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Borges:
Borges faz uma colagem de interpretações de Homero – Ilíada (cabeça de leão, ventre
de cabra e cauda de serpente), e Hesíodo – Teogonia (tem três cabeças), da escultura de
bronze Quimera de Arezzo, de Servius Honoratus (Quimera como metáfora do vulcão
com leões, cabras e cobras), e de Plutarco (nome de um capitão pirata que pintara em
seu barco um leão, uma cabra e uma cobra). Termina por definir o termo quimérico na
semântica moderna como o impossível, idéia falsa, vã imaginação. O monstro aqui não
é descrito profundamente, tem função apenas de ditar o tema de interesse unificador
deste texto que leva o leitor através dos séculos começando por referências (não usa
citações ipsis litteris) retiradas da obras clássicas que definiram o monstro e terminando
por uma justificativa pra a definição no dicionário moderno. A Quimera é apresentada
como metáfora para o vulcão, e como sinônimo de utopia, devaneio, ou ainda como a
representação de algo que tem partes incongruentes.
Origens na cultura:
“Biografia” do mito:
∗ Surgiu na Lícia, na região de Anatólia (hoje se situa na Turquia, mas era parte do
Império Grego Antigo) durante o século VIII a.C..
∗ Foi criada pelo rei da Cária para a destruição de seus inimigos, mas acaba por
assolar várias cidades e matar muitas pessoas.
∗ Hesíodo, Teogonia (século VIII ou VII a.C.) – “... ela (Equidna) gerou a
Quimera, a qual expirava fogo furioso, uma besta grande e terrível, forte e
rápida nos pés. Suas cabeças eram três: uma que era de um leão com olhos
brilhantes, outra de uma cabra, e a terceira de uma cobra, um poderoso dragão.
Mataram-na Pégaso e o nobre Belerofonte...”
Interpretações diversas:
∗ Robert Graves, Os Mitos Gregos (edição revisada 1960) - “a Quimera ... era
símbolo do ano tripartido sagrado da grande deusa, leão para a primavera, cabra
para o verão, e serpente para o inverno...”. A interpretação sugerida da criatura
como uma alegoria das três estações do ano (como este era dividido em tempos
muito antigos) é complementada pela idéia de que ela também representava a
passagem de uma sociedade matriarcal dominada pela deusa Lua para uma
patriarcal dominada pelo rei Sol
∗ Na Zoologia:
- É um animal que tem duas ou mais populações de células que vêm de
diferentes zigotos
- É um peixe cartilaginoso marinho relacionado com os tubarões. Vive nas
profundidades, possui fecundação interna, e tem glândulas de veneno ligadas
à espinha dorsal
∗ Na Botânica: organismos simples composto de dois tipos diferentes de tecido
Cultural:
Representava:
∗ O (frio do) inverno: sua cabeça de leão que solta fogo representa as temperaturas
congelantes (e a geada); sua cabeça de cabra, as tempestades de inverno (aigis
em grego significa tanto “algo gramaticalmente feminino pertinente a uma
cabra/casaco de pele de cabra” quanto “violenta tempestade”); e sua cabeça de
serpente, as doenças do inverno.
∗ O mitológico vulcão de mesmo nome: Chimaera, com a base infestada de
serpentes, nas encostas prados e cabras, no topo leões e labaredas. Hoje se sabe
que tal vulcão é na verdade um fenômeno natural que acontece há milhares de
anos ininterruptamente, são varias chamas eternas no topo de uma montanha
rochosa (Yanar) perto do Olympus, o fogo vem do metano que escapa da terra.
Na Yanar supostamente viviam leões, cabras e cobras; estes três elementos
juntamente com o fogo são as quatro características da Quimera.
∗ As estações do ano sendo: leão para a primavera, cabra para o verão, e serpente
para o inverno; ou verão (chamas vindo da boca do leão), a primavera (cabra) e
outono por vir (serpente)
∗ Ver uma Quimera era sinal de que haveria tempestades, naufrágios, e desastres
naturais, em especial de vulcânicos.
Como dizia uma poetisa, “o passado é uma estranha criatura”. Claro que é. Creio que os
fósseis dessa criatura são ecos para sempre, assim como as ondas de rádio que vagam
por todos os rincões do Universo. Minha condição humana me fascina, pois conheço a
fronteira de minha existência e ignoro porque estou neste mundo. Hoje uso calcinha de
renda nhanduti, mas já fui fera primitiva, cuja ignorância fazia brotar flor. Isso foi em
1977, quando cheguei por aqui. Eu era um rapaz magro, erótico, cujo conhecimento em
filosofia chegava aos deslimites da idiotice por não querer ser mais idiota que os outros.
Foi um bom tempo. Naquela época eu bebia cervejas e ouvia óperas.
Foi então que conheci Mimi. Decorei cada canto e cada acorde, La Bohème foi decisiva
para minha transfiguração. Notei que a natureza fazia experimentos com desmanches e
procurava a simetria matemática nas coisas. Eu, que não tinha uma prece para rezar,
nem um canto além daqueles becos de Corumbá, resolvi seguir os passos do Cosmos.
Ouvi seus pulsares, vi desvões na massa escura, paredões de galáxias, estrelas, mundos
e átomos. Percebi que tudo isso seguia em linha reta, igual à conjectura de Poincaré.
Pela janela da pensão onde eu morava, esticava o olhar sobre o rio que, como um
espelho, refletia gaivotas, nuvens, a lua e as estrelas em noites escuras. Éramos criaturas
que viviam ao lado oeste de algum lugar, sitiadas pela melancolia, pelos camalotes
errantes, barcos, telhados e becos cheirando a urina e peixe. A noite era uma janela
aberta e servia como moldura para os loucos e bêbados. Eu tinha a certidão de homem
adolescente e sonhos de Quimeras.
Queria ser uma mulher no sentido mais profundo da palavra. Não era para incorporar,
era para compreender. Gostei de ser um menino e cheirar fendas de moças com fiapos
de manga – foi uma teoria e uma proeza solitária. Mas, em meio à trama do espaço e do
tempo fui, aos poucos, me moldando a Quimera, cujo corpo me deixava em brasa de
desejo ante ao espelho. Nas somas de tudo, o resultado era uma bela conjectura que me
ampliou cientificamente para o nada. Mesmo assim, decidi que o Universo era mulher.
Vesti saias coloridas, coxas delineadas, curvas, batons e gestos, eu era uma mulher
perfumada.
Quimera tinha vestígios de homem, mas era bela e de coração sem lei e comportamento
onde homens e mulheres vadiavam. Era artificial e, mesmo assim, fui abençoada pelo
amor de Agosto, um homem platônico e verdadeiro – desapareceu no Rio Paraguai.
Das vilezas do homem herdei todas. Como mulher, cheguei ao limiar de uma evolução
absurda e verdadeira.
Hoje, o dia envelhece em meus pincéis. Pinto quadros para meu sustento e as nuvens
são ponteiros de um relógio invisível em minhas telas. Nem as moscas me iluminam
mais, o tempo envelheceu até o horizonte do rio. Tenho nudofobia e olhos pagãos sobre
os corpos perfeitos das moças que passam pelas ruas.
Quando a noite vem nascendo, sinto uma melancolia de trem, ligo o rádio e ainda me
recordo de Mimi. As gaivotas desaparecem, embebedo-me com licor de guavira e
canto...
“Sì. Mi chiamano Mimì,
ma il mio nome è Lucia.
La storia mia è breve.
A tela o a seta
ricamo in casa e fuori...
Son tranquilla e lieta
ed è mio svago
far gigli e rose.
Mi piaccion quelle cose
che han sì dolce malìa,
che parlano d'amor, di primavere,
di sogni e di chimere,
quelle cose che han nome poesia...
Lei m'intende?”
--
Hoje uso calcinha de renda nhanduti, mas já fui fera primitiva, cuja ignorância fazia
brotar flor - calcinha de renda, veste-se de mulher. Primitividade, ignorância, fraqueza
do lado homem dele permitiu que a porção mulher nele ganhasse forças para vir à tona.
Da ignorância dele nascia uma flor, seu lado delicado, seu lado mulher (como a flor de
lótus que na filosofia indiana nasce das lamas da ignorância).
Eu tinha a certidão de homem adolescente e sonhos de Quimeras - era adolescente e
já sonhava em se transformar, se travestir, tinha sonhos, devaneios sobre transformar-se
em um ser quimérico e, por definição, contraditório.
Queria ser uma mulher no sentido mais profundo da palavra. Não era para incorporar,
era para compreender - queria ver o mundo através dos olhos de mulher, o mundo,
frágil e delicado como a própria mulher, tem nuances que só podem ser compreendidas
por um ser compatível com essa sensibilidade.
... fui, aos poucos, me moldando a Quimera - foi se aceitando como travesti. A
Quimera era a aceitação de sua porção mulher.
... me moldando a Quimera, cujo corpo me deixava em brasa de desejo ante ao
espelho - sente-se bonito, se acha desejável quando se vê no espelho com aparência de
mulher porque finamente fica “confortável em sua pele”.
Quimera tinha vestígios de homem - não vira mulher nem transexual, vira travesti.
... decidi que o Universo era mulher. Vesti saias coloridas, coxas delineadas, curvas,
batons e gestos, eu era uma mulher perfumada - Universo é mulher, é belo, é delicado.
Ele se veste de mulher, se sente mulher, a flor ofuscando a ignorância. Fica vaidoso, a
auto-estima cresce, quer se arrumar e chamar atenção para que todos o vejam.
... coração sem lei e comportamento onde homens e mulheres vadiavam - Quimera lhe
dá liberdade em vários campos. O bissexualismo é evidenciado, além disso, ele se vê
tanto como homem quanto como mulher.
Das vilezas do homem herdei todas. Como mulher, cheguei ao limiar de uma evolução
absurda e verdadeira - do homem vinha sua porção ruim, animal, seus defeitos.
Ressente este lado, mas não o nega, aceita que para virar o ser fantástico precisa
conviver com essa contradição. Idealizava a mulher nele, a qual trazia todas suas
virtudes, era a parte dele que fazia ele se sentir bem consigo e com o mundo, o lado que
permitia que ele fosse seu eu verdadeiro, sem mentiras ou disfarces.
Quimera é utilizada como ser fantástico e também como utopia, fantasia, e é
representada no ser transmutado (ele mesmo depois de assumir sua porção mulher e
virar travesti).
A Quimera tem função redentora porque permite que ele evolua e se encontre, que ele
se sinta um ser humano melhor ("evolução absoluta e verdadeira").
Ela representa um signo espiritual a partir do momento em que permite a
transcendência do homem e o direcionamento de sua alma em busca de uma conexão
com o universo.
É um signo social porque a sociedade (mesmo que não explícita no texto) é a
definidora do contexto social e do que é considerado “normal”, e esta enxerga o travesti
como o “diferente”, o bizarro.
A maneira como a idéia é apresentada causa estranhamento porque insere a figura
mítica nessa mutação psicofísica de maneira metafórica e quase poética.
Ele se sente ser fantástico, mágico, sua mente e corpo em unidade lhe dando poderes
para compreender a fragilidade e beleza do universo que é mulher, lhe permitindo
renascer como a flor que brota da lama, sua própria flor de lótus.
A Quimera pode ser vista como uma metáfora de nossos tempos, o retrato perfeito da
matança banalizada e sem sentido. Sua história de vida e de morte pelas mãos de
Belerofonte, onde o vencedor não dá ao derrotado chance para se explicar ou se
defender, encontra paralelos na atualidade. A luta mítica é reencenada no ataque às
Torres Gêmeas em 11 de setembro de 2001, o qual lembra o ataque de Belerofonte à
Quimera: criaturas voadoras atacando, e as torres pegando fogo. É um pedacinho de
Belerofonte e seu cavalo voador Pégaso. O louco, ou os loucos que organizaram o
ataque esqueceram do lado humano das torres, não valorizaram as vidas que ali
estavam, não consideraram que essas pessoas não podiam se defender. A Quimera
também não teve oportunidade de se defender quando foi atacada. Para Belerofonte, a
Quimera era somente um monstro horrível e perigoso, e ele seguiu o princípio de que o
que não podia entender, destruiria. O “herói” esqueceu do papel antigo dela como
deusa da fertilidade, seu lado bom. Mas a verdade, a conclusão final de tudo isto é que o
Homem nunca vai aprender a viver em paz!
Bibliografia:
www.mythicalrealm.com/creatures/chimera.html
http://en.wiktionary.org/wiki/%CF%87%CE%AF%CE%BC%CE%B1%CE%B9%CF
%81%CE%B1
http://www.abovetopsecret.com/forum/thread482782/pg1
http://www3.unifi.it/surfchem/solid/bardi/chimera/
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http://chimerathemovie.tripod.com/
http://www.statemaster.com/encyclopedia/Chimera-(mythology)
http://etimologias.dechile.net/?Quimera
http://www.perseus.tufts.edu/hopper/searchresults?q=%22khimaira%22
http://www.etymonline.com/index.php?term=chimera
http://culturaclassica.blogspot.com/2007/02/expresses-Quimera.html
http://www3.unifi.it/surfchem/solid/bardi/chimera/figurativechimera/index.html
http://www.perseus.tufts.edu/hopper/text?doc=Perseus:text:1999.04.0058:entry
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http://www.wordia.com/chimera/etymologies
http://www.allwords.com/word-chimaera.html
http://www.cirali.gen.tr/pg.aspx?lang=eng&pg=ciralicevresi
http://en.wikipedia.org/wiki/Chimera_in_popular_culture
http://chimerachic.com/
http://www.newworldencyclopedia.org/entry/Chimera_(mythology)#Etymology
http://www.theoi.com/Ther/Khimaira.html
http://mw2.merriam-webster.com/dictionary/chimera
http://www.virtualworldlets.net/Resources/Hosted/Resource.php?Name=Chimera
http://www3.unifi.it/surfchem/solid/bardi/chimera/rasmussenchimera/rasmussenchimera
.html
http://www.alaturkaturkey.com/index.php?view=turkey-antalya-chimera-yanartas-
burning-rocks-sights-and-attractions-things-to-do
o lado oeste da noite – arlindo fernandez