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Presente:
Representante do Ministério Público Especial
TRIBUNAL DE CONTAS DO ESTADO
RELATÓRIO
Os peritos da então Divisão de Contas do Governo do Estado I – DICOG I, com base nos
documentos insertos nos autos, emitiram relatório inicial, fls. 1.073/1.083, constatando,
sumariamente, que: a) a prestação de contas foi apresentada no prazo legal; b) a Lei
Estadual n.º 3.916, de 14 de setembro de 1977, criou o FDE, e o Decreto Estadual
n.º 7.514, de 21 de fevereiro de 1978, o regulamentou; c) as atividades desenvolvidas no
exercício foram apenas financiar a execução de projetos prioritários de infraestrutura
econômica e social, bem como fortalecer a base econômica de municípios paraibanos, não
contemplando, portanto, todos os objetivos do fundo; d) os recursos que constituem o FDE
estão descritos no art. 2º da supracitada lei estadual; e) o decreto que regulamentou o
fundo determina que seus recursos serão aplicados exclusivamente nos objetivos indicados,
de acordo com as disposições especificadas no regulamento e conforme as normas
complementares estabelecidas pela Secretaria de Estado do Planejamento; f) o decreto
também dispõe que a liberação dos recursos do FDE será feita pelo Secretário do
Planejamento, mediante aprovação de projetos específicos constantes no programa de
aplicação e de acordo com os cronogramas de desembolso financeiro definidos; e g) os
valores repassados pelo fundo aos municípios, órgãos e entidades possuíram como fontes os
recursos próprios do Governo do Estado, bem como do Fundo de Participação do
Estado – FPE.
No que diz respeito aos aspectos operacionais, evidenciaram os analistas desta Corte que, no
exercício, foram firmados convênios com 176 Municípios Paraibanos e com 04 Órgãos
Públicos.
Processada a citação do então gestor do FDE, Dr. Franklin de Araújo Neto, fls. 1.084/1.087,
este apresentou contestação, fls. 1.088/1.109, onde alegou, resumidamente, que: a) os
recursos transferidos do Fundo de Combate e Erradicação da Pobreza no Estado da
Paraíba – FUNCEP para o FDE foram aplicados em favor de ações suplementares de
educação, saúde, saneamento básico e reforço de renda familiar, em estrita obediência ao
estabelecido no art. 1º da Lei Estadual n.º 7.611/2004; b) os repasses ocorreram de forma
orçamentária pelo FUNCEP, logo, mesmo que fosse admitida alguma irregularidade neste
procedimento, a eiva deveria ser analisada na prestação de contas anual do FUNCEP; e c) o
fundo é um repassador de recursos e a documentação já acostada aos autos demonstra a
inexistência de inconsistência financeira.
Encaminhados os autos aos peritos do Tribunal, estes, após o exame da referida peça
processual de defesa, emitiram relatório, fls. 112/114, onde consideraram elididas as eivas
concernentes à diferença financeira entre os créditos, bem como à divergência de
informações entre as receitas e as despesas. Também destacaram que permanecia a
irregularidade atinente à realização de transferências financeiras no montante de
R$ 326.303,08.
Após o agendamento do feito para a sessão do dia 26 de junho de 2008 e sua retirada de
pauta, o responsável apresentou documentos relacionados às quantias repassadas para os
Municípios de Boa Vista, São Mamede e São José dos Cordeiros, que foram devolvidas pelo
Banco do Brasil S/A para a conta do FDE e posteriormente foram transferidos para as contas
municipais. Diante deste fato, o relator solicitou a verificação da documentação e de alguns
pontos específicos respeitantes às eivas detectadas no relatório exordial, concorde
determinação de fl. 1.138 dos autos.
TRIBUNAL DE CONTAS DO ESTADO
É o relatório.
PROPOSTA DE DECISÃO
AUDITOR RENATO SÉRGIO SANTIAGO MELO (Relator): Inicialmente, cabe destacar que os
fundos especiais são modos de descentralização de recursos públicos, cujos valores devem
TRIBUNAL DE CONTAS DO ESTADO
ser aplicados exclusivamente nas finalidades previstas nas leis que os instituíram. Trata-se,
consequentemente, de maneira de gestão com característica nitidamente financeira, tendo
em vista que, para sua existência, mister se faz a abertura de uma conta específica. Neste
sentido, dignos de referência são os ensinamentos dos eminentes professores J. Teixeira
Machado Jr. e Heraldo da Costa Reis, in A Lei 4.320 Comentada, 28 ed, Rio de Janeiro:
IBAM, 1997, p. 133, in verbis:
Portanto, podemos concluir que os fundos são criados, basicamente, para fortalecer a
musculatura econômica de determinados órgãos ou entidades, visando à consecução de
objetivos previamente definidos. Comungando com o supracitado entendimento,
reportamo-nos, desta feita, à manifestação dos festejados doutrinadores Flávio da Cruz
(Coordenador), Adauto Viccari Junior, José Osvaldo Glock, Nélio Herzmann e Rui Rogério
Naschenweng Barbosa, in Comentários à Lei 4.320, 3 ed, São Paulo: Atlas, 2003, p. 286,
verbatim:
(...) fundo é uma forma de gestão de recursos, que não se caracteriza como
entidade jurídica, órgão, unidade orçamentária ou unidade contábil, mas
como ente contábil, ou seja, um conjunto de contas especiais que
identificam e demonstram as origens e a aplicação de recursos de
determinado objetivo ou serviço.
Com efeito, é importante realçar que a Constituição Federal definiu em seu art. 165, § 9º,
inciso II, que cabe a lei complementar estabelecer condições para criação e funcionamento
de fundos, vindo o art. 167, inciso IX, determinar a necessidade de prévia autorização
legislativa para a sua instituição, verbo ad verbum:
§ 1º (...)
I – (...)
Como se sabe, com a promulgação da atual Carta Magna, a Lei Nacional n.º 4.320, de 17 de
março de 1964, foi recepcionada como lei complementar, suprindo, por conseguinte, a
exigência contida no citado art. 165, § 9º, inciso II, conforme entendimento do Supremo
Tribunal Federal – STF, ad litteram:
Na verdade, a lei que estatui normas gerais de direito financeiro para elaboração e controle
dos orçamentos e balanços da União, dos Estados, dos Municípios e do Distrito Federal,
possui dispositivos que tratam especificamente dos fundos especiais, são os artigos 71 a 74,
verbum pro verbo:
Art. 71. Constitui fundo especial o produto de receitas especificadas que, por
lei, se vinculam à realização de determinados objetivos ou serviços,
facultada a adoção de normas peculiares de aplicação.
Art. 74. A lei que instituir fundo especial poderá determinar normas
peculiares de controle, prestação e tomada de contas, sem, de qualquer
modo, elidir a competência específica do Tribunal de Contas ou órgão
equivalente.
Também é importante repisar que a Lei Complementar Nacional n.º 101/2000 (Lei de
Responsabilidade Fiscal), em seu art. 1º, § 3º, inciso I, alínea “b”, estabelece que as normas
de finanças públicas voltadas para a responsabilidade fiscal contemplavam, dentre outras, as
administrações dos fundos, ipsis litteris:
§ 1º (...)
§ 3º Nas referências:
a) (omissis)
Da mesma forma, o art. 50, inciso I, da reverenciada Lei de Responsabilidade Fiscal – LRF,
definiu que os fundos devem seguir as normas de contabilidade pública, no que tange a
escrituração individualizada de suas contas, senão vejamos:
norma fixou, além dos objetivos a serem atendidos, os recursos a serem mobilizados,
vejamos o seu art. 2º, verbatim:
I – Uma parcela de até 30% (trinta por cento) dos valores que o Estado
receber do Governo Federal, oriundos do Fundo de Participação dos Estados,
do Distrito Federal e dos Territórios;
III – Uma parcela de até 10% (dez por cento) da receita do Imposto Sobre
Circulação de Mercadorias – ICM;
I – (...)
Por outro lado, em que pese o entendimento dos analistas da Corte e do Ministério Público
de Contas, verifica-se que as transferências financeiras recebidas do FUNCEP no montante
de R$ 526.303,08, foram contabilizadas no FDE como RECEITA EXTRAORÇAMENTÁRIA e
ocorreram de forma indevida, pois cada um dos mencionados fundos possuem receitas
específicas e reservadas para determinados fins, bem como seus objetivos institucionais são
distintos.
Destarte, não poderia o administrador do FDE à época, Dr. Franklin de Araújo Neto, que era
também gestor do FUNCEP, utilizar valores não pertencentes ao Fundo de Desenvolvimento
do Estado – FDE para quitar restos a pagar de exercícios anteriores relacionados a convênios
celebrados com os Municípios de Cajazeiras, R$ 202.044,56, de São José do Sabugi,
R$ 80.000,00, e de Serra Redonda, R$ 44.258,52, como também para repassar a última
parcela do convênio celebrado com o Centro de Apoio a Criança e ao
Adolescente – CENDAC, R$ 200.000,00. Este procedimento, na verdade, caracterizou uma
suplementação financeira indevida para o FDE, que possui receitas bem definidas no art. 2º
da Lei Estadual n.º 3.916/1977.
I – (omissis)
FDE, adequando seus objetivos a atual realidade do Estado, bem como redimensionando os
recursos que servem para a sua formação.
É a proposta.