www.sabado.

pt
www.sabado.pt

OS MELHORES
AMIGOS Vinhos
Quinta da Plansel: inves-
tigação ao serviço dos

MERECEM TUDO aromas, no Alentejo p. 96

Séries
Como aos filhos, não queremos que lhes falte boa co- Aí está Schitt’s Creek,
mida, brinquedos e atividades, nem cuidados corpo- a sitcom-sensação dos
rais e férias no hotel. Afinal, são da família. Já tem um? prémios Emmy p. 98

Livros
Novidades a não perder,
de Elena Ferrante a
Salman Rushdie p. 104

Carros
Novo Land Rover Defen-
der, o ícone todo-o-terreno
reinterpretado p. 106
ISTOCK

85
 Tema

ADOTAR,
ACOLHER E
APADRINHAR
Com a pandemia, os pedidos de ado-
ção dispararam, mas há mais formas
de ajudar animais abandonados. Das
associações de acolhimento aos ho-
téis que recebem bichos, damos-lhe
um guia para ser pet-friendly.
Por Catarina Moura e Filipa Teixeira

Além da ado-
ção, também
o abandono
de animais
aumentou
durante a
pandemia

86

OS PORTUGUESES estão mais
sensíveis à adoção. Esta é a
conclusão de um estudo divul-
gado no final de outubro, pela
plataforma online Fixando,
que, ao inquirir 1.000 utiliza-
dores, concluiu que 76% dos
participantes adotaram o seu
animal de estimação ao invés
de comprar.
Se por um lado adotar é um
gesto que merece aplauso, por
outro, requer um compromisso
financeiro, familiar e emocio-
nal para evitar que o animal
seja novamente abandonado.
É nesta questão delicada que o
trabalho das associações se re-
vela importante, porque se a
solidariedade está ao rubro, o
abandono tem aumentado
desde o início da pandemia.
“Infelizmente, há pessoas
que se querem desfazer dos
animais”, nota Sandra Duarte
Cardoso, presidente da SOS
Animal, confirmando que to-
dos os dias recebe pelo menos
um email a pedir a entrega de
um animal. Por isso, travar as
adoções por impulso é uma
das preocupações desta orga-
nização que assegura em mé-
dia a entrega de sete a oito
animais por mês para adoção.
“No ano passado, demos cer-
ca de 86 animais. Os números,
apesar do pico que observá-
mos no primeiro estado de
emergência, estão em linha
com os deste ano, mas nós
acreditamos que vamos ultra-
passar”, explica Sandra.
Já a Animais de Rua contabi-
lizou a entrega de 150 animais
ISTOCK
25 NOVEMBRO 2020
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83% dos inquiri-
dos pela plata-
forma Fixando,
que têm crian-
ças e animais de
estimação,
acham que a
confraterniza-
ção entre os dois
é muito benéfica
para adoção entre os meses de
março e novembro. “Notámos
um aumento de 30% dos pedi-
dos, com um ligeiro abranda-
mento na altura das férias de
verão”, confirma Sofia Róis,
representante desta associa-
ção. Mesmo assim, 60% dos
pedidos de adoção são recusa-
dos: “Tem de haver um grande
rigor na triagem para assegu-
rar que as pessoas têm condi-
ções para manter os animais.”
ADOÇÃO TEMPORÁRIA
Uma das soluções a considerar
por quem não tem condições
para adotar em definitivo é
candidatar-se ao estatuto de
Família de Acolhimento Tem-
porário (FAT). “Faltam sempre
famílias de acolhimento”, diz
Sofia Róis que, ainda assim, viu
o número de FAT duplicar des-
de o início da pandemia. A se-
leção obedece aos mesmos cri-
térios de rigor de um processo
normal de adoção mas, assim
que é aprovada a candidatura,
a FAT tem todo o apoio logísti-
co da Animais de Rua: “Forne-
cemos a alimentação, a areia
(no caso dos gatos) e garanti- Q
87
 Tema
Q mos os cuidados veteriná-
rios. O animal continua ao nos-
so cuidado. O que é preciso é
garantir que esteja em segu-
rança até ser adotado.”
O voluntariado ou o apadri-
nhamento são outras formas
de ajuda promovidas pelas as-
sociações. Na página da SOS
Animal, cada animal que está
em lista de apadrinhamento
tem uma estimativa de custos
mensais para que as pessoas
possam planear o seu contri-
buto. Já a Animais de Rua não
define qualquer valor mensal,
deixando em aberto o valor
que cada pessoa quer doar.
AÇÕES SOLIDÁRIAS
Outra consequência da pande-
mia foi o aumento da taxa de
desemprego que, segundo o
Banco de Portugal, se encontra
no terceiro trimestre nos 7,7%
(mais 1,7 p.p. do que no perío-
do homólogo). Inevitavelmen-
te, começaram a chegar à Ani-
mais de Rua muitos pedidos
de ajuda, não só das câmaras
A Animais de
Rua desafiou
ilustradores por-
tugueses para
fazerem ilustra-
ções para o ca-
lendário e para a
agenda 2021 da
associação. O
kit custa €15
88
Comem rações
Shopping
naturais e vê-los
com um
brinquedo novo
é a maior delícia.
Compre online
para mimar o
pet sem sair de
casa
ELSA MOTA GOMES
A Animais
de Rua apoia
municipais e das juntas de fre- logisticamente
guesia, mas também de priva- as famílias de
dos. “Temos feito cabazes soli- acolhimento
dários, não só para os animais temporário
mas também para as pessoas”,
diz Sofia Róis. Os donativos
chegam a partir de doações e
de recolhas do Banco Alimen-
tar Animal feitas em superfí-
cies comerciais: “Temos aju-
dado também nas idas ao ve-
terinário.”
No que diz respeito aos cui-
dados médico-veterinários, a
SOS Animal foi pioneira, ao
criar em 2015 o primeiro Hos-
pital Veterinário Solidário do
País. “Numa clínica veterinária
privada o lucro é para os pro- i
prietários. Aqui é para ser ad- RAÇÃO NATURAL
ministrado nas ações da nossa A ração seca de pato e
organização e nos casos de ca- frango da Edgard&Cooper
rência económica”, explica é de carne fresca e ingre-
Sandra Duarte Cardoso. dientes 100% naturais. À
Isso significa que qualquer venda no site da marca.
cidadão com baixos rendi- €74,95/12 kg
mentos comprovados pode ter
acesso ao financiamento par-
cial de assistência veterinária
dada por este hospital da zona
de Lisboa, que está aberto 24h
por dia durante todo o ano.
“Com as receitas provenientes
de uns, ajudamos outros”, lê-se
na página do hospital. Uma
máxima transversal à Animais
de Rua que, inclusivamente,
pediu a ilustradores portugue-
ses que criassem o calendário e
a agenda 2021 da associação, à
venda por €15. “Estamos a ven-
der imenso”, nota, feliz, Sofia
Róis. “As pessoas ainda têm boa
vontade.” W
 25 NOVEMBRO 2020
www.sabado.pt
www.sabado.pt

i
CUPCAKES j
Para os faros apurados, estes BRINQUEDO PARA
brinquedos da House of Paws PÁSSAROS
têm cheiro a baunilha. À venda Bola de forragem tecida
na loja online PurrfectlyYappy. da Tropican, à venda na
€7,57 loja online Petness.
€7,59

h
PIPOCAS
Pensadas especifi-
camente para cães
pela Barking Bakery g
com sabor a queijo. PATO DE BORRACHA
À venda no site Brinquedo para cães,
PurrfectlyYappy. com mais dignidade do
€4,45 que a típica galinha
depenada. Da marca
House of Paws, no site
PurrfedtlyYappy.
€15,16

j i
ARRANHADOR COLEIRA-LAÇAROTE
Um arranhador que desafia ga- Para dias especiais, ou para
tos com o seu pompom e uma o dia a dia em estilo.
espécie de escorrega. Da Pa- Pela Percy&Co, no site
whut, na loja online Aosom.pt. PurrfectlyYappy.
€24,99 €43,52

h h
BRINQUEDOS PEITORAL
DE MADEIRA Para um canino de
Para os roedores usarem pequeno porte que não
os seus dentes sempre se importaria de ir à lua,
crescentes. Estes legu- a Dashi criou a coleção
mes são da Trixie e ven- astronauta. À venda na
dem-se na Petness. loja online da marca.
€4,89 €18,99

89
 25 NOVEMBRO 2020
Tema www.sabado.pt
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Os pets de hoje
Serviços
Q
têm na agenda TÁXI PARA PETS
a escola, os A Pet Taxi, a operar em Lis-
treinos e o salão boa, já levou cães e gatos a
de estética. todo o lado – tosquia, aulas
Entre os de comportamento, creche e
compromissos, até ao aeroporto. É um servi-
deslocam-se de ço para donos com vidas ocu-
táxi padas e para animais que não
lhes ficam atrás, que pode in-
cluir passear o pet. O serviço é
orçamentado no site, caso a
caso. No Porto, a Taxipet tem
um serviço semelhante que
opera 24 horas. O táxi para o
animal deve ser marcado com
duas horas de antecedência e
os preços variam entre
€0,96/km (para cães peque-
nos e até peixes e pássaros) e
Em Lisboa
e no Porto €1,8/km para cães de grande
já há táxis porte. Os donos também têm
para direito ao seu lugar.
animais

TREINOS E AULAS
Com os donos a passarem
mais tempo em casa, os pedi-
dos de ajuda ao Instituto do
Animal aumentaram, conta
Sílvia Machado, diretora. “Os
animais sentem-se seguros e
tranquilos com rotinas. Qual-
quer mudança pode deixar al-
guns animais agressivos, rea-
tivos”, conta.
Nesta escola e consultório
em Lisboa faz-se treino de so-
cialização de cães e gatos be-
bés e de cães jovens e adultos.
Assim estes tornam-se auto-
Os treinos de
socialização
devem ser
confiantes e ficam confortá-
veis com estímulos que lhes
são estranhos, como eletrodo-
mésticos, automóveis, ou ou-
tros animais.
A norte, a Dogga também
faz treino de cães para a sua
integração no contexto de
uma família e da sociedade.
Formam “cães zen”, dizem, já
que, entre outras atividades
têm massagens e ioga para
caninos.
SÍLVIA MACHADO
GROOMING
Cortar o pelo de cães e gatos é
praticamente uma arte. E em-
bora as aulas para estes cabe-
leireiros de animais de esti-
mação se possam ficar pela
prática genérica, Filipe Costa,
diretor da Top Grooming, diz
ser essencial a especialização
em raças. Todas têm as suas
especificidades.
A Top Grooming faz forma-
ção de groomers em 17 esco-
las do País e apesar de os cur-
sos serem completamente
A Top Groo-
ming faz
tosquia es-
pecializada
em raças
por todo
o País
práticos, há muita compreen-
são do animal no processo.
Por exemplo, não cortam o
pelo a roedores porque “o
animal entra rapidamente em
stress e pode mesmo morrer”,
conta Filipe.
Além das escolas, a marca
tem ainda os seus salões de
beleza com equipamento es-
pecializado em banho (de ro-
tina ou de tratamento), corte
de unhas e tosquia – quer
para andar por casa, quer

feitos logo,
quando os para competição e exposição
animais são da raça.
bebés

90
OMNICONDRO
ARTICULAÇÕES
FORTES
Alimento complementar natural que contém
ingredientes, os quais ajudam cães e gatos
a prevenir e a retardar a evolução de patologias
articulares
A genética, a idade, o excesso
de peso e as lesões repetidas
nas articulações. Estes são fa-
tores que contribuem para o
desenvolvimento dos proble-
mas articulares, infelizmente
tão comuns nos nossos ani-
mais, e que lhes condicionam
a qualidade de vida devido à
dor e desconforto causado.
Por isso, é muito importante
perceber os sinais que vão
dando os nossos amigos de
quatro patas, como, por
exemplo, terem dificuldade
em andar, saltar, brincar, subir
e descer escadas ou começa-
rem a diminuir a atividade fí-
sica em geral.
É igualmente necessário estar
atento à relutância dos ani-
mais em levantar-se de uma
posição deitada, ao descanso
maior do que o habitual, aos
movimentos rígidos no acor-
dar após um período de des-
i
O QUE FAZEM
OS COMPONENTES
DE OMNICONDRO
Omnicondro contém altas concen-
trações de glucosamina e condroi-
tina, extratos herbáceos, vitaminas
antioxidantes e cofatores bicatióni-
cos. A glucosamina e a condroitina
servem de matérias-primas para o
suporte da cartilagem articular,
promovendo elasticidade e resis-
tência articular. Os extratos herbá-
ceos limitam a dor e a inflamação
articular, garantindo maior eficácia
e rapidez de resultados. As vitami-
nas e os cofatores bicatiónicos
protegem a articulação do desgas-
te e melhoram a absorção de to-
dos os ingredientes.
canso ou em tempo
frio, ao coxear, ao
inchaço e calor nas
articulações ou ain-
da às alterações de
comportamento,
como a irritabilidade.
Alimentação,
exercício físico
e protetores articulares
As patologias articulares reque-
rem um tratamento multiface-
tado. Assim, além do controlo
do peso e do fortalecimento
musculoesquelético através do
exercício físico, os protetores
articulares têm um papel im-
portante. Estes minimizam a in-
É importante
perceber os sinais
que vão dando
os nossos amigos
de quatro patas,
como, por exemplo,
terem dificuldade
em andar, saltar,
brincar, subir
e descer escadas
flamação e a degradação da
cartilagem, permitindo prevenir
ou retardar a evolução destes
problemas e dos sinais clínicos
associados. É aqui que entra
Omnicondro, um alimento
composto complementar de
apoio às articulações de cães e
gatos. Estes comprimidos con-
têm ingredientes (elevadas
concentrações de glucosamina
e condroitina, extratos herbá-
ceos, vitaminas e cofatores bi-
catiónicos) que favorecem a re-
cuperação da cartilagem em
desgaste, melhorando a resis-
tência das articulações e dimi-
nuindo o avanço da doença ar-
ticular.
A riqueza dos ingredientes de
Omnicondro faz com que seja
recomendado, sobretudo,
como parte de um protocolo
terapêutico para animais com
lesões ou patologias articula-
res, como por exemplo, dis-
plasia da anca e para cachor-
ros em crescimento, dado que
promove e ajuda o desenvol-
vimento de cartilagens articu-
lares saudáveis. Por se tratar
de um alimento complemen-
tar natural, Omnicondro pode
ser administrado por períodos
prolongados e sem os efeitos
secundários associados aos
medicamentos.
Artroses
e displasias
Omnicondro ajuda os ani-
mais de estimação na pre-
venção e no tratamento de
doenças e patologias como
artroses, displasia da anca e
displasia do cotovelo. A ar-
trose, explique-se, é uma
doença dolorosa para o cão
que o incapacita de andar
normalmente.
Duas das causas mais fre-
quentes da artrose, especial-
mente em raças de cresci-
mento rápido, são as displa-
sias da anca e do cotovelo,
caracterizadas pela instabili-
dade articular. Esta instabili-
dade produz um desgaste na
cartilagem articular que, a ser
continuado, conduz a artro-
se. Porém, outras doenças,
ou simplesmente o avançar
da idade, conduzem também
a artrose.

Tema
No campo, na
Hotéis
Q
praia ou em
plena cidade:
os animais de
estimação
também têm
direito a férias
MONTE DO ZAMBUJEIRO
Longueira • 283 386 143 • €90
Perto de Milfontes, dos longos
areais ou do rio Mira, esta
casa de campo vive em comu-
nhão com a natureza. Nas
villas podem ficar até dois
animais, por mais €15 cada.
YOU AND THE SEA
Ericeira • 261 243 370 • €92
Para cães surfistas ou gatos
contempladores das falésias,
os apartamentos (entre o T0 e
o T4) recebem até dois ani-
mais de 30 kg. Cada um paga
€20 por noite.
POUSADA
MOSTEIRO
DE AMARES
253 371 970
Lg. do Terreiro, St.ª Maria do Bouro
€95
Por mais €25 por noite poderá le-
var o seu cão consigo de férias até
ao Gerês, desde que o porte não
ultrapasse os 15 kg. No momento
do check-in receberá um kit canino
com uma alcofa, ração e snacks
naturais e dois recipientes para a
água e para a comida.
92
STAR INN
LISBOA
218 425 715
Aeroporto Internacional de
Lisboa, Rua C, 2 . €74
Junto ao aeroporto, este hotel en-
trega no check-in um kit de boas-
-vindas: bebedouros dobráveis para
transporte, uma manta e uma mala
para guardar tudo. Tal como os do-
nos, também os animais têm direito
a água e biscoitos à chegada.
QUINTA DAS MURTAS
Sintra • 219 240 246 • €47
Nesta casa de campo na ser-
ra dos palácios, os animais de
estimação têm tratamento a
condizer com a oferta de uma
tigela de comida e outra de
água. Pagam €10 por noite.
CERCA DESIGN HOUSE
Fundão • 275 759 060 • €113
Nos quartos ou nas villas
com piscina, os animais são
bem-vindos. Nos quartos há
limitação de peso (10 kg) e,
nas duas tipologias deste so-
lar remodelado, pagam, por
noite, €15.
MARRIOT
Lisboa • 217 235 400 • €104
Cães e gatos também usu-
fruem da vista do Marriot so-
bre Lisboa. Ficam no quarto
com os donos desde que te-
nham até 20 kg. Pagam uma
taxa de €20 por noite.
MONTARGIL MONTE NOVO
Ponte de Sor • 915 347 236 •
€88
Numa das moradias ou nos
quartos da Casa Redonda (o
edifício principal), podem fi-
car animais até 10 kg sob o
pagamento de um depósito de
€100 para cobrir eventuais
danos da propriedade.
25 NOVEMBRO 2020
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QUINTA DOS MACHADOS
Mafra • 210 993 332• €120
O bosque de 14 hectares da
quinta a meia hora de Lisboa
fica por conta dos cães e ga-
tos de estimação. No quarto
há uma tigela para a água,
outra para a comida e cada
bichinho paga €8 por noite.
BOEIRA GARDEN
Vila Nova de Gaia •
227 668 000 • €118
Com três hectares de jardins
históricos, nenhum animal de
estimação se sentirá enclau-
surado nesta unidade de luxo
citadina. À chegada, há um
miminho pet-friendly especial
(taxa extra de €50 por noite).
MOINHOS DE OVIL
Baião • 967 639 211 • €245
Autoproclama-se “o paraíso
perdido”, slogan que encaixa
nestes dois moinhos transfor-
mados em casas rústicas.
O aluguer de cada casa
é exclusivo e amigo de
animais de estimação.
NET ANIMAIS DOMÉSTICOS
A PREVENÇÃO É A MELHOR PROTEÇÃO
PARA O SEU AMIGO DE QUATRO PATAS
Seguro para animais da MAPFRE existe para lhe dar uma ajuda no dia a dia
Os nossos animais estão
sempre lá para nos estender
a pata, andam connosco para
todo o lado, animam-nos
quando estamos menos bem
e estão sempre disponíveis
para uma boa brincadeira. E
nós como retribuímos? Ali-
mentação, cuidados de saú-
de e bem-estar, passeios no
parque. Mas podemos fazer
mais!
Na MAPFRE Seguros conhe-
cemos bem as necessidades
destes companheiros leais e
sabemos que existem impre-
vistos que não conseguimos
controlar, mas também acre-
ditamos que alguns podem
ser evitados com um bom
plano de prevenção.
Como pode prevenir?
Protegemos os nossos ani-
mais de estimação fazendo
visitas regulares ao veteriná-
rio. Recomenda-se uma visi-
ta ao consultório de seis em
seis meses.
Seguro tem
uma linha
de apoio
de 24 horas
O cuidado com a alimentação
é também muito importante.
A ração deve ser adequada à
idade, porte e raça do seu ani-
mal. Evite dar restos de comi-
da. Tenha água limpa e fresca.
Atenção aos banhos. Esta-
mos nas estações frias e o
pelo molhado leva mais
tempo a secar. Os animais
também se constipam...
Não esquecer de ter a vaci-
nação do animal em dia.
Não existe um plano de va-
cinação transversal. Este é
definido de acordo com a
raça, idade e características
do animal. Por isso, é funda-
mental que seja seguido no
veterinário, que o orientará
neste planeamento.
Vantagens dos seguros
MAPFRE
Prevenir não tem de significar
mais despesas. Na MAPFRE o
seguro para animais, Net Ani-
mais Domésticos, existe para
dar uma ajuda no dia a dia,
sendo várias as vantagens dos
seguros MAPFRE. Aqui ficam
algumas:
Acesso a copagamentos
que representam reduções
diretas entre 30% e 50%
em todos os atos médico-
-veterinários;
Benefícios em serviços
prestados pela Rede de
Prestadores de Cuidados
de Saúde e Bem-Estar, a
nível nacional, que não
têm limites de idade, ex-
clusões ou períodos de
carência;
Linha de apoio 24 horas;
Descontos na aquisição de
produtos e serviços não clí-
nicos através da Rede de
Bem-Estar.
Como funciona?
Quando compra o seu se-
guro Net Animais Domésti-
cos é-lhe atribuído um car-
tão que dá acesso imediato
à rede de prestadores, na
qual só se paga o preço
convencionado através do
modelo de comparticipa-
ção direta nas despesas
médicas. De seguida damos
alguns exemplos práticos
para ilustrar como funciona
o seguro.
Se precisar de levar o seu
cão ao veterinário, basta
deslocar-se a um dos vete-
rinários da rede de presta-
dores AnimaDomus. Se a
consulta for em horário
normal e se se identificar
como segurado, a consulta
irá ficar no máximo em
12,50 euros.
Se o seu cão morder a vizi-
nha do lado. O seguro tem
uma cobertura de respon-
sabilidade civil que garante
eventuais indemnizações
que lhe podem ser exigidas
nestas situações. Por isso,
se ligar para a seguradora a
participar este acidente e
enviar as despesas ineren-
tes ao mesmo, será reem-
bolsado a 100% (desde que
o montante esteja dentro
dos limites de capital con-
tratados na apólice).
Por sua vez se for de férias
e não tiver onde deixar o
seu gato, usufrui de acesso
a descontos em variados
serviços como alimentação,
banhos, tosquias, grooming,
hotel, pet-sitting, dogwal-
-king e transporte. Isto si-
gnifica que basta dirigir-se
a um prestador da rede (ho-
tel) e terá acesso imediato a
um desconto que pode ir
até aos 20%.
Já se tiver as vacinas do seu
gato para pôr em dia, basta
ir a um prestador da rede e
pode sempre contar com
uma poupança imediata
entre 30% a 50%.
.
i
Pode fazer uma simulação
do seu seguro online em
(https://simulador.mapfre.pt/
netanimais), ou se preferir
por telefone (808 100 200)
ou através da rede
de mediadores ou nas lojas
MAPFRE Seguros.

AS COISAS
QUE NOS
DÃO MEDO
A
casa tinha dois pisos: um bom
e outro melhor. Se o de baixo
prometia o que as casas com
kitchenette prometem sempre
– muita farra com muita uva -,
o de cima parecia preparado
para que ali acontecessem coi-
sas que só acontecem no cine-
ma. Como recebia mais gente
no primeiro que no segundo
(nunca fui uma Tinderela),
guardo belas memórias de uma
sala que colava com a cozinha
em noites que colavam com os
dias. É desnecessário dizer que
a amizade, na juventude, é
como Super Cola 3, pelo que a
casa estava sempre cheia.
Quando estava vazia, aliás,
parecia que reclamava – era a
madeira que estalava, as tor-
neiras que chiavam e as portas
que batiam, mais sincronizadas
94
do que uma orquestra, porém
menos assustadoras que Schu-
bert. Numa travessa das anti-
gas, com as bebedeiras de fado
como vizinhas e a partilhar o
correio com um prédio aban-
donado, nenhum ruído me
assustava assim tanto.
Até ao dia em que, sem aviso,
uma barata. [Nota para a revi-
são desta crónica: a frase deve
terminar assim, de facto, por-
que (e quem tem medo de ba-
ratas sabe) quem tem medo de
baratas não sente necessidade
de encontrar verbos que aju-
25 NOVEMBRO 2020
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opinião
Bom gosto, mau feitio
ÂNGELA MARQUES
dem a explicar momentos vivi-
QUANDO ESTA- dos com uma barata. A cons-
ciência de que se partilha o pla-
VA VAZIA A neta com baratas é suficiente
CASA PARECIA para se ficar sem palavras.]
Àquela barata seguiram-se
QUE RECLA- outras, o que à distância não
MAVA – ERA A me espanta. Dava para ver,
pelo andar dela, que não era a
MADEIRA QUE primeira vez que ela atravessa-
ESTALAVA, AS va a minha sala. Ela estava
pronta para a guerra e traria re-
TORNEIRAS forços, como trouxe: além da
QUE CHIAVAM turma dela, acabaria por convi-
E AS PORTAS dar um ou outro rato fugido de
um prédio em obras e, por fim,
QUE BATIAM os turistas da Lisboa dos anos
2010/Covid-19.
Não me custa dizer que perdi
a guerra – perdi porque deixei
a casa, porque deixei o bairro e
porque nunca mais me deixei
descansar. Chamem-lhe stress
pós-traumático se quiserem,
mas não posso ver um borboto
pelo canto do olho que o meu
coração para. E acreditem se
puderem: acabei de ouvir um
trolley e voltei aos dias em que
Lisboa era o meu Vietname. W
O Natal é feito de histórias,
de saberes e sabores.
Este é o legado dos nossos produtores.

Presentes
de Oiro
O nosso oiro, na sua mesa de Natal.
Visite www.terrasdeoiro.pt
 SobreVinhos
UM ALENTEJO
NO FEMININO
Inovação e seleção norteiam o trabalho de Dorina
Lindemann na Quinta da Plansel, em Montemor-o-
-Novo. Acaba de renovar a marca mas a sua paixão
é a de sempre: castas portuguesas. Por Rita Bertrand
O ENÓLOGO DA CASA, Carlos
Ramos, já era fascinado pela
“quinta do alemão” em miúdo.
“Sempre tive curiosidade de sa-
ber o que se passava para lá dos
muros azuis”, conta à SÁBADO.
Nascido em Lisboa, foi morar
para Montemor-o-Novo aos 15
anos e, nas tardes de verão, ia lá
com os amigos, dar um mergu-
lho à pequena albufeira da pro-
priedade, embora o dono não
gostasse: “Volta e meia, apare-
cia a ralhar.”
O “alemão” era Jorge Böhm,
empresário de uma família com
800 anos, ligada ao vinho há
mais de 200, importando-os de
todo o mundo para o seu país
natal, que em 1976 comprou a
Quinta da Plansel. “O nome é a
combinação de ‘planta’ e ‘sele-
ção’, o foco do nosso trabalho”,
explica Dorina Lindemann, filha
de Böhm, hoje à frente da em-
presa há mais de 20 anos.
As filhas de Dorina, Luísa,
enóloga de 25 anos,
e Júlia, formada em
Marketing, com 28,
ajudam a mãe na
quinta
96
A HISTÓRIA
Era ainda criança quando o pai
comprou a quinta, portanto foi
na Alemanha que cresceu, com
a mãe, mas a ligação ao vinho
falava alto e, entre as férias em
Portugal, passadas entre a ade-
ga e as vinhas, e as histórias dos
negócios da família, descobriu
cedo o seu destino. Em 1989
entrou na prestigiada Universi-
dade de Geisenheim (Hessen),
em Enologia. Era uma de duas
alunas numa turma com 99 ho-
mens. “Foi o melhor tempo da
minha vida, nunca me senti dis-
criminada por ser mulher. Difí-
cil foi quando vim para o Alen-
tejo, onde nos anos 90 ainda se
andava de carroça e os homens
mandavam em tudo”, lembra.
Valeu-lhe o apoio do marido,
o alemão Thomas Lindemann
“Trabalhamos
com as outras
mas a minha
grande paixão
é a Touriga
Nacional, uma
casta fantástica”,
diz Dorina
Lindemann
(de quem enviuvou há 11 anos)
e a perseverança feminina: foi
com duas mulheres – Filomena
e Idalina, até hoje a trabalhar na
empresa – que pôs mãos à
obra, quando, em 1997, agarrou
na quinta e a quis modernizar,
tinha então 20 hectares de vi-
nha de 150 castas portuguesas
e uma adega pequena, que am-
pliou “com muito trabalho e
pouco dinheiro”, recorrendo
a material em segunda mão.
OS VINHOS
Com a chegada de Dorina, já
formada, a quinta cresceu para
80 hectares de vinha, plantada
muito a seu gosto. “Claro
que trabalhamos com
Aragonez ou Tinta
Barroca, mas a minha grande
paixão é a Touriga Nacional,
uma casta fantástica, que dá vi-
nhos elegantes, com notas de
violeta, femininas, mas também
de taninos fortes, masculinos”,
garante, orgulhosa dos mono-
varietais da casta, o primeiro
deles de 2001, quando ainda
era mal-amada no Alentejo,
tendo recentemente acrescen-
tado ao portfólio mais um, de
vinhas novas, fresco e jovem.
Outra novidade é o Plansel
Trincadeira, homenagem ao
marido: “Nunca gostei da casta,
é muito atreita a bactérias, não
me dava um vinho que me fi-
zesse feliz. Estive para arrancar
tudo, mas ele fez-me manter
um hectare. Dizia que daí a 12
anos ia dar grandes vinhos.
Tinha razão, ele aí está.”
Ao mesmo tempo, lançou o
Plansel Verdelho, casta rara no
Alentejo, onde há muitas parce-
las de Gouveio erradamente
classificadas com este nome.
Não é o caso da sua: “Lembro-

-me bem do temporal que apa-
nhei com o meu pai para sair do
Pico e trazer a primeira planta.”
Aqui, “cada vinho tem a sua
história”, afirma Dorina, e Car-
los Ramos, o enólogo residente,
tem a vida facilitada pela quali-
dade das uvas: “O trabalho pas-
sa por conhecer bem as castas e
fazer a melhor vinificação pos-
sível, em qualquer gama.”
São várias. Além dos vinhos
de topo com o nome de Dorina
e Plansel – recém-renovados
ao nível gráfico por Rita Rivotti,
porque, como conta Dorina, “os
rótulos anteriores eram horrí-
veis, fruto de inexperiência” –,
CARLOS RAMOS E
DORINA LINDEMANN
“É quase um casamento”, diz
Dorina Lindemann sobre a
união com o enólogo residen-
te Carlos Ramos, “que gosta
dos mesmos perfis de vinho e
sabe fazê-los”. Em 2001 ali
criou o seu primeiro vinho:
“Nunca tive outro emprego.
Vim estagiar, fiquei e estou
feliz. Aqui conseguimos fres-
cura até nas castas tradicio-
nalmente mais pesadas.”
25 NOVEMBRO 2020
www.sabado.pt
www.sabado.pt
Quinta idílica
com capela e
adega, a Plan-
sel alia enotu-
VINHOS
rismo a projetos A GAMA RECÉM-RENOVADA
científicos e
pedagógicos
BRANCO
PLANSEL
Gouveio, Viosinho e Arinto
em equilíbrio. Com estrutura.
€4,12
ROSÉ
PLANSEL
Tom carregado, suave e esti-
val. De Aragonez e Castelão.
o portfolio inclui referências €4,12
como Sweet Secrets, bem jovial,
Marquês de Montemor (ou só
Montemor, em bag-in-the-box
acima da média), Capela de VERDELHO
Santa Margarida, biológico com PLANSEL
o nome da capela do século XI De uma parcela especial,
que existe na quinta, e Al-Xam, é frescura pura com
um espumante surpreendente. aromas tropicais.
€5,66
O FUTURO
Além de apostar na pedagogia,
tendo projetos que associam o
enoturismo à aprendizagem,
“que estão parados por causa TINTO
da pandemia” e que passam PLANSEL
por parcerias com universida- Jovem blend de Touriga Na-
des, nesta quinta a investigação cional, Aragonez e Trincadeira.
faz parte do dia a dia: tem vivei- €4,12
ros de vinha e estão em marcha
microvinificações e enxertos,
como os que ligam castas na-
cionais à nova (e revolucioná- TOURIGA
ria) Defensor, que protege as
plantas de fungos e escaldões.
NACIONAL
PLANSEL VINHAS NOVAS
O futuro, esse, está assegura- Ideal para conhecer os aromas
do pelas filhas de Dorina. Luísa da casta, sem disfarces.
Lindemann, que aos 17 anos já €5,54
acompanhava os trabalhos na
adega, criou um néctar de edi-
ção limitada com o seu nome
e um vinho do Porto na Alema-
nha – onde estudou Enologia, TRINCADEIRA
“por paixão” – e tem outras PLANSEL (HOMENAGEM
ideias para a quinta; e a irmã, AO THOMAS)
Júlia, ajuda no Marketing. “É a Um tinto cheio de garra, com
minha companheira nas provas apontamentos de chocolate.
internacionais”, diz a mãe. W €5,65
97
 Séries
Os Rose a
mostrarem
como não
se deve ir
vestido para
um motel
HÁ PIADA PARA
LÁ DOS PRÉMIOS?
Porque é que nunca ouvimos falar de Schitt’s Creek até à última edição dos Emmy?
A série de comédia canadiana fez o percurso que tinha a fazer até à coroação final.
Chega, finalmente, a Portugal, através da TVCine. Por André Santos
ESTÁ A VER aquela série que
costuma ver, da qual gosta
muito e sobre a qual fala aos
amigos mas a que ninguém
presta muita atenção porque
não é “conhecida”? E aquela
série que é vista por milhões
pelo mundo, mas que não
ganha nada, porque há outra
qualquer do momento que
limpa os prémios todos da
crítica, está a vê-la? Claro
que está.
Por vezes, há uma noite em
que, seja por chegar ao fim,
por ter tido uma temporada
especialmente boa para a
grande audiência ou por outra
razão indecifrável, essa série
98
ganha vários prémios ou ven-
ce todas as categorias para
que estava nomeada. Aconte-
ceu com Schitt’s Creek, que
era relativamente desconheci-
da até 20 de setembro de
2020, dia em que arrecadou
nove Emmy, sete deles na
categoria de comédia, sendo
a primeira série do género a
vencer em todas as categorias.
O que houve de especialmente
curioso nisso?
A resposta é simples: a sit-
com conseguiu isto à sexta –
e última – temporada. Porquê
tanto tempo depois, pergun-
tar-se-á o leitor? Enfim, pode-
ríamos chamar-lhe a longa
estrada do reconhecimento –
e culpar a Netlix pelas pedras
no caminho. Analisemos o fe-
nómeno por partes: Schitt’s
Creek chegou finalmente a
Portugal, a 19 de novembro,
aos canais TVCine. Todas as
quintas-feiras, pelas 22h10, há
um novo episódio no TVCine
Emotion.
A 20 de setem-
bro de 2020,
Schitt’s Creek
arrecadou nove
Emmy, sete de-
les na categoria
de comédia. Foi
a primeira série
do género a
vencer todas
as categorias
A base da família Rose, cen-
tro da série, é o clássico con-
ceito de família disfuncional.
Nesse aspeto, Schitt’s Creek
deve tanto a Arrested Deve-
lopment como Modern Fa-
mily, mas por ser de uma
produção canadiana, corre
mais riscos que as atuais si-
tcoms norte-americanas. E é
um pouco por aí que Schitt’s
Creek começa a pegar – não
por ser especialmente diver-
tida, mas por ser um desafio à
produção por algoritmo que
estraga muitas das séries de
comédia atuais (sobretudo as
de streaming).
A base de Schitt’s Creek é,
contudo, banalíssima. A famí-
lia Rose é disfuncional, carac-
terística quase fundamental
quando se apresenta uma fa-
mília numa comédia de pe-
queno ecrã. São donos de um
pequeno império conseguido
através de clubes de vídeo
(velhos tempos!), que se des-
morona por culpa de um
gestor trafulha.
SCHITT’S
CREEK
• TVCine Emotion
• 5.ª, 22h10
 25 NOVEMBRO 2020
www.sabado.pt
www.sabado.pt

Schitt’s Creek
foi criada por
Schitt’s Creek foi criada por
Eugene Levy e Dan Levy, pai e
filho, que também são pai e fi-
lho na série. O pai está a tentar
perceber como pode dar um
novo rumo à família; o filho é
um jovem adulto mimado que
não sabe viver de outra forma
além da que conheceu até en-
tão. Sobram mãe, interpretada
2
+ESTREIAS
FLIGHT ATTENDANT
O retorno de Kaley Cuoco,
de A Teoria do Big Bang,
Eugene Levy por Catherine O’Hara (a mãe dá-se com este título
e Dan Levy, de Sozinho Em Casa), que en- da HBO que estreia a 26
que são pai
e filho na sé- cara a nova vida como se ti- e mostra como a vida pode
rie. A mãe é vesse sido atropelada por um mudar. Cuoco é a comissá-
Catherine comboio, e a filha, interpreta- ria de bordo Cassandra,
O’Hara da por Annie Murphy, que ex- que, um dia, acorda num
periencia um engraçado pro- quarto de hotel no Dubai
cesso de negação sobre o que sem memórias da noite
O que fazer quando se fica se está a passar nos primeiros anterior e um cadáver
pobre? Vai-se viver para uma episódios da série. ao lado.
pequena cidade – Schitt’s Como se explica então o su-
Creek – que se comprou por cesso de Schitt’s Creek? Talvez
piada há umas décadas. Os ri- seja por isso que ela é tão es- 30 MONEDAS
cos agora são pobres e têm de A série, tranha e depois se entranha. Estreia a 29 de novembro
viver numa cidade de que são desconhecida E que o facto de ter entrado no e é também mais uma
donos, mas na qual nunca de muitos catálogo da Netflix em 2017 aposta em língua espanho-
puseram os pés. Expulsa de em Portugal, ajudou a um boca a boca que la: com Miguel Ángel
um palácio, a família vai viver chegou ao catá- engrandece sempre as séries, Silvestre (que conhece
num motel, em dois quartos logo da Netflix tornando-as fenómenos. de Sense8, da Netflix),
contíguos minúsculos, com Schitt’s Creek é um fenómeno acompanha o Padre Verga-
uma comunidade à volta que
em 2017, mas que, agora, pode ser visto ra, um pároco exorcista,
não a quer abraçar. apenas para os pelos portugueses. W pugilista e exilado
subscritores dos pelo Vaticano,
Estados Unidos implicado numa
da América conspiração global.

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 Música
VAI UM ELECTROROCK
COM TOQUE ORIENTAL?
No seu 16.º álbum em oito anos, K.G., os King Gizzard & the Lizard Wizard, magos
australianos da música camaleónica, debruçam-se mais uma vez sobre a afinação
microtonal. É para “quebrar a monotonia”, diz o baixista. Por Pedro Henrique Miranda
OUTRORA PARTE DA VAGA
de psicadelismo australiano
que varreu o mundo no início
da década, os King Gizzard &
the Lizard Wizard podem hoje
dizer que conquistaram o seu
espaço no panorama interna-
cional. Deram-se a conhecer à
boleia da onda iniciada pelos
Tame Impala de Kevin Parker,
mas o sexteto de Melbourne
não tardou a demarcar-se de
grupos como os Pond ou os
Jagwar Ma, e não apenas pelo
seu excecional ritmo de traba-
lho: em apenas oito anos, aca-
bam de lançar o seu 16º álbum
de estúdio, K.G.
Como se não bastasse esta
produtividade, os King Gizzard
tornaram-se, como quase nin-
guém no panorama musical
atual, adeptos de procurar for-
mas progressivamente mais
complexas de transgredir os
seus limites. Eyes Like the Sky
(2013) é um “audiobook wes-
tern psicadélico” com narra-
ção do início ao fim; Quarters!
(2015) está dividido em quatro
partes iguais de exatamente 10
minutos e 10 segundos; e No-
nagon Infinity (2016) é com-
posto de nove faixas interliga-
das num ciclo eterno.
Pelo caminho, aperfeiçoa-
ram a arte de incorporar dife-
rentes vertentes do rock – do
mais malemolente surf rock à
robustez do thrash metal, pas-
sando pelo rock progressivo,
jazz fusion, boogie e até ópe-
ras rock – mantendo, em si-
100
Depois de Flying
Microtonal
Banana, de 2017,
os King Gizzard
& the Lizard
Wizard explo-
ram novamente
a afinação
microtonal
no novo K.G.
multâneo, a sua sonoridade
característica. Hoje, são tão
conhecidos pela multiplicida-
de do seu vasto catálogo
quanto pelos dinâmicos e
enérgicos concertos ao vivo,
que trouxeram a Portugal, por
exemplo, nos festivais NOS
Primavera Sound e Vodafone
Paredes de Coura.
Por telefone, o baixista Lucas
Harwood afirma: “A melhor
qualidade dos Gizzard é ser-
mos livres para nos expressar-
mos como quisermos”. Conta
que “a banda é tão versátil e
abrangente que qualquer pes-
soa pode trazer o que quiser,
e damos-lhe uma hipótese” –
foi essa “a nossa regra desde
o início: não há regras”.
Em 2017, impuseram-se a
tarefa hercúlea de lançar, até
ao fim do ano, cinco álbuns de
originais (que cumpriram com
excelência) e é aí que começa
a história deste seu 16º traba-
lho, editado quase quatro anos
depois. É que o primeiro des-
tes discos de 2017, Flying Mi-
crotonal Banana (FMB), intro-
duziu mais uma nova compo-
nente, a música microtonal, e
K.G., subintitulado “Explora-
ções à Afinação Microtonal,
Vol. 2”, é a sequela direta des-
sas experiências.
O interesse no estilo come-
çou quando Stu Mackenzie,
vocalista e principal composi-
tor da banda, “trouxe da Tur-
quia um baglama, uma espécie
de alaúde com trastes microto-
nais, e escreveu algumas can-
ções nele”. A banda decidiu in-
vestir na experiência: “Modifi-
cámos as nossas guitarras elé-
tricas para passar o som pelo
‘filtro Gizzard’.” O primeiro
single de FMB, Rattlesnake,
é um bom exemplo.
A música em questão, carac-
terística dos países árabes
mas pouco praticada no Oci-
dente, subdivide os intervalos
mínimos entre os tons que
normalmente se encontram
K.G.
• Ed. Flightless
Records
€12
 25 NOVEMBRO 2020
www.sabado.pt
www.sabado.pt

Conhecida atra-
vés da vaga de
rock psicadéli-
co australiano
iniciada pelos
Tame Impala,
a banda salien-
tou-se com o
ritmo alucinan-
te de lançamen-
tos e a diversi-
dade de estilos

Estreando- em instrumentos como a gui-

-se em tarra ou o piano – entre o mi
2012 com e o fá, ou o ré bemol e o ré.
12 Bar Lucas Harwood conta que é
Bruise, o
sexteto de uma boa forma de “quebrar a
Melbourne monotonia”: “Quando pegas
já lançou no mesmo instrumento há
16 álbuns anos, corres o risco de ficar
encravado, mas um instru-
mento microtonal presta-se
a diferentes afinações e abre
novas possibilidades”.
Só que, ao passo que em
FMB se serviram apenas das
guitarras, neste descobriram
“que há uma série de instru-
mentos eletrónicos que se po-
dem afinar desta forma, mes-
mo alguns sintetizadores dos
anos 80”. Daí que este volume
2 das explorações à microto-
nalidade esteja “bem mais
preenchido de sons eletróni-
cos e sintetizados”, uma esté-
tica facilitada, também, pelo
contexto pandémico.
“O início do disco ainda foi
gravado em conjunto, em pe-
quenos grupos, mas a maior
parte de K.G. foi feita já em iso-
lamento, com cada um a gravar
coisas em casa e a contribuir
com pequenos pedacinhos”,
conta o baixista. Isso “inclinou o
disco para a sonoridade eletró-
nica”, encontrada, por exemplo,
em Some of Us, “mas também
acústica”, como em Honey ou
Straws in the Wind, canções
que “mal podemos esperar para
experimentar ao vivo”. W
D.R.

101
 Teatro
A VIDA ANTES
DE REI LEAR
Uma “homenagem ao teatro e a Shakespeare”, Prelúdio
ao Rei Lear é uma comédia que leva os bastidores à ribalta,
com Rui Mendes no papel principal. Por Pedro Henrique Miranda
HÁ POUCOS PAPÉIS tão
cobiçados no teatro quanto
o principal do Rei Lear de
Shakespeare, em torno do
qual muita mitologia se tem
criado nos séculos desde a
primeira interpretação. Mas
o dramaturgo Ferenc Molnár,
“uma espécie de Molière da
Hungria”, que o encenador
Rodrigo Francisco descobriu
depois de uma companhia
francesa ter trazido a sua
mais famosa peça, Liliom, a
Portugal, foi mais longe: criou
uma “peça antes da peça”,
uma dramatização do que te-
riam sido os momentos antes
de uma encenação da tragé-
dia shakespeariana. É ela Pre-
lúdio ao Rei Lear, que a Com-
panhia de Teatro de Almada
apresenta até 6 de dezembro.
A peça gira em torno de
Brandão, ator que interpreta o
Rei Lear, interpretado por Rui
Mendes – nas suas palavras,
“um bon vivant que anda
sempre atrás das mulheres e
que, uma hora antes do início
do espetáculo, é surpreendido
pelo marido de uma delas”
nos bastidores do teatro, que
busca a desforra. Só que,
como explica o encenador,
“o marido é um professor uni-
PRELÚDIO
AO REI LEAR
TEATRO JOAQUIM
BENITE, ALMADA .
Até 6/12 • 3.ª a 6.ª 21h; a
partir de 23/11, 3ª a sáb.
21h, dom. 16h €13
102
Rui Mendes
interpreta
Brandão,
protagonis-
ta de uma
encenação
de Rei Lear
versitário que ensina Shakes-
peare” e que não se vê capaz
de matar o “Rei Lear” – Bran-
dão, já caracterizado para dar
início à peça. O que se segue,
nas palavras de Rodrigo Fran-
cisco, “é um enredo típico da
escola de comédia francesa
do século XIX”, que contrasta
bastante com a tragédia do
próprio Rei Lear.
No fundo, a oposição “foi
aquilo que mais interessou”
à companhia ao abordar este
texto: a “reflexão metateatral
de ter uma peça dentro da
peça”, uma estratégia, lembra,
inaugurada pelo próprio
Shakespeare. “O Brandão uti-
liza tiradas do Rei Lear para
se defender, pegando em ver-
sos trágicos e utilizando-os
em situações cómicas”, o que
25 NOVEMBRO 2020
www.sabado.pt
www.sabado.pt
A personagem e a Shakespeare”, o “maior
de Rui Mendes dramaturgo que a nossa civi-
está prestes a lização conheceu”.
entrar em palco Porém, ao fazer dos bastido-
res o epicentro da ação, o texto
para interpretar torna-se também uma “decla-
Rei Lear quando ração de amor às personagens
o marido de invisíveis do teatro” – “técni-
uma das suas cos, apoiantes de camarim ou
amantes surge cabeleireiros”, que defendem
em busca de Brandão para “dar um baile
vingança teatral a este marido traído”.
Ao longo de toda a peça,
em cena no Teatro Municipal
Joaquim Benite, em Almada,
resulta, na opinião do ence- o público está sentado “não
nador, “numa reflexão muito nas cadeiras do teatro, mas
moderna sobre a realidade e nos bastidores e em cima
a ficção, sobre a relação entre do próprio palco”, para que
o teatro e a vida, que Molnár se transmita também “a
dizia serem indissociáveis”. efervescência que se vive
Para Rui Mendes, constitui nos bastidores, numa noite
uma “homenagem ao teatro de estreia”. W

Teatro
ATOR
PERSONAGEM
Por Rita Bertrand
Diogo Infante já fez de
Hamlet, foi duas vezes
Edmundo em Rei Lear,
entrou num par de
versões de Romeu e
Julieta e agora volta
a Shakespeare como
Ricardo III, o monarca
sanguinário. A peça
estreia a 26 de novem-
bro no Teatro da
Trindade, em Lisboa
P
Ricardo III
PARA MELHOR mostrar um homem
maquiavélico, dominado pela febre
de ambição, Shakespeare tornou-o
pior do que na realidade foi: quarto
na sucessão ao trono e tio do seu
antecessor, entretanto considerado
ilegítimo e desaparecido, tal como
o irmão, Ricardo III reinou num
tempo de lutas dinásticas (conhe-
cidas como Guerra das Rosas),
desde 1483 até morrer, em 1485,
na Batalha de Bosworth Field, que
substituiu a Casa de York pela dos
Tudor à frente de Inglaterra.
Na peça, negra, mordaz e visce-
ral, é fisicamente deformado – feio,
corcunda e coxo, embora não haja
&
25 NOVEMBRO 2020
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A Diogo Infante
É UM CASTING inesperado. “Nunca
me tinha passado pela cabeça in-
terpretá-lo”, confessa à SÁBADO o
lado do texto, que surge condensa-
do (em vez das quatro horas habi-
tuais, a peça tem apenas 1h45),
ator, encenador e atual diretor artís- numa dramaturgia de Maria João
tico do Teatro da Trindade, reconhe- da Rocha Afonso: “É inevitável, num
cido galã. Porém, quando a amiga ator fascinado pela palavra, como
Natália Luíza lhe disse, há dois eu, voltar a Shakespeare, e progra-
anos, “tu devias era fazer o Ricar- má-lo, como diretor, para mostrar
do”, a vontade despertou: “Entre- às novas gerações e por ser garan-
tanto vi duas versões em Londres tia de qualidade. Mas também quis
e apercebi-me do desafio. Esta per- arriscar, até pela questão física.”
sonagem obriga-me a sair da mi- Sem se “atrever a ficar em auto-
nha zona de conforto.” Não pelo gestão” na empreitada”, para o diri-
gir “numa interpretação diferente,
com outra abordagem, outro ritmo”,
convidou Marco Medeiros, “mais
jovem e com um olhar fresco”.
PEDRO MACEDO
evidência histórica de que o tenha
sido – e ascende ao poder à custa
de muito sangue. Contudo, ao
mesmo tempo, vai manipulando e
encantando meio mundo com “fali-
nhas mansas”, que fazem dele,
como refere Diogo Infante, “um vi- RICARDO III
lão adorável, atraente, como o as- TEATRO DA TRINDADE,
LISBOA
sassino da série Dexter, perverso De 26/11 a 31/1/2021
mas delicioso, de quem o público (exceto 23 a 25/12 e 30/12 a 1/1)
será testemunha e cúmplice” a par- • 4.ª a sáb., 20h30 Dom., 16h30
• €8 a €18
tir de 26 de novembro no Trindade Ensaio solidário na 4.ª, 25/11,
(ou logo no ensaio solidário, a 25). 20h30: €10
103
 Livros

6
TERMINOU a especulação em
torno da identidade de Elena
Ferrante, pseudónimo de Ani-
NOVIDADES A TER
(MESMO) EM CONTA
O crítico da SÁBADO analisou os livros mais recentemente edita-
dos em Portugal e fez uma seleção de imperdíveis, que inclui os
regressos de Elena Ferrante e Salman Rushdie. Por Eduardo Pitta

A autora de A
seis ensaios e 10 textos “apó-
crifos” sobre a cultura dos Paí-
ses Baixos. Com enfoque nos
A obra de
Rushdie já
conheceu
melhores dias,
ta Raja (n. 1943), mas não o costumes da Holanda dos sé- diz o crítico,
ritmo de publicação. Agora Amiga Genial culos XVI e XVII, o ensaio que que reconhece
traduzido, A Vida Mentirosa regressa aos te- dá título ao conjunto disseca a o autor como
dos Adultos mantém a exube- mas da tetralo- biografia e a obra homónima “grande voz”
da literatura
rância descritiva da sua ficção. gia que a cele- de Johannes van der Beeck, o
de língua
Quem leu a tetralogia A Amiga brizou: Nápoles, pintor que passou à história da inglesa
Genial sabe do que falo. De- conflito de clas- arte como Torrentius: foi con-
nominador comum à obra ses, a experiên- denado à fogueira por perten-
precedente: Nápoles, conflito cer à Rosa-Cruz, uma socieda-
de classes, a experiência das
cia das mulhe- de secreta, mas a repercussão
mulheres, a perversidade das res, a perversi- internacional do veredicto va-
dade das rela-

DAVID LEVENSON/GETTY IMAGES

relações familiares. Giovanna leu-lhe o exílio na corte ingle-
mente aos pais, coisa que am- ções familiares. sa. Deveras estimulante.
bos fazem com ela. Um ro- Não é um livro Traduzidos diretamente do
mance sobre o poder e as amável russo por Nina e Filipe Guerra,
consequências da mentira? De chegaram a Portugal os contos
certo modo, sim. Aos 12 anos, que Ivan Búnin (1870-1953)
ouvindo o pai dizer à mãe que
a filha “está a ficar com a cara
de Vittoria” (a tia malvada),
descobre-se feia. A partir daí,
todo o plot gira em torno da
aversão que julga causar. O
aspeto mais interessante é o
confronto entre a “rudeza” dos
bairros populares e a “respei-
tabilidade” da cidade burgue-
sa. Não é um livro amável, o
que também não se esperava.
Uma nova tradução do pola-
co Zbigniew Herbert (1924-
-1998) traz de volta um autor
central à cultura europeia. Na-
tureza Morta Com Brida colige TERRA ALTA A VIDA ALAMEDAS
Porto Editora MENTIROSA ESCURAS
€17,70 DOS ADULTOS Ed. Dom Quixote
Ed. Relógio d’Água €18,90
€18

104

QUICHOTTE
Ed. Dom Quixote
€19,90
Quichotte, inspi-
rado no clássico
de Cervantes,
acompanha um
“viajante de
origem indiana”
na América
atual, tem rea-
lity shows e ou-
tro livro dentro
escreveu durante o exílio em
França e reuniu em Alamedas
Escuras. Famoso pelo seu diá-
rio, Os Dias Malditos (1926),
Búnin ganhou o Nobel da Lite-
ratura em 1933, antes de qual-
quer outro russo e quando, ao
contrário do que hoje sucede,
estava longe de ser célebre. O
amor e a natureza dominam a
obra, embora a condição de
émigré, bem como as mudan-
ças ocorridas na Rússia pré e
pós-1917, estejam sempre pre-
sentes. Esta edição inclui pre-
fácio de Tatiana Mártchenko.
Quem acompanha a literatu-
ra espanhola reconhece a im-
portância de Javier Cercas (n.
1962) e sabe que um dos seus
traços distintivos radica no
NATUREZA O CÂNONE hábito de inserir aconteci-
MORTA COM Ed. Tinta da China mentos reais na trama ficcio-
BRIDA €29,90
Ed. Cavalo de Ferro nal. Terra Alta não é exceção.
€15,49 Com ação na comarca de Ter-
25 NOVEMBRO 2020
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ra Alta, o protagonista, “mosso
d’Esquadra” com passado pro-
blemático, tem um crime nas
mãos. O thriller não ignora os
atentados islâmicos de Barce-
lona, o referendo catalão de
2017 e a Guerra Civil. Longe
do seu melhor, Terra Alta ga-
nhou o Prémio Planeta 2019.
Mais de 30 anos depois da
fatwa decretada pelo aiatola
Khomeini, Salman Rushdie (n.
1947) continua a ser uma das
grandes vozes da literatura de
língua inglesa. Cervantes deu
o tiro de partida, mas Quichot-
te, o livro mais recente de
Rushdie, faz vénia ao surrea-
lismo, sem esquecer Voltaire e
Ionesco. O “viajante de origem
indiana” que atravessa a Amé-
rica radiografa o caos atual.
Com reality shows no centro
da intriga, Quichotte tem outro
livro dentro, modo de ilustrar,
em dois andamentos, o des-
concerto do mundo. Miss Sal-
ma R., “estrela de uma dinastia
de estrelas”, que o assina, não
é senão o próprio Rushdie. Di-
gamos que a obra do autor já
conheceu melhores dias.
Organizado por António M.
Feijó, João R. Figueiredo e Mi-
guel Tamen, saiu O Cânone.
A partir de autores nascidos
entre 1391 (o Rei D. Duarte) e
1939 (Luiza Neto Jorge), os três
editores, o historiador Rui Ra-
mos e 22 ensaístas, escrevem
sobre 47 autores, as Três Ma-
rias, poetas laureados, revistas
e críticos. Entre outros textos,
Feijó assina a introdução, Ta-
men escreve sobre a lógica in-
terna do livro, Anna M. Klo-
bucka sobre mulheres na lite-
ratura, Figueiredo sobre escri-
tores homossexuais, etc., num
“livro de crítica literária para
nos fazer pensar sobre a lite-
ratura portuguesa”. Meia dúzia
de omissões geraram polémi-
ca, assente, como de regra, em
clubismo. Tudo visto, o saldo
é deveras positivo. W
105
 Carros
QUEM
PRECISA DE
ESTRADAS..
... quando tem o novo Land Rover Defender? O ícone
do todo-o-terreno reinterpretado e atualizado para
o século XXI já rola por aí, tão imparável fora do alca-
trão como confortável e elegante numa autoestrada.
Por Markus Almeida
MAIS DE 70 ANOS depois de
os primeiros Land Rover terem
começado a circular por estra-
das britânicas — e, depois, por
caminhos lamacentos, desertos
e montanhas um pouco por
todo o mundo —, aí está, final-
mente, a atualização para o
século XXI de um ícone das
aventuras em todo-o-terreno.
Já era tempo. Afinal, desde o
início dos anos 80 que não se
registavam novidades rele-
vantes neste modelo da marca
britânica (Jaguar Land Rover),
que é também responsável
pelos Land Rover Discovery e
pela gama Range Rover (além
dos Jaguar), e desde 2016 que
nenhum Defender saía da fá-
brica. O evoluir das regras de
segurança e limites cada vez
mais restritos às emissões po-
luentes assim o ditavam. A de-
cisão, tomada pelo então CEO
Ralf Speth, foi de parar, bara-
lhar e dar de novo.
Neste caso, dar de novo si-
gnificou voltar a pôr nas estra-
das um carro que vai a qual-
quer lado e que é capaz de
tudo. Essa sensação de inven-
106
cibilidade é uma das sensa-
ções de quem vai ao volante
deste colosso que dá vontade
de sair para comprar tabaco
e só parar em Dakar.
Na versão Defender 110
(como nas fotos) são quase
dois metros de altura (num se-
máforo, ao lado de um auto-
carro, a posição de condução
tem a mesma elevação da de
um motorista da Carris), cinco
metros de comprimento (a
contar com a roda suplente
presa na porta traseira, respei-
tando o cânone Land Rover)
e dois metros de largura.
Debaixo do capô mora um
motor a gasolina de três litros
com 400 cavalos de potência
e transmissão automática de
oito velocidades às quatro ro-
das. Tanta potência serve para
que ao Defender não faltem
A traseira
vertical ho-
menageia a
a silhueta
clássica do
Land Rover
O novo Land pernas para ultrapassar desa-
Rover Defender fios, mas também faz com que
pega no legado este gentil gigante (2,4 tonela-
histórico do das) acelere até aos 100 km/h
em 6,1 segundos.
original e trá-lo O adjetivo “gentil” não surge
para o século aqui por acaso. É que se por
XXI com eficá- causa das suas habilidades
cia, elegância off road a reputação de bruto
e um sentido de vem de longe – de 1948 –, a
liberdade quase nova versão acrescenta-lhe
sem igual uma faceta inédita, ou três:
tecnologia de ponta, conforto
e um andamento em estrada
livre tão suave que parece de-
safiar as leis da física.
Mantendo o pé leve é possí-
vel conseguir consumos abai-
xo de nove litros aos 100 qui-
 25 NOVEMBRO 25 NOVEMBRO 2020
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O sistema superlativo de conforto e bom ver Defender pega no legado

Terrain
Response gosto, é dominado por couro, do original e trá-lo para o sé-
2 permite alumínio, plásticos duros e culo XXI com eficácia, elegân-
ao condu- borrachas. cia e um sentido de liberdade
tor perso- O Land Rover Defender 110 quase sem igual. E é um pouco
nalizar (cinco portas) está disponível a como os superdesportivos que
a resposta
a qualquer partir de 82 mil euros em qua- encontramos a respeitar os li-
tipo de tro packs (Explorer, Adventu- mites de velocidade: poucas
terreno re, Country e Urban). A versão vezes atingem a velocidade
três portas (conhecida como o para que foram desenhados,
Defender 90) tem menos 40 mas os seus donos sabem que,
lómetros. É mesmo a única Se visto de frente pode não cm e começa nos 76 mil euros. se quiserem, podem. No caso
maneira de não alcançar os ser óbvio que se está a olhar Esta, tirando alguns centíme- do Defender, ainda que uma
dois dígitos, porque a circular para um Land Rover Defen- tros e euros de diferença, é em expedição ao coração de Áfri-
na cidade, a subir montes ou der, é de lado, e sobretudo vis- tudo igual à versão maior. ca possa não estar na agenda
a percorrer trilhos lamacentos, to de trás, que se revela a sua Em suma, o novo Land Ro- de quem o compre, é recon-
facilmente o computador de silhueta de sempre, com om- fortante saber que usar estra-
bordo indica valores próximos bros musculados e uma trasei- das é só uma opção. W
dos 20 litros. ra vertical a 90o. O habitáculo,

107

BLANKY
www.blanky.pt •
€139 a €239
QUEM QUER
DORMIR
MELHOR?
Um cobertor promete aca-
bar com as noites mal dor-
midas, que resultam em
ansiedade, que resultam
em noites mal dormidas
ENVELHECER é enternecedor:
aquilo que, com meio metro,
odiávamos com todas as forças
é aquilo por que, hoje, daríamos
um mindinho. Nesse ranking,
para esta que vos escreve, dor-
mir muito e bem está lá em
cima. Por isso, a promessa de
um cobertor milagroso soou-me
a Natal antecipado.
A entrega estava marcada e o
combinado era que, em caso de
desencontro, o Blanky (que pro-
porciona um sono mais descan-
108
sado, devido à aplicação do
método deep touch pressure,
que gera uma pressão localizada
nos músculos e ajuda o corpo a
relaxar – como uma massagem
–, promovendo a criação de se-
rotonina e a redução dos níveis
de cortisol) seria deixado à mi-
nha porta. Assim foi e foi assim
que a experiência começou.
provador
Pegar na caixa do Blanky foi
como me inscrever no crossfit e
começar logo a suar. O peso da
embalagem era impressionante
– mas não tanto quanto a ad-
vertência que as suas instruções
de uso traziam: “É normal que
tenha dificuldades em dormir na
primeira noite.” Esmoreci: e o
meu milagre? Nessa noite, per-
25 NOVEMBRO 2020
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cebi o que me queriam dizer os
criadores do Blanky. Talvez por
ser composto de algodão orgâ-
nico mas também de grão de
areia de vidro tratado, aquele
cobertor pesava-me no corpo
como um camião TIR e aque-
cia-me a cama como se pla-
neasse fazer dela um franchise
do inferno. Não desisti e já levo
uma semana de experiência. Se
envelheci, não dei conta: tenho
dormido como um bebé.
ÂNGELA MARQUES TEXTO
NUM ANO DIFERENTE,
A AGROVOUGA
CONTINUA CONSIGO!
EDIÇÃO ONLINE EM:
www.agrovouga.pt
 Passatempo
Opinião

por Inspector Fidalgo

INVESTIGAÇÃO CRIMINAL

UMA GOTA DE SA
COMO REFERIMOS ANTE-
RIORMENTE, AS MAN-
CHAS DE SANGUE SÃO
UM DOS INDÍCIOS MAIS
IMPORTANTES NA IN-
VESTIGAÇÃO CRIMINAL,
pelo imenso manancial de infor-
mações que podem transmitir,
desde logo quanto ao tipo de san-
gue, à origem, ao tempo de exposi-
ção ao ar, mas também, acrescen-
tamos agora, quanto às circuns-
tâncias em que a mancha se pro-
duziu, sob a forma de pingas.
É usual, no local do crime ou nas
suas imediações, muitas vezes a dis-
tâncias consideráveis, haver rastos de
sangue, principalmente quando há um
ferimento que não impede a vítima de
se deslocar, ou, quando a vítima é
transportada pelo agressor.
Muito embora, como já referimos, a
identificação de uma mancha de san-
gue se faça, na maioria das vezes, pela
análise dos componentes que a cons-
tituem, muitas vezes é o seu aspeto
morfológico que fornece indicações
importantes sobre o modo como a
mancha se formou e, por consequên-
cia, para o esclarecimento das cir-
cunstâncias em que ocorreu o crime.
Assim acontece, por exemplo, com
as manchas originadas pela projeção
ou queda de gotas de sangue. O estudo
dos contornos da mancha permite, em
muitos casos, determinar a altura da
queda livre da gota, bem como o ân-
gulo da queda, permitindo assim cal-
cular a posição da vítima.
De uma forma genérica, de uma gota
de sangue pode-se concluir:
1 A altura de que o sangue caiu;
2 Se a pessoa que a perdeu estava
em andamento ou imóvel;
Figura 1
3 Se o sangue foi sacudido ou sim-
plesmente caiu pela força da gravi-
dade;
4 Se a superfície sobre a qual caiu
era horizontal, oblíqua ou vertical.
Da mesma forma, são múltiplas as
ASPETOS DE UMA indicações que se podem obter em su-
GOTA DE SANGUE cessões de gotas de sangue, podendo
Como exemplo e porque é a situação ser medida a velocidade de desloca-
mais vulgar, vejamos uma gota de ção, o plano onde caem, etc.
sangue que caia numa superfície A figura 2 dá-nos uma ideia da mul-
plana e horizontal, não absorvente e tiplicidade de possibilidades que uma
que terá um aspeto semelhante ao simples gota de sangue pode fornecer
da figura 1. ao investigador.
Uma mancha concentrada, mais ou
menos circular, da qual irradiam laivos
em todas as direções.
Conforme a altura de queda, assim a
mancha se apresentará. Quanto mais
alta a queda, maiores serão os laivos e
menor será o seu núcleo central.
Mas há muitas outras representa-
ções, de gotas caindo de um corpo em
movimento sobre superfície horizontal
ou oblíqua; de um corpo imóvel sobre
uma superfície oblíqua; de um ponto Figura 2
móvel sobre superfície inclinada, etc.

110
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TORNEIO SÁBADO

ANGUE
POLICIÁRIO 2020
Enquanto decorre o prazo para
envio das propostas de solução
dos dois últimos desafios deste
ano, que vai decorrer até ao dia
30 de novembro, para lumago-
pessoa@gmail.com ou, por via
postal, Luís Pessoa, Estrada Militar,
23, 2125-109 Marinhais, recorda-
mos aos nossos detetives que os
resultados da prova n.º 9 já se en-
contram disponíveis no blogue SÁ-
BADO POLICIÁRIO, em sabadopo-
Por se tratar de um assunto de muito ao microscópio, revelando bastantes liciario.blogspot.com.
interesse para qualquer investigador, células de colostro, que não é mais do Em breve, teremos notícias do que
mas que requer uma disponibilidade que gordura. Estas manchas poderão vai ser a próxima época policiária,
mais específica, guardaremos para um ser importantes em casos de infanticí- que vai ter como centro a vida e a
momento mais adequado o desenvol- dio ou relacionados com abandono de obra do Sete de Espadas, o maior
vimento do tema. recém-nascidos. divulgador desta nossa atividade
Por agora, a intenção é dar aos dete- lúdica, que tanto contribui para a
tives a nota de que não há pormenores MANCHAS DE MECÓNIO saúde das nossas células cinzentas,
que possam ser desprezados, nem que E LÍQUIDO AMNIÓTICO pela leitura dos textos, sua interpre-
à primeira vista possam parecer pouco As manchas de mecónio, ou seja, das tação, busca de soluções, análise de
importantes e que, de uma simples primeiras fezes de um recém-nasci- indícios e posterior síntese para a
gota de sangue pode depender o êxito do, bem como do líquido amniótico, escrita das soluções!
de uma investigação. também apenas poderão ser confir- Será, verdadeiramente, um “tudo
madas como tal em exame microscó- em um” para manter as cinzentas em
MANCHAS DE ESPERMA pico e laboratorial e poderão ser im- grande forma.
E DE COLOSTRO portantes em casos forenses relacio- Leitor da SÁBADO, seja também
Sobretudo em casos de violação, a re- nados com a morte de recém-nascido um investigador e venha testar as
colha de todo o tipo de manchas exis- ou da própria mãe. suas capacidades de detetive, solte o
tentes deve ser feita de acordo com as Como conclusão do capítulo das Sherlock, a Miss Marple, o Maigret,
regras a que já nos referimos para as manchas, diremos que elas são instru- que há em si! W
manchas de sangue, tendo sempre mentos muito relevantes numa fatia
o cuidado de não conta- significativa de crimes, for-
minar a colheita, inviabi- necendo informações se-
lizando a sua utilização
como meio de prova.
k guras para a orientação da
investigação. Poucas serão
É USUAL, NO
No caso das manchas decisivas, por si só, não sen-
LOCAL DO
de esperma, a reação de
probabilidade é feita pelo
CRIME OU NAS do crível que seja possível
fazer uma prova absoluta
exame à luz de Hood,
IMEDIAÇÕES, apenas com elas, mas pela sequência, por ser um procedimento
que deverá revelar uma
HAVER RASTOS sua frequência e quantida- habitual; um vómito súbito pela pres-
fosforescência seme-
DE SANGUE, de, é vulgar que o criminoso são do momento; uma simples gota de
lhante a madrepérola, PRINCIPALMEN- não consiga abarcar todas suor que cai do rosto em grande ten-
porque o esperma é mui- TE QUANDO HÁ as possibilidades e descure são; uma lágrima originada por uma
to rico em fósforo. UM FERIMENTO alguns fatores que coloca- situação tão vulgar como uma alergia;
A reação de certeza só QUE NÃO rão o detetive no seu encal- tantas e tantas reações vulgares que
pode ser levada a cabo IMPEDE A ço. Um descuido ao urinar desvalorizamos no nosso dia a dia e
em laboratório, mediante VÍTIMA DE SE perto do local do crime, que numa situação de crime deixarão
o exame microscópico, DESLOCAR muitas vezes por necessi- indícios fortes aos investigadores.
que revelará a existência dade involuntária originada Não sendo manchas, na verdadeira
de espermatozoides. na adrenalina do momento, que torna aceção da palavra, vamos debruçar-
Quanto às manchas de colostro, que inadiável o ato; uma diarreia fulmi- -nos numa próxima oportunidade so-
não é mais do que o primeiro leite ma- nante e incontrolável que obriga a en- bre as mais famosas marcas que os
terno após o parto, apenas poderá ser contrar rapidamente um local; uma criminosos podem deixar no local do
identificado com certeza em análise cuspidela de que não se mede a con- crime: as impressões digitais! W

111
 Do leitor leitores@sabado.cofina.pt

As cunhas e favores de Salazar

Pátria, com a mesma vontade, garra
e determinação, do dever de cumprir,
aquando da guerra nas ex-províncias
de África. Será que não serviram todos
eles igualmente sob a bandeira de Por-
tugal e não eram merecedores do reco-
nhecimento deste País? Mais, apoios
sociais para todos e que sejam presta-
das as devidas recompensas.

L
Emanuel Caetano
Ermesinde

A pão e água
Primeiro foi dito que a atividade cultu-
ral não podia parar, depois fomos in-
centivados ao consumo natalício para
alavancar a economia, mas agora o
Governo muda o discurso e manda
toda a gente para prisão domiciliária,
L o que não acontecia desde 1975, uma
Francisco Barros espécie de castigo para culpabilizar o
Monte Estoril mau comportamento dos cidadãos em
Não tenho saudades da ditadura, mas desde o tempo de Salazar parece que relação ao contágio do vírus. Parece
nada mudou, no que respeita a “cunhas” para o aparelho do Estado e não só! cientificamente discutível confinar mi-
Há agora quem tenha colocado irmãos, cunhados, primos, etc. Depois do 25 lhões de pessoas, muitas delas saudá-
de Abril até foi criada uma “Escola” para futuras colocações de candidatos a veis, em nome da “defesa da saúde”.
altos cargos públicos, a “Academia de Boys”! Salazar ainda ajudava algumas Benjamin Franklin disse que “aqueles
pessoas com reais necessidades. Os de agora nunca consideraram esse tema! que abrem mão da liberdade essencial
Vivemos em Democracia, mas há muita coisa que não mudou, pelo contrário! por um pouco de segurança temporária
não merecem liberdade nem seguran-
ça”. Felizmente que a sociedade civil
começa a deixar de ser mansa e já per-
L decorações, mas, sim, exijo mais respei- cebeu que não, não “vamos ficar todos
Maria Francisca Guerreiro to e mais apreço pela juventude que to- bem” - vão ficar bem os de sempre -
Lisboa dos deixamos por terras das ex-colónias pois aproxima-se o “a pão e água”, sem
Como nos vamos aguentar? do ultramar português, numa luta que sustento, resultado de medidas políticas
acabou por ser inglória, para todos desproporcionais, medrosas, que vão
O que vai ser da nossa economia ao fim aqueles que palmilhavam picadas de destruir muitas vidas a longo prazo,
de tantos meses parada devido à pan- ansiedade na esperança de pelo menos a saúde mental dos cidadãos, os seus
demia e nem o Natal pode salvar os regressarem vivos, mas, infelizmente, empregos, numa taxa muito superior
comerciantes e empresários da restau- não totalmente refeitos. Muitos ainda em relação à da mortalidade do vírus.
ração? Com tantos confinamentos que não foram devidamente ressarcidos de
nos impedem de almoçar e jantar fora, tudo o que perderam e trouxeram com L
fazer compras ou planos de férias para eles algumas mazelas que os têm acom- Vítor Colaço Santos
a passagem de ano, como nos vamos panhado ao longo das suas vidas, e, em São João das Lampas
aguentar? plena “força” da juventude, tudo lhes foi Partido anticonstitucional
“roubado”. Não se pode esquecer e
L nem se deve ignorar estes briosos rapa- É urgente denunciar o que o Chega de-
Mário da Silva Jesus zes, que nas décadas de 60 e 70, palmi- fende: a castração química; a retirada
Odivelas lharam as “matas” imensas, dessas ter- dos ovários às mulheres que abortam; a
Ex-combatentes esquecidos ras, sob um calor abrasador, rodeados marginalização dos ciganos; a destrui-
de uma enorme ansiedade, que os ção do SNS, entregando à medicina pri-
Tem sido uma classe de concidadãos acompanhou no decurso das suas vi- vada a saúde dos portugueses e por aí
esquecida e ignorada, que não tem tido das. O poder político tem puramente fora. O Chega cavalga a desigualdade
ou merecido a devida consideração e a ignorado por completo aqueles ex- social, mas retira 50% ao Rendimento
devida recompensa, por parte do poder -combatentes, uns mais heróis do que Social de Inserção aos desvalidos
político deste Portugal. Não quero con- outros, que serviram igualmente a pobres desempregados dos Açores! W

112
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tante na forma como nos sentimos
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Tiago Martinho (gráfico sénior) novidade da Omega é uma bela joia. Tem outras
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Documentalista Anabela Meneses (anabelameneses@sabado.cofina.pt)
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2739-511 Agualva, Cacém

113
 Crónica
CUIDADOS
INTENSIVOS
Por mais apelos que o Presidente da
República faça para que os portugueses
(e os partidos) se unam, deixando
ajustes de contas para mais tarde, não
é possível assistir com cara séria à
manipulação e ao desnorte que têm
pautado a luta contra a pandemia
C CADA UM SABE DE SI. Mas desde o
Às cegas
AFINAL, COMO SE APANHA O BI-
CHO? Ninguém sabe. O Wall Street
Journal, aqui há uns dias, apresentava
cifras que ilustravam o tamanho da
ignorância pública. Na Alemanha,
desconhece-se a origem de 75% dos
casos. Na Áustria, a coisa avança para
os 77%. Em Espanha, são 93%, ou seja,
nuestros hermanos não sabem nada
de nada. É possível que a maioria dos
contágios seja em casa, mas ninguém
é suficientemente estouvado para co-
lar um número à porta das famílias.
Ninguém, vírgula: o governo portu-
guês não hesitou em estabelecer a
fasquia nos 68%. Com base em quê?
Poupem-me. Isto é como nas histó-
rias do Eça: sempre que alguém per-
gunta pela “base científica” das deci-
sões tomadas, há um mandarim que
morre do outro lado do mundo. Pare-
mos com esta matança.
Os especialistas, com mil cautelas,
dizem que o nosso desconhecimento
andará pelos 80%. O que significa
que, aplicando os duvidosos 68% aos
20% restantes, ficamos com 14% de
infecções no lar. Comprovadamente.
C Por outro lado, e de acordo com a
Politólogo, escritor melhor opinião, os restaurantes res-
João Pereira pondem por 2%. Também compro-
Coutinho
vadamente. Isto significa que os go-
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vernos devem abster-se de tomar
medidas enquanto não tiverem
100% de certezas?
Obviamente que não. Medidas bási-
cas como testar, isolar ou tratar os
doentes não precisam de geografias
exactas e de números sólidos. Basta
usar antecipadamente a cabeça e os
recursos para o que importa.
Coisa diferente, porém, é tomar me-
didas brutais que restringem direitos e
liberdades quando andamos literal-
mente às cegas. Pior: quando anda-
mos às cegas e, apesar disso, invoca-
mos o nome da ciência em vão.
Por mais apelos que o Presidente da
República faça para que os portugue-
ses (e os partidos) se unam, deixando
ajustes de contas para mais tarde, não
é possível assistir com cara séria à
manipulação e ao desnorte que têm
pautado a luta contra a pandemia.
momento em que a histeria com o
Chega! começou a rolar – não foi
agora, foi logo na noite da eleição
de André Ventura – que eu pasmo,
a um ritmo quase diário, com o bai-
le de máscaras que o homem ali-
menta por aí.
Falo do baile da esquerda, extrema
ou radical, que nunca teve pejo em
lambuzar-se com sociopatas sortidos
– e que desata a dar lições de moral
aos cafres sobre os perigos do “radi-
calismo”. Que muitos amigos meus,
de direita, não gostem do personagem
e até o declarem em público, eu en-
tendo. Eles nunca gostaram do radi-
calismo e jamais se banharam nessas
águas fétidas.
25 NOVEMBRO 2020
www.sabado.pt
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Mas que dizer da esquerda, extre-
ma ou radical, que veste as suas asi-
nhas angelicais para cantar hossanas
à tolerância?
A coisa, pessoalmente, diverte-me.
Mas é aquele tipo de diversão que
nasce da vergonha alheia, ou talvez
da estupefacção existencial: serei o
único a ver que o rei, mais do que des-
pido, está a usar a candura dos tolos
como latrina?
Talvez não. O caso Lothar Bisky é
exemplar. Em programa da RTP, o
deputado Sérgio Sousa Pinto, que
deplora o Chega!, lembrou aos pre-
sentes que há limites para o baile
de máscaras. E, a título de exemplo,
lembrou o emérito Bisky, um antigo
informador da Stasi que, pelos vis-
tos, nunca provocou engulhos aos
nossos “tolerantes”.
Pelo contrário: o Bloco de Esquerda
e o PCP conviveram alegremente com
o sr. Bisky, que se reinventou depois
da queda do Muro como líder do Die
Linke e como presidente do grupo eu-
roparlamentar Esquerda Unitária, a
que os nossos camaradas pertencem.
Sobre os comunistas, nada a dizer:
quem engole Kim Jong-un pode
bem engolir um dos agentes da polí-
cia política da República “Democrá-
tica” Alemã. Mas o caso muda de fi-
gura com o Bloco, que através dos
seus escudeiros tem sido exemplar a
bater as asinhas.
Que eles não se cansem, eu percebo.
Mas quando será que nos cansamos
deles? W
Texto escrito segundo
o anterior acordo ortográfico
LUSA
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