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Supremo Tribunal Federal

MEDIDA CAUTELAR NA ARGUIÇÃO DE DESCUMPRIMENTO DE PRECEITO


FUNDAMENTAL 772 DISTRITO FEDERAL

RELATOR : MIN. EDSON FACHIN


REQTE.(S) : PARTIDO SOCIALISTA BRASILEIRO - PSB
ADV.(A/S) : RAFAEL DE ALENCAR ARARIPE CARNEIRO
INTDO.(A/S) : PRESIDENTE DO COMITÊ-EXECUTIVO DE GESTÃO
DA CÂMARA DE COMÉRCIO EXTERIOR DO
MINISTÉRIO DA ECONOMIA
ADV.(A/S) : SEM REPRESENTAÇÃO NOS AUTOS

DECISÃO:
1. Trata-se de Ação de Descumprimento de Preceito Fundamental
(ADPF) com pedido de medida cautelar ajuizada pelo Partido Social
Brasileiro (PSB) em face da Resolução nº 126/2020 do Comitê Executivo de
Gestão da Câmara de Comércio Exterior (GECEX) que “zerou” a alíquota
do Imposto de Importação de pistolas e revólveres a partir de 1º/1/2021.
Eis o teor do dispositivo vergastado:
RESOLUÇÃO GECEX Nº 126, DE 8 DE
DEZEMBRO DE 2020
Altera o Anexo II da Resolução nº 125, de 15 de
dezembro de 2016.
O COMITÊ-EXECUTIVO DE GESTÃO DA
CÂMARA DE COMÉRCIO EXTERIOR, no uso da
atribuição que lhe confere o art. 7º, inciso IV, do
Decreto nº 10.044, de 4 de outubro de 2019,
considerando o disposto nas Decisões nº 58, de 16 de
dezembro de 2010, e nº 26, de 16 de julho de 2015 do
Conselho do Mercado Comum do MERCOSUL, nas
Resoluções nº 92, de 24 de setembro de 2015, nº 125,
de 15 de dezembro de 2016, da Câmara de Comércio
Exterior, e tendo em vista a deliberação de sua 11ª
Reunião Extraordinária, ocorrida no dia 8 de
dezembro de 2020, resolve:
Art. 1º Fica incluído no Anexo II da Resolução
da Câmara de Comércio Exterior nº 125, de 15 de
dezembro de 2016, o código 9302.00.00 da
Nomenclatura Comum do Mercosul (NCM),

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conforme descrição e alíquota a seguir discriminada.

NCM DESCRIÇÃO Tarifa (%)

Revólveres e pistolas, exceto os das


9302.00.00 0
posições 93.03 ou 93.04.

Art. 2º No Anexo I da Resolução da Câmara de


Comércio Exterior nº 125, de 2016, a alíquota
correspondente ao código 9302.00.00 da
Nomenclatura Comum do Mercosul - NCM fica
assinalada como sinal gráfico "#".
Art. 3º Esta Resolução entra em vigor no dia 1º
de janeiro de 2021.
O Requerente alega que a Resolução GECEX nº 126/2020, ao reduzir
a alíquota do imposto de importação de 20% (vinte por cento) para 0%
(zero por cento) relativamente a revólveres e pistolas, facilita
imensamente o acesso da população a armas de fogo, contradizendo não
apenas as tendências mundiais de mitigação de conflitos de natureza
armada, senão também as próprias políticas públicas nacionais
decorrentes da Lei Federal nº 10.826, de 22 de dezembro de 2003 (Estatuto
do Desarmamento).
Alega ainda que a consequente diminuição na arrecadação do
imposto de importação implica renúncia de receita tributária em
momento de aguda crise causada pela pandemia do vírus Corona.
Diante do contexto brasileiro de grave extensão das violências
praticadas com armas, o Requerente entende que a norma impugnada
viola os preceitos fundamentais de proteção à vida (art. 5º, caput, 227 e
230 da CRFB/88), da garantia de segurança pública (art. 144 da CRFB/88),
e da dignidade da pessoa humana (art. 1º, III da CRFB/88). Elegem-se,
portanto, estes mesmos preceitos como parâmetros para o controle de
constitucionalidade.
O Requerente aduz que a redução de alíquota em questão não
representa apenas alteração de percentagem, mas verdadeira isenção de
imposto de importação sobre pistolas e revólveres. Por essa razão, a

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matéria estaria sujeita ao princípio da reserva legal disposto no art. 150, §


6º, da Constituição Federal.
Além da existência da verossimilhança do direito alegado, o Partido-
requerente entende estar presente também o requisito do periculum in
mora, autorizador da concessão de pedido liminar, uma vez que o art. 3º
da Resolução GECEX nº 126/2020 estabelece sua entrada em vigor para o
dia 1º de janeiro de 2021.
Na peça exordial identificam-se os seguintes pedidos:
a) Preliminarmente, seja concedida medida
cautelar para determinar a suspensão imediata dos
efeitos da Resolução GECEX n. 126/2020, uma vez
que presentes os requisitos da probabilidade do
direito e do perigo na demora;
b) No mérito, seja julgada procedente a
presente ação de descumprimento de preceito
fundamental, ratificando a liminar eventualmente
concedida e declarando-se a inconstitucionalidade
da Resolução n. 126/2020 do Comitê Executivo de
Gestão da Câmara do Comércio Exterior (GECEX),
que altera o Anexo II da Resolução da Câmara de
Comércio Exterior n. 125/2016, zerando a alíquota de
importação de revólveres e pistolas (eDOC 1).
É o relatório.
Decido.

2. Do cabimento da ação e dos requisitos de procedibilidade

Assento, preliminarmente, a plena cognoscibilidade da ação,


porquanto o requerente é partido político com reconhecida representação
no Congresso Nacional.
No plano objetal, a arguição de descumprimento de preceito
fundamental exsurge como meio idôneo ao controle de
constitucionalidade da norma impugnada. A Resolução GECEX nº
126/2020 se conforma à categoria “ato do poder público” e à sua
subespécie “ato normativo federal”, contida no art. 1º, I da Lei nº

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9.882/1999, mostrando-se, em tese, passível de violar preceitos


fundamentais.
Neste mesmo sentido, entendo que a controvérsia jurídica ora
apresentada não depende apenas de interpretação do direito
infraconstitucional, uma vez que o objeto da ação decorre da análise da
extensão e do peso, diante do caso concreto, de princípios de estatura
constitucional.
No presente estágio do decurso processual, nos termos da
jurisprudência deste tribunal, não diviso outro meio procedimental hábil
a colmatar os riscos de lesão a preceitos fundamentais, pelo que, sem
prejuízo de análise posterior da fungibilidade desta ação com a ação
direta de inconstitucionalidade (cf., a este título, ADI 4.163, Rel. Min.
Cézar Peluso, Pleno, DJe 01/03/2013), entendo preenchido o requisito da
subsidiariedade.

3. Da possibilidade de decisão monocrática ad referendum do


Plenário da Corte

O art. 5º, § 1º da Lei nº 9.882/99 dispõe sobre as condições para


apreciação monocrática de pedido liminar em arguição de
descumprimento de preceito fundamental:
Art. 5º O Supremo Tribunal Federal, por
decisão da maioria absoluta de seus membros,
poderá deferir pedido de medida liminar na
argüição de descumprimento de preceito
fundamental.
§ 1º Em caso de extrema urgência ou perigo de
lesão grave, ou ainda, em período de recesso,
poderá o relator conceder a liminar, ad referendum
do Tribunal Pleno (Grifos meus).
Consoa com esta norma aquela expressa no art. 21 do Regimento
Interno do STF (RISTF):
Art. 21. São atribuições do Relator:
(...)

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IV – submeter ao Plenário ou à Turma, nos


processos da competência respectiva, medidas
cautelares necessárias à proteção de direito suscetível
de grave dano de incerta reparação, ou ainda
destinadas a garantir a eficácia da ulterior decisão da
causa;
V – determinar, em caso de urgência, as
medidas do inciso anterior, ad referendum do
Plenário ou da Turma.
Em que pesem as críticas formuladas a este instituto, e a necessária
preservação do princípio da colegialidade, a Corte tem admitido seu
emprego quando preenchidos os pressupostos autorizativos,
interpretando-os sempre à luz da excepcionalidade que encetam. À
propósito, o e. Ministro Celso de Mello pôde assentar na ementa da ADI
MC-ED-Ref 4.843, de sua relatoria, Tribunal Pleno, DJe 19.02.2015:
Concessão, ad referendum do Plenário, por
decisão monocrática do Relator, de medida cautelar
em sede de fiscalização abstrata. Possibilidade
excepcional. A questão do início da eficácia desse
provimento cautelar. Execução imediata, com todas
as consequências jurídicas a ela inerentes, dessa
decisão, independentemente de ainda não haver sido
referendada pelo Plenário do Supremo Tribunal
Federal. Precedentes. – O tríplice conteúdo eficacial
das decisões (tanto as declaratórias de
inconstitucionalidade quanto as concessivas de
medida cautelar) nos processos objetivos de controle
abstrato de constitucionalidade: (a) eficácia
vinculante, (b) eficácia geral (“erga omnes”) e (c)
eficácia repristinatória. Magistério doutrinário.
Precedentes (ADI MC-ED-Ref 4843, Rel. Min. Celso
de Mello, Tribunal Pleno, DJe 19.02.2015, grifos
meus).
Confiram-se, igualmente, os seguintes julgados que solidificam esta
linha jurisprudencial: ADI-MC-Ref 4.451, de relatoria do Ministro Ayres
Britto, DJe 1º.07.2011; ADI-MC-ED-Ref 4.843, de relatoria do Ministro

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Celso de Mello, Tribunal Pleno, DJe 19.02.2015; ADI-MC-Ref 5.398, de


relatoria do Ministro Roberto Barroso, Dje 09.11.2015; ADI-MC-Ref 4.705,
de relatoria do Ministro Joaquim Barbosa, DJe 19.06.2012; ADI-MC-Ref
4.638, de relatoria do Ministro Marco Aurélio, DJe 30.10.2014; ADPF 341
MC-Ref, de relatoria do Ministro Roberto Barroso, Tribunal Pleno, DJe
10.08.2015; ADPF 77 MC, de relatoria do Ministro Teori Zavascki,
Tribunal Pleno, DJe 11.02.2015, ADPF 309 MC-Ref, de relatoria do
Ministro Marco Aurélio, Tribunal Pleno, DJe 1º.12.2014; ADPF 316 MC-
Ref, de relatoria do Ministro Marco Aurélio, Tribunal Pleno, DJe
1º.12.2014, ADPF 307 MC-Ref, de relatoria do Ministro Dias Toffoli,
Tribunal Pleno, DJe 27.03.2014 e ADPF 130 MC, de relatoria do Ministro
Carlos Britto, Tribunal Pleno, DJe 07.11.2008.
A situação fática trazida aos autos indica, nos termos do art. 5º, § 1º
da Lei nº 9.882/99, a presença de elementos que se subsumem aos critérios
da “extrema urgência” e do “perigo da lesão grave”. Parece-me, portanto,
possível a análise do pedido liminar formulado na petição inicial,
seguindo-se de pronto o exame do referendo do Plenário.

4. Da análise do pedido liminar e de seus fundamentos

A questão ora em julgamento versa sobre o conflito entre as


finalidades constitucionais subjacentes à norma indutora do Imposto de
Importação frente a valores outros constitucionais, com destaque para o
direito à vida, a segurança pública e o mercado interno.
A jurisprudência do Supremo Tribunal Federal e a doutrina
majoritária posicionaram-se no sentido de afirmar que a concessão de
medidas cautelares, nas ações de controle abstrato de constitucionalidade,
deve obedecer aos requisitos do fumus boni iuris, entendido como a
razoabilidade jurídica das teses apresentadas, e o periculum in mora, isto é,
a relevância do pedido em face dos possíveis danos ocasionados pela
demora da decisão demandada.
Passo, portanto, à análise dos fundamentos sobre os quais se
alicerçam o pedido de suspensão dos efeitos da Resolução do GECEX nº

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126/2020.

4.1 Da extrafiscalidade do Tributo e seus efeitos sobre o mercado interno

É inegável que a Resolução n.126/2020 do Comitê Executivo de


Gestão da Câmara do Comércio Exterior (GECEX) tem por finalidade
subjacente o fomento à importação de pistolas e revólveres, o que se
constata, in limine, incompatível com a preservação do mercado interno,
com foco setorial à indústria bélica, que já há alguns anos enfrenta
desafios não só na ordem interna, senão também externa.
A Constituição de 1988 considera o mercado interno patrimônio
nacional que deve ser fomentado com vistas a propiciar desenvolvimento
cultural e socioeconômico, vejamos:
Art. 219. O mercado interno integra o
patrimônio nacional e será incentivado de modo a
viabilizar o desenvolvimento cultural e
socioeconômico, o bem-estar da população e a
autonomia tecnológica do País, nos termos de lei
federal.
A iniciativa de reduzir a zero a alíquota do imposto de importação
de pistolas e revólveres impacta gravemente a indústria nacional, sem
que se possa divisar, em juízo de delibação, fundamentos juridicamente
relevantes da decisão político-administrativa que reduz a
competitividade do produto similar produzido no território nacional. Há
significativo risco, portanto, de que ocorra desindustrialização, no Brasil,
de um setor estratégico para o país no Comércio Internacional.
Identifica-se, prefacialmente, que a Resolução GECEX nº 126/2020
representa possível ofensa grave ao art. 219 da CRFB, atentando contra o
patrimônio nacional ao arrostar negativamente o mercado interno de
setor econômico estratégico. Neste momento altamente sensível para a
retomada econômica, consideradas as sequelas do coronavírus sobre o
conjunto das atividades produtivas do país, a inviabilização de relevante
setor industrial deve ser vista com especial atenção.
O mesmo dispositivo do art. 219 da CRFB/88 prescreve, in fine, como

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objetivo constitucional, o “bem-estar da população e a autonomia


tecnológica do País, nos termos de lei federal”. Na realidade, tem-se o
desafio de evidenciar como o imposto de importação dialoga com os
valores expressos em nosso sistema constitucional, partindo-se de uma
concepção da tributação que a considera como instrumento de uma
política pública constitucionalmente orientada.
Em sede de fixação de “alíquota zero”, há que se ter em conta que o
Brasil é signatário de diversos acordos, no Sistema Multilateral do
Comércio, a referendar cogência tanto ao Direito Aduaneiro quanto ao
Direito do Comércio Internacional (cf. ADPF 101, Relator(a): CÁRMEN
LÚCIA, Tribunal Pleno, julgado em 24/06/2009, DJe-108 DIVULG 01-06-
2012 PUBLIC 04-06-2012 EMENT VOL-02654-01 PP-00001 RTJ VOL-
00224-01 PP-00011 e RE 564413, Relator(a): MARCO AURÉLIO, Tribunal
Pleno, julgado em 12/08/2010, REPERCUSSÃO GERAL - MÉRITO DJe-
209 DIVULG 28-10-2010 PUBLIC 03-11-2010 REPUBLICAÇÃO: DJe-235
DIVULG 03-12-2010 PUBLIC 06-12-2010 EMENT VOL-02445-01 PP-00137
RTJ VOL-00218-01 PP-00523).
Na doutrina tributária pátria, o professor titular de Direito
Tributário do Largo de São Francisco (USP), Luís Eduardo Schoueri,
leciona que as normas tributárias indutoras, ao perseguirem objetivos
extrafiscais prescritos, devem observar, simultaneamente, outros valores
constitucionais, com destaque para todos os previstos no Título da
Ordem Econômica (SCHOUERI, L. E. Livre concorrência e tributação. In:
Valdir de Oliveira Rocha. (Org.). Grandes questões atuais do Direito
Tributário. São Paulo: Dialética, 2007, v. 11, p. 241-271, p.243).
A técnica exonerativa de “alíquota zero” corresponde,
indubitavelmente, à isenção tributária, mediante “normas-convite”.
Opera-se, prima facie, no âmbito da licitude, na medida em que os órgãos
de Segurança Pública (Ministério da Justiça-MJ e Exército Brasileiro-EB) já
prescrevem normas “comando-controle” para importação de armas. Isto
não confere, contudo, um “cheque em branco” para o Executivo fomentar
a importação mediante indiscriminada redução de tributos.
Não se ignora que a redução do imposto de importação, mediante

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ato normativo próprio do Executivo, é autorizada pelo art. 153, § 1º da


CRFB/88. Tampouco se ignora que, conforme anteriormente reconhecido
por este Tribunal (RE 570.680/RS, rel. Min. Ricardo Lewandowski, Pleno,
DJE de 4/12/2009), confere-se certa discricionariedade, na matéria, ao
Chefe do Poder Executivo, podendo haver, inclusive, delegação à
CAMEX/GECEX. A questão juridicamente relevante passa a ser a de se,
no exercício desta prerrogativa, os efeitos extrafiscais da redução a zero
da alíquota do imposto representam indevida violação de direitos
fundamentais, colidindo com princípios que, ante as circunstâncias do
caso concreto, reclamam precedência.
Não por outra razão, a Segunda Turma, ao enfrentar a legitimidade
da fixação de alíquotas do imposto de importação, classificou este
instituto como instrumento de política econômica apto ao controle do
Poder Judiciário. Em seu voto, o e. Ministro Maurício Corrêa considerou-
o mais como um instrumento de proteção da indústria nacional do que
propriamente de satisfação das necessidades financeiras do Estado.
Confira-se:
CONSTITUCIONAL. TRIBUTÁRIO. IMPOSTO
DE IMPORTAÇÃO DE VEÍCULOS USADOS.
VEDAÇÃO: PORTARIA Nº 8/91-DECEX.
VULNERAÇÃO AOS PRINCÍPIOS DA ISONOMIA
E DA LEGALIDADE. INEXISTÊNCIA. RECURSO
CONHECIDO E PROVIDO. 1. Imposto de
importação. Função predominantemente extrafiscal,
por ser muito mais um instrumento de proteção da
indústria nacional do que de arrecadação de recursos
financeiros, sendo valioso instrumento de política
econômica. 2. A Constituição Federal estabelece que
é da competência privativa da União legislar sobre
comércio exterior e atribui ao Ministério da Fazenda
a sua fiscalização e o seu controle, atribuições essas
essenciais à defesa dos interesses fazendários
nacionais. 2.1. Importação de veículos usados.
Vedação. Portaria DECEX nº 08/91. Legalidade. A
competência do Departamento de Comércio Exterior,

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órgão do Ministério da Fazenda, encontra-se


disciplinada no art. 165 do Decreto nº 99.244/90 e,
dentre outras atribuições, compete-lhe a de emitir
guia de importação, de fiscalizar o comércio exterior
e a elaboração de normas necessárias à
implementação da política de comércio exterior.
Improcedência da alegação de ofensa ao princípio da
legalidade. 3. Princípio da isonomia. Vulneração.
Inexistência. Os conceitos de igualdade e de
desigualdade são relativos: impõem a confrontação e
o contraste entre duas ou várias situações, pelo que
onde só uma existe não é possível indagar sobre
tratamento igual ou discriminatório. 3.1. A restrição à
importação de bens de consumo usados tem como
destinatários os importadores em geral, sejam
pessoas jurídicas ou físicas. Lícita, pois, a restrição à
importação de veículos usados. Recurso
extraordinário conhecido e provido. (RE 199619, Rel.
Min. Maurício Corrêa, Segunda Turma, julgado em
26/11/1996, DJ 07-02-1997 PP-01376 EMENT VOL-
01856-08 PP-01635).
Ainda que este Supremo Tribunal Federal já tenha afirmado a
discricionariedade do Presidente da República para a concessão de
isenção tributária em vista da efetivação de políticas fiscais e econômicas
(MS 34342 AgR, Rel. Min. Dias Toffoli, Pleno, Dje 23/08/2017), parece-me
necessário traçar um distinguo: não se está aqui a tratar, simplesmente, da
capacidade de programação da Administração Pública para a efetivação
de determinada política econômica. Neste sentido, a opção normativa de
fomento à aquisição de pistolas e revólveres por meio de incentivos
fiscais mediante a redução do imposto de importação encontra óbice não
no conjunto de competências atribuído ao Chefe do Poder Executivo, mas
sim na probabilidade de ingerência em outros direitos e garantias
constitucionalmente protegidos.
É inegável que, ao permitir a redução do custo de importação de
pistolas e revólveres, o incentivo fiscal contribui para a composição dos

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preços das armas importadas e, por conseguinte, perda automática de


competitividade da indústria nacional; o que afronta o mercado interno,
considerado patrimônio nacional, conforme prescrito na ordem
econômica constitucional, e causa não razoável mitigação dos direitos à
vida e à segurança pública, que passo a tratar a seguir.

4.2 Dos fundamentos constitucionais do desarmamento

Quando do julgamento da ADI 3.112, de relatoria do eminente Min.


Ricardo Lewandowski, este Supremo Tribunal Federal analisou a
constitucionalidade da Lei nº 10.826, de 2003 (Estatuto do Desarmamento)
à luz do liame estreito existente entre o controle da circulação de armas
no país e a efetivação de direitos fundamentais. Naquela ocasião,
observou-se que o referido controle não deveria defluir de simples juízo
de oportunidade de eventuais manifestações político-administrativas,
enraizando-se antes no próprio projeto comum de sociedade que se
inaugura em 1988, e que se expande por um sem número de
compromissos da comunidade internacional.
Colhe-se do voto do e. Ministro Ricardo Lewandowski:
Principio afirmando que a análise da higidez
constitucional da Lei 10.826, de 22 de dezembro de
2003, denominada Estatuto do Desarmamento, deve
ter em conta o disposto no art. 5º, caput , da
Constituição Federal, que garante aos brasileiros e
estrangeiros residentes no País o direito à
segurança, ao lado do direito à vida e à
propriedade, quiçá como uma de suas mais
importantes pré-condições.
Como desdobramento desse preceito, num
outro plano, o art. 144 da Carta Magna, estabelece
que a segurança pública constitui dever do Estado e,
ao mesmo tempo, direito e responsabilidade de
todos, sendo exercida para a preservação da ordem
pública e da incolumidade das pessoas e do
patrimônio. Trata-se, pois, de um direito de primeira

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grandeza, cuja concretização exige constante e eficaz


mobilização de recursos humanos e materiais por
parte do Estado.
O dever estatal concernente à segurança
pública não é exercido de forma aleatória, mas
através de instituições permanentes e, idealmente,
segundo uma política criminal, com objetivos de
curto, médio e longo prazo, suficientemente
flexível para responder às circunstâncias
cambiantes de cada momento histórico.
Nesse sentido, observo que a edição do Estatuto
do Desarmamento, que resultou da conjugação da
vontade política do Executivo com a do Legislativo,
representou uma resposta do Estado e da sociedade
civil à situação de extrema gravidade pela qual
passava – e ainda passa - o País, no tocante ao
assustador aumento da violência e da criminalidade,
notadamente em relação ao dramático incremento do
número de mortes por armas de fogo entre os jovens.
A preocupação com tema tão importante
encontra repercussão também no âmbito da
comunidade internacional, cumprindo destacar que
a Organização das Nações Unidas, após conferência
realizada em Nova Iorque, entre 9 e 20 de julho de
2001, lançou o Programa de Ação para Prevenir,
Combater e Erradicar o Comércio Ilícito de Armas de
Pequeno Porte e Armamentos Leves em todos os
seus Aspectos (UN Document A/CONF, 192/15).
O Brasil vem colaborando com os esforços da
ONU nesse campo, lembrando-se que o Congresso
Nacional, aprovou, em data recente, por meio do
Decreto Legislativo 36, de 2006, o texto do
Protocolo contra a fabricação e o tráfico ilícito de
armas de fogo, suas peças e componentes e
munições, complementando a Convenção das
Nações Unidas contra o Crime Organizado

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ADPF 772 MC / DF

Transnacional, adotado pela Assembléia-Geral, em


31 de maio de 2001, e assinado pelo Brasil em 11 de
julho de 2001.
Como se nota, as ações diretas de
inconstitucionalidade ora ajuizadas trazem ao
escrutínio desta Suprema Corte tema da maior
transcendência e atualidade, seja porque envolve o
direito dos cidadãos à segurança pública e o
correspondente dever estatal de promovê-la
eficazmente, seja porque diz respeito às obrigações
internacionais do País na esfera do combate ao crime
organizado e ao comércio ilegal de armas (ADI 3.112,
rel. Min. Ricardo Lewandowski, Pleno, DJ
26/10/2007, grifos meus).
É possível divisar, a partir do julgamento de mérito da ADI 3.112,
nítido fio jurisprudencial que, em consonância com recorrentes
manifestações e decisões de tribunais e organizações internacionais de
direitos humanos, reafirma a necessidade do controle ao acesso às armas
de fogo.
Quando este Tribunal examinou a constitucionalidade da Lei nº
13.060, de 2014, que disciplina o uso dos instrumentos de menor potencial
ofensivo pelos agentes de segurança pública, observei que as obrigações
de uso proporcional das armas de fogo “explicitam o conteúdo do direito
constitucional à vida”, e, portanto, manifestam-se como direito
fundamental (ADI 5.243, Rel. Min. Alexandre de Moraes, Red. para o
acórdão Min. Edson Fachin, Pleno, DJE 05/08/2019).
Entendo que, em casos relacionados à dimensão securitária das
funções do Estado, é de se entender que o direito fundamental à vida
goza de forte peso prima facie, aportando imenso ônus argumentativo às
medidas que tendem a minorá-lo.
Como pude registrar na ADI 5.243, o alcance do direito
constitucional singelamente previsto no caput do art. 5º da Constituição
da República é complementado, em razão da cláusula de abertura
material do art. 5º, § 2º da CRFB/88, pela interpretação que os
organismos internacionais de direitos humanos dão a ele.

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O Comitê de Direitos Humanos do Pacto Internacional de Direitos


Civis e Políticos anotou, em seu Comentário Geral nº 36, que o direito à
vida compreende o direito de não ser arbitrariamente dela privado.
Assim, caberia aos Estados regular proporcionalmente o uso da força, a
fim de se assegurar a razoabilidade com que ela é empregada.
À luz dessa interpretação, o Tribunal assentou, naquela ADI 5.243,
que não era a Lei nº 13.060 que impunha restrições ao uso da força, mas a
própria Constituição, uma vez que alberga o direito à vida e o direito à
segurança. Por isso, a norma impugnada na ação direta era compatível
com o sistema constitucional.
A referida orientação do Comitê de Direitos Humanos está
amparada na obrigação que os Estados têm de proteger os direitos
previstos nos tratados internacionais, o chamado princípio da diligência
devida (due diligence), e o de observar o princípio da proporcionalidade,
como manifestação imanente de um limite dos direitos humanos, quando
regulem o acesso às armas.
No Comentário Geral nº 31 (CCPR/C/21/Rev. 1/Add. 13 26.05.2004),
em que explicitou o alcance das obrigações legislativas dos Estados, o
Comitê de Direitos Humanos advertiu que as obrigações do Pacto
Internacional de Direitos Humanos só poderiam ser efetivamente
garantidas se os indivíduos fossem protegidos por medidas legislativas
adequadas não apenas em relação ao Estado, mas também contra atos
privados. É precisamente essa norma que consubstancia o dever de
adotar medidas legais, ou due diligence.
Nessa mesma ordem de ideias, o Comitê para a Eliminação da
Discriminação contra a Mulher reconheceu que, perante o direito
internacional e os tratados específicos de direitos humanos, os Estados
também podem ser responsáveis por atos privados se falharem em agir
com a diligência devida (due diligence) para prevenir ou para investigar e
punir atos de violência.
No âmbito interamericano, a Corte de Direitos Humanos tem
reconhecido que o uso arbitrário da violência, tolerado pelo Estado por
ações ou omissões, dá ensejo à responsabilização internacional por

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violações de direitos humanos (Corte Interamericana de Direitos


Humanos, Caso Velásquez Rodriguez v. Honduras, julgamento de 29 de jul.
de 1988, par. 172).
No relatório produzido por mandato da Subcomissão de Promoção e
Proteção de Direitos Humanos (A/HRC/Sub. 1/58/27/ 27.07.2006), a
Professora Barbara Fey indicou que as medidas efetivas para cumprir o
requisito de “diligência devida” incluem requisitos mínimos de
licenciamento que têm por objetivo evitar que armas leves sejam obtidas
por quem possivelmente vai empregá-las mal. Os critérios para
licenciamento englobam o de idade mínima, o de antecedentes criminais,
a prova de que o uso será legítimo, e, finalmente, a capacidade
psicológica, devidamente reconhecida. É possível, ainda, exigir-se prova
de habilidade para o manuseio correto da arma e de que a arma ficará
guardada de forma segura. As licenças devem ser renovadas com
frequência para prevenir a transferência irregular de armas a pessoas não
autorizadas.
A Comissão de Direitos Humanos, ao acolher esse relatório,
observou que “há, de fato, um quase universal consenso acerca da
necessidade de se adotar requisitos mínimos para a legislação nacional de
autorização para a posse civil de arma como forma de proteger a
segurança pública e a proteção de direitos humanos”. Assentou, ainda,
que “esse consenso é fator a ser levado em conta pelos mecanismos de
direitos humanos quando sopesarem as responsabilidades positivas dos
Estados para prevenir violações ao núcleo de direitos humanos em casos
que envolvam violência armada no setor privado” (parágrafo 16).
O requisito da proporcionalidade figura ainda em diversos julgados
internacionais. Em Suarez de Guerrero v. Colombia (Comunicação nº R11/45,
A/37/40), por exemplo, o Comitê de Direitos Humanos advertiu o Estado
colombiano que a morte de Maria Fanny Suarez de Guerrero por forças
policiais era resultado do uso desproporcional da força, o que impunha
responsabilização internacional à Colômbia.
A partir dessas premissas, é possível concluir que não há, por si só,
um direito irrestrito ao acesso às armas, ainda que sob o manto de um

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direito à legítima defesa. O direito de comprar uma arma, caso


eventualmente o Estado opte por concedê-lo, somente alcança hipóteses
excepcionais, naturalmente limitadas pelas obrigações que o Estado tem
de proteger a vida.
Ainda assim, o uso de armas de fogo, seja por agentes públicos, seja
por agentes privados, somente se justifica em casos de absoluta
necessidade, tal como fiz observar quando do julgamento da ADI 5.243.
Isso significa que apenas quando não houver qualquer outro meio menos
lesivo de evitar a injusta agressão é que se justificaria o excepcional e
proporcional emprego da arma de fogo.
No âmbito da formulação de políticas públicas, isso significa que a
segurança dos cidadãos deve primeiramente ser garantida pelo Estado e
não pelos indivíduos. Incumbe ao Estado diminuir a necessidade de se ter
armas de fogo por meio de políticas de segurança pública que sejam
promovidas por policiais comprometidos e treinados para proteger a vida
e o Estado de Direito. A segurança pública é direito do cidadão e dever do
Estado.
Diante deste arcabouço normativo, a Resolução GECEX nº 126/2020
se apresenta, em juízo de delibação, como contrária à Constituição da
República. Que, no plano teleológico do ato normativo, existam razões de
adequação entre meios e fins, entre instrumentos econômicos e horizontes
políticos do Poder Executivo, não se extrai como consequência uma
vedação à análise de seu impacto sobre os direitos fundamentais.
Raciocinando-se em termos de proporcionalidade, pende dúvida
razoável, em primeiro lugar, sobre a regra da legitimidade dos fins
aplicada à redução a zero da alíquota do imposto de importação sobre
pistolas e revólveres (cf., a propósito desta regra, KLATT, M; MEISTER,
M. The constitutional structure of proportionality. Oxford: OUP, 2012).
Estando pouco evidente a finalidade buscada pela norma, há razões para
entender que seus objetivos podem não se coadunar com os mecanismos
de legitimação constitucional e a diligência devida.
Em segundo lugar, e como consequência do primeiro ponto, é
razoável supor que as regras da necessidade e da adequação da norma

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vergastada não se encontram preenchidas.


Em terceiro lugar, ainda que se cuide de mera análise do pedido
liminar, há suficiente evidência de que a Resolução GECEX nº 126/2020
não resiste a teste de proporcionalidade em sentido estrito. Ante o peso
prima facie dos princípios do direito à vida e à segurança, e da
significativa intensidade de interferência sobre eles exercida pela referida
redução de alíquota, naquilo em que estimula a aquisição de armas de
fogo e reduz a capacidade estatal de controle, seria necessário que os
princípios concorrentes (fossem eles o direito de autodefesa, ou as
prerrogativas de regulação estatal da ordem econômica) estivessem
acompanhados de circunstâncias excepcionais que os justificassem. Em
termos técnicos, estes direitos deveriam ser complementados por
extraordinariamente altas premissas fáticas e normativas (cf. ALEXY, R.
The Weight Formula. In: STELMACH, Jerzy et al. (org.). Studies in the
Philosophy of Law: Frontiers of the Economic Analysis of Law. Cracóvia:
Jagiellonian University Press, 2007). Ademais, estas premissas deveriam
estar plasmadas em planos e estudos que garantissem racionalmente, a
partir das melhores teorias e práticas científicas a nós disponíveis, que os
efeitos da norma não violariam o dever de controle das armas de fogo
pelo Estado brasileiro.
Ausentes as condições delineadas, conclui-se pela verossimilhança
da alegação de que a redução a zero da alíquota do imposto de
importação sobre pistolas e revólveres, por contradizer o direito à vida e
o direito à segurança, viola o ordenamento constitucional brasileiro.

5. Do perigo da demora da prestação jurisdicional

Demonstrado o requisito do fumus boni iuris, passo à análise do


periculum in mora.
Noto, inicialmente, que o art. 3º da Resolução GECEX nº 126/2020
prevê a entrada em vigor da norma para o dia 1º de janeiro de 2021.
À iminência da vigência temporal do dispositivo vergastado soma-se
a gravidade dos efeitos potencialmente produzidos, nomeadamente

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quanto ao impacto causado à segurança pública e ao direito à vida dos


cidadãos brasileiros. O risco de um aumento dramático da circulação de
armas de fogo, motivado pela indução causada por fatores de ordem
econômica, parece-me suficiente para que a projeção do decurso da ação
justifique o deferimento da medida liminar.

6. Do dispositivo

Ante o exposto, julgo presentes os pressupostos do fumus boni iuris e


do periculum in mora, e defiro, ad referendum do plenário, a cautela
requerida para suspender os efeitos da Resolução GECEX nº 126/2020.
Indico imediatamente o feito à pauta para a próxima sessão do
Plenário Virtual.

Publique-se. Intime-se.

Brasília, 14 de dezembro de 2020.

Ministro EDSON FACHIN


Relator
Documento assinado digitalmente

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