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Modelagem e o “Fazer Ciência”

Poliana Flávia Maia Ferreira e Rosária da Silva Justi

Modelos são, ao mesmo tempo, ferramentas e produtos da ciência. O desenvolvimento do conhecimento


sobre modelos implica no desenvolvimento do conhecimento sobre a própria ciência. Assim, o uso de es-
tratégias de ensino que auxiliem o desenvolvimento do conhecimento sobre modelos ajuda a desenvolver o
conhecimento tanto sobre determinado conteúdo, quanto sobre o processo de construção do conhecimento
científico. Este trabalho apresenta o relato da aplicação de uma estratégia de ensino para equilíbrio químico
(com uma descrição detalhada), baseada em atividades de modelagem, que objetivou o desenvolvimento do
conhecimento dos alunos nessa perspectiva.

modelagem, produção do conhecimento, equilíbrio químico

Recebido em 6/7/06, aceito em 6/12/07

32

A
s dificuldades associadas desejo de compreender o mundo: processo da pesquisa científica, fa-
ao ensino e à aprendizagem os modelos. zendo parte do processo natural de
de Química perpassam, ge- Um modelo pode ser definido aquisição do conhecimento pelo ser
ralmente, o aspecto abstrato dessa como uma representação parcial humano. Esse processo é inerente
ciência. Lidar com aspectos intangí- de um objeto, evento, processo ou ao pensamento de todas as pessoas,
veis aos nossos sentidos proporciona idéia, que é produzida com propósi- cientistas ou leigos, mesmo que com
uma sensação de inépcia e vulnera- tos específicos como, por exemplo, graus de organização e complexida-
bilidade do que é possível apreender facilitar a visualização; fundamentar de diferentes.
frente à amplitude e complexidade do elaboração e teste de novas idéias; Saber, muitas vezes, que é im-
universo em que estamos inseridos. e possibilitar a elaboração de expli- possível apreendermos diretamente
Essa sensação e essas dúvidas, con- cações e previsões sobre compor- a “verdade”, que lidamos com um
tudo, não são negativas. Ao contrário, tamentos e propriedades do sistema universo de modelos, que nem sem-
elas são cruciais para despertar a modelado (Gilbert e Boulter, 1995). pre podemos afirmar que algo “é as-
vontade de descoberta, decifrando Assim, um modelo não é uma cópia sim” e que aquilo é apenas mais um
os fenômenos que nos cercam. A da realidade, muito menos a verdade modelo para determinado fenômeno
compreensão des- em si, mas uma for- faz parte do “saber ciência”. Esse é
ses fenômenos exige ma de representá-la um conhecimento que pode instigar
não apenas a repeti- Lidar com aspectos originada a partir de e motivar os alunos, mas do qual eles
ção ou a aplicação intangíveis aos nossos interpretações pes- são, geralmente, privados.
de uma série de co- sentidos proporciona uma soais desta. Quando pensamos no ensino,
nhecimentos previa- sensação de inépcia e Os modelos es- principalmente na forma como ele
mente memorizados, vulnerabilidade do que é tão no centro de vem sendo tradicionalmente desen-
mas, mais do que possível apreender frente à qualquer teoria: são volvido, o conhecimento científico é
isso, a elaboração amplitude e complexidade as principais ferra- apresentado como mais um “con-
de hipóteses e inves- do universo em que mentas usadas pelos teúdo”, sem que seja estudado o
tigações, associadas estamos inseridos. cientistas para pro- processo humano envolvido por trás
à criatividade, à ló- duzir conhecimento daquele conhecimento, sem emoção,
gica e, é claro, aos e um dos principais sem busca, sem motivação. Pensar
conhecimentos anteriores, o que produtos da ciência (Nersessian, sobre como um fenômeno ocorre se
vem a culminar em algo que sacia, 1999). A construção e o emprego torna cada vez mais difícil, à medida
mesmo que parcialmente, nosso de modelos são fundamentais no que o saber na escola se associa à

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memorização de fatos, equações e to, apresentando-o a uma realidade dos alunos em relação a esse tema.
procedimentos. repleta de dúvidas e incertezas, muito Dentre elas, as principais e mais
Contudo, a compreensão dos diferente da exatidão com que o co- recorrentes são: a reação pára de
processos de produção de conhe- nhecimento escolar é freqüentemente ocorrer no equilíbrio; as concentra-
cimento e dos modelos elaborados apresentado. ções de reagentes e produtos são
nesses processos Apesar da riqueza iguais no equilíbrio; e a visão com-
é necessária para que esse tipo de tra- partimentalizada dos reagentes e
Um modelo pode ser
a promoção de um balho pode oferecer produtos (van Driel, de Vos e Verdonk,
definido como uma
aprendizado signi- ao ensino de Ciên- 1990). Como tais concepções têm
representação parcial
ficativo, isto é, um cias, a modelagem origem na compreensão de “como”
de um objeto, evento,
aprendizado no qual e sua contribuição o processo ocorre, o uso de modelos
processo ou idéia, que é
o aluno estabeleça para a aprendizagem e modelagem no ensino desse tema
produzida com propósitos
relações entre o que é uma área recente parece bastante pertinente.
específicos.
está aprendendo e de pesquisa, e deve
o que já sabe e que ser alvo de mais es- A elaboração da proposta
favoreça a transposição de um dado tudos para que possa fundamentar Todo o processo de modelagem
conhecimento para outros proble- propostas de mudanças no ensino foi pensado com base em propostas
mas e situações. Nessa perspectiva, atualmente promovido (Justi e Gilbert, da literatura (Justi e Gilbert, 2002;
os alunos têm que ser capazes de 2003). Além de as pesquisas sobre Clement, 1989), envolvendo atividades
pensar nos modelos, visualizar seu utilização de atividades de modela- relacionadas aos processos de cons-
funcionamento em suas mentes e gem no ensino serem poucas, muitas truir, reformular e socializar os modelos
usá-los como ferramentas (como os delas se mostram pouco aplicáveis à construídos. A abordagem metodoló-
cientistas fazem), indo além da sim- realidade do ensino, principalmente gica também foi pensada de forma
ples declaração do conhecimento. pelo número de alunos que elas in- que a ação do professor não fosse
O desenvolvimento do conheci- vestigam (geralmente muito pequeno) a de julgar os modelos construídos
mento da forma como foi colocado e pela pouca orientação direcionada pelos alunos, impondo um modelo 33
deve envolver um aprendizado par- ao professor para subsidiar trabalhos “correto”. Pelo contrário, o papel do
ticipativo, com ricos contextos que desse tipo. professor deveria ser o de sustentar e
encorajem a participação dos alunos, Nessa perspectiva, o objetivo conduzir a construção dos modelos,
em que esses trabalham de maneira deste trabalho é apresentar uma proporcionando ricos contextos de
colaborativa na construção de signi- proposta de ensino baseada em ati- aplicação e teste destes por meio de
ficados, conceitos e representações, vidades de modelagem aplicada em questionamentos e informações sobre
além de permitir que eles aprendam um contexto real de sala de aula no eles e sobre os sistemas modelados
sobre a construção da ciência. Ensino Médio. Seus principais obje- (Ferreira e Justi, 2005).
A inserção de alunos em atividades tivos foram contribuir A proposta de en-
de modelagem1 está de acordo com para o ensino de um sino elaborada en-
A atividade de elaborar
essa perspectiva. A atividade de elabo- conteúdo específico volveu uma seqüên­
modelos permite ao
rar modelos permite ao aluno visualizar – Equilíbrio Químico cia de atividades
aluno visualizar conceitos
conceitos abstratos pela criação de – e para a compre- conduzidas a partir
abstratos pela criação
estruturas por meio das quais ele pode ensão sobre mode- da realização de ex-
de estruturas por meio
explorar seu objeto de estudo e testar los (o que são, para perimentos mentais2
das quais ele pode
seu modelo, desenvolvendo conheci- que servem e como e empíricos, com o
explorar seu objeto
mentos mais flexíveis e abrangentes são construídos). objetivo de funda-
de estudo e testar seu
(Clement, 2000). Dessa forma, pode A escolha do tema mentar a aprendi-
modelo, desenvolvendo
ocorrer uma sinergia entre o conheci- Equilíbrio Químico se zagem em suces-
conhecimentos mais
mento conceitual e a modelagem, em fez por este ser um sivas construções
flexíveis e abrangentes
que o conhecimento do estudante per- tópico geralmente e reconstruções de
mite criar modelos e estes contribuem relacionado a difi- modelos. Cada ativi-
para o desenvolvimento e a construção culdades de ensino e aprendizagem. dade teve um propósito particular no
de novos conhecimentos. Além disso, Tal apresentação será acompanhada processo, seja no desenvolvimento
a vivência desse processo permite ao de alguns comentários oriundos da do conhecimento químico ou no
aluno perceber a complexidade e as experiência de aplicação desta. próprio processo de modelagem.
limitações envolvidas no desenvolvi- A literatura aponta várias dificul- Essas atividades envolveram, prin-
mento de construção do conhecimen- dades e concepções alternativas cipalmente: fornecer informações

1. Como em Português não existe uma única palavra que seja consensualmente usada como sinônimo de processo de elaboração e reformulação de modelos, fizemos opção por
nos referirmos a tal processo usando a palavra modelagem.
2. Aqueles realizados apenas na mente do indivíduo.

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sobre o sistema em estudo; instigar ocorrência de reação química – uma A terceira etapa envolveu o sis-
a formulação de modelos para os vez que os gases envolvidos têm cores tema NO2/N2O4 à temperatura am-
sistemas; permitir a expressão e bem distintas. A partir das evidências, biente, assumindo uma coloração
socialização dos modelos construí- os alunos foram convidados a elaborar intermediária entre as que haviam
dos; e testar e perceber a aplicação e expressar seus modelos para o fenô- sido observadas nas duas situações
desses modelos. meno, o que permitiu a reflexão sobre a que o sistema havia sido submetido
Para a aplicação dessa propos- o processo de uma reação química (o anteriormente.
ta, foi importante que os alunos já que é, como ela ocorre) e integração Aos alunos, foram solicitados a
apresentassem determinados co- aos conhecimentos prévios. Foi soli- formular (ou reformular os seus) mo-
nhecimentos prévios, como modelo citado que a expressão dos modelos delos que explicassem a coloração
de partículas para os ocorresse de forma do sistema à temperatura ambiente,
diferentes estados concreta e, para isso, com base nos modelos anteriores.
físicos e reações Pensar sobre como um foram disponibiliza- Essa atividade teve o propósito
químicas (noção de fenômeno ocorre se dos diversos mate- de permitir que os alunos desenvol-
transformação, mes- torna cada vez mais riais como massinha vessem a idéia de coexistência de
mo que apenas as- difícil, à medida que de modelar, bolas de espécies reagentes e produtos em
sociada a rearranjo o saber na escola se isopor, palitos, lápis um mesmo sistema, tendo novas
de átomos). associa à memorização de cor ou outro ma- informações a respeito deste e, ao
A referida pro- de fatos, equações e terial que os alunos mesmo tempo, testando a aplicabi-
posta de ensino foi procedimentos. tivessem disponível. lidade dos modelos que eles cons-
desenvolvida em Tais materiais também truíram a uma nova situação que
uma turma da primeira série do En- foram disponibilizados em todas as envolvia o mesmo sistema.
sino Médio de uma escola pública etapas subseqüentes, ficando a cargo Nesse momento, os alunos ti-
federal de Belo Horizonte, composta do aluno o uso e a escolha destes. veram a oportunidade de socializar
por 26 alunos. Todo o processo será A escolha do sistema NO2/N2O4 suas idéias, apresentando seus
34 descrito a seguir a partir de cada um foi importante para a própria cons- modelos para a turma. Isso foi im-
dos sistemas utilizados e das ativida- trução do modelo, uma vez que portante para a identificação das
des que foram desenvolvidas a partir este envolveu substâncias cujas idéias que eles apresentavam sobre
deles. Em cada um dos momentos moléculas são simples de serem os sistemas, quais sejam: a reação
apresentados, os alunos trabalharam representadas. ainda poderia estar ocorrendo, sem
em grupos (de 4 a 6 alunos), havendo ter se processado por completo;
2º momento: Estudo do processo 2NO2(g)
socialização contínua dentro desses apenas parte das espécies reagiu ou
→ N2O4(g)
grupos, destes com a professora a reação parou de ocorrer.
– uma vez que ela participou de dis- Nessa segunda etapa, o resfria- Mesmo que os grupos, até esse
cussões com esses grupos durante mento do sistema trabalhado ante- momento, tivessem construído mode-
o acompanhamento das atividades riormente forneceu aos alunos evi- los diferentes, nenhum modelo ou idéia
– e, em alguns momentos, de toda a dências da reversibilidade da reação foi imposto por qualquer grupo ou pelo
turma – nos momentos de discussão mediante a alteração da coloração professor, sendo a discussão conduzi-
geral conforme será apresentado no do sistema3. da sem qualquer interferência no sen-
relato. Os alunos foram convidados a tido de corrigir tais modelos. Mesmo
representar um modelo para a rea- porque o estudo do próximo sistema
A aplicação da proposta ção observada a partir do modelo apresentava como objetivo ajudar os
1º momento: Estudo do processo N2O4(g) proposto para a situação anterior, pro- alunos a testar seus modelos, forne-
movendo as devidas reformulações cendo um novo contexto de aplicação,
→ 2NO2(g)
ou, caso necessário, construindo além de novas informações sobre um
O primeiro fenômeno em estudo um novo modelo que fosse aplicável sistema em equilíbrio químico.
compreendeu a transformação do a esse sistema nas duas situações.
4º momento: Trabalhando com o sistema
gás N2O4 (dióxido de dinitrogênio) em Assim, essa etapa permitiu um maior
CrO42− /Cr2O72−
NO2 (monóxido de dinitrogênio), por conhecimento sobre o sistema em
meio do aquecimento de um tubo de estudo e criou uma oportunidade Esse sistema foi escolhido por ser,
ensaio fechado contendo o primeiro para os alunos refletirem sobre seus entre muitos exemplos envolvendo
gás (aquecimento feito de maneira modelos anteriores. equilíbrio, um sistema relativamente
demonstrativa dada a toxicidade do simples (considerando a represen-
3ºmomento: Estudo do processo 2NO2(g)
gás NO2). Esse é um sistema que tação das estruturas das espécies
N2O4(g)
apresenta claras evidências físicas da envolvidas e o número dessas espé-

3. É importante ressaltar que a associação da presença de determinado gás à coloração do sistema foi realizada a partir do conhecimento da coloração de cada substância (gás
NO2 e gás N2O4), que foi informado pela professora no começo da atividade, junto com suas respectivas fórmulas.

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cies) e por permitir a visualização de ácido, foi evidência crucial para que o sistema NO2/N2O4 foi realizado por
evidências da presença de espécies os alunos refletissem sobre o porquê meio de uma socialização das idéias
diferentes. dessa ocorrência. A reformulação dos de todos os grupos e/ou alunos em
Nessa atividade, os alunos reali- modelos a partir dessa evidência foi uma discussão final. Nesse momen-
zaram um experimento envolvendo observada pela professora por in- to, a professora conduziu a discussão
a reação entre duas soluções, de termédio do acompanhamento das de forma que os próprios alunos
mesma concentração, de cromato de discussões dos grupos e, posterior- destacaram características cruciais
potássio (K2CrO4) e ácido clorídrico mente, no momento de socialização para a compreensão do equilíbrio
(HCl), que foram adicionados em dos modelos de cada grupo com a químico como, por exemplo, presen-
relações estequiométricas, segundo turma. ça de todas as espécies (reagentes
a equação da reação: e produtos), coexistência dessas
Testando o modelo de equilíbrio espécies em um mesmo recipiente
2CrO42−(aq) + 2H+(aq) → Essa última etapa do processo e possibilidade de deslocamento do
Cr2O72−(aq) + H2O(l) envolveu a reação anterior entre cro- equilíbrio. Foram realizadas interfe-
mato de potássio e ácido clorídrico, rências pela professora no sentido
As informações sobre a fórmula mas com enfoque no deslocamento de contribuir para que os alunos
e coloração das espécies e sobre a do equilíbrio químico. Ela permitiu a pensassem no processo de equilíbrio
equação química que representava a observação da alteração visual do químico de uma forma mais geral,
reação observada foram fornecidas sistema que, com a não restrito a uma ou
pela professora. adição de uma solu- mesmo a essas duas
Em seguida, algumas gotas de ção de ácido, ficou O uso de estratégias de reações. Isso foi reali-
acetato de chumbo (Pb(C2H3O2)2) alaranjado (eviden- modelagem contribuem zado pela introdução
foram adicionadas ao sistema re- ciando a existência para um ensino de química e discussão de ou-
sultante, ocasionando a formação de íons dicromato mais autêntico, por meio tros exemplos como o
de um precipitado amarelo: cromato – Cr2O72−) e, com a do qual os alunos são equilíbrio entre ozônio
de chumbo (PbCrO4) – informação adição de uma solu- capazes de perceber e oxigênio na estra- 35
também apresentada pela professora ção de hidróxido de a ciência como um tosfera e o equilíbrio
que, mediante as evidências empíri- sódio (NaOH), ficou empreendimento humano, entre hemoglobina
cas observadas pelos alunos, apre- novamente amare- com poderes e limitações. ligada ao oxigênio e
sentou as fórmulas das substâncias lo (evidenciando a ao gás carbônico no
participantes e a equação da reação existência de íons sangue.
de precipitação. Dessa maneira, fi- cromato – CrO42−). Os alunos inter- Mesmo apresentando modelos
cou evidenciada a existência de íons pretaram tais evidências em termos diferentes ao final do processo, todos
cromato em solução, mesmo após de produção dos íons cromato e os grupos participaram de forma ativa
a adição do ácido (o que pode ser dicromato, isto é, perceberam que a da discussão final, sendo capazes de
observado mesmo com excesso des- reação pode ser “forçada” a ocorrer apontar as principais características
te). Essa conclusão foi estabelecida em um sentido ou outro. para a compreensão do equilíbrio
com os alunos a partir da análise da Em termos do processo de mo- químico (destacadas anteriormen-
primeira equação. delagem, esse último experimento te). Além disso, um aprendizado
A realização desse experimento forneceu evidências para o teste do significativo do tema foi observado
objetivou evidenciar a existência de modelo proposto por cada grupo pelos resultados de avaliações de
espécies reagentes e produtos no para o experimento anterior. Tais conteúdo realizadas em duas ocasi-
sistema e favorecer a elaboração da modelos apresentavam, em geral, a ões posteriores (uma realizada logo
conclusão de que há reações que não idéia de dinamicidade das reações após a aplicação da estratégia e outra
se processam por completo. Assim, químicas, elemento fundamental cerca de um mês depois). Essas ava-
ao serem solicitados a construir um para a compreensão do processo liações compreenderam adaptações
modelo para a reação (com base em de equilíbrio químico. A explicação de questões de vestibulares, abertas
seus modelos anteriores), os alunos do deslocamento do equilíbrio a e fechadas, que envolviam análises
tiveram a oportunidade de perceber partir dos modelos construídos pos- de gráfico e de representações de
a inconsistência de algumas de suas sibilitou a cada grupo perceber suas sistemas. Todas elas requeriam
concepções e, então, reformular seus abrangências e limitações a partir do conhecimentos sobre equilíbrio quí-
modelos. As principais inconsistên- sucesso (ou não) na aplicação de mico como processo, não estando
cias dos modelos anteriores estavam seus modelos àquela nova situação. associadas à aplicação de fórmulas
relacionadas à crença de a reação Tais elementos foram levantados em e algoritmos.
se processar completamente e em discussões internas dos grupos e
único sentido. Assim, a existência destes com a professora. Conclusão
de espécies reagentes no sistema, O posterior relacionamento desse Essa estratégia de ensino forne-
mesmo após a adição de excesso de último modelo àquele proposto para ceu aos alunos a oportunidade para

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desenvolver modelos de equilíbrio delagem que apontam que a apren- “errados” os inseriu de maneira mais
químico com base em seus modelos dizagem ocorre mais ao construir e realista no ‘fazer ciência’. Por isso,
anteriores, principalmente modelo manipular modelos do que apenas acreditamos que o uso dessa estra-
cinético molecular e de reações a partir de observações destes (Vos- tégia fundamentada em modelagem
químicas. Conforme observado nos niadou, 2002). contribuiu para um ensino de química
modelos elaborados O desenvolvimen- mais autêntico, por meio do qual os
pelos alunos e em to e as mudanças alunos foram capazes de perceber a
O conhecimento sobre
seus comentários das idéias dos alunos ciência como um empreendimento
‘fazer ciência’ deve ser
sobre eles, a apli- durante o processo humano, com poderes e limitações
favorecido por professores
cação do modelo de ensino foram ve- (AAAS, 1989). A nosso ver, esse
que acreditam na
cinético molecular rificados mediante o conhecimento sobre ‘fazer ciência’
importância de seus alunos
foi especialmente acompanhamento deve ser favorecido por professores
aprenderem química de
relevante para que das discussões dos que acreditam na importância de
forma mais ampla.
os alunos propu- grupos (registradas seus alunos aprenderem química de
sessem, em seus em vídeo), análise das forma mais ampla. Esperamos que
modelos, como o equilíbrio ocorre no atividades escritas e das avaliações de o fato de termos compartilhado essa
nível submicroscópico – aspecto que conteúdo posteriormente realizadas experiência desperte o interesse de
facilitou a compreensão do dinamis- – que evidenciaram a aprendizagem professores que ainda não haviam
mo do processo. de aspectos relevantes do equilíbrio pensado sobre isso e os estimule
A condução dessas atividades foi químico, além da ausência de con- a incorporar tal dimensão em sua
feita buscando: a reflexão sobre os cepções alternativas que a literatura prática pedagógica.
modelos construídos; a integração cita sobre o tema estudado.
entre conhecimentos prévios e as no- A aplicação desse tipo de estra-
vas evidências observadas; e o reco- tégia permitiu, ainda, que os alunos Poliana Flávia Maia Ferreira (polianamaia@yahoo.
com.br), licenciada em Química, mestre em Educa-
nhecimento da validade dos diversos vivenciassem um processo de cons- ção e doutoranda em Educação pela UFMG. Rosária
36 modelos elaborados. Isso sem que o trução de conhecimento, passando da Silva Justi (rjusti@ufmg.br), bacharel e licenciada
aluno tivesse que, necessariamente, por momentos de dúvidas e incer- em Química pela UFMG; mestre em Educação pela
chegar a um modelo igual àquele tezas. Além disso, o fato de, mesmo UNICAMP; doutora em Ensino de Ciências pela
Universidade de Reading, Inglaterra; é professora
aceito cientificamente. ao final do processo, os alunos não do Departamento de Química e do Programa de
Essa é uma proposta que está de receberem uma sentença sobre Pós-graduação em Educação da Faculdade de
acordo com estudos na área de mo- seus modelos estarem “certos” ou Educação da UFMG.

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GILBERT, J.K. e BOULTER, C.J. DONK, A.H. Why do some molecules Gerais, Belo Horizonte. 2006.

Abstract: Modelling and “Doing Science”. Due to the role of models in science, learning about models implies in learning about the nature of science. Therefore, the use of teaching strategies
focused on modelling can contribute to the development of both content knowledge and knowledge about the production of scientific knowledge. This paper presents the description of a modelling-
based teaching strategy for the theme chemical equilibrium, which aimed at students´ learning from this perspective.
Keywords: modelling, production of knowledge, chemical equilibrium

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