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Resumo
Este artigo busca refletir sobre as mudanças que a TV pública brasileira deverá passar nos
próximos anos a partir da implantação da TV digital. Foram considerados como pontos de partida
para a análise três temáticas: a formação da figura do operador de rede de plataformas comuns
de transmissão de sinal digital como forma de baratear custos e agilizar a multiprogramação; o
uso da interatividade em seus diferentes níveis como ferramenta para ampliar a inclusão digital
no país e a produção de conteúdos audiovisuais interativos através do uso de redes de alta
velocidade. O texto ultrapassa o campo específico da Comunicação para incluir aspectos
tecnológicos como as redes de transmissão, no debate da viabilização e futuro da TV pública no
país.
Resumen
Ese artículo busca reflexionar sobre los cambios que la televisión pública brasileña deberá pasar
en los próximos años a partir de la implementación de la TV digital. Fueron considerados como
puntos de partida para el análisis tres temas: la formación de la figura del operador de red de
plataformas comunes de transmisión digital como manera de reducir costos y agilizar la
multiprogramación; el uso de la interactividad en sus distintos niveles como herramienta para
ampliar la inclusión digital en el país y la producción de contenidos audiovisuales interactivos a
través del uso de redes de alta velocidad. El artículo traspasa el campo específico de la
Comunicación para incluir aspectos tecnológicos como las redes de transmisión en el debate de la
viabilización y futuro de la televisión pública en el país.
Abstract
This article pretends to reflect about the changes of the Brazilian public television will pass in the
next years after the implantation of the digital television. Three subjects were considerate for this
analysis: the formation of the figure of common transmission of web platforms’ operator to
digital signal as form to reduce costs and to accelerate the multiprogramming; the use of the
interactivity in its different levels as a tool to increase the digital inclusion in the country and the
production of audiovisual interactivity contents through of the high velocity webs. This paper
passes the Communication specific ambit to include technologic aspects like the transmissions
webs in the discussion of future of the public television in the country.
Introdução
A história da televisão pública no país tem sido palco de um intenso debate ao longo dos
últimos anos. Essas discussões incluem as causas e conseqüências da baixa audiência; a falta de
robustez do sistema analógico, a escolha de um tipo (ou outro) modelo de gestão e conteúdos
para a televisão pública brasileira ou ainda o debate sobre a escolha de um modelo de negócios
que a torne capaz de acompanhar o futuro, assim como as transformações inerentes à tecnologia
digital. Este texto busca refletir sobre as mudanças radicais que a TV pública vem passando
desde a implantação da TV digital no país, em dezembro de 2007 e que deverá continuar
passando nos próximos 10 anos.
Para dar corpo a essa discussão, utilizaremos três temáticas que estão colaborando (ou em
breve vão colaborar) para as modificações estruturais na TV pública: a formação da figura do
operador de rede de plataformas comuns de transmissão de sinal digital como forma de baratear
custos e agilizar a multiprogramação; o uso da interatividade em seus diferentes níveis como
ferramenta para ampliar a inclusão digital no país e a produção de conteúdos audiovisuais
interativos através do uso de redes de alta velocidade. O texto, como poderá ser observado a
seguir, ultrapassa o campo específico da Comunicação para incluir aspectos tecnológicos, como
as redes de transmissão no debate da viabilização e futuro da TV pública digital no país.
Uma dessas mudanças diz respeito à possibilidade de usar a multiprogramação. Ou seja,
depois da decisão disseminada pelo decreto 5.820/06, referente à escolha do padrão de
modulação do Sistema Brasileiro de TV Digital Terrestre (SBTVD-T), cada canal de TV tem o
direito a ocupar um espaço de 6 MHz no espectro eletromagnético para as transmissões
analógicas e outro para a transmissão digital. Na TV analógica, esse é o espaço necessário para
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se colocar uma única programação. Assim, quando uma emissora consegue uma outorga de TV,
ela obtém um espaço da banda de freqüência para transmitir
sua programação. É a isso que chamamos de canais de televisão, tanto para o VHF quanto para o
UHF. O período de migração do sistema analógico para o digital, que segundo o decreto
mencionado acima, vai até dezembro de 2016, faz com que sejam outorgados, neste período,
canais paritários aos radiodifusores/concessionários (um analógico e um digital)3. Findo este
prazo, os canais analógicos serão devolvidos à União.
No modelo de TV digital que o Brasil adotou – um híbrido entre o sistema japonês com
utilização de componentes brasileiros - neste mesmo espaço, é possível colocar muito mais
informação. Ao optar pela modulação japonesa BST-OFDM com seus 13 segmentos e pelo codec
de vídeo chamado H 264 (MPEG 4) os brasileiros terão ao seu dispor uma compressão de
imagem muito melhor e maior do que o seu antecessor, o MPEG 2, utilizado pelo modelo
europeu, norte-americano, incluindo o japonês original.
Caso seja usada a definição de imagem chamada standard (imagem com a qualidade de
um DVD, sem chuviscos ou fantasmas, com padrão surround para o áudio), o mesmo espaço de 6
MHz que antes comportava apenas uma única programação de TV, poderá suportar diversas
programações simultâneas, transmissão one seg4 para equipamentos portáteis e ainda sobra
espaço para a transmissão de dados (típica dos serviços interativos). O mesmo ocorre se a
definição da imagem for de alta definição, a predileta dos radiodifusores por causa da qualidade
da imagem. Neste contexto é que surge a proposta de se criar no Brasil o chamado "operador de
rede de plataformas comuns de transmissão de sinal digital".
As emissoras teriam, com este novo sistema - já em operação no Japão, em vários países
europeus e na Austrália - a oportunidade de transmitir cada uma sua própria programação, a partir
de sistemas de transmissão integrados. E, se assim o desejassem, oferecer, cada qual,
separadamente, a multiprogramação às audiências. Ou seja, as emissoras enviariam seu sinal dos
estúdios para o seu próprio transmissor colocados num espaço comum, junto a uma única torre de
transmissão em cada município. Isso possibilitará o compartilhamento físico das instalações para
3
O decreto 5.820/2006 determina que até dezembro de 2013, haja disponibilidade técnica de cobertura de sinal de
TV digital terrestre em todo território nacional, data a partir da qual não serão mais concedidos canais de TV
analógicos.
4
One Seg. A modulação japonesa BST-OFDM divide a banda de 6 MHZ em 13 segmentos de freqüência, 12 destes
para transmissões para terminais fixos e um deles, One Seg, voltado exclusivamente para transmissões para
terminais móveis e portáteis, mantendo-a aberta e gratuita..
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Operador de rede
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Disponível em http://www.nhk.or.jp/nhkworld/portuguese/top/index.html. Acesso em 15 de agosto de 2008.
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repetidoras (Anatel, 2008). Ao formatar uma proposta que se viabilize a partir da oferta de
sistemas integrados de transmissão de sinais de TV digital, o projeto operador de redes comum
vai colaborar com o mercado de pequenas e médias emissoras no país. O termo de
implementação da TVD no Brasil assinado em 2006 pelos governos do Brasil e do Japão previu a
criação de um grupo de trabalho conjunto (GTC) que, por sua vez, atua metodologicamente no
sentido de desenvolver estudos baseados em cinco sub-grupos, sendo um deles, o sub-grupo E,
voltado para financiamento do processo de migração digital. Um dos projetos aprovados pelo
sub-grupo E passa pela construção de uma rede de radiodifusão digital compartilhada para as TV
públicas que será viável a partir do uso de programas de financiamento de bancos de fomento
como BNDES e o JBIC, japonês.
Entretanto, vale notar que este compartilhamento de plataformas de transmissão comuns
não se confunde em sua execução com a operação de rede que é feita na Europa, onde o termo
pode ser traduzido por operador de programações (line-up). Naquele continente, um head, ou
cabeça, geralmente órgão público com mandato específico, organiza a programação recebida das
emissoras e distribui em espaços do espectro, dentro dos canais de radiodifusão que no caso
europeu tem a largura da banda de freqüência maior do que a utilizada no Brasil, ou seja, de
8MHz.6
No Brasil, as emissoras detêm, cada qual, 6MHz de banda. Com a compressão MPG-4,
teríamos a possibilidade de uso compartilhado destes 6MHz, por canais com diversas propostas.
Esses canais podem transmitir em rede nacional, em rede regional ou local, assim como pode ser
utilizada a integração de todas estas, de acordo com o modelo de programação a ser escolhido,
respeitando-se a diversificação e pluralidade de autores e de obras. Assim os canais públicos
institucionais poderiam carregar, num primeiro momento, conjuntamente com suas
programações, as das emissoras estaduais, comunitárias e universitárias, sem qualquer
interferência editorial. Em 2016, após o retorno ao governo federal do espaço de espectro
destinado as emissoras analógicas, haverá um novo cenário onde novas propostas de participação
nas programações públicas poderão ser acolhidas.
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No Brasil e na América do Sul, assim como nos EUA e no Japão, a largura de banda é de 6MHz.
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• o simétrico, que transmite a mesma taxa de bits tanto no sentido usuário-rede (upstream) quanto
no sentido rede-usuário (downstream);
• o assimétrico, que transmite a taxa downstream maior que a de upstream;
• o simétrico e assimétrico que pode transmitir nos modos simétrico e assimétrico.
7
O Middleware é a designação genérica utilizada para se referir aos sistemas de software que se executam entre as
aplicações e os sistemas operativos. O objetivo do middleware é facilitar o desenvolvimento de aplicações,
tipicamente aplicações distribuídas, assim como facilitar a integração de sistemas legados ou desenvolvidos de forma
não integrada. O SBTVD utiliza o middleware Ginga, brasileiro, que permite interatividade e interoperabilidade.
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Digital Subscriber Line (DSL).
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São os serviços assimétricos os que incluem TV Digital, vídeo sob demanda, acesso a Internet
de alta velocidade, ensino à distância, tele-medicina, entre outros. Esse serviço tem taxa de
downstream maior e de upstream menor, caracterizando a assimetria.
Todo este cenário implica, portanto, na integração de redes. E não apenas em integração,
mas principalmente em compartilhamento destas redes ou no uso comum de seus espaços de
bandas de freqüência pelos sinais transmitidos por uma ou mais fontes emissoras distintas. Em
termos de integração e compartilhamento de redes, é necessário entender a taxa de bits necessária
para a transmissão de determinados serviços, via fibra ótica, portanto, complementar a
transmissão em rede radiodifundida. Embora este seja um tema diretamente relacionado a
engenharia de redes e a futura demanda de tráfego9, é muito importante para os estudiosos da
comunicação digital conhecê-lo, pois assim será possível identificar que tipo de conteúdo poderá
ser enviado ou recebido, neste mundo digital, onde a televisão recém dá seus primeiros passos. A
tabela abaixo mostra as taxas requeridas para algumas aplicações:
Uma banda de freqüência em UHF utilizada para TV digital, por exemplo, tem 6 MHz. É
possível dividir esta banda, teoricamente, em diversos segmentos compartilhados, utilizando o
sistema BST-OFDM para transmitir simultaneamente (se legislação assim o permitir, lógico!) os
produtos descritos na tabela acima para diversos terminais diferentes, sejam fixos, móveis ou
portáteis.
9
TRONCO, Tânia Regina e MENDES, José Manuel Duarte. VDSL2: Uma nova tendência para redes de acesso em
banda larga. Caderno CPqD de Tecnologia, Campinas: CPqD, v 3, n° 1, p. 17-26, jan-jun 2007
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São eles:
pois o sinal transmitido pela emissora traz opções incorporadas nele que são
armazenadas na memória da caixa digital e o telespectador somente escolhe as
opções que o aparelho lhe oferece10, como programas ‘on demand’, serviços
e campanhas públicas, etc. que estarão a disposição do telespectador e
baixadas da memória de seu terminal de acesso a seu critério.
10
KIOUSIS, S. Interactivity: a concept explication. New Media & Society. vol. 4. SAGE Publications. 2002. pp.
355-383. Disponível em: <http://nms.sagepub.com/cgi/content/abstract/4/3/355>. Acesso em 19 de agosto de 2008.
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Uma das questões de maior complexidade, tanto sob o ponto de vista econômico do
custeio quanto da logística é o do fluxo da programação e da rede, já que produzir conteúdos
audiovisuais digitais sem pensar nessas questões traria como conseqüência uma gestão pública
ineficaz e possivelmente sem futuro.
Atualmente, a emissora de radiodifusão que opera transmissões em rede, seja em tempo
real, seja para disponibilizá-las em arquivo para uso posterior, utiliza os transponders nos
satélites de comunicação. A decisão de baixar os sinais radiodifundidos (download) em geral
domina o fluxo. A taxa de envio dos sinais subindo das pontas locais para a cabeça de rede
(upload) por sua vez é utilizada com menos freqüência por seu alto custo.
A tentativa de estimular a troca de conteúdos audiovisuais digitais através de um
operador compartilhado de rede de transmissão entre produtores locais, regionais e cabeça de
rede depende do uso de outras tecnologias de conexão. Um exemplo são as fibras óticas para que
dados, som e vídeo possam ser enviados e recebidos através da rede mundial com altas taxas de
processamento e utilizando banda de larga capacidade de tráfego.
Para que isso ocorra, alguns projetos devem fazer parte do cotidiano da televisão pública,
como o uso de infra-estrutura compartilhada e local com conexões e codificadores; operação e
manutenção em nível de serviço; suporte de programas (software) e a investigação e
desenvolvimento de produtos em vídeo digital com a evolução da plataforma. Estas são algumas
das propostas básicas do projeto apresentado pela Rede Nacional de Pesquisa (RNP) à Empresa
Brasileira de Comunicação (EBC) no final do primeiro semestre, que pode ser estendido para as
demais TVs públicas.
A idéia central baseia-se na criação de um serviço de intercâmbio de TV Pública (ITVp)
entendidas aí, a EBC, as TVs institucionais, as TVs educativas e universitárias, através de sistema
de compartilhamento de conteúdo digital baseado na infra-estrutura de rede nacional de alto
desempenho de educação e pesquisa (rede Ipê). O objetivo é aumentar a oferta e a qualidade dos
conteúdos dos canais da TV Pública pela criação de uma comunidade em rede que permita a
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SIMÕES, Nelson e CAETANO, Daniel. ITVp, Intercâmbio em TV Pública. Brasília: RNP , agosto, 2007 (
mimeo).
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digitais, assim como o estímulo a criação de centros nacionais em cada país. A proposta aceita
por unanimidade levou em conta o papel da indústria de conteúdos e de entretenimento no
cenário mundial. Os 26 países decidiram tornarem-se produtores de conteúdos e não somente
consumidores como vêm ocorrendo até então, já que os estudos internacionais mostram que a
América Latina produz apenas 7% dos conteúdos consumidos mundialmente.
A proposta do Centro Nacional é estimular a produção e desenvolvimento de projetos
conteúdos audiovisuais digitais por diferentes atores sociais, como a academia, os institutos de
P&D e terceiro setor, assim como a implantação de centros de conteúdos inter-regionais. A idéia
é que, o Centro colabore com a produção de conteúdos voltados para o Sistema Brasileiro de TV
Digital e/ou para convergência tecnológica, mas especialmente que ajude na produção de
conteúdos audiovisuais para a TV pública a partir de critérios como acessibilidade, usabilidade,
portabilidade, multiprogramação, interatividade e mobilidade. Inicialmente os projetos de
conteúdos estarão voltados para educação à distância, t-cultura, t-entretenimento, t-saúde, t-
justiça e t-trabalho.
Considerações Finais
Acreditamos que o momento histórico para que a TV pública assuma o seu papel de
vanguarda na digitalização dos processos e da produção dos conteúdos é este e não haverá outro
semelhante tão cedo.
KIOUSIS, S. Interactivity: a concept explication. New Media & Society. vol. 4. SAGE
Publications. 2002. pp. 355-383. Disponível em:
<http://nms.sagepub.com/cgi/content/abstract/4/3/355>. Acesso em 19 de agosto de 2008.
TRONCO, Tânia Regina e MENDES, José Manuel Duarte. VDSL2: Uma nova tendência para
redes de acesso em banda larga. Caderno CPqD de Tecnologia, Campinas: CPqD, v 3, n° 1, p.
17-26, jan-jun 2007.