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SENTIMENTO DO MUNDO: A OBRA DE DRUMMOND E SUA RELAÇÃO COM

CONCEITO DE HISTÓRIA DE WALTER BENJAMIN

Nathalia de Castro Aggeu Ricardo1


RESUMO
Este trabalho pretende propor a análise de dois poemas publicados em Sentimento do
Mundo (2013), de Carlos Drummond de Andrade sob a ótica do texto de Walter Benjamin,
Sobre o conceito de história (1996). Os poemas a serem analisados serão Sentimento do
Mundo, homônimo à obra, e Operário no mar, escritos na caótica época da Segunda Guerra
Mundial e da ditadura Vargas. Entende-se, a partir dessa pesquisa, a validação do papel da
literatura, mais especificamente do gênero literário poema, na resistência contra o discurso
dominante e no questionamento dos valores sociais e a importância de Drummond na
discussão sobre a sociedade capitalista do século XX.

Palavras-chave: Carlos Drummond de Andrade, Sentimento do Mundo, história,


literatura, poema.

INTRODUÇÃO

A poesia na literatura brasileira possui vários representantes e, sem dúvidas,


um de seus maiores expoentes é Carlos Drummond de Andrade. Nascido em Itabira,
interior do estado de Minas Gerais, no ano de 1902, foi um dos maiores poetas
brasileiros do século XX. Escreveu diversas obras que abarcam desde temas
existencialistas e individualistas até a crítica social sobre um mundo mergulhado no
caos causado pela guerra.
Uma de suas obras mais marcantes, que pode ser situada em sua fase “eu
menor que o mundo”, é denominada Sentimento do mundo. Publicado em 1940, o
livro tem como fundo histórico a Segunda Guerra Mundial e, no Brasil, a ditadura
Vargas. Nele, muitos dos poemas vão servir de denúncia sobre circunstâncias desse
período.
A intenção dessa antologia, como já expõe o seu nome, é tentar abarcar o
sentimento do coletivo a respeito das situações que estavam a acontecer no mundo.
O eu lírico coloca-se em uma posição conflitante, pois, incapaz de sentir o mundo
sozinho, procura influências externas – outros indivíduos, outras realidades – para
tentar explicá-lo.
A partir disso, dois poemas escolhidos serão analisados em sua estrutura e,
principalmente, em seu conteúdo, buscando entender suas relações com o conceito
1
Formada em Letras e Pós-graduanda em Literatura na Universidade de Taubaté (UNITAU).
de história apresentado por Walter Benjamin em seu texto Sobre o conceito de
história (1996).

1. ANÁLISE DOS POEMAS

A obra tem início com o poema homônimo Sentimento do mundo. Este poema
é composto de cinco estrofes, cada uma com um número variado de versos, sendo a
última composta de apenas dois. Os versos são livres, ou seja, não possuem rima e
a métrica também difere em cada um. Essa escolha estrutural já demonstra uma
liberdade maior para a criação do autor, que se desvencilha das amarras do estilo
clássico, seguindo a proposta modernista.
Tematicamente, o poema resume bem a intenção da obra completa: a
tentativa de abarcar o sentimento coletivo em uma época conflituosa. O eu lírico, no
entanto, apresenta-se pequeno diante dos problemas deste grande mundo e, por
conta disso, precisa buscar nos sentimentos de outros, chamados “escravos”, auxílio
para essa compreensão.

“Tenho apenas duas mãos


e o sentimento do mundo,
mas estou cheio de escravos, (...)
(2013, p. 83, l. 1-3)

Chegando ao fim do poema, o eu lírico alude àquelas personagens que, no


pós-guerra, não foram lembrados, ou melhor, “encontrados ao amanhecer”. Esse
amanhecer citado, vale pontuar, pode ser entendido também como a própria poesia,
que prenuncia um futuro em tom melancólico, aparentemente por ser mais escura do
que a própria noite.

“(...) Quando os corpos passarem


eu ficarei sozinho
desfiando a recordação
do sineiro, da viúva e do microscopista
que habitavam a barraca
e não foram encontrados
ao amanhecer

esse amanhecer
mais noite que a noite.”
(2013, p. 83, l. 20-28)
Durante a obra, outra poesia que demonstra com eficácia o intento do autor é
O operário no mar. Escrito em prosa, é um texto imagético, ou seja, capaz de criar
imagens para que o leitor conceba as cenas nele descritas, mas que culmina na
compreensão de uma idealização da figura do operário.
Esse operário descrito por Drummond se apresenta como uma figura
conflitante: a santidade subentendida na metáfora do caminhar no mar contrapõe a
definição de seu corpo que, segundo o narrador, é banal e grosseiro.

Agora está caminhando no mar. Eu pensava que isso fosse privilégio de


alguns santos e de navios. Mas não há nenhuma santidade no operário, e
não vejo rodas nem hélices no seu corpo, aparentemente banal. Sinto que o
mar se acovardou e deixou-o passar. Onde estão nossos exércitos que não
impediram o milagre? (2013, p. 89)

O narrador expõe a sua própria dificuldade em entender o operário, visto que


aparentemente faz parte de uma realidade completamente oposta ao primeiro e, por
conta disso, enxerga-o como indecifrável. Esta distinção pode ser simbolizada pelo
distanciamento entre o trabalho braçal nas fábricas e o trabalho intelectual do poeta.
Ao mesmo tempo, são aproximados pelo sorriso, indicador da esperança de que, no
futuro, encontrem um no outro a compreensão que até então não têm.

(...) Único e precário agente de ligação entre nós, seu sorriso cada vez mais
frio (...) atravessa tudo e vem beijar-me o rosto, trazer-me uma esperança
de compreensão. Sim, quem sabe se um dia o compreenderei? (2013, p.
89)

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Após a breve analise, é admissível evidenciar que a poesia de Drummond se


apresenta como meio de reflexão sobre o discurso capitalista dominante que
permeava o pensamento no século XX. É necessário, então, somar a
contextualização histórica, a análise dos poemas e a ideia de literatura como
ferramenta de transformação social para possibilitar a relação entre a obra e a
afirmação de Walter Benjamin, em seu texto Sobre o conceito de história, quando
diz:
O perigo ameaça tanto a existência da tradição como os que a recebem.
Para ambos, o perigo é o mesmo: entregar-se às classes dominantes,
como seu instrumento. Em cada época, é preciso arrancar a tradição ao
conformismo, que quer apoderar-se dela. (1985, tese 6)

Drummond não era um conformista, como é possível perceber em sua obra. A


partir dela, consegue questionar a capacidade humana de (auto)destruição em um
mundo que priorizava o lucro em detrimento da dignidade humana. Desse modo, ele
se apropria do que Benjamin chama de “reminiscência”, a fim de refletir sobre a
situação em que se encontrava, elaborando uma crítica pertinente e ainda atual
sobre os tempos de crise e a vida em sociedade, mais uma vez corroborando o
papel da literatura no questionamento e transformação social.

Referências

BENJAMIN, Walter. Sobre o conceito de história. In: Obras Escolhidas. Vol. 1. São
Paulo: Brasiliense, 1985.

ANDRADE, Carlos Drummond. Nova reunião: 23 livros de poesia. Vol. 1. 7 ed. Rio
de Janeiro: BestBolso, 2013.
Universidade de Taubaté

SENTIMENTO DO MUNDO: A OBRA DE DRUMMOND E SUA


RELAÇÃO COM CONCEITO DE HISTÓRIA DE WALTER BENJAMIN

NATHÁLIA DE CASTRO AGGEU RICARDO

Taubaté
Setembro - 2017
NATHÁLIA DE CASTRO AGGEU RICARDO

Sentimento do mundo: a obra de Drummond e sua relação com conceito


de história de Walter Benjamin

Trabalho apresentado à professora Thais


Travassos da disciplina de Literatura,
história e contexto social do curso de Pós-
Graduação de Literatura

Universidade de Taubaté
Taubaté - 2017

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