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PREFÁCIO
A minha fé...
Bendita seja a minha fé que me permite criar asas para voar e romper o medo quando não
existir chão...
Bendita seja a minha fé que aumenta a minha resistência e que permite e favorece a minha
resiliência...
Bendita seja a minha fé que permite abraçar os desafios, com a certeza que existe um Deus
misericordioso que me guia, impulsiona e me ampara nos momentos mais difíceis da minha
caminhada...
Bendita seja a minha fé que faz parte da minha essência ... Contribui com o que sou... A
minha essência é o que vem da minha alma... A minha essência é o que jamais poderá ser alterada...
Bendita seja a minha fé que me permite confiar que tudo pode sim melhorar... Tudo se torna
menos difícil quando encaro os desafios com fé em Deus e em Nossa Senhora...
Em termos gerais, o acesso à informação tem melhorado, seja devido ao acesso à internet, seja
pelo acesso à educação básica, que tem evoluído com o passar do tempo ou, ainda, pela própria
maneira de encarar o mundo por parte das novas gerações frente ao uso responsável dos
conhecimentos adquiridos. Assim, ocorre intensa preocupação para a conservação e manejo racional
dos recursos naturais nos processos produtivos, que vem se intensificando a cada ano.
O uso sustentável dos recursos naturais e os novos processos produtivos caminham no sentido
de conservação do solo e água, e de melhorar o gerenciamento de resíduos, buscando novas
alternativas para minimizar os impactos ambientais. Frente a isso, é necessário diversificar fontes de
insumos agrícolas, principalmente alternativas que utilizem resíduos de origem vegetal de maior
eficiência para a agricultura.
Com o mesmo intuito de conservar os recursos ambientais, um novo produto, o biochar, vem
sendo desenvolvido com o aproveitamento de materiais orgânicos. O biochar é um condicionador do
solo, que retém grande quantidade de carbono por um longo período, sendo utilizado na agricultura
com muita similaridade de seus efeitos, comparados a cinza vegetal.
O livro “Cinza Vegetal e Biochar na Agricultura” traz uma abordagem didática baseada nas
definições, diferenças, similaridades, utilizações, impactos, aplicações, legislações vigentes e
resultados desses materiais na agricultura. Assim, os autores, com a colaboração do GPAS (Grupo de
Práticas em Água e Solo), elaboraram os capítulos objetivando contribuir com um tema importante,
e ainda escasso na literatura brasileira, quando se trata de livro didático, principalmente sobre a
caracterização e destinação da cinza vegetal e do biochar na agricultura.
Boa leitura.
CAPÍTULO 01..................................................................................................................................07
CINZA VEGETAL COMO CORRETIVO E FERTILIZANTE
Edna Maria Bonfim-Silva
Alessana Franciele Schlichting
Jefferson Vieira José
CAPÍTULO 02..................................................................................................................................31
BIOCHAR: DEFINIÇÕES E APLICAÇÕES NA AGRICULTURA
Alessana Franciele Schlichting
Edna Maria Bonfim-Silva
Jefferson Vieira Jose
Tonny José Araújo da Silva
CAPÍTULO 03..................................................................................................................................42
CINZA VEGETAL NOS ATRIBUTOS FÍSICOS DO SOLO
Thiago Franco Duarte
Tonny José Araújo da Silva
Edna Maria Bonfim-Silva
CAPÍTULO 04..................................................................................................................................62
CINZA VEGETAL E BIOCHAR NA REMEDIAÇÃO
Edna Maria Bonfim-Silva
Rackel Danielly de Souza Alves
Alisson Silva Costa1
Maria Aparecida Peres-Oliveira
CAPÍTULO 05..................................................................................................................................77
CINZA VEGETAL NA GERMINAÇÃO DE SEMENTES
André Pereira Freire Ferraz
Edna Maria Bonfim-Silva
CAPÍTULO 06..................................................................................................................................86
PRODUÇÃO AGRÍCOLA VS. PRESERVAÇÃO DO CERRADO: O QUE A CINZA VEGETAL TEM
A VER COM ISSO?
Adriane Barth
CAPÍTULO 07..................................................................................................................................96
TECNOLOGIA DE APLICAÇÃO DE CINZA VEGETAL E BIOCHAR
William Fenner
Tonny José Araújo da Silva
Edna Maria Bonfim-Silva
CAPÍTULO 08................................................................................................................................103
LEGISLAÇÃO SOBRE O USO DA CINZA VEGETAL E BIOCHAR
Ana Paula Alves Barreto Damasceno
Edna Maria Bonfim-Silva
Capítulo 01
Cinza vegetal como corretivo e fertilizante
ABSTRACT: Wood ash is a residue from the burning of plant biomass resulting from the production
of electricity. This burning of biomass in the system can lead to environmental issues due to the high
volume of burnt material associated with the lack of planning for safe disposal of this waste to the
environment. In this context, focusing on environmental issues and agricultural production, this
chapter approaches the possibility of using this residue in agriculture and offers alternatives for using
wood ash. It can be used as a corrective and fertilizer being able to provide increased productivity
and quality of crops. Wood ash has quality as a concealer and fertilizer, these characteristics being
related to the raw material and the combustion form used in the production process. Thus, chemical
analysis of wood ash as a corrective or fertilizer is recommended before use. However, for its
application, the soil class, plant species, amount used and application forms must be taken into
account. Wood ash has shown positive effects on plant growth, development, production, and mineral
nutrition. Therefore, the main aspects considered here are related to the safe disposal of wood ash in
the environment and its better use as a corrective and fertilizer to reduce the costs of rural producers
with the purchase of agricultural inputs. This chapter also provides a more general explanation of
other ways to use this waste and its cycle in the environment.
1
Programa de Pós-Graduação em Engenharia Agrícola, Universidade Federal de Rondonópolis, Mato Grosso.
A cinza vegetal é um resíduo sólido das indústrias cuja energia é proveniente da queima de
biomassa vegetal. O que se tem observado a nível mundial é a ocorrência de um aumento da
disponibilidade de cinza vegetal, devido a crescente utilização de combustíveis fósseis para geração
de energia. Assim, surge a necessidade de estudos para a sua destinação de forma segura no ambiente.
Esse subproduto tem sido utilizado de diversas formas, sendo uma das mais expressivas sua utilização
como corretivo e fertilizante alternativo nos solos agricultáveis. Esse resíduo tem um alto potencial
na correção da a acidez do solo e na melhoria da fertilidade por ser rica em nutrientes essenciais as
plantas. A cinza também vem sendo utilizada como matéria prima, base para composição de
substratos no desenvolvimento de mudas e para produção de organomineral. Assim, a utilização de
cinza vegetal na agricultura pode proporcionar a diminuição da degradação do solo que pode ser
química, física e biológica. A destinação da cinza vegetal como corretivo e fertilizante na agricultura
aumenta a sustentabilidade da segurança alimentar e a gestão desse resíduo no ambiente de forma
segura.
Embora a utilização da cinza vegetal em cultivos seja uma prática que tem proporcionado
aumento na produção e melhoria na qualidade das culturas, o problema com destino desse resíduo
sólido, tem levantado alguns questionamentos sobre os efeitos nas propriedades químicas do solo em
diversas condições tais como a dose utilizada, a classe de solo, a frequência de aplicação do resíduo,
a forma de aplicação e a qualidade do resíduo.
Nesse capitulo serão abordados alguns conceitos específicos para a cinza vegetal, bem como
os seus efeitos como corretivo e fertilizante na agricultura. Serão apresentados ao longo do capitulo
dados de pesquisa que comprovam que sua utilização na agricultura pode ser uma boa alternativa para
um destino seguro no ambiente.
A cinza vegetal é um material sólido e acinzentado (Figura 1), podendo apresentar de tom
cinza mais claro até o cinza escuro próximo a cor preta, resultado da incineração de qualquer material
orgânico passível de queima completa (Coelho & Costa, 2007). A cinza é um subproduto que surge
após a geração de vapor para produção de energia térmica, pela combustão de troncos de árvores,
cavacos, casca, galhos, feno, serragem, briquetes, carvão mineral, podas de árvores urbanas, dentre
outras.
A cinza vegetal pode ser armazena no próprio campo, desde que seja coberta com uma lona,
para que não espalhe com o vento e não fique muito úmida com a chuva, assim fica mais próximo
possível da cultura a ser adubada.
Figura 1. Cinza vegetal disposta no campo para aplicação em área de recuperação de pastagem no cerrado mato-
grossense. Rondonópolis-MT. Fonte: Os autores
No processo de produção da cinza vegetal uma tonelada de madeira (100% material seco)
utilizada em gerador de vapor (caldeira), produz aproximadamente 1 megawatt-hora de eletricidade,
o que é suficiente para abastecer 1.000 casas por 1 hora, o que geraria de 0,08 a 0,20 m 3 de cinza
vegetal (Meyer et al.,1999).
A utilização dessa biomassa vegetal para produção de energia térmica, comumente utilizada
em indústrias, está crescendo mundialmente, devido a necessidade em se utilizar fontes de energia
renováveis em resposta as preocupações com as mudanças climáticas (McKendry, 2002). Na Europa
para atender as novas políticas de obtenção de energia sustentável serão necessários um aumento de
130% na queima de madeira até 2024 (Searchinger et al., 2018). Essa é a tendência da maioria dos
países do mundo, devido à preocupação em reduzir a emissão de CO2 na atmosfera. Esse tipo de
geração de energia emite baixo índice de gases de efeito estufa (CO2, CH4 e N2O), sendo a emissão
desses gases na ordem de 2-19% das emissões a partir de uma fonte de energia equivalente (Raymer,
2006).
As fábricas de produção de celulose produzem em torno de 40 t de cinza vegetal a cada 100 t
de celulose produzida (Bellote et al., 2003). Essa quantidade de cinza vegetal produzida varia de
acordo com o material utilizado, temperatura de combustão e com as especificidades do gerador de
vapor.
Assim, deve-se levar em consideração que o valor calorífero gerado depende do material
utilizado. Em muitos países que utilizam diferentes materiais vegetais como biocombustíveis
produzem diferentes quantidades de cinza vegetal. Em levantamento realizado por Tan & Lagerkvist
(2011), demonstraram que existe um valor calorífero bruto para cada material vegetal utilizado e a
quantidade de cinza vegetal produzida (Tabela 1).
No entanto, os produtos tradicionais da biomassa florestal para geração de calor podem ser
misturados por produtos com maior rendimento energético por meio da técnica de densificação da
biomassa. Um exemplo disso são os resíduos da indústria moveleira, como maravalhas, briquetes e
pó de serra. A densidade energética do briquete é cerca de sete vezes maior que a da madeira e,
consequentemente, maior poder calorífico, usado quando disponível na mistura para combustão
(Abreu et al., 2014).
A cinza vegetal pode ser dividida em dois tipos: a volante (fly-ash) e a de fundo (bottom-ash).
A cinza volante é a mais fina (<0,075 mm), que tende a sair juntamente com a fumaça, mas que é
retida por sistemas de precipitação. A cinza de fundo é mais espessa e se depõe diretamente no fundo
da caldeira. Durante a combustão da biomassa a cinza vegetal passa por vários processos, reações e
diâmetros que as distinguem entre a cinza de fundo e a cinza volante (Figura 2).
Assim, como a quantidade de cinza vegetal produzida depende do material utilizado, a
composição química da cinza também depende da espécie vegetal utilizada para biomassa vegetal
(madeira, cascas e galhos) (Campbell, 1990), do tipo de caldeira (Pugliese et al., 2014), do calor de
combustão (Misra et al., 1993; Etitgni & Campbell 1991; Košnář et al., 2016) e das possíveis fontes
de contaminação, como madeira de demolição, solo e terra presente na cinza (Pitman, 2006).
Figura 2. Mecanismos envolvidos na formação das cinzas de fundo e volantes. Fonte: Adaptado de Silva (2016).
Silva (2016) distinguiu várias classificações para a cinza vegetal, segundo à origem, fonte e
propriedades físico-químicas. Dentro de cada uma dessas distinção pode-se mensurar a finalidade de
destinação do material (Tabela 2).
Tabela 2. Classificação da biomassa quanto à origem, fonte e propriedades físico-químicas.
Origem Propriedades Origem e fonte
Resídos primários Biomassa lenhos: softwood, Biomassa lenhosa: inclui
provinientes da floresta e hardwood, casca folhas resíduos primários,
agricultura (bicadas, cepos, bicadas pellets, briquetes secudários, terciários e
etc) resíduos sivícolas, cepos, etc culturas energéticas
Resíduos secundários Herbárceas e resíduos Herbárceas e resíduos
resultantes do agrícolas matos, bagoço de agrícolas igual à
processameto da biomma azeitona, casca de arroz, propriedades, sem incluir
(estilja, pellets, briquetes, palha, sementes. Frutos, frutos, sementes e caroços,
casca desfibrada, etc) flores, pinhas, caroços, relva, pinhas, casca de frutos, etc
etc
Resíduos terciários Biomassa aquática: algas e Frutos: caroços, sementes,
derivados das commodities espécies unicelulares frutos, etc
(madeira de mobiliário e
construção, etc)
Biomassa proviniente de Biomassa animal e resíduos Mistura de diferentes
culturas energéticas alimentares: camas de gado, biomassas
resíduos de talho, etc.
Biomassa contaminada e
resíduos de biomassa
industrial: resíduos sólidos
urbanos, madeira de mobiliário
e construção, lamas, caixas de
madeira, papel e cartão etc
Mistura de diferentes
biomassas
A cinza vegetal pode ser utilizada na agricultura como corretivo de acidez e fertilizante do
solo fornecendo nutrientes para as plantas. No sistema solo-planta a participação da cinza vegetal,
por ser um material alcalino, tem efeito direto na diminuição da acidez do solo, neutralizando a
toxicidade pelo alumínio (Al3+), aumentando a disponibilidade de nutrientes na solução do solo e a
capacidade de troca catiônicas (Figura 3). Geralmente a cinza vegetal fornece nutrientes ao solo como
magnésio, cálcio, fósforo e potássio (Osaki & Darolt, 1991; Maeda et al., 2017; Ferreira et al., 2012;
Bonfim-Silva et al., 2013 e Bonfim-Silva et al., 2019b) em relação aos outros nutrientes, também
contidos no material.
Figura 4. pH do solo cultivado com cebolinha em função de doses de cinza vegetal (A) e da classe de solo avaliada (B).
** e * = significativo a 1 e 5%, respectivamente. LatV = Latossolo Vermelho e NeoQ = Neossolo Quartzarênico. As
barras verticais são o intervalo de confiança para a média (95%).
Fonte: Bonfim-Silva et al. (2020b).
Além das mudanças nas propriedades químicas, a adição de cinza vegetal em solos altera
características físicas com a diminuição da densidade e aumento da porosidade total do solo
(Karmakar et al., 2010), o que melhora a aeração e consequentemente melhora a disponibilidade de
nutrientes para as plantas por deixar o espaço poroso em condições mais adequadas.
Nesse contexto, o aproveitamento do cinza vegetal (resíduo industrial) e os benefícios como
corretivo e fertilizante, ainda acarreta economia ao produtor, pois a cinza vegetal é comercializada
em muitos países a custo menores que o calcário agrícola. Assim, além da economia com o valor de
aquisição do calcário tem-se a diminuição dos custos da aquisição de fertilizantes minerais, levando-
se em consideração os nutrientes minerais que a cinza vegetal disponibiliza ao solo.
Além do efeito como fertilizante e corretivo a cinza vegetal pode ser utilizada na
biorremediação do solo contaminados com As, Zn, Cu, Cd e Pb, podendo imobiliza-los ou diminuir
sua mobilidade, além de poder favorecer o melhor desenvolvimento de minhocas (Pukalchik et al.,
2018).
Para sua aplicação, não se aplica cinzas imediatamente antes do plantio ou durante a
emergência inicial, pois pode causar condições alcalinas concentradas de curto prazo que pode
interferir no crescimento da planta. As cinzas também podem absorver pesticidas se ter um tempo
para neutralizar no solo, portanto, evite aplicações químicas por três a cinco dias antes ou depois
aplicação de cinza vegetal (Risse & Gaskin, 2013).
Figura 5. Variação do pH no solo em função das doses de cinza vegetal. Fonte: Adaptado de Bezerra et al. (2016);
Bonfim-Silva et al. (2013); Bonfim-Silva et al. (2015).
A quantidade de cinza vegetal a ser aplicada como corretivo pode ser efetuada com base na
equação 1, conforme (Risse & Gaskin, 2013).
Equação 1
2 (t/ha)
Dose de cinza vegetal (t/ha) =
50 ÷ 100
2
Dose de cinza vegetal (t/ha) =
0,5
Dose de cinza vegetal = 4 t ha-1
Assim serão necessárias t ha-1 de cinza vegetal para corrigir o pH do solo ao nível desejado.
Caso o Poder Relativo de Neutralização Total (PRNT) da cinza vegetal seja baixo de 50%,
pode-se utilizá-la como um complemento a calagem ao invés de um substitutivo total ao calcário.
Essa substituição parcial ajuda a potencializar a produção e minimizar a quantidade de calcário a ser
utilizado (Clapham & Zibilske, 2008), podendo proporcionar economia ao produtor.
A cinza vegetal também vem sendo transformada para diminuir sua perda no transporte e
aumentar sua eficiência de aplicação, alguns procedimentos como a granulação, carbonatação ou
mistura com outros materiais, vem ocorrendo pelo mundo se tornando em materiais ainda mais
competitivos como corretivos e fertilizante.
Em trabalho desenvolvido por Bonfim-Silva et al. (2020c) utilizando cinza vegetal na
formulação de um organomineral, observaram que o efeito foi significativo no aumento pH do solo
quando se utilizou a adubação orgânica (exclusiva com cinza vegetal) e o organomineral a base de
cinza vegetal e adubo mineral (Figura 6). Pode-se observar que todos os fertilizantes com a presença
da cinza vegetal contribuíram com o aumento significativo no pH do solo, quando comparado apenas
ao tratamento com adubação exclusiva com adubo mineral.
7 a
a
6
b
5
pH do solo
4
3
2
1
0
Mineral Organic Organomineral
Fertilizante
Figura 6. Reação do solo (pH em CaCl2) após a colheita, aos 75 dias após a emergência do feijão-caupi. Barras com a
mesma letra não são estatisticamente diferentes, teste de Tukey a 5% de probabilidade de erro. Fonte: Os autores.
Na cinza vegetal pode ser encontrada a maioria dos nutrientes da biomassa após a combustão
de todo o carbono orgânico (Jenkins, 1998). Essa composição pode ser muito variável e de difícil
padronização. Na Tabela 3 podem-se observar os resultados de alguns trabalhos que caracterizaram
a cinza vegetal da região de Rondonópolis-MT como corretivo e fertilizante. Para essas
caracterizações utilizou-se a metodologia proposta por Osaki & Darolt (1991).
CaCl2 g kg-1
11,83 0,25 48,5 16,6 NA 28,5 NA 2,8 0,13 0,00 NA 0,5 0,2 187,0
10,74 3,10 9,6 34,7 33,0 21,0 0,13 2,0 0,1 0,0 10,3 0,4 0,1 274,4
NA= não analisado; N=Nitrogênio; P2O5 = fósforo em citrato neutro de amônio e água (CNA +Água); K 2O=Potássio; Ca=Cálcio; Mg=Magnésio; Na=
Sódio; SO4=Enxofre; Zn= Zinco total; Cu= Cobre total; Mn=Manganês total; B=Boro total; Si= Silício. Fonte: 1- Bonfim-Silva et al. (2013); 2- Espírito
Santo et al. (2018); 3- Bonfim-Silva et al. (2018); 4- Bonfim-Silva et al. (2019a).
Campbell,1991; Saarsalmi, Mälkönnen & Piirainen, 2001; Iqbal & Lewandowski, 2016), porém
contêm pequenos traços de nitrogênio, devido à sua baixa temperatura de volatilização (Saarsalmi,
Mälkönnen & Piirainen, 2001) e pouco fósforo (Hakkila & Halaja, 1983) conforme visto
anteriormente na Tabela 3.
Nas Figuras 7 e 8, pode-se observar que em experimentos desenvolvido com capim-mombaça
(Megathyrsus maximus) e com feijão mungo (Vigna radiata L.), demonstram o efeito da cinza vegetal
no desenvolvimento da parte aérea e do sistema radicular das culturas quando se utiliza doses de cinza
vegetal.
Figura 7. Panicum maximum cv. Mombaça, cultivado em vasos, submetido a doses de cinza vegetal (0, 8, 16, 24 e 32 g
dm-3). Fonte: Os autores.
Figura 8. Feijão Mungo (Vigna radiata L.), cultivados em vasos sob tensão de água de 4 kPa, submetido a doses de cinza
vegetal (0, 16 e 32 g dm-3). Fonte: Dourado (2020).
Figura 9. Desenvolvimento das plantas de Urocloa brizantha cv. Marandu em função das doses de cinza vegetal em duas
classes de solos. Fonte: Adaptado de Bezerra (2018).
Efeito da adubação com a cinza vegetal também foi verificado por Espírito Santo et al. (2018),
em que a sua aplicação com manejo não incorporado ao solo, em experimento ao campo, apresentou
maior massa seca da parte área da Urocloa brizantha cv. Marandu em recuperação (Figura 10). Esses
resultados trazem as informações praticas em relação ao manejo da cinza vegetal em área de
pastagem, pois pode-se observar que o manejo de aplicação da cinza vegetal quando não incorporada
ao solo (aplicada apenas na superfície do solo sem a incorporação com a grade leve) apresenta efeito
de maior produção por não provocar o efeito da grade causando danos ao sistema radicular na sendo
na fase inicial de recuperação. Desse modo, em áreas de recuperação de pastagem a melhor
recomendação é para a aplicação de cinza vegetal na superfície do solo, para que a gramínea
forrageira faça maior absorção e aproveitamento dos nutrientes, refletindo na sua produtividade.
6000
MSPAsuperfície = 2380,1 + 188,39*CZ
4000
3000
2000
MSPAIncorporada = 422,62 + 15,994*CZ
R² = 0,7546
1000
0
0 3 6 9 12 15
Cinza vegetal (t ha-1)
Figura 10. Massa seca da parte aérea no primeiro corte das plantas de Urocloa brizantha cv. Marandu submetido ao
manejo de aplicação da cinza vegetal na superfície do solo sem incorporação (linha superior) e incorporado ao solo com
grade leve (linha inferior), aos 30 dias após a aplicação de cinza vegetal em área de recuperação de pastagem no Cerrado
mato-grossense. CZ=Cinza Vegetal, *=significativo a 5% de probabilidade. Fonte: Espírito Santo et al. (2018)
Pesquisas realizadas com a adubação com cinza vegetal no desenvolvimento vegetativo e nas
características produtivas de diversas culturas são amplamente discutidas na literatura e vem
demostrando o potencial desse resíduo na substituição total ou parcial ao calcário agrícola em
diferentes culturas e classes de solo (Bonfim-Silva et al., 2020a; Bonfim-Silva et al., 2020b; Bonfim-
Silva et al., 2019a).
Nesse contexto, vale ressaltar que, embora nesse capitulo venha sendo apresentado trabalhos
científicos para abordagem do tema, em termo de aplicação pratica se tem vários relatos sobre a
utilização da adubação exclusiva ou parcial com cinza vegetal por pequenos e médios produtores,
principalmente com cultivos de hortaliças e em área de pastagens.
A cinza vegetal tem pequena quantidade de nitrogênio e fósforo residuais que está diretamente
ligada à temperatura de combustão que esses materiais são expostos para a geração de energia, que
geralmente podem ultrapassar 800°C. O nitrogênio volatiliza após a temperatura de 200°C. De acordo
com Tan & Lagerkvist (2011) o fósforo condensa na forma de óxidos de fósforo na faixa de
temperatura de 400-600°C.
De qualquer forma, a cinza irá conter macronutrientes e micronutrientes, sendo variada apenas
suas concentrações. A solubilidade dos macronutrientes nas cinzas diminuem na seguinte ordem K>
Mg> Ca> P (Eriksson, 1998). Assim, a aplicação de cinza vegetal aumenta a CTC (capacidade de
troca catiônica) do solo e, assim, aumenta a capacidade de retenção de Ca2+, Mg2+ e K+, aumentando
a fertilidade do solo.
A cinza vegetal pode alterar a quantidade de matéria orgânica no solo e potencializar a
adubação nitrogenada (Brais, Bélanger e Guillemette, 2015), proporciona o efeito secundário de
Figura 11. Dinâmica sazonal e conteúdo médio de elementos minerais no solo após aplicação de cinzas de madeira.
Fonte: Mandre (2006)
As cinzas volantes possuem maior quantidade de nutrientes, podendo reter mais 60% de
P+Ca+Mg+Mn+Cu e até mais de 30% em S+K+Fe. Porém, as cinzas de fundo contêm baixo teor de
nutrientes, por isso se aconselha a mistura de cinzas de fundo e volantes para reciclagem no solo,
aumentando para 75% em P+Ca+Mn+Mg (Roser et al., 2008; Loo & Koppejan, 2003; Obernberger
et al., 1997; Ingerslev et al, 2011; Dahl et al., 2009 e 2010; Insam & Knapp, 2011).
Além de macronutrientes, a cinza vegetal também possui micronutrientes e pode conter
elementos tóxicos às plantas e poluentes ao solo, por isso a necessidade de realizar análise química
antes de aplicá-la (Risse et al., 2012; Dahl et al., 2010). Porém, isso raramente ocorre quando a
procedência do material queimado não teve contato com contaminação.
Por isso dependendo da fertilidade do solo, do requerimento nutricional da cultura e da
capacidade tampão do solo que é verificado a necessidade de adubação complementar após aplicação
da cinza vegetal. A adição de cinza vegetal ao solo acarreta mudanças na sua composição, que por
sua vez pode alterar o metabolismo das plantas.
A cinza vegetal vem apresentando efeitos positivos no que diz respeito a nutrição mineral de
plantas. À medida que esse resíduo colabora com a melhoria das propriedades físicas do solo e com
a restituição de sua fertilidade, aumenta a disponibilidade de nutrientes no solo para que sejam
absorvidos pelas plantas.
Nesse contexto, trabalhos de pesquisa demonstram que a aplicação da cinza vegetal aumenta
o índice de clorofila das plantas (Espírito Santo, 2017) (Figura 12). O índice de clorofila é verificado
por um método indireto, não destrutivo, que se correlaciona positivamente com o teor de clorofila e
a concentração de nitrogênio nas plantas, indicando seu estado nutricional (Schlichting et al., 2015).
Assim, doses de cinza vegetal favorece uma melhor absorção de nitrogênio pelas plantas e
consequentemente apresenta esse reflexo na produção.
Figura 12. Índice de clorofila (IC) no primeiro ano de recuperação de pastagem de Urochoa brizantha cv. Marandu
submetido a adubação com cinza vegetal. Avaliação aos 60 dias após a aplicação do resíduo. CZ=Cinza Vegetal,
**significativo a 1% de probabilidade. Fonte: Espírito Santo (2017).
Os efeitos da cinza vegetal como corretivo e fertilizante vem sendo abordado na nutrição de
plantas com efeitos positivos em diferentes classes de solos e, principalmente em solos de baixa
fertilidade natural, como no caso do Neossolo Quartzarenico.
Nesse contexto, a figura 13 apresenta resultados da nutrição de Urochoa brizantha adubada
com cinza vegetal em Neossolo Quartzarenico, sob formas de aplicação (na superfície e incorporada
ao solo com grade leve). Nessa pesquisa, pode-se observar que houve aumento na disponibilidade de
todos os macronutrientes para as plantas, pois esses nutrientes foram avaliados nas folhas, em que se
observou que a adubação com cinza vegetal influenciou positivamente na nutrição mineral da
gramínea forrageira.
Figura 13. Acúmulo de macronutriente nas plantas de Urocloa brizantha em processo de recuperação e submetidas a
doses de cinza vegetal em Neossolo Quartzarenico submetido a duas formas de aplicação (na superfície e incorporada ao
solo com grade leve). N (nitrogênio), P (fósforo), K (potássio), Ca (Cálcio), Mg (Magnésio) e S (enxofre). Fonte:
Adaptado de Schlichting (2018).
Trabalhos com nutrição de plantas realizados por Mercl et al. (2018) também verificaram o
aumento da concentração de K, S, Ca e Mg em plantas de milho quando adubados com cinza vegetal.
A aplicação da cinza vegetal no solo pode auxiliar nas comunidade microbiana do solo (Jacobson &
Gustafsson, 2001; Gömöryová et al., 2016; Peltoniemi et al., 2016), na multiplicação da mesofauna
(Qin et al., 2017) e nos processos de nitrificação e desnitrificação (Odlare & Pell, 2009), todos esses
processos induzem a disponibilidade e absorção de nutrientes pelas plantas.
Solla-Gullón et al. (2006) verificaram o estado nutricional das plantas de pinheiro Douglas
(Pseudotsuga menziesii) durante 5 anos da aplicação, foram avaliadas em duas doses de cinza vegetal
10 e 20 t ha-1 e um controle. Todos os nutrientes avaliados, N, S, P, Ca, Mg, K, Mn e Fe, nas folhas
da planta tiveram influência com as doses aplicadas (Figura 14).
Figura 14. Concentrações de macro e micronutrientes pinheiro Douglas (Pseudotsuga menziesii). b. nitrogênio (N); c.
enxofre (S); d. fósforo (P); e. cálcio (Ca); f. magnésio (Mg); g. potássio (K); h. manganês (Mn); i. ferro (Fe); O teste
revelou diferenças significativas para o todo o período, os valores médios mensais foram comparados pelo teste de médias
de Tukey em P <0,05. Fonte: Solla-Gullón et al. (2006).
Estudos ainda são escassos quando se trata do efeito da cinza vegetal na bioquímica e
fisiologia das plantas, só sendo possível fazer afirmações de acordo com suas concentrações e
acúmulos de nutrientes, carboidratos solúveis, amido, glicose, lignina, celulose, dentre outros. Para
esses tipos de estudo, deve-se levar em consideração os fatores edafo-climaticos.
O uso e incentivo cada vez maior da produção de energia por combustão de biomassa requer
estratégias inovadoras e ambientalmente seguras para a reciclagem das cinzas vegetal restantes do
principal processo, a produção de energia.
A destinação da cinza para aplicação em solos agricultáveis são ambientalmente correta,
porém dependem da análise química da mesma, a quantidade máxima que pode ser aplicada no solo
Figura 15. Aproveitamento da cinza vegetal em composto para asfalto. Fonte: Os autores.
A cinza vegetal também pode ser aproveitada de forma segura, quando empregada de forma
adequada em substituição à fração de cimento ou fração de agregado na construção civil (Barros,
2018). A fabricação de concreto (Teixeira, Camões & Branco, 2019), tijolos (Masuka, Gwenzi &
Rukuni, 2018) e cerâmica (Kizinievic & Kizinievic, 2016) são opções de reaproveitamento para um
desenvolvimento sustentável pela população.
Assim, a cinza vegetal pode ser utilizada de forma sustentável e seu ciclo de aproveitamento
pode ser visualizado nas figuras16 e 17.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A cinza vegetal pode ser utilizada como corretivo e fertilizante do solo, sendo uma boa opção
para destinação segura deste resíduo no ambiente;
A utilização da cinza vegetal como corretivo e fertilizante era uma prática comum no passado,
mas foi abandonada no início do século 20, quando produtos alternativos chegaram ao mercado, como
o calcário agrícola e o cloreto de potássio;
Com o aumento do número de indústrias e maior utilização de material vegetal para queima
em caldeira para produção de energia, surge a necessidade de voltar os estudos para destinação segura
no ambiente;
O incentivo ao uso da cinza vegetal pode contribuir com a redução dos custos de produção
por reduzir a dependência de aquisição de corretivos e fertilizantes na agricultura;
Com a grande industrialização e a disponibilidade de cinza vegetal crescendo, esse resíduo
começou a ser um problema ambiental e sua destinação para agricultura é uma alternativa para
contornar esse problema;
Para tornar o uso mais seguro é necessário realizar três etapas: a primeira é realizar a análise
química da cinza vegetal, como corretivo e fertilizante antes da sua aplicação no sistema agrícola;
segunda etapa, após aplicação da cinza vegetal é necessário monitoramento das concentrações de
nutrientes no solo, e a terceira etapa é monitorar a absorção de nutrientes pelas plantas. Isto é
necessário para evitar o excesso da aplicação desse resíduo no sistema.
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ABSTRACT: Biochar or biochar is a product obtained after the burning of any biological material.
This burning happens through the control of low temperature and low oxygen availability, called
pyrolysis. This process results in biochar that conserves a significant amount of carbon and has
chemical and physical properties that assist in increasing organic matter and retaining water in this
oil. The biochar is known as a soil conditioner, and one of its main functions is to keep carbon in the
system for longer, changing the CO2 cycle in the atmosphere, helping to minimize the environmental
impacts caused by the excess of this gas. The main materials used for the production of biochar are
crop remains, which in natural decomposition would quickly return to the environment. In this sense,
if the vegetable biomass was transformed into biochar, this process would allow a longer permanence
in the system, bringing benefits in fixing CO2. Studies with this product have been carried out all over
the world, but there are still many obstacles to its use in agricultural soils. Among these barriers,
specific legislation in many countries and international certification for the use of the product can be
mentioned. This chapter will discuss biochar, bringing some definitions, its main differences to wood
ash, and its use in agriculture.
O biochar é um tipo de carvão vegetal, obtido por meio da pirólise (combustão com níveis
controlados de oxigênio) de qualquer material biológico, como resíduos agrícolas. Os resíduos não
se convertem em cinzas nesse processo, em vez disso, o que resulta é um composto similar ao carvão
mineral chamado biochar, em decorrência da ação do carbono pirogênico no complexo.
Essa pirólise ocorre em fornalhas com formatos específicos que limita a oxigenação na
combustão. Por ser um produto obtido sob condições controladas, existe a necessidade de tecnologias
inovadoras de produção. O biochar vem sendo utilizado em solos agricultáveis como forma de
sequestrar o dióxido de carbono (CO2), pois retém por mais tempo o carbono no solo.
Biochar é um produto sólido rico em carbono (65 - 90%) que possui uma estrutura porosa de
partículas de carvão que aumenta a capacidade de retenção de água e nutrientes do solo, assim como
o acúmulo microbiano (Qambrani et al., 2017). As aplicações do biochar são dependentes de suas
propriedades físico-químicas, que irão variar de acordo com a matéria-prima e das condições de
pirólise ou gaseificação.
Com elevado potencial na agricultura, seu uso como condicionador e substrato tem apontado
aumento de nutrientes no solo e na retenção de água, favorecendo a germinação, crescimento e
desenvolvimento vegetal, influenciando diretamente na produtividade das culturas.
Antes de abordar diretamente o biochar, no capítulo 1 foi explanado sobre cinza vegetal o qual
aparentemente pode ter algumas similaridades, que pode confundir na primeira impressão, por isso
há necessidade de se deixar claro suas principais diferenças. O foco da utilização da cinza vegetal na
agricultura é aproveitar um resíduo que é um subproduto resultado da geração de energia elétrica, que
em muitos países se torna um problema ambiental devido a sua destinação (de acordo com o abordado
no Capítulo 1), no entanto, o biochar é um produto desenvolvido (controle de oxigênio e temperatura,
pirólise) que utiliza diversos tipos de biomassa, geralmente disponível na agricultura (folhas, cascas
de frutos e sementes, ramos, caules, galhos, troncos, soqueiras com raízes e demais restos de cultivos
agrícolas), para fixar carbono, reter uma maior quantidade de nutriente e com porosidade específica,
em alguns casos com o processo de pirólise do biochar consegue-se aproveitar e converter parte em
energia.
A quantidade de cinza vegetal produzida é muito maior que a de biochar, pois as indústrias e
termoelétricas produzem anualmente toneladas desse resíduo, por mês em todo o mundo, enquanto
que para se produzir o biochar é necessário conhecimento técnico e alto nível tecnológico (Tabela 1).
Por isso, há baixa disponibilidade de biochar quando comparada a cinza vegetal. A utilização de
ambos, cinza vegetal e biochar, auxiliam na preservação ambiental. Nesse sentido, a cinza vegetal
quando reaproveitada de uma forma ambientalmente correta, concomitantemente ao biochar por fixar
uma grande quantidade de CO2 e ir liberando esse componente aos poucos, esses resíduos interferem
de forma positiva no ciclo do carbono, o qual vem impactando diretamente nas condições climáticas
mundial (Tabela 1).
Figura 1. Densidade a granel do biochar em diferentes tamanhos de partículas da serragem de madeira. y - Densidade a
granel do biochar; x - Tamanho de partículas da serragem de madeira. Fonte: Os autores (2019).
Figura 2. Biochar de cama de frango (A) - Micrografia com pirólise a 400°C, maior porosidade (B) – Micrografia com
pirólise a 550 °C, menor porosidade. Fonte: Lehmann & Joseph (2009).
O biochar atua com efeitos benéficos nas funções microbianas do solo e imobilização ou
transformação de contaminantes (metais orgânicos e pesados) Zhu et al. (2017), conforme o
observado na Figura 3.
Figura 3. Efeito do Biochar no solo. Fonte: Adaptado de Zhu et al. (2017) e http://www.nakanoassociates.
com/biochar/.
Biochar não é algo revolucionário que resolverá os problemas ambientais sem uma estratégia
mais ampla e de longo prazo, mas pode fornecer uma ferramenta importante para enfrentar diversos
desafios, principalmente: degradação do solo, insegurança alimentar, mudanças climáticas, geração
de energia sustentável e gestão de resíduos (Lehmann & Joseph, 2009), esses mesmos quesitos se
aplicam a utilização da cinza vegetal em solos agricultáveis (Figura 4).
Para auxiliar nas condições climáticas, o Biochar tem que realizar um verdadeiro sequestro de
carbono, por isso as plantas têm de ser cultivadas na mesma proporção, a mesma quantidade de
sequestro de CO2 (realizada pela fotossíntese) que será fixado nelas no processo de carbonização
(pirólise da biomassa), ao passo que se a planta fosse se decompor iria realizara liberação de carbono
rapidamente, porém quando transformada em biochar esse processo é bem mais lento, parcelando a
disponibilidade do carbono, chamado de ciclo do biochar (Lehmann, 2007). Além disso, o biochar
precisa ser muito mais estável que a biomassa de sua origem.
Porém o biochar ainda enfrentam muitos entraves para sua aplicação em solos cultiváveis.
Nesse sentido, não são todos os países que permitem, pois ainda não se sabe o verdadeiro efeito do
biochar ao longo das décadas para o meio ambiente. Além disso, para a comercialização desse produto
é necessária sua certificação em órgão internacional, juntamente com informações sobre sua
fabricação e propriedades físicas e químicas para a utilização do produtor.
Os benefícios do biochar para a fertilidade do solo podem ser verificados pela alta adsorção
de nutrientes e outros compostos e pela sua estabilidade e persistência no solo. No entanto, a sua ação
como fertilizante não e tão diferente quanto a de cinza vegetal, incluindo pH do solo, nitrogênio,
matéria orgânica e carbono no solo (Figura 5). Por isso o biochar é mais adequado para uso como
condicionar de solo.
Figura 5. Influência da aplicação do biochar (BIO: linha sólida), cinza de madeira (CZ: linha tracejada) e controle (C:
linha cinza), no solo por um ano. Os valores são a média de 4 repetições. Fonte: Reed et al. (2017).
O que vem sendo verificado é que o biochar tem uma longa persistência no solo, tornando-o
um candidato principal para a mitigação das mudanças climáticas como um sumidouro potencial de
dióxido de carbono atmosférico (Lehmann, 2007), pois pode aumentar o carbono no solo após anos
de sua aplicação (Han et al., 2017).
O armazenamento de carbono no solo é um indicador importante da fertilidade e qualidade
biológica do solo, pois desempenha um papel vital em diferentes processos biogeoquímicos no
sistema (Doetterl et al., 2015), inclusive favorecendo o crescimento e diversificação da maioria da
biomassa microbiana (Lehmann et al., 2011) aumentando a matéria orgânica (Han et al., 2017), e a
disponibilidade de nutrientes para as plantas.
O conteúdo de nutrientes no biochar são altamente dependentes da qualidade do material, por
suas propriedades químicas e físicas afetarem a liberação de nutrientes. Assim, a aplicação de forma
inadequada desse material ao solo pode afetar negativamente a qualidade ambiental e a saúde humana
(El-Naggar et al., 2019).
Em cultivos agrícolas, o biochar tem se mostrado com alta performance nas propriedades
químicas, físicas e contribuindo positivamente com a qualidade nutricional das plantas, como no caso
da berinjela e couve flor (Haque et al., 2019), auxiliado na qualidade do mirtilo, Vaccinium
corymbosum L. (Zhan et al., 2020), na produção de trigo (Solaiman et al., 2010), milho (Rajkovich
et al., 2012), aumenta a produção de vegetais folhosos (Awad et al., 2017) e diversas outras pesquisas
em plantas em diversos locais e solos. O seu ciclo no solo é demonstrado por Gul & Whalen (2016)
(Figura 6).
Figura 6. Modelo conceitual que ilustra a influência do biochar nas propriedades físico-químicas e biológicas do solo e
as consequências para o crescimento da raiz da cultura e aquisição de nutrientes do solo. EUN: eficiência de uso de
nitrogênio; EUP: eficiência de uso do fósforo. Fonte: Adaptado de Gul & Whalen (2016).
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O biochar vem sendo amplamente estudado em todo o mundo, uma das suas maiores
perspectivas de utilização está na possibilidade de alterar o ciclo do CO2, fazendo com que o carbono
possa permanecer por mais tempo condicionado ao solo e auxiliando no desenvolvimento das plantas;
As propriedades físicas e químicas do biochar estão intrinsicamente ligadas as suas reações
no solo, inclusive como um condicionante de umidade do solo e reações de disponibilidade de
nutrientes às plantas;
O biochar é produzido de acordo com as propriedades que se deseja alcançar, por isso o uso
da matéria prima e o tipo de tecnologias empregadas estão relacionadas a sua eficiência de utilização;
Estudos sobre as doses e frequência de aplicação estão sendo realizados, haja vista que uma
grande quantidade de carbono condicionada ao solo pode diminuir o impacto no meio ambiente a
curto prazo, porém a longo prazo os resultados são incertos.
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RESUMO: A adição de cinza de madeira ao solo pode modificar algumas de suas propriedades e
características físicas importantes para o cultivo de plantas. As pesquisas têm demonstrado que a
resposta do solo à aplicação de cinza depende da interação entre as características da cinza, como
tamanho e formato das partículas, e também do tipo de solo, especialmente sua textura. Este capítulo
trata dos principais efeitos gerados pela adição de cinza em propriedades físico-hídricas do solo, como
a retenção de água, a condutividade hidráulica e a infiltração, e em características físicas como a
densidade do solo, das partículas e a porosidade total.
ABSTRACT: The addition of wood ash to the soil can modify some of its properties and important
physical characteristics for plant cultivation. Research has shown that the soil response to ash
application depends on the interaction between the characteristics of wood ash, such as particle size
and shape, and also the type of soil, especially its texture. This chapter deals with the main effects
generated by the addition of wood ash in soil physical-hydric properties, such as water retention,
hydraulic conductivity and infiltration, and on physical characteristics such as soil bulk density,
particle density, and total porosity.
INTRODUÇÃO
1
Programa de Pós-Graduação em Engenharia Agrícola, Universidade Federal de Rondonópolis, Mato Grosso.
As propriedades do solo que as pesquisas têm buscado alterar com a aplicação de cinza são
principalmente àquelas relacionadas à água, como retenção e disponibilidade de água, condutividade
hidráulica e infiltração. Sabendo-se que solos arenosos possuem, em geral, baixa capacidade de reter
água, a maioria dos estudos têm se concentrado nessa classe textural, buscando uma alternativa capaz
de elevar não apenas a retenção, mas também a disponibilidade de água às plantas. As demais
propriedades ou características do solo, como densidade do solo e de suas partículas, porosidade total,
macro e microporos, normalmente são utilizadas para explicar os efeitos encontrados nas
propriedades citadas anteriormente.
A maior parte da literatura científica que aborda esse tema até o presente momento é
concentrada em pesquisas feitas no exterior. No Brasil, o tema é relativamente novo, e por isso ainda
há poucos estudos relacionando a alteração das características físicas do solo em função da aplicação
da cinza. Assim, o objeto deste capítulo será demonstrar os principais efeitos da aplicação de cinza
vegetal no solo sob o ponto de vista físico.
A maioria dos estudos acerca do tema têm procurado avaliar o efeito da aplicação de cinza
nas propriedades hídricas do solo como: a retenção de água; a disponibilidade de água às plantas; a
infiltração e a condutividade hidráulica do solo. No geral, os efeitos provocados são variáveis e
dependem da interação entre as características da cinza utilizada e do solo, especialmente a sua
textura.
Para bem compreender os efeitos, é preciso antes definir os termos utilizado pelos autores. A
relação existente entre diversos valores de umidade do solo e o potencial matricial correspondente, é
chamado de curva característica de água no solo ou curva de retenção de água. Dentre os diversos
pares de valores de umidade e potencial matricial, existem dois de caráter especial: a umidade
correspondente a tensão de 10 kPa (para solos arenosos) ou 33 kPa (solos textura média e argilosos)
e a umidade correspondente a tensão de 1500 kPa. A umidade do solo correspondente a tensão de 10
ou 33 kPa é comumente considerada a Capacidade de Campo, que corresponde a máxima quantidade
de água que o solo pode reter contra a ação da gravidade após a completa saturação e drenagem livre
(Veihmeyer & Hendrickson, 1931). E, teoricamente, a umidade do solo que limitaria a extração de
água pelas plantas, correspondente a tensão de 1500 kPa, é normalmente considerada o Ponto de
Murcha Permanente (Richards & Weaver, 1943). É o limite inferior de umidade no qual a água está
Figura 1. Relação entre a capacidade de água disponível (CAD) e a textura do solo. Fonte: Adaptado de Brady (1990).
Como solos de textura grosseira (arenosos) normalmente são mais susceptíveis a secagem
quando comparados aos demais solos, de maneira geral, os estudos utilizando cinza vegetal são
usualmente conduzidos nessas classes de solo. A hipótese comumente levantada pelos autores é de
que a cinza tem o potencial de elevar a retenção de água nesses solos dentro dos limites disponíveis
às plantas, aumentando a capacidade de água disponível. Isso proporcionaria uma menor
suscetibilidade ao estresse hídrico, especialmente em cultivos não irrigados, sujeitos a longos
períodos de estiagem.
Nesse sentido, um dos primeiros estudos realizados foi o de Chang et al. (1977). Os autores
adicionaram cinza em diferentes solos em proporções que variaram de 0 a 50% com base no volume.
De modo geral, quando a adição de cinza ultrapassou 25%, a tendência foi de aumento na retenção
de água.
Além disso, análise interessante foi feita pelos autores, que será explorada a seguir. A relação
entre água no solo e o potencial matricial foi expressa de uma forma diferente. A curva característica
de água no solo é chamada pelos autores de “curva de liberação de água” cujo resultado foi
reproduzido na figura abaixo.
Figura 2. Curva de liberação de água em função de doses de cinza. Solo de textura areia franca. Fonte: adaptado de Chang
et al. (1977).
O resultado expressa a fração volumétrica de água que é extraída do solo a cada valor de
tensão. Convencionalmente, a curva característica do solo é representada de forma oposta, ou seja, a
cada nível de tensão o quanto de água ainda permanece no solo. A equação utilizada por Chang segue
a análise de Richards (1968):
Wt(0) − Wt( )
( ) =
V H 2O
em que:
() - liberação ou extração de água do solo;
Wt(0) - massa inicial do solo quando a sucção é zero;
Wt() - massa do solo na sucção ;
V - volume do solo;
H O - densidade da água.
2
Richards define () como uma fração volumétrica de água que foi liberada pelo solo no valor
de sução .
A partir da Figura 2, observa-se, portanto, que a adição de cinza provocou uma alteração
significativa na característica da curva de liberação de água, de modo que a adição de 50 %
proporcionou menores extrações de água (ou liberação) com o aumento da tensão.
Na Figura 3 estão os valores da água liberada pelo solo em duas classes de tensões, entre 0 a
10 e 10 a 80 kPa, conforme adição de cinza. Esse resultado foi calculado com base na figura anterior
e representa um indicativo da quantidade de água que estaria disponível para as plantas até o limite
de 80 kPa.
Figura 3. Água liberada pelo solo em duas classes de tensões conforme adição de cinza. Solo de textura areia franca.
Fonte: adaptado de Chang et al. (1977).
Veja que a principal diferença está concentrada entre as tensões de 0 a 10 kPa. De acordo com
Chang et al. (1977), em condições de campo, a água retida em tensões menores que 10 kPa é
provavelmente perdida por drenagem no perfil do solo, o que torna essa água de pouca utilidade para
as plantas. Mas nota-se que o solo com a maior dose de cinza (50%) obteve a menor extração de água
nessa faixa de tensão, o que pode ser uma vantagem, já que indica neste solo a água não seria tão
facilmente perdida.
Para os intervalos de tensões entre 10 e 80 kPa a adição de cinza não teve efeito significativo
na quantidade de água extraída do solo.
O estudo de Chang et al. (1977) foi um dos primeiros realizados relacionado cinza e as
propriedades físicas do solo. Seus resultados, embora sejam interessantes, não podem ser
generalizados. Gangloff et al. (2000) também não encontraram diferença na fração da água liberada
pelo solo entre as tensões de 33 a 100 kPa, em solos adicionados com cinza. Porém, entre as tensões
de 100 e 300 kPa, as diferenças entre os solos com e sem adição de cinza foram de até 13%.
Nessa mesma linha, Campbell et al. (1983) avaliaram o efeito da adição de cinza sobre as
propriedades hídricas em duas classes de areia: fina (0,2 – 0,5 mm) e grossa (1,4 – 2,0 mm). A adição
de 10% (base no peso) de cinza aumentou a capacidade de água disponível (10 – 1500 kPa) em 7,2 e
13,5 %, nas areias finas e grossas, respectivamente. Segundo os autores, esse efeito foi devido ao
aumento dos poros capilares em detrimento dos poros não capilares.
É importante observar também que a forma de aplicação da cinza influencia diretamente nos
resultados de modo que, quando a cinza é incorporada uniformemente no solo, os efeitos são mais
pronunciados do que quando é aplicada sobre o solo em cobertura. Em um solo de textura areia franca,
Stoof et al. (2010) observaram que a incorporação da cinza proporcionou um aumento da capacidade
da água disponível (considerada pelos autores no intervalo de 10 a 1550 kPa) em 57% ao passo que
a adição de cinza apenas na superfície do solo promoveu um aumento de 19%.
As causas por trás das modificações promovidas pelas cinzas podem ser reunidas em dois
grupos gerais: alteração da porosidade do solo; e absorção de água pelas próprias partículas de cinza.
No primeiro caso, a adição de cinza deve proporcionar uma alteração na distribuição de poros, ou
seja, diminuição de macroporos para uma maior porcentagem de microporos (Ghodrati et al., 1995).
Solos com elevada porosidade total e constituídos por maior porcentagem de microporos possuem
maior habilidade de retenção de água em pressões atmosféricas normais e pressões negativas maiores
(tensões de água no solo) na medida que ocorre a secagem do solo. No segundo caso, Stoof et al.
(2010) por exemplo afirmaram que quando um solo é adubado com cinza, o volume total de água
armazenada não é devido apenas a água contida nos poros do solo, mas também, a água que foi
absorvida pelas partículas de cinza vegetal, o que provocaria aumento da umidade do solo.
No Brasil, dados preliminares de retenção de água foram executados em Neossolo
Quartzarênico (Areia) e Latossolo Vermelho (Franco Argilosa) com doses de 0, 16 e 32 g dm -3 de
cinza vegetal incorporada uniformemente (Figura 4 e 5).
60
NQ 0 NQ 16 NQ32
Umidade a base de massa (%)
50 LV 0 LV16 LV32
40
30
20
10
0
0.001 0.01 0.1 1 10 100 1000
Pressão (kPa)
Figura 4. Curva característica de retenção de água no solo (0 a 1500 kPa) em função da adição de cinza vegetal (0, 16 e
32 g/dm3). NQ 0, NQ 16 e NQ 32: Neossolo Quartzarênico com 0, 16 e 32 g/dm3 de cinza; LV 0, LV 16 e LV 32: Latossolo
Vermelho com 0, 16 e 32 g/dm3 de cinza. Fonte: Os autores.
Figura 5. Latossolo Vermelho distrófico incubado com cinza vegetal demonstrando diversos tamanhos e formatos das
partículas de cinza vegetal. Fonte: Os autores.
600
Umidade a base de massa (%)
500
400
300
200
100
0
0.001 0.01 0.1 1 10 100 1000
Pressão (kPa)
Figura 6. Curva característica de retenção de água da cinza vegetal (0 a 1500 kPa). Fonte: Os autores.
35
35
Umidade a base de massa (%)
30 LV 0 LV16 LV32
25
20
15
10
5
0
10 33 1500
Tensão - kPa
Figura 8. Umidade do solo (m - %) nas tensões de 10, 33 e 1500 kPa em função da adição de cinza vegetal (0, 16 e 32
g/dm3) em Latossolo Vermelho. LV 0, LV 16 e LV 32: Latossolo Vermelho com 0, 16 e 32 g dm -3 de cinza. Fonte: Os
autores.
Analisando toda a curva de retenção de água (Figura 4), não se observa efeito pronunciado da
adição de cinza nas duas classes de solo até a dose aplicada, embora a cinza pura tenha uma alta
capacidade de reter água (Figura 6), com umidade de aproximadamente 45% na tensão de 1500 kPa.
Além disso, quando se observa isoladamente os valores de umidade nas tensões de 10, 33 e 1500 kPa
(Figura 7 e 8), as diferenças de umidade também não foram expressivas.
Embora não se tenha observado aumento expressivo na retenção de água para as doses de
cinza vegetal avaliadas, vale ressaltar que pequenas variações do valor de umidade correspondem a
elevadas variações no potencial de água no solo, uma vez que a relação é logarítmica. O movimento
da água no sistema solo-planta-atmosfera ocorre devido a diferenças potenciais, e alterações na
relação do potencial da água no solo em função da adição de cinza vegetal influenciará a dinâmica
do movimento da água nesse sistema.
quando em contato com a água, provocando diminuição do espaço disponível para o movimento da
água.
Por outro lado, Chang et al. (1977) sugeriram como uma possível explicação as reações
aglutinantes provocadas pelas cinzas quando umedecidas no solo. Essas reações geram como efeito
a cimentação das partículas do solo ocasionando um bloqueio parcial da passagem de água. Como
consequência, haveria uma suposta tendência de a cinza favorecer o processo de erosão do solo em
ambientes susceptíveis.
Pode-se afirmar que a hipótese de Chang et al. (1977) não é aplicável em todas situações. Na
realidade, a redução da taxa de infiltração por conta da aplicação de cinza é resultado de uma série de
fatores. Dentre esses, a obstrução dos poros. No entanto, Larsen et al. (2009) discordaram que as
cinzas poderiam provocar o entupimento dos poros. Woods & Balfour (2010) e Stoof et al. (2016)
em estudos relacionados ao tema e fundamentados nos resultados relatados por esses autores,
concluíram que:
➢ O transporte de partículas de cinza da camada superior para o interior dos poros pode, de
fato, ocorrer dependendo da interação entre o tamanho das partículas de cinza vegetal e o
tamanho médio dos poros do solo;
➢ Solos de textura arenosa predominantemente composto por areia grossa, que possuem
mais macroporos, sobrepostos com partículas muito pequenas de cinza vegetal, são os
mais susceptíveis;
➢ O transporte das partículas de cinza vegetal para o interior dos poros não implica,
necessariamente, que ocorrerá o bloqueio ou “entupimento” e redução do movimento de
água já que a trajetória da água no solo segue um caminho tortuoso, de forma que, mesmo
havendo poros bloqueados, a água pode fluir por outros caminhos preferenciais.
Outra hipótese para explicar a redução da infiltração da água é a formação de uma espécie de
“gradiente textural” provocado pelo acúmulo de cinza vegetal sobreposta ao solo (na superfície). Esse
“gradiente textural” tem como implicação dois fatores: diferença de condutividade hidráulica do
perfil do solo como todo, já que são camadas de materiais com características diferentes; e um retardo
no processo de infiltração da água (Stoof et al., 2016).
O “delay” na infiltração da água é explicado pela diferença no tamanho médio dos poros da
camada de cinza depositada sobre a camada de solo subjacente. No início do processo de infiltração
a água penetra a camada de cinza, e ao encontrar a camada de solo com poros de maior dimensão (no
caso solos arenosos) a água não penetra imediatamente no solo.
Esse efeito “delay” acontece devido a descontinuidade dos espaços capilares entre a camada
de cinza vegetal e o solo, causando diminuição da efetividade do movimento vertical da água no solo
2 2
gh − −
r R
Pressão nos poros Pressão nos poros
menores (camada maiores (camada
superior) inferior)
A adição de cinza sobre o solo pode ainda provocar efeito oposto ao descrito anteriormente,
ou seja, um aumento na taxa de infiltração. Esse efeito foi evidenciado por Woods & Balfour (2010)
(Figura 9).
90 Antes Depois
Figura 9. Taxa de infiltração da água (mm h-1) em solo de textura franco-arenoso antes a após a aplicação de cinza. Fonte:
adaptado de Woods & Balfour (2010).
Inicialmente, com adição de 0,5 cm de cinza sobre o solo, o efeito foi de redução na taxa de
infiltração. Adicionando, porém, 2,5 e 5,0 cm a tendência foi de aumento da taxa de infiltração.
Woods & Balfour (2010) sugeriram que a causa desse efeito seria o aumento geral do fluxo de água
nos macroporos.
Densidade do solo
A densidade do solo (d) é a relação existente entre a massa seca de uma certa porção de solo
com estrutura preservada e o seu volume total (volume das partículas + poros). Esse parâmetro físico
varia conforme o tipo de solo, como demonstrado na Tabela 1, de modo que solos com textura arenosa
tendem a ser naturalmente mais densos do que solos argilosos e solos orgânicos.
A densidade da cinza varia conforme a matéria prima geradora. No caso de Chang et al. (1977)
o valor encontrado foi aproximadamente 1000 kg m-3. Entretanto, no trabalho de Stoof et al. (2016)
as densidades das cinzas avaliadas variaram desde 198 kg m-3 até 847 kg m-3. Assim, quando se
incorpora cinza ao solo, o efeito natural esperado é de redução da densidade da mistura. Chang et al.
(1977) demonstraram esse efeito utilizando solos com diferentes texturas (Figura 10). Observa-se que
em todos os casos, na medida em que se aumentou a proporção de cinza, o valor da densidade do solo
converge para densidade da cinza utilizada (1001 kg m-3).
1700 Franco-arenosa
Franco-arenosa
Densidade do solo (kg m-3 )
1600 Franco-argilo-arenosa
Franca
1500
1400
1300
1200
1100
1000
0 20 40 60 80 100
Porcentagem de cinza (vol)
Figura 10. Variação da densidade de solos com diferentes texturas em função da adição de cinza (em porcentagem por
volume e densidade da cinza utilizada = 1001 kg m -3). Fonte: adaptado de Chang et al. (1977).
A densidade das partículas (s) é definida como a relação entre a massa das partículas sólidas
presentes no solo (sejam elas mineiras ou orgânicas) e o volume ocupado pelas mesmas. Esse
parâmetro reflete a composição existente no solo, ou seja, sua constituição mineral e orgânica. Por
essa razão, a densidade das partículas pode ser interpretada também como a média ponderada das
massas específicas dos componentes presentes na fase sólida do solo (Ferreira, 2010).
O valor médio da densidade das partículas normalmente considerado como representativo para
solos é de 2650 kg m-3. Esse valor é devido a grande influência dos minerais caulinita e do quartzo
na constituição dos solos, que possuem respectivamente valores de massa específica que variam de
2600 – 2680 e 2650 – 2660 kg m-3.
Portanto, a densidade das partículas para este solo com 2,4% de matéria orgânica será:
s = 100/42,83 = 2,33 g cm-3 ou 2330 kg m-3
Na Figura 11 está representado o resultado dos demais cálculos para densidade das partículas
até o limite de 5,3 % de matéria orgânica ocasionado pela adição de cinza vegetal ao solo. Na condição
de maior teor da matéria orgânica, a densidade das partículas será de 2040 kg m-3, ou seja, uma
redução de 12,4 %.
2350
Densidade das partículas (kg m-3 )
2300
2250
2200
2150
2100
2050
2000
2.0 3.0 4.0 5.0 6.0
Matéria orgânica (%)
Figura 11. Redução da densidade das partículas do solo em função do aumento do teor de matéria orgânica no solo
devido a adição de cinza vegetal ao solo. Fonte: Pereira (2014).
A porosidade total do solo () pode ser calculada de forma simples utilizando a relação entre
a densidade do solo e das partículas:
= 1 – d/s
Onde,
d – densidade do solo;
s – densidade das partículas.
Partindo dessa relação, e assumindo um valor constante de s igual a 2650 kg m-3, conclui-se
que a porosidade total deve aumentar com a adição de cinza vegetal, já que a densidade do solo tende
a reduzir conforme demonstrado em 3.1.
Entretanto, se considerarmos um valor de densidade do solo constante, associado a uma
redução da densidade das partículas por conta da dição da cinza vegetal, conforme descrito no item
3.2, pode-se observar efeito contrário. A Figura 12 traz os resultados de simulações utilizando dados
publicados por Pereira (2014). As simulações foram realizadas com valores de densidade do solo
variando de 1,0 a 1,8 g cm-3.
0.70
0.60
Porosidade total (m3 m-3)
0.50
1,0
0.40
1,2
0.30 1,4
0.20 1,6
0.10 1,8
0.00
2.0 3.0 4.0 5.0 6.0
Matéria orgânica (%)
Figura 12. Porosidade total do solo em função do aumento do teor de matéria orgânica devido a adição de cinza vegetal.
1,0;1,2;1,4;1,6;1,8 correspondem aos níveis de densidade do solo (g cm -3). Dados utilizados para simulação foram
extraídos de Pereira (2014).
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A adição de cinza vegetal ao solo pode trazer diversos benefícios relacionados a qualidade do
solo e suas propriedades físicas, especialmente referente à retenção de água em solos arenosos com
predominância de macroporos. Porém, informações referentes a dose aplicada, a forma de aplicação,
e o tipo de cinza vegetal ainda precisam ser exploradas pelas pesquisas levando-se em consideração
suas propriedades físicas e químicas, considerando também as classes de solo. Todavia, de modo
contrário, algumas hipóteses já levantadas, como a que relaciona o bloqueio de poros do solo pela
adição de cinza vegetal, gerando diminuição na infiltração de água, e aumento do risco de erosão,
ainda não são conclusivas.
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ABSTRACT: The increase in demand for food drove the growth of agricultural production and a
greater amount of soil was exposed to risks of environmental contamination. Heavy metals, organic
pollutants and agricultural inputs, when not properly handled, cause negative impacts on the
environment, as they are among the main pollutants that harm soil quality. One way to solve this
problem is to make use of remediation, a technology that mitigates environmental impacts, which is
applied with the objective of reducing polluting agents, completely eliminating the contamination or
decreasing it to tolerable levels, in order not to harm the ecosystem balance. The use of vegetable ash
and biochar increases the pH of the soil, the capacity for cation exchange, and the amount of minerals
and organic carbon, as well as stimulating the microbial community and its metabolism. Soil quality
can be assessed both with a focus on agro-ecosystems, where the main service is productivity, as well
as for natural ecosystems, where the main service is biodiversity conservation. In this way, the
application of vegetable ash and biochar in the soil opens up new possibilities for the development of
remediation technology, improving the soil in all aspects, for biodiversity or for agricultural
production.
1
Programa de Pós-Graduação em Engenharia Agrícola, Universidade Federal de Rondonópolis, Mato Grosso.
INTRODUÇÃO
POLUENTES DE SOLO
Figura 1. Compostos xenobióticos presentes no ambiente. Fonte: Adaptado de VARJANI et al. (2019).
Dentre alguns poluentes, as contaminações nos solos podem ocorrem por metais pesados
devido ao descarte inadequado de resíduos tóxicos realizados pelas indústrias. As principais
substâncias tóxicas descartadas são o chumbo, cádmio, arsênio, mercúrio e cromo que geram maiores
preocupações devido à toxicidade para as plantas e para os seres humanos (OJUEDERIE;
BABALOLA, 2017). Esses descartes podem ser de caráter planejado ou acidental.
Esses metais pesados não são biodegradáveis, o que faz com que sejam acumulados ao longo
da cadeia alimentar, podendo prejudicar o meio ambiente e a saúde dos animais e seres humanos
(GAUR et al., 2014). São citotóxicos em baixas concentrações e podem causar câncer em humanos
(OJUEDERIE; BABALOLA, 2017).
Solos sob processos de degradação não conseguem realizar suas funções de filtração e
tamponamento, o que, consequentemente, leva a penetração de poluentes nos corpos hídricos
subterrâneos e na atmosfera (JONIEC et al., 2019).
Os Poluentes Orgânicos Persistentes - POPs são substâncias químicas que têm sido utilizadas
como agroquímicos, para fins industriais ou liberados de modo não intencional em atividades
antropogênicas, e que possuem características de alta persistência (não são facilmente degradadas).
São capazes de serem transportadas por longas distâncias pelo ar, água e solo, e de se acumularem
em tecidos gordurosos dos organismos vivos, sendo toxicologicamente preocupantes para a saúde
humana e o meio ambiente (MMA, 2004).
Os POPs são substâncias sintéticas e essa característica de longa persistência no ambiente
pode significar até dezenas de anos ou séculos para serem degradados. Devido a tendência de
permanecer em tecidos ricos em gordura e a essa afinidade com os tecidos adiposos, as evidencias
reforçam que esses produtos são suscetíveis a acumular, persistir e bioconcentrar. Isso contribui para
que entrem no ciclo ecossistêmico, acumulando-se ao longo da cadeia alimentar, o que facilita sua
dissipação pelo mundo.
Atualmente, os sistemas de cultivos são dependentes de fertilizantes minerais industriais e de
agroquímicos para conseguir uma produção em massa. Para diminuir essa dependência e aperfeiçoar
a produção de forma sustentável devem-se adotar tecnologias de manejo do solo que alinhem aumento
na produção com preservação ambiental, como por exemplo, o plantio direto, a aplicação responsável
de agroquímicos, a adubação verde, uso de biofertilizantes, cinza vegetal e biochar.
A contaminação dos solos por aplicação inadequada de agroquímicos vem crescendo cada vez
mais com a falta de responsabilidade e a falta de treinamento dos técnicos envolvidos na aplicação.
Esses compostos possuem longo efeito residual, o que prejudica não só as culturas, mas também a
qualidade do solo e das águas subjacentes.
Os agroquímicos são os principais compostos que promovem a contaminação dos solos, pois
são insumos agrícolas com potencial tóxico, onde os princípios ativos são, principalmente, compostos
xenobióticos aplicados para controlar pragas que prejudicam as culturas (MOREIRA; SIQUEIRA,
2006).
As técnicas ex situ são onerosas e muitas vezes inviáveis economicamente, o que acaba por
ser um obstáculo na remediação. Dessa maneira, têm crescido os estudos com foco em tecnologias in
situ, pois estas podem apresentar resultados satisfatórios com menor custo de operação.
Mesmo fazendo uso de tecnologias in situ, os custos para a remediação do solo, dependendo
do tamanho da área, pode encarecer a prática. Com isso, o uso de resíduos surge como uma
possibilidade economicamente viável, a exemplo o uso da cinza vegetal e do biochar.
A cinza vegetal e o biochar são oriundos de uma energia limpa, produzidos por meio da
pirólise lenta de resíduos orgânicos, sendo uma tecnologia cada vez mais viável economicamente,
pois além de melhorar a fertilidade dos solos, promovem sequestro de carbono e aumento na produção
agrícola.
Para aplicar a cinza vegetal e o biochar na remediação de um solo degradado é preciso analisar
as características químicas dos materiais. Os diferentes tipos de matérias-primas utilizadas na
produção da cinza vegetal e do biochar, bem como as condições da pirólise realizada ocasionam as
diferenças em sua composição química e granulométrica.
Essas mudanças afetam o pH, a quantidade de carbono orgânico presente, a capacidade de
troca catiônica, a porosidade, a área superficial específica e a quantidade de nutrientes das cinzas e
do biochar, consequentemente afetando também a relação com os compostos poluentes.
A expressão “metal pesado” é usada para um grupo de elementos químicos com alta densidade
e tóxicos em determinadas doses, podendo impactar o meio ambiente e os seres vivos. A cinza vegetal
e o biochar podem atuar na remediação de solos contaminados por esses compostos seja por uma
interação direta com os poluentes ou por uma interação indireta, onde a qualidade do solo é melhorada
com o aumento da fertilidade, favorecendo a recuperação do mesmo (Figura 2).
Muitas pesquisas demonstram a eficiência do biochar na diminuição da mobilidade e na
disponibilidade de metais pesados nos solos contaminados, consequentemente diminuindo a
quantidade de poluentes que é absorvida pelas plantas (BASHIR et al., 2018; MENG et al., 2018;
YANG et al., 2017).
A cinza vegetal e o biochar são capazes de imobilizar os metais pesados nos solos (MENG et
al., 2018), através de mecanismos como a atração eletrostática, a troca iônica, a complexação e a
precipitação dos poluentes.
Os principais mecanismos de remediação direta da cinza vegetal e do biochar incluem a
atração eletrostática, onde a alta eletronegatividade das cinzas e do biochar pode facilitar a atração
eletrostática de íons carregados positivamente. A intensidade dessa atração irá depender das
características químicas do produto utilizado.
Outro mecanismo é a troca de íons. A cinza vegetal e o biochar possuem alta capacidade de
troca de cátions proporcionada pela alta superfície especifica desses materiais. Esse fator associado
com a alta quantidade de cálcio e magnésio presentes favorecem os processos de adsorção dos
contaminantes.
A cinza vegetal e o biochar podem atuar complexando os metais pesados do solo. Os grupos
funcionais presentes nesses materiais, como por exemplo as hidroxilas, podem fornecer locais de
ligação para os metais pesados formarem complexos. Além disso, a presença de íons inorgânicos,
como silício, enxofre e cloro podem complexar os metais pesados, diminuindo sua mobilidade nos
solos.
Os compostos poluentes também podem ser precipitados através da cinza vegetal e do biochar,
pois quando são adsorvidos podem formar compostos insolúveis.
Além desses efeitos diretos, é importante ressaltar a influência indireta da aplicação de cinza
vegetal e biochar no solo na biodisponibilidade dos metais pesados. Ao impactar a características do
solo, aumentando o pH, a capacidade de troca de cátions e a quantidade de minerais e carbono
orgânico, as cinzas e o biochar melhoram a capacidade que o solo tem de se regenerar.
Figura 2. Mecanismos de interação entre o biochar e os metais pesados no solo. Fonte: Adaptado de HE et al. (2019).
Os poluentes orgânicos são substâncias altamente tóxicas formadas por compostos químicos
orgânicos semelhantes aos dos seres vivos. Surgem de diversos processos industriais, porém, em sua
grande maioria estão na composição de agroquímicos e assim, cada vez mais presentes em áreas
agrícolas. Desse modo, o uso de cinza vegetal e biochar se mostra uma tecnologia sustentável na
agricultura para auxiliar na remediação desses compostos. Além de promoverem o aumento da
fertilidade no solo, visa também aumentar a produção com a menor geração de poluição, devido a
diminuição do uso de fertilizantes oriundos de fontes não renováveis.
Com o objetivo de melhorar os solos, o uso de cinza vegetal e biochar aumentam a retenção
de água e nutrientes, e também auxiliam na remediação desses compostos contaminantes (TANG et
al., 2013).
Sendo assim, a cinza vegetal e o biochar possuem a capacidade de remediar os poluentes
orgânicos do solo, da água e de sedimentos através dos processos de adsorção, sorção e da estimulação
dos microrganismos responsáveis por realizar a decomposição química desses compostos, o que
consequentemente gera a diminuição da biodisponibilidade dos poluentes orgânicos presentes no
solo.
A adsorção refere-se às interações superficiais que levam à adesão das moléculas de poluentes
nas superfícies das moléculas das cinzas e do biochar, enquanto a sorção inclui adsorção e também a
partição de moléculas poluentes no microporos de biochar (Figura 3) (TANG et al., 2013).
Figura 3. Mecanismos de remediação de poluentes orgânicos da cinza vegetal e do biochar. Fonte: Adaptado de TANG
et al. (2013).
Figura 4. Poros de biochar ideais para colonização de fungos (A), bactérias (B) e hifas de fungos micorrízicos
arbusculares (C). Fonte: Ogawa (1994).
Figura 5. Descrição dos principais efeitos da cinza vegetal e do biochar na qualidade do solo e remediação da rizosfera.
Fonte: Adaptado de SANCHEZ-HERNANDEZ et al., 2019).
Esses fatores podem contribuir para aumentar ou diminuir o seu impacto ambiental e as
interações com o solo podem variar de acordo com as características de cada produto e de acordo
com as características e propriedades do solo. Algumas moléculas possuem baixa mobilidade e longo
efeito residual, o que aumenta os riscos de contaminação quando as aplicações são realizadas de
maneira inadequada.
Uma das vias de mitigação dos agroquímicos é através do processo de biodegradação, onde
os microrganismos irão metabolizar os poluentes ou decompô-los por meio de enzimas extracelulares.
Como um dos benefícios obtidos com a adição de cinza vegetal e biochar no solo é o aumento da
comunidade microbiana, esse processo também é favorecido por essa técnica.
A persistência é o período em que o produto permanece no solo na forma solúvel, na forma
de vapor no ar, adsorvido nos minerais ou na matéria orgânica do solo. A dissipação é a fração do
poluente que é degradada ou permanece no solo na maneira insolúvel. Dessa maneira, a dissipação
mede a remediação dos poluentes no solo, seja ela por mineralização, degradação, formação de
complexos com outros compostos, absorção e transporte (LAVORENTI et al., 2003).
A retenção e a mobilidade dos agroquímicos são delimitadas pelos processos de adsorção e
dessorção, sendo que estes são dependentes das propriedades do solo, principalmente teor de argila e
de matéria orgânica, bem como das características químicas dos compostos aplicados (DI MARSICO
et al., 2018).
Quando há baixa sorção, os agroquímicos ficam disponíveis no solo com maior potencial de
lixiviação (OUYANG et al., 2016). A adição de cinza vegetal e biochar pode proporcionar ao solo
compostos orgânicos que pelo processo de adsorção, podem promover a mitigação da lixiviação dos
herbicidas no solo, por exemplo (JIN et al., 2016).
Essa técnica de remediação com cinza vegetal e biochar pode evitar que os poluentes
adsorvidos às partículas do solo sejam arrastados com o material particulado pela erosão até os corpos
hídricos, onde podem persistir por muito tempo, gerando grandes impactos negativos na qualidade da
água ou ainda entrar na cadeia alimentar resultando em bioacumulação. De forma geral, podem
impedir que os compostos solubilizados sejam lixiviados para as águas subterrâneas, comprometendo
a qualidade dos reservatórios.
Um exemplo de atuação do biochar na degradação de compostos orgânicos é a decomposição
de pentaclorofenol (ZHU et al., 2018), uma substância que possui ação algicida, fungicida e
inseticida, usada para preservar madeira (ANVISA, 2006).
Como a contaminação por agroquímicos causam um grande impacto ambiental, deve-se
constantemente aumentar a eficiência do controle. Dentro desse contexto, as técnicas que inserem
resíduos no processo produtivo são muito promissoras, pois podem promover a sorção dos poluentes
ou auxiliarem na degradação (MARÍN-BENITO et al., 2018).
QUALIDADE DO SOLO
Qualidade do solo é um conceito amplo e não definido, que pode abranger as características
que um solo precisa ter para estar apto para uma determinada atividade, seja ela da agricultura,
pecuária ou da construção civil, bem como pode ser um conceito associado à presença de algum
processo de degradação.
A qualidade do solo pode ser avaliada tanto com foco nos agroecossistemas, onde o principal
serviço é a produtividade, quanto para ecossistemas naturais, onde o principal serviço é a conservação
da biodiversidade (BÜNEMANN et al., 2018).
Os parâmetros que irão determinar o nível da qualidade do solo dependerão do objetivo da
avaliação. Mesmo quando se trata de processos de degradação, os parâmetros avaliados precisam ser
escolhidos de acordo com o tipo de contaminação existente, para que haja maior eficiência na
quantificação dos poluentes.
Não é possível estabelecer valores universais absolutos como parâmetros para a qualidade do
solo, pois fatores extrínsecos como material de origem, clima, relevo e hidrologia podem influenciar
nos valores potenciais das propriedades (BÜNEMANN et al., 2018). Diferentes de outros conceitos
estabelecidos como a qualidade da água e do ar, a qualidade do solo não tem um padrão definido
(ARAÚJO et al., 2012).
A avaliação do solo está conectada com a avaliação dos serviços ecossistêmicos fornecidos
pelo mesmo. Esta avaliação fornece ferramentas científicas para o uso e manejo dos recursos naturais,
considerando as demandas sociais e ambientais (BÜNEMANN et al., 2018). A partir disso, define-se
a capacidade do solo como a capacidade intrínseca de um solo contribuir para serviços
ecossistêmicos, incluindo a produção de biomassa (BOUMA et al., 2017).
Os termos qualidade e saúde do solo são semelhantes. O conceito de saúde do solo tem origem
na observação de que a qualidade do solo influencia a saúde de animais e humanos através da
qualidade das culturas (MENG et al., 2018).
Pankhurst, Doube e Gupta (1997) afirmaram que embora os conceitos de qualidade e saúde
do solo se assemelham de maneira geral, sendo muitas vezes usados como sinônimos, a qualidade do
solo se concentra mais na capacidade do solo em proporcionar o crescimento adequado de uma
cultura, enquanto que a saúde do solo se concentra na capacidade contínua do solo em sustentar o
crescimento das plantas e manter suas funções.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A degradação dos solos é um problema ambiental que afeta diretamente o equilíbrio dos
ecossistemas, pois um solo degradado não é capaz de exercer suas funções, seja nos ecossistemas
naturais ou nos sistemas produtivos.
Os mais comuns e principais contaminantes que afetam os solos são metais pesados, poluentes
orgânicos e agroquímicos. A grande maioria desses compostos possuem longo efeito residual gerando
riscos para as plantas, animais, seres humanos e ainda podem comprometer as safras agrícolas.
Por outro lado, aliado ao processo de degradação, existe uma demanda crescente por alimentos
por conta do aumento populacional, porém, essa demanda só poderá ser alcançada com o aumento da
produtividade agrícola.
É preciso buscar tecnologias para aumentar a produtividade com o menor impacto ambiental
possível de modo que o uso do solo seja equilibrado para atender as demandas agrícolas e também as
demandas ambientais.
O uso de resíduos para recuperar solos degradados se encaixa como uma alternativa
sustentável para a remediação de contaminações e otimização de uso de áreas que já foram abertas,
mas que estão impossibilitadas para o uso agrícola, por exemplo.
A aplicação de cinza vegetal e biochar no solo abre novas possibilidades de desenvolvimento
da tecnologia de remediação em solos contaminados com esses compostos de modo a recuperar as
propriedades do solo e favorecer o reestabelecimento de suas funções.
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RESUMO: A agricultura brasileira vem crescendo sistematicamente ao longo dos anos. As mudanças
impostas pelo homem relacionadas às práticas agrícolas resultaram em grandes avanços para o
desenvolvimento econômico, em áreas onde o cultivo de plantas era até então praticamente
impossível. Para os níveis de desenvolvimento que se observa hoje foi necessário lançar mão do uso
de energia e recursos naturais. Nesse processo, questões ambientais passaram a ser relevantes. As
práticas da correção do solo do solo e da adubação com fertilizantes minerais passaram por
transformações técnicas no que diz respeito à eficiência do uso de nutrientes, tendo em vista não se
tratarem de recursos renováveis. Ainda assim, surgiu a necessidade de incorporar novos produtos à
agricultura visando não somente a redução do custo médio de produção, mas também resultados
positivos para o meio ambiente. Nesse contexto, os resíduos sólidos, tais como a cinza vegetal,
passaram a ser utilizados na agricultura como corretivos e fonte de nutrientes. A cinza vegetal é capaz
de elevar o pH do solo e a disponibilidade de bases trocáveis. No entanto, doses muito elevadas podem
causar efeitos deletérios sobre a produção vegetal, principalmente na fase inicial, que diz espeito a
germinação das sementes. O elevado potencial osmótico pode dificultar, por exemplo, a entrada de
água na semente (embebição), e retardar o processo germinativo, ou mesmo impedi-lo. Assim, surge
a necessidade de maiores investimentos em estudos que visem a determinação do manejo da cinza
vegetal na agricultura, visando também sua destinação correta ao ambiente. Além dos benefícios do
uso da cinza em doses adequadas, há também o fator ambiental que resulta da destinação desse
resíduo sólido na agricultura.
ABSTRACT: Brazilian agriculture has been growing systematically over the years. The changes
imposed by men relating to agricultural practices resulted in great advances for economic
development, in areas where the cultivation of plants was practically impossible. For the levels of
development observed today, it was necessary to resort to the use of energy and natural resources. In
this process, environmental issues became relevant. The practices of soil correction and fertilization
with mineral fertilizers have undergone technical transformations with regard to the nutrients use
efficiency, in view of not being renewable resources. Even so, the need arose to incorporate new
products to agriculture aiming not only to reduce the average cost of production, but also positive
results for the environment. In this context, solid waste, such as wood ash, started to be used in
agriculture as a corrective and source of nutrients. Wood ash is able to raise soil pH and the
availability of exchangeable bases. However, very high doses can cause deleterious effects on plant
production, especially in the initial phase, which concerns seed germination. The high osmotic
potential can make it difficult, for example, for water to enter the seed (imbibition), and delay the
germination process, or even prevent it. Thus, there is a need for greater investments in studies aiming
at determining the management of wood ash in agriculture, as well as aiming at its correct destination
to the environment. In addition to the benefits of using wood ash in adequate doses, there is also the
environmental factor that results from the destination of this solid waste in agriculture.
1
Programa de Pós-Graduação em Engenharia Agrícola, Universidade Federal de Rondonópolis, Mato Grosso.
INTRODUÇÃO
Sob pH ácido (<5,5) a maioria das culturas apresentam desenvolvimento reduzido. Portanto,
a correção do solo é uma importante prática agrícola que visa tornar o meio de cultivo adequado às
exigências das plantas, desde a germinação das sementes. Assim, em trabalho realizado com o cultivo
de beterraba sacarina (Beta vulgaris L.), Olsson et al. (2019) verificaram aumento no rendimento da
cultura quando o pH do solo foi corrigido.
Nota-se, por outro lado, que valores extremos de pH, isto é, em pH muito ácido ou
demasiadamente alcalino, a produção vegetal pode ser significativamente reduzida. A prática da
correção do solo precisa ser planejada para evitar excessos de cátions na superfície do solo. Em uma
condição como essa, a germinação das sementes pode ser substancialmente reduzida, ou mesmo não
ocorrer.
O estágio de maior sensibilidade das culturas à variação de disponibilidade de água, salinidade
do solo, pH e absorção excessiva de nutrientes e/ou elementos químicos oriundos de fertilizantes
ocorre justamente após a germinação, nos estágios iniciais de desenvolvimento das plantas (Carvalho
& Nakagawa, 2000).
O pH do solo pode exercer um efeito direto na composição botânica de pastagens, por
exemplo. Em condições de acidez pode haver aumento de populações de plantas de baixa produção
e valor nutritivo (Hodgson, 1990; Holechek et al., 2011). Em adição, solos alcalinos, ou áreas de
descarte de resíduos industriais, como a cinza vegetal, podem desfavorecer o estabelecimento de
cultivos agrícolas, dada o acúmulo excessivo de íons no solo.
Nesse contexto, o uso da cinza vegetal na agricultura, ao mesmo tempo que proporciona uma
destinação segura para esse resíduo, tem apresentado grande potencial de contribuição com a correção
e adubação do solo, podendo interferir na fase de germinação das sementes. Assim, esse capitulo trará
uma abordagem sob os aspectos dos impactos da utilização do resíduo agroindustrial cinza vegetal
na germinação de sementes.
Atualmente a correção do solo ainda é uma prática negligenciada em diversas partes do Brasil,
mas que ao ser adotada possibilitou, por exemplo, a exploração dos solos do cerrado brasileiro
décadas atrás (Lopes & Cox, 1977; Lopes, 1996; Lopes & Guilherme, 2016). O surgimento da
agricultura no cerrado brasileiro é considerado uma das maiores conquistas da ciência agrícola no
século XX (Alves et al., 2008; Lopes & Guilherme, 2016).
Nesse contexto, o suprimento equilibrado de nutrientes constitui exigência básica para a
manutenção produtiva das diversas culturas, incluindo culturas alimentícias, florestais e forrageiras.
Por isso, além do déficit de nutrientes, seu excesso pode afetar diversos processos morfofisiológicos
nas plantas, desde a germinação das sementes até seu estágio de produção.
A quantidade demasiada de nutrientes pode ocorrer de forma natural, o que é comum em
regiões semiáridas devido o menor potencial de lixiviação, e em áreas em que houve aplicação
excessiva de fertilizantes e/ou corretivos. Vale ressaltar que solos salinos geralmente possuem pH
alcalino. Ryan et al. (1975) mostraram que a germinação de várias espécies de gramíneas forrageiras
reduziu não somente devido à concentração de sais, mas também pelo tipo de íon presente na solução
(Tabela 1).
Tabela 1. Concentrações de sais (meq L-1) necessárias para reduzir a germinação de sementes de várias gramíneas em 20
e 50% em relação à condição controle (água destilada).
Espécies NaCl MgCl2 CaCl2 Na2SO4 MgSO4
20% de redução da germinação
Sporobolus airoides Torr. 41 - - - -
Panicum antidotale Retz. 62 54 105 106 150
Eragrostis lehmanniana Nees. 53 54 100 64 200
Eragrostis curvula (Schrad.) Nees. 165 100 >200 153 90
Eragrostis superba Peyr. 150 127 190 115 200
50% de redução da germinação
Sporobolus airoides Torr. 113 - - - -
Panicum antidotale Retz. 116 114 161 132 192
Eragrostis lehmanniana Nees. 81 97 184 83 >200
Eragrostis curvula (Schrad.) Nees. 200 122 >200 171 133
Eragrostis superba Peyr. 187 182 >200 164 >200
Experimento conduzido em temperatura constante de 27°C; primeira contagem de germinação aos 12 dias após a
incubação. Fonte: adaptado de Ryan et al. (1975).
Além de adicionar nutrientes ao solo, a cinza vegetal também eleva o pH do solo e com isso
também aumenta a disponibilidade de outros nutrientes, como o molibdênio (Saarsalmi et al., 2012).
Por outro lado, a elevação excessiva do pH do solo pode imobilizar certos micronutrientes, tais como
o Zn, B, Fe e Cu (Sims, 1986; Moreno-Jiménez et al., 2019).
A cinza vegetal é um produto alcalino e seu pH pode variar de 8,5 a 13,5 (Campbell, 1990;
Etiégni & Campbell, 1991; Chen et al., 2015; Mosoarca et al., 2019; Vanapalli et al., 2021). Essa
forte capacidade alcalina indica que a cinza vegetal pode ser uma alternativa à correção da acidez do
solo, seja por si só ou combinada com calcário (Aronsson & Ekelund, 2004). No entanto, tanto os
efeitos da acidez quanto os da alcalinidade do solo são prejudiciais à germinação das sementes.
A elevada alcalinidade, que está ligada a quantidade de bases trocáveis no solo, produz uma
pressão osmótica que torna mais difícil a embebição das sementes e a absorção de água pelas plântulas
(Justice & Reece, 1954; Ne’eman et al., 2002; Vanapalli et al., 2021). Dessa forma, a germinação é
consideravelmente reduzida, ou não ocorre até que as condições externas à semente sejam favoráveis
ao desenvolvimento das plântulas (Carvalho & Nakagawa, 2000). Poonia et al. (1972) adicionaram
NaHCO3 em um solo franco-arenoso no cultivo do trigo (Triticum spp.) e verificaram aumento do pH
do solo e redução da germinação (Tabela 2).
Tabela 2. pH do substrato de cultivo e efeito sobre a germinação de sementes em diferentes espécies de plantas.
pH Germinação (%) Espécie Referência
5,3 60,5
6,0 29,7 Dimorphandra mollis Benth. Fagundes et al. (2011);
6,4 13,6
8,1 100
8,9 97
Trigo (Triticum spp.) Poonia et al. (1972)
9,3 85
9,5 80
Para Nabeela et al. (2015), a cinza vegetal é uma fonte rica em nutrientes para as plantas. Os
autores verificaram que em concentrações mais baixas (1 e 10 g de cinza por kg de solo – g kg-1), a
cinza estimulou a germinação de Brassica napus L., mas em concentrações mais elevadas (acima de
25 g kg-1) afetou adversamente essa característica. A cinza vegetal também resultou em aumento da
bioacumulação de micronutrientes nas plântulas. A bioacumulação é um processo pelo qual
substâncias ou compostos químicos são absorvidos pelas plantas. Assim, em concentrações muito
elevadas, a cinza vegetal pode ser prejudicial para a germinação e desenvolvimento inicial das plantas
devido à presença de elementos tóxicos. Na maior dose de cinza vegetal avaliada (100 g kg-1 de solo),
não houve germinação (Tabela 3).
CONSIDERAÇÕES FINAIS
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Adriane Barth¹
RESUMO: O aumento na produção agrícola no Brasil tem provocado altos índices de degradação
ambiental. O Cerrado Brasileiro, cuja ocupação mais intensa se deu para produção agrícola há
aproximadamente 50 anos, já perdeu mais da metade de sua vegetação nativa. Produzir com menos
impacto é o grande o desafio da agricultura no século XXI tendo em vista a mudança no pensamento
global com relação à preservação do meio ambiente. Métodos de produção que permitam reduzir os
impactos ambientais são essenciais para manutenção dos recursos naturais e da população humana.
Este texto traz apontamentos relacionados ao papel da cinza vegetal na agricultura e sua contribuição
para uma prática ambientalmente mais sustentável e economicamente viável.
ABSTRACT: The increase in farm production in Brazil has caused high rates of environmental
degradation. The Brazilian Savana, whose most intense occupation took place for agricultural
production approximately 50 years ago, has already lost more than half of its native vegetation. To
increase agricultural production with less environmental impact is the great challenge of agriculture
in the 21st century in view of changing global thinking regarding environmental preservation.
Production methods that reduce environmental impacts are essential for the maintenance of natural
resources and the human population. This chapter brings notes related to the role of wood ash in
agriculture and its contribution to more environmentally sustainable and economically viable
practices.
INTRODUÇÃO
O Brasil é um dos grandes exportadores de produtos para o restante do mundo, sendo estes,
em sua maioria, oriundos de produção agrícola. Embora o aumento da produção seja essencial para a
economia do país, observa-se uma gradativa e acelerada redução das florestas em detrimento do
aumento das áreas cultivadas. O Cerrado, tido até a década de 70 como terra improdutiva, teve sua
ocupação intensificada a partir deste período. Políticas públicas que incentivaram a expansão das
fronteiras agrícolas, aumento da malha viária, condições climáticas e grandes extensões de planícies,
que otimizam o uso de mecanização, são alguns dos fatores que favoreceram a ocupação do Cerrado
para produção agrícola. Desde então, esse bioma já perdeu mais de 50% de sua área de vegetação
original. Juntamente com a floresta, perdeu-se em biodiversidade animal, vegetal e alterou-se a
dinâmica dos recursos hídricos.
1
Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Mato Grosso – campus Rondonópolis.
O bioma Cerrado é o segundo mais extenso do Brasil, menor apenas que o bioma Amazônia,
ocupando cerca de 23% da área total do país. Apresenta variação em sua fitofisionomia, o que fornece
riqueza de hábitat e, consequentemente, rica biodiversidade tanto de espécies animais quanto
vegetais. Sua localização está mais concentrada na região central do Brasil chegando ao litoral do
estado do Piauí e norte do Paraná, além de regiões com características de Cerrado, em áreas de bioma
Amazônia.
O Cerrado apresenta diversas fitofisionomias, as quais variam de acordo com diferentes
autores. Ribeiro & Walter (1998) reconhecem três grandes grupos de vegetação: a floresta -
subdividida em cerradão e mata seca; savanas - que envolve o cerrado stricto senso e cerrado ralo,
áreas campestres - que compreendem as regiões de campo sujo, campo limpo e campo cerrado. A
grande variabilidade de habitats desse domínio comporta uma enorme diversidade de espécies de
plantas e animais, muitos deles com ocorrência restrita a essa região. Embora seja um bioma cuja
biodiversidade ainda é pouco conhecida, segundo o Ministério do Meio Ambiente (MMA, 2002),
estima-se que mais de 50% das abelhas e mais de 40% das espécies de plantas lenhosas que habitam
o Cerrado, sejam endêmicas. Com relação a avifauna, são conhecidas 837 espécies, sendo que destas,
29 são endêmicas e para os mamíferos, são conhecidas 194 espécies, sendo 14 endêmicas.
Devido à grande diversidade, o grande número de espécies endêmicas e do elevado nível de
degradação, o Cerrado brasileiro é tido como hotspots de biodiversidade ameaçada de extinção
(Myers et al., 2000; Strassburg et al., 2017). Apesar da sua importância na manutenção da
biodiversidade, o Cerrado já perdeu cerca de 54% de sua cobertura vegetal e, dos 46% de floresta
restantes, apenas 19,8% permanecem sem nenhuma alteração. Estudos de projeção apontam que até
2050, é provável que de 31-34% dos 46% de vegetação remanescente de Cerrado, sejam derrubados.
Essa sombria perspectiva para o Cerrado, também aponta que aproximadamente 480 espécies
endêmicas de plantas seriam extintas, superando em três vezes as extinções de plantas documentadas
desde o ano de 1500 (Strassburg et al., 2017).
A extensão territorial do Cerrado, associado a grandes áreas de planície, que facilitam a
mecanização agrícola, são fatores importantes no processo de substituição da vegetação nativa pelo
cultivo de grãos e pecuária. Outro fator que favorece a agropecuária massiva são os períodos
relativamente estáveis entre seca e chuvas. O Cerrado apresenta duas estações bem definidos, uma
seca, de maio a setembro e um período chuvoso, de outubro a abril. Nesse bioma, a produção agrícola
pode ocorrer com relativa precisão com relação ao período em que começam e terminam as chuvas
e, durante o período seco, os solos podem ser irrigados, garantindo produção ao longo de todo ano.
Segundo Lima & Silva (2005), a preocupação com relação ao uso da água nos processos de irrigação
está centrada no fato de sua demanda aumentar no período mais seco do ano, ampliando os danos
ambientais gerados com essa prática.
Embora o bioma Amazônia comporte cerca de 70% de toda água doce de superfície brasileira,
o Cerrado foi contemplado com riqueza de nascentes, e por ser região de planalto, atua como área de
recarga hídrica, o que contribui para a manutenção das bacias hidrográficas. É no bioma Cerrado que
surgem as nascentes que abastecem seis, das oito bacias hidrográficas brasileiras Lima & Silva
(2005). Essa abundante disponibilidade hídrica associada ao curso dos rios que nascem no Cerrado,
ressalta a importância na manutenção e preservação das fontes hídricas desse bioma, além do uso
sustentável desse recurso, para assim garantir a manutenção da disponibilidade e qualidade água nas
demais regiões brasileiras.
A paisagem de savana rica em biodiversidade animal, vegetal e hídrica, vêm sendo
gradativamente modificada pela ocupação urbana, industrial e cultivo de grãos e pecuária. A flora e
fauna nativas têm sido reduzidas a, principalmente, áreas de preservação ambiental obrigatórias,
como as matas de galerias e reservas indígenas. Segundo Machado & Aguiar (2010), substituindo as
florestas do Cerrado, temos a metade da soja e mais de 60% da carne bovina produzida no Brasil.
A preocupação com a preservação do Cerrado chegou já com a perda de mais da metade da
cobertura vegetal do bioma. Segundo a CNUC (2019), somente um pouco mais de 8% do Cerrado
estão legalmente protegidos em Unidades de Conservação, que são os parques federais, estaduais e
municipais. E, diferentemente do bioma Amazônia cuja proteção legal está estabelecida em 80% da
floresta nativa, para o Cerrado a legislação brasileira - Novo código Florestal Lei Nº 12.651, de 2012
(Brasil, 2012) exige que, cada proprietário rural preserve apenas 35% da vegetação nativa, o que, na
prática, significa que o desmatamento observado atualmente (cerca de 56%) ainda tem margem legal
para progredir.
Considerando os apontamentos acima relacionados ao bioma Cerrado, associados a busca de
maior produtividade agrícola e redução dos custos e das áreas de produção, centros de pesquisa tem
investido em novas tecnologias que podem ser um caminho interessante na busca de uma produção
agrícola rentável com redução do seu impacto na dinâmica dos ecossistemas. Um exemplo a ser
explorado é o caso do uso da cinza vegetal como fertilizante agrícola, abordado em sequência.
Os estudos com uso da cinza vegetal na produção agrícola têm demonstrado que, sob manejo
adequado e especial cuidado com relação a qualidade do produto utilizado, essa prática pode
promover vários benefícios ambientais em detrimento das práticas de produção tradicionais. Será
apresentado aqui duas questões ambientais cujos impactos podem ser minimizados com a introdução
da cinza vegetal na agricultura.
O solo do Cerrado apresenta elevada acidez natural, baixo teor de fósforo e alto teor de
alumínio tóxico às plantas Sanchez & Cochrane (1980). Essas características dificultam o
desenvolvimento e, principalmente, a absorção dos nutrientes pelas plantas cultivadas. As espécies
vegetais nativas estão adaptadas a essa característica tendo em vista os milhares de anos de adaptação
das espécies do Cerrado ao meio ambiente.
As plantas do Cerrado apresentam resposta de crescimento mesmo em baixos teores de
nutrientes e pH ácido do solo e acumulam o alumínio, tóxico para plantas cultivadas, em sua área
foliar. No entanto, ao se introduzir qualquer cultura agrícola neste ambiente, é necessário a prática de
correção do solo, ou calagem. Sendo a calagem o método até então, mais eficiente e economicamente
viável disponível aos produtores para corrigir o pH do solo e aumentar a produtividade dos sistemas
agrícolas. O produto utilizado para essa prática é o calcário, que, em doses específicas para cada
cultivar e cada tipo de solo, diminui o pH, diminui o efeito tóxico do alumínio, aumenta a
disponibilidade de uma série de nutrientes, além de melhorar a qualidade física do solo
proporcionando maior aeração e circulação de água, o que favorece o desenvolvimento das raízes
(Corrêa et al., 2011).
O calcário apresenta uma variedade de usos, como corretivo do solo é apenas um deles. De
modo geral, é matéria prima para a construção civil, indústria de papel, plástico, vidros, entre outras.
É um mineral extraído de pedreiras e depósitos geologicamente muito antigos, formados desde o
período Cambriano até o Holocelo (Sampaio & Almeida, 2008). O calcário utilizado hoje foi formado
principalmente por conchas e exoesqueletos de organismos aquáticos que, sob pressão, originaram
rochas sedimentares ricas nesse mineral (Popp, 2010).
As reservas lavráveis de calcário têm ocorrência em todos os estados brasileiros. Segundo
Silva (2009) a produção total de calcário no Brasil no ano de 2008 foi de um pouco mais de 107
milhões de toneladas, com estimativa de crescimento a até, pelo menos, 158 milhões de toneladas até
2030. Fatores que favorecem seu crescimento vão desde a abundância deste mineral ao longo do país,
seu uso diversificado, o aporte financeiro gerado e até a geração de empregos, tendo em vista que
essa atividade exige essencialmente mão de obra pouco qualificada.
A despeito de ser importante matéria prima, o aumento do uso de calcário, e
consequentemente, aumento no processo de extração deste mineral, aumenta também a preocupação
com a preservação ambiental devido aos impactos ocasionados pelo processo de mineração. A
retirada da vegetação nativa, processos erosivos, assoreamentos de córregos, contaminação da água
de córregos próximos às minas e perda de registros fósseis, são alguns dos impactos gerados no
processo. A extração do calcário também pode afetar localmente o ciclo natural das águas tendo em
vista que, a característica porosa das rochas onde esse mineral é encontrado, otimiza a absorção da
água das chuvas e seu direcionamento para os corpos d’agua subterrâneas, garantindo a alimentação
do lençol freático.
Rochas calcárias, devido a sua origem geológica, são fontes importantes de registro fóssil. O
não aproveitamento dos fósseis e até mesmo a sua destruição no processo de mineração são uma
perda irreparável para o conhecimento científico sobre a formação geológica das regiões e das
espécies que ali habitavam em um passado remoto, como pôde ser constatado por Martins-Neto &
Ramalho (2010), em um estudo de acompanhamento da evolução do impacto ambiental em uma
mineradora de calcário no interior de São Paulo.
As atividades de mineração promovem ainda, o desmatamento da área e a modificação do
relevo no local onde estão inseridas, bem como a morte de animais silvestres devido ao intenso tráfego
de caminhões de transporte de minério, como observado por Alves & Monteiro (2015), em uma área
de Cerrado no Piauí sob ação de mineradoras de calcário.
Maior controle dos órgãos ambientais pode garantir o correto processo de extração e a devida
aplicação dos planos de recuperação das áreas utilizadas pelas mineradoras. A fiscalização pelos
órgãos de controle é uma ação essencial para mitigar os danos ambientais causados por essa atividade.
Além disso, o uso de produtos alternativos para a calagem do solo, como tem se mostrado a cinza
vegetal, pode, sob manejo adequado, atuar como importante substituto para diminuir o uso e
consequentemente, reduzir o processo de extração do calcário, diminuindo os impactos causados por
essa atividade ao meio ambiente.
Estudos utilizando cinza vegetal em substituição ao calcário na produção de rúcula, girassol,
algodoeiro e em diferentes gramíneas forrageiras demonstram que, em doses específicas, a cinza
vegetal aumenta o pH do solo se mostrando como alternativa viável na correção da acidez (Bonfim-
Silva et al., 2015a, b; 2013; 2011; Bezerra, 2018).
Aumentar a produção agrícola sem dizimar as fontes hídricas tem sido um dos desafios da
produção no século XXI. A crescente demanda por produção, o rápido esgotamento das áreas
cultivadas e a pressão de países mais desenvolvidos com relação à preservação do meio ambiente tem
direcionado o desenvolvimento de tecnologias de produção que visam produzir mais com menos
investimento e redução do uso dos recursos naturais. O uso mais sustentável da água tem sido uma
demanda crescente dentro desta dinâmica.
Segundo relatório da Agência Nacional de Águas (ANA, 2017) a agricultura irrigada consome
745 m3/s de água e com previsão de aumento de 42% até 2030. Considerando as demais demandas
de uso de água, a agricultura irrigada ocupa 67% do valor de consumo de toda água utilizada no
Brasil. Gerenciar esse intenso uso da água de forma sustentável é uma questão de sobrevivência
global, tendo em vista que, mesmo o ciclo da água sendo um ciclo fechado, a água retirada para o
processo de irrigação (e para os demais usos) não retorna exatamente para o local de onde foi extraída.
Quando do uso irracional, essa dinâmica natural da água pode proporcionar o declínio da
disponibilidade hídrica em regiões com menos disponibilidade desse recurso. Além de problemas no
ciclo da água, o manejo incorreto dos processos de irrigação pode gerar excesso de água no solo, que
quando não utilizados pelas plantas, podem retornar aos corpos d’água contaminados por sais e
defensivos agrícolas alterando a dinâmica ecológica destes ambientes.
Metodologias de irrigação que otimizam o uso da água, observação da sazonalidade dos
períodos de disponibilidade hídrica, além do manejo adequado do solo, contribuem para um uso mais
sustentável desse recurso na agricultura.
Dentro de manejo do solo, a substituição do calcário utilizado para calagem dos solos ácidos
pelo uso da cinza vegetal tem se mostrado, também, uma alternativa interessante para a redução do
uso da água para irrigação. O uso de cinza vegetal em substituição ao calcário em experimentos com
capim Urochloa brizantha cv., demonstrou aumento na capacidade de retenção de água no solo, com
uma eficiência de 70%, o que permitiu o desenvolvimento da gramínea em períodos de estiagem sem
o uso de irrigação (Bezerra, 2018).
Aumento significativo da eficiência do uso da água também já havia sido observado em
experimentos utilizando cinza vegetal no cultivo de rúcula (Bonfim-Silva et al., 2011). A capacidade
em reter a água do solo é um indicativo de que a cinza vegetal pode atuar como importante alternativa
na otimização do uso dos recursos hídricos na agricultura, tendo em vista que poderá reduzir a
quantidade de água utilizada nos processos de irrigação, minimizando assim os impactos ambientais
causados por essa prática.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A ação da cinza vegetal observada até então nas culturas agrícolas não traz apenas benefícios
à cadeia produtiva. O efeito redutor do pH do solo permite que ela substitua o uso do calcário para
calagem dos solos ácidos, reduzindo a exploração desse mineral e os impactos causados no meio
ambiente pelo processo de mineração. A capacidade de retenção de água no solo proporciona menor
utilização de água para irrigação, reduzindo a pressão de uso dos recursos hídricos. A diminuição no
uso de fertilizantes industrializados pode reduzir o processo de saturação desses minerais no solo;
O ambiente favorável proporcionado pela cinza vegetal aumenta a produtividade por hectare
cultivado, sendo esse um fator essencial para a preservação da vegetação nativa, tendo em vista que
não será necessária a abertura de novas áreas para exploração agrícola. A manutenção da área de
vegetação ainda existente no Cerrado é essencial para a preservação da biodiversidade desse bioma
e, como vimos, para a conservação dos recursos hídricos, essenciais para todas as demais cadeias
produtivas e sobrevivência humana. Além de todos estes fatores, o aumento da incorporação da cinza
como matéria prima, seja na agricultura ou construção civil, proporciona a esse resíduo um destino
econômica e ecologicamente mais viável;
Importante ressaltar que, os estudos com cinza vegetal ainda estão em processo de
desenvolvimento. Os resultados observados até então apontam a cinza vegetal como uma ferramenta
que pode auxiliar na diminuição do impacto ambiental promovido pela prática agrícola. No entanto,
os benefícios para a produção e para o ambiente estão diretamente relacionados a qualidade e correto
manejo da cinza vegetal utilizada.
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William Fenner1
Tonny José Araújo da Silva1
Edna Maria Bonfim-Silva1
RESUMO: O planejamento precede toda e qualquer atividade, de modo que com a aplicação de cinza
vegetal ou Biochar (biocarvão) isso também ocorre. O embasamento teórico, prático, a finalidade da
operação, bem como, os recursos operacionais e financeiros disponíveis é que irão embasar o
agricultor, o profissional técnico, ou até mesmo o pesquisador, de que maneira realizar a aplicação
da cinza ou Biochar, para otimizar a operação em si, com maior eficiência do produto aplicado e
menor custo. De posse de todas as informações discutidas anteriormente, pode-se proceder a
aplicação da cinza vegetal ou biochar. É claro que serão necessárias algumas adequações a cada
realidade e disponibilidade de recursos disponíveis. No entanto, tomando-se os cuidados necessários,
é possível garantir a qualidade da operação e a correta e uniforme distribuição do material. Neste
capítulo serão descritos os aspectos relacionados aos métodos de aplicação de cinza e biochar com o
objetivo de subsidiar o leitor quanto ao método a ser utilizado e os cuidados necessários para maior
proveito do produto aplicado.
ABSTRACT: Planning precedes all activities, so that with the application of wood ash or Biochar
this also occurs. The theoretical, practical basis, the purpose of the operation, as well as the
operational and financial resources available are the support to the farmer, the technical professional,
or even the researcher, on how to carry out the application of wood ash or Biochar, to optimize the
operation itself, with greater efficiency of the applied product and lower cost. With all the information
discussed above, you can proceed with the application of wood ash or biochar. Some adjustments
will be necessary for each reality and availability of available resources. However, taking the
necessary care, it is possible to guarantee the quality of the operation and the correct and uniform
distribution of the material. In this chapter, the aspects related to the methods of applying wood ash
and biochar will be described in order to support the reader on the method to be used and the necessary
care for greater benefit of the applied product.
1
Programa de Pós-Graduação em Engenharia Agrícola, Universidade Federal de Rondonópolis, Mato Grosso.
INTRODUÇÃO
MÉTODOS DE APLICAÇÃO
Definida a finalidade e o tipo de resíduo a ser utilizado (cinza vegetal ou biochar), pode-se
então, proceder a definição do método de aplicação. Quanto aos métodos de aplicação, esses podem
ser manuais ou mecânicos, de forma superficial ou incorporada, podendo ser adaptados de acordo
com a realidade de cada agricultor (Lehmann & Joseph, 2009; Bega, 2014). Para usos em vasos ou
em jardinagem em pequena escala a aplicação pode ser realizada manual ou mecanicamente,
superficialmente ou incorporando de forma homogênea a cinza vegetal ou o biochar ao solo e/ou
substrato (Figuras 1 e 2). Nesse tipo de uso, deve-se considerar a dose recomendada, mantendo-se a
proporção ideal de mistura ou considerar a densidade (relação massa/volume de substrato).
A. B.
Figura 1. Aplicação manual superficial de cinza vegetal (A e B) em área experimental de implantação de pastagem de
Urocloa brizantha cv. Paiaguás no Cerrado mato-grossense, Rondonópolis, MT. Fonte: Os autores.
A. B.
Figura 2. Aplicação manual (A) e mecanizada de biochar em canteiros (B). Fonte: (HELM, 2017; Dennis and Kevin,
2013).
A. B.
Figura 3. Aplicação de cinzas em área de canavial (A) e torta de filtro no sulco de plantio de cana de açúcar (B). Estes
equipamentos também podem ser utilizados para aplicação de biochar. Fonte: (Rosseto e Santiago, 2018).
A. B.
Figura 4. Distribuidor específico para a distribuição de resíduos orgânicos com capacidade de armazenamento de 3 a 6
m3 de acordo com cada modelo e fabricante (A e B). Estes equipamentos também podem ser utilizados para aplicação de
biochar. Fonte: (Jan Implementos, 2018).
A. B.
B.
Figura 5. Aplicação de cinza vegetal em área destinada ao cultivo do algodoeiro (A) e aspecto visual após a aplicação de
aproximadamente 9,8 toneladas por hectare (B). Fonte: (Cottoninc, 2018).
Alguns equipamentos têm com itens opcionais de fábrica uma calha vibratória para aplicação
em linhas e um dispositivo para aplicação em uma única faixa central, específicos para resíduos
orgânicos sólidos (Figura 6).
A. B.
Figura 6. Distribuidor de resíduo sólido equipado com calha vibratória para distribuição em linhas (A) e distribuidor de
resíduo sólido para distribuição em faixa central (B). Estes equipamentos também podem ser utilizados para aplicação de
biochar. Fonte: (Jan Implementos, 2018).
correta e uniforme distribuição dos resíduos, tal qual como ocorre para a aplicação de calcário e gesso
por exemplo. Frente a estas situações, deve-se optar por horários com ausência ou menores
velocidades do vento (até mesmo operações noturnas em algumas regiões) e ainda, reduzir a faixa de
aplicação (estreitar), para favorecer a correta deposição do produto aplicado.
Outro aspecto importante a se considerar é com diferentes granulometrias de um mesmo
material, ou aquele provindo de diferentes materiais que, por consequência, irão resultar em um
composto de partículas de diversos diâmetros e densidades, podendo ocasionar distribuições
desuniformes. Para solucionar isso, caso não seja possível homogeneizar o material para uniformizar
o tamanho das partículas, recomenda-se optar por faixas de aplicação mais estreitas, favorecendo a
sobreposição das faixas de aplicação, com uma distribuição do material de maneira uniforme. Estes
cuidados são fundamentais para evitar as “manchas” de fertilidade, que são aquelas regiões que
recebem maiores ou menores quantidade de fertilizantes, causando desuniformidade no crescimento
e desenvolvimento vegetal.
Em casos específicos, e de acordo com as recomendações técnicas, é necessário a
incorporação da cinza vegetal ou biochar após a aplicação. Esta operação pode ser realizada de duas
maneiras convencionais além daquelas específicas para a olericultura.
Em casos de recuperação de áreas de pastagens degradadas, em que exista a necessidade de
implantação de um novo do pasto com a introdução de uma nova espécie por exemplo, pode ser
necessário a incorporação do material com grade aradora, incorporando os resíduos à uma
profundidade média de 0 a 0,20 m (Figura 7). No entanto, dependendo do nível de degradação
observado, existe a possibilidade de recuperação da mesma espécie na área e nesse caso, a
incorporação pode ser realizada por meio de uma grade niveladora, incorporando o resíduo em uma
camada mais superficial (0 a 0,10 m). Vale ressaltar que a definição do método de aplicação e de
incorporação da cinza e do biochar deve ter embasamento técnico, objetivando minimizar ou mitigar
os impactos ambientais negativos.
Figura 7. Incorporação de cinza vegetal com grade aradora em área de em área experimental de implantação de pastagem
de Urocloa brizantha cv. Paiaguás no Cerrado mato-grossense, Rodonopolis, MT. Fonte: Os autores.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A cinza vegetal e o biochar são materiais que podem ser produzidos a partir de diversas
matérias primas, o que lhes confere, produtos de diferentes tamanhos de partículas e densidades. Essas
características são fundamentais para a definição do método de aplicação. Basicamente, a cinza
vegetal e o biochar podem ser aplicados manual ou mecanicamente, de acordo com cada realidade e
disponibilidade de recursos. Isso confere a esses materiais uma versatilidade quanto ao uso em
diferentes sistemas agrícolas;
Os equipamentos disponíveis para a aplicação de insumos agrícolas granulados ou em pó
(calcário, gesso, fertilizantes granulados), podem ser utilizados para a aplicação da cinza vegetal e do
biochar;
Maiores cuidados devem ser tomados quanto a granulometria do material, doses e faixa de
aplicação, dando preferência por faixas mais estreitas, que minimizam os efeitos do vento,
proporcionando uma distribuição mais uniforme e evitando a criação das “manchas” de fertilidade no
solo.
REFERÊNCIAS
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organic system: Results from a field study at the UBC Farm, Vancouver. 32p. 2013.
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RESUMO: A utilização de resíduos para a agricultura tem muitas vantagens, mas também podem
trazer riscos ambientais. A legislação tem o objetivo de regulamentar esse tipo de aplicação,
possibilitando, de maneira consciente, o melhor aproveitamento das propriedades benéficas e
reduzindo os riscos ambientais causados pelo mau uso. A cinza vegetal e o biochar são dois produtos
amplamente estudados em pesquisas científicas, devido aos benefícios que apresentam para diversos
cultivos, mas que não possuem legislação própria para seu uso na agricultura. Existem alguns
regulamentos que apresentam diretrizes para seu uso mais sustentável dentro da cadeia produtiva.
Nesse capítulo são apresentados, dentro legislação vigente em quais aspectos esses dois produtos,
cinza vegetal e biochar, podem ser enquadrados para uma melhor destinação e manuseio.
ABSTRACT: The use of waste for agriculture has many advantages, but it can also bring
environmental risks. The legislation aims to regulate this type of application, making it possible, in a
conscious way, to make the best use of beneficial properties and reducing the environmental risks
caused by misuse. Wood ash and biochar are two products widely studied in scientific research, due
to the benefits they present for different crops, but they do not have their own legislation for use in
agriculture. There are some regulations that provide guidelines for its more sustainable use within the
production chain. This chapter presents, within the current legislation, the aspects in which these two
products, wood ash and biochar, can be classified for a better destination and handling.
INTRODUÇÃO
Quando se trata de questões que envolvem o meio ambiente, é necessário que se tenha em
mente conceitos que vão fazer diferença em relação ao que se pretende, cujo foco está em que haja
conservação e não poluição. Em relação aos resíduos, dois conceitos são de fundamental importância
e devem ser considerados; o primeiro, muito utilizado é o descarte, que é definido como ato ou efeito
de desfazer-se de coisas que se tornaram inúteis ou, ainda, qualquer coisa que se pôs de lado ou se
jogou fora por não ter mais serventia. O segundo termo, que deveria ser de utilização mais ampla, é
o dispor, definido como colocar ou distribuir; ordenar, distribuir de certa maneira, seguindo um
formato; estruturar, organizar, planejar, programar; fazer uso ou proveito de; aproveitar. Assim, o ato
de descartar tem por princípio o interesse em se livrar do resíduo sem que importe a sua destinação.
1
Programa de Pós-Graduação em Engenharia Agrícola, Universidade Federal de Rondonópolis, Mato Grosso.
A questão jurídica sobre o uso da cinza vegetal está intrinsicamente ligada a questão
ambiental, de modo que sua disposição no solo deve ser avaliada observando os diferentes aspectos
que direcionam o enquadramento para seu uso.
Primeiramente, destaca-se o que diz a Constituição Federal de 1988, que traz em seu artigo
24 sobre o que compete à União, aos Estados e ao Distrito Federal legislar:
VI - florestas, caça, pesca, fauna, conservação da natureza, defesa do solo e dos recursos naturais,
proteção do meio ambiente e controle da poluição;
Art. 225. Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do
povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever
de defendê-lo e preserva-lo para as presentes e futuras gerações.
§ 1º Para assegurar a efetividade desse direito, incumbe ao Poder Público:
(...)
IV - exigir, na forma da lei, para instalação de obra ou atividade potencialmente causadora de
significativa degradação do meio ambiente, estudo prévio de impacto ambiental, a que se dará
publicidade;(LEI Nº 11.105, DE 24 DE MARÇO DE 2005).
V - controlar a produção, a comercialização e o emprego de técnicas, métodos e substâncias que
comportem risco para a vida, a qualidade de vida e o meio ambiente;
(...)
§ 3º As condutas e atividades consideradas lesivas ao meio ambiente sujeitarão os infratores, pessoas
físicas ou jurídicas, a sanções penais e administrativas, independentemente da obrigação de reparar
os danos causados.
Dentre as leis formuladas, ressalta-se a Lei N° 6.938, de 31 de agosto de 1981, que dispõe
sobre a Política Nacional do Meio Ambiente, seus fins e mecanismos de formulação e aplicação, e dá
outras providências:
(...)
Art. 2º. A Política Nacional do Meio Ambiente tem por objetivo a preservação, melhoria e
recuperação da qualidade ambiental propícia à vida, visando assegurar, no País, condições ao
desenvolvimento socioeconômico, aos interesses da segurança nacional e à proteção da dignidade
da vida humana, atendidos os seguintes princípios:
(...)
II - racionalização do uso do solo, do subsolo, da água e do ar;
(...)
Outra lei Federal que deve ser considerada é a Lei N° 9.605, de 12 de fevereiro de 1998, que
dispõe sobre as sanções penais e administrativas derivadas de condutas e atividades lesivas ao meio
ambiente.
Com base nessas leis é possível compreender que a destinação inadequada de resíduos e,
principalmente, os prejuízos ambientais que possam causar, consiste em uma atividade ilegal sujeita
às penalidades impostas por lei.
A legislação sobre o tratamento acerca dos solos é outro aspecto importante a ser lembrado
em relação a disposição de resíduos, devendo sempre considerar que a conservação deva ser
prioridade em seu uso.
Dentre as principais normas encontramos a lei Federal N° 6.225 de 14 de julho de 1975, que
dispõe sobre discriminação, pelo Ministério da Agricultura, de regiões para execução obrigatória de
planos de proteção ao solo e de combate à erosão e dá outras providências. Embora ainda em vigor,
essa lei não foi implantada em sua plenitude e atualmente podemos considerá-la norma morta em
nosso sistema jurídico (DOLABELLA, 2014).
O Decreto 77.775, de 1976, que regulamenta a Lei 6.225, de 1975, determina, entre outros
aspectos, que:
Art. 3º. Considera-se plano de proteção ao solo e de combate à erosão o conjunto de medidas que
visa a promover a racionalização do uso do solo e o emprego de tecnologia adequada, objetivando
a recuperação de sua capacidade produtiva e a sua preservação.
A Lei N° 8.171 de 17 de janeiro de 1991, conhecida como Lei de Política Agrícola trata em
alguns aspectos sobre a preocupação com a conservação do solo:
(...)
Art. 2° A política fundamenta-se nos seguintes pressupostos:
I - a atividade agrícola compreende processos físicos, químicos e biológicos, onde os recursos
naturais envolvidos devem ser utilizados e gerenciados, subordinando-se às normas e princípios de
interesse público, de forma que seja cumprida a função social e econômica da propriedade;
(...)
Art. 3° São objetivos da política agrícola:
IV - proteger o meio ambiente, garantir o seu uso racional e estimular a recuperação dos recursos
naturais;
(...)
Art. 19. O Poder Público deverá:
(...)
II - disciplinar e fiscalizar o uso racional do solo, da água, da fauna e da flora;
(...)
IV - promover e/ou estimular a recuperação das áreas em processo de desertificação;
(...)
CAPÍTULO XIII Do Crédito Rural
(...)
III - incentivar a introdução de métodos racionais no sistema de produção, visando ao aumento da
produtividade, à melhoria do padrão de vida das populações rurais e à adequada conservação do
solo e preservação do meio ambiente;
(...)
Art. 102. O solo deve ser respeitado como patrimônio natural do País.
Parágrafo único. A erosão dos solos deve ser combatida pelo Poder Público e pelos proprietários
rurais.
A cinza vegetal é qualificada como um resíduo sólido não perigoso, deste modo é pertinente
conhecer o que diz a legislação sobre este aspecto.
A lei Federal Nº 12.305, de 2 de agosto de 2010 em seu artigo 1o, institui a Política Nacional
de Resíduos Sólidos, dispondo sobre seus princípios, objetivos e instrumentos, bem como sobre as
diretrizes relativas à gestão integrada e ao gerenciamento de resíduos sólidos, incluídos os perigosos,
às responsabilidades dos geradores e do poder público e aos instrumentos econômicos aplicáveis.
(...)
Art. 3o Para os efeitos desta Lei, entende-se por:
(...)
VII- destinação final ambientalmente adequada: destinação de resíduos que inclui a reutilização, a
reciclagem, a compostagem, a recuperação e o aproveitamento energético ou outras destinações
admitidas pelos órgãos competentes do Sisnama, do SNVS e do Suasa, entre elas a disposição final,
observando normas operacionais específicas de modo a evitar danos ou riscos à saúde pública e à
segurança e a minimizar os impactos ambientais adversos;
VIII- disposição final ambientalmente adequada: distribuição ordenada de rejeitos em aterros,
observando normas operacionais específicas de modo a evitar danos ou riscos à saúde pública e à
segurança e a minimizar os impactos ambientais adversos;
(...)
XVI- resíduos sólidos: material, substância, objeto ou bem descartado resultante de atividades
humanas em sociedade, a cuja destinação final se procede, se propõe proceder ou se está obrigado
a proceder, nos estados sólido ou semissólido, bem como gases contidos em recipientes e líquidos
cujas particularidades tornem inviável o seu lançamento na rede pública de esgotos ou em corpos
d’água, ou exijam para isso soluções técnica ou economicamente inviáveis em face da melhor
tecnologia disponível;
(...)
Art. 7o São objetivos da Política Nacional de Resíduos Sólidos:
(...)
VI- incentivo à indústria da reciclagem, tendo em vista fomentar o uso de matérias-primas e insumos
derivados de materiais recicláveis e reciclados;
(...)
Art. 8o São instrumentos da Política Nacional de Resíduos Sólidos, entre outros:
(...)
VII- a pesquisa científica e tecnológica;
(...)
Art. 13. Para os efeitos desta Lei, os resíduos sólidos têm a seguinte classificação:
I- quanto à origem:
(...)
f) resíduos industriais: os gerados nos processos produtivos e instalações industriais;
(...)
i) resíduos agrossilvopastoris: os gerados nas atividades agropecuárias e silviculturais, incluídos os
relacionados a insumos utilizados nessas atividades;
o tratamento a ser dado aos resíduos perigosos, conforme as normas adotadas pela Convenção da
Basiléia sobre o controle de Movimentos transfronteiriços de Resíduos perigosos e seu depósito. Essa
resolução define os resíduos como perigosos (Classe I), não inertes (Classe II), inertes (Classe III) e
outros.
A utilização da cinza vegetal em solo agrícola deveria suscitar alguns questionamentos por
parte das entidades regulatórias de meio ambiente com relação ao balanço dos efeitos potencialmente
benéficos ou prejudiciais às propriedades químicas, físicas e biológicas do solo e em que condição
(dose, classe de solo e outras) este material é benéfico ao solo e às plantas. Nos capitulos 1 e 3 foram
feitas abordagens a respeito dos efeitos benéficos da cinza vegetal na agricultura contribuindo com a
melhoria da fertilidade e na qualidade física do solo.
Para Brunelli & Pisani (2006) há necessidade de estudos que subsidiem as decisões referentes
às autorizações do uso agrícola deste resíduo posto que a disposição da cinza vegetal como material
de descarte em áreas agrícolas não é autorizada pelas agências ambientais do Brasil.
Diversos estudos comprovam que a cinza, mesmo sendo um resíduo, trata-se de um material
limpo, não apresentando problemas de patogenicidade. No entanto, é necessário verificar de acordo
com sua origem a presença de metais pesados, que possam estar presentes em quantidades
prejudiciais.
Não existe no Brasil, uma legislação específica para a classificação da cinza vegetal. Como
ela é classificada como resíduo, as normas que norteiam seu uso são aquelas que se referem à
utilização, tratamento, armazenamento, classificação de resíduos, de qualquer origem. Assim, serão
apresentadas essas normas que podem ser utilizadas para o enquadramento da cinza vegetal.
A cinza vegetal é, em sua maior quantidade, um resíduo de origem industrial, devido ao uso
da biomassa para geração de energia em diversos processos. Dessa forma ela está enquadrada dentro
da Resolução N° 313 do CONAMA, de 29 de outubro de 2002 que estabelece:
Art. 1° Os resíduos existentes ou gerados pelas atividades industriais serão objeto de controle
específico, como parte integrante do processo de licenciamento ambiental.
Art. 2° Para fins desta Resolução entende-se que:
I - resíduo sólido industrial: é todo o resíduo que resulte de atividades industriais e que se encontre
nos estados sólido, semi-sólido, gasoso - quando contido, e líquido - cujas particularidades tornem
inviável o seu lançamento na rede pública de esgoto ou em corpos d`água, ou exijam para isso
soluções técnica ou economicamente inviáveis em face da melhor tecnologia disponível. Ficam
incluídos nesta definição os lodos provenientes de sistemas de tratamento de água e aqueles gerados
em equipamentos e instalações de controle de poluição.
Para efeito de classificação é utilizada a norma da ABNT NBR 10.004. De acordo com esta
norma as cinzas brasileiras são classificadas, em sua maioria, como "resíduo Classe II - A - não
inerte", apresentando assim, propriedades tais como: combustibilidade, biodegrabilidade ou
solubilidade em água.
A norma NBR 10.004 (ABNT, 2004), classifica os resíduos sólidos em dois grupos: perigosos
e não perigosos, sendo este último grupo subdividido em: não inerte e inerte. A classificação de
resíduos sólidos envolve a identificação do processo ou atividade que lhes deu origem, de seus
constituintes e características, e a comparação destes constituintes com listagens de resíduos e
substâncias cujo impacto à saúde e ao meio ambiente é conhecido. O objetivo desta norma é
classificar os resíduos sólidos quanto aos seus riscos potenciais ao meio ambiente e à saúde pública,
para que possam ser gerenciados adequadamente.
Essa mesma norma estabelece algumas definições para o melhor entendimento. Nesse
contexto, serão apresentadas nesse tópico aquelas cuja descrição evidenciam sob que abordagem é
feita a caracterização da cinza vegetal.
i. resíduos sólidos: Resíduos nos estados sólido e semi-sólido, que resultam de atividades de
origem industrial, doméstica, hospitalar, comercial, agrícola, de serviços e de varrição.
ii. periculosidade de um resíduo: Característica apresentada por um resíduo que, em função de
suas propriedades físicas, químicas ou infecto - contagiosas, pode apresentar:
• risco à saúde pública, provocando mortalidade, incidência de doenças ou acentuando
seus índices;
• riscos ao meio ambiente, quando o resíduo for gerenciado de forma inadequada.
iii. toxicidade: Propriedade potencial que o agente tóxico possui de provocar, em maior ou menor
grau, um efeito adverso em consequência de sua interação com o organismo.
A cinza vegetal por sua composição pode ser utilizada como fertilizante, no entanto, os
nutrientes presentes estão em quantidades que variam de acordo com sua origem. Existem estudos
que sustentam essa informação e recomendam o uso deste material como insumo agrícola,
substituindo inclusive, algumas formulações comerciais. A legislação sobre o uso de fertilizantes traz
os parâmetros a serem observados para que seja utilizada de maneira correta.
A Lei N° 8.171 de 17 de janeiro de 1991, conhecida como Lei de Política Agrícola, determina
as diretrizes para que os insumos agrícolas sejam utilizados de forma segura, de modo a promover a
idoneidade das atividades agropecuárias através da fiscalização.
Para que resíduos possam ser adicionados aos solos agrícolas, é necessário que esses gerem
algum benefício agronômico, por exemplo, agindo como condicionador ou fertilizante do solo
(PIRES & MATTIAZZO, 2008) ou corretivo de acidez do solo.
Para serem registrados como fertilizantes orgânicos, esses materiais devem atender a
determinadas especificações (garantias) de acordo com sua classificação. Além das garantias, também
deve ser observada a Instrução Normativa Nº. 27SDA, de 05 de junho de 2006 alterada pela
Instrução Normativa Nº 7 SDA, de 12 de abril de 2016, que apresenta os limites para contaminantes.
A cinza vegetal, possui características químicas e físicas que conferem a ela potencial para ser
utilizada no sistema orgânico de produção. Por ser um resíduo com potencial de aproveitamento,
garante entre outras coisas sustentabilidade dentro do processo produtivo.
A lei N° 8.171 de 17 de janeiro de 1991, conhecida como Lei de Política Agrícola em sua
abordagem sobre a agricultura orgânica, estimula que seja adotado esse tipo de sistema com
concessão de incentivos especiais.
A Lei N° 10.831 de 23 de dezembro de 2003, dispõe sobre a agricultura orgânica e dá outras
providências.
Art. 1° Considera-se sistema orgânico de produção agropecuária todo aquele em que se adotam
técnicas específicas, mediante a otimização do uso dos recursos naturais e socioeconômicos
disponíveis e o respeito à integridade cultural das comunidades rurais, tendo por objetivo a
sustentabilidade econômica e ecológica, a maximização dos benefícios sociais, a minimização da
dependência de energia não-renovável, empregando, sempre que possível, métodos culturais,
biológicos e mecânicos, em contraposição ao uso de materiais sintéticos, a eliminação do uso de
organismos geneticamente modificados e radiações ionizantes, em qualquer fase do processo de
produção, processamento, armazenamento, distribuição e comercialização, e a proteção do meio
ambiente.
§ 1° A finalidade de um sistema de produção orgânico é:
(...)
III - incrementar a atividade biológica do solo;
IV - promover um uso saudável do solo, da água e do ar; e reduzir ao mínimo todas as formas de
contaminação desses elementos que possam resultar das práticas agrícolas;
V - manter ou incrementar a fertilidade do solo a longo prazo;
VI - a reciclagem de resíduos de origem orgânica, reduzindo ao mínimo o emprego de recursos não-
renováveis;
VII - basear-se em recursos renováveis e em sistemas agrícolas organizados localmente;
O Decreto N° 6.323, de 27 de dezembro de 2007 que regulamenta a lei N° 10.831, estabelece
em suas diretrizes:
(...)
Art. 103. Somente é permitida a utilização de fertilizantes, corretivos e inoculantes que sejam
constituídos por substâncias autorizadas no Anexo V deste Regulamento Técnico e de acordo com a
necessidade de uso prevista no Plano de Manejo Orgânico.
§ 1º A utilização desses insumos deverá ser autorizada especificamente pelo OAC ou pela OCS,
quando da aprovação do Plano de Manejo Orgânico, devendo ser especificadas: (Redação dada pela
Instrução Normativa 17/2014/MAPA)
I - as matérias-primas e o processo de obtenção do produto; (Redação dada pela Instrução
Normativa 17/2014/MAPA)
II - a quantidade aplicada; e (Redação dada pela Instrução Normativa 17/2014/MAPA)
III - a necessidade de análise laboratorial em caso de suspeita de contaminação. (Redação dada pela
Instrução Normativa 17/2014/MAPA)
Uma diferença importante entre o biochar (biocarvão na tradução) e a cinza vegetal está nos
processos utilizados para sua obtenção. Ambos são obtidos por meio da carbonização de biomassa,
no entanto, no caso do biochar utiliza-se um processo denominado pirólise, que corresponde a uma
combustão controlada em altas temperaturas com pouca ou nenhuma presença de oxigênio. Já no
processo para obtenção da cinza vegetal não existe nenhum tipo de controle, estas são resíduos
gerados devido a utilização de biomassa como fonte de energia em indústrias.
O biochar tem implicações em várias áreas políticas da União Européia (UE), incluindo
proteção ambiental, gerenciamento de resíduos, política de mudanças agrícolas e climáticas, dentre
outros. O objetivo principal é integrar benefícios e impactos em um quadro comum, encontrando as
soluções mais adequadas e econômicas (VERES et al., 2014). Os produtos químicos são amplamente
utilizados em nosso vida diária, quase em todos os lugares e em tudo. Para controlar e proteger a
saúde humana das exposições químicas, os reguladores precisam de informações científicas sobre
potenciais impactos nocivos dos produtos químicos no mercado e no meio ambiente (LEE et al.,
2013). Os requisitos legislativos para o uso comercial de biochar são mais frequentemente associados
(31) A hierarquia dos resíduos estabelece uma ordem de prioridades do que constitui geralmente a
melhor opção ambiental global na legislação e política de resíduos, embora possa ser necessário
que certos fluxos específicos de resíduos se afastem dessa hierarquia sempre que tal se justifique por
razões designadamente de exequibilidade técnica e viabilidade econômica e de proteção ambiental.
Dependendo do país, pode haver diferentes permissões necessárias para a aplicação de biochar
no solo. Por exemplo, se o biochar for aplicado com o objetivo de melhorar o solo agrícola (em
oposição, por exemplo, à eliminação de resíduos), não é provável a obtenção de permissão nos
Estados Unidos, independentemente da escala de aplicação. O mesmo se aplica ao aproveitamento
em ambientes de paisagismo urbano e residencial. No entanto, a definição de resíduos varia de acordo
com a jurisdição e, por exemplo, em Ontário, no Canadá, um material que passou por um processo
como a pirólise ou a gasificação é considerado um resíduo e deve ser tratado como tal. Os
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A legislação específica com relação ao uso da cinza vegetal é inexistente. O que existe são
normas para adequá-la como um resíduo, que em muitas características causa dúvidas se o
enquadramento está sendo feito de maneira correta. Dessa forma, é preciso o uso do bom senso quanto
a sua aplicação, de modo a destiná-la da melhor maneira possível, que não afete o meio ambiente,
uma vez que dentro da legislação existente, os pontos a respeito estão dispersos;
É evidente que há uma necessidade em se criar regras que regulem sua disposição. O
gerenciamento do uso da cinza é benéfico tanto para as indústrias, que ficam com um problema a
menos na hora de descartar o resíduo, como para os produtores, que passam a dispor de um insumo
seguro para ser aplicado.
Em relação ao Biochar, a legislação internacional também enfrenta uma falta de consenso
entre os diversos países sobre o uso do biochar na agricultura;
As pesquisas científicas envolvendo esses dois materiais (cinza vegetal e biochar) podem
lançar luz sobre o seu uso de maneira correta, promovendo melhoria nos sistemas agrícolas e
sustentabilidade ambiental.
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