6, quando há uma doença física, existe

uma correlação entre o tipo de reação emocional e o curso clínico da moléstia. A

depressão é um dos modos mais freqüentes pelos quais o paciente reage ao

desenvolvimento do mal.

Segundo dados literário, pacientes com troca múltipla de válvula têm maior

incidência de depressão em todas as fases do que pacientes com problemas

congênitos. (Meffert apud Romano, 1994)6

Especificamente nos estudos sobre valvopatias, a literatura tem dois

interesses: verificar a qualidade de vida antes e depois da cirurgia e avaliar se a


escolha do tipo de prótese tem alguma influência sobre a condição de sua

existência. 6

Romano8 afirma que a dimensão real da qualidade de vida engloba esferas

relacionadas à saúde física e mental, à atividade diária , social e de lazer, e às

percepções gerais de bem-estar. No entanto, é essencialmente subjetiva, ou seja,

cabe ao próprio paciente avaliar os benefícios reais do tratamento realizado.

Dessa forma, as intervenções médicas de qualquer natureza devem sempre

ser avaliadas sob dois parâmetros: os objetivos biológicos, (mensuráveis através de

exames laboratoriais ou aparelhos) e, os subjetivos, individuais, (medidos por

questionários, nível de satisfação pessoas, avaliação de expectativa). Não basta

discutir a técnica cirúrgica, a escolha da prótese e a redução de sintomas, é preciso

acrescentar a avaliação do próprio indivíduo sobre os benefícios que a intervenção

lhe acrescentou.9
OBJETIVOS

Avaliar os índices de respostas ansiosas, depressivas e a avaliação da

qualidade de vida dos pacientes valvopatas submetidos à troca, retroca ou plastia

valvar.

MÉTODOS

I - POPULAÇÃO

Foram selecionados aleatoriamente para o estudo 25 pacientes valvopatas

previamente submetidos à cirurgia de plastia, troca ou retroca valvar acompanhados

ambulatorialmente pela Equipe Médica de Válvula do Instituto do Coração do

Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, no

período de 15 de Julho a 19 de Setembro de 2002.

A idade deles variou entre 20 e 35 anos, com média de 30,2. Dentre eles, 19

(76%) eram do sexo feminino e 6 (24%) do sexo masculino.

Haviam 18 casados (72%), 05 solteiros (20%), 01 (4%) separado e 01 (4%)

divorciado.

No que diz respeito ao nível educacional, 03 (12%) eram analfabetos, 06

(24%) cursaram I grau incompleto, 4 (16%) I grau completo, 07 (28%) II grau

incompleto, 04 (16%) II grau completo e 01 (4%) III grau incompleto.

Quanto às intervenções cirúrgicas haviam 10 (40%) pacientes que realizaram

plastia valvar, 07 (28%) troca, 04 (16%) plastia e troca, 02 (8%) troca e retroca e 02

(8%) plastia, troca e retroca valvar.


II - PROCEDIMENTO

a. Instrumentos: Foram utilizados 3 questionários

1 – Inventário de Ansiedade Traço-Estado (State-Trait Anxiety Inventory – STAI)

A ansiedade foi medida através da aplicação da escala IDATE de Spielberg e

col, instrumento que indica tanto o estado momentâneo de apreensão (ansiedade-

estado), como a tendência individual de cada um reagir às tensões (ansiedade-

traço). Cada escala contém 20 frases que devem ser classificadas por intensidade

desde 1 (sem ansiedade) até 4 (muita ansiedade). O escore final é encontrado pela

soma dos escores das 20 frases.

2 – Inventário de depressão Beck (Beck Depression Inventory – BDI)

Instrumento de avaliação de depressão que consiste em 21 itens, incluindo

sintomas e atitudes, cuja intensidade varia de 0 a 3. A classificação dos escores

ficou distribuída: Menor que 10 – ausência de depressão; 10 até 18 – depressão

leve; 19 até 29 – depressão moderada; 66 até 75 depressão elevada; 76 até 100 –

depressão grave.
3 – Aplicação da versão em português do instrumento de qualidade de vida

abreviado da Organização Mundial da Saúde avaliação ( World Health

Organization Quality of Life – WHOQOL-bref)

Desenvolvida pelo Grupo de Qualidade de Vida da OMS e adaptada à língua

portuguesa por Fleck et al. O WHOQOL-bref é composto por 24 questões

distribuídas em quatro domínios: Físico, Psicológico, Relações Sociais e Meio

Ambiente e 2 questões que medem qualidade de vida geral.

.
RESULTADOS

1. Inventário de ansiedade

No que se refere ao estado de ansiedade, a maioria dos pacientes (84%)

apresentou nível moderado, 8% severo, apenas 1 paciente (4%) elevado e um outro

leve.

Com relação à ansiedade-traço, aproximadamente ¾ da amostra

apresentaram ansiedade moderada , 16% (n=4) severa e 12% (n=3) ansiedade

elevada.

Independente do tipo de cirurgia realizada, a maior concentração da

população tanto no que se refere à Ansiedade-Estado quanto na Ansiedade-Traço

apresentou nível moderado.

Os pacientes que obtiveram nível de Ansiedade-Estado e Traço severa foram

aqueles que realizaram Plastia ou Troca Valvar. (Tabela I e II)

Tabela I - Número de pacientes nas diferentes intervenções cirúrgicas

conforme score obtido na medida A-Estado.

Intervenção Cirúrgica
Plastia,
Nível de Ansiedade Plastia e Troca e
Plastia Troca Troca e
(Estado) Troca Retroca
Retroca
N % N % N % N % N %
Sem ansiedade 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0
Leve 0 0 1 14,3 0 0 0 0 0 0
Moderada 8 80 5 71,4 4 100 2 100 2 100
Elevada 1 10 0 0 0 0 0 0 0 0
Severa 1 10 1 14,3 0 0 0 0 0 0
TOTAL 10 100 7 100 4 100 2 100 2 100
Tabela II – Número de pacientes nas diferentes intervenções cirúrgicas

conforme score obtido na medida A-Traço.

Intervenção Cirúrgica
Plastia,
Nível de Ansiedade Plastia e Troca e
Plastia Troca Troca e
(Traço) Troca Retroca
Retroca
N % N % N % N % N %
Sem ansiedade 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0
Leve 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0
Moderada 8 80 4 57 3 75 2 100 1 50
Elevada 1 10 1 14 1 25 0 0 0 0
Severa 1 10 2 29 0 0 0 0 1 50
TOTAL 10 100 7 100 4 100 2 100 2 100

2. Inventário de depressão

Quase metade dos pacientes (40%) não apresentou depressão, 6 deles

(24%) apresentaram-se num nível moderado, 5 (20%) grave e 4 (16%) leve.

Grande parte da amostra (48%) referiu sentir-se freqüentemente tristes.

Quase ¾ da amostra tem postura crítica sobre si mesmo e culpa-se sempre

pelas suas falhas.

Pouco mais da metade dos pacientes (52%) refere ter dificuldade em tomar

decisões ou sentem-se incapazes para fazê-lo.

Em relação à atividade laboriosa, 52% (n=13) da população referiu ter

necessidade de dispender um esforço extra para cumpri-la

A presença constante do cansaço foi apontado por 60% dos pacientes que

referiram ter percebido piora.

Pouco mais da metade da amostra (52%) se preocupa mais do que o habitual

com sua saúde, tendo dificuldade em desviar o pensamento para outros eventos.
No que diz respeito ao relacionamento social a maior parte dos pacientes

(72%) continua interessada pelas outras pessoas.

Observou-se que os sujeitos que consideram ter a sensação de estar sendo

punido representam 32% da amostra total.

No que diz respeito à sexualidade 44% (n=11) dos pacientes referiram estar

muito menos interessado por sexo agora do que costumavam.

Quase todos os pacientes (88%) responderam não ter quaisquer idéias de se

matar.

Levando-se em consideração a distribuição dos resultados pelo sexo,

constata-se que 68% das mulheres apresentam algum nível de depressão sendo

33,4 % a pontuação encontrada para os homens. (Tabela III)

Tabela III – Número de pacientes de ambos os sexos conforme o score obtido

na medida de depressão.

Sexo
Nível de Depressão Feminino Masculino
N % N %
Sem depressão 6 32 4 66
Leve 5 26 0 0
Moderada 5 26 1 17
Grave 3 16 1 17
TOTAL 19 100 6 100

Considerando o tipo de intervenção cirúrgica, mais da metade dos pacientes

que realizaram Plastia valvar apresentaram-se sem depressão (60%), sendo que os

demais se encontraram distribuídos entre depressão grave (20%), moderada (10%)

e leve (10%).
Dos pacientes submetidos à troca valvar, apenas 14% encontraram-se sem

depressão, 72% com depressão leve e moderada e 14% em nível grave.

Metade dos pacientes que realizaram plastia e troca valvar encontravam-se

sem depressão sendo que o restante encontrava-se com depressão leve (25%) e

moderado (25%).

Metade da população de troca e retroca valvar não apresentou depressão

estando a outra parte gravemente deprimida.

Todos os pacientes que se submeteram a três procedimentos cirúrgicos

(plastia, troca e retroca) encontravam-se com depressão em nível moderado e

grave. (Tabela IV)

Tabela IV – Nível de depressão conforme intervenção cirúrgica realizada

previamente.

Intervenção Cirúrgica
Plastia,
Plastia e Troca e
Nível de Depressão Plastia Troca Troca e
Troca Retroca
Retroca
N % N % N % N % N %
Sem depressão 6 60 1 14 2 50 1 50 0 0
Leve 1 10 2 29 1 25 0 0 0 0
Moderada 1 10 3 43 1 25 0 0 1 50
Grave 2 20 1 14 0 0 1 50 1 50
TOTAL 10 100 7 100 4 100 2 100 2 100

3. WHOQOL- bref

Domínio Físico:
As respostas dos pacientes no domínio físico estiveram na média de 66%,

denotando de regular a plena satisfação. (Gráfico I)

Gráfico I – Média dos Scores obtidos na avaliação do Domínio Físico pelos

pacientes entrevistados.

Gráf.: Domínio Físico

100
90
80
70
60
50
40
30
20
10
0
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25

Embora a média se encontre satisfeita, todos os pacientes são impedidos de

realizar atividades em diferentes graduações, 36% sentiam-se bastante impedidos,

32% mais ou menos, 12% muito pouco e apenas 4% tem extremo impedimento.

Do total, 20% (n=5) da amostra encontrava-se insatisfeita ou muito insatisfeita

com a capacidade em desempenhar as atividades diárias.

Todos os pacientes referiram ter necessidade de tratamento médico para

levar sua vida diária em diferentes graus. Entre eles 40% considera que necessita

bastante, 32% tem regular necessidade e 24% muito pouca.

A avaliação dos pacientes em relação às suas capacidade de trabalhar

demonstrou que mais da metade da população (56%) considerava-se indiferente ou

insatisfeito.
Domínio Psicológico:

As respostas dos pacientes no domínio psicológico estiveram na média de

69%, denotando de regular a plena satisfação. (Gráfico II)

Gráfico II– Média dos Scores obtidos na avaliação do Domínio Psicológico

pelos pacientes entrevistados.

Domínio Psicológico

100
90
80
70
60
50
40
30
20
10
0
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25

Embora a média tenha sido satisfatória, todos os pacientes experimentaram

sentimentos negativos em diferentes graus, 40% percebeu-o algumas vezes, 32%

freqüentemente, 8% muito freqüentemente, e 20% sempre.

Domínio Relações Pessoais:

A média das respostas dos pacientes no domínio psicológico foi de 72%,

demonstrando satisfação. (Gráfico III)


Gráfico III – Média dos Scores obtidos na avaliação do Domínio: Relação Social

pelos pacientes entrevistados.

Relação Social

120

100

80

60

40

20

0
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25

Do total, 44% da amostra referiu não estar nem satisfeitos nem insatisfeitos

ou insatisfeitos com o apoio que recebem dos amigos.

Quase metade da população (48%) considera-se indiferente ou insatisfeitos

com sua vida sexual.

Domínio Ambiente:

As respostas dos pacientes no domínio psicológicas obteve média de 57%,

demonstrando satisfação regular. (Gráfico IV)

Gráfico IV – Média dos Scores obtidos na avaliação do Domínio Ambiente

pelos pacientes entrevistados.


Ambiente

90
80
70
60
50
40
30
20
10
0
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25

Em relação à segurança sentida pelo paciente em sua vida diária 64% da

amostra demonstrou não estar nem satisfeitos nem insatisfeitos ou insatisfeitos

Quase metade da amostra (40%) demonstra indiferença quanto ao grau de

satisfação com o local onde mora e 28% (n=7) estão insatisfeitos ou muito

insatisfeitos.

Quase metade dos sujeitos (40%) referiram ter nenhuma ou muito pouca

disponibilidade das informações necessárias diariamente.

Em relação à satisfação com o meio de transporte 60% (n=15) demonstrou

não estar nem satisfeitos nem insatisfeitos ou insatisfeitos.

Qualidade de vida:

As respostas dos pacientes neste item esteve na média de 69%, denotando

de regular a plena satisfação. (Gráfico V)


Gráfico V – Média dos scores obtidos na avaliação da questão referente à

qualidade de vida, pelos pacientes entrevistados.

Qualidade de vida

120

100

80

60

40

20

0
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25

Pouco mais da metade dos pacientes (52%) considerou sua qualidade de vida

regular, 40% boa ou muito boa e apenas 2 pacientes (8%) ruim.

Qualidade de vida:

As respostas dos pacientes neste item esteve na média de 69%, denotando

de regular a plena satisfação. (Gráfico VI)

Gráfico VI – Média dos scores obtidos na avaliação da questão referente à

satisfação com a saúde, pelos pacientes entrevistados.


Qualidade de vida II

120

100

80

60

40

20

0
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25

A avaliação dos pacientes em relação à satisfação com seu estado de saúde

demonstrou que mais da metade da amostra (56%) consideram-se nem satisfeitos

nem insatisfeitos, 28% (n=7) satisfeitos ou muito satisfeitos, e 16 insatisfeitos.


DISCUSSÃO

Os resultados do presente estudo revelam que os indivíduos estudados

apresentaram intensificação no grau de ansiedade, tanto no que se refere ao estado

quanto ao traço, independentemente do tipo de cirurgia realizada.

O traço de ansiedade possivelmente mostrou-se elevado em decorrência da

cronicidade da doença e do sofrimento bio-psicossocial, fatores conhecidos como

amplificadores de ansiedade.10 Os níveis elevados do estado de ansiedade

demonstraram grande variabilidade, dado que pode estar supostamente relacionado

com a modulação subjetiva de cada paciente.

Pacientes com alterações somáticas significativas podem utilizar-se de

recursos adaptativos e preservar sua integridade a despeito de restrições /

modificações às vezes importantes em sua qualidade de vida; Do mesmo modo,

outros indivíduos apresentam reações que aparentemente são incompatíveis com a

gravidade de sua afecção, seja negando-a ou exarcebando-a. Para os últimos, a

enfermidade passa a ocupar lugar central em sua existência, e comumente são

observadas tendências à dependência, regressão e passividade. 5

Além disto, outras preocupações também podem suscitar ansiedade, como

por exemplo a falta de condições básicas de sobrevivência, sendo o paciente, em

muitos casos, o mantenedor da família, demonstrando que não só a doença mas

outros estímulos podem dar origem à existência da ansiedade no paciente.

Supunha-se encontrar níveis mais elevados de ansiedade para os pacientes

que já tivessem sido submetidos mais vezes aos tratamentos cirúrgicos, entretanto

os resultados não demonstraram diferença.

No que se refere à depressão, constatou-se que o nível depressivo tende a

aumentar nos indivíduos com maior número de intervenções cirúrgicas.


Pode-se pensar que a doença é uma quebra do equilíbrio bio-psicossocial do

indivíduo e obrigatoriamente remete o paciente à revisão de valores, ações e

desencadeia mecanismos de resgate da condição humana e de suas relações.

Numa situação de crise, como é a doença (principalmente se for crônica,

incapacitante ou incurável), várias reações depressivas podem eclodir a partir de

fatores pessoais, como por exemplo, sentimentos de culpa, negação e

reestruturação da escala de valores. (Schwab apud Romano)8. E a internação e as

vindas freqüentes ao hospital só tendem a ser mais um fator predisponente para o

estabelecimento de uma configuração depressiva.11

No que diz respeito à atividade laboriosa, 52% referiu ter necessidade de

dispender esforço extra para cumpri-la, fato que provavelmente é agravado pelos

sintomas relacionados a valvopatia, visto que 60% da população estudada afirmou

sentir constantemente cansaço, sintoma freqüentemente encontramos nos pacientes

valvopatas.2 Ainda na avaliação do nível de depressão queixas em relação à

dificuldade de se tomar decisões ou impossibilidades em fazê-los foi referido por

pouco mais da metade da população.

Para Romano8 o surgimento da doença, sua cronicidade, a obrigatoriedade

de interrupções de curso de vida ao longo do tempo, o agravamento do quadro

levam estes pacientes a interromper suas responsabilidades, a assumpção de seus

papéis na sociedade, de seus afazeres profissionais e até domésticos. Com

diferentes valores de graduação, a cardiopatia de origem valvar gera invalidez. Esta,

por sua vez, é responsável por sentimentos de menos valia, de agressividade, de

ansiedade frente às hospitalizações.

Assim, pode relacionar a dificuldade que os pacientes referem em tomar

decisões com as experiências emocionais conseqüentes da invalidez supracitada.


Pouco mais da metade da amostra apresenta preocupação excessiva com a

saúde e dificuldade em desviar o pensamento para outros eventos, o que

provavelmente interfere na percepção que os pacientes têm em relação à sua

capacidade para trabalhar.

Constatou-se que a sensação de estar sendo punido é presente em

aproximadamente 1/3 da amostra. Acrescenta-se a contribuição que assinala as

evidências de não existir uma relação linear entre a gravidade da doença crônica e

seu impacto psicológico, mas, sim, uma relação com as crenças, os valores que o

paciente e seu meio têm a respeito do mal em questão.9

Do total, 44% dos pacientes referiram estar muito menos interessados por

sexo agora do que costumavam. Romano12 afirma que ansiedade e inibições têm

mais significado do que o grau de descompensação cardíaca. Ansiedade,

depressão, medo de morrer, a simbologia do órgão doente, revisão de valores vitais,

baixa auto-estima e conseqüentes sentimentos de impotência frente à vida,

decorrentes da doença, são generalizados para a área sexual; o sentimento de que

não vai conseguir lidar com os eventos da vida é simbolizado pela incapacitação e

insatisfação sexual.12

A necessidade de tratamento médico constante referida por mais da metade

dos pacientes pode inviabilizar ao valvopata a sua retomada ao trabalho porém, e

não menos importante, é levar em consideração a avaliação que o próprio indivíduo

faz de suas capacidades produtivas.

Dado literário13 sugere que a cirurgia e o tratamento da doença em geral

diminuem as limitações físicas do paciente, proporcionando-lhe maior capacidade

para o desempenho de suas atividades. Entretanto, o estresse e a forma como o

paciente enfrenta a doença podem acarretar limitações psíquicas que o impedem de


aceitar seu estado de saúde e aproveitar suas capacidades físicas para manter vida

ativa.

No que diz respeito à esfera psíquica, os pacientes referiram depararem-se

constantemente com sentimentos negativos. Tais características sugerem que os

indivíduos valvopatas desenvolvem uma visão mais pessimista do futuro por terem

suas vidas interrompidas freqüente e inesperadamente devido à evolução

característica da própria doença.

Vargas14 coloca que os pacientes que serão submetidos à cirurgia cardíaca

apresentam pressentimento de destruição total do ser, como ameaça e temor à

morte ficando, conseqüentemente, apreensivos, tensos e inquietos frente ao perigo.

Neste sentido, pode-se pensar que para o paciente valvopata, que se

encontra sempre à margem da possibilidade do tratamento cirúrgico , tal sensação é

vivenciada com maior freqüência no decorrer de suas vidas. A afirmação de

Romano6 de que existe nestes pacientes uma estado ansioso relacionado à

perspectiva de repetir a intervenção, vem corroborar com tal hipótese.

Levando-se em consideração os aspectos referentes às relações pessoais,

observou-se que há prejuízo do contato com o outro, possivelmente agravado por

questões emocionais do próprio paciente ou de seu meio social.

Aventa-se como hipótese a possibilidade dos valvopatas desenvolverem

sentimentos de menos valia, responsável pelo distanciamento das relações

pessoais. Vale ressaltar que o desconhecimento da doença valvar em determinadas

comunidades do meio social do paciente e, portanto, as crenças e valores a respeito

do mal em questão, podem influenciar na qualidade dos relacionamentos

estabelecidos.

Os aspectos relacionados ao ambiente foram os que denotaram maior grau

de insatisfação, tanto no que se refere ao local onde residem quanto ao meio de


transporte que utilizam para se locomover, provavelmente devido ao perfil sócio-

econômico baixo.

Em relação à segurança sentida pelo paciente em sua vida diária, o alto

índice de insatisfação sugere que, com o tempo o paciente frente à valvopatia

desenvolve sensação de insegurança possivelmente por não ter determinado o seu

prognóstico. Além disso, Romano8 afirma que para alguns pacientes os sintomas da

valvopatia mimetizam “sensações de morte”.

De forma geral, a maioria dos pacientes considera sua qualidade de vida de

regular a satisfatória., no entanto, a avaliação dos pacientes em relação à satisfação

com seu estado de saúde demonstrou que mais da metade da amostra referiu

indiferença ou insatisfação. Talvez os sintomas da valvopatia sejam os responsáveis

por este descontentamento. Há de se considerar, segundo Romano 6, que a

valvopatia é uma doença crônica, que obriga os pacientes a renunciarem suas

atividades rotineiras e a certos tipos de trabalho por necessitarem de cuidados

constantes.
CONCLUSÃO

De acordo com os resultados obtidos no presente estudo pode-se observar

que o paciente valvopata,

Ao observar as diversar dificuldades emocionais evidenciadas neste estudo

após a intervenção cirúrgica, torna-se clara a fundamental importância um

acompanhamento psicológico objetivando a expressão dos sentimentos e emoções

percebidos pelos pacientes....

A cirurgia cardíaca, além de promover a violação do corpo, permite

simbolicamente remexer em aspectos psicológicos que são a essência do indivíduo.

( Bellkiss, sindromes depressivas e sua relação com a cirurgia cardíaca) In: A prática

da psicologia nos hospitais)


BIBLIOGRAFIA
1. BRAUNWALD, D. E. Tratado de medicina cardiovascular. São Paulo: Roca,

1996. 4.ed. v. I.

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Crônica en el Adulto. Revista Ecuatoriana de Medicina; 1987. 23 (2): 101-106.

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1996. p. 37-49.

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OLIVEIRA, Maria de Fátima Praça de; ISMAEL, Silvia Maria Cury (org).

Rumos da psicologia hospitalar em cardiologia. Campinas, SP: Papirus, 1995.

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