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A.J. Vilanculo
2017
Notas Introdutórias
AJ
Índice
Introdução ............................................................................... 3
No século das afeições ............................................................. 7
A Sentença............................................................................. 17
Memórias da Última Primavera ............................................. 29
A Peregrinação ao Além......................................................... 35
Os homens, a Tradição e o Incomum .................................... 44
Na Casa da Conselheira ........................................................ 53
Uma Estranha Confissão ....................................................... 60
Quando os Homens Sonham ................................................ 69
Um Encontro no Jardim dos Saberes
Introdução
O Jardim
“A vida só pode ser compreendida olhando-se para trás; mas só pode ser
vivida olhando-se para a frente.”— Søren Kierkegaard
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O caminho entre o tempo, a realidade e a verdade
— Me queres pregar essas filosofias dessa gente que acha-se cheia de saberes!
Ah! Por um momento exclamou como que aborrecido. Deixemos
essa forma de ignorância! Teu pensamento é sensato mas que nos valerá
saber de tais coisas, já vivemos bastante tempo e temos muito que olhar
para o passado e agradecer ao que nos sucedeu. Talvez as nossas tradições
nunca tenham mudado, ou talvez sempre exista um começo revolucionário
para trazer novos víveres a terra.
— Bem que o falaste! Vamos continuar nesse significado que criamos. Já
ouvimos que quando os que moram do outro lado do jardim chamado “o
país da ciência”, vieram a esse lado enganaram muitos cuja memória jaz
no esquecimento e naqueles que são propensos a fantasias.
Em simultâneo ouviam-se as mulheres e os jovens. Eram os jovens
cheios de conversas mais sobre o porvir. O futuro continuamente
lhes acontecia com mais imprevisibilidade e fascínio, nada mais
lhes podia dar euforia senão ser possuidor de experiências
inexperimentáveis no passado recente. Estes eram como o Miguel.
Um Encontro no Jardim dos Saberes
Podem ser os seus sentidos que estejam frágeis para não entender este
pequeno mundo. Pensou consigo o jovem ainda atentando
admiravelmente ao que acontecia naquele momento.
— Que existe para além do jardim, desse nosso jardim!? Seria o nosso deleite
desse agora só por este maravilhoso momento!? Um outro jovem pôs-se
na dúvida de todas as coisas.
— Vocês sabem que há nesse tempo muitas coisas sobre todas essas coisas.
Eu quero crer nesse agora, vamos viver isso, isso é ou pelo menos nos é
tangível. Continuava a conversa.
As mulheres pareciam gozar de dois mundos: um extremo
antiquado e um outro virado para um mundo de curiosidade,
experiência sem limites, vivendo o futuro no presente que se
tornava passado instantaneamente. Assim prosseguia o dia naquela
orquestra incomum. Era a orquestra dos mundos e da vida.
O Miguel encostou-se como que deitando no seu assento. Do nada
uma voz sussurrou-se que se lhe levanta-se para existir. Como existir?
Questionou-se duvidando não da voz, sim da pergunta. Como o
farei. Nada compreendendo tornou ao seu mundo.
Depois, despertou momentaneamente maravilhado com tal
pensamento de realidade e a sua alma alegrou-se. Foi como que
respondendo a uma tão sublime vocação para além do mundo
natural dos homens. Porém, seu encontro com o que pareceu
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O caminho entre o tempo, a realidade e a verdade
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O caminho entre o tempo, a realidade e a verdade
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O caminho entre o tempo, a realidade e a verdade
— Homem culto que fazes nesta árdua terra?— Fitando os seus olhos
nele contemplando mistérios sobre beleza— que fazes pois o meu
espírito perturba-se em vê-lo trilhando os caminhos de pouco esplendor?
Ela soube das falas “insilenciadas” da sua comunidade qual
caminho seguia o estranho.
— Oh! Senhora por que amarguras a tua alma perguntando tal coisa?—
Com tom de sussurro a consciência.
— Olhe para a tua ternura e a inclinação afectiva, esta terra a muito jaz
no esquecimento e na insensibilidade. Porque há muitos tempos ele
estava entre aquele povo.
Falando ela ainda!
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O caminho entre o tempo, a realidade e a verdade
O coração dela não estava seguro, palavras lhe faltaram para contar-
lhe as horrendas histórias dos que intentaram aventuras modernas
e amaram os tempos dos exploradores. Quando saísse dali, era para
ser-lhes aplicado severo juízo. Olhando no fundo dos seus olhos,
continuaram orquestrando o momento solene.
Naquele dia, a Dona Catarina executava as suas actividades
quando viu um vulto de testemunhas correndo a ela
apressadamente. Sua alma sentiu um aperto repentino e ela
suspirou para acalmar-se. Lhe contaram as sentinelas dos segredos,
o sacrilégio da eterna punição aos que o cometem. Vieram-lhe
dores profundíssimas no peito, perdeu o fôlego e os batimentos
cardíacos quase que paravam e seu tempo acabaria naquele
instante. Então lhe seguram para que não desfalecesse diante deles,
e recuperando-se, no chão da terra engoliu a poeira da vida.
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O caminho entre o tempo, a realidade e a verdade
— Ela foi vista como que dada a actos de afeição àquele jovem que tem
enchido a nossa terra com as abominações dos homens brancos! Limpando
as lágrimas do seu rosto, aquietaram-se os choros.
Não tardou até que gritos foram ouvidos de seguida como que
anunciando a perda de uma alma amada, a terra cantou e os céus
ecoaram os cânticos! Foi tão grande o ruído estrondoso dos
cânticos sem melodias que entoaram na terra de Malembe. Tanto
foi que, a jovem Luísa Maria apercebeu-se do sucedido.
Estremeceu, abalou-se sua existência que antecipou a sua sentença
e a do jovem. E noite toda chorou. Ah! Que atrevimento,
despertou-se nela a sensibilidade emocional e falou, em ritmo
poético, incansavelmente ao Nkuvu:
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A Sentença
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O caminho entre o tempo, a realidade e a verdade
— Que fiz àquela pobre jovem? Compaixão, Compaixão! Era o seu grito,
no abismo da vida, em intercessão por aquela jovem.
Um jovem de aspecto desconcertante e com coração cheio do
Universo guarnecia aquela prisão, escutava em silêncio aqueles
sussurros. Comovia-se dentro de si que não podia resistir convocar
os seus companheiros para contemplar aquele evento. O Lungani
e os seus companheiros de caça deleitavam os seus ouvidos das
rezas ao ar, riam-se e zombavam aquele corpo que já o destino lhe
reservara comunhão muito passageira entre a sua alma e a força da
sua juventude. A sepultara lhe já havia engolido para aprender a
lição de arar dentro da terra.
— Ouçam o homem jazendo esquecido pelo tal Deus a quem está orando?
— A voz em tom de alegrias abundantes falava aos companheiros
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— Sei que sentes a culpa! Porque nada ganhaste pelo que fizeste senão dores
inconsoláveis. Ninguém dentre nós pode afirmar que se passou naquele dia.
E uma coisa devias saber acerca do Muthando.
— Não menciones o nome dele. Numa voz de raivas profundas.
As memórias calorosas daquele homem cujo tempo apagou.
Muthando, o homem valente de Malembe aprendeu fazeres dos
brancos, e quando despertou seus actos de espírito ensinado pelos
homens brancos foi levianamente enganado e conduzido as
memorias do além do calor da vida.
A dor da Dona Catarina multiplicou-se. Desconforto lhe subiu a
alma. E vendo a nudez daquele coração a vovó Teresa lhe deixou
derramar as lágrimas que não se viram na sua viuvice.
Ouvindo os segredos que nunca antes foram especulados soprou
vento quente no coração daquela jovem moça. A dor que ao seu
corpo se assenhoreava pareceu cessar. Escutou da parede da solidão
que na casa lhe impuseram.
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O caminho entre o tempo, a realidade e a verdade
— Vocês sabem que este negócio não pertence aos mortos. Ó homens
honráveis desta terra vossos corações precisam descansar dos sofrimentos
desta vida e por um tempo alegrarem-se. Com voz trémula esforçava-se
no pronunciar de cada palavra.
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O caminho entre o tempo, a realidade e a verdade
Uma chama viva inflamou nos corações dos anciãos. Era o jovem
neto da terra, filho do filho do aldeão de Ngondo. Era uma
linhagem de tantas afeições aquela. Todos emudeceram-se e
ordenaram que o Nkuvu fosse retirado do seu seio.
— O sangue dos Ngondos está cheio de maldição. Este sangue não será
sobre nós, ofereçamos pois aos nossos antepassados talvez cessam desta vez
os nossos azares.
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O caminho entre o tempo, a realidade e a verdade
— Mulher de vida vivida! Sei que são muitas as tuas dores mas…—
o moço apiedou-se da velha mulher.
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O caminho entre o tempo, a realidade e a verdade
— Oh, és tu de verdade?
— Sim, aproxima-te a parede para que ao menos eu escute todos
tons da tua voz, e encosta a parede talvez eu ainda sentirei os
ritmos do teu coração.
Um Encontro no Jardim dos Saberes
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A Peregrinação ao Além
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O caminho entre o tempo, a realidade e a verdade
— O que aconteceu? Por que madrugaste tanto para vir até aqui?
Com a gentileza de uma mulher lhes encaminhou a uma
sombra junto a casa, e deu-lhes assentos para confortar as
suas carnes desgastadas com o caminhar.
— A tua filha…ela não está mais nesta terra. Ela foi levada pela
água e pela terra.
O coração daquela mulher se azedou. E a partir daquele dia
a D. Catarina viveu enlutada por tempos, tempos e alguns
tempos. As mulheres lamentaram o seu sofrimento. Lhe
tentaram consolar.
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O caminho entre o tempo, a realidade e a verdade
— Onde estou?
A Marta imaginou-se em sonho ouvindo o jovem. Celebrou
ainda em sua imaginação. Sentiu então a gravidade da vida
real, tocou-se em risos e ameigou o seu espírito. Ainda
desconectando-se do mundo desconhecido dos que
dormem pôs-se em pé carregando a sua cabeça na mão.
Acalmou o sonhador, o levou a encamar-se tranquilamente
e este apenas aceitava mesmo nada percebendo.
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— Que fazes com os mortos nas águas que fluem? Era a cruz que
significa honra aos mortos a causa dessa pergunta.
— Não são os mortos que ela representa, sim Alguém que foi
rejeitado, morto e reviveu.
— Claro que isso não pode ser real. Vai ao encontro dos mortos no
cemitério da aldeia verás muitíssimas réplicas de tal símbolo. Ou
tu és um homem carregado de creres incomuns, que enfeitiçaram
o mundo e quando os homens dessa terra se deram a tais creres,
nós viramos símbolo de riqueza e ignorância mesmo tendo a nossa
ciência.
O íntimo do Nkuvu turbou-se! Aquelas palavras
carregavam consigo fortes impressões de lugares onde
outrora estivera, e aquela jovem mulher parecia encarnar
uma outra que lhe arrebatou os sentidos. E suas palavras
tornaram-se poucas que nem mesmo o som possuíam senão
aquele olhar terno na jovem e admiração que pouco
revelava.
A Marta lhe fintou o olhar por longos momentos. E
levantou-se como que querendo seguir para o destino que
antecede o nascer do sol. Ela percebeu a sua ignorância nas
suas últimas palavras, e para provar a sustentar o que a sua
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Na Casa da Conselheira
(Por onde se esquecem as origens)
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— Meus jovens, vocês têm estado neste lugar por mais de um mês
e ainda não tivemos um momento para conversarmos. Acho que
este é o dia ideal para tal. Pois sei, ouço conversas de pequenos e
grandes sobre algo que buscam. Assim lhe arrebatou a velha
senhora dona daquele aposento e num passeio lhes
conduziu ao monte que levava a uma aldeia em que viviam
todos os homens, tribos, etnias e toda sorte de gente. Dali
muitos partiam para das suas tradições divorciarem-se.
Porém, nada lhes contou sobre o que dali encontrariam.
— Talvez tu não o saibas. Mas contaremos a nossa história.
Buscando as minhas origens e um propósito final do meu ser
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O caminho entre o tempo, a realidade e a verdade
Essa terra é cheia de regras mas eu sei, confio não estar num
engano, sei que preciso de algo para além do que já vivi. Mostra-
nos algo, precisamos de guia. Tudo deixamos para neste lugar
chegar agora revela-nos algo. Desse lado parece habitar a nossa
esperança…
E conversa tornou-se intensa e incansável naquele dia.
Houve luz, houve luz naquele dia para as suas mentes e os
seus corações. Talvez tenham finalmente alcançado a
verdade que buscavam.
Há verdade, tempo!
O encontro tornou-se uma manifestação de
conhecimentos, confissões e toda coisa que as gerações de
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O caminho entre o tempo, a realidade e a verdade
Quem me dirá?
Parece que todos estão nessas cadeias de terrores
Essas cicatrizes me afligem o mais íntimo!
Choremos, choremos! Cantemos e Cantemos!
Vivamos esse nosso sonho
Sem duvidar dessa nossa verdade
Essa canção é para ti minha amada
Corajosamente persististe nessa caminhada
Esqueçamos de tudo e vivamos na nossa realidade
Sabendo que tão breve nos iremos na eternidade
Esperemos fazê-lo num nascer-do-sol
O descansemos até num pôr-do-sol (...)
E lhe cantou aquele consolo e lamento doutro lado da
estrada donde viviam o Nkuvu e a Marta. Se nas mentes ou
nas imaginações, se nos papeis ou na vidas de outros, quem
o poderá dizer? Aqui onde a revolução da vida não
encontra limites.
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O caminho entre o tempo, a realidade e a verdade
— Este foi o sonho do qual lhe contei que tivera. Pensei que tivesse
seguido pelas pobres e rudimentares tradições dos nossos ancestrais.
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