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Nº DOI: 10.18065/RAG.2019v25.9
Resumo: A forma de comunicar más notícias impacta diretamente na adesão ao tratamento por parte do paciente.
Frente às dificuldades em comunicar más notícias, foram elaborados protocolos que auxiliassem os profissionais
de saúde nesses momentos de maior vulnerabilidade. Este estudo teórico teve por objetivo aproximar as atitudes/
condições facilitadoras descritas originalmente por Carl Rogers no contexto psicoterápico a três protocolos
de comunicação de más notícias frequentemente relatados na literatura da área: SPIKES, CLASS e P-A-C-
I-E-N-T-E. Diversas etapas desses protocolos emergem como ações que se aproximam ora da congruência/
autenticidade, ora da consideração positiva incondicional ou da empatia, tornando lícito afirmar que a comunicação
de más notícias também possibilita o estabelecimento de uma relação de ajuda. Conclui-se que esta associação
entre os protocolos e as três atitudes elaboradas por Rogers pode contribuir para a formação acadêmica dos
profissionais de saúde e também no estabelecimento de um melhor vínculo entre médico, paciente e familiares.
Palavras-chave: Comunicação em saúde; Relações médico-paciente; Terapia centrada na pessoa.
Abstract: The way of communicating bad news directly impacts in the treatment adherence of the patient. In light of the
difficulties of communicating bad news, protocols were developed to assist the health care professionals in these moments
of major vulnerability. This theoretical study aimed to approach the core conditions/attitudes described originally by
Carl Rogers in the psychotherapic context to three bad news communication protocols reported from the field specific
literature: SPIKES, CLASS and P-A-C-I-E-N-T-E. Diverse steps of these protocols emerge as actions that approximate
one moment to congruency/authenticity and another moment to unconditional positive consideration or empathy. It
makes licit to affirm that the communication of bad news also approaches to the establishment of a help relation. It can
be concluded that this approach between the protocols and the three attitudes developed by Rogers can contribute to the
academic training of the health care professionals and also to the better connection between doctor, patient and family.
Keywords: Health communication; Physician-patient relations; Person-centered therapy.
Resumen: La forma de comunicar malas noticias impacta directamente en la adhesión al tratamiento por parte
del paciente. Frente a las dificultades en comunicar malas noticias, se elaboraron protocolos que auxiliar a los
profesionales de salud en esos momentos de mayor vulnerabilidad. Este estudio teórico tuvo por objetivo aproximar
las actitudes / condiciones facilitadoras descritas originalmente por Carl Rogers en el contexto psicoterápico con
tres protocolos de comunicación de malas noticias a menudo relatados en la literatura del área: SPIKES, CLASS y
P-A-C-I-E-N-T-E. Diversas etapas de esos protocolos emergen como acciones que se aproximan a la congruencia /
autenticidad, ya la consideración positiva incondicional o de la empatía, haciendo lícito afirmar que la comunicación
de malas noticias también posibilita el establecimiento de una relación de ayuda. Se concluye que esta asociación
entre los protocolos y las tres actitudes elaboradas por Rogers puede contribuir a la formación académica de los
profesionales de la salud y también en el establecimiento de un mejor vínculo entre médico, paciente y familiares.
Palabras clave: Comunicación en salud; Relaciones médico-paciente;; Terapia centrada en la persona.
Revisão Crítica de Literatura
informação transmitida seja compreendida (Ramos & subjetiva e quem nem sempre podem ser mensura-
Bortagarai, 2012). A forma como comunicamos é um dos, mas sim compreendidos de modo dinâmico e
processo dinâmico e interativo, havendo a possibili- em sua complexidade (Mochel, Perdigão, Cavalcan-
dade de socializar, transmitir sentimentos, emoções ti, & Gurgel, 2010).
e ideias (Stefanelli & Carvalho, 2012). O estabeleci- Certamente a comunicação de prognósticos
mento de uma comunicação eficaz, em que emissor não favoráveis é uma das tarefas mais difíceis para
e receptor da mensagem possam compreender e ser a equipe de saúde, podendo levar a repercussões
compreendidos atravessa o fazer profissional em di- emocionais importantes no paciente/cliente/usuário
ferentes áreas. Na saúde, o estabelecimento de uma e em sua rede de apoio. Uma preocupação comum
comunicação adequada faz-se fundante no sentido dos médicos e de sua equipe é de como a má notícia
de promover uma compreensão apurada acerca do irá afetar o indivíduo e sua reação (Borges, Freitas,
que se pretende informar, como diagnósticos, formas & Gurgel, 2012; Pereira, 2005). Além disto, essas
de tratamento e cuidado, além de acolher demandas, repercussões também afetam os próprios profissio-
expressar sentimentos e promover práticas de saú- nais, pois muitos têm receios de enfrentar as rea-
de que respeitem o universo de cada cliente e que ções emocionais e físicas tanto da pessoa adoecida
também se alinhem aos pressupostos de um sistema quanto dos familiares, sobretudo a dificuldade de
formal de cuidado (Pinheiro, 2012). administrar a situação (Pereira, 2005). É importante
Segundo Carneiro (2017), o processo de comu- salientar que essas dificuldades de comunicação de
nicação é fundamental no contexto da saúde, pois más notícias apresentadas pelos médicos podem ter
o paciente/cliente/usuário e a família têm o direito origem na formação acadêmica, isto porque poucas
à informação e é dever dos profissionais informá- universidades valorizam o ensino da comunicação
-los acerca da situação clínica em retrato. Estabele- em seus currículos, ou seja, é de suma importância
cer uma comunicação eficaz em saúde consiste em o investimento em métodos que capacitem tais es-
proporcionar um diálogo com qualidade, isto é, a tudantes a desenvolver e aprimorar essa habilida-
compreensão do que queremos expressar, e se aque- de (Andreoli & Erlichman, 2008; Lech, Destefani, &
la informação comunicada é compreensível pelo Bonamigo, 2013; Lino, Augusto, Oliveira, Feitosa,
outro indivíduo (Silva, 2002), sendo que o manejo & Caprara, 2010; Sombra Neto et al., 2017; Souza
dessa comunicação é um desafio constante para as & Santos, 2013; Souza & Scorsolini-Comin, 2011).
equipes de saúde (Rodriguez, 2014). Essa comuni- Para auxiliar os profissionais de saúde a trans-
cação também não se restringe a ações de emissão mitirem uma notícia considerada desfavorável, fo-
e recebimento de informações, mas justamente de ram elaborados protocolos técnicos que oferecem
estabelecimento de um relacionamento interpes- algumas orientações para sistematizar a transmis-
soal instaurado a partir do conteúdo que se narra são de uma má notícia, tornando-a menos traumáti-
e do modo como isso repercute naquele que rece- ca tanto para o médico e, sobretudo, para o paciente.
be a notícia. É o caso da comunicação de más no- Esses protocolos constituem guias metodológicos
tícias, como salientado no presente estudo. Como para os profissionais de saúde, favorecendo a re-
será discutido, nesse contexto de atenção não basta lação médico-paciente (Pereira, Fortes, & Mendes,
emitir uma informação, sendo mister cercar-se de 2013), como detalhado a seguir.
elementos e cuidados necessários para que se possa
lidar com um conteúdo frequentemente disparador Protocolos para a comunicação de más notícias
de ansiedade, dor e reflexões acerca de diversos as-
pectos da vida, dos processos de saúde e doença, Em 1992, Bachman publicou o protocolo
da morte e do morrer (Cavalcante, Vasconcelos, & SPIKES com a intenção de tornar mais didática a co-
Grosseman, 2017; Leal-Seabra & Costa, 2015). municação de más notícias (Buckman, 1992; Sombra
No contexto hospitalar sabemos que é dever Neto et al., 2017). O protocolo SPIKES (Setting; Per-
do médico comunicar os prognósticos e procedi- ception; Invitation; Knowledge; Explore emotions;
mentos aos quais o paciente irá se submeter, bem Strategy and sumary) surgiu com o objetivo de habi-
como informar os familiares. Dentre essas informa- litar o médico e a equipe multiprofissional a comuni-
ções, as comunicações de más notícias também fa-
Revisão Crítica de Literatura
co passos. A primeira etapa é considerar o contex- gers traz para a psicoterapia uma visão positiva do
to físico, ou seja, priorizar um ambiente adequado homem, na qual o ser humano possui liberdade e
para a conversa; o segundo passo visa à habilidade poder de escolha, mostrando-se um agente criativo
de escuta, isto é, o profissional deve estar disponí- na realidade que o rodeia. Sua teoria passou por di-
vel para escutar o paciente; posteriormente é preci- versas fases e suas formulações começaram a partir
so reconhecer as emoções e explorá-las de maneira de modelos tradicionais de clínica, estendendo-se
empática; a quarta etapa é traçar um planejamento para as ideias sobre relacionamentos interpessoais,
de estratégias, descrevendo com clareza a proposta visando ao crescimento psicológico independente-
terapêutica e seus procedimentos; por fim, realiza-se mente do contexto em que as pessoas estivessem
uma síntese dos principais tópicos discutidos du- inseridas (Bezerra & Bezerra, 2012). Até constituir
rante a conversa, verificando se há dúvidas (Albert a ACP, em um momento de consolidação de suas
Einstein Instituto Israelita de Ensino e Pesquisa, s/d). ideias, Rogers empregou diferentes nomenclaturas
Outro protocolo frequentemente referido na li- para o conjunto de suas propostas, como Psicote-
teratura é nomeado como P-A-C-I-E-N-T-E e foi ela- rapia Não-Diretiva, Aconselhamento Não-Diretivo,
borado por Pereira (2010), baseado no protocolo de Terapia Centrada no Cliente, Ensino Centrado no
comunicação SPIKES e adaptado para a realidade Aluno e Liderança Centrada no Grupo. A denomi-
brasileira. Este protocolo é constituído por sete etapas: nação ACP foi oficializada em 1977 (Moreira, 2010),
P – Prepare-se, consiste em checar as informações a constituindo um referencial não mais aplicável ex-
serem comunicadas aos pacientes, além de estar em clusivamente ao contexto psicoterápico e à relação
um ambiente físico com privacidade e conforto; A – terapeuta-cliente, mas a uma gama de possibilida-
Avalie o quanto o paciente sabe e o quanto quer saber; des no estabelecimento de relações interpessoais,
C – Convite à verdade; I – Informe, isto é, compartilhe a exemplo daquelas vivenciadas no campo do cui-
a informação em quantidade, velocidade e qualidade dado em saúde e também nos diferentes cenários
suficiente para que o paciente faça sua decisão; E – educacionais.
Emoções, consiste em dar espaço ao paciente em ex- Por meio da noção de tendência atualizante,
pressar suas emoções; N – Não abandone o paciente, ou seja, de uma tendência inerente de desenvolver-
ou seja, assegurar-se que o paciente receberá acom- -se em uma direção positiva, a ideia central da ACP
panhamento médico; T – Trace uma Estratégia, em é de que o indivíduo possui “dentro de si, vastos
suma, significa planejar os próximos cuidados a se- recursos para a auto compreensão, para alterar seu
rem oferecidos e opções de tratamento (Pereira, 2010). autoconceito, sua atitude e seu comportamento, e
Segundo o estudo realizado por Pereira, o protocolo que tais recursos podem ser liberados quando se
foi considerado prático e útil, sendo que os partici- conta com determinado clima psicológico” (Almei-
pantes consideraram a etapa de não abandonar o pa- da, 2009, p. 180), ou seja, quando existem atitudes
ciente e a etapa de lidar com as emoções do paciente psicológicas facilitadoras. A partir disso, Rogers
as mais difíceis contidas no instrumento. trouxe para o campo psicoterápico a ideia das con-
Como podemos observar, esses protocolos pos- dições facilitadoras e das atitudes que um terapeuta
suem muitos pontos de semelhanças, sendo que to- deveria ter para possibilitar uma mudança no pro-
dos se baseiam no pressuposto básico da necessida- cesso terapêutico. Entre as seis condições encon-
de de sistematizar a comunicação quando se trata de tramos, por exemplo, a necessidade de que haja
uma má notícia. Entre os pontos priorizados nesses contato psicológico entre cliente (que deve estar em
instrumentos destacamos a necessidade de asserti- estado de incongruência) e terapeuta (que deve es-
vidade por parte do profissional que comunica a má tar congruente ou integrada na relação), devendo o
notícia, notadamente o médico, e também o estabele- terapeuta experienciar e comunicar ao cliente a sua
cimento de um relacionamento interpessoal de con- consideração positiva incondicional e compreen-
fiança e segurança. A fim de explorar alguns desses são empática. Entre essas condições encontram-se
aspectos suscitados por essas metodologias, neste as três atitudes facilitadoras propostas por Rogers:
estudo aproximaremos esses principais protocolos autenticidade/congruência, consideração positiva
de comunicação em saúde presentes na literatura incondicional e postura empática (Fontgalland &
(SPIKES, CLASS e P-A-C-I-E-N-T-E) com as atitudes/ Moreira, 2012).
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seja possível estar integralmente a serviço de aju- pode afetar a compreensão dos pacientes/clientes/
dar e, consequentemente, coerente com o seu modo usuários a respeito da notícia e, consequentemente,
de ser, pensar, agir e de se relacionar (Rogers, 1977; a forma de aderir ao tratamento (Monteiro & Quin-
Scorsolini-Comin, 2015). tana, 2016) e prosseguir com os cuidados em saúde.
A consideração positiva incondicional pode
ser compreendida como o respeito incondicional, Método
por parte do terapeuta, à individualidade do clien-
te (Moreira, 2010). Em outras palavras, refere-se Tipo de estudo
ao “fato de o profissional acreditar profundamente
que aquela pessoa em busca de ajuda tem condi- Trata-se de um estudo teórico e documental
ções de amadurecer e resolver seus conflitos a par- delineado a partir de uma revisão integrativa da
tir desse crescimento e da potencialização de suas literatura científica, método este que pressupõe a
capacidades. É a aceitação do cliente sem reservas, busca, seleção e sistematização de informações
julgamentos ou questionamentos sobre o seu modo acerca de determinado tópico com vistas à suma-
de ser e as escolhas que tem tomado em sua vida” rização do conhecimento produzido (Scorsolini-
(Scorsolini-Comin, 2015, p. 57). -Comin, 2014), sendo uma estratégia para a prática
A compreensão empática é caracterizada pela baseada em evidências (Mendes, Silveira, & Galvão,
atitude de experimentar o que o outro está sentindo 2008). Classicamente, as revisões integrativas são
por meio de uma condição de “como se” estivesse desenvolvidas em diferentes etapas, pressupondo a
no lugar dele, enxergando através da perspectiva do inclusão de materiais heterogêneos em termos de
mesmo (Rogers, 1973). Por meio da empatia, o tera- evidências, ou seja, utilizando estudos com maior
peuta busca perceber e compreender o mundo na ou menor evidência decorrentes de investigações
perspectiva do cliente (Moreira, 2010), o que pro- realizadas sob diversas metodologias. As etapas
moveria não apenas uma maior proximidade, como para a confecção da revisão integrativa sumarizadas
contribuiria na aceitação do cliente sem julgamen- pela literatura (identificação da questão de pesqui-
tos, compreendendo sua forma de ser e experien- sa, estabelecimento de critérios de busca, seleção e
ciar o mundo. incorporação de estudos, avaliação e interpretação
Essas três atitudes, priorizadas no presente es- dos resultados) foram customizadas na presente in-
tudo, seriam consideradas necessárias e suficientes vestigação, a fim de cotejar os objetivos apregoados.
para que o processo terapêutico ocorresse e obtives- A fim de empregar estudos disponíveis em meios
se êxito (Scorsolini-Comin, 2015), o que posterior- eletrônicos e com fácil e rápida atualização, foram
mente foi expandido para pensarmos as relações selecionados apenas artigos científicos, como tam-
interpessoais de ajuda que podem ocorrer em set- bém sugerido nas revisões integrativas do campo da
tings não terapêuticos, como em escolas e espaços saúde (Mendes et al., 2008).
de cuidado em saúde, como hospitais, por exem- A busca dos artigos nas bases de dados/biblio-
plo (Trzan-Ávila & Vilela, 2012). É nesse cenário de tecas ocorreu em três momentos. Na primeira etapa
expansão da ACP e do seu emprego para além da houve a intenção de procurar artigos que abordas-
psicoterapia que o contexto de atenção à saúde pas- sem a temática da comunicação de más notícias. Na
sou a se apropriar desses conhecimentos, sobretudo segunda etapa da pesquisa, o foco estava nos pro-
em relação à oferta de uma escuta sensível e que tocolos utilizados para comunicar más notícias. No
ajude o paciente/cliente/usuário/família a entender terceiro momento, pesquisou-se artigos referentes
e enfrentar o momento de enfermidade, tradicio- às condições facilitadoras proposta por Carl Rogers
nalmente associado ao sistema de cuidado formal na abordagem centrada na pessoa.
representado em equipamentos como os hospitais
(Espinha, 2007). A partir desses pressupostos, con- Procedimentos de busca e análise de dados
sidera-se que a comunicação de más notícias, uma
competência de difícil manejo no cuidado em saú- Primeira etapa de busca e seleção. As bases
de (Andreoli & Erlichman, 2008; Lech et al., 2013; de dados/bibliotecas utilizadas para a pesquisa
Lino et al., 2010; Sombra Neto et al., 2017), pode
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peito às bases de dados LILACS, SciELO e PePSIC, as proposições de Rogers quanto às atitudes facilita-
encontrou-se um total de 228 artigos. Após a apli- doras tinham como cenário a relação terapêutica ou
cação dos critérios de inclusão restaram 16 artigos. a situação de contato psicológico estabelecida entre
Já na base de dados MEDLINE, a busca resultou em terapeuta (que deve estar congruente e integrado)
um total de 43 artigos e, aplicando os critérios de e cliente (que deve se encontrar em um estado de
inclusão, foram selecionados seis artigos. Portanto, incongruência). Como a ACP foi se expandindo e
no que diz respeito à pesquisa ao tema de comuni- compondo um repertório de conhecimentos desen-
cação em saúde, foram recuperados um total de 22 volvidos em cenários educacionais e de saúde para
artigos. além da clínica tradicional, a nomenclatura propos-
Segunda etapa de busca e seleção. Para as pes- ta nessa análise tomará por base a figura do pro-
quisas dos protocolos SPIKES, CLASS e P-A-C-I-E- fissional de saúde que comunica a má notícia (e.g.
-N-T-E, as buscas ocorreram no Google Acadêmico, médico) como sendo equivalente a do terapeuta e a
em livros, e em materiais concedidos através de cur- do paciente/cliente/usuário de um equipamento de
sos sobre como comunicar más notícias. Ressalta-se saúde como próxima da descrição de cliente feita
que o protocolo SPIKES é o mais difundido entre os por Rogers (1973, 1977).
três, sendo que cinco estudos sobre esse protocolo Em um contexto hospitalar, por exemplo, se
comporão o presente corpus. No que diz respeito ao substituirmos a figura do terapeuta pela do médico,
protocolo CLASS, foram incorporados dois estudos e este deverá estabelecer um encontro de ajuda para
outros três que abordaram o P-A-C-I-E-N-T-E. Assim com o outro, no caso, o paciente/cliente/usuário.
como na primeira etapa não houve delimitação tem- Nesse sentido, quando o médico tem a função de
poral, haja vista a intenção de analisar a produção comunicar uma má notícia ao paciente e seus fami-
científica acerca do tema ao longo dos anos. liares, a maioria desses profissionais sente dificul-
Terceira etapa de busca e seleção. As três con- dade em estabelecer o diálogo. A dificuldade em co-
dições/atitudes facilitadoras de Carl Rogers foram municar más notícias, relatada por Victorino et al.
pesquisadas separadamente, mas todas elas vincu- (2007), vem à tona pelos próprios medos médicos,
ladas à palavra-chave “Abordagem Centrada na Pes- isto é, o receio de causar dor ao paciente, de não se
soa”. A pesquisa foi realizada nas bases/bibliotecas sentir seguro em “passar” a notícia, de ser culpado
LILACS, SciELO, Google Acadêmico e em livros. pelo paciente e familiares, de ter algum problema
Foram incorporados ao estudo um total de 10 refe- judicial, do desconhecimento, de expressar as emo-
rências sobre o tema. ções, e também o óbito do paciente.
Segundo Lino et al. (2010), assim como é difícil
Análise do corpus. O corpus analítico delimi- para o paciente receber a notícia, o ato de transmitir
tado após essas três etapas foi lido, categorizado e uma notícia desagradável é desconfortável também
dividido para apresentação a partir das três atitudes para o médico por vários motivos. Primeiramente, o
facilitadoras elencadas a priori: (a) 1ª atitude: auten- médico/terapeuta se vê na situação difícil de lidar
ticidade/congruência; (b) 2ª atitude: consideração com emoções experimentadas pelo paciente/cliente
positiva incondicional; (c) 3ª atitude: compreensão e suas reações. Frente a esta situação, o médico/te-
empática. Essa divisão em categorias cumpre uma rapeuta tem a possibilidade de proporcionar ajuda
função didática para a melhor visualização dos por meio da sua congruência. Ou seja, ao vivenciar
aspectos retratados nesse estudo, mas deve-se ex- sentimentos desfavoráveis diante do paciente/clien-
plicitar que a análise integrada dessas três atitudes te, o médico/terapeuta tem acesso a seus sentimen-
deve ser buscada a todo o momento, haja vista que tos de uma forma consciente, estabelecendo um
as mesmas ocorrem de modo fluido e contínuo em encontro direto com o paciente/cliente, de pessoa
todo processo terapêutico e, consequentemente, no para pessoa. Consequentemente, o advento de tal
estabelecimento de um relacionamento interpessoal contato significa que o médico/terapeuta está per-
com foco no cuidado, como retratado no presente mitindo-se “ser o que se é”, portanto, sendo con-
estudo. Essas categorias foram interpretadas a par- gruente (Rogers & Stevens, 1978).
tir da Abordagem Centrada na Pessoa, empregando Obviamente que vivenciar essa atitude não
tanto estudos de Rogers (1973, 1977, 2012) como parte apenas de um desejo do médico ou de outros
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de alguns de seus comentadores (e.g. Fontgalland & profissionais de saúde, de modo automático e pe-
Moreira, 2012; Moreira, 2010). A interpretação tam- rene. Ser/estar congruente/integrado parte de um
bém ocorreu a partir da literatura científica sobre processo psicológico desenvolvido/vivenciado pelo
os protocolos de comunicação de más notícias em profissional de saúde, um trabalho que requer dedi-
contextos de atenção à saúde (e.g. Burlá, 2006; Cruz cação, tempo, disponibilidade interna e busca pelo
& Riera, 2016; Petrilli, Pascalicchio, Dias, & Petril- autoconhecimento, o que muitas vezes passa pela
li, 2000; Pereira, 2010). A discussão dos principais existência de processos de cuidado que extrapolam
achados será apresentada a seguir. o contexto laboral, como a realização de psicotera-
pia pessoal. Também as experiências prévias com
Resultados e Discussão esse tipo de comunicação e desfechos positivos
em termos da efetividade desses diálogos podem
Primeira atitude facilitadora no processo de ser importantes para dotar o profissional de maior
comunicação de más notícias: autenticidade/con- segurança e, consequentemente, ajudá-lo em seu
gruência processo de tornar-se congruente. Para experienciar
Como destacado na introdução deste estudo, essa congruência/autenticidade, é necessário que
o profissional de saúde reflita sobre a sua atuação, (a notícia que se tem para comunicar), mas com o
rompendo com os paradigmas biomédicos que pres- próprio paciente/cliente/usuário, respeitando a sua
supõem a necessidade constante de controle sobre decisão de saber ou não. Esse aspecto nos condu-
os processos, relativizando o alcance do seu saber ziria, analiticamente, para elementos mais relacio-
técnico e buscando uma postura mais humanizada nados à empatia, por exemplo, como destacaremos
no contato com o outro. É importante destacar que na terceira categoria, mas é importante considerar
ninguém atinge totalmente esta condição. Contudo, que o profissional autêntico/congruente, justamen-
quanto mais o terapeuta, no caso o profissional de te por estar integrado, consegue lidar com a incon-
saúde, é capaz de ouvir e aceitar o que ocorre em gruência de seu cliente, possivelmente em estado
seu íntimo, e quanto mais é capaz de, sem medo, de ansiedade devido ao quadro de adoecimento. Ao
ser a complexidade de seus sentimentos, maior é o reconhecer e respeitar a incongruência do outro,
grau de sua congruência. consegue prestar um cuidado mais autêntico.
É possível notar que a ideia central da teoria Essas orientações vão ao encontro das ideias
rogeriana de congruência/autenticidade está pre- de Rogers de ser congruente, tanto para o médico,
sente em algumas etapas dos protocolos SPIKES, quanto para o paciente. O médico também precisa
P-A-C-I-E-N-T-E e CLASS. Tal ideia corresponde às assumir ou ter consciência de seus sentimentos por
etapas S e I do protocolo SPIKES, presentes tam- vezes negativos perante o paciente e à necessida-
bém nas etapas P e A do protocolo P-A-C-I-E-N-T- de de comunicar notícias ruins, entrar em contato
-E e, por fim, na fase C, do protocolo CLASS. Em com as suas emoções pessoais, suas dificuldades
geral, as etapas que fazem uma associação com a com determinadas abordagens e assuntos, reco-
autenticidade são as primeiras sugeridas pelos pro- nhecendo limitações que podem ser trabalhadas
tocolos. Isto vem do fato de que todas relacionam- em diferentes espaços, dentro e fora do seu setting
-se ao cuidado do profissional de preparar-se para profissional. A partir dessa leitura, não podemos
o encontro, preocupando-se com o setting onde a compreender que, para o médico, por exemplo, o
conversa irá ocorrer, bem como estabelecer um bom ser autêntico é estritamente fornecer a verdade para
vínculo com o paciente (Cruz & Riera, 2016; Baile et o paciente, não escondendo informações e, sobre-
al., 2000; Pereira, 2010). tudo, deixando transparecer o “ser o que se é”. Ser
Esses protocolos, no entanto, focam-se na rela- autêntico pode ser estar junto do outro oferecendo
ção interpessoal que se estabelece no presente e que sua integração, aceitando as decisões que podem ou
se realiza no processo de comunicação de uma má não ser compatíveis com seu esquema de referên-
notícia. Essa preparação do setting, por exemplo, cia. Este aspecto emerge como intimamente ligado
representa apenas o final de um processo que en- à segunda atitude descrita por Rogers e explicitada
volve a busca pela maior integração do profissional. na categoria seguinte. Finalizando a primeira cate-
Assim, pressupõe-se que o processo de preparação goria, deve-se sublinhar que o processo de tornar-se
para o estabelecimento de uma relação de ajuda é autêntico/congruente deve ser constante, convidan-
o que contribui para uma maior autenticidade/con- do os profissionais de saúde para um trabalho de
gruência, o que promoveria, na atuação prática, a desenvolvimento pessoal que tome por base esse
possibilidade de estar integrado, inteiro e capaz de contexto de atuação fortemente estressor e poten-
informar o que precisa ser comunicado. Essa dis- cializador de sentimentos por vezes de difícil ma-
ponibilidade de compartilhar com o outro o que se nejo (Andreoli & Erlichman,2008; Lech et al., 2013;
é, o seja, demonstrando sua integração, permitiria Sombra Neto et al., 2017).
o estabelecimento de um vínculo que favoreceria
a comunicação e, provavelmente, as repercussões Segunda atitude facilitadora no processo de co-
após a notícia. municação de más notícias: a consideração positiva
É importante dizer que nas fases I do protoco- incondicional
lo SPIKES e A e C do protocolo P-A-C-I-E-N-T-E o A ideia de Rogers sobre a consideração positiva
profissional é orientado a fornecer informações so- incondicional pelo outro também pode ser depreen-
bre seu diagnóstico, convidando-o para a verdade, dida nos três protocolos, mais especificamente nas
diretamente associada a uma postura de integração. etapas I e S do SPIKES, I e E do protocolo P-A-C-I-
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A integração, nesse caso, não está relacionada a um -E-N-T-E, como também nas duas últimas etapas do
desfecho positivo necessariamente (cura, melhora, protocolo CLASS, S e S. No que diz respeito às eta-
restabelecimento da saúde, por exemplo), mas à pas do protocolo SPIKES, na letra I – (convidando
possibilidade de poder comunicar o que é neces- para o diálogo), o profissional da saúde identifica se
sário, a fim de que determinadas ações possam ser o paciente sabe o que está acontecendo, se gostaria
colocadas em prática, como a realização de deter- de ser totalmente informado, ou até mesmo, se pre-
minados tratamentos de caráter curativista ou pa- fere que algum membro da família tome decisões
liativista, a depender do caso. por ele (Albert Einstein Instituto Israelita de Ensino
No contexto da comunicação em saúde, os e Pesquisa, s/d). Na etapa S (Estratégia e Síntese)
protocolos têm destacado que é importante avaliar ocorre o esclarecimento das estratégias terapêuticas
o quanto o paciente sabe, e o quanto quer saber so- traçadas e a realização da síntese do encontro, na
bre a notícia, sendo de total direito optar por não qual é importante deixar claro para o paciente que
saber sobre a informação (Cruz & Riera, 2016; Pe- ele não será abandonado, que existe um plano ou
reira, 2010). Aqui não se trata, portanto, de assumir tratamento, curativo ou não (Cruz & Riera, 2016).
um compromisso exclusivamente com a verdade Ao perguntar ao paciente/cliente/usuário se ele
quer ser informado ou se deseja que outra pessoa re- (Pinheiro, 2012). No mais, quando o profissional
ceba essas informações pressupõe-se a aceitação de traça uma estratégia de tratamento, alcançando as
que a pessoa pode fazer escolhas relacionadas à sua necessidades do paciente e, sobretudo, respeitando
própria vida e aos seus processos de saúde e doen- suas escolhas, é uma forma de preocupação com
ça. Permitir que a mesma escolha ser comunicada a vida do paciente. O delineamento dessa estraté-
ou não é respeitar a sua capacidade de decidir, de gia no cuidado em saúde ainda é prioritariamente
se posicionar, de ser ativa mesmo em um momento construído pelo profissional, em detrimento à ela-
no qual possa estar mais fragilizada ou demandan- boração, por parte da dupla profissional-cliente, de
do cuidados especiais. A situação de adoecimento ações e metas para o cuidado. Em uma leitura ro-
potencializa a desintegração, de modo que acreditar geriana, haveria a necessidade de que tais decisões
que a pessoa pode decidir (o que novamente não se partissem de ambos os lados, ampliando as possibi-
relaciona à necessidade de um desfecho positivo de lidades de escuta sobre as necessidades do cliente
cura, por exemplo) é considerá-la de modo positi- nesse cenário.
vo, reforçando sua tendência atualizante. O quadro Podemos dizer que para a consideração posi-
de adoecimento deve ser compreendido como um tiva incondicional ocorrer nestas etapas, o profis-
contexto desenvolvimento que pode ser situacional sional de saúde deve tanto acolher as decisões e
ou permanente, mas que não pode se sobrepor à di- dúvidas do paciente/cliente/usuário/família, como
mensão da pessoa. também suas respostas emocionais (raiva, negação,
Nas duas etapas finais do protocolo P-A-C-I-E- etc.), estando sempre disponível para o diálogo.
-N-T-E também é possível notar que há uma preocu- Independentemente de qual seja a decisão do pa-
pação em discutir os próximos passos do paciente. ciente, acreditar neste sujeito e em sua capacidade
Neste protocolo (especificamente nas etapas T e E) de mudança deve ser uma crença capaz de atuar
é sugerido estabelecer um contato mais permanente no estabelecimento da confiança apesar dos rumos
com o paciente, isto porque a estratégia de comu- do tratamento. Este modo de aceitação equivale a
nicação entre médicos e pacientes facilita a infor- acolhê-lo como pessoa (Scorsolini-Comin, 2015),
mação de diagnóstico e prognóstico de uma forma corporificando os pressupostos da ACP.
sistemática e verdadeira, respeitando a autonomia
e individualidade. Tanto os profissionais da saúde Terceira atitude facilitadora no processo de co-
quanto os pacientes beneficiam-se de uma relação municação de más notícias: a compreensão empática
transparente em que a vontade do paciente é prio- Realizando uma aproximação desta atitude em-
rizada (Pereira, 2010), o que reforça os pressupos- pática com os protocolos, percebe-se que nas etapas
tos da condição de consideração positiva incondi- K (Dando Conhecimento e Informação ao Pacien-
cional. Ao empregarmos o adjetivo incondicional, te) e E (Abordar as emoções) do protocolo SPIKES,
a exemplo do que sugere Rogers, não estamos nos como também as etapas E (emoções) e N (não aban-
comprometendo a uma aceitação fantasiosa, acrítica donando o paciente) do protocolo P-A-C-I-E-N-T-E e
ou que não corresponda à verdade, mas a uma cren- L (Habilidade de escutar) e A (Reconhecer emoções
ça no potencial de crescimento, amadurecimento e e explorá-las) do protocolo CLASS abordam e suge-
integração da pessoa, o que pode ser favorecido e rem posturas mais empáticas do profissional peran-
potencializado pelas ações dos profissionais de saú- te a comunicação de más notícias.
de nesse contexto de atenção. Essa aceitação não Nas etapas referentes ao protocolo SPIKES o
pode estar condicionada aos possíveis desfechos profissional da saúde irá contextualizar e avisar o
do adoecimento, mas a uma atitude que deve ser paciente que más notícias estão por vir. Avisá-lo
desenvolvida tendo como referência a pessoa em dessas notícias pode diminuir o impacto que elas
busca de sua integração e congruência, ou seja, que podem causar (Baile et al., 2000). Recomenda que
desvela a sua tendência atualizante. a linguagem utilizada pelo médico seja compreen-
Cada indivíduo carrega consigo marcas pes- sível pelo paciente, bem como o cuidado com sua
soais que fundamentam suas emoções, motivações fala, evitando ser “duro” (exemplo: “Você tem um
e atitudes. Assim sendo, dar uma má notícia é o câncer muito agressivo e a menos que inicie o tra-
mesmo que abranger os diferentes estágios de suas tamento imediatamente você vai morrer”) (Baile
Revisão Crítica de Literatura
emoções e sentimentos (Burlá, 2006). Kübler-Ross et al. 2000). O lidar com as emoções do paciente é
(2008) afirma que toda perda, caracterizada pelo considerada a tarefa mais difícil da transmissão de
luto, passará por pelo menos dois estágios das cinco más notícias, o profissional pode oferecer apoio e
fases do luto (Negação, Raiva, Barganha, Depressão solidariedade ao paciente com uma resposta afetiva
e Aceitação). Portanto, entender e identificar esses (Baile et al. 2000). As fases E e N do protocolo P-A-
momentos que o indivíduo está enfrentando é es- -C-I-E-N-T-E, como também as etapas L e A do pro-
sencial ao comunicar uma má notícia. tocolo CLASS, vão ao encontro das duas etapas do
Como explicitado, essas etapas apresentam protocolo SPIKES mencionada anteriormente. Am-
muito das características de consideração positiva bas as etapas, A do CLASS e E do protocolo P-A-C-
incondicional que, segundo Rogers (1973), é sentir -I-E-N-T-E têm como objetivo explorar as emoções,
uma calorosa preocupação pelo seu cliente/pacien- reconhecer e amparar as emoções dos pacientes. O
te, demonstrando uma atmosfera de “eu me preo- diferencial é que na etapa N do protocolo P-A-C-I-
cupo”. Ou seja, é importante que o médico tenha o -E-N-T-E sugere que o profissional se comprometa
cuidado de pensar em como comunicar a notícia e com o paciente e não o abandone durante o trata-
os impactos que ela pode gerar na vida desta pessoa mento (Pereira, 2010).
ção de tratamentos, por exemplo. Ao buscar com- liares. Diante da análise feita entre a aproximação
preender a fase na qual o paciente/usuário/cliente se dos conteúdos e fases destes protocolos com as três
encontra, por exemplo, apresenta-se a possibilidade atitudes facilitadoras propostas por Rogers, perce-
de tentar entender o modo como essa pessoa tem be-se que estas condições dão a oportunidade de
agido, reagido e se colocado diante do que precisa os profissionais refletirem o modo e como estão
ser comunicado. Esse exercício é potente no sentido estabelecendo/conectando-se com o paciente. Pro-
de sugerir tratamentos, formas de cuidado ou mes- vavelmente dispor de um protocolo de atenção ao
mo prescrições médicas que sejam condizentes com usuário no hospital facilitará a comunicação. No
o que o cliente está preparado para suportar e, mais entanto, é importante ressaltar que cada paciente e
do que isso, com o seu grau de integração diante família fazem parte de um mundo diferente (o mun-
do cenário. A empatia permite que o profissional do de seus sentimentos) e sua história tem que ser
de saúde justamente se coloque no lugar desse pa- considerada.
ciente/cliente/usuário e reconheça as necessidades É pela linguagem que fazemos as descobertas
e potencialidades do mesmo para o cuidado. e conhecemos o mundo do outro e com o outro. As-
sim, o profissional que consegue ser compreendido
pelo paciente estabelece com ele e seus familiares des de comunicação, como também em uma orien-
uma relação empática, criando um relacionamento tação para o atendimento mais humanizado desses
permissivo, envolto de um clima afetivo, de respeito profissionais. Atualmente não é suficiente levar em
e responsabilidade. Quanto mais o profissional con- conta somente a eficiência médica, mas também a
seguir ser genuíno, real, apresentando-se como tal, forma com que esses profissionais estabelecem um
mais útil e acolhedora será a relação. Mais do que vínculo com seus pacientes e familiares.
localizar tais atitudes nos protocolos de comunica- Com isto, fazendo as aproximações das três
ção de más notícias é mister integrar esses aspectos atitudes facilitadoras propostas por Rogers é possí-
à formação de profissionais em saúde, haja vista vel que haja mais estudos referentes à implementa-
que compõem um repertório que pode ser emprega- ção dessa abordagem nas práticas dos protocolos,
do em diversas situações da assistência em saúde, contribuindo para uma melhor e mais empática for-
melhorando a qualidade do atendimento prestado mação desses profissionais. Desse modo, por mais
e promovendo uma escuta e um acolhimento hu- desafiador que seja, cabe a eles mostrar um interes-
manizado, assim como preconizado na contempo- se maior pelo outro e aceitar estar ligado ao pacien-
raneidade. Tal integração, embora seja fomentada, te como uma pessoa digna de atenção, consideração
ainda constitui um desafio a ser considerado na e respeito.
atenção em saúde. Recomenda-se que tais considerações endere-
Contudo, é necessário resgatar a importância da çadas neste estudo teórico possam compor um re-
relação equipe-família-paciente como prática diária, pertório para a construção de propostas interventi-
haja vista que quando há uma capacidade por parte vas junto a equipes de profissionais de saúde, bem
do profissional em escutar, compreender e de exer- como delineamentos de disciplinas e treinamentos
cer a empatia, gera o resgate de uma relação mais em serviço, o que deve ser avaliado e aperfeiçoa-
humana que ficou perdida na ciência. Assim, através do constantemente, também compondo evidências
da humanização o paciente é visto e tratado como para a realização de estudos empíricos no futuro. A
pessoa, deixando de ser caracterizado apenas por investigação acerca dessas propostas para a melho-
números e patologias. Então, para que tal relação seja ria da comunicação de más notícias entre profissio-
mais humana, o diálogo entre profissionais e pacien- nais de saúde e pacientes/clientes/usuários também
tes é de extrema importância, pois quando o pacien- pode ser refletida tendo em mente o público aten-
te é colocado em uma posição ativa na construção dido, bem como os familiares, em uma apreensão
do próprio tratamento, bem como procura saber o mais complexa e sistêmica acerca dos processos de
que ocorre com ele, estabelece uma parceria entre comunicação e humanização em saúde.
paciente e profissional. Isto é possível quando ambos
se tornam parceiros e juntos traçam os objetivos do Referências
tratamento (Souza & Santos, 2013).
possa fazer com tal informação. Um dos requisitos Azeredo, N. S. G., Rocha, C. F., & Carvalho, P. R. A. (2011).
principais na comunicação é informar as questões O enfrentamento da morte e do morrer na formação
consideradas pesarosas de forma clara e verdadei- de acadêmicos de medicina. Revista Brasileira de
ra, não omitindo prognósticos e percursos possí- Educação Médica (Rio de Janeiro), 35(1), 37-43.
veis. Ao mesmo tempo, deve-se inspirar respeito
por meio da exclusividade dispensada por aquele Baile, W. F., Buckman, R., Lenzi, R., Globera, G., Beale,
indivíduo, reconhecendo-o e respeitando-o como E. A., & Kudelka, A. P. (2000). SPIKES: A six-step
um ser único, tendo na prática o firmamento de que protocol for delivering bad News - application to
tudo foi feito para salvar sua vida. E, por fim, dei- the patient with cancer. The Oncologist, 5(4),302-11
xar-se proporcionar ao outro a generosidade, que se
solidariza e identifica-se com a dor do outro. Bezerra, M. E. S., & Bezerra, E. N. (2012). Aspectos hu-
É importante ressaltar que os problemas de manistas, existenciais e fenomenológicos presentes
comunicação apresentados pelos profissionais da na abordagem centrada na pessoa. Revista NUFEN,
saúde também são fruto de uma insuficiência na 4(2), 21-36.
formação acadêmica, na qual é necessário oferecer Buckman, R. (1992). How to break bad news: a guide for
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