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62 Universidade Regional Integrada do Alto Uruguai e das Missões

CURRÍCULO: ESPAÇO DE
CONSTRUÇÃO DE IDENTIDADES

SPONCHIADO, Denise Aparecida Martins1

RESUMO: Com a pós-modernidade, muito se tem falado e discutido sobre a construção e a


significação da identidade, nos vários aspectos que ela abrange. Os teóricos do pós-estruturalismo
e dos estudos culturais trouxeram várias contribuições neste sentido, fazendo análises que
promoveram a desconstrução de muitas ‘certezas’ tidas, até então, como inquestionáveis. Este artigo
pretende discutir as contribuições que as reflexões feitas no campo do pós-estruturalismo trouxeram
para os estudos pedagógicos, tratando o currículo – enquanto política cultural, bem como pretende
problematizar diferentes possibilidades de organização curricular que objetivam enquadrar os
“outros” em identidades nomináveis.
Palavras-chave: Currículo - Identidade - Diferença - Pós-estruturalismo.

ABSTRACT: With the arriving of the post-modernity, the construction and meaning of the identity,
in its various aspects, has been more and more discussed. The theorists of the post-structuralism
gave much contribution, making analyses that promoted the disconstruction of many “certainties”
that were considered unquestionable until then. This paper intends to discuss the contributions that
the reflections made in the field of the one post-structuralist had brought for the pedagogical studies,
treating the resume - while cultural politics, as well as intend to problematical different possibilities
of curricular organization that objectify to fit the “others” in nominal identities.
Key words: Curriculum - Identity - Difference - Post-structuralism.

Ao aprofundar os estudos acerca das diferenças em sala de aula e a forma como o docente e
a instituição escolar promovem a inclusão/exclusão destas diferenças, fazem-se necessárias algumas
reflexões que lancem olhares a produções que possam problematizar, que verdades são produzidas
no espaço da escola que estão determinando as condições de inclusão/exclusão na escola.
Falar em diferenças implica adentrar pelos caminhos da identidade, o que se faz a partir do
que nos é comum e do que consideramos diferente. Silva (2002, p.9) diz que “...a identidade é,
assim, marcada pela diferença.” De acordo com este autor, a identidade é marcada por meio de
símbolos e por representações que, ao mesmo tempo em que constroem a identidade, fazem uma
marcação das diferenças, atuando esta marcação como componente chave em qualquer sistema
classificatório. (HALL, 1997b).
Desta forma, classificamos como iguais todos os que se aproximarem da nossa construção
de identidade: branco, classe média, brasileiro, católico, e como diferente o “outro”, aquele que se

1
Mestranda em Educação URI/UNISINOS.
Curso de Mestrado Interinstitucional – URI/UNISINOS 63

afasta do nosso modelo de identidade: portador de necessidades especiais, negro, pobre, gordo.
Como olhar para essas diferenças em sala de aula? Através de sua proposta pedagógica, a instituição
escolar pode promover tanto a inclusão quanto a exclusão deste indivíduo dito “diferente”. É por
meio dela que se concretizam as diferentes filosofias, ideologia e modos de pensar, as diferentes
abordagens do processo pedagógico. É nela que são incorporados os vários significados presentes
em tantos conceitos, materializados na prática escolar.
Abordando especificamente a questão da diferença no ambiente escolar, Silva (2002) produziu
um texto em que trata a “Pedagogia como diferença”. Para ele:

A identidade e a diferença não são entidades pré-existentes, que estão aí desde sempre
ou que passaram a estar aí a partir de algum momento fundador; elas não são elementos
passivos da cultura, mas tem que ser constantemente criados e recriados. A identidade e
a diferença tem a ver com a atribuição de sentidos do mundo social, e com disputa e luta
em torno desta atribuição. (p. 96)

Percebe-se, através de seus escritos, que Silva segue uma linha referencial fundamentada
nos estudos culturais e inspirado no pós-estruturalismo. O pós-estruturalismo não pode ser
simplesmente reduzido a um conjunto de pressupostos compartilhados, a um método, a uma teoria
ou até mesmo a uma escola. É melhor referir-se a ele como um movimento de pensamento- uma
complexa rede de pensamento- o que corporifica diferentes formas de prática crítica. “O pós-
estruturalismo é, decididamente, interdisciplinar, apresentando-se por meio de muitas e diferentes
correntes”. (PETERS, 2000, p.29)
Ergue-se, de certa forma, como uma reação à idéia clássica de representação, baseado em
paradigmas tradicionalmente aceitos como “corretos”. É precisamente por conceber a linguagem –
e, por extensão todo sistema de significação – como uma estrutura instável e indeterminada que o
pós-estruturalismo questiona esta noção clássica de representação. No registro pós-estruturalista, a
representação é concebida unicamente em sua dimensão de signos, como pura marca material.
Estudos dentro de uma perspectiva pós-estruturalista sobre currículo questionariam os
“significados transcendentais”, ligados à religião, à pátria, à política, à ciência, que povoam o
currículo. Uma perspectiva pós-estruturalista buscaria perguntar: onde, quando, por quem foram
eles inventados?
De acordo com Silva a “ identidade e a diferença são estreitamente dependentes da
representação”.(2002, p.90) É por meio da representação, assim compreendida que a identidade e a
diferença adquirem sentido. É por meio da representação que, por assim dizer, a identidade e a
diferença passam a existir. Representar significa, neste caso, dizer: “essa é a identidade”, “ a
identidade é isso”.(SILVA, 2002 p.90)
A partir dessa abordagem pós-estruturalista, os estudiosos que usam esse referencial colocam
em dúvida, questionam as rígidas segmentações curriculares entre os diversos gêneros do conhecimento.
A proposta pós-estruturalista considera, primordialmente, a concepção de um sujeito autônomo, racional,
centrado, unitário; construindo, sob estes paradigmas, todo o empreendimento pedagógico e curricular,
tornando-o, assim, resultado de uma construção histórica muito particular. (SILVA,1999).
Pode-se considerar, então, que uma das maiores contribuições do campo dos estudos culturais
para o processo educativo seja a proposta de diálogo na diversidade. Somos seres múltiplos, logo o
que é central é a diferença. As identidades são construídas na relação entre as diferenças. No campo
teórico dos estudos culturais cada cultura tem suas próprias e distintas formas de classificar o
mundo e é pela construção de sistema classificatório que a cultura nos propicia os meios pelos
quais podemos dar sentido do mundo social e construir significados. Deve-se considerar que as
diferenças fazem parte de um multiculturalismo, o que deve ser levado em conta na construção do
currículo escolar.
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Como determinar o que estudar e o que deixar de estudar? Qual a ênfase principal do
currículo?
Identifica-se, neste contexto, um vínculo entre conhecimento, identidade e poder. A construção
do currículo será perpassada por essas relações, que são relações de continuidade.
O currículo, dentro de uma visão baseada no campo teórico pós-estruturalista, deve buscar
ampliar o espaço político-social dentro da escola, pois que também é considerado como espaço de
produção e criação de significados. Um olhar pós-estruturalista do currículo parece possibilitar
uma maior reflexão para a construção de uma proposta curricular que vise uma educação inclusiva,
que trate o currículo como prática cultural e como prática de significação.

A tradição crítica em educação nos ensinou que o currículo produz formas particulares
de conhecimento e de saber, que o currículo produz dolorosas divisões sociais, identidades
divididas, classes sociais antagônicas. As perspectivas mais recentes ampliam essa visão:
o currículo também produz e organiza identidades culturais, de gênero, identidades raciais,
sexuais... Dessa perspectiva, o currículo não pode ser visto simplesmente como um
espaço de transmissão de conhecimentos. O currículo está centralmente envolvido naquilo
que somos, naquilo que nos tornamos, naquilo que nos tornaremos. O currículo produz,
o currículo nos produz. (SILVA, 2001b, p.27)

Dessa forma, percebe-se que o conhecimento se dá na relação social, onde os processos de


significação, que produzem as identidades e por conseqüência as diferenças, estão em conexão com
as relações de poder existentes. Neste sentido, o currículo é uma representação formal dos conceitos
que surgem na caminhada, dos sujeitos enquanto seres sociais, que são reproduzidos nas instituições
escolares em forma de saberes ou verdades.
O termo currículo provém da palavra latina currere, que se refere à carreira, a um percurso
que deve ser realizado. É o recheio, o conteúdo, o guia da escolaridade, e para tanto perpassa a
idéia de controle na distribuição do conhecimento, pois estabelece esta ordem sendo determinante
na ação educativa. Contudo a sua estruturação não deve abordar exclusivamente a herança cultural
da humanidade e transformá-la em conteúdo de ensino, mas sobretudo desvelar aspectos sociais,
ideológicos ocultados nestes saberes, ou seja, contempla as diversas identidades que fazem parte
do processo educativo, dando a todas, a importância necessária para que possam desenvolver-se.
No momento em que se reconhece a interferência dos grupos sociais na construção do
currículo escolar, admite-se também que se faz necessária uma reavaliação dos referenciais que
servem para determinar a inclusão de certos saberes e de certos indivíduos, o que implica,
necessariamente, na exclusão de outros. Assim, através do currículo, são fabricados, parâmetros
que servirão para a classificação dos indivíduos na escola: saberes, competências, sucessos,
fracassos.
A discussão da construção do currículo é assunto premente, que deve ser foco de atenção e
discussão e precisa, necessariamente, ser partilhada por todos os indivíduos da comunidade na
qual a escola está inserida, pois que será expressão das marcas das relações sociais de sua produção.

A obtenção da igualdade depende de uma modificação substancial do currículo existente.


Não haverá ‘justiça curricular’, para usar uma expressão de Robert Connell, se o canon
curricular não for modificado para refletir as formas pelas quais a diferença é produzida
por relações sociais de assimetria. (SILVA,1999 p. 90)

Considerando-se os aspectos argumentados, pode-se afirmar que, a partir de uma abordagem


pós-crítica do currículo, o que pressupõe respeito às identidades, ocorre a possibilidade de se
ampliar-se o espaço político e social dentro da escola, pois ao se contemplar no espaço educativo
os contextos sociais e culturais escolares, estar-se-á fornecendo a eles subsídios para a construção
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de novas noções a partir de suas próprias. Dessa forma, elucida-se a autonomia e a responsabilidade
de cada indivíduo na construção da história social, reafirmando as identidades, elucidando as
diferenças (forma de ver, pensar e agir) sem provocar exclusões.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

COSTA, Marisa Vorrober( org). Caminhos Investigativos: novos olhares na pesquisa em educação.
Rio de Janeiro: DP&A,2002.

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HALL, Stuart. A identidade cultural na pós-modernidade. Rio de Janeiro:DP&A, 1999.

LOURO, Guacira Lopes. Gênero, Sexualidade e Educação. Petrópolis, RJ: Vozes, 1997.

PETERS, Michel. Pós-estruturalismo e Filosofia da Diferença.Belo horizonte: Autêntica,2000.

SILVA, Tomaz Tadeu da. Identidade e diferença: a perspectiva dos estudos culturais. Petrópolis,
RJ: Vozes, 2002.

___. O currículo como fetiche: a poética e a política do texto curricular. Belo Horizonte: Autêntica,
2003.

___. Documentos de Identidade: uma introdução às teorias do currículo. Belo Horizonte: Autêntica,
1999.

VEIGA-NETO,Alfredo J. Critica Pós-Estruturalista e Educação. Porto Alegre: Sulinas,1995.

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