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Lídia da Silva
Língua Brasileira de
Lídia da Silva
Sinais – Libras
Capítulo
Língua Brasileira de
Sinais – Libras
Lídia da Silva
Curitiba
2010
Ficha Catalográfica elaborada pela Fael. Bibliotecária – Cleide Cavalcanti Albuquerque CRB9/1424
Silva, Lídia da
S586l Língua brasileira de sinais – Libras/ Lídia da Silva. – Curitiba: Fael,
2010.
164 p.: il.
ISBN 85-64224-28-5
Nota: conforme Novo Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa.
1. Educação inclusiva 2. Libras. I. Título.
CDD 371.9
EDITORA FAEL
Prefácio.........................................................................................9
Referências...............................................................................163
prefácio Capítulo
prefácio
Q uando nos deparamos com uma pessoa surda pela primei-
ra vez, algo acontece que faz desse encontro um momento único e
singular em nossas vidas. Para alguns, esse momento vai significar
o confronto com suas dificuldades e limites, que ficará apenas na
memória. Para outros, vai significar uma mudança de vida, devido a
uma tomada de decisão quanto às questões relacionadas à surdez e à
língua de sinais. Uma tomada de decisão que implica a proximidade
9
com a pessoa surda e sua língua.
No meu caso, o efeito do encontro foi o segundo. Diante de um
primeiro contato com uma pessoa surda, fui tomada pelo desejo de me
desafiar e de tentar uma aproximação com ela, ainda que isso exigisse
muito esforço e dedicação, pois o processo de aprendizagem de uma
segunda língua não é uma atividade das mais fáceis da nossa vida.
A entrada nessa nova esfera linguística me motivou a buscar
cada vez mais conhecimento sobre a Libras e suas implicações para
os sujeitos surdos, e essa busca foi determinante na minha formação
acadêmica e profissional. Hoje sou pesquisadora, usuária, tradutora
e professora de língua de sinais e me deparo todos os dias com os
desafios que uma língua espaço-visual impõe às pessoas que são fa-
lantes nativas de uma língua oral-auditiva. Porém, além dos desafios,
deparo-me também com a beleza, com a completude, com a satisfa-
ção de poder estabelecer comunicação por meio das mãos, dos olhos,
do corpo, dos sinais. Assim se constituiu minha busca, e assim espero
que se constitua a leitura deste livro aos leitores: descobertas rechea-
das de desafios e encantamentos.
prefácio
prefácio
Julgo que os principais desafios que se encontram neste texto
são de ordem gramatical, já que é uma tarefa árdua esboçar grafica-
mente os detalhes de uma língua “espacial-tridimensional”. Minha
expectativa é conseguir, minimamente, esclarecer a constituição dos
aspectos fonológicos, morfológicos, sintáticos e semânticos da Libras,
sem esgotá-los, é claro. Até porque espero que esse desafio soe como
um convite a uma leitura mais aprofundada sobre o tema, que o leitor
possa – após receber esta introdução – percorrer caminhos mais lon-
10 gos no conhecimento da estrutura gramatical da Libras.
Além disso, acredito que o leitor será tomado de encantamento
ao se deparar com o status linguístico da Libras, no sentido de poder
empregar a característica de “língua” a essa forma de comunicação e
de não mais creditar como verdade as falácias sociais ditas sobre ela
até então. Esse encantamento pela Libras, no seu valor e nas suas
possibilidades comunicativa é que gera condições de entender as im-
plicações sociais da surdez. Com esse olhar de diferença linguística,
torna-se mais fácil conceber a ideia de uma pessoa viver apenas com
experiências visuais e, assim, construir toda sua impressão sobre o
mundo. É preciso que tenhamos esse encantamento para podermos,
de alguma forma, contribuir com as discussões sobre os surdos e sua
língua, sempre destacando que eles – os surdos – também devem ter
voz nesse processo.
A autora.*
Definições preliminares
Atualmente, tem sido muito comum pessoas se depararem com
outros indivíduos conversando de um modo muito diferente do que
Língua Brasileira de Sinais – Libras
FAEL
Capítulo 1
Surdo Ouvinte
14
Oi
FAEL
Capítulo 1
15
1 Os surdos dão um sinal para cada pessoa e não as chamam pelo nome.
Língua Brasileira de Sinais – Libras
Língua Brasileira de Sinais – Libras
FAEL
Capítulo 1
2 O argumento da “pobreza dos estímulos” é tratado por Chomsky (1957) como uma
atitude platonista, por isso o nome problema de Platão é extraído da questão filosófica:
como o ser humano pode saber tanto diante de evidências tão passageiras, enganosas e
fragmentárias?
3 Epifenômenos são fenômenos adicionais que se sobrepõem a outros, mas sem modificá-los,
nem exercer sobre eles qualquer influência; são fatores sociais, econômicos, políticos, cultu-
rais, etc. (QUADROS; FINGER, 2008, p. 47).
4 Funções mentais superiores são sinônimo de funções psicológicas, e elas são: pensamen-
to, memória, atenção, raciocínio, percepção, inteligência, linguagem e outras.
FAEL
Capítulo 1
Língua de sinais
Iniciamos pelo significado do termo, visto que no Brasil há duas
terminologias correntes para designar a língua de sinais utilizada pela
comunidade surda brasileira: Libras (Língua Brasileira de Sinais) e LSB
(Língua de Sinais Brasileira).
A primeira foi oficializada pela Saiba mais
Federação Nacional de Educa- Há pesquisas que discutem a melhor grafia
ção e Integração de Surdos, e para a língua brasileira de sinais, se deve ser
LIBRAS (todas as letras maiúsculas), libras
é o termo presente em docu-
(todas as letras minúsculas) ou Libras (apenas
mentos legais. A LSB é a sigla a primeira letra maiúscula), já que há diferen-
utilizada por pesquisadores ça conceitual nesses diferentes registros. Leia
que publicam textos interna- mais sobre o assunto em: <http://www.fiemg.
cionais, já que todas as demais com.br/ead/pne/Terminologias.pdf>.
línguas de sinais do mundo
possuem uma sigla com três letras, dessa forma, é possível ter uma rápi-
da identificação para LSB. Como Libras é nossa opção terminológica,
reproduzimos a seguir o sinal empregado pelos surdos para nomear sua 19
própria língua:
Libras
FAEL
Capítulo 1
21
22
Dormir Idade
FAEL
Capítulo 1
23
Varrer Opinar
É bom ressaltar que os sinais icônicos não são iguais no mundo todo,
pois a representação que cada falante faz da realidade é diferente, por
exemplo, o sinal de árvore no Brasil é icônico assim como o é na China.
A diferença é que aqui representamos o tronco da árvore e o balanço dos
galhos, enquanto lá se faz apenas o tronco, conforme figuras a seguir:
Árvore Árvore
FAEL
Capítulo 1
FAEL
Capítulo 1
Casa Casa
FAEL
Capítulo 1
30 a b c ç d e
f g h i j k
l m n o p q
r s t u v w
x y z
FAEL
Capítulo 1
bem próximo ao tronco, e as letras são feitas uma após a outra, sem
necessariamente tirar a mão do lugar.
Para os nomes de pessoas e lugares, é comum os surdos pedirem
que se escreva a palavra com o alfabeto manual, mas, na sequência, eles
criam um sinal que será usado dali para frente. Então, a digitalização da
palavra passará a ser dispensável das próximas vezes, pois a realização do
sinal vai remeter ao sentido e ao conceito. Caso seja necessário escrever
mais de uma palavra (nome completo ou palavra composta, por exem-
plo), deve-se fazer uma palavra em uma sequência rítmica e dar uma
pausa na última letra para, então, iniciar a nova série de letras que serão
feitas com o mesmo ritmo.
Além disso, há também a possibilidade de representação dos acen-
tos das palavras (^, ~, `, ´) por meio de desenho no ar com o dedo indi-
cador. O desenho no ar é feito em um ponto acima de onde se escreveu
inicialmente, e deve ser feito antes da letra que receberá o acento, por
exemplo: JOS´E. O mesmo processo ocorre com a produção dos nú-
meros da Libras, os quais estão reproduzidos a seguir:
31
Figura 2
0 1 2 3 4
5 6 7 8 9
FAEL
Capítulo 1
FAEL
Capítulo 1
Homem
FAEL
Capítulo 1
FAEL
Capítulo 1
zes, para que a auxilie, até que aprende os três parâmetros e consegue
realizar com precisão o sinal de sorrir.
39
Síntese
Neste capítulo, tratamos de definições preliminares relacionadas à
40
Libras e apresentamos ao leitor a fase histórica pela qual a sociedade está
passando, a chamada inclusão. Explicamos que, nessa fase, os paradig-
mas sobre a pessoa surda e sua língua passaram por reformas não só no
que se refere à terminologia – surdo e Libras –, mas na forma de rela-
cionamento com essa nova realidade. Muito mais do que saber a forma
de tratamento dessas questões, é preciso que haja um desprendimento
para aprender a se comunicar e se relacionar com os surdos. Isso pode se
dar por meio do alfabeto manual, dos empréstimos linguísticos, de um
jeito mais informal ou por meio de leituras e pesquisas linguísticas.
Nesses termos, percorremos com o leitor o mesmo percurso adota-
do no processo de valoração da Libras, pois, para que houvesse todo o
reconhecimento social e acadêmico que hoje existe quanto ao status dessa
língua, foi preciso muito esforço para desmontar os mitos que havia, assim
como foi preciso arrolar alguns pressupostos universais na análise dessa
modalidade expressiva. Atualmente, os surdos foram brindados com a ofi-
cialização da sua língua por determinação legal. Dessa forma, as pesquisas
não mais se prestam a “comprovar” que a Libras é uma língua, mas já
podem focar em conhecer o comportamento de uma língua espaço-visual
e tecer análise gramatical sobre ela, o que faremos no próximo capítulo.
FAEL
Capítulo 1
Glossário
Input
É o sinônimo para estímulo linguístico, ou seja, todas as influências
verbais que são dadas às crianças quando estão aprendendo a falar.
Output
É a forma como a criança expressa o input que recebeu, é o que ela
consegue falar.
Pidgin
É um sistema de comunicação precário. É uma língua emergencial,
porque aparece em situações extremas de barreiras à comunicação
(MCCLEARY, 2008, p. 21).
41
Aspectos fonológicos 43
É no nível fonológico que se encontram as considerações acerca dos
fonemas – conceituados como unidades mínimas do som. Nesse sentido,
não caberiam considerações fonológicas para a Libras, já que ela é uma
língua espaço-visual que não tem som. Para resolver tal impasse, Stokoe
empregou a terminologia “querema”, em vez de “fonema”, para o estudo
das unidades mínimas da língua de sinais. Porém, atualmente, os pes-
quisadores de língua de sinais abandonaram esse termo, por entender o
apontamento de Saussure (1970) quanto a isso. Para o pai da linguística,
a forma do significante refere-se a uma imagem acústica convencional,
abstraída de realizações fonéticas concretas e infinitamente variáveis, de-
finição que torna o conceito suficientemente abstrato para abranger não
apenas representações psíquicas de sons, mas também de gestos (LEITE,
2008). Assim, quando nos referirmos aos fonemas, fazemos menção às
unidades mínimas que compõem a língua.
Além dos fonemas, as línguas naturais também são compostas por
morfemas e palavras, articulações que norteiam a dupla articulação
apontada por Martinet (1978). Esse linguista diz que todas as línguas
humanas possuem dupla articulação. Por dupla articulação entende-
mos um plano de conteúdos (composto por morfemas e palavras) e um
Língua Brasileira de Sinais – Libras
Ônibus
44
Configuração de mão
Movimento
Localização
Carro
Movimento
Configuração de mão
Localização
FAEL
Capítulo 2
Avião
Movimento
Configuração de mão
Localização
Configuração de mão
Quadros e Karnopp (2004), por sua vez, apontam que essas con-
figurações de mão são representações do sistema fonético da língua,
considerando a inexistência de identificação quanto às configurações
de mão básicas e às configurações de mão variantes.
46
FAEL
Capítulo 2
Aluno Professor
Lápis Caneta
47
Cola Tesoura
Vestibular Português
ou
Ciências História
48
Uniforme Educação
FAEL
Capítulo 2
Curso Pós-graduação
49
Redação Apontador
FAEL
Capítulo 2
Sala Geografia
Caderno Régua
51
Mochila Prova
Química Nota
1 2
52
Dividir Multiplicar
FAEL
Capítulo 2
Locação
O segundo parâmetro refere-se ao espaço em que o sinal será reali-
zado, podendo ser no próprio corpo do sinalizador ou no espaço neutro
(espaço “vazio” à frente do corpo do sinalizador, precisamente entre a
cabeça e o quadril), conforme mostram as imagens a seguir.
Sinalização no espaço neutro:
Tartaruga Hipopótamo
53
Foca Mosca
Urso Jacaré
Peixe Borboleta
54
FAEL
Capítulo 2
Galinha Rato
Papagaio Pato
55
Cobra Coruja
Porco Sapo
Dinossauro Zebra
56
Movimento
Movimento, o terceiro – e principal – parâmetro, é bastante com-
plexo, considerando sua vastidão de possibilidades. Em Strobel e Fer-
nandes (1998), vemos que os movimentos podem ser do tipo sinuoso,
semicircular, circular, retilíneo, helicoidal e angular, sendo possível pro-
duzi-los de forma unidirecional, bidirecional ou multidirecional. Além
disso, eles podem ser produzidos com diferentes tensões, velocidades e
frequências. Apresentamos a seguir alguns exemplos de sinais produzi-
dos com diferentes tipos de movimento.
FAEL
Capítulo 2
Espelho Telhado
57
2
1
Jardim
Movimento circular
Cerca
1
2
Movimento retilíneo
Liquidificador
58
Movimento helicoidal
Eletricidade
Movimento angular
FAEL
Capítulo 2
Laranja/sábado Aprender
59
Cantar Comunicar
60
FAEL
Capítulo 2
Bravo Triste
Feliz Cansado
61
Bondoso Humilde
ou
Esquisito Tímido
Calmo Inocente
62
ou
Doido Esnobe
FAEL
Capítulo 2
Vaidoso Chato
Chorão Tarado
63
Roubar Sexo
64
Aspectos morfológicos da Libras
Se estivermos entendendo que o nível morfológico é aquele que
compreende o trabalho de seleção das palavras, faz-se necessário, pri-
meiramente, definir o que entendemos por palavra. Segundo Sandalo
(2001, p. 183), “palavra é a unidade mínima que pode ocorrer livre-
mente em várias posições sintáticas”.
Entretanto, dentro das palavras, há elementos que carregam sig-
nificado. Esses elementos, chamados de morfemas, é que são as unida-
des mínimas da morfologia (SANDALO, 2001). Na Libras, conforme
Felipe (1998), os parâmetros fonológicos também podem ser compa-
rados a morfemas, pois, às vezes, eles apresentam significado isolada-
mente. Assim como ocorre com o português, os fonemas podem ter a
natureza de um morfema, por exemplo, os fonemas /a/ e /o/ podem
ser artigos ou desinências de gênero, assim como o fonema /s/ pode
indicar o plural.
Do mesmo modo, na Libras, determinada configuração de mão,
por exemplo, pode constituir um morfema. A seguir ilustramos alguns
sinais que podem ser considerados morfemas.
FAEL
Capítulo 2
65
Três semanas
66
FAEL
Capítulo 2
Ontem Hoje
Amanhã Passado
67
Futuro Ano
FAEL
Capítulo 2
69
70
FAEL
Capítulo 2
71
Não resolver
72
FAEL
Capítulo 2
1
1
73
2 2
2 2
1
2
2
2
1
FAEL
Capítulo 2
2
2
75
76
FAEL
Capítulo 2
1
1
2
2
77
Telefone Telefonar
Cadeira Sentar
FAEL
Capítulo 2
Comida Comer
Pente Pentear
79
Foto Fotografar
Casa Morar
Bebida Beber
80
FAEL
Capítulo 2
Quebrar Rir
Sentir Sujar
81
Trabalhar Viver
Sonhar Gritar
ou
Trair Tentar
82
Ouvir Opinar
FAEL
Capítulo 2
Roubar Salvar/apoiar
Morrer Preocupar
83
Com relação aos verbos manuais, apontamos que são aqueles que
se configuram pela incorporação do objeto a que se referem. Eles
podem ser considerados icônicos pela representação da realidade. Al-
guns exemplos:
84
Costurar Escrever
FAEL
Capítulo 2
FAEL
Capítulo 2
Flexão
Segundo Câmara Jr. (1985), o termo “flexão” tem sua origem na
língua alemã, e os primórdios de sua utilização aconteceram na in-
dicação do desdobramento de uma palavra em outros empregos. No
português, o autor assinala que a flexão se apresenta sob o aspecto de
desinências ou sufixos flexionais. Para ele, a flexão é a formação de uma
palavra por meio de um morfema, constituindo uma ideia acessória em
que o significado base não é alterado.
Isso demonstra que a flexão é definida como um processo pelo
qual uma palavra é adaptada a um contexto, com o acréscimo de uma
desinência correspondente à função que exerça na frase, de acordo com
a natureza desta, em uma relação fechada, indicando uma modalidade
específica. Câmara Jr. (1985) associa, também, ao conceito de flexão,
a obrigatoriedade e a sistematização coerente, que são impostas pela
própria natureza da frase. É no escopo da morfologia flexional que se
destacam os processos de flexão nominal e verbal. Sendo assim, vamos
conhecer cada um deles. 87
O primeiro processo, de flexão nominal, pode ser explicitado por
meio dos pronomes. Na Libras, há pronomes pessoais, demonstrativos,
possessivos, interrogativos e indefinidos, conforme ilustrados a seguir.
●● Pronomes pessoais podem representar primeira, segunda e terceira
pessoa e podem aparecer no singular ou no plural:
SINGULAR PLURAL
1ª pessoa – eu Nós dois Nós três Nós quatro Nós grupo
SINGULAR PLURAL
2ª pessoa – você Vocês dois Vocês três Vocês quatro Vocês grupo
3ª pessoa – ele(a) Eles(as) dois/duas Eles(as) três Eles(as) quatro Eles(as) grupo
88
FAEL
Capítulo 2
●● Pronomes possessivos:
Meu (minha) Teu (tua) Seu (sua)
89
Onde? Quando?
●● Pronomes indefinidos:
90
Nenhum Nada
FAEL
Capítulo 2
Casa Casinha
Bonito(a) Bonitinho(a)
91
Legal Legalzinho(a)
Calor Calorão
92
FAEL
Capítulo 2
Falar
93
O verbo falar é produzido com a configuração de mão em y. A
localização inicia-se com o polegar próximo à boca do sinalizador e
movimenta-se na direção de quem receberá a fala. Isso que dizer que,
se a pessoa que será o receptor estiver à direita do emissor, a direção
do movimento será à direita. Se o receptor da fala estiver à esquerda,
o ponto inicial do movimento permanecerá sendo na boca, mas a
trajetória do movimento será à esquerda, e assim sucessivamente,
para todas as diversas localizações possíveis para o receptor. Assim, a
concordância na Libras está na sentença: eu falo para você, ou seja,
a primeira pessoa do discurso – eu – falo (verbo com concordância)
para a segunda pessoa do discurso – você. Ocorre que, em alguns
casos, a trajetória do movimento é oposta: inicia-se no objeto indo
em direção ao sujeito. Esses verbos são chamados de verbos reversos
(backward verbs). É o caso do sinal falar, anteriormente ilustrado,
ser concordado para ele(a) me falou. Nesse caso, haverá inversão do
ponto inicial do sinal que, em vez de ser na boca, será na localização
que está referenciada para o objeto (segunda pessoa do discurso).
Vamos ver a seguir a concordância do verbo falar:
1s
Falar2s 5
2s
Falar1s
94
2s
Falar3s
FAEL
Capítulo 2
96
FAEL
Capítulo 2
1s
Entregar 2s
1s
Entregar 2s + 3s
97
1s
Entregar2s + 3s + 4s
1s
Entregar vários
98
1s
Entregar grupo6
6 Uma variação possível desse sinal é a realização do movimento com ambas as mãos, de-
notando a ideia de entregar para muitas pessoas ou entregar para um grupo grande.
FAEL
Capítulo 2
99
100
FAEL
Capítulo 2
Ir
101
Procurar Encontrar
Cuidar
FAEL
Capítulo 2
Cuidar imperfectivo
103
Nesse caso, mantém-se a configuração de mão e a localização do
sinal raiz e altera-se o movimento para alongado, lento e contínuo. Isso
quer dizer que haverá o contato do pulso da mão ativa com o pulso da
mão passiva mais de uma vez e que o afastamento da mão passiva será
mais alongado em relação ao afastamento que há na produção do sinal
raiz, a retomada do contato será feita de modo mais lento.
Já com relação ao verbo passear, temos a seguinte observação:
Passear perfectivo
Passear imperfectivo
Esperar
FAEL
Capítulo 2
Esperar imperfectivo
com foco, sentenças com tópico. Elas são constituídas de um tipo dado,
especialmente pela expressão facial. Vejamos cada uma delas:
●● Sentenças negativas – são aquelas que apresentam uma ideia sendo
negada. Elas podem ser formadas pelos sinais que incorporam a ne-
gação – anteriormente apresentados –, pela expressão facial negativa
junto ao verbo ou pelos sinais a seguir, acrescidos ao final da frase.
106
FAEL
Capítulo 2
Organização espacial
Ao estudar os pronomes, verificamos que eles são utilizados para
marcar as referências pessoais nos verbos com concordância. Em relação
FAEL
Capítulo 2
7 As exceções dessa construção sintática no espaço são o tópico e o foco, por exemplo, que
são construídos pela expressão facial. Sobre isso, ver Pizzio (2006).
FAEL
Capítulo 2
112
FAEL
Capítulo 2
Do que
8 Há muitos sinais que podem significar mais. Na seção destinada à semântica, explica-
remos cada um deles.
Flexibilidade da Libras
A Libras é uma língua flexível, e isso pode ser demonstrado pela
“junção” de categorias gramaticais em sua expressão e composição. Para
ilustrar a flexibilidade da Libras, escolhemos tratar da temporalidade,
pois tal nos permite entender essa característica. Tanto aspecto quanto
tempo são noções que se referem à temporalidade dos eventos, porém,
sob diferentes perspectivas.
A conceituação mais básica de tempo é que ele é uma categoria
gramatical dêitica, que expressa o momento em que ações verbais acon-
tecem e, por isso, pode definir a existência de três tempos linguísticos:
presente, passado e futuro. Sobre questões como essas e outras peculiari-
dades teóricas da conceituação da categoria tempo, há uma vasta litera-
tura, na qual encontramos diferentes abordagens e discussões dos auto-
res. É o caso, por exemplo, de Benveniste (1989), que diz que o tempo
linguístico é aquele que realiza o tempo do homem, instaurando-o em
um discurso, levando em consideração o momento da fala como ponto
de referência para situar os acontecimentos. Para esse autor, o tempo
114 linguístico é singular por ser organicamente ligado ao exercício da fala,
ao fato de se definir e de se organizar como função do discurso. Cada
vez que um locutor emprega a forma gramatical do presente, ele situa
o acontecimento como contemporâneo à instância do discurso que o
menciona. Nesse sentido, todo discurso instaura um agora que equivale
ao momento da enunciação, o qual transcorre no tempo presente lin-
guístico, em que existe uma concomitância entre o evento narrado e o
momento da narração; e um agora em que acontece a não concomitân-
cia, a qual se divide em anterioridade e posterioridade ao agora.
Podemos citar, também, autores mais recentes, como Fiorin, que
postulam três momentos relevantes na constituição do tempo: momen-
to da enunciação (ME), momento de referência (MR) e momento do
acontecimento (MA). Fiorin (2002) afirma que a temporalidade ins-
taurada pela língua refere-se também às relações de sucessividade entre
estados e transformações, representadas no próprio discurso. Com isso,
o autor aponta para a existência de dois sistemas temporais: o enun-
ciativo, relacionado diretamente ao momento da enunciação (ME) e
organizado em função do presente que já está implícito na enunciação;
e o enuncivo, ordenado em função de momentos de referência (MR)
instalados no enunciado.
FAEL
Capítulo 2
116
9 Se não for produzido dessa forma, ou seja, se o sinalizador fizer os movimentos para cima
e/ou para frente, haverá um fenômeno agramatical.
FAEL
Capítulo 2
Passado distante
FAEL
Capítulo 2
Ontem Anteontem
FAEL
Capítulo 2
FAEL
Capítulo 2
Especial
Educação Ensino
124
Algo semelhante se dá com o sinal de famoso. Em Libras, seu
emprego não está relacionado só ao fato de uma pessoa ser muito co-
nhecida, mas também a uma grande habilidade que ela possua. Há a
possibilidade da seguinte construção na Libras: “Ele Libras famoso”.
Famoso
FAEL
Capítulo 2
Polissemia
Vamos pensar na polissemia em Libras de duas maneiras: a versão
que o português impõe aos sinais da Libras e a versão que os sinais da
Libras impõe ao português. Começando pela primeira maneira, vamos
pegar uma mesma palavra e ver as várias possibilidades de sinalização,
dependendo do contexto de realização. A palavra mais pode ser sinali-
zada das seguintes formas se os contextos de realização implicarem nas
informações correspondentes:
125
Sinal para marcar a ação de jun- Sinal para marcar a ação de “mais
tar, aproximar, acrescentar. uma vez”, de repetição.
Sinal para marcar Sinal para marcar a ação de Sinal para marcar
a necessidade de comparação absoluta, como a necessidade de
continuidade no se houvesse um destaque aumentar o som.
percurso. de maioridade, daquele que
está acima de todos.
Ocupado
FAEL
Capítulo 2
Síntese
Neste capítulo, debruçamo-nos sobre a gramática da Libras e ana-
lisamos, detalhadamente, para cada um dos seus níveis de análise lin-
guística, a fim de proporcionar ao leitor um conhecimento das “partes”
da língua.
No nível fonológico, observamos que a Libras apresenta três pa-
râmetros principais: localização, configuração de mão e movimento.
Quanto à localização, observamos sua realização no espaço neutro e no
corpo. Quanto à configuração, vimos as possibilidades de formação de
sinais a partir de apenas uma mão, de duas mãos com formas diferentes
ou, ainda, de duas mãos com formas iguais. Quanto aos movimentos,
conhecemos suas seis possibilidades principais. Ainda com relação ao
nível fonológico, destacamos a existência de pares mínimos e de pa-
râmetros secundários para realização dos sinais: orientação da mão e
expressão facial.
128
FAEL
Implicações
sociais da surdez 3
N este capítulo, apresentaremos um panorama geral sobre as
relações sociais que são estabelecidas a partir da experiência da surdez.
Nesse sentido, abordaremos as configurações dos relacionamentos pes-
soais (casamento e filhos), as relações de amizade (associação de surdos,
Feneis) e cultura (cinema, arte). Disso tudo, destacaremos a subjetivi-
dade inerente, ou seja, olharemos para o que é impregnado no surdo
a partir de tais vivências: sua identidade e cultura. Com relação à es-
colaridade da pessoa surda, partimos da premissa de que Libras é sua 129
primeira língua e, portanto, deve fazer parte da instrução recebida, em
qualquer espaço que for. Partindo disso, entendemos que a necessidade
de saber o português, por parte do surdo, é urgente, podendo ser sa-
nada com métodos específicos de segunda língua, sendo que, para tal
enfoque, destacam-se os processos de leitura e escrita.
130 Como fruto dessa comunhão, acabam por vir os filhos, e como a
surdez não é hereditária, eles poderão ser ouvintes (havendo exceções
em que pais surdos concebem filhos da mesma natureza). Uma situação
que pode acontecer é uma adequação em relação aos pais surdos e filhos
ouvintes, em que o filho acaba por não ser estimulado e não desenvolve
a audição e a fala. Isso é compartilhado mundialmente por essas pessoas
e, devido à grande quantidade de filhos que se inclui nessa categoria,
criou-se uma organização in-
Saiba mais ternacional destinada a discutir
Os casamentos de surdos (com pessoa surda ou questões conflitantes, pois inte-
ouvinte), normalmente, são acompanhados de ragir simultaneamente em cultu-
tradução, já que o celebrante (pastor, padre, ras diferentes não é algo simples,
juiz) não consegue estabelecer uma comuni- exige empenho e reformulação
cação com os noivos, tão pouco consegue ex-
daquilo que se apreendeu. Essa
pressar os votos na língua oral. O profissional
intérprete deve se colocar em frente aos noi-
organização, destinada também
vos, ao lado do celebrante. Caso haja surdos às pessoas que possuem uma re-
na plateia, a presença de mais um intérprete alidade semelhante quanto a ser
é recomendada. O traje do profissional deve filho de pais surdos, caracteriza-
ser o mais discreto possível para não ofuscar o se pelo nome de Coda (children
glamour que envolve o casal. of deaf adults).
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Capítulo 3
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ouve. Dessa forma, a criança sente-se ausente de seu mundo, não con-
seguindo estabelecer laços com a escola por causa das limitações im-
postas quanto à comunicação, não podendo utilizar a língua de sinais e
recebendo cobranças que dizem respeito a adultos e não a ela.
Outra dificuldade enfrentada pelo Coda que possui identidade
cultural surda é a de que, quando seus pais necessitam de interação
social, socilitam-no pela condição auditiva que possui. Frente a uma
gama de informações advindas da televisão, os pais pedem à criança
que interprete aquilo que está sendo transmitido. Da mesma forma
acontece com ligações telefônicas, os pais exigem a tradução daquilo
que está sendo falado, ou em consultas médicas, em que os pais pedem
que tudo seja minuciosamente relatado em sinais, para que possam en-
tender. Tais circunstâncias exigem da criança esforços psicológicos para
mediar uma comunicação que não condiz com sua idade. Entretanto,
sabe-se que a criança Coda tem seu processo cognitivo e de aprendiza-
gem preservados, independentemente do ambiente em que esteja, em
casa ou na escola.
133
Reflita
Reflita
No meio da comunidade surda, especialmente entre os intérpretes,
é muito comum que o fato de ser Coda seja um diferencial, um sta-
tus. Isso porque se julga que, se é filho de surdo, será um excelente si-
nalizador, e isso procede, considerando que tais pessoas aprendem a
Libras como os surdos – como primeira língua. Mas daí pensar que
essas pessoas são, automaticamente, bons intérpretes, não significa
depreciar todo um trabalho estruturado de técnicas tradutórias? Até
porque, no Brasil, existem excelentes intérpretes que não são filhos de
surdos e que conseguiram, por meio de estudos e pesquisa, um bom
desenvolvimento linguístico e técnico. É claro que, se os Codas deseja-
rem se profissionalizar, eles terão “vantagem” em detrimento aos de-
mais ouvintes, pois já têm a língua adquirida, além de serem peritos e
mestres no quesito identidade e cultura surda. Porém, a automatização
é complicada, pois, conforme discutimos no texto, a convivência com
pais surdos – em alguns casos – gera algumas consequências sociais
não muito boas para a criança, fato que pode levar ao desenvolvimento
truncado e à falta de domínio do português, e tais quesitos são muito
exigidos do intérprete.
Reflita
Reflita
Esse é um caso muito específico de pais surdos com filhos ouvin-
tes. Em se tratando de uma situação paralela, em que pais surdos têm
filhos surdos, os problemas que os Codas enfrentam quanto à família
talvez não existissem, pois os estímulos seriam aceitos de forma natural
e o processo de desenvolvimento da criança seria semelhante ao de uma
criança ouvinte com pais ouvintes.
Skliar (2001) aponta que, dentro da relação entre pais surdos e
filhos surdos, todas as intervenções ocorrem na língua de sinais. Pais e
filhos se utilizam dela para propor a ação de uma atividade, compar-
tilhar ou estar em desacordo com propostas e para estabelecer a ativi-
dade com objetivo de organizar algum aspecto da ação. Sendo assim, é
134 possível pensar que a aquisição da linguagem, em seu processo, ocorre
do mesmo modo em crianças surdas e ouvintes. Em relação aos Codas,
o processo de aquisição da língua é idêntico ao de uma criança surda
filha de pais surdos, diferenciando-se apenas se o pai ou a mãe forem
ouvintes, pois, nesse caso, o processo se dará de modo bilíngue, em que
a criança aprenderá duas línguas ao mesmo tempo.
De acordo com Grolla (2006), a criança adquire uma língua natu-
ral sem que seja preciso passar por treinamentos intensivos ou estímulos
linguísticos. O simples contato com a língua possibilitará à criança de-
senvolver sua expressividade linguística – os itens lexicais e a estrutura
gramatical que ela já possui de forma inata. Tal processo irá ocorrer de
maneira mais facilitada mesmo na ausência de uma fala dirigida a ela. A
universalidade da aquisição da linguagem explica que, independente da
língua ou do desenvolvimento das habilidades motoras, como amarrar
sapatos ou desenhar formas geométricas, ocorrerá uma apropriação de
enunciados diversos. Para a autora, no caso das crianças estarem no
mesmo ambiente físico, por mais que os inputs oferecidos sejam dife-
rentes quanto à forma, a língua adquirida será a mesma; além disso, diz
que a aquisição da linguagem ocorre em um período curto de tempo.
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Capítulo 3
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A campanha “Legenda para quem não ouve, mas se emociona!” foi a grande
encabeçadora da conquista dos surdos pela legenda. O slogan é
LEGENDA
PARA QUEM
NÃO OUVE,
MAS SE EMOCIONA!
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Capítulo 3
da língua, que até então vem sendo utilizada, é a Glosa. Esse sistema pa-
liativo transcreve as línguas de sinais com auxílio dos códigos da língua
oral. Quase sempre, esse recurso é muito limitado, pois não abrange as
sutilezas visuais da língua de sinais, sendo muito utilizado em pesquisas
linguísticas, com o objetivo de promover uma tradução em que os pes-
quisadores podem propor outras discussões em relação à estrutura da
língua de sinais, nos níveis sintático, fonológico e morfológico.
Dessa forma, a ferramenta adequada para a fixação da língua de
sinais seria o SignWriting, demonstrando ser uma nova linguagem que
modela o pensamento e o organiza quando escrito. Semelhantemente
ao que ocorreu com as línguas orais, a implantação de um método de
escrita para as línguas visuais possibilita abertura ao desenvolvimento
da cultura e produção de conhecimento nas comunidades surdas, uma
vez que a escrita de sinais consegue armazenar e propagar, por gerações,
informações entre as pessoas. No entanto, para que isso se torne real,
é preciso que essa ferramenta seja ensinada aos usuários das línguas de
sinais. A maior dificuldade é que não existem profissionais formados
para desempenhar tal tarefa, e as ações relacionadas à alfabetização dos 147
surdos em escritas de sinais são ações isoladas e específicas de pesqui-
sadores, cujos objetivos são descobrir e aperfeiçoar métodos de ensino
para o SignWriting.
No Brasil, podemos citar o trabalho da Professora Doutora M arianne
Rossi Stumpf (2005), que aponta que as crianças surdas, ao aprenderem
a escrita de sinais, passam pelo mesmo processo de alfabetização que as
crianças ouvintes em relação ao português. A pesquisa também demons-
tra que o SignWriting é uma ferramenta de escrita que o surdo assimila
com maior facilidade, pois ela se objetiva a uma representação visual de
uma língua que é visual. A escrita de sinais, por ter como fundamento
elementos visuais, é para o surdo um sistema de grafia muito mais com-
preensível do que o alfabético, fundamentado em elementos fônicos. A
criação dessa ferramenta se deu nos anos 70 do século XX, mas somente
agora teve início sua divulgação e implantação. Em princípio, essa ferra-
menta foi elaborada como uma forma de registrar as coreografias a serem
realizadas em uma apresentação de dança. Uma vez percebida a oportu-
nidade de aplicar tal ferramenta às línguas de sinais – representando seus
movimentos, configurações, expressões –, empreenderam-se pesquisas no
sentido de tornar aquela ferramenta inicial, básica, em uma ferramenta
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Capítulo 3
aponta com a régua aquilo que deve ser lido), ou aqueles que tornam
evidente a silabação (junção de b + a = ba), pois, atualmente, o foco
de discussão incide sobre práticas de letramento. O letramento possui
sua abordagem mais globalizada quanto à língua, ou seja, propõe o
trabalho em forma de texto e não com palavras, sílabas ou frases. Para
a criança surda, isso é muito significativo, pois ela não consegue fazer
uma leitura linear – os olhos não percorrem palavra a palavra dentro
do texto –, mas visual, isto é, irá destacar aquilo que mais se eviden-
cia (imagens, letras negritadas, itálicas, cores, etc.). Após isso, concede
abertura para uma aprendizagem mais significativa, ou seja, a partir do
texto pode tratar de questões diversas quanto à realidade.
A leitura consiste no primeiro passo e, para Quadros (1997), o
professor deve passar para o aluno surdo o texto integral, contendo
elementos visuais, diferenciando o tipo de texto a cada aula, como des-
critivo, narrativo, dissertativo e permeado de função social explícita,
como: cartazes, panfletos, anúncios de jornal e outros.
Possuir o texto em mãos, na íntegra, significa que, se o professor for
reproduzi-lo, deve garantir sua formatação e cores, evitando escrevê-lo no
150 quadro. Deve também possuir uma cópia ampliada, em slide ou transpa-
rência, a fim de que haja exploração na leitura. O aluno surdo não lerá
em voz alta. Então, caso o professor proponha esse tipo de atividade para
a sala, deve “pular” o surdo. Tal atitude não significa ser excludente, pois
o respeito fica estabelecido quando a pessoa é tratada com os mesmos di-
reitos e com sua especificidade. Esse aluno deverá rea-
lizar a sinalização quanto ao texto, manifestando um
sinal equivalente. Deve percorrer visualmente todo o
texto e, em seguida, sinalizar a temática do texto, que
informações possui, que palavras já conhece e se tais
palavras podem ser aplicadas naquele contexto. Após
essa realização, cabe ao professor ajudá-lo no aperfei-
çoamento da leitura. Antecipadamente, o professor
precisa ter planejado algumas perguntas para fazer ao
aluno surdo (não sendo interpretação de texto), uma
orientação para que o aluno seja estimulado a pensar
sobre o conteúdo que está sendo abordado naquele
texto. Dessa forma, a leitura procederá conforme o
texto. A seguir, um exemplo de como realizar esse tra-
Fonte: São Paulo (2007). balho, baseado no cartaz ao lado.
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Alaranjado
Amarelo
Cor-de-rosa
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uma das únicas formas de acesso às atualidades, pois são privados das
informações que são veiculadas de forma auditiva na sociedade. Com
a possibilidade de o aluno interagir com a temática do texto, ele pode
ser levado pelo professor a refletir sobre o conteúdo apresentado. No
momento da interpretação do texto, quando as questões relativas às
considerações abordadas pelo autor são pontuadas, o professor se colo-
ca como um mediador, estabelecendo relações, visando traçar paralelos
e sugerindo uma conversa entre os textos, ou seja, a intertextualidade.
Essa função do professor, para Silva (2001), é de suma importância
para que o aluno obtenha uma referência na leitura e, ao aluno surdo,
é como se pudesse confirmar as hipóteses que ele levanta. Isso porque,
como esse aluno ainda está no processo de aquisição da língua escrita
e trabalha com dificuldade frente aos códigos da língua portuguesa,
ele procura descobrir o significado de algumas palavras e, em situações
assim, a intervenção do professor pode ser decisiva para o aluno.
Depois, algo tão importante quanto o processo de leitura é o da
elaboração escrita, pois é quando o aluno tem a oportunidade de ma-
nifestar o seu entendimento sobre a temática apresentada, ele sente-se 153
participante no processo de aprendizagem. No trabalho com a escrita,
o professor poderá propor temas a serem discutidos com todo o grupo.
Temas esses que, se forem apropriados à idade das crianças, poderão
promover grandes discussões produtivas ao aprendizado. Em seguida,
o encaminhamento para a aula de português e a metodologia utilizada
para trabalhar o letramento com as crianças surdas serão iguais aos dos
alunos ouvintes, com o diferencial de que o canal de comunicação será
o espaço e a visão, quer dizer, a interação se dará por meio da Libras
(BRASIL, 2002a). A fim de elucidarmos a proposta apresentada, segue
o exemplo de um trabalho com a temática: materiais escolares.
Em relação a essa proposta, o objetivo principal pode ser o da
apropriação das palavras relacionadas ao tema, bem como a elaboração
de frases curtas a ele pertinentes. Após a leitura do texto sugerido, o
professor irá propor atividades para que reflitam sobre a língua. Sendo
assim, é interessante obter sentenças modelo que possam servir de fon-
te para outras situações semelhantes. Dessa forma, pode-se exibir uma
parte do texto, como: “O menino escreveu com o lápis.” e indagar a
colocação do pronome seguido do sujeito da sentença na seguinte situa-
ção: se você é uma menina escrevendo, colocaria “o menina”? E, assim,
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Capítulo 3
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Capítulo 3
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Capítulo 3
Síntese
Neste capítulo, vimos que a vida de uma pessoa surda tem pe-
culiaridades que não se encontram na organização de uma pessoa
ouvinte. Além disso, vimos que o surdo prefere se casar com outro
surdo, para ter uma comunicação facilitada, que, quando tem filhos
surdos, a relação é amena, ao passo que quando os filhos são ouvintes
(Codas) haverá uma dupla constituição psicológica, o que poderá
acarretar em algumas dificuldades de relacionamento. Destacamos
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Capítulo 3
161
FAEL
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166
FAEL
Língua Brasileira
de Sinais – Libras
A educação brasileira sempre foi carente de universali-
dade, no sentido de demandar a necessidade de atendi-
mento da maioria das pessoas. Essa carência se constitui
não somente com questões voltadas à leitura e à escrita
propriamente ditas, mas a todo o conhecimento historica-
mente acumulado.
Nesse sentido, favorecer o acesso às informações é incum-
bência da educação, e nas últimas décadas essa missão
tem sido um pouco mais facilitada graças à modalidade de
ensino a distância. A facilidade não pode ser considerada
de forma depreciativa, porque esse tipo de ensino impõe
questões extremamente desafiadoras a todos os envolvi-
dos no processo. Ela se relaciona com a acessibilidade da
informação, que pode ser disponível a um número maior
de pessoas, em um menor espaço de tempo.
Tendo como base essa premissa, destaca-se a importân-
cia do compartilhamento desta obra com leitores da edu-
cação a distância, pois eles poderão conhecer algumas
questões de uma minoria social: os surdos. Dessa forma,
estaremos difundindo a concepção de inclusão adotada,
ou seja, a universalidade do saber e da convivência.
ISBN 978-85-64224-28-5
9 78 8 5 6 4 22 4 2 8 5