Вы находитесь на странице: 1из 18

O ARQUÉTIPO MÍTICO FEMININO NA OBRA

AS MENINAS, DE LYGIA FAGUNDES TELLES¹

Simone Adelina Pacheco²


Cláudia Paixão Coutinho³

RESUMO
Apresentação de deusas da mitologia grega manifestando-se na
mulher moderna de forma inconsciente. Justifica-se a presença
dessas divindades, considerando a teoria dos arquétipos de
Jung. Na obra As meninas, de Lygia Fagundes Telles, são
estudadas as personagens Lia, Lorena e Ana Clara e nelas é
observada a presença dos mitos femininos.
Palavras-chave: literatura brasileira, mito, deusas, feminino,
arquétipo.

INTRODUÇÃO

Por meio de leituras sobre a mitologia grega na qual se


encontram os mais fascinantes mitos, sobretudo os femininos,
percebe-se a atuação de arquétipos formadores da
personalidade e da intimidade da mulher atual. Embora se
manifeste de maneira inconsciente, em uma personagem
feminina podem atuar várias deusas e predominar apenas uma.
O modelo de divindades femininas está, notoriamente,
presente na mulher moderna de forma que o estudo das deusas
proporciona à mulher conhecer-se.
Em cada mito há um atributo ao ser feminino. Dentre as
deusas olímpicas destacam-se: Perséfone, a filha; Hera, a
esposa; Afrodite, a amante; Ártemis, a irmã; Atena, a estrategista
e Héstia, a protetora do lar.

¹Artigo originado da Monografia financiada pelo Centro de Pesquisa do Centro de


Ensino Superior de Juiz de Fora (CES/JF), sob orientação da Professora Cláudia Paixão
Coutinho. Foi apresentado em forma de Comunicação no VII Seminário de Iniciação
Científica, promovido pelo Centro de Pesquisa do CES/JF; no I Colóquio de Pesquisa
em Literatura Brasileira, promovido pelo Curso de Mestrado em Letras do CES/JF, e
no Curso de Especialização em Letras do CES/JF.
²Graduanda em Letras pelo CES/JF.
³Professora–orientadora, Mestra em Teoria da Literatura pela UFJF, Professora do
59
Curso de Graduação em Letras do CES/JF.

Juiz de Fora 2006


A deusa Atena está em voga, pois a mulher moderna é
independente, inteligente, guerreira e decidida, por isso pode
ser denominada "mulher-Atena". Encontra-se também a
"mulher-Afrodite" que está sempre voltada para o
relacionamento com o sexo oposto, é vaidosa e amorosa.
Há, por outro lado, a
"mulher-Perséfone" que se sente atraída pelo mundo espiritual,
pelo misticismo e por
assuntos relacionados à morte, é a filha dependente da mãe. Já a
"mulher-Ártemis" é prática, atlética, protege o meio ambiente,
gosta de viver junto à natureza e prefere uma vida solitária.
Encontra-se também a "mulher-Deméter", a mãe protetora, que
gosta de ter filhos, de brincar com crianças e de estar
relacionada com a reprodução e a fertilidade. Finalmente
encontra-se a "mulher-Hera" que quer se casar e proteger seu
casamento, colocando-o acima de tudo e de todos.
Partindo dessas constatações, pode-se verificar que
muitas personagens da literatura brasileira podem ser vistas sob
os olhares das divindades femininas e, em especial, As
Meninas, de Lygia Fagundes Telles, escritora que, através de
suas personagens, na maioria femininas, penetra no psicológico
de mulheres imaginárias que podem muito bem ser
comparadas às mulheres reais.
Pretende - se com este trabalho estudar o
comportamento psicológico das personagens do romance As
Meninas, de Lygia Fagundes Telles, sob o parâmetro de obras
que associam as deusas às mulheres atuais. Através dos estudos
dos arquétipos de Jung, analisar-se-á, cientificamente, a
presença desses mitos gregos no inconsciente das personagens
dessa obra.

OS ARQUÉTIPOS

O arquétipo pode ser interpretado como um modelo


preexistente, que é seguido inconscientemente, ou seja, é
inerente ao ser humano, sendo identificado por meio de
estruturas psíquicas.

60 No final dos anos 30, Jung já atraíra para si diversos


estudiosos e psicólogos que ampliaram e teve frutos em

CES Revista
desenvolveram boa parte da sua obra. A proposta
junguiana de basear toda a Psicologia na estrutura dos
arquétipos teve frutos em diversos campos, inclusive na
ciência e na religião (WOOLGER, 2002, p. 329).

Essas estruturas não possuem formas definidas, sendo


representadas por meio de características que se materializam
em forma de mitos, sobrevivendo ao tempo e ao espaço.
O ser humano é provido de instintos que se podem
materializar por meio de imagens e símbolos, os quais se
manifestam no sonho. Ao analisar os sonhos, Freud constatou
revelações de experiências não pertencentes ao sonhador, mas à
humanidade. Freud denominou esse fenômeno de “resíduos
arcaicos”. “O nosso cérebro é moldado e influenciado pelas
experiências da humanidade” (FORDHAM, 1978, p. 25).
Jung foi mais além. Utilizando os conhecimentos de
Freud, começou a estudar os sonhos de seus pacientes. Após ter
ouvido vários relatos, percebeu que os sonhos eram constituídos
de imagens e símbolos e esses possibilitavam o resgate de fatos
históricos e de motivos mitológicos. A essas manifestações
instintivas Jung deu o nome de “arquétipo”. “O sonho é um
fenômeno psíquico normal, que transmite à consciência reações
inconscientes ou impulsos espontâneos” (JUNG, 1977, p. 67).
Seres mitológicos podem ser considerados como a
representação consciente do arquétipo. Na psicologia
arquetípica, sonhos e comportamentos relatados por pacientes
são considerados como uma manifestação de características de
mitos ou de vidas passadas. Pessoas que não conheciam os mitos
relataram, em consultórios psicológicos, fatos e sonhos
vivenciados que se revelam como cópias dessas divindades.
Assim se pode dizer que os mitos não são apenas histórias
fascinantes, mas também a essência de uma personalidade
canalizada no indivíduo. “A existência do inconsciente coletivo
pode inferir-se dos nítidos vestígios de imagens mitológicas no
homem normal – imagens de que ele não tinha conhecimento
anterior” (FORDHAM, 1978, p. 27). Assim, para entender o ser
humano, é preciso conhecer a mitologia na qual se encontram
padrões de comportamentos que o definem.
As deusas da Mitologia Grega são protótipos femininos
que surgiram em tempos remotos e que permanecem presentes
61
Juiz de Fora 2006
nas personagens fictícias de nossa literatura e nas
mulheres da vida real, podendo ser constatados na maneira de
ser, de pensar e de agir destes seres reais e imaginários, por isso,
de acordo com a teoria de Jung, as deusas são arquétipos que
determinam o “universal feminino”.
O arquétipo das deusas gregas manifesta-se nas
mulheres, de maneira inconsciente. Em uma única mulher
podem-se encontrar várias deusas, mas há sempre uma
predominante. Os estudos sobre as deusas propicia às mulheres
se conhecerem, aos homens compreendê-las e aos terapeutas,
diagnosticá-las. O comportamento arquetípico feminino,
projetado na forma de uma deusa, já foi visto como um aspecto
religioso doutrinário, mas, atualmente, é visto como uma força
psicológica, já que se manifesta do interior para o exterior. “Os
mitos, especialmente, possibilitam a percepção da realidade de
uma maneira diferenciada. Na verdade, eles são imagens
simbólicas que detêm grande força e grande significado para os
seres humanos” (SACCHETTO, 2005, p. 32).
Para que seja compreendida a descrição psicológica do
ser feminino, é preciso conhecer as deusas. Para isso, serão
enumerados, a seguir, os atributos das principais deusas da
Mitologia Grega seguidos dos seus resultados arquetípicos.

ATENA

Atena é filha de Zeus e Métis, primeira esposa de Zeus.


Seu mito está diretamente relacionado à guerra e à inteligência,
pois, segundo a Mitologia, ela nasceu da cabeça de Zeus e, em
seguida, ajudou o pai a derrotar os gigantes. Também possui
outros atributos: é a deusa da fertilidade do solo, a deusa da
justiça, a conselheira, a obreira e a protetora das cidades e,
apesar de guerreira, zela pela paz.
A mulher regida por Atena possui uma personalidade
forte. É liberal e independente do sexo oposto, pode até manter
um relacionamento amoroso, contanto que preserve sua vida
individual e subsistente. Sua carreira e sua realização pessoal
são suas prioridades. Possui uma forte ligação com o elemento
paterno. É decidida, valente, justiceira e protetora. Luta pelos
62 seus ideais, tem voz ativa, ou seja, é a Advogada, a Executiva, a
Empresária, a Professora, a Gerente, a Diretora, a detentora do

CES Revista
conhecimento. Atualmente a “mulher-Atena” é uma
imagem bastante comum uma vez que os elementos femininos
estão cada vez mais independentes. Não é preciso encontrar
nessas mulheres todas as características de Atena, para serem
consideradas um ser arquetípico, apenas as que se sobressaem.

ÁRTEMIS

Ártemis é filha de Leto e Zeus. É a deusa da caça, da


pesca, dos animais, da natureza, da colheita, da fertilidade do
solo e deusa da lua. É conhecida em latim como Diana. Pertence
à terceira geração divina. Apresenta-se em três formas (Ártemis,
Selene, Hécate), correspondendo às quatro fases da lua: Selene
simboliza a lua cheia; Ártemis, o quarto crescente e Hécate se
desdobra em duas, quarto minguante e lua nova. É também a
deusa dos partos, pelo fato de ter feito o parto de seu irmão
gêmeo, Apolo. Por ter presenciado todo o sofrimento da mãe,
causado pela deusa Hera, pediu ao pai o privilégio de ser para
sempre virgem.
A deusa Ártemis, além desses bons atributos, possui
também algumas características malévolas. É tida como a
arqueira impiedosa, sanguinária e vingativa. Não perdoa
nenhuma ofensa, fazendo o ofensor pagar com a morte. É
guerreira, independente e forte, sendo, algumas vezes,
confundida com a irmã Atena.
A mulher regida por Ártemis, diferente da mulher-
Atena, é instintiva, age primeiro para depois pensar. Pode viver à
margem da sociedade, ou ainda ser uma grande atleta. Sente-se
diferente em relação aos outros, podendo ter complexos de
inferioridade, mas sabe se defender sempre que é preciso e não
pretende se casar. É independente e guerreira, gosta de lutar
pelo coletivo, defender os animais e preservar o meio ambiente.
A mulher-Ártemis vive, normalmente, solitária e prefere
a vida no campo, sentindo-se perturbada com o barulho e com a
poluição das cidades.

AFRODITE

Há duas histórias sobre o nascimento da deusa Afrodite. 63


A primeira é que ela seria o resultado da mutilação de Urano. Os

Juiz de Fora 2006


genitais deste teriam sido jogados no mar, formando
uma espuma que é fecundada e dela teria surgido a linda deusa.
A segunda hipótese é de ela ser filha de Zeus e Dione.
Afrodite é a deusa da beleza, do amor, da fertilidade e
da alquimia. Em latim é a deusa Vênus. Casou-se com Hefesto e
o traía com Ares. Após ter sido descoberta pelo marido, deixou
os dois e teve vários outros amantes. Foi a escolhida por Páris
como a deusa mais bela do Olimpo, deixando Hera e Atena
furiosas. Páris a escolhera, por ela ter lhe prometido o amor de
Helena, esposa do rei de Atenas. Cumprindo sua promessa,
provocou a mais sangrenta guerra, a de Tróia.
Torna-se perversa com aqueles que não se curvam a
sua beleza, mostrando-se vingativa e instintiva.
A mulher Afrodite pode apresentar um caráter frágil,
pode ter relacionamento sexual com vários homens ao mesmo
tempo. Sente-se atraída por homens casados e busca segurança
num casamento bem sucedido.
Pode ser ainda uma companheira fiel, mas, devido a
sua beleza, ser assediada por todos os homens. Sua beleza é
notável, no entanto sua vaidade não permite que pare de se
enfeitar. A mulher regida por Afrodite pode ser uma modelo ou
uma atriz famosa. Adora câmeras e multidões ao seu redor.

PERSÉFONE

Filha de Zeus e Deméter, Perséfone é a deusa rainha de


Hades do mundo avernal, conhecida em latim como Core. Era
dependente da mãe para cuidar da terra. Pertence à terceira
geração divina. Foi raptada por Hades e levada para o mundo
avernal, o mundo dos mortos. Sua mãe, para mostrar sua
indignação, fez surgir a maior seca já vista no Olimpo. Diante
desse caos, Zeus interferiu, pedindo a Hades para devolver a
protegida filha de Deméter, entretanto ela havia comido uma
romã e, por isso, não pertencia mais à terra. Assim, chegaram a
um consenso: Perséfone passaria alguns meses com Hades,
época do inverno e outros com a mãe, época em que se
comemoravam a primavera, o verão e o outono. Assim
Perséfone passou a ser a mais popular de todas as deusas.
64 A mulher-Perséfone é a eterna filha, dependente da
mãe, frágil e delicada.

CES Revista
A deusa é mística, donzela, romântica, marcada por
alguma tragédia que possa ter ocorrido na infância. A mulher
regida por essa deusa sente-se marcada pelo destino, presa a um
passado trágico que não a deixa. É sábia, todavia torna-se
prisioneira de uma aparência de donzela inexperiente e
indefesa. É bem comportada, obediente e reservada, age
sempre pacificamente.

UM ESTUDO DAS PERSONAGENS DO ROMANCE AS


MENINAS

SOB A VISÃO PSICOLÓGICA

Lygia Fagundes Telles semeia em suas obras o que a


Literatura tem de mais fértil no campo psicológico. É na via
introspectiva de Clarice Lispector e na digressão machadiana
que a escritora entrelaça seus vocábulos e constrói uma narrativa
reflexiva que sugere a experiência da vida humana.
No romance As meninas, a autora revela o interior de
suas principais personagens: Lia, Lorena e Ana Clara
protagonizam e revezam-se como narradoras de seus
sentimentos e lembranças mais profundas que as fragilizam e as
fortificam diante da dura realidade em que vivem.
Para compreender essas personagens, é preciso
entender seus arquétipos, as deusas da mitologia grega:

As deusas gregas são imagens de mulheres que


viveram na imaginação humana por mais de três mil
anos. As deusas são modelos ou representações daquilo
com que as mulheres se assemelham com mais poder e
diversidade de comportamento do que as mulheres se
têm historicamente consentido exercitar (BOLEM,
1990, p. 48).

O estudo dos mitos femininos propicia a compreensão


dos arquétipos que se materializam em figuras mitológicas,
manifestando-se na mulher atual.
A essência das deusas gregas foi incorporada pela
mulher moderna, havendo uma espécie de penetração desses
mitos no inconsciente feminino, é o que revelam estudos
65
Juiz de Fora 2006
recentes da psicologia moderna. Assim o mito passa a
ser uma espécie de molde para a mulher. A descoberta se faz
clara quando, estudando esses mitos, a mulher pode identificar-
se com alguns e sentir-se nitidamente retratada naquele que
nela predomina.
Assim se percebe a existência de modelos mais
evidentes na sociedade atual, constatando-se a presença
constante dos mitos. “Os mitos são, portanto, representações
simbólicas do inconsciente de uma coletividade – sociedade e
cultura – e se manifestam não apenas na imaginação, mas na
vida das pessoas, nas ações dos indivíduos” (SACCHETTO,
2005, p. 32).
As deusas da mitologia representam imagens de
mulheres que habitam entre a humanidade há milhares de
anos. Essas divindades são protótipos que propiciam a
compreensão do comportamento feminino. Esses mitos
possuem, em sua origem, muitos atributos humanos, tornando-
se modelos de ser e de comportar-se da mulher. Dessa maneira,
possibilitam o conhecimento do feminino a partir do
inconsciente coletivo do qual todas as mulheres fazem parte.
As mulheres atuais apresentam-se sob aspectos
variados, isso ocorre devido à conquista de sua independência.
Muitos fatores contribuíram para as transformações na
consciência feminina, tais como o controle de natalidade,
dando à mulher o direito de determinar a quantidade de filhos
que deseja ter. A abertura do mercado de trabalho e uma
legislação mais liberal em relação ao divórcio possibilitam à
mulher o direito de libertar-se de matrimônios indesejáveis.
Esses e outros fatores propiciaram uma modificação na
psicologia mais profunda da cultura humana, denominada por
Jung de inconsciente coletivo.
Na verdade, os sonhos e as experiências íntimas
femininas revelam imagens antigas e inusitadas que alcançam a
consciência da mulher moderna. Essas forças estão vivas no
inconsciente feminino e podem transformar os seus
comportamentos mais freqüentes. Com os mitos torna-se
possível o desvendamento do psicológico feminino. Além da
deusa do amor, pode-se constatar outras deusas bastante
66 presentes no mundo atual, por exemplo, a deusa Atena que é
representada pela imagem da executiva e inteligente, modelo

CES Revista
bastante comum na atualidade. Jung denominou essa dinâmica
psicológica que ultrapassa o tempo e o espaço de arquétipo,
percebendo que as imagens mitológicas repetem-se não apenas
na vida real, mas também na literatura.
Dessa forma, as deusas, Afrodite e Atena estão muito
presentes na sociedade moderna, já que o contexto atual
propicia suas manifestações, mas em mulheres que se recusam a
assumir a identidade da mulher moderna podem aparecer
outras deusas, não em alta como Afrodite e Atena, contudo
igualmente importantes para a formação e o entendimento do
psicológico feminino.
Os arquétipos míticos estão penetrados em nossa
cultura, manifestam-se a todo momento, são encontrados no
comportamento feminino. “Se olharmos à nossa volta, veremos
muitos sinais evidentes do surgimento de uma nova consciência
e de uma nova lucidez feminina” (WOOLGER, 2002, p. 12).

ANA CLARA

Ana Clara é uma mulher sonhadora, alienada pelos


meios de consumo, bela e consciente de sua beleza. Mantinha
relacionamento sexual com vários homens, porém tinha um
amante especial que ela dizia ser seu verdadeiro amor, o Max, e
ainda um noivo que não aparece, segundo ela, este era rico e
iriam se casar no próximo ano. Ela faz muitos planos para o
futuro, todavia, devido a sua sensibilidade, perde-se em suas
tristes lembranças.
Na visão de Jung, pode-se classificar Ana Clara, quanto
ao tipo psicológico, como uma mulher extrovertida. Ser que
mantém várias relações amorosas, entretanto não sente o amor
verdadeiro. A personagem diz amar Max, no entanto, em suas
relações sexuais, revela-se fria e alheia ao que acontece. Além
de viciada e, psicologicamente, confusa, Ana Clara tinha muita
facilidade em trocar de parceiro sexual e em contrair dívidas. Era
bela, sabia-se bela, no entanto queria mais e se enfeitava
incansavelmente.

Algum noivo perguntando por Ana Turva, impressionante


como Aninha faz noivos. Antes desses já teve uns três. 67
Noivos e dívidas, abre conta em tudo quanto é butique,

Juiz de Fora 2006


montes de vestidos. Quilos de quinquilharias. Uma
aflição de se cobrir de coisas que ficam bem nas vitrinas.
Nas revistas. E não precisa disso, uma cara maravilhosa.
Podia se vestir como as gregas, apenas uma leve túnica.
Mais nada (TELLES, 1985, p. 93)1.

Age sem responsabilidades, chegando a engravidar e


abortar várias vezes, “- Max, estou grávida. Que é que eu faço,
que é que eu faço (AM, p. 77). Algo que a aproxima ainda mais
de sua deusa regente: “Há também outros problemas com um
arquétipo Afrodite descontrolado. A gravidez não desejada é
uma probabilidade. E uma Afrodite ativa corre o risco de se expor
a doenças sexuais transmissíveis” (BOLEM, 1990, p. 337-8).
Sua ambição leva-a a planejar um casamento por
interesse, para elevar-se socialmente e satisfazer sua vaidade e
seu exibicionismo. Seu desejo de alcançar uma esfera social
mais ampla a faz agir inconseqüentemente, fantasiando
mirabolantes e promíscuos planos para um futuro
supostamente próximo: “O ano que vem. Destranco a
matrícula e faço o curso fácil, sou inteligente à beça. Uma casa
podre de chique na praia, convido todos podem morar lá não
sou mesquinha dou pra vocês também. Quero jóias. Tudo
brilhando. – Jóias!” (AM, p. 84). Pretende casar-se sem amor
com um homem mais velho e manter o relacionamento com o
amante. A jovem usa sua beleza para seduzir e conquistar um
homem bem sucedido que, além de velho, parece que também
é feio e sujo visto que ela o chama “escamoso”. “Gosta de viajar
o escamoso, pois vai viajar, olha aqui a companhia. Os melhores
hotéis” (AM, p.72). Numa conversa com Max, seu amante, a
personagem descreve o noivo com sarcasmo:

- Você tem um noivo, Coelha?


- Tenho. Meu noivo é um saco mas tem orienhnid.
- Ele é bonito que nem eu?
- É um anão. O corpo é coberto de escamas, as escamas
começam aqui na barriga e vão subindo, subindo e
quando chegam debaixo do braço, está vendo? – [...]
Aqui tem escama à beça... (AM, p.89/90).

68 1
A partir daqui, citaremos esta obra no texto, com a abreviatura AM,
seguida da indicação da página, sempre por esta edição: TELLES, Lygia
Fagundes. As Meninas. 20ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1985.

CES Revista
Seguindo a linha do pensamento arquetípico de Jung,
pode-se perceber que Ana Clara é uma personagem
arquetípica, regida pela deusa Afrodite, ou seja, é o modelo da
promiscuidade e da fragilidade de caráter. Afrodite, deusa da
beleza, do amor e da vaidade é o protótipo da amante sensual.
Casa-se com o deus das artes, Hefesto, e tem como amante o
deus da guerra, Ares, e, quando é descoberta pelo marido,
abandona-o, deixando para trás o amante e o esposo e vai ter
outros relacionamentos amorosos. Afrodite, assim como Ana
Clara, é o modelo do consumismo e das vaidades, é sempre
apresentada coberta de vestes finas e de pedras preciosas.

Não é fácil ter Afrodite como arquétipo dominante.


A mulher que segue a sexualidade instintiva de Afrodite
muitas vezes fica, de um lado, prensada entre seu
próprio desejo de ligação sexual e sua propensão por
gerar energia erótica nos outros e, de outro lado, por
uma cultura que a considera mulher promíscua se ela
agir de acordo com seus desejos, e uma pessoa
provocante se não agir. [...] A mulher mais intimamente
identificada com Afrodite é muitas vezes a mulher
extrovertida, com ânsia pela vida e um elemento
impetuoso em sua personalidade. Gosta de homens e
os atrai com sua atratividade e interesse por eles
(BOLEM, 1990, p. 349).

A deusa é extrovertida e sensível, também perspicaz


quando se trata de desfrutar de sua beleza:

A atratividade da jovem Afrodite e a sua


empatia fácil e livre com o sexo oposto afastam-na
de suas colegas [...] embora a mulher-Afrodite
possa ter algumas amigas muito íntimas ao longo
dos anos, ela permanece essencialmente atraída
pelos homens para a maioria de seus
relacionamentos íntimos [...] Afrodite é tão
misteriosa e fascinantemente exótica para os
homens que tende a ser uma presença
perturbadora nos locais de trabalho [...] 69
(WOOLGER, 2002, p. 114).

Juiz de Fora 2006


Ana Clara não deixa dever em nada sua deusa regente,
apesar de se poderem ainda encontrar nessa personagem
características de outras deusas, tais como de Hera, deusa do
casamento, pelo fato de ter a idéia fixa em casar-se. Como o
objetivo de seu casamento não é o amor verdadeiro, no qual
rege a fidelidade de Hera, Afrodite está predominando:

Afrodite não é uma Deusa do casamento: este é o


domínio de Hera. As deusas, contudo, podem associar-
se e cooperar, no politeísmo, assim, como os valores
que elas personificam podemos associar numa certa
personalidade. Afrodite assegura o prazer recíproco dos
esposos, que os mantém unidos, e, sem ela o casamento
permanece frio e estéril (PARIS, 1994, p. 87).

A personagem Ana Clara segue a sina do mito que a


rege. Desprotegida pela sua devastadora beleza, não alcança o
futuro almejado, pois sua beleza torna-se símbolo de sofrimento
e de dor, fazendo-a sentir as “chagas” da deusa do amor.
Molestada sexualmente na infância e na adolescência:
“Infância. Na realidade tudo se simplifica quando se descobre lá
longe uma tia querendo enfiar o dedo no olho da gente. Em
mim enfiaram em outro lugar” (AM, p.36). Objeto sexual na fase
adulta, Ana Clara não suporta esse fardo, pesado demais e se
entrega às drogas, tendo, assim, um final trágico.
Na presença da beleza, como conseqüência do
sofrimento, constata-se que a deusa predominante em Ana
Clara é, seguramente, Afrodite.

LORENA

Sob a visão psicanalítica de Jung, a personagem é,


psicologicamente, introvertida, o que lhe confere simpatia,
sensibilidade e benevolência. Vive num estado depressivo,
marcado pelo passado, aliviado pelo seu mundo de fantasia e
pela espera de M.N., um amor impossível. Seu espírito
fantástico é vivido no interior de seu quarto, no qual se
apresenta receptiva às amigas que a visitam: “Por que essa
70 pressa? Suba, venha ouvir o último disco de Jimi Hendrix, faço
um chá, tenho uns biscoitos maravilhosos” (AM, p.12). Lorena

CES Revista
tem prazer em fazer e servir chás:

O prazer que encontro neste simples ritual de


preparar o chá é quase tão intenso quanto o de ouvir
música. Ou ler poesia. Ou tomar banho. Ou ou ou. Há
tantas pequeninas coisas que me dão prazer quando
chegar a coisa maior. Será mesmo maior, M.N.?” (AM,
p.20).

A dependência materna de Lorena faz dela, assim


como a deusa Perséfone, a eterna filha. “A filha tipo Perséfone
quer agradar a mãe. Esse desejo a motiva a ser “uma boa
menina” – obediente, condescendente, cautelosa e muitas
vezes resguardada ou 'protegida' da experiência que produz até
a insinuação do risco” (BOLEM, 1990, p. 278).
Quando suas amigas deixam o pensionato, ela volta
para a casa da “grande mãe”: “ah, não esquecer de avisar à
menina de Santarém que se um gatinho malhado atendendo
pelo nome de Astronauta. Gatinho? Mas ele não cresceu? Enfim,
um gato malhado. Me avise e será fartamente recompensada”
(AM, p.260).
Sua espiritualidade, vivida, solitariamente, em seu
quarto, no qual se mantém alheia ao mundo, leva a personagem
a profundas reflexões sobre si mesma:

Como ninguém toca nesse livro, ficou sendo o


guardião das cartas que escrevo para M.N. E que acabo
não mandando, ai meu pai. Escrevi que toda minha vida
convergia para ele e que era só dele que iria se irradiar
de hoje em diante. Quero te dizer também que nós, as
criaturas humanas, vivemos muito (ou deixamos de
viver) em função das imaginações geradas pelo nosso
medo. Imaginamos conseqüências, censuras,
sofrimentos que talvez não venham nunca e assim
fugimos ao que é mais vital, mais profundo, mais vivo. A
verdade, meu querido, é que a vida, o mundo dobra-se
sempre às nossas decisões. Não nos esqueçamos das
cicatrizes feitas pela morte. Nossa plenitude, eis o que
importa. Elaboremos em nós as forças que nos farão
plenos e verdadeiros (AM, p.65/66).
71
Seu comportamento evidencia o predomínio da e.

Juiz de Fora 2006


regência da deusa Perséfone, deusa que habita o
mundo espiritual na companhia de Hades, todavia não
abandona o lar materno, vivendo uma parte do ano na terra
com a mãe.
Diante da morte da amiga, Lorena surpreende o leitor,
ao tomar providências para que o fato não abale a imagem do
Pensionato Nossa Senhora de Fátima:

- Por favor, Lião, não começa com ironia, pense um


pouco, Ana Clara não pode morrer drogada num
quarto do Pensionato Nossa Senhora de Fátima. Não
pode. Sabe o que isso pode significar para as freirinhas?
Para Madre Alix, não havia de querer comprometê-la
num escândalo desses, estou fazendo tudo como
Aninha gostaria que fosse feito, Deus me inspirou, pedi
inspiração e Ele me deu, depois que tive essa idéia
cheguei a sentir uma certa paz. Posso mudar, querida.
Se a morte não tem remédio, posso ao menos salvar as
circunstâncias! (AM, p. 252).

Comportando-se dessa forma, Lorena age de acordo


com sua deusa regente, uma vez que Perséfone também agiria
com tranqüilidade e inteligência, num momento de morte já
que é a rainha do mundo avernal e passa uma parte de seu
tempo com os mortos e a outra na terra com a mãe. A ação da
personagem estreita seu laço psicológico com a deusa, mostra
que, apesar da dependência materna, sabe agir,
coerentemente, em situações inusitadas.
Lorena, assim como Ana Clara, é influenciada pelo
mito de Hera por desejar se casar: “Adoraria me casar com
M.N., não existe uma idéia mais jóia, queria me casar com ele,
sou frágil, insegura. Preciso de um homem em tempo integral”
(AM, p. 64), entretanto essa profecia não se concretiza e seu
arquétipo predominante é a deusa Perséfone.

LIA

Analisando o viés psicológico da personagem Lia sob o


parâmetro da teoria dos arquétipos de Jung, percebe-se que a
72 jovem se enquadra no tipo psicológico extrovertido. É guerreira,
defende seu país com muita garra, a ponto de colocá-lo à frente

CES Revista
adaptando-os a sua vida de militante. Mantém, assim,
um jeito irreverente em se vestir:
Suas meias estão caindo.
- Ou enforcam os joelhos ou ficam desabando. Olha aí.
No começo, este elástico apertava de deixar a perna
roxa.
- Mas que idéia, querida, usar meia com este calor. E
sapatões de alpinista, por que não calçou a sandália?
Aquela marrom combina com a sacola.
- Hoje tenho que camelar o dia inteiro, putz. E sem
meia, dá bolha no pé. [...]
- Tenho umas meias tão bacanas, ainda nem usei, quer
ir com elas?
- Só se forem francesas, entende.
- São suíças, minha queridinha.
- Não gosto da Suíça, é limpa demais.
E nem vão servir, imagine, ela deve calçar quarenta.
Que idéia usar meias que engrossam os tornozelos, a
coitadinha está com patas de elefante. Ainda assim,
emagreceu, subversão emagrece (AM, p.11).

Suas características surpreendem sua amiga Lorena: “ é


Lia de Melo Schultz que faz seu nécessaire e vem terminar o
curso no Pensionato Nossa Senhora de Fátima. Um pé baiano, o
outro berlinense. Alpargata Conga” (AM, p.53). Apesar de
inteligente, Lião é também instintiva. Em sua adolescência
chegou a experimentar o homossexualismo:

- Você já teve experiência com mulher?


- Já.
- Que genial! E então?
- Não sei o que você quer saber – digo e fico rindo por
dentro porque sei muito bem o que ele quer saber. –
Nada de extraordinário, Pedro. Tão simples. Foi na
minha cidade, eu ainda estava no ginásio. A gente
estudava junto e como nos achávamos feias,
inventamos namorados. Quando lembro! Como era
bom se sentir amada mesmo por meninos que não
existiam. Traçávamos bilhetes de amor, ela ficou sendo
Ofélia e eu era Richard de olhos verdes e um certo
escárnio no olhar, ô! Como ela sofria com esse escárnio.
Mas era preciso um pouco de sofrimento. Não sei bem 73
quando o nome de Richard foi desaparecendo e ficou o

Juiz de Fora 2006


meu. Acho que foi numa noite, botei um disco
sentimental e tirei-a pra dançar, me dá o prazer? Saímos
rindo e enquanto a gente rodopiava qualquer coisa foi
mudando, ficamos sérias, tão sérias. Éramos demais
envergonhadas, entende. Nos abraçávamos e nos
beijávamos e nos beijávamos com tanto medo.
Chorávamos de medo. [...]
- Foi um amor profundo e triste, a gente sabia que se
desconfiassem íamos sofrer mais. Então era preciso
esconder nosso segredo como um roubo, um crime.
Tanto susto. Começamos a falar igual. Rir igual. Tão
íntimas como se tivesse me apaixonado por mim
mesma (AM, p.117-8).

Analisando o relato feito a seu amigo, Pedro, percebe-


se que em sua adolescência Lia teve como deusa regente
Ártemis, mito promissor do homossexualismo:

[...] ela se identifica com as atividades, atitudes e


maneiras de vestir dos meninos. Rejeita, e por um bom
motivo, a imagem prescrita pela cultura de que as
meninas são feitas de “açúcar e especiarias e tudo que é
gostoso” e os meninos de “travessuras, caracóis e rabos
de cachorrinhos”, conforme fala o velho poema infantil.
Ela sabe, e com razão, que não é esse tipo de mulher [...]
(WOOLGER, 2002, p. 90).

A sensibilidade e coragem de Lia estão relacionadas


aos mitos de Ártemis e de Atena. A aproximação de Ártemis ao
sexo oposto, como igual, deve-se ao forte relacionamento que
possuía com o irmão Apolo, o qual ela ajudou a vir ao mundo. Já
na sua vida adulta, Lia assume o seu papel de mulher e de filha,
mostrando ter muita resistência, chegando ao ponto de querer
tomar o sofrimento do amado para si: “Não sei agüentar o
sofrimento dos outros, entende. O seu sofrimento, Miguel. O
meu agüentaria bem, sou dura” (AM, p.13). Sua forte ligação
com o pai aproxima-a da deusa Atena: “O meu pai. Às vezes
bebia e cantava e quando cantava me parecia assim um deus
embora o estranhasse porque cantava em língua estranha” (AM,
p.154).
74 Lia, conversando com Madre Alix a respeito de Ana
Clara, acaba falando sua opinião sobre seus delírios e distúrbios,

CES Revista
relacionando-os com a sociedade injusta em que vive:

- Noivo. A senhora me desculpe, Madre Alix, mas Ana é


o produto desta nossa bela sociedade, tem milhares de
Anas por aí, algumas agüentando a curtição. Outras se
despedaçando. As intenções de socorro e etcétera são
as melhores do mundo, não é o inferno que está
exorbitando de boas intenções, é esta cidade” (AM,
p.132-3).

Lia, da mesma forma que sua deusa regente


predominante, o arquétipo de Atena, também é uma militante
urbana que se preocupa com o social. Mesmo quando fala da
amiga, lembra-se das condições precárias da sociedade e se
indigna com elas. Nessa perspectiva, percebe-se o domínio de
Atena, deusa protetora da cidade e do povo de Atenas, a filha do
pai, que, ao nascer, iniciou sua luta contra as injustiças.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Observa-se que os atributos femininos das deusas


gregas como arquétipos, modelos de comportamentos que se
fazem presentes na mulher atual, também estão presentes nas
personagens literárias, sobretudo nas personagens do romance
“As meninas” de Lygia Fagundes Telles, Lia, Lorena e Ana Clara.
Analisando, psicologicamente, o comportamento dessas
personagens, percebe-se em Lia o predomínio da regência da
independente e guerreira Atena; em Lorena, a relevância da
regência da filha espiritual Perséfone e, finalmente, em Ana
Clara, constata-se o domínio da regência da bela, vaidosa e
sensual Afrodite; por isso, não só as personagens fictícias, mas
também as mulheres reais são regidas por protótipos de
comportamentos, explicados por meio do estudo e
compreensão das deusas da mitologia grega.
Chega-se à conclusão de que as filhas dependentes, as
mães protetoras, as irmãs selvagens, as esposas dedicadas, as
guerreiras independentes, as virgens pacatas e as amantes belas
e sensuais podem estar por toda parte, em menor ou maior
escala, dependendo da divindade mítica que nelas reger. Assim
se afirma que as personagens do romance “As meninas” de Lygia
75
Juiz de Fora 2006
Fagundes Telles são personagens arquetípicas regidas
por deusas da mitologia grega.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BOLEM, Jean Shinoda. As deusas e a mulher: psicologia das


mulheres. Trad. Maria Lydia. 2. ed. São Paulo: Edições Paulinas,
1990. (Amor e psique).

FORDHAN, Frieda. Introdução à psicologia de Jung. São Paulo:


Verbo editora da Universidade de São Paulo, 1978.

JUNG, Carl G. O homem e seus símbolos. Trad. Maria


Lúcia Pinto. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1977.

PARIS, Ginette. Meditações pagãs. Trad. Sonia Maria Cauiby


Labate. Petrópolis: Vozes, 1994.

SACCHETTO, Maria Elizabeth. Quatro olhares e um


arquétipo. Juiz de Fora: Franco editora, 2005.

TELLES, Lygia Fagundes. As meninas. 20. ed. Rio de


Janeiro: Nova Fronteira, 1985.

WOOLGER, Jenifer Baker; WOOLGER Roger J. A deusa


interior. Trad. Carlos Afonso Malferrari. 6. ed. São Paulo:
Cultrix, 2002.

76

CES Revista

Вам также может понравиться