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COMPREENSÃO E RESUMO DE TEXTOS:

ALGUNS ASPECTOS TEÓRICOS E EXPERIMENTAIS


Washington Silva de Farias *

Resumo 1 O MODELO DE COMPREENSÃO DE


Neste trabalho apresentaremos um esboço do Mo- KINTSCH & VAN DIJK
delo Estratégico de Compreensão de Kintsch & van Dijk
(1983, 1985), modelo este que, além de fornecer uma expli- 1.1 Pressupostos teóricos básicos
cação ampla do processo de compreensão do discurso em
geral e do texto escrito em particular, constitui talvez o único O modelo de compreensão de Kintsch e van Dijk
construto teórico que integra em suas formulações o re- (1983; 1985) parte do pressuposto fundamental de que, na
sumo de textos como parte essencial do processo de com- tentativa de compreender um discurso ou texto1, o leitor
preensão. Nesse sentido, este artigo tenta dar uma vi- opera estrategicamente, isto é, de forma finalística, flexível
são global do modelo de compreensão referido, situando e interativa, com informações de diversos níveis, quer
nele, o processo de resumo de textos. Além disso, no in- lingüístico (morfofonológicas, sintáticas, semânticas, etc.),
tuito de reforçar ou ampliar a discussão do modelo a quer cognitivo (conhecimento episódico, conhecimento se-
ser descrito, optamos ainda pela apresentação de alguns mântico geral, conhecimento sobre textos, etc.), quer
resultados de pesquisas a ele relacionados. contextual (situacional, interacional, pragmático, etc.). Em
outros termos, o leitor lança mão de qualquer informação
Palavras-chave: compreensão de texto; resumo. disponível relevante, de qualquer ordem e em qualquer
momento durante a leitura para dar significado ao texto (ou
Abstract fragmento deste), formulando assim hipóteses provisórias
In this work we will present a sketch of the Strategical sobre sua estrutura e significado. Tais hipóteses podem ser
Comprehension Model of Kintsch & van Dijk (1983, 1985), confirmadas, descartadas ou retomadas durante a leitura, até
a model that, besides to provide a large explanation of the que se obtenha uma representação semântica mental efe-
discourse comprehension process in general and of the tiva e possível do texto ou fragmento em consideração. A
written text in particular, represents maybe the unique essa representação mental, obtida a partir do imput lin-
theoretical construct which includes in its assumptions the güístico (palavras, sentenças simples e complexas), Kintsch
summarization of texts as an essential part of the & van Dijk denominam texto-base, isto é, um conjunto pro-
comprehension process. In this way, this work provides an posições ou seqüência de proposições que encerram o sig-
overview of the reading comprehension model mentioned nificado do texto. Uma proposição, grosso modo, é o cor-
and situates in it the texts summarization process. Besides, respondente semântico de uma sentença simples ou com-
in order to reinforce or enlarge the discussion, we chose to plexa (período composto).
present some research data related to the model to be O processo de construção do texto-base ocorre para-
described. lelamente à ativação, na memória, de um modelo de situa-
ção, que constitui “uma representação cognitiva de even-
Key words: text comprehension; summary. tos, ações, pessoas e em geral a situação de que trata um

* Professor da UFPB/Campus V. Mestre em Lingüística pela UFC.


1
O termo “discurso” refere-se não só ao que comumente se reconhece na escrita e na oralidade como narração, exposição, argumentação, etc.
como também a eventos comunicativos orais outros, como a conversação.

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texto” (grifo e tradução nossos) (Kintsch & van Dijk, mântica do discurso ou a reconstrução formal da infor-
1983:11-2). Esse modelo de situação orienta o leitor na busca mação ou conteúdo do discurso com base em três níveis
das informações relevantes para o estabelecimento da coe- de representação: microestrutura, macroestrutura e
rência (compreensão) do texto, podendo incluir ainda infor- superestrutura (Kintsch & van Dijk, 1983,1985).
mações prévias sobre outros textos similares, bem como O nível microestrutural ou microestrutura corres-
conhecimentos mais gerais sobre a situação em foco Assim, ponde às representações semânticas (proposições) estabe-
à medida que se vai construindo, o chamado texto-base é lecidas para sentenças ou seqüências de sentenças, sendo
continuamente comparado com o modelo de situação. assim responsável pela organização seqüencial e pela coe-
Desse modo, a compreensão de um texto implica não só a rência local do discurso.
construção de uma representação textual, mas também do O nível macroestrutural ou macroestrutura refere-
contexto social ao qual remete. se ao significado ou conteúdo global do discurso, implicado
O processo acima descrito, segundo Kintsch e van nas relações explícitas e implícitas entre suas proposições,
Dijk, é relevante, por duas razões. Por um lado, porque limita determinando assim a organização temática e a coerência
a quantidade de informações implicadas na compreensão do global do discurso.
texto, ou seja, na leitura de um texto, o leitor não precisa lidar O nível superestrutural ou superestrutura determina
com todas as informações disponíveis em sua memória, mas as formas específicas de certos tipos de discurso (narração,
apenas a porção dessas informações pertinentes ao texto que exposição, argumentação, etc.). Trata-se de uma sintaxe glo-
se está lendo e que estão incluídas no modelo de situação bal que define categorias gerais esquemáticas das várias
momentaneamente ativado. Neste caso, quanto mais ricos formas de discurso.
forem os modelos de situação de que disponha o leitor, mais No nível microestrutural operam estratégias de coe-
rápido se dará a compreensão. Por outro lado, permite atri- rência local: estratégias visando ao estabelecimento de co-
buir ao texto tanto o seu significado conceitual, isto é, o sig- nexões significativas entre as sentenças sucessivas do dis-
nificado das proposições expressas no texto, como tam- curso ou texto. Através dessas estratégias, o leitor busca as
bém o seu significado referencial, isto é, o significado em possíveis ligações entre os fatos denotados pelas suas pro-
referência a um modelo de situação específico. As implica- posições. Trata-se aqui de estratégias para a interpretação
ções deste fato são demonstradas por van Dijk (1988:158) do significado de sentenças e das relações e funções entre
através da discussão dos seguintes enunciados: sentenças do texto, possibilitando assim sua interpretação.
No nível macroestrutural operam estratégias de coe-
a) Na semana passada, assisti a uma conferência em Roma.
rência global ou macroestratégias: estratégias visando à
b) Esta foi uma boa ocasião para praticar meu italiano.
inferência de macroproposições (unidades semânticas de
b1) Esta foi uma boa ocasião para praticar meu russo.
ordem mais geral) a partir da seqüência de proposições ex-
b2) Ela esqueceu-se de aguar as plantas.
pressas localmente pelo texto. Nesse nível, cabe ao leitor
reconstruir o significado de porções maiores do texto em
Van Dijk explica que o que estabelece a coerência entre
seu conjunto, como o parágrafo, por exemplo, retendo ape-
as sentenças a e b acima é o conhecimento prévio do leitor
nas a informações mais importante.
sobre a situação em foco, ou seja, o modelo de situação ati-
As macroestratégias operam sobre informações do
vado, que, entre outras coisas, inclui informações que nos
próprio texto, isto é, mediante à interpretação de palavras,
“lembram” que Roma fica na Itália e que, portanto, em Roma
sentenças e seqüências de sentenças, através de inferências
se fala italiano. Já a interpretação de b1 no contexto de a seria
semânticas, pistas sintáticas ou de informações sobre a es-
de aceitação mais difícil, dada a dificuldade de estabeleci-
trutura particular do discurso. Quanto mais ostensiva for a
mento imediato de um modelo de situação adequado que per-
sinalização textual, mais fácil e rápida será a compreensão,
mita relacionar o fato de estar em Roma e, por conta disto,
uma vez que tal sinalização limita as possíveis interpreta-
praticar uma língua como o russo, falada em outro país. No
ções do texto, apontado ao leitor as informações mais rele-
caso de b2, no contexto de a, a interpretação é ainda mais
vantes. Títulos, subtítulos, sentenças, mudança de parágra-
difícil, visto que não há com estabelecer qualquer relação entre
fo, introdução de novos agentes, de ações, de fatos, resu-
as duas sentenças. Desse modo, van Dijk conclui que um tex-
mos introdutórios ou finais são alguns dos elementos que
to não se pode dizer compreendido meramente pela interpre-
sinalizam macroestruturas em muitos textos. A
tação de suas sentenças ou proposições, mas pela sua
macroestratégias podem operar ainda mediante recurso a
integração a um modelo de situação satisfatório.
informações do conhecimento de mundo do leitor, que for-
nece possíveis tópicos (temas) para o texto, e do seu conhe-
1.2 Estrutura semântica do discurso ou texto cimento acerca dos tipos de discurso, que impõe restrições
tópicas conforme o tipo de texto.
Do ponto de vista propriamente lingüístico, o mo- No nível superestrutural operam estratégias esque-
delo em consideração se propõe descrever a estrutura se- máticas: estratégias de organização das macroproposições

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em categorias mais globais (categorias superestruturais), que ao leitor lidar de forma seletiva e global com a grande quanti-
correspondem às funções que determinadas porções do texto dade de informações semânticas de um texto-base (texto em
exercem no seu conjunto. Do ponto de vista estratégico, as todos os seus detalhes), centrando-se sobre suas unidades
categorias superestruturais podem ser depreendidas medi- semânticas globais ou macroestrutura (pontos mais impor-
ante recurso a informações textuais e contextuais, podendo tantes do texto-base) (Kintsch & van Dijk, 1985, passim).
ainda estar sinalizadas na própria superfície textual. Assim, As macrorregras identificadas por Kintsch & van
se a macroestrutura de um texto narrativo contém uma ou Dijk (1983,1985) são bastante conhecidas:
mais macroproposições iniciais que descrevem tempo, lu-
1. Apagamento: apagamento de todo material
gar, participantes e uma situação, tal ou tais macro-
lingüístico que indica propriedades acidentais do referente
proposições podem ser designadas como a categoria es-
do discurso, se estas não constituírem condição de interpre-
quemática cenário, exercendo assim as funções de situar,
tação para uma outra proposição subseqüente. Ex.: < A
no tempo e no espaço, os fatos a serem narrados e de intro-
menina brincava com a bola. A bola era azul> ⇒ <A meni-
duzir seus personagens centrais; neste caso, a categoria em
na brincava com a bola>. (exemplos menos simplórios)
questão é inferida a partir da macroestrutura semântica. Essa
2. Seleção: apagamento de proposições que repre-
mesma categoria poderia também estar sinalizada no texto
sentam condições, componentes ou conseqüência normais
pela fórmula prototípica “Era uma vez...” 2, que funciona
de um fato expresso em outra proposição, mantendo, assim,
como pista relevante para o estabelecimento da referida ca-
somente esta. Ex.: <Eu fui ao Rio de Janeiro. Então, eu fui
tegoria. Quanto mais estereotipada for a superestrutura de
ao aeroporto, comprei uma passagem, peguei o avião...> ⇒
um texto, mais fácil e rápido se dará a reconstrução de seu
<Eu fui ao Rio de janeiro>.
significado global. Há textos, entretanto, que não apresen-
3. Generalização: substituição de uma seqüência de
tam uma superestrutura definida ou convencional, dificul-
itens ou proposições por um único item ou proposição ime-
tando o processo de interpretação.
diatamente superior a eles, capaz, portanto, de abrangê-los
A ordem de apresentação das estratégias mencio-
todos em um único superconceito. Ex.: <A menina brincava
nadas não é linear. Na verdade, o leitor poderá utilizar quais-
com a bola, com a boneca, com os bichinhos de pelúcia...>
quer dessas estratégias em qualquer momento da leitura,
⇒ <A menina brincava com brinquedos>.
estabelecendo, sempre e logo que possível, macropropo-
4. Construção: substituição de uma seqüência de
sições e atribuindo a essas a sua função superestrutural.
proposições que denotam condições normais, componen-
tes ou conseqüências por uma única proposição. Ex.: <Eu
fui ao aeroporto, comprei uma passagem, ...> ⇒ Eu viajei
1.3 Macroestrutura e resumo
(de avião).

A ênfase do modelo de compreensão de Kintsch & As definições dessas regras nem sempre são fáceis
van Dijk, apenas esboçado acima, em última instância, re- de entender: as regras de apagamento e seleção implicam
cai sobre os processos e estratégias de formação do texto- cada uma delas tanto operações de apagamento quanto de
base e, em especial, da macroestrutura textual. Além disso, seleção; as regras de generalização e construção, por sua
fornece uma base teórica para a compreensão de uma ativi- vez, implicam igualmente uma operação de substituição. As
dade bastante corriqueira no cotidiano de professores e alu- regras 1 e 2, de fato, são seletivas e implicam apagamento.
nos de quase todos os níveis escolares: o resumo de textos. Entretanto, diferem pela natureza do material sobre o qual
Para Kintsch & van Dijk (1983,1985), o resumo é a incidem: na regra 1, a informação apagada é puramente aci-
expressão de uma possível macroestrutura de um texto-base, dental, isto é, não representa uma propriedade essencial de
ou seja, a expressão de seu conteúdo global, de seus pontos um dado referente (uma bola pode ser azul, verde, pequena,
essenciais. grande, bonita, feia, etc.); na regra 2, o material apagado
Para chegar a essa macroestrutura, segundo os mes- representa condições “normais” de um fato, isto é, proprie-
mos autores, leitores experientes lançam mão de certas re- dades constitutivas desse fato (ir ao aeroporto, comprar uma
gras — macrorregras — aplicadas, automática e inconsci- passagem são propriedades constitutivas do evento mais
entemente, sobre o significado das sentenças ou seqüências global viagem). As regras 3 e 4, por sua vez, incidem sobre
de sentenças (microproposições) expressas no texto, supri- material sobre essencial, implicando ambas um processo
mindo-as ou combinando-as sob certas condições, gerando de construção em que, no caso da regra 3, o material lin-
assim macroproposições, isto é, unidades semânticas glo- güístico é substituído por um superconceito (bola, boneca,
bais. Tais macrorregras, assim, constituem regras de redução bichinhos de pelúcia podem ser generalizados, cada um
e (re)organização da informação textual que possibilitam deles, pelo superconceito brinquedo); já na regra 4, o ma-

2
Exemplos de Kintsch & van Dijk (1983:240).

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terial considerado é combinado, inferindo-se dele uma truturas prototípicas para alguns propósitos de lei-
macroproposição (ir ao aeroporto, comprar uma passa- tura comuns ou explicar post hoc o que aconteceu
gem são condições que levam à inferência sobre uma via- em casos particulares”.)
gem). O material sobre o qual incide a regra 4 é o mesmo Um outro aspecto relevante apontado pelos mesmos
da regra 2, porém, nesta, esse material é simplesmente autores é que, uma vez identificadas as macroproposições
apagado, mantendo-se a proposição mais geral; naquela, a de um texto, elas devem ser coerentemente ligadas pelas
proposição mais geral deve ser inferida. mesmas relações lógicas ou retóricas (comparação, con-
Brown e Day (apud Brown,1985) identificaram um traste, causa, conseqüência, etc.) das proposições sentenciais
conjunto de seis tipos de regras de condensação para a es- das quais foram derivadas, garantindo assim a coerência glo-
crita de resumos, muito similares às macrorregras de Kintsch bal da macroestrutura. Isto implica dizer que o resumo ou
& van Dijk, a saber: a) apagamento de material trivial; b) macroestrutura de um texto não constitui uma mera lista de
apagamento de material importante, porém redundante; proposições ou sentenças desconexas, mas contrariamente
c)superordenação de uma lista de itens por um termo deve apresentar todas as propriedades do texto-base, tais
superordenado; d) superordenação de uma lista de ações como coesão, coerência, informações implícitas, etc.
por um termo superordenado; e) seleção de sentença-tópico Consideremos, a título de ilustração, o texto a seguir
do parágrafo; e f) invenção de sentença tópico se não hou- e vejamos como a aplicação sucessiva das (macro)regras le-
ver sentença-tópico. Essas regras foram deduzidas da análi- vantadas podem gerar macroestruturas cada vez mais densas.
se de protocolos verbais produzidos por leitores maduros
durante uma tarefa de resumo. A comparação dessas regras Termo denota ingenuidade
Situada a oeste de Atenas, a Beócia fazia parte da
com as de Kintsch & van Dijk permite as seguintes aproxi-
região central da antiga Grécia. Sua principal cida-
mações: as duas primeiras regras das autoras americanas de era Tebas, que chegou a exercer uma breve hege-
correspondem à regra de apagamento; as regras de super- monia sobre as demais cidades.
ordenação assemelham-se à de generalização; a de seleção A Beócia era uma área essencialmente agrícola, com
à seleção; as duas últimas, às de seleção e construção, res- comércio e artesanato de pequena expressão. Por essa
pectivamente. razão seus habitantes eram considerados ignorantes
pelos gregos dos centros mais desenvolvidos.
Em se tratando de texto mais longos, as macrorregras Esse preconceito, que deu origem ao significado atual
podem ser aplicadas em diversos níveis, gerando macro- da palavra “beócio” (bronco, boçal, simplório, ingê-
estruturas cada vez mais globais. Nessa perspectiva, cada nuo), era reforçado pelo fato de que o dialeto local
um dos níveis hierárquicos macroestruturais, gerados pela não adquiriu importância literária, porque seus prin-
aplicação de macrorregras a um texto, representa um possí- cipais intelectuais escreviam em dórico. Apesar do
vel resumo desse texto. Quanto mais vezes forem aplicadas estigma, foram beócios Hesíodo, Píndaro e Plutarco.
tais regras em cada nível sucessivo, resumos mais globais e (Folha de São Paulo, 25/10/1996:)
densos serão obtidos.
Cumpre advertir, entretanto, que a utilização de O texto em análise foi produzido com a intenção de
macrorregras como estratégia de ensino da leitura, compre- esclarecer ao leitor o significado do termo “beócio”, utili-
ensão e resumo de textos é um recurso pouco produtivo se zado certa vez pelo Presidente da República, Fernando
compreendido isoladamente dos numerosos outros proces- Henrique Cardoso, em uma de suas ofensivas verbais
sos estratégicos envolvidos nessas tarefas. Afinal, é mani- dirigidas aos que o pressionavam para alterar o rumo da
pulação estratégica de uma rede complexa de informações política econômica do país. O padrasto do Real declarou
(repetimos: lingüísticas, cognitivas e contextuais) que per- que só o faria se fosse “beócio”. Assim, o título do texto
mite não só atribuir o(s) significado(s) do texto como tam- refere-se a este termo, recuperável do contexto imediato da
bém determinar neste as informações mais relevantes a se- reportagem em que aparece. Os títulos dos textos são, nor-
rem guardadas na memória. malmente, indicativos da macroestrutura semântica de um
Além disso, Kintsch & van Dijk (1983:53) advertem texto reduzida ao máximo. Isto se aplica ao texto em aná-
que a formação da macroestrutura (ou o resumo) de um texto lise, ou seja, o título “Termo denota ingenuidade” resume,
depende dos propósitos e conhecimentos de cada leitor, de no seu nível mais alto, a macroestrutura daquele texto. En-
modo que cada leitor pode produzir uma macroestrutura tretanto, como chegamos a essa informação essencial?
distinta para um mesmo texto. Ainda assim, acreditam aque- Considerando que a mudança de parágrafos em um
les autores que essas diferentes macroestruturas terão muito texto sinaliza macroproposições, inicialmente podemos re-
em comum, uma vez que derivam de um mesmo texto-base. sumir o texto em apreço reduzindo cada parágrafo a suas
(Dadas essas constatações, Kintsch & van Dijk (1983:53) informações essenciais, aplicando ao material lingüístico
ponderam que: “O propósito de uma teoria das macro- acessório, acidental a regra de apagamento, obtendo as
estruturas pode ser apenas predizer algumas macroes- seguintes macroproposições:

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1. A Beócia fazia parte da região central da antiga Grécia. Nas duas outras macroproposições não há, por hora,
2. A Beócia era uma área essencialmente agrícola. necessidade de ajustes, configurando-se assim o seguinte
3. Por essa razão seus habitantes eram considerados ig- resumo:
norantes pelos gregos dos centros mais desenvolvidos.
4. Esse preconceito, (que) deu origem ao significado atual A Beócia fazia parte da região central da antiga Grécia
da palavra “beócio” (bronco, boçal, simplório, ingênuo). e era uma área essencialmente agrícola. Por essa ra-
zão seus habitantes eram considerados ignorantes pe-
los gregos dos centros mais desenvolvidos. Esse pre-
Nesse primeiro nível macroestrutural, foram apaga- conceito deu origem ao significado atual da palavra
das, do primeiro parágrafo, as informações acidentais sobre “beócio” (bronco, boçal, simplório, ingênuo).
o referente do discurso, “a Beócia”, relacionadas a sua loca-
lização geográfica (“Situada a oeste da cidade de Atenas...”) Poderíamos continuar ainda aplicando macrorregras
e história geo-política (“Sua principal cidade...sobre os cen- a esse primeiro nível macroestrutural, apagando de cada uma
tros mais desenvolvidos.”); do segundo parágrafo, foram eli- das macroproposições remanescentes outros dados acessó-
minadas as informações sobre “outros” aspectos da vida eco- rios: na primeira, a indicação específica da região da Grécia
nômica do lugar (“...comércio e artesanato de pequena ex- da qual a Beócia fazia parte (“região central”) e da época
pressão”), dispensáveis à compreensão de que se tratava de em que existiu (“antiga”); na segunda, o agente da passiva
uma economia essencialmente agrícola, informação esta con- “pelos gregos” e o adjunto adnominal locativo “dos cen-
dição de interpretação para a outra macroproposição selecio- tros mais desenvolvidos”; na terceira, três dos quatros adje-
nada do mesmo parágrafo “Por essa razão seus habitantes tivos sinônimos (“bronco, boçal, simplório, ingênuo”),
eram considerados ignorantes...”, por sua vez, condição de mantendo-se apenas um deles. Disto resultaria um segundo
interpretação da macroproposição selecionada do terceiro nível macroestrutural:
parágrafo (“Esse preconceito, (que) deu origem ao signifi-
cado atual da palavra ‘beócio”), do qual foram eliminadas A Beócia fazia parte da Grécia e era uma área essen-
as informações secundárias acerca desse fato. cialmente agrícola. Por essa razão seus habitantes eram
Observe-se que todas as informações apagadas, nos considerados ignorantes. Esse preconceito deu origem
três parágrafos, são secundárias às proposições principais ao significado atual da palavra “beócio” (ingênuo).
e, portanto, dispensáveis ao propósito global do texto – ex-
plicar o significado do termo “beócio” – podendo assim ser Considerando que na segunda macroproposição desse
recuperadas pelo conhecimento de mundo do leitor sobre a resumo, a expressão “essa razão” retoma apenas parte da in-
Beócia. formação macroproposicional anterior, podemos eliminar o
O conjunto de macroproposições até aqui destacado material incluído nesta macroproposição que não é condição
não constitui ainda um texto, uma vez que carece de alguns de interpretação para a subseqüente: “(A Beócia) fazia parte
ajustes no que se refere à coesão. Entre as macroproposições da Grécia antiga...”, obtendo-se uma nova macroestrutura:
1 e 2, o referente do discurso aparece repetido, podendo-se
A Beócia era uma área essencialmente agrícola. Por
neste caso reaplicar a regra de apagamento, eliminando um
essa razão seus habitantes eram considerados ig-
dos termos. Também aí poderá o leitor resumidor restabele- norantes. Esse preconceito deu origem ao signifi-
cer o vínculo semântico-sintático entre as duas macropro- cado atual da palavra “beócio” (ingênuo).
posições utilizando-se da regra de construção para trans-
formar as duas orações simples num período composto por As duas primeiras macroproposições desse último
coordenação, mediante introdução entre elas de um co- resumo podem ser ainda mais reduzidas, mediante aplica-
nectivo aditivo (“e”): ção da macrorregra da construção, resultando na ma-
croestrutura:
A Beócia fazia parte da região central da antiga
Grécia e era uma área essencialmente agrícola. O preconceito contra os beócios deu origem ao sig-
nificado atual da palavra “beócio” (ingênuo).
A segunda macroproposição, igualmente, precisa de
ajustes para reconstituir-se-lhe a estrutura sintática. Há que Eliminando-se ainda, num primeiro momento, a in-
se transformar os fragmentos de orações distintas presentes formação sobre os preconceito contra os beócios e, num
(“Esse preconceito...”, sujeito de uma oração formalmente segundo, a informação sobre a origem do significado da
independente, e “...que deu origem ao significado...”, ora- palavra ‘beócio’, poderíamos reconstruir a informação res-
ção subordinada explicativa) numa oração simples, sintá- tante em dois níveis macroestruturais sucessivos:
tica e semanticamente autônoma:
Esse preconceito deu origem ao significado atual da A origem do significado atual do palavra “beócio”
palavra “beócio” (bronco, boçal, simplório, ingênuo). (ingênuo).

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O significado atual da palavra “beócio” (ingênuo). mento, também compararam os mesmos autores duas ver-
sões de um mesmo texto: uma em ordem natural, tendo
Se, levando às últimas conseqüências essa análise, sua macroestrutura intacta, outra com parágrafos
eliminássemos o adjetivo “atual”, elemento lingüístico de desordenados. As duas versões foram lidas e resumidas por
caráter acessório, teríamos: sujeitos, evidenciando a comparação dos tempos de leitu-
ra e de resumo gastos resultados análogos aos do primeiro
O significado da palavra “beócio” (ingênuo). experimento, ou seja, tempos de leitura significativamente
distintos e tempos de resumo indiferenciados.
Transformando a macroestrutura resultante numa fra-
se verbal: Através de um outro experimento, Schnotz et al.
(apud Kintsch & van Dijk, 1983:53), observaram, entretanto,
A palavra “beócio” significa ingênuo. que sujeitos que leram um texto complexo (ensaio) e foram
solicitados a resumi-lo logo após a leitura não demonstra-
Considerando que “palavra” é hiperônimo” de ram ser muito hábeis em identificar o que era mais impor-
“beócio”, podemos ainda aplicar a regra de generalização e tante no texto, sendo mais bem sucedidos numa segunda
eliminar o segundo vocábulo: tentativa. Esses resultados, segundo Kintsch & van Dijk,
sugerem que, em se tratando de textos complexos, durante
A palavra significa ingênuo. as primeiras leituras, o leitor ocupa-se da formação do tex-
to-base e somente nas leituras subseqüentes é que se ocupa-
Como o texto-base de que estamos tratando refere- ria da formação da macroestrutura. Entretanto, no caso dos
se a apenas um dos significados da palavra “beócio”, cum- experimentos acima mencionados, que compararam tempos
pre ainda especificar o valor semântico do verbo “signifi- de leitura e de resumo, é provável que o maior tempo
car”. Podemos assim, com maior precisão, substituir “signi- despendido na leitura dos textos mais complexos tenha jus-
ficar” por “denotar” e o adjetivo que lhe complementa o tamente decorrido do maior esforço dos sujeitos na tenta-
sentido por um substantivo correspondente, resultando daí: tiva de reconstituir inicialmente o texto-base de cada texto.

A palavra denota ingenuidade.

Eliminando-se por fim o artigo, elemento especi- 2.2 Efeitos da instrução sobre a tarefa de
ficador do substantivo que se lhe segue e substituindo o resumo
vocábulo palavra por um hiperônimo correspondente, obte-
mos o título do texto, que representa o nível macroestrutural A despeito da sugestão de que a formação da macro-
mais alto a que podemos chegar: estrutura e, em última instância, a construção do resumo de
um texto, seja um processo espontâneo, Rinehart et all.
Termo denota ingenuidade. (1986) demonstraram que a instrução direta e explícita so-
bre como resumir favorece a sua formação. Esses autores
instruíram alunos a resumir textos segundo três procedimen-
2 ALGUMAS EVIDÊNCIAS EXPERIMENTAIS tos sucessivos: a) resumo de cada parágrafo do texto, b)
resumo dos resumos de parágrafos em um único parágrafo e
c) aplicação de regras de redução da informação sobre esse
2.1 A formação da macroestrutura (resumo) último resumo. A eficácia desses procedimentos instru-
do texto cionais foi testada mediante comparação dos resumos de
um mesmo texto produzidos por dois grupos de sujeitos:
Para Kintsch & van Dijk (1985), a formação da um que praticara os procedimentos mencionados; outro, que
macroestrutura é um processo automático que tem lugar não tivera nenhum tratamento específico sobre como resu-
durante a leitura do texto. A fim de comprovar essa hipó- mir textos. O objetivo do estudo era verificar se a instrução
tese, aqueles autores compararam os resultados da leitura explícita e direta sobre como resumir teria efeitos sobre a
de duas versões de um texto, uma sintaticamente mais com- identificação das informações importantes em um texto e se
plexa do que a outra, tendo evidenciado não haver diferen- ajudariam a lembrança dessas informações (?). De fato, os
ças significativas no tempo gasto pelos sujeitos da pesquisa resultados do experimento indicaram diferenças significati-
para a responder a algumas questões sobre as duas versões, vas em favor do grupo que recebera o tratamento no que se
a despeito da maior complexidade sintática de uma delas. refere à identificação de idéias principais do texto utilizado,
Entretanto, o tempo gasto na leitura da versão sintatica- porém poucas diferenças foram observadas com relação a
mente mais complexa foi significativamente maior do que lembrança de informações, sugerindo assim que o proces-
o tempo de leitura da outra versão. Num segundo experi- so de resumo é beneficiado pela instrução explícita.

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2.3 Aplicação de regras de redução da college e de graduandos do 4º. ano de inglês (experts) com
informação relação ao uso de regras mais complexas (seleção, superor-
denação e invenção). Os resultados dessa avaliação indica-
2.3.1 Progressão desenvolvimental no uso de regras ram que os graduandos obtiveram desempenho melhor do
de redução que os college nas regras de superordenação e de invenção,
tendo sido bastante significativo o contraste dos dois gru-
Brown e Day (Brown,1985) testaram suas regras de pos no uso da segunda regra. No caso da aplicação da regra
condensação para a escrita de resumos (apagamento de de seleção, os graduandos não se destacaram. Brown & Day
material trivial; apagamento de material redundante; c) sugerem que isto pode ter ocorrido por conta de uma regra
substituição de itens; d) superordenação de ações; e) se- não-prevista de combinação de parágrafos freqüentemente
leção de sentença-tópico; e f) invenção de sentença tópico) utilizada pelos estudantes universitários.
através de vários experimentos com alunos americanos de Os resultados de Brown & Day sugerem assim uma
faixas escolares diversas, da escola primária à universida- hierarquia de dificuldade no domínio das regras de con-
de. Num desses experimentos, realizado com alunos do 5º., densação, conforme a progressão da faixa escolar, nos se-
7º. e 10º. ano (nível fundamental) e college students (de guintes termos;
nível médio), textos foram especialmente construídos para a) as regras de apagamento são plenamente acessí-
a testagem de cada tipo de regra. O objetivo do experimen- veis a partir do 5º. ano;
to era avaliar a progressão desenvolvimental no uso de re- b) a regra de seleção de tópico torna-se mais acessí-
gras de condensação. Os resultados, segundo as mesmas au- vel a partir do college;
toras, evidenciaram, entre outros fatos, que: c) as regras de superordenação são mais acessíveis
aos estudantes do college e universitários, com melhor de-
a) as regras de apagamento foram utilizadas eficien-
sempenho entre estes últimos;
temente por todos os sujeitos, demonstrando que mesmo os
d) a regra de invenção é mais acessível ao uni-
mais estudantes mais novos compreendem a idéia funda-
versitários.
mental implicada na tarefa de resumir, ou seja, a redução da
informação;
2.3.2 Uso de regras de condensação e condições da
b) o uso de regras de seleção de tópico foi progres- tarefa de resumo
sivo, com resultados mais destacados entre os estudantes
do college; A pesquisa de Kleiman & Terzi (l989) contesta, em
parte, a relação estabelecida por Brown & Day entre domí-
c) a regra de invenção revelou-se a mais difícil: foi
muitíssimo pouco usada por estudantes do 5º. ano, em ape- nio de regras e grau de maturidade dos indivíduos. As auto-
ras brasileiras afirmam que as condições em que as tarefas
nas um terço das ocasiões necessárias por estudantes do10º.
de leitura e resumo foram realizadas nos experimentos das
ano e em apenas metade das ocasiões por college students.
americanas (resumo com consulta ao texto-base) poderiam
Os resultados encontrados levaram as autoras a con- ter sido responsáveis pelo mau desempenho dos sujeitos mais
cluir que as regras de condensação da informação apresen- jovens na utilização de regras de condensação mais com-
tam diferentes graus de dificuldade (fato não mencionado plexas (seleção, superordenação e invenção). Tendo em vista
por Kintsch & van Dijk), possivelmente por exigirem dife- essa suposição, Kleiman e Terzi analisaram resumos de um
rentes graus de manipulação cognitiva (Brown, 1985:515). texto produzido por 40 alunos de 8ª. série, sob duas condi-
As autoras sugerem ainda que a regra de invenção é difícil ções: resumo com a presença do texto-base e resumo sem o
porque desvia-se mais radicalmente da estratégia de cópia- texto-base. Após análise dos resumos produzidos pelos dois
apagamento3, exigindo acréscimo de informação e seleção grupos, as autoras brasileiras concluíram que as falhas de
e manipulação de informações já fornecidas. Para as auto- compreensão detectadas foram determinadas pela relação
ras, ainda, seriam essas estratégias, comuns apenas a resu- que o leitor estabelece com o objeto da tarefa (o texto), que
midores muito hábeis (universitários, por exemplo), que estando presente restringe o resumo à seleção seqüencial de
caracterizariam um bom resumidor de texto. informações (regras de cópia-apagamento), com pouca aten-
Brown & Day constataram ainda que mesmo estu- ção sobre a estrutura global do texto, numa operação mecâ-
dantes do college apresentaram dificuldades na aplicação nica, diferentemente do que ocorre com o resumo produ-
das regras de condensação, particularmente com relação à zido com a ausência do texto-base, revelador de maior au-
regra de invenção. Dada essa constatação, as autoras com- tonomia e mais bem sucedido na tarefa de integração de
pararam ainda o desempenho de estudantes do 4º. ano do informações (uso de regras de superordenação e invenção).

3
Estratégia utilizada comumente por alunos mais novos, consistindo em operações de apagamento ou inclusão de elementos da super-
fície textual.

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2.3.3 Uso de regras de redução da informação e O mau desempenho do sujeito da pesquisa nas duas
processamento da escrita tarefas propostas foi assim interpretado por Sousa e Silva
como evidência de que o insucesso na construção da
A pesquisa de Sousa e Silva (l988) acrescenta ainda macroestrutura do texto está diretamente relacionado à falta
que o tipo de regras de redução semântica utilizado e a efi- de domínio sobre as etapas da produção escrita.
ciência no domínio dessas regras são determinados não só
pela escolaridade do aluno, conforme sugerem Brown & Day, CONCLUSÃO
e pelo grau de dependência em relação ao texto-base, con-
forme defendem Kleiman & Terzi, mas, principalmente, pela As informações apresentadas neste artigo representam
capacidade do leitor/resumidor de tomar decisões adequa- apenas uma introdução ao modelo de compreensão de Kintsch
das em relação a certas etapas características do proces- & van Dijk e às formulações desse modelo acerca da natu-
samento da escrita (solução de problemas de planejamento, reza e dos processos envolvidos na tarefa de resumo textos,
tradução e revisão). Para comprovar essa hipótese, a autora servindo como sugestão de um ponto de partida para o
em questão analisou um resumo produzido por um aluno aprofundamento dessas questões. As considerações de natu-
universitário do Curso de Letras. A tarefa foi realizada em reza experimental deste artigo, por sua vez, tentaram destacar,
dois momentos. No primeiro, o aluno produziu o resumo do entre outros aspectos, alguns dos fatores, presentes ou não
texto, sendo-lhe facultada a consulta a este. No segundo, o nos estudos de Kintsch e van Dijk, que interferem na tarefa
aluno deveria revisar o resumo, porém sem recorrer ao tex- de resumo (a maturidade do leitor, as condições da tarefa de
to-base, observando sua adequação à audiência, a clareza resumo, a habilidade no processamento da escrita) e que de-
de sua estrutura global e a eficiência de suas marcas formais vem ser consideradas com mais atenção no meio escolar, onde
para a leitura. A autora buscou analisar tanto o produto da a leitura e produção de textos (resumos ou não) ainda tem
leitura (mediante análise de resumo escrito pelo sujeito) sido propostas de forma um tanto aleatória.
quanto o seu processo (mediante análise de protocolo ver-
bal). O desempenho do sujeito do experimento foi analisa- REFERÊNCIAS
do em três fases do processamento da escrita planejamento,
tradução e revisão (conforme modelo de Hayes & Flower, BROWN, A. L. (1985) Metacognition: the development of
apud Sousa e Silva). Na produção do resumo, o domínio selective attention strategies for learning from texts. In:
dessas etapas de processamento da escrita se manifestariam, SINGER, H. & RUDELL, R. (eds.). Teoretical models and
segundo a autora, entre outros aspectos: a) na fase de plane- processes of reading. Newark, Delaware, IRA, 501-26.
jamento, pela seleção de idéias relevantes do texto-base e KINTSCH, W. & VAN DIJK, T. A. (1983) Strategies of
sua organização em uma superestrutura; b) na fase de tradu- discouse comprehension. San Diego, California,
ção, pelo uso de mecanismos formais de coesão, pela manu- Academic Press.
tenção do tópico discursivo, pelo uso de estruturas sintáti-
_______. (1985) Cognitive psycology and discourse:
cas complexas, etc.; c) na fase de revisão, pela recon-
recalling and summarizing stories. In: SINGER, H. &
sideração atenta do texto-resumo quanto aos objetivos da
RUDELL, R. (eds.). Teoretical models and processes os
revisão já mencionados (adequação à audiência, clareza da
reading. Newark, Delaware, IRA, 794-812.
superestrutura e marcas formais adequadas). Os resultados
observados por Sousa & Silva, entretanto, mostraram que: KLEIMAN, A. & TERZI, S. (1989) Fatores determinantes
na elaboração dos resumos: maturação ou condições da
a) na fase de planejamento, o sujeito de seu experimento
tarefa? In: Leitura: ensino e pesquisa. Campinas, SP,
apenas reproduziu no seu resumo a ordem original do texto-
Pontes, 75-89. (Linguagem/ensino).
base, por vezes apagando a informação básica ou manten-
do-a redundantemente ou ainda criando trechos incoeren- RINEHART, Steven D. et. Al. (1986) Some effects of
tes, demonstrando não ter reconhecido adequadamente a summarization on reading and studying. Reading
superestrutura do texto-base nem estabelecido uma supe- Research Quarterly. XXI (4), 177-96.
restrutura para seu próprio texto; b) na fase de tradução, o SOUSA e SILVA, M. C. P. de. (1988) A tarefa de resumir
sujeito utilizou ou estruturas sintáticas muito semelhantes num contexto mais amplo de produção escrita. Campi-
às texto original ou estruturas outras deficientes ; c) na fase nas/SP, Trabalhos em Lingüística Aplicada. l2, 199-210.
de revisão, o sujeito limitou-se à ajustes superficiais (pon- VAN DIJK, Teun A. (1978) La ciencia del texto. Barce-
tuação, concordância, por exemplo). Já na análise do proto- lona, Paidós.
colo verbal, Sousa e Silva observou que, embora o aluno _______. (1988) Modelos na memória – o papel das re-
tenha manifestado alguma preocupação com os mecanismos presentações da situação no processamento do dis-
de coesão, marcas formais importantes do texto original fo- curso. In: Discurso, cognição e leitura. São Paulo, Con-
ram suprimidas ou mantidas de forma inadequada no resumo. texto, 1988, p. 158-181.

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