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UNIrevista - Vol.

1, n° 3 : (julho 2006) ISSN 1809-4651

Fotojornalismo no Iraque
Orleães Alan Mendonça Furtado
Mestrando em Ciências da Comunicação
UNISINOS, RS

Resumo
A cobertura fotojornalística da Guerra do Iraque (2003) foi produzida basicamente através de jornalistas enlistados
e independentes. Os primeiros acompanhavam as tropas e, os segundos, permaneciam junto à população civil
iraquiana. Nas revistas americanas destacou-se o trabalho dos enlistados, porém, através da publicação de livros,
o trabalho dos independentes conseguiu evidenciar um outro lado da guerra.

Palavras-chave: fotojornalismo, guerra, mídia.

Este artigo faz parte de um estudo maior sobre o fotojornalismo na Guerra do Iraque e está sendo

desenvolvido junto ao Programa Pós-Graduação em Ciências da Comunicação da Unisinos, em São Leopoldo,


RS. Todas as observações estão relacionadas com a cobertura fotojornalística durante o ano de 2003
através da revista americana Time. Entretanto, outras fontes também foram observadas para a redação
deste artigo, como a revista Newsweek, além de jornais e revistas nacionais.

Enlistados e independentes

Os Estados Unidos iniciaram em 2001 aquilo que ficou conhecido através da mídia internacional como

“guerra contra o terror”. Os alvos eram dois países do Oriente Médio: o Afeganistão e, posteriormente, o
Iraque. O objetivo no primeiro era destruir a organização terrorista Al Qaeda e capturar Osama bin Laden,

responsável pelos atentados terroristas de 11 de setembro de 2001. No Iraque, por outro lado, a invasão
militar que se desenvolveu a partir de março de 2003 foi divulgada como uma guerra preventiva contra
Saddam Hussein, acusado pelo governo americano de possuir armas de destruição em massa, de ser um

ditador, de provocar massacres e de apoiar a Al Qaeda.

A Guerra do Iraque atraiu a atenção da mídia internacional, afinal, tratava-se de uma guerra de relativa

proporção que envolvia os Estados Unidos e também aliados importantes, como a Inglaterra, a Espanha e a
Austrália. Entretanto, mesmo dispondo de um arsenal tecnológico para cobrir o conflito, muitos jornalistas

ocidentais trabalharam num regime controlado pelo Departamento de Defesa dos aliados. O acesso às

informações foi e continua sendo difícil, uma vez que, além das restrições do Departamento de Defesa,
deve-se lembrar que o Iraque tornou-se um lugar perigoso para jornalistas.1

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De acordo com o “Repórteres sem Fronteiras” (Reporters Without Borders - Reporters Sans Frontieres), pelo menos 83
jornalistas foram mortos no Iraque desde que a guerra começou em 2003.
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Do ponto de vista operacional, estas foram as opções dos jornalistas para cobrir a guerra: permanecer na
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Unidade Móvel de Transmissão (HUB) na fronteira do Kuwait; ser um repórter enlistado3 acompanhando as

tropas; permanecer no Hotel Palestina, em Bagdá, recebendo informações do governo iraquiano

(posteriormente, do governo de coalizão ou de fontes); ou ser um jornalista independente, podendo, dentro


de certos limites, circular no Iraque. Os jornalistas no Hotel Palestina e os indepen-dentes eram chamados

de unilaterais e junto com a rede de televisão Al Jazira eram considerados pelos Estados Unidos um
problema para o controle da mídia.

Um dos assuntos que chamam a atenção neste quadro de estratégias montado pelos aliados é o jornalista

enlistado. O sistema de enlistados consiste em permitir que jornalistas acompanhem as tropas diretamente,
que compartilhem as atividades e que, dentro de certos limites, tenham acesso a certos tipos de infomações.

Eles podem ou não utilizar uniformes de combate. Na Guerra do Iraque, o jornalista enlistado normalmente
esteve ao lado das tropas do Exército em terra ou permaneceu em porta-aviões da Marinha.

Não é a primeira vez que este sistema de enlistados é utilizado na cobertura jornalística de guerras. Na

Segunda Guerra Mundial (1939-1945) e na Guerra do Vietnã (1963-1975), por exemplo, vários jornalistas

acompanharam as tropas. Hoje, o sistema oferece inegáveis vantagens para o jornalista, uma vez que

permite uma certa estrutura de trabalho (alimento, transporte, assistência médica, alojamento e proteção),
além de garantir o acesso direto ao front.

A questão da segurança do jornalista é um ponto importante dentro do contexto da Guerra do Iraque. Afinal,

como já foi dito, as condições atuais de trabalho são bastante perigosas para os jornalistas, principalmente

os ocidentais. Seqüestrar e/ou matar um jornalista é um acontecimento que vira notícia na imprensa

mundial, e grupos terroristas tem conseguido chamar a atenção com este ato. Hoje, não sendo um enlistado,

uma das poucas alternativas que resta é permanecer em hotéis, como o Palestina, em Badgá, recebendo
informações de alguma fonte que seja confiável. Outra alternativa é permanecer em outros países do

Oriente Médio, como o Kuwait ou a Jordânia.

O sistema de enlistados também significou um avanço em relação à Guerra do Golfo Pérsico (1991), quando
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o Departamento de Defesa utilizou-se do sistema de pools , que consistia em formar um grupo de poucos

jornalistas e conduzi-los por um determinado roteiro, previamente estabelecido e visitado pelos oficiais.

Normalmente, este roteiro incluía alvos destruídos e abandonados, como tanques, fábricas, etc, e evitava-se
dentro do possível o contato do jornalista com a população civil. O sistema provocou polêmicas e discussões

entre os jornalistas e os militares, afinal, argumentava-se que os roteiros previamente elaborados tinham a

intenção de conduzir a percepção dos jornalistas. Além disso, para o jornalista que ficava fora do pool a
única alternativa era receber as informações dos outros colegas.

Entretanto, na Guerra do Iraque, o Departamento de Defesa dos aliados percebeu que seria difícil utilizar o
sistema de pools outra vez, e por várias razões. Primeiro, havia a situação do conflito direto com os

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A Unidade Móvel de Transmissão foi uma inovação do governo britânico. O material coletado pelos jornalistas enlistados
no front era enviado para esta unidade, equipada com ilhas de edição, laptops, etc., e posteriormente era distribuído para
jornais, revistas ou televisão. Normalmente, permaneciam cerca de quarenta jornalistas no local.
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Em inglês o termo usado é embedded, que pode ser traduzido como encaixado, embutido.
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jornalistas, uma vez que toda e qualquer tentativa de controlar as operações da mídia sempre provocou a
ira dos jornalistas, uma vez que estes entendiam que estavam sendo alvo de algum tipo de manipulação.

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Por outro lado, havia a preocupação direta dos militares com a propaganda de guerra. Em 1999, a OTAN

produziu uma ação de bombardeio durante 78 dias na Iugoslávia. Como a operação foi praticamente aérea,
não há informação de que houve mortes no lado da OTAN. Deste modo, sem notícias de baixas no lado

americano e britânico, os jornalistas começaram a direcionar a sua atenção para as vítimas civis dos
bombardeios. Alguns anos mais tarde, durante a invasão americana no Afeganistão, a situação se repetiu:

os jornalistas começaram a direcionar sua atenção para a morte de civis e também alertavam sobre a
situação precária do país. Tal deslocamento de atenção, nestes dois conflitos, foi entendido pelos militares
como um sinal de alerta, uma vez que poderia ruir a propaganda de guerra.

Assim, o sistema de enlistados na Guerra do Iraque parecia ser uma escolha aceitável para ambos os lados,

os jornalistas e os militares. Por outro lado, mesmo diante da situação difícil de trabalho, há um outro tipo
de jornalista que atuou no Iraque e que chama a atenção: os independentes. Eles formavam um grupo

bastante heterogêneo, de várias nacionalidades e não dependiam diretamente dos aliados para entrar no

Iraque, mas, por outro lado, eram sempre advertidos e intimidados a deixar a zona do conflito com
argumentos de que corriam risco de vida e que podiam ser alvos de bombardeios.

Os jornalistas independentes, logicamente, não contavam com a mesma estrutura de trabalho dos

enlistados: não tinham carros blindados (usavam carros comuns, alugados); dependiam quase que

exclusivamente de guias contratados; não contavam com médicos ou outro tipo de assistência; não tinham

uniformes militares e, portanto, podiam ser confundidos com iraquianos, sendo transformados em alvos

durante ataques aliados; por outro lado, também corriam grave risco de vida uma vez que chamavam a

atenção de forças rebeldes ou de terroristas.

Os jornalistas enlistados e independentes formaram um grupo que trabalhou junto para os mais diversos

jornais e revistas. Alguns jornais, como o tablóide britânico The Daily Mirror, utilizaram tanto jornalistas
enlistados quando independentes para a sua cobertura da Guerra do Iraque.

Fotojornalismo no Iraque

Desde o ano de 2001, quando aconteceu o atentado terrorista no World Trade Center, que a revista Time

vem abordando o assunto “Oriente Médio” de maneira constante. Entretanto, as fotografias que
acompanharam as matérias sobre a “guerra contra o terror” na revista, especialmente durante o ano de
2003, podem ser agrupadas em quatro grandes categorias:

1) líderes americanos. Fotografias que envolviam o presidente americano George W. Bush, Condolezza Rice,
Dick Cheney, Donald Rumsfeld, entre outros;

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2) terroristas e/ou líderes iraquianos. São fotografias de Osama bin Laden, Saddam Hussein, Qusay Hussein,
Abed Hamid Mahmoud4, entre outros. Normalmente, estas fotografias estavam associadas a outras imagens

ligadas a símbolos de violência como, por exemplo, a dos atentados ao World Trade Center (2001).

3) tropas em situação de treinamento, patrulha ou fora de combate.

4) arsenal militar e tecnologia de guerra. Às vezes, na falta de fotografias, utilizava-se desenhos, ilustrações,
imagens geradas por computador, quase sempre acompanhado da descrição técnica do equipamento.

Resumindo, poderíamos dizer o conteúdo geral das fotografias está dentro de três assuntos permanentes na
cobertura da guerra: armas, tropas e líderes. Além disso, foi comum encontrar fotografias de americanos e

britânicos praticando algum tipo de humanitarismo ou abastecendo iraquianos com suprimentos, água,
alimentos ou medicamentos.

Observando esta classificação de assuntos é possível concluir que, pelo menos na revista Time (embora,

dentro de certos limites, seja possível fazer uma generalização em relação à grande imprensa americana),

houve uma tendência em apresentar a Guerra do Iraque centrada quase que exclusivamente no ponto de

vista dos americanos, ou melhor, do exército americano. Mesmo evitando a utilização de um pensamento

denuncista ou conspiratório, precisamos observar que houve um processo de construção, de formação e de


manutenção de um discurso unilateral, centrado e parcial.

Conforme alguns estudos sobre a cobertura jornalística da Guerra do Iraque, como os trabalhos de Phillip

Knightley, Paula Fontenelle e Michael Griffin, o sistema de jornalistas enlistados facilitou a transmissão de

apenas um ponto de vista da guerra e, além disso, ajudou na divulgação de narrativas do discurso oficial,

raramente oferecendo novas ou independentes informações. O sistema de enlistados estaria também dentro

de uma estratégia, pensada e bem articulada. Acompanhando uma tropa, o jornalista desenvolveria laços de
amizade e confiança, com o tempo, a tendência é produzir um efeito analgésico no caráter crítico inerente à
profissão. A identificação com os soldados permite a tolerância.

Certamente que não é possível responsabilizar direta e individualmente o trabalho dos jornalistas enlistados
nesta visão mais unilateral da guerra. O problema de fato não é tão simples. É preciso lembrar que toda
produção da fotografia jornalística, desde a sua obtenção até a publicação, é sempre coletiva e sofre as mais

diversas influências institucionais e sociais. O jornalista está sempre na sociedade.

Os jornalistas enlistados produziram uma quantidade muito grande de fotografias, porém, a escolha para a
publicação não depende unicamente do fotógrafo. Existe uma escolha editorial sobre o que deve ou não ser

publicado. E esta escolha esta sujeita a várias influências e fatores: econômicos, sociais, políticos, culturais,
individuais, etc. Lembramos, por exemplo, que o jornalismo americano, e de certo modo uma parte do
jornalismo ocidental, contaminou-se com o “efeito 11 de setembro”. Segundo Peter Arnett:

A imprensa apóia o governo nessa crise mais que em qualquer outra que eu tenha visto nos últimos

40 anos, desde a Guerra do Vietnã. De certo modo, a surpresa e o ódio no país lembram o

assassinato do presidente John Kennedy, em 1963. Repórteres levaram o bombardeio das torres

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Qusay Hussein era o filho mais novo de Saddam Hussein. Abed Hamid Mahmoud era secretário pessoal de Saddam
Hussein e considerado o terceiro oficial mais importante depois de Saddam e Qusay.
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gêmeas para o lado pessoal e isso se reflete em seu trabalho. Eles são quase total-mente simpáticos
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ao governo e extremamente patrióticos.

Embora não vamos aprofundar neste artigo o “efeito 11 de setembro”, não é possível esquecê-lo, afinal,
houve uma predisposição em direcionar a cobertura da guerra dentro de um ponto de vista mais patriótico.

Entretanto, se diretamente não é possível ligar esta tendência unilateral unicamente ao sistema de
enlistados, é preciso pensar que indiretamente o trabalho de acompanhar as tropas facilitou essa direção.

Muitas das fotografias da revista Time foram empregadas como símbolos de conteúdos preestabelecidos, e
serviram para direcionar a observação e as interpretações. Algumas das fotografias reforçavam noções

preconcebidas e estereótipos e não revelavam novas informações nem apresentavam novas perspectivas.
Elas aparentemente reforçavam aquelas versões dos eventos que já estavam estabelecidas no discurso
público e firmaram-se nas instituições midiáticas através do vínculo social inerente.

Por exemplo, a publicação de fotografias onde se destacava algum tipo de demonstração do fervor islâmico
dos iraquianos (crianças segurando armas, por exemplo). Tais fotografias foram mais comuns antes da

guerra começar, porém, eram imagens generalizadas dos iraquianos, numa tentativa de definir um inimigo
que era invisível e normalmente associado a terroristas, como Osama bin Laden.

Fig. 1: Capa da revista Time, edição de 29 de dezembro de 2003. (Foto: James Nachtwey / VII)

Dentro da organização comercial da imprensa americana, a representação fotográfica da Guerra do Iraque

não escapou também de uma certa espetacularização a fim de estabelecer um discurso dos líderes do

governo. Um exemplo: a revista Time de 29 de dezembro de 2003, edição em homenagem à pessoa do ano,
o soldado americano. As fotos internas dificilmente lembram uma guerra: soldados tocando guitarra, usando

laptops, rindo, patrulhando ruas. Nenhuma foto de confrontos. Apenas um ferido enquadrado numa foto

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pequena. A fotografia da capa lembra um cartaz de filme de ação e corresponde, conforme Phillip Knightley,
à idéia americana de divulgar a Guerra do Iraque como um filme de Hollywood (Knightley, 2004).

Esta aproximação da ficção cinemtográfica com o jornalismo está associada à idéia do governo americano,

os militares e a mídia de apresentarem os objetos da violência com menos intensidade do que realmente são.
A permanência de fotografias nas três categorias de armas, tropas e líderes, realça uma tendência na

cobertura de guerras recentes (pelo menos desde a Guerra do Golfo Pérsico/1991), onde o discurso sobre a
política e tecnologia de guerra vem substituindo gradualmente o discurso da necrologia. Segundo John

Taylor, ao esconder-se a brutalidade da guerra (os mortos, os feridos), limitando-se a divulgar a tecnologia
de guerra, os armamentos, os alvos e os objetivos, o que se pretende em última instância é afastar do
cidadão/público a responsabilidade moral sobre a guerra que foi por eles apoiada (Taylor, 1998).

Fig. 2: muitas das fotografias publicadas durante a Guerra do Iraque estiveram centradas no trabalho das tropas. E

também na manutenção de símbolos sociais, como a bandeira americana. (Foto: Christopher Morris / VII)

Por outro lado, se é possível confirmar que existiu uma tendência nas fotografias da cobertura fotojonalística

da grande imprensa americana, é preciso reconhecer também que existe o seu contraponto direto, ou seja,
a publicação de trabalhos de fotojornalistas independentes e enlistados seguindo outro conceito editorial.

São exemplos deste tipo de publicação o livro “Unembedded: four independent photojournalists on the war

in Iraq”, onde são apresentadas fotografias de Ghaith Abdul-Ahad, Kael Alford, Thorne Anderson e Rita

Leistner. Além deste, gostaríamos de citar o excelente “War: USA, Afghanistan, Iraq”, da agência de
fotografia VII. Neste livro, observamos os trabalhos de Christopher Anderson, Alexandra Boulat, Christopher

Morris, James Nachtwey e Gary Knight. Também no Brasil encontramos o livro de Sérgio Dávila e Juca

Varella no livro “Diario de Bagdá: a guerra do Iraque segundo os bombardeados.”

Nestes livros nós podemos encontrar um outro tipo de tendência nas fotografias. Vejamos:

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1) evidencia-se o ponto de vista dos iraquianos em relação aos ataques; talvez o aspecto mais marcante
destes trabalhos, justamente por apresentarem as imagens do outro lado da guerra;

2) imagens das baixas de guerra, ou seja, fotografias relacionadas ao custo humano resultante da ação

militar e que servem para lembrar a realidade dos ataques. Normalmente, em revistas como a Time, as
fotografias de mortos americanos e/ou britânicos estão completamente ausentes. As fotos de mortos, nestas
revistas, são sempre de iraquianos, inclusive mostrando os rostos.

3) a destruição causada pelos bombardeios nas cidades, instalações, etc;

4) aspectos culturais, econômicos ou do contexto geopolítico que cerca o conflito. Normalmente, as

fotografias são acompanhadas de ensaios, depoimentos ou estudos bastante críticos e profundos sobre a
situação de guerra no Oriente Médio.

Fig. 3: fotografia do livro “Unembedded: four independent photojournalists on the war in Iraq”. (Foto: Kael Alford)

Embora há contrastes evidentes no conteúdo destes livros em relação à grande imprensa, outros aspectos

merecem uma observação. Primeiro, a publicação deste material realça o aspecto individual do trabalho do

fotógrafo e/ou jornalista, isto é, a autoria das fotos e dos textos. Segundo, as narrativas, autobiográficas ou
colhidas através de depoimentos, também esclarecem uma outra dimensão social do conflito. Junto com as

fotografias, o texto contribui para uma visão mais pessoal, que foge do formato jornalístico. Nas revistas,

dá-se uma ênfase a aspectos globais do problema no Oriente Médio, normalmente relacionado com o perigo

do terrorismo ou ao fervor islâmico. Terceiro, o formato que é apresentado as fotografias e relatos merece

atenção: trata-se de um livro. O trabalho de edição, o tempo de produção, a tiragem, o próprio tempo de
leitura, etc., são radicalmente diferentes das revistas. Porém, a maior diferença em relação a estas é o
conceito editorial.

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Evidentemente que numa primeira análise poderíamos concluir que a publicação destes livros está
diretamente relacionada aos jornalistas independentes. Mas isto, de fato, não é verdade. Muitos dos

fotógrafos que tem suas fotografias publicadas nos livros foram tanto independentes quanto enlistados
durante a Guerra do Iraque. Muitas das fotografias foram recusadas ou impedidas de serem utilizadas nas

revistas americanas. E isto reforça o que escrevemos antes: trata-se de um conceito editorial em relação ao
tipo de ênfase que será dado.

Porém, devemos fazer uma observação, na verdade, uma pergunta. Quando o material destes fotógrafos

e/ou jornalistas é publicado na mídia ‘livro’ ele deixa de ser jornalismo, no conceito clássico de notícia,
acontecimento, etc.? E torna-se o quê, exatamente? Literatura de depoimento? Documentário?

Fig. 4: fotografia do livro “Unembedded: four independent photojournalists on the war in Iraq”. (Foto: Kael Alford)

Conclusão

O presente artigo, conforme foi esclarecido no início, faz parte de um trabalho em andamento sobre o

fotojornalismo na Guerra do Iraque (2003). Entretanto, procuramos evidenciar dois aspectos. Primeiro,
existe um conceito editorial dentro da revista americana Time em relação ao fotojornalismo de guerra. Esta

orientação determina ênfase em fotografias relacionadas com o ponto de vista americano do conflito.

Segundo, um dos contrapontos deste processo encontra-se na publicação de livros que determinam um

direcionamento mais completo do problema da guerra. Trata-se, na verdade, da abordagem de duas mídias
diferentes em relação ao mesmo assunto. Muitos dos fotógrafos que estão publicando livros também

trabalham para revistas e jornais, porém, uma das principais diferenças é justamente o conceito editorial.

Assim, o problema da fotografia de guerra na mídia, sua edição, sua produção e veiculação, não pode ser
desvinculado de uma situação política e social. Como sempre, estamos discutindo o que deve e o que não
deve ser mostrado em uma guerra.

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Referências

FONTENELLE, P. 2004. Iraque: a guerra pelas mentes. São Paulo: Sapienza Editora.

GRIFFIN, M. 2005. Picturing America’s ‘War on Terrorism’ in Afghanistan and Iraq. Sage Publications. Vol.
5(4): 381-402. Disponível em: <http://ics.leeds.ac.uk/papers/pmt/exhibits/2052/photo.pdf>

KNIGHTLEY, P. 2004. The first casualty: the war correspondent as hero and myth-maker from the Crimea to
Iraq. Baltimore: The Johns Hopkins University Press.

SONTAG, S. 2003. Diante da dor dos outros. São Paulo: Companhia das Letras.

SOUSA, J. P. 2000. Uma história crítica do fotojornalismo ocidental. Chapecó: Editora Grifos, Letras
Contemporâneas.

TAYLOR, J. 1998. Body horror: photojournalism, catastrophe and war. Manchester: University Press.

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