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Introdução: SENTIDOS, JANELAS PARA A TRANSCENDÊNCIA

A) PARA UMA NOVA SENSIBILIDADE CONTEMPLATIVA

Vivemos numa cultura que nos assalta por todos os sentidos, através de
técnicas minuciosamente estudadas para invadir-nos e instalar-se nas dimensões
mais profundas de nossa afetividade, de tal maneira que vejamos a realidade
segundo seus próprios quereres e interesses.
Com a criatividade vertiginosa de novas técnicas publicitárias, buscam
surpreender-nos, deslum-brar-nos e apoderar-se de nossos sonhos, de
nossos desejos, de nossos passos, tornando-nos seguidores incondicionais
de suas idéias e fanáticos de seus espetáculos.
Talvez hoje, mais do que nunca, precisamos de uma ascese que purifique nossos
sentidos de tantos estímulos que invadem nossa intimidade, nos intoxicam, nos
aprisionam e deturpam nossa sensibilidade, impedindo-nos de perceber como
“Deus faz novas todas as coisas” (Apoc. 21,5).
Precisamos fazer um jejum de imagens e sons que nos invadem com cobiças impostas de satisfações
imediatas, para que no vazio humilde da alma e do corpo, possamos ser surpreendidos pela
transparência e revelação da realidade, da qual não somos donos.
Nesse processo de purificação poderá renascer em nós uma nova sensibilidade para “buscar e
encontrar”, com mais nitidez, a proximidade de Deus, tanto na beleza como na dureza do mundo.

“Os monges talhavam, na dureza da pedra de seus claustros, folhas, flores, anjos de rostos
infantis... Colocavam nos nichos das paredes imagens de Cristo de Maria, dos santos. Quando
caminhavam, esse espaço religioso entrava dentro deles por todos os sentidos.
Não era necessário pensar. Esses sinais religiosos percorriam a rota bem conhecida até o fundo do
coração, mesmo que o monge não se desse conta”.

Nossa “mirada contemplativa” (olhar assombroso) também pode talhar na


dureza da realidade os sinais onde a vida se faz transparência para nós.
Ao passar uma e outra vez pelos mesmos caminhos, visitar os mesmos lugares e
encontrar-nos com as mesmas pessoas, a realidade vai se fazendo cada dia mais
transparente.
Também nós construímos nossos claustros no meio dos espaços agradáveis ou agressivos.
Estes sinais reconhecidos do Reino já sabem percorrer nossos caminhos interiores para alojarem-se em
nossos corações. Às vezes nem os olhamos, mas eles sempre nos olham e nos permitem viver com o
sentimento de uma presença discreta que afasta de nós qualquer rastro de orfandade e de desterro.

A dimensão última da realidade está habitada por Deus. Mas não se pode chegar
até ela à base de raciocínios investigativos, lógicos e possessivos.
É necessário esperar com os sentidos abertos e vigilantes, até que se revele a
nós essa Presença que buscamos e que nos busca.
Só Deus sabe “acender”, a partir de dentro, os espaços e os tempos desse
encontro sem fim que se constrói com ocultamentos e transparências.
Para que sua infinitude e transcendência não nos espante, Ele se revela no
dom no qual se esconde.
Dotados de uma força ex-cêntrica, nossos sentidos se revelam como janelas
abertas ao Transcendente.
O Sagrado só pode ser percebido pelo ser humano, se este tem capacidade para
captá-lo. Deus nos criou com muitas janelas que nos ajudam a mergulhar na
realidade e, assim, chegar a vislumbrá-lo.
Temos cinco janelas que nos permitem ver, ouvir, tocar, saborear, sentir.
A pessoa que possui essas janelas sensíveis é espiritual. Por meio delas, consegue vislumbrar mais que
os sentidos percebem.
Os sentidos vêem as cores, e o espírito percebe a beleza das cores.
Os sentidos constatam as realidades, e o espírito avança para conhecer-lhes as verdades.
Os sentidos vêem o agir humano, e o espírito aguça o interesse pelo bem.
Os sentidos captam o movimento das celebrações, e o espírito vivencia a experiência de fé.

Não é de estranhar que em todos os tempos os seres humanos se sintam atraídos


para a transcendência religiosa. Todos tem as janelas dos sentidos abertas
nessa direção.

B) JESUS DES-VELA A VERDADEIRA FORÇA DOS SENTIDOS


“Transparência de Deus no universo... Não vossa Epifania, Jesus, mas
vossa Diafania” (Theilhard de Chardin)

Deus, em Jesus de Nazaré, entra de cheio na condição humana como tal.


Deus se revelou a nós naquilo que é propriamente humano e, portanto, também
no corporal, no sensível.
Jesus de Nazaré comeu e bebeu, tocou e abraçou, falou e escutou, riu e chorou, olhou e observou, sen-
tiu e gostou, fadigou-se e descansou.
Podemos afirmar que o corporal, e portanto, o sensorial, formou parte da
revelação de Deus.
Como consequência, Deus se faz acessível a nós pelos sentidos, e nossa
sensibilidade está implicada em nosso acesso a Deus.
Portanto, o mundo dos sentidos forma parte da experiência cristã, da vida
espiritual, isto é, de uma vida inspirada e movida pelo Espírito de Jesus, como
algo substantivo e não como algo acrescentado.
É inegável que Jesus foi uma pessoa de notável sensibilidade.
Os Evangelhos, em seu conjunto, nos apresentam um Jesus sumamente sensível
à realidade circundante:
à natureza, às formas de ser e de proceder das pessoas de seu país, às distintas atividades
humanas (festas, trabalho, situações familiares), às atitudes das pessoas manifestadas pelo
gesto, olhar, tato...
Jesus vive sua vida com a plenitude de seus sentidos, e tudo o que é sensível se converte, através d’Ele,
em parábola de Deus: Ele fala de coisas percebidas e perceptíveis pelos sentidos para introduzir-nos
num maior conhecimento de Deus, de seu Reinado, e também para iniciar-nos no modo de abrir-nos
plenamente a Ele.
Jesus, em definitiva, apareceu como uma pessoa de extraordinária capacidade sensível.
Portanto, só entraremos no caminho da imitação e do seguimento de Jesus, se nos colocarmos em
sintonia sensível com Ele, o Jesus tão sensível dos Evangelhos.

Na experiência dos Exercícios Espirituais, sensibilidade e seguimento de Cristo


estão intimamente implicados. As cenas evangélicas propostas para a
contemplação (a partir da 2ª Semana) se apresentam a nossos olhos (pessoas e
fatos) e a nossos ouvidos (palavras) como o caminho que nos é oferecido para
aproximar-nos de Jesus.
Assim, pelas “portas dos sentidos” (S. Inácio), nos aproximamos do mistério
do Deus humanizado e mergulhamos n’Ele.
Na medida em que Jesus ocupar o centro do ver, do olhar e do escutar, ocupará também o centro do
coração do exercitante que olha, que observa, que escuta.
Sem a contemplação da humanidade de Jesus, sem ouvir com nossos ouvidos, sem ver com nossos
olhos, sem apalpar com nossas mãos a Palavra de vida, sem a espessura dessa visibilidade carnal,
longamente contemplada na oração, a figura de Jesus Cristo corre o risco de ficar reduzida a uma idéia
desencarnada ou a um ideal abstrato que, a longo prazo, se esvazia e não tem mais força para mover ao
seguimento.

Portanto, mediante uma acolhida contemplativa do Evangelho, vamos


transfigurando nossos sentidos e convertendo nossa sensibilidade. O trato
íntimo com o Senhor nos transforma, nos conduz a imitá-lo em suas atitudes
profundas e a seguí-lo em sua encarnação em nosso mundo.
Trata-se de um processo que passa do conhecimento ao amor e do amor à
identificação plena com Ele mediante o seguimento.
À medida que vai se realizando esta conversão de nossa sensibilidade, nós nos
fazemos capazes de estar presentes no mundo à maneira de Jesus de Nazaré,
como Ele esteve em sua terra e com sua gente.
A contemplação de Jesus não nos transforma a fundo se não atravessa todas as camadas de nosso ser,
começando por nossa sensibilidade; ou seja, a transformação do coração exige uma renovação de nossa
sensibilidade.
O discípulo de Cristo, com seus sentidos cristificados, não fugirá das coisas materiais e sensíveis, mas
se relacionará com elas, buscando também nelas a presença de Deus.

O seguimento não é uma simples fidelidade moral a Cristo, mas um


prolongamento , na vida própria e no mundo atual, da maneira humana de viver
de Jesus. Não se trata propriamente de “imitar a Jesus”, mas de “prolongar a
Jesus” (K. Rahner) ou de “fazer a história de hoje como Jesus fez a de seu tempo”
(Jon Sobrino)

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