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Na Solidão dos Campos de Algodão

<< Um deal é uma transação comercial que tem por objecto valores proibidos ou
sujeitos a rigoroso controle, e que se conclui em espaços neutros, indefinidos e não
destinados a essa finalidade, entre quem oferece e quem procura, por meio de
acordo tácito, sinais convencionais ou conversas com duplo sentido - com objectivo
de contornar os riscos de traição ou fraude que uma operação destas implica - a
qualquer hora do dia ou da noite, independentemente das horas de abertura
regulamentares dos lugares de comércio oficialmente autorizados, mas
preferencialmente às horas em que estes se encontram encerrados.>>

As silhuetas das duas figuras, o dealer e o cliente, recortam-se no abandono de um


lugar e na obscuridade de uma hora << que é a hora das relações selvagens entre
os homens e os animais>>, mas a relação não se estabelece de acordo com as
expectativas, o deal não se concretiza, da longa discussão não nasce a luz, porque
nem o dealer clarifica a sua oferta, nem o cliente a sua procura, nem um nem outro
dão um nome e com ele << uma forma e um peso ao desejo >> que os move, nem
um nem outro resolve ceder e ser o primeiro a sair do limiar da abstração em que se
encontram.
escrito por Vera San Payo de Lemos para
Programa do espectáculo no Teatro Aberto

Leitura: dois homens que se cruzam ao lusco-fusco, um dealer e um cliente, para


uma transação inesperada, mas desejada, que no fim não se chega a concretizar.

Espaço Cénico: armazéns, barracões, lugares fora do teatro, lugares de ninguém,


para um confronto entre dois homens ou duas concepções de vida diferentes.
terreno neutro, deserto, plano, silencioso.

Personagens: a figura do dealer, corresponde a um homem mais velho que joga com
as palavras de uma forma mais controlada que o o cliente, que se permite ter
acessos de raiva e explosões evidentes. Ambos exigem algo do outro e ''lutam'' para
arrancar esse algo, que nenhum revela o que é.
A relação do cão e do gato, comparação com.
Acerca dos comportamentos que não se pautam pela razão e escapam a qualquer
racionalidade.

Diálogo: '' a conversação regida pelo principio do prazer, o espirito de abertura para
as ligações livres entre assuntos diversos, o culto da mordacidade e do humor''. O
diálogo como expressão literária do séc.XVIII em França - o diálogo é escrito nestes
parâmetros, como um duelo filosófico de palavras.
O poder da palavra. A discussão e o acto de guerra sem motivo. A transformação
operada após esse confronto.
Diplomacia da linguagem: comércio do tempo/ 1º acto de hostilidade
<< (...) é uma história com duas personagens, uma conversa, um diálogo á maneira
do séc. XVIII... Há um bluesman imperturbavelmente simpático, doce, um desses
tipos que nunca se enervam, nunca reivindicam nada. Eu acho-os fascinantes. O
outro é um bruto, agressivo, um punk do East Side, imprevisivel, alguém que me
apavora. Eles encontram-se, cada um espera em vão qualquer coisa do outro. Eles
acabam por se bater, mas é uma história engraçada.>>
entrevista com Bernard Marie-Koltés

<< (...) duplo monólogo cruzado, onde a palavra é uma arma mortífera (...) Em 1987,
o diálogo organiza-se em combate, no qual a palavra é a arma única e absoluta. (...)

Há dez anos que Bernard-Marie Koltés observa e descreve o comércio dos homens
entre si. Como Claudel e como Brecht, ele inventa uma acção que é a 'trans-acção'
e uma troca que é um combate. Nas suas peças as pessoas procuram-se, vão ao
encontro umas das outras, falam de si, falam, fogem (...) todos têm a palavra como
único recurso.

(...) com o seu jogo fisico e a sua tensão dramática, uma representação de uma
transação perfeita, um diálogo filosófico sobre a solidão, o desejo, o medo, o
magnetismo do amor, e do ódio, as leis eternas do comércio, um diálogo concebido
sob o signo de Hermes. >>

1)questão do diálogo nestes moldes - pesquisa sobre dialogo séc 18, forma de
expressão literária ( Voltaire e Diderot e também em Sócrates e Platão) / formas
actuais de utilizar a palavra como arma ( música, spoken word, truismos, grafitti e
tags)
- Meditações metafisicas de Descartes

2) questão do confronto entre duas formas de estar opostas << matar sem razão>>
móbil e visão do mundo que isto implica

3) o comércio (o deal) de homens entre si. deal também é acordo e troca, a


dificuldade de acordar ou negociar uma situação. relações humanas.

(...) Paralels were drawn with both Graham Green and Jean Genet in evoking the
play's physical landscape of putrefying colonialism where the excess of drink, heat,
pent-up sexual energy, and envious racism conspire for a domestic tragedy to unfold.
(...)
'what happens when two necessary and incompatible positions meet' ignitting insight
born of terror - that moment of perception wich, as Benjamin described, flashes up in
a moment of danger ' when the supressed subterranean tensions within our social
network are exposed.' p.151
A questão do ''comércio'', ''alto e baixo'', e ''trágico'' em A Solidão do Campos de Algodão

As réplicas(18) são como monólogos e tudo o que podemos saber é-nos dado pelo
diálogo das personagens.
Ecos de Racine (cadência) enfatiza a questão da palavra e da elocução, existe a
construção de uma linguagem cuidada.
Ecos também dos diálogos entre Sócrates e Platão, a relação Mestre/Discipulo. A
forma recupera o discurso construido em diálogo.

Questão da violência não consumada - sempre presente e implicita na construção


da realidade de Koltés.
Também encontramos um grande cinismo em relação ao que é ocidental -
a negociação de afectos = negociação comercial. Há um desprezo pelo comercial
que invade as relações humanas.

funciona como uma ancora para a dramaturgia contemporânea

alegoria moderna para as relações humanas - por terminar o texto, ou seja ter uma
conclusão, encaixa-se na noção de drama absoluto e constrói um mundo que se
basta a ele proprio.

só tem uma didascália: a definição de deal

historial da peça e do autor em Portugal

ver: combate de negros e de cães - questão do estrangeiro, pária, o que é estar


numa posição de ''deslocado'' ou num lugar de não pertença.

Leitura do texto
Antonimias
Dealer Cliente

lusco/fusco luz das janelas p onde se dirige/ luz electrica


luz do mundo alturas, descer, subir
selvagem arrogância
rectas não
humildade
sim

as duas personagens narram a mesma situação de duas formas completamente


diferentes e não concordam na narrativa que explica a situação.
qual é o grau de distância entre as duas personagens?
falam da mesma maneira, mas dizem coisas tão distintas acerca da mesma
situação. Como se fosse uma unica voz: as mesmas metaforas, e as réplicas são
matematicamente iguais, conclui-se que a voz pode ser a mesma.

o familiar
o dealer refere-se a uma certa hereditariedade p.37

Koltés acrescenta a todo e qualquer objecto as relações humanas: são trocadas e


entendidas como um qualquer objecto de troca comercial, e já que é assim, temos
de nos organizar. Quem é quem neste jogo? Que papel vamos assumir?

2 descrições do mundo distintas: o mundo equilibra-se na ponta de um corno de um


touro(alusão á divina providência) vs flutuar nas costas de 3 baleias idiotas
( caprichoso, violento, perigoso, sem controle).

questão da falência da linguagem - como é que com tanto discurso e inteligente,


mesmo assim não se entendem?

O 'cliente' que atravessa o territorio do 'dealer' e não há retrocesso, enfrentam-se


num jogo de palavras

<< (...) Bernard - Marie Koltés observa e descreve o comércio dos homens entre si.
Como Claudel, como Brecht, ele inventa uma ação que é a ''trans-ação'' e uma troca
que é um combate. Nas suas peças as pessoas procuram-se, vão ao encontro umas
das outras, falam de si, falam, fogem. >>

A palavra ocupa um lugar importante nas nossas relações com os outros; ela
transmite muitas coisas e com certeza caminhos extremamente complexos: ''isto''
diz mais uma vez muitas coisas, sobretudo quando ''isto'' não diz que coisas são.

As relações que unem os seres entre si são cinicas, impregnadas de afectividade. é


isso que complica tudo e permite, ao mesmo tempo, que existam temas para
escrever durante toda uma vida. O que interessa é precisamente agarrar a variação
entre cinismo e afectividade, o jogo das proporções.

Entrevista com Bernard Marie-koltés


Programa do espectaculo na Solidão dos Campos de Algodão
levado a cabo pelo Teatro Aberto, Lisboa em Abril 1990

Toujours échouées là où précisément elles ne le voulaient pas, les


créatures koltésiennes en profitent pour faire progresser le drame : parties
de zéro, elles envisagent, au mieux, d'arriver nulle part.
On serait tenté de penser qu'à l'image des deux héros de La Solitude, les
personnages de Koltès s’affrontent entre possédants et désirants. Mais le
riche de Quai Ouest n'a sur lui que des cartes de crédit, quant au client
de La Solitude il met toute la pièce à confier au dealer (le marchand) qu'il
n'attendait rien d'autre de lui qu'une précision sur l'objet même de son
désir.

On est à un hémisphère entier du célèbre “ j'achète / je vends ”, mais tout


proche de la nuit où tous les chats n'en peuvent plus d'être gris foncé.
Noir dans le décor, noir dans la destinée, le noir sied d'ailleurs à la peau
de certains personnages. Mais chez Koltès, la couleur de la peau contraste
avec celle des desseins. Les Noirs ont les idées claires. Abad dans Quai
Ouest est celui qui ne parle pas mais qui agit ; Alboury dans Combat de
Nègres est fort. Son insupportable rigueur déstabilise Cal et Horn. Et, bien
qu'il ne soit pas prescrit par l'auteur que le dealer de La Solitude soit noir,
c'est l'acteur africain Isaach de Bankolé qui l'incarne aux Amandiers. Le
dealer est le maître du jeu, il raisonne, philosophe, sa logique est
imperturbable.

Patrice Chéreau dit : “ C'est un dialogue. Mais est-ce un dialogue


philosophique du 18e siècle ou plus simplement une entrée de clowns ? ”
Sur la scène jaillissent, comme des coups de poing, d'abord un Noir avec
un gros ventre (Isaach de Bankolé) puis un maigre avec un pantalon à
carreaux (Laurent Malet).

Le gros est le dealer, le maigre, le client. Ils sont comme deux voies de
chemin de fer avant un nœud d'aiguillages : leurs monologues, parallèles
au début, finissent par se croiser. On serait tenté de dire qu'il s'agit d'un
dialogue philosophique entre deux clowns : “ Mais les sentiments ne
s'échangent que contre leurs semblables ; c'est un faux commerce avec
de la fausse monnaie, un commerce de pauvre qui singe le commerce.
Est-ce qu'on échange un sac de riz contre un sac de riz ? ”

On échange, à coup sûr. ce Koltès-ci contre le précédent. L'exercice de


style, sans champ et sans coton, a le grand mérite de nous parler
vraiment de la solitude et de l'échange-année 80. Les deux acteurs
suivent à la lettre les indications de leur formidable metteur en scène.
Leurs gestes sont rares et leurs voix transformées, plus vieilles que leurs
corps. Ils se vouvoient et s*insultent, irréprochables, comme les lumières
et la scénographie (où on retrouve les containers de Quai Ouest et les
spectateurs de part et d'autre des acteurs, disposition chère à Patrice
Chéreau).

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A peça '' Na Solidão dos Campos de Algodão'' de Bernard-Marie Koltés inicia-se
com uma didascália que descreve o conceito de 'deal'. É o único momento em que
sentimos a 'instrução' do dramaturgo. Toda a restante informação vamos descobri-la
nos diálogos das personagens.

''Um deal é uma transação comercial (...) conversas de sentido duplo - com o fito de
contornar os riscos de traição e de burla que uma operação deste tipo implica (...)
independente dos horários de abertura regulamentares dos estabelecimentos
comerciais (...) mas sobretudo durante o horário de encerramento dos mesmos.''

Esta introdução remete-nos para um ambiente de mundos periféricos, nocturnos,


onde se troca ou se comercializa um determinado tipo de mercadoria, mais ou
menos ilícita, povoado por personagens que vivem á margem das convenções.

O texto é composto por um diálogo de 18 réplicas longas (para cada um) entre duas
personagens. Cada réplica é como um monólogo, em que cada personagem expõe
o seu ponto de vista, ora contestando aquilo que o outro diz, ora jogando com
duplos sentidos de forma a aumentar a tensão do jogo, até atingir o momento final.

1.
''Le premier acte de l’hostilité, juste avant le coup, c’est la diplomatie, qui est le
commerce du temps.''
Bernard-Marie Koltès, in Prologue,
Editions de Minuit

A peça começa quando dois homens cruzam-se numa rua, e um deles diz ao outro:

''Dealer. Se está a andar na rua, a esta hora e neste sitio, é porque deseja qualquer
coisa que não tem, e essa coisa, eu posso fornecer-lha (...)''

A partir desta entrada sabemos que há alguém que oferece cordialmente algo - O
Dealer - e que parte do príncipio de que, quem se cruza com ele naquela hora e
naquele lugar, '' esta mesma hora das relações selvagens entre os homens e os
animais '' é porque procura. Procura algo que ele de certeza poderá fornecer. Pois
esse é o seu trabalho. E o á vontade para ter essa certeza revela que se encontra
num território que domina e conhece, está em sua casa.
A 2a personagem - O Cliente - rejeita com rudeza essa oferta, e argumenta que está
de passagem, e não vem á procura de nada, apenas percorre a linha e o caminho
que o leva de uma luz eléctrica a outra no topo de um edifício, e que o Dealer é que
interrompeu esse trajecto. Que aquele encontro é apenas um acaso, e que a sua
dedução intuitiva não tem razão de ser..

Com a tensão gerada pelo 1º encontro, e durante as primeiras duas réplicas,


começamos a conhecer um pouco as intenções das personagens. Assume-se o
confronto e o inicio de um duelo ( de palavras), uma espécie de jogo de forças, pois
cada um vai apresentar e defender uma versão distinta de um acontecimento
comum. E não parece haver margem para recuos. À abertura que o Dealer mostra,
o Cliente responde com repulsa e com uma outra versão dos acontecimentos. Se
um procura permanecer na escuridão, o outro quer seguir em direcção a uma luz lá
no alto.
Se um fala no lado selvagem, no lusco-fusco natural, o outro almeja uma luz
eléctrica, e se um insiste no sim e no permitir, o outro afinca-se na negação.

'' (...) e vai ser preciso que se desvie para não ser eu a fazê-lo, que saia da linha
que eu seguia, que se anule, porque aquela luz, lá em cima, no topo do edificio, do
qual se aproxima a escuridão, continua imperturbavelmente a brilhar; ela perfura a
escuridão como um fósforo inflamado perfura o pano que tenta abafá-lo.''

2.
O dealer ressente-se com a agressividade do cliente, ameaça-o com a
possibilidade de violência e retoma a amabilidade inicial. o cliente reconhece a sua
melancolia e a existência de um desejo, mas recusa-se a defini-lo

3.
''A palavra ocupa um lugar importante nas nossas relações com os outros; ela
transmite muitas coisas e com certeza caminhos extremamente complexos: ''isto''
diz mais uma vez muitas coisas, sobretudo quando ''isto'' não diz que coisas são.''

''As relações que unem os seres entre si são cinicas, impregnadas de afectividade.
é isso que complica tudo e permite, ao mesmo tempo, que existam temas para
escrever durante toda uma vida. O que interessa é precisamente agarrar a variação
entre cinismo e afectividade, o jogo das proporções.''
Entrevista com Bernard Marie-koltés
Programa do espectaculo na Solidão dos Campos de Algodão
levado a cabo pelo Teatro Aberto, Lisboa em Abril 1990

Como os diálogos são construídos num tom discursivo, coloquial e muito cuidado,
existe uma abundância de palavras. Isto na práctica significa tempo. No meu
parecer este tempo é o primeiro sintoma de uma negociação hostil entre as duas
personagens, pois cria um espaço de observação, como duas feras que se analisam
antes de atacar.
Em cada frase é avaliada a destreza e a elegância do outro, assim como as suas
capacidades de controlar a situação. Seja através da sedução ou da imposição.
Esta forma de esclarecer leva-nos ás características do diálogo como expressão
literária.

''' (...) a conversação regida pelo principio do prazer, o espirito de abertura para as
ligações livres entre assuntos diversos, o culto da mordacidade e do humor (...) a
forma do diálogo possibilitava iluminar um assunto de diversos lados (...) desfazer
preconceitos e apontar o caminho da verdade e do conhecimento (...) torna-se
expressão literária por excelência do séc. XVIII em França (...) é apropriado também
pela burguesia que o leva para os cafés, onde cultiva a ideia de que qualquer
homem pode dialogar.''
Programa do espectáculo 'Na Solidão dos Campos de Algodão'
levado a cabo pelo Teatro Aberto, Lisboa em Abril 1990

Temos então uma situação em que dois homens se encontram num lugar duvidoso
a horas duvidosas, e que se expõem, e fazem um ao outro, ver a sua forma de
olhar o mundo, isto para efectivar um negócio, uma transacção de algo que não é
explicito. Este algo que não é explivito
Apesar da aparente contradição entre o querer de um e outro, eles buscam-se
constantemente nesta picardia, e relacionam-se de uma forma bastante intensa
através das palavras. O diálogo assume a forma fisica da relação deles. A pergunta
agora poderá ser a seguinte: O que relacionam eles

''Selon la raison, il est des espèces qui ne devraient jamais, dans la solitude, se
trouver face à face. Mais notre territoire est trop petit, les hommes trop nombreux, les
incompatibilités trop fréquentes, les heures et les lieux obscurs et déserts trop
innombrables pour qu’il y ait encore de la place pour la raison.''
Bernard-Marie Koltès, in Prologue,
Editions de Minuit

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