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Presidente Prudente
2008
FACULDADES INTEGRADAS
“ANTONIO EUFRÁSIO DE TOLEDO”
Presidente Prudente
2008
A EFICÁCIA HORIZONTAL DOS DIREITO FUNDAMENTAIS –
UMA NOVA PERSPECTIVA
___________________________________________
Sérgio Tibiriçá Amaral
___________________________________________
Fabiana Junqueira Tamaoki Neves
___________________________________________
Théo Mário Nardin
Presidente Prudente
Palavra puxa palavra, uma idéia traz outra, e assim
se faz um livro, um governo, ou uma revolução,
alguns dizem que assim é que a natureza compôs
as suas espécies.( Machado de Assis)
The present work does a broach of a very recent and controversial subject. As until
now only a few Brazilian doctriners have dealt with this subject was possible to take
advantage of the opportunity to develop a wide research and to form opinion with
freedom. The importance of the fundamental rights effectiveness in the private area
is unquestionable and irreversible, specially, in a time that we witness wide
economical conglomerates with such an important power arising and developing.
This work presents a broach of the fundamental rights historical evolution as well as
a detailed research about the several angles of the doctrine known as drittwirkung
and it also presents different angles as the “state actions”. This study is concluded
with the new forms of the fundamental rights influence in the private area as the
question about the social responsibility as well as of the social function of property. In
short, the objective of this work is to delineate a norm angle of the fundamental rights
having its history evolution as a base.
1 INTRODUÇÃO........................................................................................................9
5 CONCLUSÃO.........................................................................................................91
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1 INTRODUÇÃO
seja desvirtuada, cabe a esses mesmos cidadãos o direito de depor tal governo.
Trata-se do direito de revolução.
Tendo se tornado independente da metrópole, os Estados Unidos não
se separaram apenas de um país ao qual tinham estado submetidos, mas de todo
um sistema político e jurídico e consequentemente de toda segurança conhecida na
época, como cita Fabio Konder Comparato (1999, p.105), ou seja, a proteção
familiar, do estamento e religiosa. Surgiu, portanto, a necessidade de conceder ao
cidadão um ponto de apoio e segurança, vital para a formação do novo Estado, e
nada melhor que transformar os direitos naturais que serviram de justificativa para a
soberania popular em direitos positivos que passariam a regular toda a sociedade.
Mas a legalização desses direitos não ocorreu de qualquer maneira,
mas na forma de uma Constituição, ou seja, uma norma emanada da suprema
vontade do povo com o fim de limitar o poder do Estado e assim conservar a
liberdade do individuo.
Foram esses os moldes da Declaração de Direitos da Virgínia, de
1787, um documento que visava à declaração de direitos que limitavam o poder do
Estado e geravam conseqüente segurança para o cidadão. As principais inovações
dessa Declaração foram: a divisão de poderes, o tribunal do júri, a eleição popular
como a única forma de acesso a cargos de governo.
Quanto à declaração de direitos, havia vários opositores que
consideravam que um Bill of Rights significaria uma concessão do poder do Estado
ao povo, o que não fazia sentido em um Estado onde se acabara de declarar que o
poder emanava do povo. Além disso, cada estado já possuía seu próprio Bill of
Rigths e não havia a necessidade de consagrar outro na Constituição que deveria se
limitar a evitar arbitrariedades do Estado, ou seja, deveria se limitar aos direitos
negativos.
Porém venceu na época o desejo de se consagrar uma declaração de
direitos válida constitucionalmente. Foi nesse contexto que surgiram as dez
primeiras emendas da Constituição Americana que consagraram direitos como o
devido processo legal, a liberdade religiosa, a liberdade de opinião, entre outros.
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Estado o dever de assegurá-los. Nesse contexto histórico foi que surgiram esses
dois documentos, analisados a seguir.
Desde o final do século XIX e início do século XX, o México vivia uma
ditadura encabeçada por Porfírio Diaz, governada por uma restrita aristocracia rural
que negava à população todo e qualquer direito de cunho social. Em 1906, Ricardo
Flore Magón líder do grupo Regeneracíon lançou um manifesto que viria a ser à
base da futura Constituição do México. Influenciado pelas idéias de Mikhail Bakunin
este manifesto continha direitos como à educação e de proteção ao trabalho
assalariado.
Em 1917 foi promulgada tal constituição de extrema importância para
a evolução dos direitos humanos já que foi a primeira na história a assegurar de
forma concreta os direitos sociais, sendo que a Europa só seguiria a mesma
tendência após a primeira guerra mundial.
Dois pontos são de extrema importância na análise dessa Constituição:
primeiro a desmercantilização da força de trabalho e em segundo lugar sua
diferença com o movimento de revolução da Rússia.
Embora a sociedade mexicana da época fosse predominantemente
agrária e não houvesse uma economia urbana e industrial como já ocorria na
Europa e que foi fonte dos movimentos anarco-comunistas, o México foi o primeiro
país a lutar pelo que o proletariado europeu já lutava, ou seja, lutar pela proibição de
equiparar qualquer força de trabalho a uma mercadoria capitalista. Para isso criou
normas como a responsabilização do empregador pelos acidentes de trabalho,
jornada de trabalho de oito horas, descanso semanal remunerado, direitos da
trabalhadora gestante, salário mínimo, entre outros.
Quanto à diferença em relação à Revolução Russa, baseada no
marxismo, embora a carta mexicana tenha se baseado no pensamento socialista,
não reduziu toda a sociedade à apenas a classe trabalhadora, mas manteve
algumas premissas do Estado liberal, porém, com a implementação dos direitos
sociais.
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Ocorre que a repercussão desse documento não foi tão grande quanto
a da Constituição de Weimar de 1919 que será analisada a seguir.
É importante frisar que embora a carta acima citada e a próxima ser
analisada tenham sido de extrema importância para o Estado Social e para sua
concretização elas não foram as primeiras a assegurar esses direitos e nem
romperam totalmente com o modelo liberal.
Segundo Floriano Corrêa Vaz da Silva (1997, p.35)
3.1 Constitucionalismo
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Tradução Livre da Autora- Frente a isto, a novidade das constituições modernas se fazem na reunião de duas
linhas que dão validade ao modelo jurídico esboçado de maneira teórica. Por uma parte, a validade jurídica
positiva, diferencia a constituição de direito natural; por outra, se diferencia dos antigos vínculos jurídicos do
poder estatal por uma ampliação de suas funções e validade...
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seja, o Estado Democrático de Direito, sendo este criado pelo povo e sendo a ele
mesmo assegurado.
termo “direitos humanos” foi largamente utilizado por políticos, juristas e até mesmo
por constitucionalistas para designar os direitos de proteção ao cidadão nas cartas
fundamentais.
Ocorre que já em 1789, os franceses fizeram a diferenciação entre
direitos do “homem” e do “cidadão”. Não foi por acaso que os dois termos foram
usados para dar nome àquela declaração: direitos do homem diziam respeito aos
direitos de liberdade, mais enfaticamente, que possuía todo ser humano apenas pelo
fato de sê-lo, enquanto direitos dos cidadãos se limitava aos franceses, integrantes
daquele Estado, e sujeitos às mesmas leis criadas e regidas por eles.
Portanto, embora tenham os franceses pela primeira vez na história
atribuído direitos não apenas a um povo mas a todos os seres humanos, até como
forma de propagar sua revolução, cuidaram esses de delimitar alguns direitos que
eram pertencentes apenas aos componentes do Estado francês.
A idéia pregada por grande parte dos doutrinadores constitucionais na
atualidade segue a mesma tendência: existem os direitos humanos dos quais são
titulares toda a humanidade, mas estes melhor se encaixam na sistemática do
Direito Internacional, guiados por tratados e declarações. Seu cumprimento fica
restrito às normas éticas, de forma que, os direitos humanos são declarados mas
não existe um meio coercitivo que garanta seu cumprimento.
Já os direitos inerentes à dignidade da pessoa humana assegurados
constitucionalmente são corretamente melhor denominados direitos fundamentais,
segundo Jorge Miranda (1998,p.50) por três motivos a seguir expostos.
Primeiro é que dentro de um Estado que se governa pela lei, não é
possível se pensar em direitos meramente de ordem natural, como o são os direitos
humanos. É certo, como assegura o próprio autor, que os direitos naturais são de
extrema importância em qualquer organização política e devem ser devidamente
positivados como ocorre com os direitos humanos, que uma vez positivados,
integram o texto constitucional como direitos fundamentais.
O segundo motivo é que os direitos assegurados constitucionalmente
como direitos fundamentais são mais amplos que os direitos humanos, já que tratam
da organização econômica, social, política, também de extrema importância para o
desenvolvimento digno de uma sociedade calcada na dignidade da pessoa humana.
O ultimo argumento é que nas constituições contemporâneas
principalmente as do século XX, muitos dos direito declarados e tidos como
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Nesse período surgiram três teorias que buscam explicar a origem dos
direitos fundamentais: o positivismo, o jusnaturalismo e o realismo. Para a primeira
os direitos fundamentais são criados e atribuídos a um dado número de pessoas
pelo legislador; já para a segunda esses direitos são pré-existentes, o legislador
apenas os incorpora dentro do ordenamento jurídico, mas eles são inerentes a todo
ser humano e, por fim, os realistas afirmam que ainda que estes direitos não sejam
criados pelo legislador, de nada adianta se eles não forem legalmente assegurados
e, portanto, esses direitos só se tornam efetivos após entrarem em uma sistemática
legal.
Essas definições são simples e para efeito de colocação da questão
em pauta, já que elas serão tratadas de forma mais detalhada a seguir.
Para aqueles que adotam as posições positivista e realista a eficácia
dos direitos fundamentais fica limitada a uma norma. Já para os que adotam a teoria
jusnaturalista a eficácia desses direitos é substancialmente mais ampla, já que são
ultranormativos.
Se esta idéia for transportada para um plano geral, os jusnaturalistas
conseguem defender a idéia da supremacia dos direitos fundamentais em qualquer
plano, inclusive em todo o ordenamento jurídico infraconstitucional. Já os positivistas
ficam restritos à questões técnicas já que atribuem a esses direitos a característica
de uma norma constitucional como qualquer outra.
Ocorre que a questão não é assim tão simples e existem pontos
positivos e negativos em todas essas teorias e é justamente isso que será analisado
nos próximos títulos.
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Tradução Livre da Autora- Para os juristas da nossa geração o contraste entre direito natural e positivismo
jurídico tornou-se uma excitante experiência.Porém há vinte anos o positivismo dominava de maneira totalmente
incontroversa, a ciência e a prática.
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Como ejemplos, tomados de diversos autores del siglo XVII, cabría citar: el
appetitus socialis (Grocio); “el deseo de no dañar ni ser danado” (Hobbes);
“el amor a la libertad y al goce tranquilo de todos los derechos”(Locke); “la
tendencia a la conservación del próprio ser” ( Spinoza) [...] (grifo no original)
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Como exemplo, tomados de diversos autores do século XVII, cabe citar: o appetitus sociales (Grocio); “ O
desejo de não prejudicar nem ser prejudicado” (Hobbes); “ O direito a liberdade e ao gozo tranqüilo de todos os
direitos” ( Locke); “a tendência à conservação do próprio ser” (Spinoza).......
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adeptos até hoje, sem falar que durante o período de negação do direito natural,
esta corrente foi à única que resistiu ainda que timidamente.
A terceira corrente é também uma das mais complexas e teve origem
com os filósofos gregos Aristóteles e Platão. Eles entendiam o direito natural como
um paradigma que deveria ser seguido por todos, inclusive pelo ordenamento
positivo. Esses direitos são aprioristas e mundialmente válidos, fundados na razão,
partem da doutrina aristotélica de que as idéias são transcendentes aos objetos e,
sendo assim, certos princípios de direitos naturais são fundados na razão e
transcendem a ordem positiva.
Existem outras correntes, porém estas são as mais relevantes.
Atualmente, o jusnaturalismo vem sendo seriamente discutido, e defendido por
vários doutrinadores. É certo que se trata de uma tese e, sendo assim, existe a sua
antítese: o positivismo. Somente após a análise da teoria positivista podemos chegar
a uma síntese concreta.
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Tradução Livre da Autora – [...]dizer que o positivismo jurídico como maneira especial de abordar o estudo do
direito pressupões a separação de duas distintas espécies de direito, por um lado o “real”, o “existente” e, por
outro, o “justo” o “ideal”, contradiz o que em nosso sentir constitui a essência daquela postura, a saber , o
monismo jurídico positivista [...]
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A última questão a ser tratada acerca desse principio diz respeito à sua
natureza jurídica, que, para alguns é meramente formal, uma vez que apenas dita
uma forma, um meio de resolver um conflito de normas e não possui qualquer
conteúdo. Para outros sua natureza é material, pois possui sim um conteúdo que
está ligado à busca pela justiça. Muitos criticam essa segunda tese afirmando que
essa idéia, de busca pela justiça, é extremamente abstrata e que apenas isso não
atribuiria ao princípio um conteúdo material. Outros doutrinadores atribuem esse
conteúdo aos interesses envolvidos no conflito e há uma terceira corrente que afirma
ser o conteúdo os direitos fundamentais.
Existem defensores de todas as correntes e não se pretende aqui
responder tal questionamento. Considera-se, neste estudo, que trata-se de um
princípio que enriquece a doutrina dos direitos fundamentais e lhes atribui uma
eficácia peculiar. Portanto, não podem ser simplesmente excluídos; antes exigem
um juízo complexo de ponderação devido à sua extrema importância.
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com este problema é quando se deparam com situações práticas se faz muito
interessante citar os casos trazidos pelo doutrinador português, bem como outros
que ilustram a própria jurisprudência pátria.
O primeiro caso trazido é o de uma indústria que exigia no contrato de
trabalho que seus operários renunciassem a qualquer atividade partidária, bem
como à filiação a sindicatos.
O segundo trata de um congresso de um partido político destinado a
escolher um candidato desse partido às eleições parlamentares, sendo nesse
momento, excluída a participação de indivíduos da raça negra.
No terceiro, uma senhora contratada como professora em um colégio
privado, vinculou-se a uma cláusula de celibato, sendo que posteriormente celebrou
casamento, momento em que a empresa proprietária do colégio demitiu-a invocando
a violação de uma cláusula contratual.
Uma outra empresa ao contratar duas pessoas do sexo feminino para
trabalhar na área de informática, condicionou a admissão a três cláusulas: em
primeiro lugar sujeitar-se a testes de gravidez no momento da admissão, segundo
aceitarem como justa causa de dispensa do trabalho o fato de ocorrer gravidez
durante a vigência do contrato, em terceiro não submeterem-se à inseminação
artificial durante o contrato.
O quinto caso tratado na obra de Canotilho mostra as entidades
patronais e as organizações sindicais que celebraram um contrato coletivo de
trabalho, onde incluíam a cláusula de closed-shop, ou seja, proibição de contratação
de funcionários não sindicalizados.
Pode se dizer que no Brasil, um dos casos mais emblemáticos a
respeito da eficácia horizontal dos direitos fundamentais foi o que envolveu a União
Brasileira de Compositores que excluiu um sócio de seu quadro, sem dar a este o
direito ao contraditório e à ampla defesa.
A questão chegou até o Supremo Tribunal Federal através do Recurso
Extraordinário 201819 de 11 de outubro de 2005. Na Ementa retirada do site a corte
brasileira se colocou favorável à existência da eficácia horizontal dos direitos
fundamentais Trata-se de uma decisão riquíssima para a jurisprudência brasileira,
O fato é que, em todos os países do mundo onde os direitos
fundamentais são reconhecidos e assegurados em suas cartas constitucionais,
casos como esses serão cada vez mais freqüentes e a jurisprudência dos tribunais é
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5
Tradução Livre da Autora – [...] não se pode falar em uma influência claramente visível ou duradoura da
eficácia horizontal dos direitos fundamentais, posto que a chave do modelo americano, faz uma dilatação do
conceito de poder público, de ação estatal.
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4.3 Drittwirkung
4.3.1 Denominações
Como já dito, uma evolução trazida pelo caso Lüth foi a questão do
poder de irradiação dos direitos fundamentais. Até então, esses direitos eram vistos
como uma forma de limitação do poder Estatal, ou seja, a chamada eficácia vertical
propriamente dita. Entretanto, ao longo da história, ocorreu uma série de limitações
dos direitos individuais pelo Estado. Portanto, limitar o poder de ingerência do
Estado na esfera privada foi o objetivo dos primeiros legisladores constitucionais ao
criar os direitos fundamentais.
Não obstante essa função, o Tribunal Federal Constitucional lançando
mão de um interessante raciocínio de hermenêutica passou a considerar que, além
desta função tradicional, também seriam os direitos fundamentais normas de caráter
axiológico que se estenderiam a todo o ordenamento jurídico.
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Tradução livre da autora – Se proclama a natureza de todo o conjunto dos direito fundamentais como sistema
valorativo, que penetra a totalidade do conjunto normativo e influi sua interpretação individual, mas também, a
um, o caráter de valor de cada direito fundamental individual considerado, cujo alcance deve ser indagado e
preciso, sem renunciar a seu primitivo caráter de direito subjetivo de defesa ao Estado.
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Tradução Livre da Autora - Assim, para Nipperdey apenas algumas disposições de direitos fundamentais,
possuem um duplo caráter: além de sua tradicional significação como direito público subjetivo, são princípios
objetivos que informam a totalidade do ordenamento jurídico, incluindo o direito privado. A aplicação destas
normas constitucionais no direito privado de nenhum modo chega a afetar em excesso a esfera de liberdades do
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individuo, pois só poderá e ira restringi-la até onde for absolutamente necessário ao interesse de uma “vida social
sã ”.
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Tradução Livre da autora – Nipperdey mesmo nas situações de igualdade fática entre os particulares, admite a
Drittwirkung direta , pois na sua opinião, os acordos contratuais não podem contrariar a liberdade nem os
princípios constitucionais.
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segundo ponto relaciona-se aos casos em que poderá ser utilizada a drittwirkung, ou
seja, nas situações em que existe uma disparidade entre os particulares, disparidade
essa gerada, via de regra, pelo maior poder econômico de uma das partes.
Mas não se restringe a esses casos: amplia-se para as situações nas
quais, no tráfico jurídico particular, há uma limitação dos direitos fundamentais por
cláusulas ou qualquer outro meio de direito privado.
Dentro da sistemática jurídica brasileira a dificuldade dessa teoria está
em delimitar quais são as normas fundamentais que não possuem apenas um status
positivo e negativo como classifica Jellinek, mas uma outra característica de norma
de princípio axiológico.
Esta distinção não é, de fato, simples. Porém, de longe, não é o
principal problema dessa teoria. Este reside no receio de se aplicar diretamente os
direitos fundamentais nas relações privados, limitando desta forma a autonomia da
vontade.
A ausência de um intermediário gera insegurança na esfera privada e é
certo que a teoria da eficácia direta tentou resolver essa questão ao assinalar que os
casos aplicáveis são restritos àqueles em que haja um desnível entre as partes.
Mesmo assim essa não é a teoria mais utilizada quando se aplica a
Drittwirkung, pelos motivos acima expostos. Mas, além disso, há uma forte influência
da doutrina e jurisprudência alemã que a partir do caso Lüth passou a utilizar a
teoria da eficácia indireta ou mediata.
Ainda assim, existem doutrinadores que defendem que a única forma
de se aplicar efetivamente os direitos fundamentais no plano privado é a direta. A
teoria da eficácia indireta não atende às necessidades daqueles que estão em uma
situação de desigualdade em uma relação teoricamente equilibrada, uma vez que
ficam a mercê de algum meio que efetive esses direitos, não havendo, dessa forma,
eficiência.
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Tradução Livre da Autora – Ao juiz no caso especifico, corresponde então um trabalho duplo de hermenêutica:
primeiramente, extrair dos direitos fundamentais correspondentes o princípio que estes contém, para logo
introduzi-lo no conteúdo da cláusula geral , que finalmente será aplicada para a solução do conflito jurídico-
privado. Somente através de este amplo rodeio, se faz possível, segundo a teoria da mittelbare drittwirkung,a
aplicação dos direitos fundamentais no âmbito das relações privadas.
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Tradução Livre da Autora – As teses de Alexy se inserem dentro de uma nova postura doutrinaria sobre a
eficácia dos direitos fundamentais entre os particulares, que pretende superar as estreitas margens a que se havia
reduzido a discussão no marco da contraposição das doutrinas tradicionais. Como tal, efetua um grande esforço
de conciliação e pretende dar cabimento a todas as possibilidades de aplicação dos direitos fundamentais na
ordem jurídica privada, renunciando a aderir especificamente a qualquer uma delas.
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Tradução Livre da Autora – Sem duvida a solução de Alexy, ainda que rica e complexa , apresenta o grande
perigo da ambigüidade e obriga, ademais, a usar outros elementos de sua construção jurídica como a teoria da
argumentação e o entendimento dos direitos fundamentais como um todo.
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relações privadas, são os pontos fortes de sua teoria, porém o autor não se
aprofunda muito na questão da incidência dos direitos fundamentais diretamente nas
relações privadas.
Independente disso trata-se de uma das teses mais coerentes sobre o
tema criadas até hoje.
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Tradução Livre da Autora - Os direitos fundamentais tem um duplo caráter. Em primeiro lugar os direitos
fundamentais são direitos subjetivos, direitos do individuo, não somente direitos dos cidadãos em sentido estrito,
somente quando garantem um status jurídico no âmbito da existência. Mas ao mesmo tempo, são elementos
essenciais do ordenamento objetivo , da comunidade nacional, enquanto marco da convivência justa e pacífica
fixada historicamente no Estado de Direito, e posteriormente, no Estado Social de Direito, segundo a fórmula de
nossa Constituição [...]
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Vimos até aqui, toda a evolução dos direitos fundamentais, bem como
suas principais características dentro dos textos constitucionais, além da doutrina da
eficácia horizontal dos direitos fundamentais e suas variações.
Não obstante a questão da drittwirkung, e mesmo como uma forma de
efetivação da mesma, surgem na atualidade meios práticos de concretização dos
direitos fundamentais na esfera privada, distantes dos tribunais. Esses meios
surgem como uma atitude do próprio particular de respeito a uma determinada lei,
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ou mesmo de forma voluntária, uma vez que tanto a esfera privada quanto a pública
chegou à conclusão de que o respeito a esses direitos é a única forma de efetuar a
manutenção da paz social.
As mais relevantes inovações a esse respeito estão ligadas à questão
da função social da propriedade, norma fundamental que exige uma atitude positiva
tanto do Estado quanto do particular para uma melhor utilização da propriedade
privada, sendo a mais inovadora de todas, a responsabilidade social da empresa,
que nada mais é do que uma forma absolutamente voluntária de respeito e
efetivação dos direitos fundamentais pela esfera privada.
Por séculos o poder ficou nas mãos dos que eram tidos como enviados
de Deus para governar e os nobres mantinham seu poder baseados nessas
explicações divinas. Ocorre que, com a queda do absolutismo e o inicio de uma
nova era na sociedade, tornou-se necessário uma outra base de sustentação do
poder, uma vez que a nobreza de origem divina havia caído por terra. Como os
precursores dessas revoluções eram os burgueses, nada mais natural que ligar o
poder à propriedade, o que dava ao mesmo tempo segurança e poder para essa
classe.
Segundo Augusto Geraldo Teizen Júnior (2004, p. 117)
também deverá pagar os seus e como precisa dos consumidores, deverá respeitar
seus direitos.
Como bem definem Guilherme Calmon Nogueira da Gama e Felipe
Germano Cocicedo Cidad (2007, p.35)
uma cláusula geral criada pelo legislador que irradia para todo o ordenamento
jurídico a fim de dar parâmetro à aplicação das demais normas constitucionais.
Como determina Augusto Geraldo Teizen Júnior (2004, p.132) ao
explicar a eficácia e a natureza jurídica da função social
compõe a idéia de função social sob pena da perda do próprio direito à propriedade
privada.
Eis um exemplo prático: se o proprietário de uma empresa privada
obriga as suas empregadas a se submeterem a testes de gravidez mensalmente sob
pena de rescisão contratual, ele a priori não está respeitando a legislação trabalhista
e os direitos fundamentais de privacidade e dignidade de suas empregadas.
Cabe a esta empresa para atender à sua função social não só gerar
empregos, mas respeitar a legislação trabalhista e acima de tudo a Constituição
Federal. Dessa forma deverá sofrer as sanções atendimento à função social.
Quando isso ocorrer teremos então a incidência dos diretos fundamentais nas
relações privadas tanto como cláusula geral que influenciou a criação de sanções no
âmbito infraconstitucional, quanto como um status positivo na figura das próprias
sanções.
Por certo que essa relação torna-se cada vez mais complexa. O que
surgiu com o caso Lüth nos anos 50, evoluiu muito até aqui e a tendência é
continuar evoluindo. A função social caracterizou grande parte desta evolução uma
vez que trata-se de um direito fundamental ímpar, que criou o já mencionado elo
entre teoria e prática em ordenamentos jurídicos que não mencionam a possibilidade
de uma eficácia direta.
Se a função social foi uma das maiores e recentes evoluções a respeito
da teoria da eficácia horizontal, principalmente a indireta, ela definitivamente não foi
a última.
Cabe-nos mencionar ainda a última tendência mundial a respeito da
concretização dos diretos fundamentais na esfera privada, a chamada
responsabilidade social das empresas, tema que será devidamente abordado a
seguir.
A maioria dos empresários que assume iniciativas desta índole, tem por
objetivo atrelar a seu empreendimento uma imagem positiva junto à
comunidade, integrada por potenciais consumidores de seus produtos ou
de seus serviços.
5 CONCLUSÃO
BIBLIOGRAFIA
ARAÚJO, Luiz Alberto David; NUNES JÚNIOR, Vidal Serrano. Curso de direito
constitucional. 4. ed., rev. e atual. São Paulo: Saraiva, 2001.
BOBBIO, Norberto. O futuro da democracia. 7. ed. São Paulo: Paz e Terra, 2002.
(Coleção pensamento crítico; 63)
GAMA, Guilherme Calmon Nogueira da. Função social no direito civil. São Paulo:
Atlas, 2007.
95
TAVARES, André Ramos. Curso de direito constitucional. 5. ed., rev. e atual. São
Paulo: Saraiva, 2007.
TEIZEN JÚNIOR, Augusto Geraldo. A função social no código civil. São Paulo:
Revista dos Tribunais, 2004.
VALE, André Rufino do. Eficácia dos direitos fundamentais nas relações
privadas. Porto Alegre: Fabris, 2004.
VILLA, Marco Antonio. A revolução mexicana: 1910-1940. São Paulo: Ática, 1993.
. (Série Princípios ;227)