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aos possíveis leitores: Álvares de Azevedo, em prefácio da ‘Lira dos vinte anos’
escreve: ‘’São os primeiros cantos de um pobre poeta. Desculpai-os. As primeiras vozes do
sabiá não têm a doçura dos seus cânticos de amor. ’’
da minha parte, confesso: não foi ainda nesse livro que arquivei o mistério e a fascinação que
escorre dos automóveis abertos; das nuvens de vertiginosa brancura; dos lugares onde o ar é
saudável; das mulheres e das crianças; da comunhão sincera e gratuita de duas ou mais
pessoas.
contudo, esse livro é testemunha de meus momentos de sensibilidade, por meio da qual em
meus olhos deslizaram o que foi antes de mim, chamado de ‘’a tinta do coração’’; testemunha
dos momentos em que senti um santo alívio: seja ao ler nos ônibus; ouvir músicas; não dormir
por estar eufórico ou fazer do sábado um monumento de alegria... também dos momentos
quando achei que me diluiria para sempre no centro da escura noite, dos combates com o
Dom Quixote taciturno e perdido que há em mim, das intermináveis crises que atravessei
sozinho num pântano maligno.
pregado ao espírito
mestiçagem.
o mito de Sísifo.
de prestar homenagem ou de fazer que alguém se lembre do pouco que algum dia fui.
eu tenho um corpo, um peso e um nome.
espera.
lavoura.
a frase agra-
matical. o morro
se enchendo de graça,
e cachaça.
alquimista cósmico
que é só teu.
e motivo de sorriso
confessionário.
ardência.
anúncio.
larvas de amor
tardes de agosto
fumaças e signos
substâncias cíclicas
aflorando em fogo
meu corpo à procura do seu.
e na procura um delírio
sentimento paterno
trazendo vontade
coragem e ternura
choque.
odisseia, 1998.
de longe o observa.
de nome mar.
recurso linguístico.
aurora.
recuso aos poucos o fermento de angústia que antes dominava minhas veias.
morto na tarde.
simultaneamente
surreal.
girassóis fulminantes
assassinam estátuas
sedentárias e inócuas.
em pura tragédia.
preciso subverter.
regressar à luminosidade
companheiro.
no quase dito.
minerais compõem
águas juvenis.
de delitos de infância.
iniciações incomuns.
companheiro significa:
dividimos a fuligem
da incomunicação e a amargura
quase hereditária.
desperta de nós,
um córrego triste.
poesia, liberdade.
reinvento-me de vozes
e ludibrio a linguagem.
se compõe, na vastidão.
estou pronto
pronto a escurecer
insights.
nos meu olhos passam insigths tecnicolor duros intactos. trechos do que foi e não mais é.
relances do que será e ainda não é. o sábado é cruel. especialmente no início do meses.
desmistifica minha carne. reduz as coisas a um estado bruto. não levanta solução nenhuma.
deixa em aberto os porquês. traz uma redoma de fumê. exilando-me de tudo. não assistirei
Strip-tease nem os noticiários. será escasso entretenimento. desgastarei palavras com pressa,
fúria ou simplesmente indiferença. terei ansiedade e exercícios de respiração. buscarei ar, na
superfície, como na volta de um escafandrista. faltará até mesmo uma moedinha. minhas
economias são curtas. não posso beber cerveja, muito menos corote. e não tenho o costume
de beber. enfrentarei a severidade do momento totalmente sóbrio. ou não? talvez essa lucidez
que se passe no meu corpo seja enganadora. talvez tenha enlouquecido horas atrás. penso nos
estudantes de medicina que desmaiam ao ver cadáveres na iniciação científica. árduo trabalho
ver o cru da vida. e por dentro somos crus. falta alguma palavra para justificar a vida. essa
justificação não é filosófica, é de um campo menos racional. não tenho mulher. desperdiço
todas. sofro por amar. toda hora parece querer arrebentar de mim desenfreados instintos e
gestos. mal me seguro. com um gesto eu tento dispensar um conflito que se faz onipresente
na minha consciência. apago e acendo a luz. tenho medo que a lâmpada queime. o escuro
esconde os móveis e cria um olho no teto que me julga e diz o que tento negar. diz o que
esconde de mim, desde o início dessa temporada. nessa última semana, estou em crise. jogo o
jogo do contente e tento pensar nas crianças que sofrem de subnutrição e têm os pés
mordazmente sujos. eu tenho os pés sujos, e eles mancham o lençol azul. penso em nunca
mais sair de casa. impus quarentena.
ternura.
aprenda a me querer.
meu carmim,
da ocupação ao feitiço
do meu coração.
se encolerize, morra,
conto os minutos
te mutilar de ternura.
e entrar na cidade, com as mãos pálidas, anunciando que o sol ainda brilha, mesmo que nos
olhos escorram trevas.
eu estou procurando.
e, na minha cidade, principalmente a essas horas, não existe nem sinal de jardins...
linguística.
comtemplação.
mar de java.
do mar de Java,
um cão fiel
um senhor benevolente
teus dois pés
quando passa
trégua.
felizmente
tempo.
depois.
esperança.
um cavalo galopando
rumo a uma cidade de ouro.
entranhas.
aquilo que levo na ponta dos dedos.
erótico.
são poemonografias.
crucificação.
de um anteontem,
inconsciência.
cotidiano.
fábrica de produzir desencantos.
demiurgo.
o descobrimento do demiurgo já não me atrai tanto. antes, era um sempre querer. aos poucos,
não me fascina mais. estou perdendo o desespero em descobrir o que há na antimatéria da
máquina do mundo. não é mais urgente saber quais minerais formaram o caldo humano ou
quem foi o primeiro homem.
antes, eu imaginava seres superiores por graus, que nos olhavam cotidianamente e, com
estranheza, viam nossas aventuras assalariadas ou a fome da falta do dinheiro. nos olhavam,
tendo todas as respostas e palavras que nos faltam. superiores em graus como somos diante
de formigas. faziam anotações sobre o drama terrestre. nessa visões eu me perdia. não sabia o
que falta a seres humanos. e o que faltaria a nós? temos, claro, uma esperança quase
auriverde. ajuda-nos nas pequenas coisas, como, por exemplo, suportar os fardos, sem o
auxílio do álcool. ou encontrar razões nas sem razões do fluxo habitual do tempo. por vezes
mistifica, um estado bruto, que poderia nos fazer abaixar a cabeça e nunca mais voltar à tona.
mas foge ao meu léxico o que nos falta. é uma falta que dói como um membro apodrecido.
certa vez, eu senti essa falta. deitado em uma cama estranha. era outra cidade. minha
companhia havia me deixado por alguns minutos. corria um blues pelo ar. ali, dei conta da
minha humanidade e um vazio devorava meus órgãos. eu sentia que faltava. lateava uma
ausência monstruosa. depois disso, nunca mais fui o mesmo. em uma festa naquela semana,
chorei no banheiro, salgando a pia, ao ponto de peixes negros brotarem nos ralos.
mas me conformo aos poucos, a lentidão dos ciclos. não protesto. não grito. calo. espero.
deixo a fluidez escorrer no meu corpo. vivo minha vida sul-americana, sem mistérios. sem
encantamentos. convencido de que minha procura foi alucinada. nessas mansardas onde vivo,
me acostumo aos ratos e à fartura da miséria.
o que restou.
de ipês amarelos
sou apenas um homem e não levo comigo um único botão de fazer auroras.
eu me confundo na multidão.
e faltou no momento mais necessário do campeonato uma mulher dessas que dizem
composição.
substância do ferro.
e morro na sucessão
um sinalizador de vida.
salgando o chão.
tantos requisitos,
a esperança
ainda intoxica
os pulmões da vida.
controle.
santidade.
alucinação.
um espelho do céu,
um monstro azul soterrado.
e os vidros se quebram
puros e transparentes.
por isso te amo. amo vigorosamente, sem reticências, amo como um anjo ama
sem recurso.
memória.
dialética africana.
a minha melancolia
reacionarismo.
pedra.
de um ontem azul
sempre mais.
uma hora.
uma hora, a noite desce veloz e furiosa dentro da tua confusa alma.
e ficas empobrecido...
pedido.
quero
atender
todos
os teus caprichos
quero
admirar
tua teimosia
no teu rosto
e a mesma concha
e o mesmo sonho
equilíbrio.
falemos baixo.
devastação de agosto,
de sempre, de ontem,
amanhã.
biografia.
saudade.
irremediavelmente perdido.
deserto.
verbete.
mar de areia.
perdido nesse mar de areia, eu confesso ao vazio todas minhas angústias. na presença de
gentes, pouco me abro. mas, quando estou só, todo me dispo e choro. e sofro, companheiro,
sofro até mesmo pelo inútil.
troca.
o meu coração foi trocado por um rio de águas enferrujadas. quando percebi, era muito tarde.
e não tinha a quem reclamar sobre essa troca silenciosa. na margem, me sento. a paisagem é
uma coleção de antigas angústias. os arpões do passado se fazem presentes. eu tenciono uma
fuga da vida. um subterfúgio marítimo e definitivo.
os meus pés deslizam em uma superfície feita de ar e não tenho onde depositar o fardo de
existir.
você poderia.
poderia ser o plural de alguém. aparecia inaceitável você não ser nada. tudo caminhou para
você simplesmente ser. e o que você seria, se tivesse tornado o que poderia ser?
você seria o palco que sustenta o artista. seria o discurso que o faz emancipado e proprietário
de uma grave voz para se comunicar com as massas. você poderia. você poderia. você poderia.
você poderia. você poderia ser uma nuvem e, nos sábados, enfeitar o azul metileno. poderia
ser a novidade, que faz furacões dentro da alma do artista. poderia ser o tiro que o matou e o
reviveu para a eternidade. poderia ser a quebra do ritmo e a dissolução da monotonia. você
poderia tanta coisa. mas foi indiferente, mediante as sensibilidades. e fez do artista um galho
seco jogado na grama. onde algumas crianças urinam ao amanhecer.
ou um carinho desastrado,
e eu sou o que retornou logo de manhã, depois de saquear os governos celestiais e trazer ouro
puro para fazer uma pétala dourada e enfeitar seus cabelos.
25 de dezembro, 2017.
promessa.
eu irei fazer um vestido de sol para vestir um anjo esculpido em mármore e em ternura.
solidão vazia.
assaltam-me substâncias oriundas dos núcleos e poros do meu desespero. tristezas deslizam
nos solos das emoções, revertendo meu riso em pranto. e não tenho para onde galgar, falta
som, falta a conexidade das coisas firmes.
levo comigo uma branca incerteza. aconchegada no regaço da minha existência, levo grandes
reticências e conflitos, que, mesmo tardios, insistem em alvejar meu espírito, sedento de
liberdade e de afago. cansei-me de estar cansado; não obstante, fico perdido nas linhas e nos
borrões do meu truculento coração.
as noites são ásperas e cheias de espáduas monstruosas. am vertigens e surtos, saio à rua,
fumando e desgastando a concha do tempo. nenhum abraço. nenhum beijo, na madrugada
interminável.
anjo da guarda.
estação.
primavera
te penso
a vera
reverso.
dormir é a única forma possível de estar na realidade. A vida é apenas a metáfora do sonho.
sozinho.
caminhas assaltado.
andaluz
um cão andaluz
já umedecidas de sono.
alcançará o sonho
consolo.
o amor.
só se ama a si mesmo.
de fragmentos perdidos
da própria alma em outro.