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Maria Roquette !

Sciences Po 2010

A TERRA NO BRASIL: ARCAÍSMOS, REFORMA AGRARIA,


MST, DAS ESPERANÇAS AS REALIDADES

! “O Brasil não é um pais subdesenvolvido e pobre mas um pais injusto. Minhas prioridades
de governo visam todas a buscar corrigir as desigualdades históricas que marcaram a formação
deste pais” disse o Presidente Fernando Henrique Cardoso em 1995 em Brasilia1.

! Efectivamente a historia do Brasil é marcada por desigualdades na sua construção


nacional. Durante o período colonial, uma pequena minoria de grandes proprietários concentra em
suas mãos a grande maioria das terras brasileiras - os chamados “latifúndios” - e um sistema de
capitanias hereditárias domina as relações de propriedade por mais de três séculos. Em 1822,
apesar da proclamação da independência do território, são mantidas as injustiças e os privilégios
em relação a posse da terra. Em 1850, num contexto de reivindicação da abolição da escravatura,
é promulgada a Lei de Terras, dificultando ainda mais a aquisição da propriedade da terra, e
fixando que só se poderia ocupar as terras por compra e venda ou por autorização do imperador.
Diante desde contexto, segundo o sociólogo José de Souza Martins, não se pode analisar o tema
da posse da terra no Brasil sem o relacionar com a escravatura. Efectivamente, apesar da
abolição da escravatura em 1888, uma grande parte da população, composta essencialmente de
negros, mulatos e índios, fica prisioneira de formas arcaicas de exploração de trabalho, e
mantém-se impossibilitada de aceder à propriedade de terra. É inócuo discutir a questão agraria
sem a situar no passado como solução dada à questão da escravatura, tal como é simplista
estudar o Movimento dos trabalhadores rurais Sem Terra (MST) sem analisar a evolução do
acesso à propriedade da terra no passado histórico do Brasil. E é também de grande relevância
observar que a terra se tornou na ultima década um tema recorrente no debate político. O tema
deste trabalho caracteriza-se portanto por uma dicotomia entre arcaísmo e modernidade,
esperança e fracasso. A questão central desta analise é portanto compreender de que forma se
organizou a busca de uma estrutura agraria mais justa e igualitária, e quais foram as suas
manifestações e consequências face a uma repartição territorial arcaica e desigual. Para
dar resposta as questões sugeridas por esta problemática, veremos que a desigual repartição da
terra no Brasil constitui uma fonte de reivindicações, esperanças e conflitos, para avaliar, num
segundo tempo, em que medida é que o MST materializa as esperanças do povo brasileiro e
quais são os seus resultados.

Fotografia de Sebastião Salgado


disponível em http://agal-gz.org/blogues/
1 Num almoço em homenagem ao primeiro-ministro do Canada
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Maria Roquette ! Sciences Po 2010

Plano de trabalho

Problemática: De que forma se organizou a busca de uma estrutura agraria mais justa e
igualitária, e quais foram as suas manifestações e consequências face a uma repartição territorial
arcaica e desigual?

I - A DESIGUAL REPARTIÇÃO DA TERRA NO BRASIL, FONTE DE


REIVINDICAÇÕES, ESPERANÇAS E CONFLITOS NO MUNDO RURAL:

A - A TERRA NO BRASIL, GERADORA DE CONTESTAÇÃO SOCIAL E DE CONFLITOS:


1 - O inicio do conflito pela terra no fim do século XIX

2 - A mudança da estrutura da contestação a partir dos anos 1940ʼs

B - A RESPOSTA DO GOVERNO MILITAR AS ESPERANÇAS POPULARES E AS SUAS


CONSEQUÊNCIAS:
1 - As respostas do governo militar

2 - As novas formas de contestação social na luta pela Terra e as suas consequências

II - A MATERIALIZAÇÃO DAS ESPERANÇAS BRASILEIRAS NO MST E


AS SUAS CONSEQUÊNCIAS:

A - AS ESPERANÇAS, AS PROPOSTAS E O MODO DE ACÇAO DO MST:


1 - A historia do nascimento do MST

2 - A proposta e o modo de acção do MST

B - A RESPOSTA DOS SUCESSIVOS GOVERNOS:


1 - O governo de José Sarney e de FHC

2 - O Governo de Lula e as promessas de Dilma

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I - A DESIGUAL REPARTIÇÃO DA TERRA NO BRASIL, FONTE DE


REIVINDICAÇÕES, ESPERANÇAS E CONFLITOS:

A - A TERRA NO BRASIL, GERADORA DE CONTESTAÇÃO SOCIAL E DE CONFLITOS:

1 - O inicio do conflito pela terra no fim do século XIX:

! A Lei de Terras, estrutura agraria arcaica herdada dos tempos coloniais, constitui um dos
primeiros elementos de reivindicação e conflito no território brasileiro já que as relações de
produção no campo são marcadas pela concentração fundiária e pela dominação dos grandes
proprietários. Muitos são os historiadores que indicam que entre 1850 e 1940 se dá a primeira
fase de conflitos agrários no Brasil, usualmente qualificada como “fase messiânica”. Face à
declaração da independência e à desigualdade da repartição do território, reflexo da penetração
de modernidade no pais, muitos foram os brasileiros que ficaram abandonados ao seu próprio
destino e que procuram refugio nos movimentos extremistas ou na religião.

Efectivamente neste contexto a religião


teve um papel importante de
organização, ajuda e solidariedade e
distingue-se por exemplo, a luta levada
por Antonio Conselheiro na Bahia. Líder
social extremamente carismático,
Antonio Conselheiro adquiriu uma
dimensão messiânica na Bahia, na
cidade de Canudos no fim do século
XIX. Através da organização de
peregrinações pelo sertão brasileiro,
encontrava-se com comunidades
desabrigadas, vitimas de fazendeiros ou
da seca calamitosa que matou milhares
de famílias no fim do século, que o
seguiam no seu percurso.
P a r a l e l a m e n t e , c o m o fi m d a
Fotografia de Antonio Conselheiro na Guerra dos escravatura, muitos foram os ex-
Canudos - disponível em http:// escravos que partiram em sua busca
sandrodosertao.blogspot.com/2010/04/guerra-de- com a esperança de uma vida melhor.
canudos.html Em 1893, Conselheiro funda então em
Canudos no norte da Bahia, uma
comunidade em que “todos são bem-
vindos e têm acesso a terra e ao trabalho sem serem explorados”. Ora rapidamente, é
considerada pelos fazendeiros e autoridades, uma comunidade de alto risco para a recém nascida
Republica e inicia-se um conflito armado, conhecido como a guerra de Canudos, fazendo segundo
as estimativas mais de 5000 vitimas. Este conflito ilustra não só as esperanças do povo
desamparado face à penetração da modernidade na estrutura arcaica, mas também a relação
conflituosa entre o Estado e o povo em busca de terra. No entanto, ha que admitir a falta de
institucionalização do movimento e a sua dimensão messiânica. Progressivamente, a partir do
século XX, a luta pela terra, caracteriza-se por uma maior organização.

2 - A mudança da estrutura da contestação a partir dos anos 1940ʼs:

! A partir da década de 1930 e sobretudo da década de 1940, observa-se uma segunda fase
dos conflitos pela terra, não mais associada ao messianismo e bastante mais violentos. Se antes
falamos de desamparo das populações, nesta fase, elas estão mais organizadas, e sobretudo
com mais consciência de classe e dos seus objectivos. São então formadas as “lutas radicais

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localizadas”. Se no período messiânico, havia sobretudo esperanças, nesta fase, o povo reclama
realidades concretas. Nasce um novo movimento de contestação no mundo rural, influenciado em
parte pelo Partido Comunista do Brasil, fundado em 1922, que dará origem as ligas camponesas.
A principal contestação deste movimento é a reforma agraria, definida por João Pedro Stédile e
Douglas Estevam como “o conjunto de medidas que visem a promover melhor distribuição da
terra, mediante modificações no regime de sua posse e uso, a fim de atender aos princípios de
justiça social e ao aumento de produtividade.” Em outras palavras, este movimento social luta pela
distribuição dos latifúndios improdutivos pelos trabalhadores rurais sem terra.

! Em 1964, face à criação da Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura


(CONTAG), o presidente João Goulart anuncia no Rio de Janeiro a realização da primeira reforma
agraria, de certa maneira, para evitar que o povo se unisse a grupos revolucionários influenciados
pelo comunismo. No entanto, poucos dias mais tarde, o Brasil é vitima de um golpe de Estado
militar, João Goulart é deposto e a reforma agraria não pode actuar.

B - A RESPOSTA DO GOVERNO MILITAR AS ESPERANÇAS POPULARES E AS SUAS


CONSEQUÊNCIAS:

1 - As respostas do governo militar:


!
! O golpe militar culmina no dia 1 de abril de 1964, e o marechal Humberto de Alencar
Castello Branco toma o poder até 1967, numa ditadura que vai durar até 1985. Uma das primeiras
medidas elaboradas pelo governo militar é a lei n° 4504 de 30 de novembro de 1964 sobre o
Estatuto da terra, afim de apaziguar os movimentos camponeses que se tinham multiplicado
durante o governo de João Goulart. Esta lei sobre o Estatuto da terra prevê a expropriação das
terras sub-exploradas, a criação de um cadastro de todos os trabalhadores rurais sem terra, e a
criação de instituições responsáveis pela distribuição das terras expropriadas. Em 1970, é criado
o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agraria, INCRA, que tem como missão
“implementar a política de reforma agrária e realizar o ordenamento fundiário nacional,
contribuindo para o desenvolvimento rural sustentável2”. Uma série de programas são criados nos
anos seguintes, tal como Programa de Redistribuição das Terras e de Estímulo à Agroindústria do
Norte e Nordeste, conhecido como PROTERRA (1971), ou o Programa de Desenvolvimento de
Áreas Integradas do Nordeste, conhecido como POLONORDESTE (1974). No entanto, se o
balanço final das medidas tomadas pelo governo militar é bastante positivo no que diz respeito à
modernização da agricultura, a estrutura fundiária manteve-se, a reforma agraria só foi uma
realidade no papel e a situação dos trabalhadores rurais piorou na maioria dos casos. A realidade
não correspondeu as esperanças do povo, o que em parte justifica o nascimento de uma nova
forma de contestação, a Comissão Pastoral da Terra CTP.

2 - As novas formas de contestação social na luta pela Terra e as suas consequências:


!
! Fundada em plena ditadura militar, a Comissão Pastoral da Terra, CPT, nasceu em junho
de 1975 durante um encontro da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, CNBB, realizado em
Goiânia, e apareceu como um movimento de contestação à grave situação dos trabalhadores
rurais, nomeadamente dos posseiros. O elemento central da CPT é a defesa do direito dos
trabalhadores a terra, sobretudo posseiros e sem-terra, e consequentemente a reforma agraria. O
seu objectivo é também o de ajudar a permanência do agricultor na terra. Quanto à CONTAG,
fundada em 1964 durante o governo de João Goulart, a confederação conhece um aumento
significativo dos seus adeptos e da importância da sua acção, nomeadamente a partir de maio
1979, no Congresso Nacional dos Trabalhadores Rurais em Brasilia. Durante o Congresso, é
denunciada a frustração e decepção do povo, e é defendido que “a implantação da Reforma

2 expressão retirada do site www.incra.gov.br na rubrica “Institucional/ Missão e Visão”.


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Agraria não mais pode ser adiada3”. Paralelamente


a esta subida da contestação social, observa-se
uma militarização dos conflitos agrários. Nos anos
80, os conflitos agrários atingem uma forma
extremamente violenta, nomeadamente na zona do
Bico do Papagaio, região limítrofe do Maranhão,
Pará e Tocantins, que ficou conhecida por causa
dos assassinatos de trabalhadores rurais por
pistoleiros contratados por fazendeiros. Em maio
de 1986, o padre Josimo Morais Tavares,
coordenador da CPT foi assassinado por um
pistoleiro, e em dezembro de 1988 foi Chico
Mendes, o líder sindical e ecologista que foi
assassinado a mando do fazendeiro Darli Alves da
Silva. O seu assassinato teve grandes Fotografia de Sebastião Salgado disponível em http://agal-
repercussões na opinião publica mundial: poemas, gz.org/blogues/index.php
musicas, filmes foram feitos em honra de Chico.

! Face a desigualdade da repartição territorial no Brasil, podemos portanto observar as


contestações do mundo rural e as suas consequências para a sociedade. No entanto, em 1974
sob pressão da CPT e de vários sindicatos de trabalhadores rurais, nasce o MST, um movimento
mais organizado, e que terá um eco no mundo inteiro.

II - A MATERIALIZAÇÃO DAS ESPERANÇAS BRASILEIRAS NO MST E


AS SUAS CONSEQUÊNCIAS:

A - AS ESPERANÇAS, AS PROPOSTAS E O MODO DE ACÇAO DO MST:

1 - A historia do nascimento do MST:

! Segundo os historiadores Bartolomé Bennassar e Richard Marin, o MST é o movimento


mais original e mais dinâmico da ultima metade do século XX. Em 1984, sob pressão da CPT e de
vários sindicatos de trabalhadores rurais, nasce o MST, durante o primeiro Encontro Nacional dos
Trabalhadores Rurais Sem Terra. É no entanto importante notar, que este movimento se inspirou
da iniciativa que José Gomes e João Pedro Stédile tinham tido vários anos antes no estado do Rio
Grande do Sul ao ajudarem vários trabalhadores rurais a ocuparem uma fazenda em Santa
Catarina. Ora, em 1984, num contexto de restauração democrática, em que os sindicatos não
mais eram proibidos pelo governo, o MST teve portanto a possibilidade de fazer conhecer as suas
ideias mais facilmente e duravelmente no território nacional. Em outubro de 1985, assiste-se à
primeira acção do movimento, na fazenda Anoni, no Rio Grande do Sul onde 1500 famílias
ocupam a fazenda como forma de protesto. E efectivamente, a ocupação de territórios, vai ser o
modo de acção privilegiado do MST.

! No entanto, numa sociedade em que três quartos da população é urbana, a questão


agraria teve alguma dificuldade em se impor nos debates sociais e políticos. É engraçado notar,
que foi graças a telenovela das 20h “Rei do Gado” exibida entre junho de 1996 e fevereiro de
1997 que a população tomou consciência da luta dos trabalhadores agrícolas sem terra. Todo o
pais chorou quando o líder dos camponeses sem terra foi assassinado por um pistoleiro a mando
de um fazendeiro. A telenovela possibilitou assim a entrada da expressão MST no vocabulário
comum dos brasileiros.

3Extraido dos Anais do 3° Congresso Nacional dos Trabalhadores Rurais de 21 a 25 de maio de 1979,
Brasilia-D.F. CONTAG - Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura, pp 154-168
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2 - A proposta e o modo de acção do MST:


!
! A ocupação de terras não-exploradas é o modo
de acção mais recorrente do MST. Grandes
acampamentos são montados em terras
abandonadas onde os trabalhadores cultivam a terra
e se preparam para eventualmente se defender de
fazendeiros e das autoridades locais. “Ocupar,
Resistir, Produzir”, eis o slogan do MST. Obviamente
este movimento defende uma reforma agraria oficial,
mas face à inactividade do Estado nesse campo, as
Fotografia de Lula com chapéu do MST - ocupações são formas de protesto e de
disponível em www.google/images.pt sobrevivência. Em 1985, o INCRA revela que mais
de 10 milhões de famílias se encontram
expropriadas. No âmbito de reduzir este numero, sob a acção do MST, cada ano cerca de 200
fazendas são ocupadas e dezenas de milhares de famílias recuperam terras 4. O movimento
organiza-se em 24 estados brasileiros, e pretende não só conseguir a reforma agraria, mas
também desenvolver em seu seio, sectores colectivos como a educação, a saúde, e a igualdade
de géneros. Efectivamente, face a mecanização da agricultura, o MST tem vindo a demonstrar
uma preocupação crescente no que diz respeito à formação dos trabalhadores. Em maio de 1995,
durante o encontro nacional do MST, é feita a proposta de uma reforma agraria em que os
objectivos são: a garantia de trabalho para todos os trabalhadores rurais sem terra, combinando
distribuição de terra com distribuição de renda e desenvolvimento cultural, a produção de uma
alimentação farta, barata e de qualidade para toda a população brasileira, a busca da justiça
social, e da igualdade de direitos, a criação de condições objectivas de participação igualitária da
mulher na sociedade e a preservação dos recursos naturais.

! Observamos portanto que um movimento que originalmente era social, se transformou


num movimento político. A partir do fim dos anos 1980, os governos não terão opção em não se
interessar e tomar em conta as contestações deste movimento.

B - A RESPOSTA DOS SUCESSIVOS GOVERNOS:

1 - O governo de José Sarney e de FHC :

! Em 1985, diante do adoecimento e falecimento do presidente eleito, Tancredo Neves, José


Sarney torna-se titular do cargo de presidência da Republica. Propõe então o Plano Nacional de
Reforma Agraria que é aprovado por decreto no dia 10 de outubro de 1985 e que prevê a
expropriação de 43 milhões de hectares e a instalação de 7 milhões de famílias em quinze anos.
No entanto, face a pressão dos grandes proprietários e as ameaças de retoma de violência, o
Plano acabou por ser efectuado em apenas 3 por cento, deixando assim as esperanças do MST e
dos outros movimentos contestatários pelo caminho. No entanto, estes continuaram a fazer
pressão sobre o governo que em 1988 promulgou uma nova Constituição, fazendo assim
renascer as esperanças perdidas já que a Carta Magna fixava que as terras não exploradas
poderiam ser utilizadas para a reforma agraria. É preciso esperar pela presidência de Fernando
Henrique Cardoso, para se observar resultados mais palpáveis no que diz respeito a questão
agraria.

! Eleito em 1995, Fernando Henrique Cardoso, FHC, foi confrontado com as pressões dos
movimentos sociais que defendiam o direito a terra, e nomeadamente com as acções do MST. O
momento mais importante marcado sem duvida pela marcha do MST até Brasilia no dia 17 de
abril de 1996. Rapidamente, o tema da terra entrou no seu programa político e FHC comprometeu
o seu governo a distribuir 280 000 títulos de propriedade em quatro anos, e efectivamente, a

4 Valores tirados do livro de Bartolomé Bennassar e Richard Marin, “Histoire du Brésil”, Fayard, 2000, Paris
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distribuição foi levada a cabo com sucesso. De acordo com o INCRA, mais de 348 000 famílias
beneficiaram de títulos entre 1995 e 1999. No entanto, e apesar de algumas melhorias a questão
da terra permaneceu um assunto inacabado dos dois governos aqui evocados.

2 - O Governo de Lula e as promessas de Dilma:

! Luis Inácio Lula da Silva é o primeiro presidente eleito do Partido dos Trabalhadores, PT.
Fundado em 1980, o PT foi o partido que mais deu importância aos movimentos camponeses,
unindo-se inclusive ao MST. A vitorio de Lula representou portanto uma vaga de esperança em
todo o pais, e nomeadamente para os membros dos movimentos de contestação social. No
programa de um presidente eleito, estava pela primeira vez a promessa de uma verdadeira
reforma agraria. Os movimentos camponeses participaram pela primeira vez nas indicações de
nomes para cargos do governo e tiveram uma grande influência na nomeação de cargos no
INCRA e no ministério da Agricultura. No inicio do seu governo, o INCRA tentou construir um
projecto de reforma agraria, mas rapidamente este foi afastado do jogo político. Gilmar Mauro,
membro do MST, afirma “Lula não fez reforma agraria, mas somente política de assentamentos.
(...) Evidentemente, houve conquistas importantes da classe trabalhadora, mas não podemos
chamar isso de reforma agrária.” Quanto a presidente eleita Dilma Rousseff, numa entrevista do
dia 3 de novembro de 2010, a presidente afirmou que não compactuará com ilegalidades
nomeadamente no que diz respeito a invasões de propriedades privadas produtivas, mas que no
seu governo não irá tolerar “El Dorado dos Carajás 5” e que considera que a reforma agraria tem
de ser continuada.

CONCLUSÃO
! A terra no Brasil constitui um problema desde o momento da fundação do pais. Vitima de
uma divisão desigual desde as capitanias portuguesas, aos latifúndios do império, às grandes
fazendas do século XX, uma grande parte da população não tem acesso a terra e vive na miséria.
Muitos foram os movimentos de contestação desde o século XIX até aos dias de hoje e observou-
se uma institucionalização da luta. O papel da Igreja foi fundamental nos primeiros conflitos e no
apoio das primeiras reivindicações. Por outro lado, com o desenvolvimento do MST, um exemplo
de movimento contestatario, observou-se um aumento da importância do tema da terra na política
interna brasileira. A pressão destas reivindicações notou-se nas acções do governo de José
Sarney, Fernando Henrique Cardoso e Luis Inácio Lula da Silva. No entanto, nenhum dos
governos conseguiu desenvolver uma verdadeira reforma agraria e como disse Dilma na sua
entrevista no dia 3 de novembro de 2010, a luta continua. No entanto, segundo José Souza
Martins, a questão agraria acaba por ter consequências negativas no pais, já que divide o povo,
separa os partidos e afasta os brasileiros da construção de uma identidade nacional.

5 Massacre de 19 sem-terra em 1996 no Estado do Para


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BIBLIOGRAFIA
EM ORDEM DE RELEVÂNCIA

BENNASSAR Bartolomé, MARIN Richard, “Histoire du Brésil 1500-2000”, Fayard, 2000, Paris

DE SOUZA MARTINS, José, Reforma agraria: o impossível dialogo, edUSP, 2000, São Paulo -
disponível em www.books.google.com.br

KOSHIBA Luiz, MANZI FRAYRE PEREIRA Denise, Historia do Brasil, Atual Editora, 7° edição,
São Paulo

FIGLIOLI, Felipe, A luta do MST pela reforma agraria em José de Souza Martins, Revista Espaço
de Dialogo e Desconexão, Araraquara, v. 1, n° 1, jul /dez, 2008 - disponível em http://
seer.fclar.unesp.br/redd/article/viewFile/1084/891

STÉDILE João Pedro, A questão agraria no Brasil: programas da reforma agraria, 1946-2003,
Editora Expressão Popular, Abril 2005, São Paulo - disponível em www.books.google.com.br

MANÇANO FERNANDES, Bernardo, Reforma agraria no governo Lula: a esperança, EdUSP,


Setembro 2003 - disponivel em http://www4.fct.unesp.br/nera/publicacoes/LULA_RA.pdf

CASTEL Robert, WANDERLEY Luiz Eduardo, BELFIORE-WANDERLEY Mariandela,


Desigualdade e a questão social, 2a edição revista e ampliada, Educ - disponível em
www.books.google.com.br

Arquivo Veja, O trator da direita, 18 de junho de 1986 - disponivel em http://veja.abril.com.br/idade/


exclusivo/reforma_agraria/arquivo/180686.html

COLETTI, Claudinei et C. MORAES, Reginaldo, Un autre monde est-il possible? Le Mouvement


des sans-terre au Brésil, Critique Internationale n°31 - avril-juin 2006

ESTEVAM, Douglas, Mouvement des sans-terre du Brésil: une histoire séculaire de la lutte pour la
terre, La Découverte, Mouvements 2009/4 - N°60 pages 37 à 44

www.planalto.gov.br

www.contag.org.br

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